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sartori giovanni prefc3a1cio e cap 1 o partido como parte in partido e sistemas partidc3a1rios

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Apresentação de DA VID FLEISCHER .
do Dl:partamento de Citndas Socials,
Universidade dOe Brasilia
7l'aduçãQ:'Walien~ir Dutra
':Rcvisáo>r~cnica:'Antonio Monteiro Guimar1es
Pr.ofessor do Depa,namento d~Sociol~gia .
e P~Utica,PUC.Rj
Pensamento
Político
Prefácio do Autor
, à Edição, Brasileira.
GiovâHni 5artorl"
Partidos é Sistemas
Partidários
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ISEJEdiforaUniversidade de Brasília. t .'.' ..' . •• .
J~~R EO~dRES ~'-'.".~".jj
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APRESENTAÇÃO À EDiÇÃO BRASILEIRA
Prof. David V. F leischer
Departamento de Ciências Sociais. Universidade de Brasília
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Os trabalhos e a pessoa do emuicnte cientista polltico italiano, Giovanni
Sartori, não são totalmente desconhecidos aos cientistas sociais brasilei-
ros, pois seu primeiro trabalho chegou aos nossos meios acadêmicos em
1962, numa tradução cntitulada A Teoria da Representação no Estado
Representativo Moderno, publicada na série monográfica dã RDEP, organi-
zada pelo Professor Orlando CarvalhÇ>,da UFMG; Em 1965, o Fundo da
Cultura publicou sua Teorio Democrática. que foi muito usada como texto
em cursos universitários. No ano seguinte, es'teve presente num Seminário
sobre o Desenvolvimento Polilico realizado em Belo Horizonte, organizado
pel3 UFMG e a Harvard University. Em plena vigência do AI.2, Profes-
sor Sartori apresentou um trabalho sobre a "engenharia política" neste
.seminário; um tema muito apropriado para aquela conjuntura. Em 1968,
este trabalho foi publicado no compendium Public Policy, organizado por' '
Montegomery e Hirscrunan (Harvard University Press). Em 1975, a Revista
de Ciêncio Politica, editada pelo saudoso Ministro Themístoclcs Brandlio
Cavalcanti, da Fundação Gctúlio Vargas, nos trouxe a traduçlio de um
artigo de Sartori publicado na AmeriClln Political Science Review (64: 4,
1970), "Problemas metodológicos na política comparada".' '. ,
Embora existam estes exemplos dos seus trabalhos no Brasil, a vasta
maioria da sua produção intelectual publicáda na Europa, e nOSR,tados
Unidos é até hoje inédita no Brasil. Por esta razão, é de suma importância
que a Editora Zehar, em co-edição com a Editora da Fundação Universida-
de de Brasília, faça chegar ao público brasileiro a tradução de Seu recente
trabalho sobre partidos pollticos e sistemas partidários, visto pela crítica
internacional como a sua maior obra. S, além disso, a melhor contribuição
ao estudo do fenômeno partidário desde 'a obra então clássica de M. Du-
vergcr publicada há mais.de 30 anos, traduzida no Brasil em 1970 pela
Editora Zabar e reeditada em colaboração com a Editora da FUDem 1980.
Nascido em Florença, Sartori recebeu o titulo de doutor aos 22 anos
pela Universidade desta mesma cidade e, três anos. mais tarde, esta pre-
cocidade intelectual, começou a ser reconhecida quando foi escolhido
"Researeh FeUow" da Viking Fund, Sua carreira docente começou na sua
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12 APRESENTAÇÃO
própria alma mater como professor assistente de história da filosofia mo-
derna (1950.57), e depois professor adjunto (1957.65) e titular (1965 ..
78) de eiêneia polftica, professor titular de soeiologia (1962.65). e diretor
do Instituto de Ciências Polítieas (1966.76).
Ao longo desta destacada carreira, Sartori também foi professor visi- .
tante nas universidades norte.americanas de maior renome - Harvard, Vale
e Stanford. Foi durante seu primeiro estágio em Vale (1966.67) que Sarto-
ri elaborou a primeira versão deste livro que ora apresentamos. Porém, foi
em Stanford (1971.72) que modificou e ampliou o manuscrito em sua
forma definitiva, que foi publicado em 1976.
Após seu retomo em 1972, foi agraciado com uma Medalha de Ouro
de Mérito Cultural pelo Ministério da Educação da Itália. Porém, em 1976
resolveu dcixar a Sua terra natal de vez, fixando residência definitiva nos
Estados Unidos; inicialmente em Stanford, e a partir de 1979 passou a
ocupar a Cadeira "Albert Schweitzer" de Humanidades na Columbia Uni.
versity, em Nova Yorle. .
Seus primeiros .trabalhos ainda na década de 1950 versavam sobre.
a.vida e contribuição mrisóficà de Benedetto Croce. Logo depois, começou
uma linha de pesquisas na área da teoria política, que seria a mais longa e
produtiva. Ao mesmo tempo, interessou.se pelos problemas de formação
de conceitos e de metodologia nas ciências sociais. Teve, ainda, uma rápida
incursão na área dos estudos sobre legislativos. Porém, o que mais o des-
tacou internacionalmente foi a linha de pesquisas c publicações sobre a
sociologia dos partidos polfticos, na qual tem seguido as idéias de Mosca
(elites pollticas) e 'Mich,ls (elites e organização partidária) .. Como uma se.
qüência lógica, esta; pesquisas o levaram para o campo da representação
e participação política, cidadania e sistemas ideológicos. Quase como uma
despedida à sua terra natal, em 1978 publicou um estudo de caso sobre o
eurocomunism.o itiliano, 'em parceria com Austin Ranney (American En-
terprise Institute). .
Professor Sartori sempre foi muito ativo nas' ramificações interna.
cionais da ciência política. Em '1960, a Associação Internacional de Socio-
logia (!SA) estabeleceu um Comitê de Sociologia Polftica Comparada, li-
derado por Seymor Upset, Stein Rokkan e Maltei Dogan, e Sartori foi
o representaJ)te italiano. Mais tarde, um comitê similar foi organizado
dentro da lPSA (Associação Internacional de Ciência Política), onde Sartori
foi muito atuante. Entre 1967 e 1976 foi membro da Comissão Executiva
da lPSA. .
Quando foi reeditada a monumental' Enciclopédia Internacional das
Oéncias Sociais em 1968 Sartori' foi reconhecido como especialista ill'
. tcmacional co~ uJh ~onvj'tepara escrever as ementas sobre "Democracia
e Sistemas de Representação':. Também teve uma atuaç[o Importante na
fundaçãO dc três revistas novas: Government a/ld Opposition (1966), Po-
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. APRESrTAçÃO . .. IJ
litical Tileory (1973) e Rivista Italiana di Seienta Polfti~ (1971). Sartari
. 'ainda é o Editor Responsável da RISP. I . . .
. . A última tentativa de elaborar uma abordagem: abrangente para
analisar sistemas partidários foi a 'de Duverger, em 1951. A autoridade e
. a utilidade desta obra têm diminuído. ao longo destes últimos 30 anos p~r '..
diversas raZlles: (1) criticas conceituais contundentes; (2) .mudanças nos .
sistemaS partidários 'na Europa .Oriental; (3) certas evoluções nos sistemas .
'ná Europa Ocidental, não previstas; (4) a .emergência 4e sistemas"1íoyos
na África e na Ásia; e (5) a disponibilidade de material novo sobre sistemas.
mais antigos, notadamente na América Latina. A maior partc' doslraliilI~os .'
sobre partidos políticos que apareceram durante esses 39 anos. não foido .
tipo cumulativo, .como por exemplo as obras dos autores americanos, .' .
paroquialmente voltados apenas para seu sistema partidário.: Por 'outro
lado, quando se editavam estudos sobre sistemas partidários, abrangendo
vários paises, eram sempre feitos.de uma maneira desçritiva. 'Por. todas .'
'estas razões, a teoria política estava cada vez mais necessit~da de uma abor- '..
dagem nova e abrangente sobre os partidos e sistemas par~dários.. . .: '-
Neste priméiro volume temos: uma anilise cuidad'osa e (ieneirlirjte
dos sistemas partidários, após vários capítulos iniciaispreocúpádos. com
uma rigorosa definição dos conceitos a serem usados ao 16ngo dó trabalho.
Coino Sartori nos promete, o segundo volume nos apresentará uma ahálise
. de funçOes, organização e tipos de. partidos, além de tentar relacionar'. o'
fenômeno l'partido" com outras variáveis e com o.sisten\apo1ítico em Si.
Amaior contribuição deste primeiro volume se revela po estudo do nú'
mero, do posicionamento ideológico e das reiaÇÕes competitivas dos par-
tidos políticos no mundo contemporãneo.
Na sua preocupação com o que chama de "um contínuo de sistemas ..
partidários", Sartori reConhece a fluidez dos sistemas, quer dizer, a sua
tendência de sofrer mudanças bruscas, especialmente n01. países novos na
África e na Ásia. Para ele, a África é um labirinto e os países do Terceiro
. ~undo não podem fornecer categorias úteis par~ a análise de situações oci.
dentais. O que estes 'Estados podem fornecer, pelo contrário, é uma sitlla .
Ção quase de "laboratÓrio" onde á evolução de novas modalidades pode
ser observada. Na terminologia desta abordagem estruturalista, estes Esta-
dos ainda estão se Institucionalizando. Sartori nos iembra que.os modelos
ocidentais de competiÇão partidária se baseáram nas cre~ças de que (1) O
pluralismo poJItico era desejável, e (2) este pluralismo n~o poderia prospe.'"
rai'ondeesla idéia não fosse aceita. . . Í' . . '.
. . Neste volume, Sartori pode concentrar a sua experiência européia.
numa área longamente dominada pela eiêhcia política porte-americana e
'.revigorar certas idéias européias,' como.a da escolha racional do eleitorado'
'entre alternativas ideol6gicas; há muito tempo submersa~ por estudos dos ..
...amorfos partidos norte-americanos ...Neste particular, Sar\ori concorda com
.' • ; 0"0 •
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APRESENTAÇÃO 15
um tipo de. "dialética romàritiea" (iniciada pela Escola'de Fr~kfurt) esteja
anhando terreno nas ciênCias SOCl3lSOCIdentaIS? Se na posslvel haver um
!urocomunismo que afirme não querer participar da f"Sã~ Estado-partido,
mesmo que continue crescendo seu apoio popular em pa"1.s~slffipo~.tantc~)
e ainda desempenhe de vez em quando um papel explICIto de manu.
tenção do, sjstcma~l?O que podem sugerir estes e outr~s acon~eciment~s,
inclusive o uliberalismo descrente" r:rmitoem voga hOJeem dia entre 10-
telectuais ocidentais, quanto aos problemas de legitimidade nas economias
poiíticas de capitalismo avançado? Porém, esta linha de pensament~ noS
leva ao precipício da lal "lógica processual", contra a qual Sarton nos
adverte ao longo deste trabalho.
Talvez o leitor venha a concordar com Sartor;" que a anâlise taxonô.
mica tem um lugar indispensável nesle campo cientrfico. Porém, o uso
maciço desta taxonomia específica, no caso de Sarton, ?ode servir m~,rto
bem a certos objetivos políticos. Neste senlldo, é posSlvel que estas 16-
gicas processuais" de vários tipos tenham eonsegui~o adeptos reecnte.
mente na ciéncia política simplesmente porque as teonas anllgas perderam
seu poder de persuasão. Se isto for o caso, reahnentc, esla perda talvez
tenha ocorrido porque os problemas intelectUaIS que os estudIOSOSda
politica enfrentam hoje em dia não podem ser 'resolvidos dentro de uma
epistemologia classifiealória estática (como a de Ou,ergcr, no caso dos
partidos, por exemplo). Aqui, a observação"do Pro~essor Carl Fnednch,
feita em 1963, ainda é bastante relevante: uma dUVIdanuma IJpologw
é uma dúvida sobre a estrutura da realidade abordada". _.
