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FP FILO I 1

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Prévia do material em texto

FILOSOFIA DA 
EDUCAÇÃO 
 
PEDAGOGIA, Licenciatura 
Modalidade a Distância 
Faculdade de Ciências Humanas de Cruzeiro - FACIC 
FACIC 
Mantenedora 
ASSOCIACAO EDUCACIONAL E CULTURAL NOSSA SENHORA 
APARECIDA 
 
Mantida 
Faculdade de Ciências Humanas de Cruzeiro - FACIC 
 
Patrícia Baptistella 
Diretor Geral 
 
Luciene Capucho Rodrigues 
Coordenadora do Curso de Pedagogia, Licenciatura 
 
 
 
 
 Filosofia da educação/Autor. – Cruzeiro/SP, 2013. 
 
 
 
 Impresso por computador (Fotocópia) 
 
 
 
 
1. Filosofia. 2. Educação 
 
 
 CDU 37.015 
ENTRADA 
 
Inscrição - Seleção 
Inserção no AVA 
 
Acesso ao Material 
Didático 
 
Início das Atividades 
Encontro Presencial 
 
Professor da Disciplina 
 
2 horas – Para cada 15 
horas de estudo 
Tutoria Presencial 
 
Plantão de Tutoria 
(Todo sábado das 8:00 às 
17:00 – Por Agendamento) 
Tutoria On-line 
 
Fluxo diário 
 
Tutoria com o Professor 
da Disciplina 
 
Avaliações processuais 
(30%) 
Avaliação Presencial 
(Todo o conteúdo) 
 
(70%) 
Composição da Nota 
 
30% (processual) 
+ 
70% (presencial) 
Nota Final 
≥ 7,0 
APROVADO 
Nota Final 
≤ 6,9 
AVALIAÇÃO 
SUBSTITUTIVA 
(Todo o conteúdo) 
Nota Final 
≥ 7,0 
APROVADO 
Nota Final 
≤ 6,9 
 
REFAZ A DISCIPLINA 
Orientação ao aluno 
FLUXOGRAMA DE ESTUDOS 
 
 
 
AO ALUNO 
 
 
Um estudo que possibilite a formação do educador enquanto 
profissional capaz de interagir técnica, humana e politicamente no 
processo de transformação cultural de seu tempo, respondendo às 
necessidades da Escola e da sociedade com seriedade e 
comprometimento ético, jamais estaria completo sem que 
discorrêssemos sobre a dimensão filosófica da educação. Entre 
outros campos de conhecimento, a filosofia, a sociologia e a história 
oferecem elementos básicos para que possamos não só 
compreender nossa prática educativa, mas também concorrer para 
a sua transformação. Ao analisar o desenvolvimento da educação 
através dos séculos percebemos que a sua jornada não é continua 
e linear, pois é fruto das contradições e problemáticas das 
sociedades em que se origina. Assim não existe modelo de 
educação “mais” ou “menos” evoluído, e sim modelos diferentes de 
acordo com as características, os objetivos e os conflitos daquela 
sociedade em que o modelo educativo se desenvolve. Assim, ao 
analisarmos tais modelos acabamos por desvelar as ideologias 
subjacentes ao sistema educacional e que envolve determinadas 
práticas e doutrinas pedagógicas em cada época, refletindo 
igualmente esse olhar crítico sobre a nossa sociedade e o nosso 
fazer pedagógico, procurando assim lançar sobre a nossa prática 
um olhar que ultrapasse o senso comum e os “achismos” do 
cotidiano. Esse é na verdade, o nosso objetivo ao longo desse 
estudo, e esperamos que nossa contribuição possa auxiliá-lo nesse 
processo.
 
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO 
Carga Horária: 75 horas. 
 
