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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS Departamento de Engenharia de Materiais Disciplina: 03.070-8 - Ensaios de Materiais Prof. Vitor Luiz Sordi ENSAIO DE TRAÇÃO 1. GENERALIDADES O ensaio de tração consiste em se aplicar a um corpo de prova adequadamente preparado, uma carga uniaxial provocando o alongamento da amostra na direção paralela ao eixo de aplicação da carga. O carregamento é aumentado gradativamente (carregamento estático), levando geralmente o material à fratura. Este é sem dúvida, um dos mais simples e mais utilizados dos ensaios mecânicos e, quando realizado criteriosamente, pode fornecer informações básicas sobre as propriedades mecânicas fundamentais dos materiais empregados na engenharia. Essas informações tem muitas vezes aplicação direta no projeto e dimensionamento de componentes e produtos. O ensaio de tração não é necessariamente capaz de fornecer informações para prever o comportamento dos materiais quando sujeitos a carregamentos em condições de serviço, no entanto, ele permite avaliar características de resistência e de ductilidade que podem ser usadas para estabelecer critérios de controle de qualidade que assegurem desempenho satisfatório em determinadas aplicações. Isso implica na necessidade de padronização dos métodos de ensaio e dos corpos de prova, com relação a tamanho, forma e técnicas para a obtenção das amostras. Entidades normativas nacionais e internacionais encarregam-se de estabelecer e atualizar normas técnicas que padronizam métodos de ensaio e estabelecem as especificações exigidas para os materiais em geral e para produtos específicos. A realização dos ensaios deve portanto, estar subordinada à observação criteriosa da normalização vigente, e a essa exigência está diretamente relacionada a confiabilidade e a comparabilidade dos resultados. 2. A CURVA TENSÃO-DEFORMAÇÃO "DE ENGENHARIA" PARA MATERIAIS METÁLICOS. A resposta de um determinado material quando submetido ao ensaio de tração é geralmente analisada em termos de uma curva tensão- deformação, obtida a partir de medidas da carga aplicada e o correspondente alongamento da amostra durante a realização do ensaio. Utiliza-se para a obtenção dessa curva, a "tensão média" (σ) longitudinal no corpo de prova, definida como a relação entre a carga (F) aplicada a cada instante, e a área (Ao) da secção transversal inicial do corpo de prova. σ = F / Ao (2.1) A "deformação nominal" (ε), é obtida é obtida através da relação entre o "alongamento" (∆L), do corpo de prova e seu comprimento inicial (Lo): ε = ∆L / Lo = (L - Lo) / Lo (2.2) A deformação específica assim definida é um parâmetro adimensional, e representa o alongamento da amostra por unidade de comprimento. Pode-se também definir a deformação em termos percentuais, multiplicando-se por 100 o resultado da expressão (2.2) : ε (%) = 100 x (L - Lo) / Lo (2.3) A curva tensão-deformação "nominal" ou "de engenharia" considera todos os valores de tensão e de deformação baseados na secção transversal e no comprimento útil "iniciais" do corpo de prova. Na realidade, os termos Ao e Lo não são constantes ao longo do teste de tração, e mais adiante serão introduzidos os conceitos de tensão e de deformação "verdadeiras", considerando a área da secção transversal e o comprimento útil "instantâneos" do corpo de prova. A figura 2.1 mostra uma curva tensão deformação típica para muitos materiais metálicos, onde são definidos os principais parâmetros a serem obtidos a partir de um ensaio de tração. A B C D E Figura 2.1 - Curva tensão-deformação típica para materiais metálicos. O ponto B define o "limite elástico" ou "Limite de elasticidade", que é máxima tensão que o material poderia suportar sem apresentar deformação plástica permanente, após uma suposta remoção da carga aplicada. Na prática, este ponto é freqüentemente substituído pelo ponto A, que representa o "limite de proporcionalidade", definido como o ponto em que a curva tensão-deformação se desvia da linearidade. Esta aproximação é feita devido à necessidade de equipamento com alto grau de sensibilidade para se determinar com precisão o limite elástico da forma como é definido. De fato, os dois pontos estão geralmente muito próximos e a posição relativa de ambos é muito discutível. Para fins práticos, admite-se uma deformação residual da ordem de 0,001% , como sendo o limite da zona elástica da curva tensão-deformação. Materiais muito frágeis podem apresentar fratura ainda na zona elástica, e nestes casos, as definições acima não são significativas. O Limite de Proporcionalidade define a região linear (OA) da curva tensão deformação. Nesta região, pode-se assumir que o material tem um comportamento puramente elástico, isto é, a deformação é totalmente recuperável se a carga aplicada for removida e, neste trecho da curva, é válida a "Lei de Hooke" : σ = E . ε (2.4) A constante E, é denominada "Módulo de Elasticidade" ou "Módulo Elástico" ou "Módulo de Young" e pode ser determinada através da inclinação da curva tensão-deformação, na sua região linear (OA). O trecho BD da curva da figura 2.1, delimita a região onde ocorre deformação plástica uniforme ao longo de todo o comprimento útil do corpo de prova. Nesta região da curva ocorre o fenômeno de endurecimento por deformação (ou encruamento) e a deformação total é a soma de uma parcela de deformação elástica recuperável , e uma parcela de deformação plástica permanente. O ponto D define o “Limite de Resistência à Tração” (σt), que é obtido através da relação entre a carga máxima atingida durante o teste (Fmax) e a área da secção transversal inicial do corpo de prova (Ao). σt = Fmax / Ao (2.5) No trecho DE da curva da figura 2.1, a deformação não é uniforme ao longo do corpo de prova, ocorrendo grandes quantidades de deformação concentrada em determinadas regiões da amostra. Este fenômeno de “estricção”, provoca grandes reduções localizadas de área da secção transversal do corpo de prova, resultando numa diminuição da força necessária para o prosseguimento da deformação, e uma queda aparente na tensão nominal, uma vez que esta é calculada considerando a área da secção transversal da amostra no início do teste. Embora a tensão localizada no ponto de estricção aumente continuamente até a ruptura da amostra, este fato não é levado em conta na construção da curva tensão-deformação “de engenharia” e a “Tensão de ruptura”, σr , é calculada considerando-se a área incial (Ao) da secção da amostra e a força (Frup) exercida pela máquina, no instante da ruptura. σr = Frup / Ao (2.6) A transição entre a região de deformação elástica e a região de deformação plástica pode ocorrer de forma gradativa como indicado na figura 2.2a, ou de forma brusca como mostra a figura 2.2b . Neste último caso, dependendo da precisão do sistema de registro do ensaio, é possível definir a Figura 2.2 – Tensão de escoamento e limite de escoamento convencional. Tensão de escoamento superior (σes) e a Tensão de escoamento inferior (σei) , ou simplesmente a Tensão de escoamento (σe) quando não for possível fazer distinção clara entre as duas anteriores. Quando a transição entre as zonas de elasticidade e de plasticidade ocorrer da forma indicada na figura 2.2a define-se o Limite de escoamento convencional (σ0,2) que corresponde à tensão necessária para provocar 0,2% de deformação plástica permanente na amostra. A Deformação Total na Ruptura (εf) contém uma parcela de deformação elástica, que é recuperada no instanteda fratura, como mostra a figura 2.1. Esta parcela geralmente é muito pequena em relação à deformação total, e para efeitos práticos, ela pode muitas vezes ser desconsiderada. A deformação final obtida no ensaio é um parâmetro de ductilidade do material e é definida como a diferença entre o comprimento útil inicial (Lo) e o comprimento final (Lf), dividida pelo comprimento útil incial do corpo de prova. Pode ser expressa em termos absolutos ou percentuais: εf = (Lf - Lo) / Lo (2.7) εf (%) = 100 . (Lf - Lo) / Lo (2.8) O “Coeficiente de estricção”, ou “coeficiente de redução de área” (Z), é outro parâmetro de medida de ductilidade do material. É definido como a redução percentual de área, no local onde ocorreu a fratura, em relação à área da secção transversal inicial do corpo de prova: Ζ (%) = 100 . (Ao - Af) / Ao (2.9) • Resiliência: habilidade do material de absorver energia quando deformado elasticamente e retornar à situação inicial quando a força é retirada. O Módulo de Resiliência (UR) é uma medida da quantidade de energia por unidade de volume absorvida pela amostra durante a deformação elástica. • Tenacidade: habilidade do material absorver energia na região plástica. É a área total abaixo da curva tensão-deformação. O Módulo de Tenacidade (UT) é uma medida da quantidade de energia por unidade de volume absorvida pela amostra desde o início do carregamento até a fratura. E dU pR p .2 . 2 0 σε εσ == ∫ ∫= f dUR ε εσ 0 . Figura 2.3 – Energia absorvida para promover a deformação da amostra até a fratura. Curvas tensão x deformação nominal e verdadeira Figura 2.4- Curvas tensão x deformação nominal (de engenharia) e verdadeira (real). Figura 2.5 – Deformação uniforme O ponto de carga máxima corresponde ao Limite de deformação plástica uniforme. Até esse ponto pode-se considerar que o volume da amostra se mantém constante: AoLo = A . L Para diferenciar tensões e deformações nominais e verdadeiras, será usada de agora em diante, a seguinte convenção: e = ∆L / Lo = Deformação nominal ( ou de engenharia); ε = ∆L / L = Deformação verdadeira (ou real); S = F /Ao = Tensão nominal (ou de engenharia) σ = F/ A = Tensão verdadeira (ou real). e = ∆L / Lo = (L – Lo)/Lo L/Lo = (1+ e) ε = ln(1 + e) == / ∆ = ∫L L oLLLdLLL 0 )/ln(/ε S = F/Ao Ao/A = L/Lo = (1 + e) A = Ao / (1+e) σ = F/A = F (1+e) / Ao σ = S (1 + e)
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