A1bany, Nova York,
fevereiro de 1982
APRESENTAÇÃO
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1I 14
1,'1 Downs em que "mpdelos devem Ser testados principalmente pela acUidade
das suas previsões, ao invés da realidade dos seus pressupostos", .
.. I: Como nos scus trabalhosll.nteriores, Sartori .trata os partidos es.
::'1' seneialmente como variáveis illdependentes, Multas vezes, ele considera
o número de partidos ou o sistema pariidário também"como variáveis
,i independentes. Como ele mesmo disse, "da perspectiva de uma ciência
,h política _ na sua diferença de uma explicação sociológica ou a de redu.
ção polítiea"- a questão é exatamente como a superestrutura reage sobre
I assiJbestrutUras';., ..
:, Parà o leitor lirasileiro, este volume sobre partidos c a evolução de
li' sislemas partidários se faz publicar pela Editora Zalm, .em eo.edição com
a Editora da Un'iversidade de'Brasl1ia, numa époea.muito propícia. Nesle
II momenlo, o sisterna '.partidário brasileiro eantinha numa transição de um
sistema com 'dáis partidos (artificialmente criados 'e inantidos), cada um
dos quais com. várias facções intrapartidárias, para um. sistema pluripar.
, tidário, atualmente com cinco .ou seis paiúdos. Ou seja, na terminologia
. !ll de Sartoril passou d~um sistema de partido l.cpredonli~antc" a um sistema
;1 aparentemente de .pluralismo moderado. . . :.
Il Ao mesmo ,tempo, suas idéias abrem um campo multo fértU para
~; uma reinterpretação'da primeira experiência pluripartidária no Brasil entre
',: 1945 c 1965 (reintúpretações, aliás, já iniciadas por cientistas politieos
.i brasileiros), em termos do critério numérico, do conceito de pluralismo'
(moderado e eXlremo), c da questão de polarizações e.de distâncias ideo.
lógicas entre os divcr.sos partidos da época. . '
Não menos importante seria uma interpretaçgo, (c. extrapolação)
das previsões contidas neste primeiro volume (no eap!tulo 9) quanto aos
, caminhos allernativos de evolução do sistema partidário brosileiro, dado
'os fatores de super e subestruturas, a Viabilidade de ~"en'gellhariaspolíti.
Icas" (como.os "lÍricotes" de ..abril de 1977 e de novembro de 1981) e a
Iinternção entre os sistemas partidário e eleitoral. . .
I O cienlist:i p()lítieo brasileiro naturalmente lamentará um razoável
: número de "iacunas" é.espaços vazios com relação ao Brasil neste trabalho.
"Embora o Brasil"e (ambém a América Latina, receba um tratamento muito
'Imais amplo do 'que .riá trabalho' clássico de Duvergcr, Sartari, escrevendoilno início dos anos 'lô; ngo teve acesso a vários trabalhos feitos posterior.
, mente sobre Ó sisiema partidário brasileiro .(e lalino.Wllericano), c~ja in.
. I,clusão esperamos no próximo volume, onde o autor promete "test,,'" mais
:exauslivamente seus press"postos iniciais. Esper<I!llOS'a' próxima vinda de
. !Sartori ao -Brasil par~,:haver;,mã interação fr~tífera coril cientistas políti.
;cos locais quanlo 'à releváricia das suas teorias,. interpretações e previsÕes .
:em relação à nossa' realidade.
'I Finalmente,o 'estilo uin 'tanto polêmico ea "agenda" política deste
trabalho pode") nós deixar com outros tiposd, dúvidas.:£ verdade que
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PREFÁCIO À EDiÇÃO BRASILEIHA
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'I.' .
A edJçffo brasileira deste livro represent~, na realidade ,lima e:d;çffo re~sta
e atualizada e nffo apenas uma simples tradução do volume publicadn:on:.. . II i '.,
. ginalrnente em 1976. Mais exatamente; os dados foram ..mnde.rnizados.até.:
princípiós de 1980. Além disso,.ela inclui, ao fmal d9 úitimo capítulo,.
ur53, nova seção que defende. ao que me parece, uma das principais teses .. '
'deste trabalho, .ou seja, a de que a variável isolada rnLis"detisiva para o".
: entendimento da. política de massas de nossos dias é o grau de polariiação'
:... isto é, de distância e heterogeneida~e ideo16gicas - é:~trc -as' pes~oas'de::
:.qualquer sistema po~ítico. Ao atulilizar os dados e as prq:vas empí~cás para:
'. esta ediçffo, 'surpreendeu-me agradav~lmente o fato dei que ri1inh.s novas;
evidências pouco afetavam a interpretação e, em cSp'ccial,' as previsões.:
feitas anleriormente. Nffo estou pretendendo virtudes p'foféticas, mas'sim'"
'. .' li . .
plesmente.observar, em geral,' que ~~ trabalhos te6ricos;ltendçma se'r ~~sis.:
.' tentes ao tempo. Isso porque meu trabalho - tenho de reconhecê-lo - vai ..
. . • . . . . ~I '.
"t~-Sépa~aa t~ona. " ... : .' -' . I,i....', >. .
• o," • Minha mtenção .era,' ~t1gm!Uffientef ~ de realizar um~ obra q~e fosse)
.. : !iCirn"ade tudo, uma inve.sti8f~o'e'mpírica de proporçõe~ mun~iaisJ ~ntetes.;
....,.'sada em avaliaçõcs comparativas e. ~m genera1izaç~s. P1urante a execUção.
'. . "do plano,' P9rérn, a ênfa~e teóriCa: acabou tendo proced~ncia. ~'.contragos~ .
'10':. sobre a empírica. Não é difícil. compreender a r~o disso. As ccim::
'pataçilçs pressupõem inçd!aas cbhiuns - e portanto a u)'clusrro de ;'ma:ter':'
minolo~a comum - 'que.mal existem no estado atual ida lileratura s,?bre ..
. o assunto. Temos hoje grande volume de dados e também excelentes estu-.'
. dos sobre nações,-' e àté mcs~o. ~.Çlbre. ~cas .isoladas; ~as, todos el.es 5,ãO .
demasiado condicionados.aos seus .propdos objetivos, s'eus conceitos e Ca-'
... tegarias são demasíado'i!flpre.ci.SdS;~, em conseqüência)é quase irnpCj$Sí~~i":.:
. ajuntã-los .de qualquer maneira cumulaliv'a para fins de' formulação:.dehi- .
.' ~ . ," II .
: póteses, .eomprovação .e avanço. de nOssa perecpçffó getal do 'procéssp po-
'litíco. Fui obrigado, portanto, a:-coostruir uma estrut~ra teórica.-a parur"
'.'da qual derivei categorias descritiVas comuns de anãlise -: fianeiras de' .
. separar o que é sem~lh~nte e, 4i.versaJl1ente, O que é diferente -:':e,:.em::'
.: última instância, conceitos explicá.tiv.os.e/ou variávei'i. ,;. ',::
. , . J
I .
~.
II
--------_. ---_._-------------------------------~---_._~----------------~---------
G.S.
Columbla University,
janeiro de 1982
'INTRODUÇÃO 19
'.
~' - - -
de fluxO'. Continuo, portanto, Incapaz de examiná~o ,ob o ênfoque sis-
temático adotado.ncste volume, Ape,ar dissO,espero .que o leitor brasileiro
encontre na perspectiva comparativa deste trabalho critérios de orientaç!o'
também para os ruOlOSque seu pai, vem ,egulndo,
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1811' INTRODUÇÃO
:1 A .América Utina é a área me~os abordada neste volume .. À part~
o Chile e o México, dos quais me ocupei mais deta1ha.damenle,. a maioria
dos. outros países latino-americanos.são tratados apenas de passagem. Isso
ac.ontece por ser este, apenas o primeiro volume de uma obra em dois
tomos, e porque nel. tratei de si,tema,. partidários, e não de partidos iso-
.'. ladamente, não de partidos per ,e. A tipologia e o mapeamef\to dos par-
tid6s como tal foiam adiados para o próximo voiume. Ora; com umas pau"
cas,:exceções, a maioria dos países sul-americanos têm longa experiência
de .partldos, mas o siS'tema que daí re,ultou (o sistema partíamo rigorosa-
, mente dcrmido) ,aramente teve uma consolidação estruiural . .Isso se ex-
plica pelo fato dc terem os sistemas partidários sul.ainericanos, em geral,
sidÇ) intermitentes, partidos que desapareCem e voltam a"existir, que são
congelados e depois voltam a atuar. Parece-Ine, portanto, que a unidade
crucial de análise, nessa área, é o partido e não o sistema' partidário. £
essÜ~pois, a principal e .única, razã"o que me 1.eva a adiar um exame mais
detalbado do continente latino-americano 'para o segundo yoiume, isto é,
deiXar para fazê.lo com referência a movimentos espeçíficos c. ao n/ver
partidário de análise. ..
. '[ Embora a intermitência cíclica do sistema partidário venha sendo,
há muito, ,a característicamals freqüente em toda a'América do Sul, cabe.
n1C 'reconhecer imediatamente que o Brasil representa, desde .1964, o aban.
dono mais destacado e Significativo desse padrão. Já' n[o' é o caso, no
Brasil, da tomada d~ poder por uma junta com um cntendimento tácito
de que na .devido tempo o status quo anteQ civil será restabelecido. Em
notável contraste 'com o ciclo de internlitência, as autoridades miiitares
brasileiras mantiveram um Congresso baseado nos partidos, ao mesmo
tempo em que Se empenhavam, em vão, numa enge'nharis- constitucional,
cleitoral e partidária, e isso com a disposição de chegar ~uma reestrutura-
. ç[d fundamental 'do si~tema político. Tenho consciência, portanto, 'da
na~ureza inovadora e sem precedentes 'd"ª,experiência que se faz no Brasil.
Não obstante, do po'nto .de vista deste livro, perdura a conclus[o de que
lo sistema partidário brasileiro (c, concretamente, sua .séqüê'ncia de sis.
ten\as) 0[0 revela. uma consolidação estrutural, e isso pai duas razões
.conjuntas: os partidos .brasil'ciros não podem ser qualificados como um
subsistema autônomo' é; segundo, eles n[o tiveram um deserlVolvimento
eSHontãneo. Assim sendo, o observador s6 pode registrar' um estado de
.coi~as volátil, que nãei pode ser irid~ído (por motivoS descritos em detalhe
nólcapltulo 8) nas categorias que se aplicam aos sistemas partidários estru-
tu(ados. O Brasil tem partidos que rcalmente mobilizam deitorados, que
relumente estabelecem .elos importantes, que realmefite' desempenham
funções expressivas'c:legítimas e que realmente represen.lani (embora sob
rótulos e recombinações variáveis) tradições políticas antigas e arraigadas.
'N'~oobstante; seu si,sterna partidario.! como sistema, permanece em estado
..'. ..' I .' .' .' ..... ,
. ,i: ~-.-:~ ------. -. -. ~,~-. -c-o --'-. --_._--~_._--._---'--_._------------_ ....- -------.--.--------.- -"--- - --
''-L.::...:-- :\ ' .' . "'-.w
"
, .
,;.
.' .
ABREVIATURAS
" .
~ a seguinte a lista de abreviaturas das publicações citadas com freqüência
neste livro:
I. Parte)
....
~'.
..:,'
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..
:--.
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ARA TlONALE: POR QUE PARTIDOS?
:..
.i.
Aera Politica
Amerlean Joumal o/Political Scienee..
American Joumal o/Sociology
American Political Science Review
Gznadian Joumal of Politiea/ Science
Comparativ;, Polities
Comparative PoliricalStudies.
