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APOSTILAS DE PEDOLOGIA – PROF. FLAVIO ALMEIDA UNIDADE 7 – PROCESSOS EROSIVOS E ERODIBILIDADE DOS SOLOS 7.1 – Fatores Controladores dos processos erosivos do solo Os fatores controladores são aqueles que determinam as variações nas taxas de erosão, sejam elas erosividade da chuva, propriedades do solo, cobertura vegetal e características das encostas. Esses fatores são responsáveis pelo fato de existirem regiões em que as erosão e maior que em outras. O homem já possui conhecimentos suficientes para atuar nesse processo retardando ou acelarando-o de acordo com sua conveniência. Os fatores podem ser subdivididos em erosividade (causada pela chuva) e erodibilidade (proporcionada pelas propriedades texturais do solo), características das encostas e natureza da cobertura vegetal, que na maioria das vezes, retarda os processos erosivos, mas que também pode atuar como um acelerador do processo. 7.2 – Erosividade das chuvas Hudson (1961) definiu como: “Erosividade é a habilidade da chuva em causar erosão”. Embora a definição seja simples, a determinação do potencial erosivo da chuva é muito complexo, porque depende, em especial, dos parâmetros de erosividade e também das características das gotas de chuva, que variam no tempo e no espaço. Sua atuação inicia na primeira fase do processo que é a desagregação, ou seja, a destruição dos agregados que compõem a estrutura do solo. O impacto direto das gotas de chuva na superfície descoberta do solo, dada sua energia cinética, promove a anulação das forças que mantinham os agregados estáveis. Assim, os diferentes constituintes dos agregados ficam dispersos e, por apresentarem pequena massa, são passíveis de remoção. O escorrimento superficial se encarrega de transportar estes materiais para as partes mais baixas do terreno ou para os açudes e rios. Evidentemente que a remoção continuada destes constituintes acaba por trazer ao solo uma série infindável de danos como, por exemplo, a destruição dos agregados, a exposição de horizontes inferiores, a retirada da matéria orgânica e nutrientes, a redução da aeração e infiltração da água. APOSTILAS DE PEDOLOGIA – PROF. FLAVIO ALMEIDA A erosividade das chuvas é uma característica sobre a qual não é possível exercer qualquer tipo de controle. A capacidade das chuvas em provocar erosão é dependente de suas características físicas como intensidade, tamanho e velocidade terminal das gotas. Estas características definem a energia cinética no momento do impacto contra o solo. Outras características temporais como duração e freqüência são também importantes na definição do potencial erosivo das chuvas de uma região. Além da intensidade e energia cinética também é relevante a duração da chuva, que é o complemento da intensidade e a combinação dos dois determina a chuva total. Dependendo da duração e da intensidade da chuva, os efeitos sobre as perdas de solo serão mais ou menos significativos. Fig. 1 – Impacto da gota de chuva no solo. Fonte: www.ecoanimateca.net.br A intensidade da chuva tem papel importante nas taxas de infiltração. A partir do encharcamento do solo, a infiltração diminui rapidamente. Isso depende das propriedades do solo, características do relevo, cobertura vegetal e do próprio tipo de chuva. A intensidade da chuva, influencia no escoamento superficial, quando a capacidade de infiltração é excedida. A intensidade também é importante, quando se destaca sua grande influência no escoamento superficial, relacionando-a com as propriedades do solo e a cobertura vegetal. APOSTILAS DE PEDOLOGIA – PROF. FLAVIO ALMEIDA Fig. 2 - Desagregação do solo saturado pela água da chuva. Fonte: www.plantiodireto.com.br A intensidade da chuva tem sido utilizada por vários pesquisadores, que têm tentado buscar um valor crítico, a partir do qual começa haver erosão dos solos. No entanto, é difícil estabelecer um valor universal, porque outros fatores também influenciam o processo. 