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APOSTILAS DE PEDOLOGIA – PROF. FLAVIO ALMEIDA UNIDADE 6 - HIDROLOGIA DO SOLO 6.1 – Ciclo Hidrológico: O ciclo hidrológico pode ser entendido como um sistema fechado em escala planetária, sendo assim, apresenta entrada e saída de energia, mas não apresenta perda ou ganho de água. O que acontece é que em determinadas condições de temperatura a água tem seus estados alterados. Fonte: http://conceitosdehidrologia.blogspot.com.br/2009/03/ciclo-hidrologico.html Podemos observar na figura acima os diversos estágios da água no ambiente. Sólido para Líquido: ocasionado pela elevação de temperatura e consequentemente pelo derretimento das geleiras. Esse processo ocasiona a formação de Rios, Lagos e Mares; Líquido para Vapor: também ocasionado pela elevação da temperatura. Representada pela perda de massa líquida dos solos e dos corpos hídricos; APOSTILAS DE PEDOLOGIA – PROF. FLAVIO ALMEIDA Vapor para Líquido: ocasionado pela queda de temperatura e/ou aumento de pressão, formando chuva, neve ou granizo; Líquido para Sólido: também ocasionado em baixas temperaturas, nesse caso a água dos corpos hídricos são congelados formando as geleiras. 6.2 – Características Hidrológicas do solo: A infiltração é o movimento de água dentro do solo. De acordo com as características de microporosidade e macroporosidade definem as quantidades de chuvas que infiltram ou que excedem para escoar na superfície do terreno. Podemos dizer também que pela mesma característica de porosidade e pelo fato de que a viagem da água sobre a superfície é mais rápida tornando-se mais lenta de acordo com a profundidade, que o solo determina o volume do escoamento da chuva, sua distribuição temporal e as descargas máximas, tanto em superfície como em subsuperficie. Por conta de suas características físicas de microporosidade e macroporosidade podemos entender os solos como grandes reservatórios de água. Solos com características arenosas ou macroporosidade tem menor capacidade de retenção de líquidos e consequentemente maior capacidade de infiltração, ou seja a permeabilidade é maior. Em solos com características siltoso-argiloso ou simplesmente argilosos, possuem uma superfície específica maior por serem microporosos. Nesses tipos de solo a água fica retida, funcionando mesmo como uma grande “caixa d’água” que quando extrapola sua capacidade exfiltra ocasionando o que chamamos de escoamento superficial. A água infiltrada e armazenada no solo e em parte fica disponível para a absorção das plantas e também ao retorno para atmosfera por evapotranspiração. A parte da água que não retorna a atmosfera pelo processo de evapotranspiração recarrega o reservatório de água subterrânea e abastece de forma lenta as correntes dos fluxos (abastecendo rios e mananciais). APOSTILAS DE PEDOLOGIA – PROF. FLAVIO ALMEIDA Fonte: http://www.ucm.es/info/diciex/proyectos/agua/esc_sub_acuifero.html Inicialmente o termo infiltração foi proposto para expressar a água que molha ou que é absorvida pelo solo. Conforme falamos anteriormente características da superfície e da cobertura dos solos limitam a infiltração no solo. Dessa forma o termo percolação passou a ser adotado para se referir ao fluxo em subsuperfície que atravessa a zona de aeração do solo. Devemos observar que esses dois fenômenos estão fortemente relacionados, já que a taxa de infiltração pode ser considerada um tanto como consequência da condutividade hidráulica e do gradiente de sucção, ou como a taxa de aumento do teor de umidade no perfil do solo. Para um melhor entendimento da infiltração no meio poroso devemos conhecer duas forças: atração capilar e a força gravitacional. Enquanto a força gravitacional direciona a água verticalmente no perfil do solo, a força capilar impulsiona a água em todas as direções, especialmente para cima. A água, ao percolar o solo como fluxo livre gravitacional, sofre a resistência da força capilar, a qual aumenta na medida em que os associados à fauna escavadora e às raízes mortas, a força capilar torna-se negligenciavel. A umidade envolvida nestes movimentos pode estar