European Journal Df PoJitlcal Research
International Social Science Joumal
Journal o/ Politics
Go~ernment and Oppasition
Midwest Journal o/ Poli([ealScience
Political Quarter/y
Politieal Studies
Politieal Seience Quarterly
Politieal Theory
Revue Française de Science Politique
Rassegna Italiana di Soci%gio
Rivista Ila/illna di Scienza Polilica
ScandifU1vianPolirical Studies
World Polirics
Weslern Polilical Quarterly
20
AP
AJi'S
AJS
Ai'SR
ClPS
CP
Ci'S
EJPR'
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O PARTIDO COMO PARTE
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1.1 Da facção ao partido
O termo "pa.rtido'~.~n.t!()u,~!!!,~so.!.sub~tituin~o~radualmente a.'exP!e~são
deproe"iativn"facçã'o:'" ,c:om,a a".Haçã'o ,da idéi~ ,d~ .9.ue.um p~rtid(),;!,]io.~
necessariamente. uma fãcção, que n~o é necessariamente um mal c que não
perturba~e~~en~-_õ"!~I.iúm.~9.f!1~U!1~!..,!. ~~.n2.~~~!a!~mu"!..Atran~
sição de facção para partido foi. na verdade, lenta e tortuosa, tanto no
domínio das' idéias como no dos fatos. A segunda metide do sécul'\ XVllJ
m!!'_~~yi2...ocomeçado~u~,:,d~Vol~~ csçrcv"u_coiiêisam~~te-iia:~~Ó:'~loo
: pédi!.: "A palavra partido não É".~ ..s!,J"l'ulsiv~; a p';lavra.faéfão s,m"plc
é."I Com o seu versátil .gênio E:araa. síntese, Voltaire resumiu nessa frase
. um_debàtõ'lfii~i~do.J'()~!~~In~"i~k(;em' 17f~:'~:9uei~'desCiifofa;;ã--áind!
por cerca de um século.2 . ' ..
'A afirmaçifo de 'ljüe Q palavra facção e,ra repufsiva nãQ exjgia.'de.,de
os tempos romanos até o século XIX, provas. Em toda a tudiçfo do pensa0
;"'ento polftico ocidental dificilmente.haveráuITLautorque não tenha ado.
(ado a mesma opini[o. A parte interessante da frase é, portanto, aque.
lá 'em que Voltaire adfl)iie que a, partidos podem ser diferentes. que a
palavra .part\9o nãO ,tem necessariamen le uma conotação negativa. N[o ~":
podi:, ]lorém~ar a Voltai!~ -í,I cr~9,,~e .!~~~ustenta~essa' difeienç~. '!'e.
facção, escreveu ele. é "un parti s'éd(tieuxdolls un é!lit"'("um partido se.
dicioso ii\'m;'£Siã'aõ'T'A-pijavra' pariíâ(iparece:as~lm,-ãp)icável às facçÕes
. que nãosão. sediCIosas.Mas Voltaire contj'1uou, explicândo, em lugar dlS:
so, 'que umalf-acçã<lé "um partido sedicioso quando ainda fraco, quando
não parti.Ci~ [partage] d,e todo o Estado". Assim, "afacção?~.g~! t()!:
nouosç)'?Jlo.un:!par~i~.?~,?rn!"l!..'!t-,,-_~!:DJ!0li!'.,~!t~PÚ~!i,CK'.!?~!~~.9.
fica 'inqunais ~!,fraqu~cida; s~nãQ....de~~r.':'í<la,.p~la()~~~~ç ••~ge ,voltaire
.<!;.qU~'~tJl:'5'he~ede um par~ido ~ senl!,r~ tJI!'c~~f."de !".'3'~~".. .' .
" Trata.se então de uma dlsUn¥o que não tem base em'.uma d,feren.
ça? ~e~i~l~).u..::tofa,~eE.tal.~rít~c,",~ ~()lt!iI~"q~:~pc~~~!efl~!~.!\~~mbiB.~!'
dades eperplexidade~ de, todo o s~tulo ~Vlll. Justificar-se.ia, nesse çaso,
levantar essa' questão em relação a todos os autores que 'se oauparam do
23
~------------------------------~.
2S
•
24 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDARIOS
problema: Bolingbr~ke, Hume,' Burke '~ os protagonistaS das Revoluçóes
Frafl,~esa ~ Americana, Primeiro, porém, devemos compreender.lhes a,
te rrTl 1I)ologJa , " '
Etimológica c semanticamente, t1facção" e IIpartido" não têm O mes~
mo significado, Facção, que é uma palavra bem mais antiga c consolidada,
vem do verbo latino facere (fazer, agir) e factio logo passou a indicar, para
nu tores que escrpviam em "Jatim, um grupo político "empenhado em um
facere pertur\>ador e danoso, em dire doings (atos terriveis). A~sil)),..Q.E&:
nifj,.'."do 'primotdi,'!l transmj.tjcjo pcjª r'li;:;,I,a.tjnllé Yilli\"i.déia.d~..de
comportamOllto c.x~ssivo,impiedos() c, portanto, daninho, ' ,
. UPartido" também vem do latim, do verbo partire, que significa divi.
dir, Mas nlfo faz parte. de ne!,huma maneira expressiva, 'do vocabulário
polítiCO até o sécll10 XVlI - o'que significa que não entra no discurso po.
. líÜCO dIretamente' do latim. Sua predecessora mais antiga, com uma cono-
taçliO et~mol6gica muito parecida, é llseita", palavra vinda do latim seGare.
que sigrufica ~epararJ cortar e. coJ11 isso, dividir: Como <Iseitall já exist.ia c
estava' consohdada como transmissora do significado preciso de partire,
upar:tido" prcsto~.sc a um u.so .mais i,mpreciso'e ob~uro. "Par:ido" trans.
maia, então, baSIcamente a ldéfà de parte,"e parte não é, em 51,uma pala-
vra depreciativo: é um eoostruto anal£!ico, J! certo que a sQciedade culta
dos tempos antigos -' quer falassc italiano, espanhol, francês, alemão ou
jngllls - compreendia a terminologia que usava através do latim..(e grego),
Rortanto, a derivação etimolÓgica de partido de parlire, isto é, separação,
..,11'0passou "despercebida dos autores dos séculos XVlI e XVIII, Não" obstan.
te, uparte"' 11aviahá muito perdido sua conotnção ~rigjnal, A paJav'ra llptl-r1e",
'cstá' no verbo froncé~ _parlager, que significa pilftilhar', tal 'com,? entra no
inglês partaking (participação, partilha) (para não falarmos de parlnbrship
[associaçlfo] e participation [participação D, '
. Quando Ilpartc" se torna "partido" temos. então, uma palavUl SU.
jeiià a dua~ influências semânticas: a deriyação de partire, dividir, de um
lado, e a a~ociação com tomar parte. e portanto' com participaçlfo, do
outrO, Esta última é, na verdadc, mais forte do que a J'rimeira derivação,
Devemos observar, porém, uma tomplicação. Enquanto "partido" entrava
no vocab41ário da. pol€tica, Useita" dele saía. Durante o século XVU, a.
expressã"O passou a ligar-se à religilfo, e especialmente no secfaris!110 pro:
testante, Por esse caminllo, a palavra partido adquiriu também, pelo menos
em parte, o significado antes transmitido - na arena pol(tica - pejo termo,
seita. E isso reforçou .a Iigaçro original de "partido'~ com a idéia de separa-
ção 'c divislfo,.
O que dissemos acima contribu'i muito ,para explicar por que "parti-
do" teve, desde o inícto, uma cono~ação menos negativa do que "facçno"
e 011'0"pbstante, continuou sen'do um sinônimo próximo desta, Nâ'o há
d'úvidas de que nenhum autor do século XVIll, Burke ,,, parte, realmente
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distinguiu' 'os dois conceitos._ 'AIilda :'~~~im, todos os nossp5' al1tor~s--:.e . ','
notadamerile Bol1ngbroke e' Hume ~,Iutaram. num dado f'l0mento, cOm
.uma distinçãQ que encerrava .UJ~a d~'~e.rença,Se ao l:rmo~ seus tra~all?o~
prestarmos atenç,ão à escolhá das palavJas~,as duas nao sil'? usa~~s ll1?,f~;
renternent,;: facção aplica.se a unrgrupo, concrelo , ao passo que, partido ,
é muitó nlais .uma divisão .a.no/(tica, :iJ~' construta rncntrp" 90' que .uma .. :
entidade concreta, E isso eX'plica por que,a distinção se p.r,de 'rapidamente
e não'se mantém, Se facção é o grupo concreto e partido;o agrupament" '
. abstràto, a 'referência ao mundo real t~riia', os dois jndistil1g~rveis. '. ',. .' .
1.- ... Essas.observa£?~.~!!!.b~l!'. n.os...al~.'rt.~mE~~ o.fll.!~.?-~~ucos aut.ore~ .', que fal~vam_~I~_J>,~rt,,~~ !!'_~,I\ão...usa.vam a palav,ra partldp .. 1~n9~_S!~"~!'!..'
, realinen,te enfrentando o problema, J!: o, que ocorre ,esp,~CIn}m~l~te..c0".l, ,
MM1~c l1õI1fêSQ~}I~~mugõ.-~ítad?~',c~,!,? precu~sofc~.d~ l.~cla,!l.-e ..
partido, num sentido favorável: ~as _e,I.~!',~~9"!I~~!i).!~l,~J?1l~~!rr.O t~ech()
de Maquin.vcl relevante nesse ~ontcxto diZ ~u~ os dISt\l,~bl0S çn~~e ,pa-...
trícios."e plebeus ( ... ) foram ~l11ada~...prlnclp31S causas ~~e n~ant~v.er~m
Rom~ Hvre", com a observação compl~lJl~nlnr de que em, toda repúQh~a".
. encontram'~se udóis temperamentos [umori]' diferentes, urp do po~o ~ o~-,
tro dns :Jloderosos (gralldi]", de modo que "todas as leis feitas em fav~r ,da, •
liberdade resultam de suo desunião", Mas MaqUlavel deIXOU,hem claro une- ,
dintamente em seguida) -que mio se in:c:liriava a aplicar CSSI~ ~enera.1tzaç~o,
à sua própria época,' e riem mesmo, n:a ver~au.e e s~~und.C?suas p'a1avr~~:.,
aos Upatfidários dos quais. nascem as partes,da cldade ,po~.essas. parte~ :'
leva~ á cidade à, sua "ruIna'!, 3 Na reaJida~e.!,.9u~~!_do,~~.9.~la~~.!..~ref~r~~ "
. a um .g~upocO~l,~r~.t.~.!!':lb~.~r~ve1.!,D!.dor?~amente a c.ondenaç~? ~~~~It~s ".
e do-facciosismo, " :' II . ' , ' ,
---M-o~i1-iesqiiieu foi, prima fac/e, um pouco mais longe '~oque Ma~lUa. , '
vel. Ein suas cOllsidéralions sobre as causas da grandeza ~ da decadenc ••
dos romanos. escreveu: II ' ,
O qu~ se _~hamn de ul1lâo do corpo poHfico é :l1,gomuito ambíguo: ~ veróitdei.ra, unj;jo, ~
é umll únião 'de harmonia, em conscqiiência dn qual todas OISpilrtf.s (fOIl~e.r 1C3por-,',
fies], mesmO que pllIcçam opor-;,e, conc~trcrn pnrn o bem gcr~l.d~ .sOCll~dll.dc,t~1 .
como algumas dissonâncias na musicn concorrem para OIhnnnollla.gcrnl (. .. ) I! como
nô'l:;partes deste universo, eteri'ltlmente Iigaqas pelas suns ações e JeR~ões,'1 .