OBJETIVOS 
Desenvolver a análise da Filosofia como produto do esforço humano para conferir 
sentido às coisas e às relações do homem com o mundo e com seus semelhantes. 
Propiciar condições para a compreensão da Filosofia na formação e na prática do 
educador. Perceber as diferentes concepções pedagógicas em sua historicidade, a 
partir da compreensão da relação entre a produção das ideias e o processo de 
produção da existência humana. Buscar o desenvolvimento da capacidade de analisar 
e refletir sobre a prática pedagógica individual e coletiva e sobre a realidade 
educacional local e nacional. 
 
CAPÍTULO I 
FILOSOFIA E EDUCAÇÃO: ELUCIDAÇÕES CONCEITUAIS E ARTICULAÇÕES 
 
CAPÍTULO II 
HISTÓRIA DA FILOSOFIA 
 
CAPÍTULO III 
CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO 
 
CAPÍTULO IV 
TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS E PRESSUPOSTOS POLÍTICOS DA EDUCAÇÃO 
 
CAPÍTULO V 
FILOSOFIA COMO PRÁTICA PEDAGÓGICA 
 
BIBLIOGRAFIA 
 
a) Básica 
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. São Paulo: Moderna, 1992. 
 
BERGER, Peter L. A construção social da realidade. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 11-
13. 
 
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1994. 
 
GADOTTI, Moacir. História das Ideias Pedagógicas. São Paulo: Ática, 2004. 
 
LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da Educação. São Paulo: Cortez, 1991. 
 
SEVERINO, Antônio Joaquim. Filosofia da Educação: Construindo a cidadania. São 
Paulo: FTD, 1994. 
 
 
b) Complementar 
ARENDT, Hanna. A condição humana. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1993. 
 
BRANDÃO, Zaia (org). A crise dos paradigmas e a educação. São Paulo: Cortez, 
1994. 
 
CHAUÍ, Marilena. O que é ideologia. São Paulo. Brasiliense, 1994. 
 
CURY, C. R. Jamil. Educação e Contradição. São Paulo: Cortez, 1995. 
 
FREIRE, Paulo. Educação e mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985. 
 
GADOTTI, Moacir. Concepção dialética da Educação. São Paulo: Cortez, 1997. 
 
GILES, Thomas Ranson. Filosofia da Educação. São Paulo: EPU, 1983. 
 
GRAMSCI, Antônio. Obras Escolhidas. São Paulo: Martins Fontes, 1978, p. 44-45. 
 
MARCONDES, Danilo. Iniciação à História da Filosofia: dos pré-socráticos a 
Wittgensntein. Rio de Janeiro: Zahar, 1997. 
 
SAVIANI, Dermeval. Educação: do senso comum à consciência filosófica. São 
Paulo: Cortez/Autores Associados, 1980. 
 
SUCHOLDOLSKI, Bogdan. A pedagogia e as grandes correntes filosóficas. Lisboa, 
Livros Horizonte, 1978. 
 
 
 
CAPÍTULO I 
FILOSOFIA E EDUCAÇÃO: ELUCIDAÇÕES CONCEITUAIS E ARTICULAÇÕES 
 
OBJETIVOS 
Refletir sobre a Filosofia enquanto produção humana realizada dentro de um contexto 
histórico. Compreender o conceito de Filosofia e no que constitui a atitude do filósofo. 
 
CONTEÚDOS DO CAPÍTULO 
As origens da Filosofia e a Filosofia como realização histórica e cultural do homem. 
O conceito de Filosofia e o processo do filosofar. 
A Filosofia da Educação. 
Imagens filosóficas do homem. 
 
 
CONTEÚDOS DAS UNIDADES 
1. Guia de estudos da unidade. 
2. Exercícios de fixação. 
 
SEQUÊNCIA DIDÁTICA DAS UNIDADES 
Para alcançar os objetivos propostos em cada unidade, é necessário que você: 
1. Faça a leitura do material da Unidade. 
2. Realize os exercícios de fixação. 
 