na forma líquida ou como vapor, sendo difícil distinguir suas importâncias relativas. O processo de infiltração resulta das relações de interdependência dos mecanismos de entrada na superfície do solo, de estocagem dentro do solo e de transmissão de umidade do solo. Sob determinadas condições, o solo possui uma taxa máxima de absorção de água, a qual podemos denominar capacidade de infiltração. A relação entre a intensidade da chuva e a capacidade de infiltração define a quantidade de água que infiltra: quando a intensidade da chuva é menor do que a capacidade de infiltração, a taxa de infiltração é igual à taxa da chuva, porém, quando a intensidade da chuva ultrapassa a capacidade de infiltração, o solo absorve parte da água de acordo com a sua capacidade, e o excedente de precipitação, após preencher as microdepressões do terreno, escoa sobre a superfície em direção aos canais. APOSTILAS DE PEDOLOGIA – PROF. FLAVIO ALMEIDA 6.3 – Variáveis que regulam a capacidade de infiltração Chuvas: a intensidade da chuva, juntamente com as demais variáveis do solo, define o que entra e o que excede a capacidade de infiltração; as chuvas mais intensas causam maiores impactos no solo exposto e os picos de chuva de longa duração preenchem o potencial de estocagem e eventualmente conduzem os solos à saturação. Fonte: www.ecoanimateca.net.br Condições de cobertura de solos: a cobertura vegetal tende a aumentar a capacidade de infiltração; solos recobertos por florestas geralmente apresentam os maiores valores de capacidade de infiltração, especialmente pela influência da serrapilheira, como mencionamos anteriormente. A redução na densidade de cobertura vegetal é acompanhada pelo decréscimo na infiltração. Fonte: http://recuperacaodeflorestas.blogspot.com.br/2011_06_01_archive.html APOSTILAS DE PEDOLOGIA – PROF. FLAVIO ALMEIDA Condições de textura, profundidade e umidade antecedente do solo: essas variáveis importam na definição da quantidade de água que poderá ser estocada antes do solo atingir o ponto de saturação: solos profundos e bem drenados, com textura grossa e grandes quantidades de matéria orgânica apresentarão grande capacidade de infiltração; já os solos rasos e mais argilosos mostrarão baixas taxas e volumes de infiltração. A umidade antecedente, se por um lado reduz a ação capilar que inibe a infiltração, por outro lado limita o volume de água que pode se estocado no solo, especialmente o mais finos. Segue abaixo um exemplo de solo mal drenado e um solo bem drenado: Fontes: http://www.unibas.it/desertnet/dis4me/land_uses/salinisation_risk_tool_pt.htm http://www.canaldoprodutor.com.br/comunicacao/noticias/mapeamento-de-solos-no-bioma- amazonia APOSTILAS DE PEDOLOGIA – PROF. FLAVIO ALMEIDA Atividade biológica no topo dos solos: a formação de bioporos pela atividade da fauna escavadora e do enraizamento dos vegetais aumenta a capacidade de infiltração e a percolação. Fonte: http://meioambiente.culturamix.com/recursos-naturais/desenvolvimento-do-solo- caracteristicas-gerais A capacidade de infiltração varia não apenas em solos com composições diferentes, mas também durante o evento de chuva, decrescendo rapidamente após o início das chuvas quando algumas das variáveis descritas sofrem modificações em relação as condições antecedentes. Após certo tempo de precipitação verifica-se uma taxa de infiltração constante.APOSTILAS DE PEDOLOGIA – PROF. FLAVIO ALMEIDA 6.3.1 – Influência vegetal no controle de entrada de água no solo As encostas cobertas por florestas, caracterizam-se por ser um ambiente de infiltração, com elevada porosidade do solo, associada a ação de biota sobre a estrutura física do topo do solo e a marcante presença de ductos gerados pela decomposição das raízes mortas. - Interceptação: É a retenção de parte da precipitação acima da superfície do solo, podendo ser ocasionado por obstrução da vegetação ou outra forma. O volume retido nesse processo retorna a atmosfera através do processo de evaporação. Este processo interfere no balanço hídrico da bacia hidrográfica, funcionando como um reservatório de uma parcela da precipitação para o