, " ,I' ' .-
,Ora esse argume'llo é altamcnte abstrato, e as ima~~ns ~ ha~moniu,
musical ~e 'cosmológica .- muito an~igas, Se Montesquieu p~rece ter ,Ido '".UTI ,
passo 'além de Maquiavel, é porque eSlava,disposto, a ~stellde.' aos lIlgleses ;
de sua época a aplicação dOaobservação feita pelo llllhanq"sobre,os roma ...
nos,; Não' obstante, é preciso ler t.oda a obra de MO~lesq!,lcu par~ enco,,; ':
trar unias POllCOS indicações aluslv3¥ a ~m enl~ndlmcn~o -fav~ráve~ ~~s'
"par"tes" de uma repú~lica, n~o sendo p~ssl~el r~glst[ar ~L!~quer refe.ren~HI, .
a, partidos no capítulo fundamental de L eS"fll des /o/s rOl q~e Montes.,' , ,','
'---_._-------,-. ------------.-
o PARTIDO COMO PARTE
tuiçll'o contra sua usurpação pela facção cortesll' (quo d realmente uma
"facção"). Assim, o partido dopais .ntro é um partido entre outros (em
nosso sentido) mas - como palavra. de Bolingbroke deixam ImplicUo -
o pais contra a carteLas súditos contra um soberano que agiu errado para
com eles. Se o rei nll'o age erradamento, se governa no Pa11amento como
d"etermina a constituIção. então o país não tem razi!o para se tornar um
. partido: Temos aí a noçll'o do partido nll'o-partldo, Isto 6, d.e um partido
que deve acab~r com todos os partidos.' S É esse, na verdade, o. objetivo de
Bolingbroke, Na dedicatória que serve de introdução li Dlsserlation upon
Parlies (Dísserlação sobre OsParlidos), ele apresenta seu trabalho eomo a
",tentativa de extinguir as animosidades, e mesmo os nomes dos parUdos
quc dividiram a nação, por tanto tempo, de maneira tão fatal a principio,
e tã'o tola. por fim.n Em suma, a intenção de Bolingbroke é ureconciliar
-os parUdos e abolir distinções odiosas",l'
Será justo concluir, portanto, que BoJingbroke ,era anti partido, Co.
mo o govemo pelo partido acaba'serripre em governo pola facçãO, e como
os partidos nascem da paixão e do interesse, c não da razão o da eqüidade,
segue.se que os partidos enfraquccem e eolocam em perigo o governo pela
constituição, E o govemo constitucional ela o preferido de Bolingbroke,
cujo ideal era o de unidade e harmonia, Não obstante, ele estabeleceu, mais
do que qualquer outro antes, uma 'distinção entre facções e partidos. E sua
apaixonada' c prolongada análise, repetida em numerosos escritos, colocou
os partidos em primeiro piano e forçou seus contemporâneos e sucesso-
res a enfrentar O problema,' ?l~~~~~<)~9..falo~: ..!i~~~~~r~e _~~lJl'.~do
do assunto pouco depois; foi, aliás, o primeiro entre Os grandes £'116sofosa[riZé.lo,-'- .. ,._. ---.-".-- _._.._- -----.-'------,-.-------'-
H;me colocou-se a meio caminho 'entrc Bolingbroke e' Burke, embo.
ra estivesse milis próximo do primeiro do que do segundo - tanto no que
diz respeito às idéias eomo em termos cronológicos. Os primeiros Essays
(Ellsaios) de Hume sob!:.e.£~,EaE.~9~~!!rgiram !":!!~. de dez anos dC,2ois
_d~,fJ.is~,!rtalioll de _!>oJing~~9ke, ~.E~ssO .2~.~~ke ocuEou.se do assu,!!~
em 1770, c~rca~ 30 a,,-~!!,!~~, l!u_lU~~,-con~!~~de esperar, ,menos
v~br.~n.!!'.~!!!!."',as...<:!~.Dlli.ç,ões_~2'1'!.':..BolingbroEs, Só com relação às facções
6 que ele mostra a mesma veemência, pois as "facçOes subvertcrn.Q govcr.
no, tornam impotentes as leis c geram as mais acesas animosidades entre'
homenS !la mesma nação"." Quant'o aos 'partidos, Hume é mais toleron-
te, Dá, na verdade, um importante passo além de Bolingbroke, pois admite
que "abolir todas as distinções de partido pode não ser praticável, talyez
nem desejável num governo livre", Não obstante, o ideal de Hume conti-
nua sendo.muito semelhante ao de Bolingbroke: o fim das distinções arti.
fi.ciais e odiosas'~_2'!.'!. ,~,2oca !!time percebia "um_ deseiQ...!!nive!~ª!J!.e.
~.bolir e~~~_qi~!i,~9(j_es:d.cp.~,-tLdg:~,-isto é, ag~ª"" ~\!~_man!inham opiniões
()..2.D.stasem reiaçil,:>.ao .que é, ess~n~i~1..I!P.hgove!l}2••, Q~'-!.~.º~!~jgQ
': .
I. , .
','::leud~;n:~:r:o::~:::;:::;~~/:ÁE~::a há ddvida,'por outro lado,
, de que Montesquieu estava '.plenamente de acordo com a condenação geral
d~s"facções". 7,1 - I
. Maquiavef e Montesquieu nlio entraram realmente no problema. por-,. I
::q1;J,c0, P;1SS0 ct;Icial. - na transiçlto. de "parte" para uparlido~' -,.est(lva
: en:a..cQo.ceber o partido com.o um terlno objeto, isto é. como um. substnn.
.;" tiyp' concreto q~e indjcass~ .uma entidade ~u a'gência concreta (distingUJ'vcl.
'. ,'de,.u~a.'facção)} Es:a abertura s6 ocorreu com Burke, quase meio século
":' depOis de Mont~squleu,' E, para nos,darmos,conla da distância que lcvede
seri coberto' antes de se chegar a 'Burke, devemos começar com Bolingbroke,
:' o' contemporâneo dc Montesquieu,Aue.'foi na vcrdade o primeiro autor
. importante que;lao escrever, estendeu.se sobre partidos,.
:' . 'c:A ,posição; de Bolingbroke é a de que "o governo 'pelo partido (,' ,)
",deve 'terminar sempre no governo de uma facção (,'.) O partido é um mal
" políUco. e,'a facção é o pior detodos os partidos",' Poderia parccei que
,llolingbloke s6,Iestabclcce, aqui, uma diferença de grau:' embora a fac.
",ção' scja:pior 'dó que o partido, 'ambos são desgraças da mesma "família,
, Mas ele deixa claro que a diferença é também de espécie, pois os partid~s
dividem um poJo "segundo os principios".'o Assim, de acordo COm Boi.
'.- ingbrcike; há unia diferença real, e 'não .11Ominal, entre os "partidos na:cio.
,'nais,".:dosécuJo:XVIl, que refletiam uma "diforcnça rcal de princípios c
....'desígnios", e as'divis(jes de sua época, na qual,já nã'o havia preocupação
-,caril os "intercssts nacionais'" que passavam a "subordinar.se aos interesses
""-!pe~soais'1I .~ sendo essa .t'a verdadeira característica da facção" ,lI Boling.
ibroke também usou, sem d,úvida, partido e facção indiferentemente, COmO
. se fosscm sinônimos. Mas isso está, com freqüênçia, de acordo com se4 ar-
::'gument? .de que,la degeneração dos partidos em facções é inevitável, equan.
.,'do .~s duas coisas se fundem, as duâs palavras tambéin se devem fundic.2
/
.. _._: óDevemo •.Jeconhecer, porém, que a noção que Bolingbroke tinha
, ,'de jarlido é urTi tanto ambivalente, 'dopendendo de se esiar ele rcfcrin:do
'.' aos partidos da ,Grande Rebelill'o. que levou à Constituição de 1688, ou
, ;.a~':~'~arti4odo ~aís" de s,ua época, isto é, o partido que era o seu. Sua po.
. sjç~o ..com" rclaç~o a este último é muito interessante. De um lado) ele se
. '~proxima:muit~1 de sua legitimaçíro, pois afirma que "um partido do pais
',deve ser autonzado pela voz do pais, Deve ser formado 'sobre principias
...do "interesse coitlUm", Por outro lado, Bolingbroke apressa.se a acresten-
"tar:'qu'e. o' partia o do país é "impropriamente chamado de partido: É a
. nação fal~ndo' ~: agindo no' discurso, c na cOl)duta de alguns homens".' 3
.Não obstante, .?, partido do paIs é, mesmo que apenas para emergências,
, .úma necessida"dé, uma necessidade para uma boa causa, Boiingbroke.admi-
'te que há" p-.írtld?s que "precisamos ter";14 inas estes são 'apenas os parti-
: ~os. ou a:c-oaliz~o de partidos, que fazem causa comum contra os inimigos r
, daconstit UiÇãOi~iE_'_e_ssc_o,_c_as_o~d_o_p_a_rt_i_d_O.d__o_p_al_'s_'_q_u_e_d_"_fe_n_d_e_'a_c_o_n_st_i-,_ I
'i '~_.-------------------------------- ---
:1
"
•
28 PARTIDOS E SISTEMAS PAR TIOÁ RIOS
,
. nome de Htendência à -coalizão" e viu, nessa coalescência, "a mais agradá-
vel perspectiva d~ felieidade.futura".l~ Embora admitindo que os partidos
da Grande RebelIão eram upartidos de princípio" J nlio via. a mesma ten~
dência nos ~lpartidos novos" surgidos .subseqüenteniente sob"3 denomina-
çãO de lliitig'e Tory, * pois quanto a eles "estamos desorientados para di-
zer-da natureza, 'das pretensões e dos princípios das diferentes facções" .'0
. A principal contribuiçãO de Hume foi a tipologia que delineou no .
ensaio de 1742, Of Parries in General (Dos Partidos em Geral). O leitor
fica um tanto confuso. nesse c. em outros ensaios, pelo uso indiferente
que faz HUJ!1cde "partido" e "facção"21 I pois ele foi, sem dúvida. menos
cocrente do que Bolingbroke no uso dessas duas palavras. Devemos ter
presente, portanto, que Hume estava fazendo uma "classificação, c.que a
distínçilo enÜe partido e faeçilo, tal como Bolingbroke a'havia estabele-.
cido, era insuficiente para sustentar essa c1assificaçilo. Se o partido também
acaba em facção, pareceu a 1.lume - presumivelmente - que sua tip'ologja
tinha de ser de qualquer e de todos os agrupamentos políticos. Digamos,
então. que Hume estabelece uma tipologia de partidarismo que começa
com uma distinção básica entre (i) grupos pessoais e (ii) grupos reais -
sendo os últlmos as faeÇÕes e/ou os partidos "basoados em alguma diferença
-real de sentimento ou interesse".22 Enquanto, os partidos "raramente se
c,ncentram puros e sem mistura",Hume Qfz.quc uas f<lCÇÕ.C5 pessoRis'l'sãO
.t.fpieas das pequenas repúblicas e, ,em geral, do passado, ao passo que as'
"facções reais" são ..típicas do mUndo moderno. Portanto, a análise de
HOO1e concentra-se nas "facç6es" reais, que estão subdivididas em três
dasses: facções de (i) inleresse, (ii) principio e (iii),afeiçõo.
'_~ No juízo de Hume, as facções de interesse silo "as mais racionais e
as mais desculpáveis", e, embora "freqUentemente n[o apareçam" em ge.
vernas despóticos .. "nem por isso são menos reais. ou antes. são mais reais
'e mais perniciosas por essa mesma raza'o". E Hume continua (observe-se o
uso !le "partido"): "Os partidos de principio, particularmente princípio
especulativo abstrato, s6 são conhecidos nas épocas mqdernas.e talvez se-
jain o fenômeno mais extraordinário e inexplicável já surgido'nas questões
humanas". Esse novo fenômeno é muito menos justificável. Mas Hume esta-
belece neste ponto. embora comO ilustração. uma distinção crucial entre
princípios "políticos" 'e "religiosos"'. Estes últimos são a meta real de
Hume: "Nos.tempos m'odernos, os partidos religiosos são mais furiosos e
irados do que as mais .cruéis facçOes jamais surgidas a partir do interesse
e da ambiçã'o". Os primeiros, os partidos de princípio político, recehem
um tratamento diferente: "Onde princípios diferentes geraram uma ~on-
trariedade de comportamento, como é O caso de todos os diferentes princí-.., ..