 
AS ORIGENS DA FILOSOFIA E A FILOSOFIA COMO REALIZAÇÃO HISTÓRICA E 
CULTURAL DO HOMEM. 
“Decifra-me ou te devoro”. Com essa frase a Esfinge, monstro mitológico, 
ameaçava todos aqueles que tentavam se aproximar de tebas. afinal o que essa 
história tem a ver com o nosso estudo sobre a filosofia da educação? no texto que 
segue você irá analisar através desse mito o que é a filosofia e qual a sua importância 
para o homem. 
A forma de expressão e o sentido do pensamento filosófico, tais quais os 
conhecemos hoje no Ocidente, nasceram da experiência cultural da Grécia antiga. 
Foram os assim chamados filósofos pré-socráticos, pensadores gregos do 
século V a. C., os introdutores do processo de reflexão sistemática da Filosofia. Na 
verdade, muito antes deles, os próprios gregos já anunciavam e pressentiam essa 
postura de reflexão humana que se consagrou como filosofia, paradoxalmente através 
de seus mitos. 
A mitologia grega, embora não se desenvolvesse nos mesmos esquemas 
lógico-racionais da filosofia posterior, não deixou de explicitar uma rica significação 
lógica, embutida em formas alegóricas de pensar . Assim não devemos pensar a 
mitologia como um conjunto de formas ilógicas, irracionais. Trata-se de uma primeira 
forma de pensar, expressando basicamente um esforço de ordenação, de unificação, 
que prenunciou tudo o que viria aseguir no Ocidente em termos de saber. 
Vamos retomar aqui uma conhecida passagem dessa mitologia, em que 
acreditamos estar prenunciada a significação mais autentica da filosofia. Trata-se do 
mito da Esfinge. 
Conta a tradição oral da mitologia grega. Vinculada ao mito de Édipo, que, 
quando Creonte governava Tebas, após o assassinato de Laio, por Édipo, seu filho, a 
Esfinge, monstro fabuloso, fixara-se próxima a essa cidade e passara a devorar quem 
não soubesse resolver os seus enigmas, espécies de charadas, a quem eram 
submetidos todos aqueles que tentavam adentrar os portões da cidade e libertar 
Tebas. Esse monstro tinha sido enviado pela deusa Hera para punir os tebanos por 
toda uma série de crimes que aí se cometiam. 
Tentando libertar Tebas dessa maldição, Creonte ofereceu seu trono a quem 
destruísse a Esfinge, que só conseguiria quem decifrasse os enigmas da mesma. 
Só Édipo os decifrou. Provocando a autodestruição da Esfinge e a 
conseqüente libertação de Tebas. 
O que nos interessa aqui é a prefiguração que os enigmas da Esfinge 
manifestam, ao expressar, a nosso ver, o próprio sentido da atitude filosófica, no 
contexto da condução da sua existência. 
A Esfinge formulara dois enigmas. O primeiro era o seguinte: “quem é que, 
dotado de voz, anda primeiro com quatro pés, depois com dois e finalmente com três?” 
E o segundo era: “existem duas irmãs, a primeira engendra a segunda que, por seu 
turno, engendra a primeira. Quem são elas?” Édipo respondeu que no primeiro caso 
tratava-se do “homem’, e no segundo, “da claridade do dia” e da “escuridão da noite”. 
É interessante observarmos os diferentes elementos prefigurados nessa 
passagem do mito. Não podemos deixar de perceber em Édipo um representante do 
próprio homem que enfrenta uma dupla situação problemática de sua condição 
existencial: de um lado, a necessidade do saber, do conhecimento; de outro, a íntima 
vinculação do saber com o poder. 
É preciso ter o conhecimento, o saber, para que possamos decifrar os enigmas 
que oprimem a humanidade. No caso, Tebas representa a humanidade, Édipo, o 
homem; a capacidade de decifração, o saber. As injunções políticas de Tebas e a 
opressão política representam o poder. 
Ora, está aí representada a problemática básica da humanidade e a 
significação mais profunda do esforço filosófico. Com efeito, a reflexão filosófica 
desenvolvida pela humanidade é fundamentalmente um esforço em busca do saber, 