consumo, reduzindo a variação da vazão ao longo do ano, retardando o pico das cheias. Esse processo depende de muitas variáveis, entre elas: intensidade de precipitação, volume precipitado, chuva antecedente, condições climáticas, tipo de vegetação, densidade de vegetação e período do ano. OBS: Em floresta, para pequenos volumes de precipitação (< 0,3mm) todo o volume é retido pela copa das árvores e para precipitações superiores a 1mm de 10% a 40% pode ficar retido. OBS2: O tipo de vegetação pode caracterizar a quantidade de gotas que cada folha pode reter a densidade da mesma indicada o volume retido numa superfície de bacia. As folhas geralmente intercepta, a maior parte da precipitação, mas a disposição dos troncos contribui significativamente. Fonte: http://info1.ma.slu.se/im/programme/TF.html APOSTILAS DE PEDOLOGIA – PROF. FLAVIO ALMEIDA - Fluxo de Tronco ou Stemflow: Representa o excesso de água acumulada pelo processo de interceptação nas copas e galhos e que consequentemente percola pelos troncos. Esse mecanismo apresenta uma parcela entre 1 e 15% do total precipitado e em muitos casos está dentro da faixa de erros de amostragem das outras variáveis e sua medição somente é viável para vegetações de troncos de tamanhos razoáveis. Fonte: http://www.physicalgeography.net/fundamentals/8k.html APOSTILAS DE PEDOLOGIA – PROF. FLAVIO ALMEIDA - Serrapilheira: A queda de galhos, flores e sementes sobre o piso florestal, forma uma camada de detritos orgânicos, denominada serrapilheira, que constitui o horizonte O. Essa material é decomposto e incorporado ao solo como matéria orgânica. A serrapilheira pode aparecer em diferentes formatos de composição, estrutura e espessura. A capacidade de retenção de água da serrapilheira constitui-se um dos responsáveis pela manutenção de níveis mais ou menos constantes de umidade, necessários a biota nos primeiros centímetros do solo. O fluxo ocorre sobre a camada O1 ou na interface da malha de reaízes finas com o topo mineral. O fluxo de serrapilheira corresponde a uma porção bem reduzida da entrada de chuvas; mostrando a capacidade do “tapete orgânico” para condicionar uma infiltração gradual das águas para a superfície do solo. 6.4 – Classificações, retenção e disponibilidade da água no solo 6.4.1 – Classificação Física - Água Gravitacional: é aquela que não é retida pelo solo, depois deste ser molhado até o encharcamento, ocupa os poros maiores sendo retida levemente pelas partículas e drenada para as camadas mais profundas pela ação da gravidade. Essa água não fica disponível para as plantas logo não possui utilidade agrícola. A água gravitacional lava o perfil do solo e assim retira determinados nutrientes do alcance das raízes, como por exemplo o nitrogênio. Ainda referindo a possíveis problemas, a água gravitacional pode movimentar partículas minerais pequenas (argilas) da parte superior do perfil para regiões mais profundas podendo alterar as características físicas, químicas e biológicas das camadas do perfil. - Água capilar: é a água que seria retida pelo solo devido a força da tensão superficial, formando películas contínuas em torno das partículas terrosas e nos espaços capilares. Tanto a água capilar como a gravitacional movimentar- se-iam no solo na forma líquida e seriam uteis às plantas por serem assimiladas pelas raízes. - Água higroscópica: é a água que está firmemente fixada por adsorção às partículas minerais do solo, dessa forma estando disponível para o solo em raras exceções. Formam delgadas camadas (filmes) em torno das partículas terrosas, principalmente pelos coloides do solo. Não se movem, nem por capilaridade e nem por gravidade, só se movimentam sob a forma de vapor d’água. APOSTILAS DE PEDOLOGIA – PROF. FLAVIO ALMEIDA Fonte: http://www.magneticwater.com.au/tech12.htm 6.4.2 – Classificação Biológica - Água supérflua: é a água que se encontra principalmente nos macroporos, quando o solo está saturado, pode ser chamado de água livre. É equivalente a água gravitacional, pois só pode ser retida a pequenas tensões e se perde por gravidade em curto intervalo de tempo. - Água não disponível: compreende a água higroscópica e parte da água capilar, correspondendo à água retida pelo solo a pressões maiores que o ponto de murchamento (quando a água baixa a esse nível observa-se o murchamento das plantas). -Água disponível: é aquela retida entre a capacidade de campo e o coeficiente de murchamento. Corresponde a água capilar. 