7.3 – Erodibilidade dos solos As propriedades do solo são de grande importância nos estudos de erosão, porque, juntamente com outros fatores, determinam a susceptibilidade à erosão. Morgan (1986) define erodibilidade como sendo: “a resistência do solo em ser removido ou transportado”, obviamente que devemos levar em consideração as propriedades do solo em relação à definição apresentada acima. A erodibilidade do solo não é estática. Ela é uma função que depende do tempo, dado que o estado inicial dos sedimentos influencia na magnitude de variação da erosão, ao longo de um evento chuvoso. As propriedades de textura, densidade aparente, porosidade, teor de matéria orgânica, teor de estabilidade dos agregados e o Ph do solo também interferem diretamente nesse processo. A textura afeta a erosão, porque algumas frações granulométricas são removidas mais facilmente do que outras. A remoção de sedimentos é maior na fração de areia média e diminui nas partículas maiores ou menores, dessa forma podemos destacar a importância do teor de areia na remoção de APOSTILAS DE PEDOLOGIA – PROF. FLAVIO ALMEIDA sedimentos e correlacionar significativamente com a perda de solo. Em relação ao silte podemos dizer que quanto maior o seu teor maior a suscetibilidade de erosão. Já em relação as argilas podemos dizer que apesar delas dificultarem a infiltração elas também tem uma maior resistência a erosão e portanto são difíceis Fig. 3 – Deposição de sedimentos no leito do rio. Fonte: planetadoalan.blogspot.com O teor de matéria orgânica afeta de formas variáveis a erosão dos solos, dependendo de outras propriedades, como a textura. A interação entre o teor de matéria orgânica e as outras propriedades do solo é, talvez, uma das razões para a dificuldade em se estabelecer um percentual mínimo que afete a erodibilidade. No caso da agricultura, por exemplo, o decréscimo de matéria orgânica possui várias implicações nos processos mecânicos da erosão. Uma explicação para isso é que há um aumento da capacidade de infiltração, à medida que aumenta o teor de matéria orgânica ocorre o aumento do teor de agregados, havendo consequentemente, maior resistência desses agregados à dispersão. APOSTILAS DE PEDOLOGIA – PROF. FLAVIO ALMEIDA Fig. 4 – Mecanização do solo é um processo artificial de aumentar a capacidade de infiltração Fonte: www.agrolink.com.br Podemos também destacar o importante papel dos agregados no processo de formação de crostas na superfície: uma vez reduzida a resistência interna dos agregados, a força aplicada pelas gotas de chuva quebra esses agregados, produzindo uma série de pequenas partículas, que cobre a superfície do solo formando uma crosta, que dificulta a infiltração. Isso nos leva a concluir que a alta estabilidade de agregados no solo reduz sua erodibilidade, pois possibilita a existência de elevado índice de porosidade, aumentando as taxas de infiltração e reduzindo o runoff. A alta estabilidade dos agregados também proporciona maior resistência ao impacto das gotas de chuva, diminuindo, assim, a erosão por splash. Fig. 5 – Exemplo de erosão por splash. (Observe também a fig2) Fonte: http://profwelgeo.blogspot.com.br/2013/04/solos.html APOSTILAS DE PEDOLOGIA – PROF. FLAVIO ALMEIDA A densidade aparente dos solos é outro fator controlador que deve ser levado em conta quando se tenta compreender os processos erosivos, pois se refere à maior ou menor compactação dos solos; também parece correlacionar- se com o teor de matéria orgânica, isto é, à medida que o teor de matéria orgânica diminui, aumentaa ruptura dos agregados, crostas se formam na superfície do solo, aumentando a sua compactação. A densidade aparente pode aumentar sob várias circunstâncias, mas a agricultura parece ser a que mais afeta esta propriedade do solo, tanto devido à redução de matéria orgânica como pelo uso de máquinas agrícolas. A porosidade está relacionada de maneira inversa com a densidade aparente, ou seja, à medida que a densidade aparente de um solo aumenta, a porosidade diminui e, em consequência, ocorre a redução de infiltração de água no solo. Fig6 – Porosidade do solo Fonte: www.kalkaskacounty.net Fig7 – Instrumentos para coleta de solos para ensaios de densidade. Fonte: www.mechanicalengineeringblog.com APOSTILAS DE PEDOLOGIA – PROF. FLAVIO ALMEIDA As medidas de PH do solo mostram a sua acidez ou alcalinidade. Valores de PH são geralmente encontrados em trabalhos sobre erosão dos solos, em conjunto com outros índices. No entanto, é preciso ressaltar que a intervenção humana, aliada à combinação do PH com outras propriedades do solo, pode tornar ainda mais complexa a compreensão do seu papel na erodibilidade dos solos. OBS: Solos ácidos são deficientes em cálcio, um elemento conhecido em contribuir na retenção do carbono, através da formação de agregados, que combinam húmus e cálcio. Já solos com alto teor de silte tendem a ter maior erodibilidade à medida que o PH aumenta. 