• De modo gerul; Liberal e Conservador, rcspcctivilmente,(N. do T.)
t
I,..
"
'- .
!
O PAI/TIDO COMO PÁRTl! 29
pios pOI'(~iCoi, a questilo pode ser .explicada ~ais facilmeJ~':.>3 E 'éssé::
. ,entendimcntP diferente c inais tranqü.ilo rê~u1ta, bem claramellte,.d"o erts'a"io.
que se segue, Of Parties in Grcar Brita!n (Dos Partidos na GrãJSrcranhd) ..
NQ essencial, Hurnc aceitou os partidos como UJT'laconseqüência de~
sagradávcl;' mas difieilmente como urna .eondição, do govcrnb livre. E há,
sem dúvida, \Im mundo de. diferenças entre considerar-se os ~artid6s como.
de fato inevitáveis" e a visão burkeiana "de. que os partidos siro ao mesmo
. tempo' 'respeitáveis e um instrumen'to do governo livre. Não obstante;:
aume forneceu parte do matcrial com que Burke constrúiria 'suu argumen- ..
tação_ A Íipologiade Hume não s6 permitiu um entendimento mais anal í-.
tico do ~SSUl\to como também proporcionou - como faz qualq\wr. clas-.
sificação, péla sua própria natureza - ~lem~ntos'estáveis que servem de
furidamento .a-novos raciocínios. Como"autor político, Hume nãofpi pro.
fético,. de modo algum. Sua c1âsse de "facções de princípio polirico'" está
ainda. muito distante daquilo que chamaremos de partidos ide'016gicos; mas
constitui.uma ponte através da qual o partido será visto e concebido como".
grupo concreto. Os partidos ultrapassam as facÇÕeSporque s~ baseüim não
apenas em interesses. e não apenas em afetos (a uafeição" d~Hume) , rnâs
também, e principalmente, em princípiqs comuns. Isso é Burke. Mas Hume
abriu o .caminho, mostrando que as facções bâseadas em prlncípi,?s eram
uma ,n~va 7.n,tjdád~ n~ cen~ polí~i~a e que os princípios POljítiCOS ?~vi,à~.
scr dlSl1Jlguldos dos ptlncíp'os religIOSOS," . '.'
. A definição de Burke, muito citada' embora pouco compreendida, é: .
"O partido é um grupo de homens unidos paia a promoçilo. relo seU osfor-
ço conjunto, do interesse nacional com base em algum pripcípi? -com o .
qual todos _concordam". Os fins ex.igem meios, e os paTtldo~' s~o -o uU,leio.
. adequado" que permite a esses homens "levar séus planos. eomuns à prá,
tica com todo o podere autoridade do Estado",>" EVidentémente, o par-
tid~ de 'Búrke não é apena, um mei6 respeitável: é um parf(do com todas
as diferenças que um partido tem' de uma parte, isto é, uma agél)cia con,
creta, algo tão real como as facções. Ao mesmo tempo, facções e.partidos
já não podem scr confundidos: tornaram-se diferentes poridefi,iiçãO. Se,
gundo as .proprias palavras de' Burke, "essa geuer~sa luta pelo poder [do'
partido) (. _.) será facilmente distinta da luta mesqUinhaj' e inleressadil
por cargos e emolumentos" - sendo esta úJtima uma excelente 9cfiniç~Ç1
dos propósitos das facções." O argumento já nilo é o de que o partido ,ter-
mina sempre na facção: rnru(o'de que, nesse caso, o partidQ ryão é u~ pa.rti'.
do. Quaúdo 13u!!'~_.9~r di~.':J.'!£Ç!~e.!~ ..djZ.~9.;.B;t.'!.!'rdo_~er dizer
E'rtido,_<!iz partj~9... .., '.. .,".
As últimas frages não são ocasionais. Burke tr.tou detalhadameute
da guest~,!"Tinha um alvo be~ definido: ~!'()!!'.E~i ~d_ó'Til; g o~h~rnert~.
do rei argumentavam que o _.l'.ar~~~~..Aey~!!!,~~e.r:.tota]rg~l)l",. eJ!.-Il1!!!~~2,
. i:õíi1tõ'dõsos'mãiéSêjúe ca.;t.sa~:.Çls '[ho~hrs (Pel2St1ll1cnroi)g~~;t.rke.~~----_.- ..-_ ... :---_. , .
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30 PARTIOOS E SISTEMAS 'pARrlDARIOS
.' '.' :l . ,', :. .. '.' .. 'i . '. '. . .' ..
iJlila:reflltaçlTo inetlculosa dosso argumen.\o•.que.Odenuncia como elabora.
,.'lIo por '~uma facÇll'oque governa:pela inclbiaçlfO particular de uma cOr.
, IO'!.28'Os. homens do rol estavem ..propagando a doutrina de que "lo.das
. as IIgilçOospOlltfcaa slfo. pela sua própri8' natureza/facciosas". Burko obser.
:'VO\lque' era ess,a a receita propagada' em tOdas as c!pOCllSpelos. q~e ser.
.. 'vIam l\ .fins '.'inconstltuclonals''; .pois é somenle "numa IIgaç«o.'. ISto é.
.:.quandose ligamlentre si, que oshumens'."podem fácll e ropidahlcnte dor
:.o.'alarmc em relaçifo a desígnios' maléficos". Ligaçáo era, no verdade. a
'. 'plllavru,cii'ave de Burke, "As ligações em política .•••arguinelltou ele,:s;;o'
."essenclalmente,necessárias 00 pleno desempenho de nosso dever público".
:Elnbora essas ligações sejam. "acidentalmcnte pRSSiveisde degenerarem em
.facÇlTo';•.ainda a~slm "os melhores'patriotas na maior comunidade sempre
e'logiara'm e promoveram tais' ligações" ,19 Os homens, admitia 'ele', ,','que.
'pensam .Iivremc,,"tepensar[o. em' certos casos. de maneira diferente". Mas
:;ss,; não é u.m a~gumento para se .Iunçar "um ódio contra as Iigações'poll.
."tírias", .pois; se O: homem quO se'ocupa das coisas públicas "nuo concordar
;com esses .prInclplOs gerais em .que se, baseia o partido (, .. ),.deveria;desde
.0. Inicio, ier escolhido alguma outra ocupação,:." E Burk~ conclui: "Pa.
:.rece.ine iotalmehte -incompreensível que os homens possam passar sem
_o •• gu-:iiQuerli-gação:.io . -. .
. . .(;\)1110lá ~" arg~men.\ou.de maneira convince~te, o govern.ode pardo
"do na Grã..Bretanha rião foi cria.d.'?pelos granges. par.\idos do séculq.;l(YU,
-:ral~gõ~c'rno.'Ercs~,,~!!a a dJssoluçã'?..90S gr~ndes partidos ~foi. na reaH.
'.dade; criadQ..Pi'lgsp~q1!~fl5's.pa!!ido~ _~9_séqlJloXVIlI" Bolll"gbroke ,den.
.-tifico~-algo de dislintlvo (em relaçã'o li facção) nos grandes partidos. Mas
'0 problema ora focalizar esse algo de distintivo do "partido" nos pequenos
.par,tielos.que Y?_;~~.V~I!'•.f().rma.I\a.~~n!ll!!!"d()~ÇOfll!!!'S.d.9..~éç.!'I,?_XVIItE.
.'. foi essa a abertura de Burke..As CJrcunstanclas não foram. de forma.algu.
. 'ma; irrelevantes' para essa' realização, A vantagem de Burke foi.escrever
.quásê.que 'úmsóeulo depois dos:arios de 1688.1689. isto é. quando à crise
.'reHgiosa.e a crise constitucional haviam sido totalmente resolvidas,. BoI.
Angbrokee ..Hume ainda tifJhain de argumentar em favor de um consenso
:quanto aos aspectos fundamentais; e com isso eram antipartido em prir~.
:ciP!o e ániifac.ça;?om cssên.Cia,'Naépoca de Burke, porém, era bastanle .•v~.
":denle.que'os.grandes parlldos que. lutavam a favor ou contra a constitUI'
.. çãohaviam. desaparecido e que 'as facções do longo reinado de Jorgc III
' ..:'.a'pe.QáslutáVanipelos d~spOjosdo gOVerno..Bolirigbroke ~Hume viram que
':'a ameaça anticoilstituclOnal vinha' da fórmula dIVIde el Impera, de. os 110'
"'melis do' rei se aproveitarem de um Parlamento assolado por facçoes, de:
::sunido c, com isso. Impotente. Burke compreendeu - e nissofoi genial -
.:que, como o Parlamento' n;!o podi"..ser monol ítico, estaria em muito me.
': Ihor. posição de 'resistir li COroase seus membros estivessem ligados, isto
. é, organl~ados e~l "ligações honrosas" .
:<' .
I'
I,
o PARTIDO COMO PARTE 31
. Em essência, portanto, com Burke o eixo da argumentação deu uma
.volta. Ilolingbroke.juslificara o ."partido" apenas como a oposição (quan.
do necessária) do país ao soberano inconstitucional. Burkc, em lugar disso,
coiocou o "partido" dentro do- âmbito do governo. rcconcebendo-o como
uma "divisão que já não se fazia entre súdito.s e' soberano, mus entre sobe-
ranqs.32 Havia,. ein sua época, um conse"nso sobre a constituição, mas pou-
cO entendimento e COnsenso ainda menor quanto ã maneira pela qual o .
governoconsti\ucional devia ser conduzido, e pqr quem. Burkc propôs que
isso poderia c~ber aos partidos. desde. que se tornassenl partidos. Burke
propunha -'- pois concebeu o "partido" antes que .este viesse.8 .oxistir e •
na. verdade, lançou a. idéia que ajudou os partidos a superarem as facç6es,
com o correr do tempo.33 Muitas décadas, porém, haveriam de transcor-
rer antes que sua visão.fossc perfeitamente comprecndida.
Não se passara muilo tempo desde li abertura intelectual de Burke.
e o continente'europeu,foi varrido pela Revoluçáo'Francesa. Os girondi.
nos, jacobinos c outros grupos políticos que, na realidade.l movimentaram-
os acontecimentos do 1789.1794 bem poderiam tcr usado Burke para legi.
timar süas ligações e .seus _princípios, isto é, sua existência. Não o fiuram .
Quase todos os pontos de vista politicos foram apresentados durante o
vórtice daqueles memonlveis cinco anos. Sob um aspecto apenas o, revolu.
cionários franceses dão mostras de um mesmo ânimo e falam com a mes-
ma vo.z: foram unânimes e persistentes em sua condenaçúo dos partidos.
Em todas as sua~ batalhas ycroais, c finalmente mortaisl a acusação reei_o
proCo'mais séria era a de clze! de parfi. chefe de partido, o que equivalia
a dizer chefe de uma facçáo."
. Cond9.Lcet, ao aconsel1~~L.os..gi.':9~dino~,so~e. ~eu pn)jçio const.~.
tucional, a~J1~nto,,-.- cont!a os part!~()s in&!:'Scs-:~~J!~~~~J1~~.
~~5í.çSJl~im£!~iais da república franccsa éE~ ter nenhum", Dauton de•
clarou: u~c nos fôssemo~.:~~~e~E~mut!lamente) a~~!I.!~~osJormando
partidos.L£iO' pas~c:._<I.ue..necc~~~~~9!._deal?~~_~~.,_.~.~~..!..~zão'i.~obes~
p~~re afirm()u ser o "i'linte!!,sse.-p~.'_s()âl::__'lu~_£':.~~.!:'..'J1..!_p!uralidade~
l,"rtido~~~'cm .!o~_~a part.e.oo_~~.~çjo-"!!!.~.!9!~,!!:t!!'!&~_,,-~~!!e~.e.