6.4.3 – Capacidade de campo Podemos definir como: à quantidade máxima de água que um solo pode reter em condições normais de campo, ou seja, corresponde à quantidade de água submetida a tensões as quais tornam o movimento descendente, por drenagem natural, suficientemente pequeno em relação aos movimentos de absorção de água pelo sistema radicular. Pode ser expressa na base de peso ou de volume. O termo capacidade de campo tem sido substituído por limite superior da água disponível. Ocorre quando toda água livre escoa permanecendo apenas a água capilar e a água higroscópica. Quando isso ocorre presume-se que a água APOSTILAS DE PEDOLOGIA – PROF. FLAVIO ALMEIDA liberou os macroporos e que a água encontra-se apenas nos microporos ou capilares. 6.4.4 – Ponto de Murchamento Podemos definir como: Teor de água de um solo no qual as folhas de uma planta que nele crescem atingem um murchamento irrecuperável, mesmo quando colocada em uma atmosfera saturada de vapor d'água. Não havendo incorporação de água ao solo, com a evaporação da água dos solos e através da evapotranspiração das plantas, ocorre apenas a retirada de água do solo. Se não ocorrer a reposição do depósito de água do solo as plantas iniciam o processo de murchamento. Esse processo pode se tornar permanente caso a escassez hídrica continue. Isso significa que toda a água disponível foi retirada. Devemos lembrar que nesse caso ainda existirá disponível a água higroscópica, mas esta é retida a tensões superiores a força de sucção das raízes da planta e portanto indisponível para elas. O Ponto de murchamento e a capacidade de campo constituem dois coeficientes de umidade do solo de grande interesse para o controle da irrigação. Considerando-se o solo como um reservatório de água para as plantas, o Ponto de murchamento representa o reservatório vazio e a Capacidade de campo representa o reservatório cheio. Fonte: https://www.meted.ucar.edu APOSTILAS DE PEDOLOGIA – PROF. FLAVIO ALMEIDA 6.5 – Fluxos d’água nas encostas - Fluxo superficial Hortoniano: ocorre quando a precipitação é superior a capacidade de infiltração do solo, quando a chuva flui encosta abaixo de forma irregular. Este tipo de fluxo é típico em regiões áridas e semi-áridas, podendo ocorrerem regiões úmidas em áreas cultivadas, estradas, áreas construídas em geral e em encostas desmatadas. Fonte:http://stream2.cma.gov.cn/pub/comet/HydrologyFlooding/RunoffProcessesInternationalEdition/ comet/hydro/basic_int/runoff/print.htm - Fluxo superficial de saturação: ocorre nos trechos de baixa encosta ou em encostas como solos rasos, e esta associado à saturação local do solo gerando um fluxo de retorno ao qual é adicionado a componente precipitação, gerando um fluxo superficial de saturação netas áreas. APOSTILAS DE PEDOLOGIA – PROF. FLAVIO ALMEIDA Fonte:http://stream2.cma.gov.cn/pub/comet/HydrologyFlooding/RunoffProcessesInternationalEdition/ comet/hydro/basic_int/runoff/print.htm -Fluxo subsuperficial: ocorre em áreas com elevada capacidade de infiltração, associado às regiões úmidas com densa cobertura vegetal, onde o solo é profundo e permeável. Este tipo de fluxo supre o canal com água nos períodos de estiagem (períodos de secas). Fonte:http://stream2.cma.gov.cn/pub/comet/HydrologyFlooding/RunoffProcessesInternationalEdition/ comet/hydro/basic_int/runoff/print.htm APOSTILAS DE PEDOLOGIA – PROF. FLAVIO ALMEIDA 7 – Bibliografia 1. Lepsch, Igo F.; Formação e Conservação dos solos, oficina de textos, 2002; 2. Oliveira, João Bertoldo de.; Classes gerais de solos do Brasil: Guia auxiliar para seu reconhecimento; Funep; 1992. 3. Prado, Helio do; Classificação dos solos brasileiros, Embrapa, 2002. 4. Almeida, Flavio Gomes de; Aulas de Pedologia, 2006.
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