7.4 – Cobertura Vegetal Os fatores relacionados à cobertura vegetal podem influenciar os processos erosivos de várias maneiras: através dos efeitos espaciais da cobertura vegetal, dos efeitos na energia cinética da chuva e do papel da vegetação na formação de húmus, que afeta a estabilidade e o teor de agregados. É um fator importante na remoção de sedimentos, no escoamento superficial e na perda do solo. O tipo e porcentagem de cobertura vegetal podem reduzir os efeitos dos fatores erosivos naturais. A cobertura vegetal pode ainda reduzir o impacto da água da chuva no solo minimizando o impacto das gotas e diminuindo a formação de crostas no solo e assim reduzindo a erosão. Fig8 – Redução do impacto da chuva no solo por conta da copa das árvores Fonte: acta.inpa.gov.br APOSTILAS DE PEDOLOGIA – PROF. FLAVIO ALMEIDA Gráfico 1 – Tempo de formação de escoamento em relação ao tipo de vegetação. Fonte: geografalando.blogspot.com.br 7.5 – Características do relevo Os fatores relativos ao relevo podem afetar a erodibilidade de variadas formas: declividade, comprimento e da forma da encosta. A perda total de solo representa uma combinação da erosão por ravinamento, causada pelo runoff, e da erosão entre as ravinas, causada pelo impacto das gotas da chuva. Esses processos são influenciados pela declividade do terreno, devido ao efeito na velocidade do runoff. Entretanto em casos de encostas muito íngremes, a erosão pode diminuir devido ao decréscimo de material disponível. APOSTILAS DE PEDOLOGIA – PROF. FLAVIO ALMEIDA Fig.9 – Exemplo de deslizamento de encostas. Fonte: www.geologo.com.br A forma das encostas no caso é outro fator que tem papel importante na erodibilidade dos solos, sendo em alguns casos mais importante que a declividade. Em encostas convexas, onde a água pode ser armazenada no topo por conta da característica plana, podem ser geradas ravinas e voçorocas no momento da liberação da água. Essas características relativas à declividade, comprimento e forma das encostas atuam em conjunto entre si e com outros fatores relativos à erosividade da chuva, bem como às propriedades do solo, promovendo maior ou menor resistência à erosão. 7.6 – Processos Erosivos A erosão dos solos é um processo que ocorre em fases. A primeira constitui na remoção de partículas, a segunda no transporte desse material pelos agentes erosivos e a terceira é a deposição desse material por falta de APOSTILAS DE PEDOLOGIA – PROF. FLAVIO ALMEIDA energia suficiente para continuar o transporte. Esses processos estão intimamente ligados aos vários caminhos tomados pela água da chuva, na sua passagem através da cobertura vegetal e ao seu movimento na superfície do solo. 7.6.1 – Escoamento superficial Ocorre durante um evento chuvoso, quando a capacidade de armazenamento de água no solo é saturada. O fluxo de água transporta vários obstáculos que podem ser fragmentos rochosos e cobertura vegetal. A quantidade de perda do solo vai depender da velocidade e turbulência do fluxo. Fig. 10 – exemplo de escoamento superficial. Fonte: commons.wikimedia.org APOSTILAS DE PEDOLOGIA – PROF. FLAVIO ALMEIDA 7.6.2 – Escoamento subsuperficial O escoamento subsuperficial, quando ocorre em fluxos concentrados; túneis ou dutos; possui efeitos erosivos, que resultam na formação de voçorocas. Provoca o acumulo de umidade no solo, no sopé das encostas e nas partes côncavas da paisagem, podendo influir sobre a saturação dos fluxos superficiais. A esses dutos ou túneis abertos em subsuperfície denominamos por Piping e estes possuem diâmetros que variam de poucos centímetros até vários metros. Os dutos são responsáveis pelo transporte de grande quantidade de material em subsuperfície, de forma que o diâmetro aumenta conforme o material vai sendo removido. Esse processo pode dar origem a grandes voçorocas. Fig.11 – Esquema de escoamento subsuperficial. Fonte: wegc203116.uni-graz.at 7.6.3 - Piping Ao chegar ao solo a água tende a infiltrar no mesmo em geral até o ponto de saturação e consequentemente acumulando uma certa lâmina d’água sobre o solo. Parte dessa lâmina tende a escorregar superficialmente e a outra parte “força” a penetração no solo causando uma pressão sobre a lâmina d’água infiltrada. APOSTILAS DE PEDOLOGIA – PROF. FLAVIO ALMEIDA Em geral fluidos quando submetidos a pressão tendem a escoar pelo caminho mais fácil e nesse caso como o solo está saturado vai tender a movimentar a porção de solo mais fraca, criando túneis de variadas dimensões nas camadas subsuperficiais do solo. A esse fenômeno podemos atribuir o nome de piping. De uma maneira mais formal podemos definir pipping como: túneis ou dutos, abetos em subsuperfície, com diâmetros que variam de poucos centímetros até vários metros. Esses dutos são responsáveis pelo transporte de grande quantidade de material, em subsuperfície e, à medida que esse material vai sendo removido,se vão vampliando os diâetros desses dutos, podendo resultar no copalso do solo situado acima. Esse processo pode dar origem a grandes