.11.t~g~lavelis,!,.o.!.~j..r.çconheço uina facção;.!, a_natureza de todas a~Jacções
é sacrificar o in teresse geral". Saint.J usl foi ainda maL, drástico: "Todo
partido é cririÜnm.Q.,(... ) TÕ~~l;icÇão é p£.rtanto crt~_no~0::T:rii"iJa .r~~:_
ção procura enfraquecera soberania do povo". E ainda mais concisament~
,riSSe:""AõOíViCiíf'uiTi póvõ •.as facÇ1icssúlisHiüêma .llberàãilcpcIlil'íiria-do
pãTTIQarismo."3'!'-"'-'--:--~ . _.-._........ .-
Três razões são apresentada, geralmente para explicar esse coro unâ.
nime: .primeir? 9uev()I.,!~iol1~r!~,. ~e 1789 est~yil.'!l.~~º- o fàscíllÍQ..ill1
Rousseau; s~do, seu deus..!EI!.LaBq.~~n,n Razão; terc~jro,cstava!!!.l~
buídos d.euma Jilosofia individualista, se nll:ototalmente atomistª 36Todas
.es'SãSfãZÕe, sITobastante válidas. mas não dêvemo, e~quece;-u~~'premissa
'.'---:--.-' -_.'_. '_':"-.-~---------.-. -----. .._---------_ ...._-_._--_._------._---_._--_._------- - -.--- ---
3J
. 32 PARTIDÓS E SISTEMAS PARTlDARIOS
real importante: a dura realidade e a virulência do facclosismo. AB facções
foram também condenadas por pressupostos tdtalmente diferentes. Os re-
.volucioná'rios franceses declaravam-se '~patriotas". Para eles, partidos e
facções eram O m<jsmo que para Halifax, o Oportunista, um século antes,
uma "conspiraçáo contra a naçáo". E talvez a principalliçáo a ser apren.
dida desse salto de volta ao .estado de espírito inglês do século anterior
é a de que os partidos pressupõem ..2. pela -sua aceitaçã''o e seu funcionamen-
to adéq"uado - a paz sob um governo constitucional, e não uma guerra
interna que investe, entre outras coisas, contra o próprio estabelecimento
de uma constituiçao. .
~.nã~.i~_~ulPreend~~,.~~-9S re_Y9!~.£i9r.i~i~s~~aI!-cesesnãoP1!~.~:-
l'J1.ma~illi.-.!i!!_£.Q_!!!RleeIlder Burke, E.0de.!!~.!!!osesperar ,Si".e !~I n~o_~~~'.:
__t,,-~~~£,?.P.l. os Foundi!]gJ:,q.!.hel's dosBstªdosJ}l}iiJgs. !\'las, em UE-l.1ªª,_,
Madjson ainda faJavaJnuito ~~~facç_9~~HI e_IT!~~q~l}g_i~!!!i~q_~~~s~ico,.~~-
preciativo, Q~J~al_f:l_\.'t~,._~mbQ.nLnu!!.1S..Qn~~~Jo_~i~e}e,~~,1?~ "?a}s amplo. 0,u~
definição era a seguinte:, -
Por -uma facção, entendo um certo número de cidadãos, quer sejam limá maioIia ou
uma minoria do todo,' unidos e ativados por um impulso comum de paixão, ou de
interesse. adverso nos direitos de outros cidlldilos ou aos interesses permanentes c
globais :da .comuni~ade_
E pretendia que a União ajudaria a Udominar e controlar a violência
da facção", que havia sido, e continuava sendo J o "vício perigosC?" dos go-
vérnos populares.37 A novidade está em ser o problema visto constitucio-
nalmente e no contexto de como uma grande "república" está melhor ade-
quada a controlar os efeitos - e nao remover as causas dasfocções, _ºJL~
Burke deixou às intenções nobres, Madison enfrentou em termos de enge-
nharia Constitucional. Quanto ao resiõ~- riro-h'\ d,'lVidas de que Madisonu,oü- o -termo tacÇã-o num sentido negativo e que facção e partido eram
ainda considerados como equivalentes, ou quase.38
Madíson não foi o único a condenar b que Burke havia louvado. No
discurso de 'despedida de Washington, de 1796 - baseado num rascuMo de
Hamilton - lê-se:
A liberdade (... ) pouco mais é na reulidade do que um nome, quando o governo é
demasiado fraco para suportar as inicia tivas da facção (... ) Permilam-mc ( ... ) uma ad-
vertência solene' sobre os efeitos prejudiciais do espírito de partido (. .. ) Há uma
opinião de que os partidos nos países livres são controles úteis (. .. ) e servem pura
manter vivo o espírito da liberdade. (".) Isso é provavelmente verdade, dentro de
certos limites l. .. ) Mas em governos puramente eletivos é um espírito que não deve
ser estimulado.39 . . .
o texto está realmente muito distante dos escritos dos revolucioná-
rios' franceses, mas está igualmente longe de Burke. As facções con.tl..nu.am
iguais .ao Uespúito do paitido", e, onde- Washington admite -que os parti~
o PARTIDO COMO PARTE::
. II
dos poderiam manter vivo o espírito da liberdade, pouco mais está admi ..
tindo do que Hume.4o Isso porque a ênfase de Washington recai cl~ralllen.
te na advert,ência contra o espírito do partido .
O caso de Jefferson é ainda mais interessante. Se a moderna idéIa do
partido foi primeiro identificada por Burke, o primeiro'partido moderno'
tornou-se realidade, ainda que para desintegrar-se pouco depois, nos Esta-
dos Unidos sob a liderança de Jefferson. Ele organizou "ligações", ~ levou
o programa do Partido. Republicano à vitória com seu apelo ao país eomo
um todo, passando por cima dos federalistas. Ainda assim seria um erro
sUI'0r que, com o partido de Jefferson, a mensagem de Burke havia, final'
mente, lançado raízes. Por mais paradoxal que pareça;.Jefferson conceb~ú
seu partido mais ~u menos como Bolingbroke concebia o partido do 'paÍs~'
como um partido que deveria pôr fim à legitimidade do partidarismo;
ou pelo menos enfraquecê.la, quando os "princípios republicanos" houves'
sem sido postos.em ação e estivessem perfeitamente consolidados."
Enquai1to isso, as idéias e os acontecimentos 11[0 se movimentavam
mais depres;ia, e sim mais devagu.fl no continente europeu. Foram' neces:,_
sários mais de 30 anos para que se fechassem as feridas da Revoluçrro Fran.
ceS-ll. O "espírito do partido" de Washington foi, no mesmo ano- do seu
discurso, objeto de uma denúncia apaixonada de Madame de StaiH." Sóem 1815 o grande pensador constitucional 'francês -Benjamin Constilnt
reconheceu a impossibilidade de Hesp.ccar excluir as facções de un'la orga-
nização política onde as vantagens da liberdade costumam ser p'resclVa~
das". Mas acrescentou imediatamente: HDevemos portanto empenhar-nos
em tornar as fatções o mais inofensivas possível!'''!3 Constant estava ape-
nas se atualizando com Madison. E mesmo essas palavras eram deI:nasiado
avançadas para a Restauraçáo, que deveria durar até 1830, Burke é, evi.
dentemente, o ponto crucial na história intelectual. Mas o rumo dos acon.
tecimentos é outra questáo. Somente cerca de 50 anos depois de seu Dis'
COlme é que os partidos, tais como ele os havia definido, suplantaram as
facções e começaram a existir no mundo de língua inglesa.
1.2 Pluralismo
Quando Burke chegou a ver que os partidos tinham um uso positivo e ne-
cessário, nrro havia nenhuma teoria pari:! apoia.r sua opinião. Mas o terreno
havia sido. preparado. A transiçITO da facção ao partido baseia-se num pro-
cesso paralelo: a trnnsiçno ainda mais lenta, mais enganosa e mais tortuosa,
da into!crância pura a tolerância, desta para a disscnsITo, e da dissensão .
pafll a crença na divcrsidade.44 Os partidos 'não se tornaram respeitáveis
porque Burkc assim tenha declarado. Chegnram '3 ser aceitos - subcons- .
cientemente, e mesmo assim com uma formidável relutância - mediante
3. compreensão de que a .diversídade e ã'"disscnsão não são necessariamente
---------- --"- - "--...<.-_--
'J4 "PARlos E SISTEMAS PA8TIDARIOS
'. ineOmpatiVeijl com a orden) politica; nem. necessariamente a '~ertu'rbam.
Nesse .seiltidd~ ideal, os partidos sãO correlatos com a Weltanscl1auwrg do
JiberaÚslllo,,~~ dela dependem. São inconcebíveis na visão que Hobbes ou
,;. ,Spinoza tinhab" da política, e nãO sfio admitidos na cidade de Rousseau.'s
Só"se 'tornam 'concebíveis, e fotam concebidos na prática. quando o Ilhor.
ror da desunião" é substituído pela crença de que um mundo moriocromá.
Úco 'nITo~ n ".tmica ouse possíver.'da forinaç:fo política. E isso equivale u
'. urzer' que, id~almente) os parti~os.e o pl)Jralisry1o se originam d~.mesmo
,'sistema de crenças e do Illes,moato de fé. ,
Surge iAlediatamcnte. à qu~stãode o que entenden.JOs p~r plura-
.Íjsi]\o.: Van'lO$~primeiro, fnzer'u',1,l~ pn~sa_paro observar que q' p]ur~ljsmo.
paúidário foi' precedido pcio. plüi.aJismo constitucional e que este último
nffo)ibriú o qàminho para o primeiro. O constitucionalismo havia Jo'uvado
, ,e bu'scado - :aesde Arist6teles ~,o governo misto, não o governo partidá-'
rio. Eni'partiCular, o' pluralismo constitucional - a ,divisão do podere a
':iiáuttina dp ~ontrole e do equÍlíbrio de:,poderes - anteeedeu de muito
0:plüraliSli10'!partidário e foi 'construído'sém ,os partidos e contra eles.
• COIl:Úitu"ciol1r1lmenle falando:,:um corpo' político não s6 podia C01~lO, devia
: ser scparuuo em' partes; maS a "annlog~D, .ou o' princl'pio. na"o.f~ilc~ado
àqllcl~s partc.s que eram "'partid?s'.,' ,46 A :.teoria do governo con~t.lt~clonal
não teve acolhicla de Locke' a Coke, de Blackstone a MontcsqUleu, do
Federalist fi Constant, e certame,'nte não lhes era necessária. Qu~ndo os
juristaS constitucionalistas c?nleça:am a s~ocupl~rda teoria co.n~lituciO-
nàl, os 'Partidos foram mantidos, ",nda malS, no hmbo: s6 adqumram de-
, finiç1fo legal depois da Segunda Guerra Mundial, e mesmo assim em pou-
cas çonstituiçôes.47 :. .' ". . ,
, , Possivelmente a dificuldade' de estender aos partidos a We/lul7scilllll-
lI~gdo consdtucionaJismo'}ibernl foi dupla. Prhl)~!.qLQ~J!.l!~t!d<?s.~lão cfju,!!
'partidos ~ ~in).fuçç~çs,liliJ_ ~~p~Ij,cscontra o todo, ~ nã~.p~qesd~ todo.