conhecimento que visa esclarecer, libertar o homem de todas as formas de opressão, 
que podemos sintetizar através do conceito de poder. 
Na verdade, os únicos problemas especificamente humanos, não 
compartilhados por nenhuma espécie de seres vivos, são aqueles relacionados com a 
exigência do saber e com a presença das relações de poder entre os homens. 
Também a pergunta e a resposta relacionadas com “a claridade do dia” e a 
“escuridão da noite” constituem uma contraposição significativa da relação saber 
poder: a claridade da luz, representando o saber, que vence a escuridão; as trevas 
simbolizando o poder. 
Podemos então dizer, numa primeira abordagem, que a filosofia, de uma 
maneira geral, é uma forma de saber; é o esforço de conhecimento e reflexão, de 
esclarecimento, que os homens desenvolvem com o objetivo de compreender a 
significação de sua própria existência. 
Tal como Édipo, seu representante mítico, os homens se defrontam com a 
necessidade de saber quem é o próprio homem para superarem todas as dificuldades 
que essa existência lhes impõe. Quem não possuir o saber será inexoravelmente 
devorado, ou seja, oprimido pelas forças naturais e sociais que o cercam. 
Obviamente estamos aqui diante de uma alegoria, mas que não deixa de ter 
significação pertinente e permanente. Continuamos hoje na mesma situação em que 
se encontrava Édipo, os desafios são os mesmos. 
A filosofia não foi apenas uma prefiguração mítica. Na verdade, ela se constitui 
historicamente em uma impressionante expressão cultural no Ocidente. Criou assim, 
uma tradição de pensamento elaborando complexas visões de realidade, procurando 
sempre “explicar” e “compreender” o sentido de todas as coisas, de todos os objetos 
de sua experiência, inclusive do processo dessa experiência. 
Inaugurando-se, pois, na Grécia, desenvolveu-se como instância significativa 
da cultura ocidental nos últimos dois milênios. 
Quando se examinam as grandes articulações da história da cultura ocidental, 
não há como negar a impressionante presença e atuação de concepções de mundo 
que se sucedem, num permanente processo de afirmação, negação e superação, 
como marcas características e dominantes dos diversos momentos dessa história. 
“O que é a filosofia?” em menos de 3 mil palavras 
Da maneira como a desenvolvo, a filosofia tem uma dupla acepção. De um 
ponto de vista geral, ela é uma narrativa de desbanalização do banal. De um ponto de 
vista específico, ela é uma investigação que lida com os mecanismos que nos fazem 
tomar o aparente pelo real – se é que estamos envolvidos nesse problema. 
Essa maneira de descrever o que faço como filósofo é o melhor modo que 
encontrei para colocar meu leitor, de modo rápido, inteirado a respeito do que é o meu 
cotidiano. 
Tudo que vejo e que os outros também enxergam todos os dias se torna banal 
para nós. O trânsito não funciona na cidade de São Paulo e o prefeito diz que está 
tudo bem. Alguns reclamam. Mas a pressão do trabalho faz com que todos entrem no 
ônibus lotado e se submetam a condições desumanas para ir para o serviço. Eis que 
em determinado momento, ninguém reclama mais. Toma-se como banal que o trânsito 
não funcione. Ocorre aí a banalização de nossa própria vida. Então, é hora do filósofo 
mostrar uma cidade grande, em outro lugar, em outro país, onde o trânsito funciona – 
para desbanalizar o nosso banal, que é o trânsito não funcionando. 
O filósofo é aquele que vê o que todos vêem todos os dias, mas ele, diferente 
de outros, aponta para situações em que aquilo que é visto não é algo que deveria 
estar ali como está. Poderia não estar. Talvez devesse não estar como está. 
Até aí, estou no âmbito da minha atividade de desbanalizador do banal. 
Caminho na função da filosofia, assumida de acordo com a acepção geral que dou a 