voçorocas. Fig.12 – exemplo de piping no solo. Fonte: www.geograph.org.uk APOSTILAS DE PEDOLOGIA – PROF. FLAVIO ALMEIDA 7.6.4 – Splash e Formação de crostas: A erosão por splash, também conhecida como erosão por salpicamento, ocorre como um resultado das forças causadas pelo impacto das gotas de chuva no solo. Uma gota de chuva, quando bate em um solo molhado, remove partículas que estão envolvidas por uma película de água. A gota descreve uma curva parabólica, que se move lateralmente, mais ou menos quatro vezes à altura do deslocamento. Em uma forte tempestade tropical, o equivalente a um peso de 350 mil Kg de água/ha pode cair em um período de apenas 30 minutos. Essa energia, causada pelo impacto das gotas de chuvas no solo, pode quebrar os agregados existentes, formando crostas na superfície do solo, o que dificulta a infiltração e consequentemente aumenta o escoamento superficial, afetando de forma igual os coeficientesde erosão. Fig.13 – Exemplo de erosào por splash. Fonte: www.montcalm.org 7.6.5 – Fatores Erosivos A ação da água como agente erosivo, deve ser compreendido levando em conta os fatores descritos anteriormente. O processo se inicia da seguinte maneira: se cair sobre um determinado tipo de solo mais água do que possa se infiltrar, começa a ocorrer escoamento superficial, podendo provocar a chamada erosão em lençol. O fluxo de água, nesse caso, não está confinado, exceto entre algumas irregularidades do solo. A água que escoa sobre as encostas cobre a maior parte delas. À medida que a velocidade aumenta, a água provoca maior incisão sobre o solo, e começam a se formar as ravinas, que são canais contínuos, estreitos e de pouca profundidade, podendo ser obliterados por máquinas agrícolas. APOSTILAS DE PEDOLOGIA – PROF. FLAVIO ALMEIDA O alargamento das ravinas, causado pelo escoamento superficial e subsuperficial, dá origem às voçorocas. Quando o solo está erodido por voçorocas, as máquinas agrícolas não têm condições de obliterar essas formas erosivas. As voçorocas são mais largas e mais profundas do que as ravinas e, em geral, se constituem em características permanentes nas encostas. 7.6.6 - Erosão em lençol A erosão em lençol ou erosão laminar recebe esse nome porque o escoamento superficial, que dá origem a esse tipo de erosão, se distribui pelas encostas de forma dispersa, não se concentrando em canais. Em geral esse escoamento ocorre mediante a chuvas prolongadas quando a capacidade de armazenamento de água no solo (capacidade de campo) atinge o ponto de saturação máxima, ocorrendo então o escoamento Fonte: http://dc301.4shared.com/doc/qfpa3kiO/preview.html 7.6.7- Erosão em ravinas As ravinas são canais contínuos, estreitos e de pouca profundidade. São formadas quando a velocidade do fluxo de água aumenta na encosta, tornando o fluxo turbulento. O aumento da carga hidráulica pode ocorrer pelos seguintes motivos: aumento da intensidade de chuvas, aumento da declividade da encosta e por conta do escoamento superficial provocado por conta da saturação da encosta. As gotas de chuva podem aumentar ainda mais a capacidade de transporte de um fluxo de água dentro das ravinas, através da remoção de sedimentos. As ravinas não chegam a atingir o lençol freático. APOSTILAS DE PEDOLOGIA – PROF. FLAVIO ALMEIDA Fig. 15 – Exemplo de erosão por ravina. Fonte: www.cibergeo.org 7.2.7- Erosão em Voçorocas As voçorocas são características erosivas relativamente permanentes nas encostas, possuindo paredes laterais íngremes e, em geral, fundo chato, ocorrendo fluxo de água no seu interior durante os eventos chuvosos. São originadas por: alargamento e aprofundamento de ravinas; erosão causada pelo escoamento subsuperficial e antigos deslizamentos de terra. As formas erosivas em voçorocas geralmente tendem a evoluir até encontrarem algum elemento estabilizador do processo erosivo, que pode ser o lençol freático ou o próprio substrato rochoso. Se compararmos as voçorocas com os canais fluviais, as voçorocas possuem, geralmente, maior profundidade e menor largura. Elas estão associadas com processos de erosão acelerada e, dessa forma, com a instabilidade da paisagem. APOSTILAS DE PEDOLOGIA – PROF. FLAVIO ALMEIDA Fig.16 – Exemplo de voçoroca. Fonte: geografiaibituruna.blogspot.com 7.7 – Bibliografia 1. Lepsch, Igo F.; Formação e Conservação dos solos, oficina de textos, 2002; 2. Oliveira, João Bertoldo de.; Classes gerais de solos do Brasil: Guia auxiliar para seu reconhecimento; Funep; 1992. 3. Prado, Helio do; Classificação dos solos brasileiros, Embrapa, 2002. 4. Almeida, Flavio Gomes de; Aulas de Pedologia, 2006.
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