A' segunda dificuldadç [oi, o..postulado acentuadamente mdlVlduaJista do I
'-Iluminismo. ,TalmoIl nos lenlbra que.uaquilo que é hoje consider;tdo como
concomitanle essencial da demoeracia, ou seja, a diversidade de opiniões
e interesses, :estava longe de ser considerado essencial pelos pais da de-
, moeraci. do' século XVlll, 'cujos postulados originais eram a unidade e a
.. unanhnidade". 48 Não é de surpr.cender que isso acontecess.c co.m- os .lHtis
,da 'democraCia do sé'eulo XVl1l, que tinham ,como referência a democracia
'riritiga: .:.....e qlIa n democfilcia libero] - c mais os espartanos e ás romanoS
'"do que,os atimiense,.'9 O que é menos 6bvio é por que o mesm,:seapliea
, . ilOS pensadores liberais dos séculos XVII 'e XVlll. Uma exp!Jcaçao Impor. ,
; tante está no seu individualismo extremo, que alendeu à neceSSidade <1e
-'libertar sua 'época dos laços medievtiis, de unia estrutura de corporação
','fechada e imóvel. so I
, 'Evidelllemente a relação entre o pluralismo e os partidosé sutii e.
o PARTIDO COMO PARTE 35
com freqüência, 'cnganqsR. O pluralismo é uma hinterJândia, um clemento
de bac:kground, e sua ligação com o pluralismo partidário dificilmente será
direta. Não obstante, o pluralismo partidário foi, com toda a certe7.a. uma
exportação dos paises nos quais o pluralismo foi implantado em primeiro
lugar - mais os países prolestante, do que os da Contra.Reforma. E é
bastante claro que o pluralismo partidário não teve um bom desempenho,
nem prolong!1do -"Com pouquíssimos exceçOes - além da área impregnada
por uma Hleltallscllauung pluralista.sl Não é coisa simples operar um sis-
tema político no qual nuútos partidos nlfo venham a desorganizar Uma
formaçrro politiea. Esta dificuldade foi sempre subestimada pelos esludio-
50S ocidentais, como também pelos elaboradores de políticas que queriam
exportar a democracia. E, portanto, essencial que tal dificuldade seja com-
preendida à luz de seu substrato ..
Permanece a indagaçrro: o que entendemos por pluralismo? A palavra
é. sem dúvida, uma abreviatura pnru uma grande riqueza de con"ot<lçl5es.
riqueza que se transformou num pântano desde que. adotamos n opinião
de que "todas as sociedades em grande escala sao, inevitavelmente, pluralis-
tas em certo grnul).52 De nc.orçlo com essa generalizaç[o, o pluralismo
nasce de c, em grande parte. coincide com a divislfo do' trabalho e a dife-
,r"enciaçn:o estrutural, que são, por sua vez, as conlpanhciras inevitáveis da
moderlúzoção. O argumentÇl tonla-se assim qunse tautológico, suo conclu-
são é verdadeira por definiç[o,SJ e o ':pluralismo" é facilmente estendido
a cenários africanos e, na verdade, "à maior p:u"te do mundo. s4 Na minha
opini~o"estc é um exemplo típico de aplieaçao forçada e imperfeita de um
conceit0,. Se nos agrada, podemos amontoar o pluralismo ocidental moder.
no, o sistema de status hierárquico medieval. o sistema hindu de castas e
uma [ragmentaçfio tribal do tipo afrieano, c chamar ludo isso de plurali-
dade, ou de uma sociedade plural. Mas nao confundamos esse bazar com
~~ rnUs.mo "~_CÇl!!1..,.Q.g1.!~~~~~~il~.tElta.fl..!!Q,.~j~~_~~l.Q.Q~~.ªR,Çl£cfãdcs
ocidentais sãO chamadas de plurnlistas.
A expressão "p)üi'âl1s,iiõ""põae ser conceituada em três niveis: (i)
cultural, (ii) societal e (iii) político. No primeiro nive! podemos falar de
uma cl/lr ••ra p/lIra/isla na mesma latitude de significado que ~s noçOes
paralelas da cuitura secolarizada e de cultura homogênea. Uma cultura plu-
,ra~ista .!l!<?~tr.íL}~!lla.vj~.i!.q".90_.muqgQ bas~ea~ªl,CTO,ç~~nçjª~ JlQ ,çÇ!!.wiç窺
~_n'2~_~"~!r.~~ençal_~"~lg~.3. ~~"!:!:~clhat:!Ç.!1-L.~"9Escnsãqt nrrº-~a_,\l~mll]J~lü4~g~)"~
,mu~anJ:a_~._,n_~'?.~_.it!,_u!~.bilid?_<!~...!evanLa .!'.!!lQ,yiQ,a !TIc!1)PI. Pode-se dizer
. que isso é um pluralismo filosórico, oli a teoria [i]osórica do pluralismo,
em sua diferença da realidade do pluralismo.55 Mesmo' assi,n, deve-se en-
tender que, quando os fUósofos se ocuparam dos assuntos do mundo prá.
-tico - como o fizcrnm em sua teorizaçrro política -, estavíUll ao meSnlO
',empo interpretando e dando forma ao curso do mundo relll. Assim, o
que tem, origem comO a teoria ~o pluralismo rcnctc~sc posteriormente,
:
•
36 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDARIDS
ainda que apenasem parte e imperfeitamente, na realidade do pluralismo.
Eu diria, então, que, mesm,o quando chegarmos a usar 6 pluralismo como
termo descritivo (e nno normativo), nno podemos ignorar o falo de que ele
indica estruturas soeietais e' políticas que nascem de uma Qrientaçno de
valor, de uma crença em valores.'. O plurnlismo, tal como agora petI1;eia
as sociedades ocidentais, deixaria .de existir se deixássemos de acreditar
em seu '1aJor.
Com relaçno ao segundç nível, o pluralismo socielal deve ser distin-
guido da diferenciação socielal. Ambos são estruturas societais ou, mais
exatamente, princípios estruturais que resumem configuraçOcs sócio""s-
t<uturais. Mas, do fato de que toda sociedade complexa se revela "dife.
reneiada", não se segue de modo algum que todas as sociedades sejam.
diferenciaúas uplu'r~Hsticamcnte". Como cu disse antes, um~ sociedade
plural nffo é uma sociedade pluralista, pois esta última é apenas um dos
muitos tipos possíveis de diferenciação socielal. .'
. Com relaçno ao..terceiro' nível, pode-se dizer que o pluralismo poh-
fico indica uma udiversificaçS'o do poder" C, mais precisamente, fi existên.
cia de uina "pluralidade de grupos qu.e são ao mesmo tempo independentesc não-inclusivos".51 Já fiz mençilo a como esse pluralismo se estende às
partes que são partidos. Mas há vários pontos ad hoc que merecem, agora,
um desenvolvimento.
O 'primeiro reladona-se com a situaçno do ponto de vista pluralista
em reloção ao consenso e ao conflito. Entediados com demasiado consenso
e alite tanto conflito, estamos atualmente ressaltando que a base da de-
mocraCia na'o ~ o consenso, mas na verdade o conflito.58 )~~(L!J1JL~!!fP-r.ç-_
ende como um uso descuidado de tennil1ol~gi.a,.q~.e_£o.IQ"~ ª.bas~pJ!!!Jili~
"iã'iiãs-deniõcracj'âs liberais '~'lll.~I~!!ne;,.t~.l'l!a .~e (aço: Pois a palavra que
'mell,õfi,ãilsiUitCil visão pluralista é dissellsão. Lorde Balfour fez uso 'da
linguagem moderada dos britânicos ao escrever que, na Inglaterra, "a má-
quina política pressupõe um povo tão fundamentalmente unânim~ .que
aqueles que dele fazem parte podem, com toda a segurança, penmtlr-se .
alterca,," Mas estamos Indo demasiado longe na direçllo do exagero, quan-
do afirmamos que Íl democracia postula o confiito. Foi o conflito que
levou Hobbes a ansiar pela paz sob o governo .despótieo de se~ LeviaU, e
foi também o que fez Bolingbroke e Hume e Madison e Washl~,gton bus.
carem uma ucoaHzlto de partidos ", Sempre que o conflito SignifIca o que
de fato significa, os partidos perdem em reputaçll"o. RessaHej1)Qs, p()r.tanto.,
.q\!~ Q.gue é ~_~ltCllIp-ara a lI'elIQI!Sd.i!!.'!!'!./1[ pl~r!!!ig!!.-,)JiQ_'Lo.c.'?~s~nsq nem
o conflito, mas a dissensão e o.louV.2.L£!!.Ais~En~rr(J,_CaroctellstlCall1el!te
:: 'oqüCé müftõ-iCvõladoC=- a dissensno nllO foi nunca compreendIda
como o oposto do consenso. A dissensão tem tanto do consenso como do
connito sem coincidir com nenhum deles.s9
O 'consenso bem pode estar relncici'n~do co;m o connito',lllflS somente.
~-
i•
1
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l'
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.' .
.. ". O PARTIDO COMO ~ART{" . 37
cm diferentes níveis de convicções c 'comportamento. As dJ.llnçOés:'impor:
tantes, no çaso, fazem-se entre (i) nível comu,iitário e n(ve!goveninmental
(liolítieú,) c/ou entre (li) questões [ondamenla;s e quesiões;iJe moinento'; .
Mcsmo havendo consenso .em nlvel comunitário e sobre questões funda-
mentais -'. e em particular sobre as 'regras. para a sóluçDo de conflitos ~.
.é possível o conflito quanto a pol(ticus. {5'sb porq4c o cOlhcnso 'quanto
aos pontos fundamcntais proporcinna li autoeontençllo qllé torna o con;
Oito algo'.mel/os do que tlm cOII/lilo, Como ititcrminavelnicnto, embora'
quasc' seinpre .demasindo tardc, redescobrimos sempre que' enfreniamos
uma realidade em quc as balàS se cruzOm 'de um lado a OIltro. O conl1i,
to quanto os questões fundamentais ngo é uma base posstvel pãl:a a de~'..
l)'locrllcia nem, na realidade, para 'lunlqu~r formaçíIo política:; esse conflito,'
isto é, o conflito real, demanda uma guerra interna c n seceSsão como' sua"
única soiuçll"o."'. '11" . . '.'
o Por outro Indo, OconSenSo uno devç Ser concebido con"w ..uni parente. " ~'.
próximo da unnnimidade. A difcrençá pode ser descrita da seguinte mnád,,:,
ra: o consenso ~ lima ~\unanimidadcpluralista".. Na'o consiste de uma vi'sll'o
única postv.lada pela interpretaçãO nlonocromática do mundpJ antes evoca: .
um processo interminável de ajuste de muitos espíritos (e intcressês) dis:
cordantes em sempre transformadas "eoaliz(les" flex{veis !'c!e persuasão' ..
recíproea.61 Isso equivale a dizer também. que, enquanto o 1~'.dissel1Soé.o.
cstado entrópico de natureza socielal, O consenso nno existe natutlilmentê; . "
mus deve ser produzido".61 E a importância do consenso ~~ assim.cUB-. ,
ecbido - para nosso mundo atual é comprovada pelo fato de provavelmen:
te mio .li.cr 'coincidência que os sistemas p'arlidários do Ocidente n~otenham
tido nenhum papel na criação do Eslado.nação, só se tomalido operativos
quando a crise de legitimidade ~ isto é,'a aceitação do gov~mo constitu- .
cional - fOi resolvida.6' Talvez a estruturi, política deva existir. primeiro, .
truvez a unificaçno tenha de antecedcr a "divisão", a "pnrtiçll"O" pelo paro.
tido, e talvez seja essa condiçao que faço dos. partidos uma subdiviSllo'com'
pallvcl com a unidade, c nno umB divisão que Bdesorganiza:'lsso éconfir-_
mado pela experiência da mnioria das sociedades em desenvolvimento
empenhadas na criaç[o de uma identidade e de uma integração nacionais,
que. recorreram sem dCIl"'IOraao partido un,ico ou ao governo. militnt', c,
em afnhos os casos, à proibiçrro da dissenstro organizada, isto ~,'da 0Jlosiç:Io~
Um segundo ponto refere-se 11maneira 'péla. qual o pluralismo polí-
tico rclaeiona-sc com a regra* da maioria ..,., que nno é igual ao prillc(pio
•. ';'fil COJIIo:raróadiante (p. 39) um jogofonéU"'; com resPOllfiL C re"';()IIii;'e ,
gOI'c1'I/melH (governo rcspons:ívcl c so\'Crn~~st.:n.-~íVCI'o'lI "govcrnot~cspoll'sivo:"). 00_
outar jog;\.:~qui.com a poJisscmía de rli/c.no mesnto teoll1po "ccgra".I('cccul:lI'llenIO".;
••prcct.:ilo ....•c "govurno"; c de ,,,Ung. "010 de govcrnar" e udoulI'nio"'. 'Assim, "(cgro"
(ru/e) pode. s~rol11cndieta como preceito c""o:mcslno tempo, govc~o;c "doml'nio'"
lrullng). como o .10 de dominar e o de gover~;",' '(N. do T.) 11' ..-r~--.'.~-.'':~--' .
f . . . '.