ela. Mas essa desbanalização do banal me conduz para à minha segunda acepção de 
filosofia. 
Entro em casa, ligo a televisão e vejo o prefeito, de helicóptero, passeando por 
cima de São Paulo e afirmando que o trânsito em São Paulo não é tão ruim, que 
“sempre foi dessa maneira”, que São Paulo é muito grande e que com 22 milhões de 
pessoas aglomeradas “não poderia ser diferente”. Eis que está na sala um vizinho, e 
ele apoia o prefeito. Ele acredita que, de certo modo, o prefeito está certo. Como 
poderiam 22 milhões de pessoas aglomeradas, todo mundo de carro, não 
congestionar a cidade – impossível. O jeito de lidar com a coisa, então, é uma só: 
paciência – esta é a fórmula do prefeito e do meu vizinho. Bem, diante dessa 
conclusão do meu vizinho, minha atividade de desbanalização do banal caminha para 
o campo da minha segunda acepção de filosofia. Pois o que meu parente está fazendo 
é simplesmente parar de pensar e aceitar o discurso – ideológico – do prefeito. 
O problema, então, não é o de convencer o meu vizinho de que o prefeito está 
usando de um discurso ideológico. O problema filosófico, neste caso, é mais 
complexo. O filósofo não é o que vai desideologizar o discurso do prefeito. O filósofo é 
o que vai investigar para entender quais os mecanismos (se é que existem) tornaram o 
vizinho capaz de tomar o aparente – o problema do trânsito não tem solução – pelo 
real – o problema do trânsito deve ter solução, umavez que a racionalidade em outros 
lugares eliminou tal problema. 
Paulo Ghiraldelli Jr. 
Fonte: http://portal.filosofia.pro.br/o-que--filosofia-short.html 
O CONCEITO DE FILOSOFIA E O PROCESSO DO FILOSOFAR 
Uma vez que estudamos no texto anterior o que seria a filosofia e qual a sua 
função para o homem, talvez uma dúvida entre tantas outras se sobressaia. E o 
filósofo, quem seria esse sujeito? Afinal filosofia vem do grego filo = amor, sofia = 
conhecimento, então filosofo é aquele que ama o conhecimento. 
 Assim, todo aquele que busque o saber pode de alguma maneira ser 
considerado filósofo. Mas a questão não é tão simples, afinal o que diferencia o 
homem comum e o filósofo “profissional”, haveria tal diferença? O texto a seguir traz 
mais elementos para essa discussão. 
Uma vez aceito o princípio de que todos os homens são “filósofos”, isto é, que 
entre os filósofos profissionais ou “técnicos” e os outros homens não há diferença 
“qualitativa”, mas apenas “quantitativa” (e nesse caso “Quantidade” tem um significado 
particular, que não pode ser confundido com soma aritmética, já que indica maior ou 
menor “homogeneidade”, “coerência”, “logicidade” etc., isto é, quantidade de 
elementos qualitativos), deve, contudo ver-se em que consiste propriamente a 
diferença. Assim, não será exato chamar “filosofia” a cada tendência de pensamento, a 
cada orientação geral etc., nem mesmo a cada tendência de pensamento, a cada 
orientação geral etc., nem mesmo a cada “concepção do mundo e da vida”. O filósofo 
poder-se-á chamar “um operário qualificado” em relação ao servente, mas nem isto é 
exato, porque na indústria, além do servente e do operário qualificado, há o 
engenheiro, quando não só conhece o oficio praticamente, mas também teórica e 
historicamente. O filósofo profissional ou técnico não só “pensa” com maior rigor 
lógico, com maior coerência, com maior espírito de sistema do que os outros homens, 
mas conhece toda a história do pensamento, sabe explicar o desenvolvimento que o 
pensamento teve até ele e é capaz de retomar os problemas a partir do ponto em que 
se encontram, depois de terem sofrido as mais variadas tentativas nos diversos 
campos científicos. 
Todavia há uma diferença entre o filósofo especialista e os outros especialistas: 
é que o filósofo especialista aproxima-se mais dos outros homens do que os outros 