_._-_._--------,-------
; 11 ....- ,I, .
38 PAR.TlDOS E'SISTEMAS PARTIDARIOS
'.da:maiOria. Se .Jegra majoritária é ~nlendida como Madison, To~quevi1le
.' e JollJl Sn;a.rt'Milia enlenderam.- ou seja, como a' ameaça de uma tirania
. '~oa maioria; .de 11i\, governo'ou Hdomínio" da maioria concreta no seJ.1tido
!iter.al e forle' da,le'lpressão ~ então pode,se dizer que o.plural.lsmo é ~~n'
trde.io' â regra majoritária. Isso ngo equivale a dizer que o plurahsmo reJet~e
':0 "'princípip .da lnaioria como um princípiO regulador t isto é. com~ uma
'técnic.a' de tomad~ de decislfo,64 ~ daro que isso JltrO ocorre, Não obstante.
'{j pluralismo conbnua sendo o melhor terreno no qual o princípio ,"?ajod:
tária 'U17);{auo _l{a de que oS..cc;mlponentcs da. maiona devem respe.lta~ os
'direilos da' min'o~,a - pode ser mantido e legitimado." " .
. '.Um lerceiio ponto merece iguaimente atenç[o: O pluralismo. é uma
,coJjseqüên'da e qma superação das guerras e das persegUlçOes rehglosa~ .-
"como 'bem se p6i:1e perceber através.,dos debates que levaram ..ao pf!nclpto
. de "tolerância - ~ não se pode dizer que exista enquanto o remo de D~u~ e
\) r~ino de :CésaV estiverem divrdidos.66, Isso significa. em primeÍfo: lugar,
(que riem '0: bispp nem o príneipe têm qualquer direito sobre as ~m~s d~
":seuS s~ditos. Mds significa também' .que nenhuma pretensão a, dlfelto e
,Jegítima, Com. ql passar do tempo., Q: com a.crcscent.e dif~~en.claç~~. est~~.
'..tur.ál'e especi"li~.ação, chéga-se a uma etapa na qu~ as VIClsSltudes.poht~-..eas'de mi, homem já não colocam em fISCOa sua VIda e seu bem:estar pn-
. 'vado. e a essa altura que a secularização alimenta o pluralismo . .o ponto
substantivo é, ~brtanto, que nenhuma alternação n? ~oder é concebível
. ,como regra vig~hte do jogo até que' o bem-e~t~r publteo esteja separado
do ber1,:'st'ar'ptlvado. Sem unia separaç[o sufICIente das várias .esfe.ra.s.de
. vida '_ religião, 'política, riqueza ~ e uma proteção sufiCIente do llldtVlduo
'eomatal, 'haverá na controvérsia política'algo.demaslado Importante para
; 'que 'às poÚtieo~ abram mão de sell' ,poder conio determinam. as regras de
:.'um sisteni~ partidário competitivo. :,' '." . .'
. . Em quarttl lugar, e voltando.ao.esteJO estr~tural do conceIto, deve-se
'entender c1aro:nJcnte que o pluralismo u[o conSIste Slmplesmel~te de asso-
. eiaçOes' múltipl~s. Estas devem ser, .em prim:eiro lugar, voiulllnnas,.(~ não
"alributivas) e, em segundo, ,u[o exclUSIvas, Isto ~,baseadas em all/laçtJe,
. .IT1ú/lípins',:'- se~do estas o traç'o 'I.nare~nte crucJaI de ',uma estruturaÇllo
,,'pluralista .•' A ~resença 4e um grande nume.ro de gruposldentlflCávelS nno
, 'coínprovà: ,de íhodo algum, a..existência do. pluralismo, mas .penas um
'.:. 'estado' desenvo'lvido de articulaç'~o: e/ou' fragmentaç[o. As. socled~des
:, niu\lig'r~paiS sã~ ':pluralistas': se, e'.ap~n'as':se, os grupos forem assoclatl-
'vos.(e ni(o con~~etudinários OU.:lll~ttlUClonals) e, o que é m81S, só ql1.ando
se. puder eonslatar qUe as assoclaçOe~ se. ~esel1volveram na tu"limen te,
. que nãO sãó "impostas".". Isso ".~CIUl' n'otadamente o chamado .plur~-
. Iismo :afrieano,! que na realldade:.gtra sobre grupos comun~l~ consuetud,-
.nilrios' e .resulra em uma crisializaç~o fragmentada. ExclUI Iguahhente o
sistema de .estr~tificaçãO por casias.69
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o PARTIDO COMO PARTE 39
Pode o "pluralismo" ser 'operacional? Ou; formulando uma pergunta
mais respondfvel e precisa, quais as iJ1dicaçOes de uma estrutura socletal
pllll'alista? Segundo Jauda, o pluralismo pode ser definido, operacional-
mcnte, como tia presença de cortes transversais" (e não, ressa1tc.se, de
pressOes transversais). Trata~se, certnmen1c, de uma operacionalizaçrro
adequada, pois basta para colocar de lado todas as sociedades cuja arH.
cuJação .gira principalmentc .em torno de tribo. raça, casta. religião, e glu-
pos locais fechados c consuetudinários. J'Uld~ observa' também que o mais
importante para esses cortes ou separações" que sejam transversais, dia-
gonais - pois com isso se neutralizam, em lugnr de se reforçarem - quando.
os indiv[duos têm afI1iaçOes múltiplas, ou mesmo fidelidades múltiplas:
Por outro lado, devemos deixar claro que as dcfiniçoes operacionais sfio
mais adequadas ao elemento estrutural do qije ao elemento de convicção
ou de crelIça do pluralismo. Sob esse aspecto, impõe.se a advertência de'
que o contexto de valor do plurnlismo n«o deve ser esquecido c que muitos
pressupostos anteriores (e causais) ficam implicitos no_u{vel operacional
de definiç[o.'"
É certo, portanto, falar em pluralismo partidário. A exprcssn'o tem
na realidade mais profundidade de significado do que lhe atribuímos ge-
ralmente. Tomado por seu valor aparente, O pluralismo partidário indica
simplesmente a existência de mais de um partido; mas a conotaç~o é a de
que os partidos no 'plural sfio o produto do "pluralismo". Mas o fato de que
a legitimação e o funcionamento normal do pluralismo partidário se ba-
seiam na aceitaç~o de pluralismo toul Cal/ri, sem adjetivos, continua sendo
.um fator secundário. Não contribui para explicar, entre .outras coislls~
por que os 'sistemas partidários se desenvolveram de uma detcrminada
maneira, 'nem o papel que o sistema partidário chegou a desempenhar
dentro do sistema político geral.
1.3 Governo,responsável e governo sens(v,el
At~ aqui, demos ~nfase ao curso dl:1s idéias. Na verdade, essas idéias respon ..
deram a acontecimentos no' mundo real,. embora Burkc, qUW1do definiu
o partido, tenha-o feito à frente da história. A partir Ik Bl!r!>~,P,2!£!lh-O_~
fatos ~ss.uroem •. .liderança. CopianfCio Oakeshott, "grandes realizaçoes são
.~ 'levadas a cabo em meio li névoa mental da experiência prátiea"." mo
_q~_t~,!!llJ~nte ocorreu coin a maneira pela qual os partidos ingres~a'ram ....
'.!',~esfera de.governo e nela se torn~fam.operativos. Para que servem os par-
tldns, isto é, quais as suas funçOes, posiÇIfO e peso no sistema polIUeo _
não .foram"questões fixadns .por uma teoria, mas uma decorrência de aeon .
tec~mento~, co.ncorrcntcs.' Por exemplo. ~ expressão ua oposiça-o a Sua
Majestade fOi cunhada apenas em 1821, de uma só vez, e nJ[0 em con-
.. U seqüência de um. complicada c elaborada discussão sobre uma alternação
normal no poder de dois partidos. Mas não foi uma realização sem impor-
---------------_._-_._. __ .~._-------'-_._-
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o PARTIDO COJ~PA:RTE 41 '
cesso de representação como inimigos dele. O repres .•nta~~e de !lur"e não
era _um .delegado atado pelas Instruções de seus eleitores.7' Pe'ta, nleSma' '
razuo, Burke se terla horror~zado com as instruções e a discIplina partidárias.'
, Por outro lado, o parlldo do Burke organizava "ligações" no [' ,to N-' , • ' l' par amen-
. ao orgamzava, n~m era essa a sua mtenção, os mem,bros fora dopar~
lamento. Isso o~orren.a maJS tarde, ~ não foi ~revisto nem ,defendido por
Burke. Na termll1ologla de Tocqllevdle, O parlldo de Ilulke era ainda ,U
partido "aristo~rático11, e mfo .'democrático". A diferenSll é imporÜUlt~~.-'
Como :~cquevllle observou, fom sensibilidade:"~ natural, ,nos países'
del~lOcratlCos, qu~ os membros das 'assembléias se pre04upem .(so;lgell()
I~als com seus eleltores do que com o partido, ao passo ~'ue nas 'aristotra~-'
clas preocupam-se mals com o partido, do :qlle com seus éleitores."7' Cor-'
respo~,dentemente, csta a pergunta que pode ser formuj,ada da seguinte,
mane'ra: como passa,~os do partido arislocrático, fechad~ no grupo, par-,
lamell~a.r, par~ o partIdo eleitoral, voltado para fora do grupo e, em últí.,
l11aanahse, onentado para a democracia? li, ' "
Lev~~~o.se na devida conta a maneira tortuosa e d~sigualpela qúaL
essa tI:anslçtlo ocorreu Ill~toncamente) de. forma lógica ai:scqü~ncía pode'
ser rcco!lst1tuídu COl~\clareza. De O1nneira geral •.p'._go~~r~~ resp~n~á.vel al1•.
~_"'~!_C~'12~,~~~..t_un.lbcm.se torna. a longo' pr~zo, um gov~rn'o-responsáveh':
per,W].Jç,:_?po~~~. c,om 1SS0, UJ.11g2ver~Q ..~!!?ls(Jlel. atento ,à voz'do povo e"
[lo!-<;IJi~nflue~c~~~o, Mas ,essa descrição é demasiaüo 'am~la. Çomoepor
que ocorreram tars fatos é o que devemos ver Com m~iores detalhes e.
isso pode s~r repreSentado como diagrama do Quadro I (e,l'tendendo-seque
as setas mdlcam apenas os pnnclpais~e,tores causais). II '
Quadro I. ir
Do governo responsável ao governo partidário I
G~v.erooresponsável _.- • P'àrÚd6 no parlamento' ""j, (."tentado internamonte) : ' ' , '
Ilrimciro direito de voto ------ ,,"" "" ••• ,~ •• ,I,. Lo •
Governo sensível ~ ". " li'
liGOVCfllO pllrtid6rio .,---~---'--Solidificaçiio partidúriaI
'J SiSlomapartidário I
Dirci.ito de ~olo generalizado ----t Partido de mllssa (orientado extcrnum~nte) ..., ,', li ' " . "
-t--------------"--', ---.-..-jr-~--~------'-",
I
40 PARTIDOS E SISTEMAS PAR TIDA RIOS
t:inda. Grande parte do que se seguiu aconteceu sem ser antes compreen.
dido, e menos ainda desejado intencionahnente.
Ouve.se <Iizer com freqüência que, no século XVIII, oS ingleses co-
meçaram a colocar em prática o governo partidário." Mas "governo parti-
dário" é uma expressão ambígua. Pode ser usada para significar "partido
/la governo", ou seja, que os partidos entram na esfera .do governo como
um de seus elementos componentes de relevo. Isso já é um grande passo
à rrente, pois os partidos podem ser apenas elos entre

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