especialistas. O ter feito do filósofo especialista uma figura semelhante aos outros 
especialistas na ciência, foi precisamente o que determinou a caricatura do filósofo. 
Com efeito, pode imaginar-se um entomólogo especialista, sem que todos os outros 
homens sejam “entomólogos” empíricos, um especialista, da trigonometria, sem que 
as maiores partes dos outros homens se ocupem de trigonometria, etc.. (Podem-se 
encontrar ciências refinadíssimas, especializadíssimas necessárias, mas não por isso 
“comum”), mas não se pode pensar em nenhum homem que não seja também filósofo, 
que não pense, precisamente porque o pensar é próprio do homem como tal. 
É possível definir filosofia? 
 Talvez você esteja se perguntando: como então definir o que é 
filosofia? O filósofo alemão Edmund Husserl diz que ele sabe o que é filosofia, ao 
mesmo tempo que não sabe. Isto é, a explicitação do que é a filosofia já é uma 
questão filosófica. E adverte que apenas os pensadores pouco exigentes se 
contentam com definições cabais. 
 Além disso, a filosofia não está à margem do mundo, nem constitui uma 
doutrina, um saber acabado ou um conjunto de conhecimentos estabelecidos de uma 
vez por todas. Ao contrário, a filosofia pressupõe constante disponibilidade para a 
indagação. Por isso, Platão e Aristóteles disseram que a primeira virtude do filósofo é 
admirar-se, ser capaz de se surpreender com o óbvio e questionar as verdades dadas. 
Essa é a condição para problematizar, o que caracteriza a filosofia não como posse da 
verdade e sim como a sua busca. 
O processo do filosofar 
Kant, filósofo alemão, assim se refere ao filosofar: 
[…] não é possível aprender qualquer filosofia; 
[…] só é possível aprender a filosofar, ou seja, exercitando o talento 
da razão, fazendo-a seguir os seus princípios universais em certas 
tentativas filosóficas já existentes, mas sempre reservando à razão o 
direito de investigar aqueles princípios até mesmo em suas fontes, 
confirmando-os ou rejeitando-os.
1 
 Em que essa citação de Kant pode orientar seu contato com a filosofia? Ela 
serve para advertir que, mesmo estudando o pensamento dos grandes filósofos – e é 
importante que se conheça o que pensaram -, você mesmo deve aprender a filosofar, 
exercer o direito de refletir por si próprio, de confirmar ou rejeitar as ideias e os 
conceitos com os quais se depara. Em outras palavras, a filosofia é sobretudo a 
experiência de um pensar permanente. 
 Mais que um saber, a filosofia é uma atitude diante da vida, tanto no dia a dia 
como nas situações-limite, que exigem decisões cruciais. Por isso, no seu encontro 
com a tradição filosófica, é preferível não recebê-la passivamente como um produto, 
como algo acabado, mas compreendê-la como processo, reflexão crítica e autônoma a 
respeito da realidade. 
Reflexão filosófica 
 Já dissemos que a reflexão não é privilégio do filosófo. O que, portanto, 
distingue a reflexão filosófica das demais? 
 O filósofo brasileiro Demerval Saviani, no livro Educação brasileira: estrutura e 
sistema, na tentativa de se aproximar de uma definição possível, conceitua a filosofia 
como uma reflexão radical, rigorosa e de conjunto sobre os problemas que a realidade 
apresenta. Explicaremos esses três tópicos. 
a) Radical 
 A filosofia é radical, não no sentido corriqueiro de ser inflexível – nesse caso 
 
1
 KANT, Immanuel in Filosofando – Introdução à filosofia. Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria 
Helena Pires Martins.p. 19. 
seria a antifilosofia! -, mas porque busca explicitar os conceitos fundamentais usados 
em todos os campos do pensar e do agir. Por exemplo, a filosofia das ciências 
examina os pressupostos do saber científico: é ela que define o que é ciência, como a 
ciência se distingue da filosofia e de outros tipos de saber, quais são as características 
dos diversos métodos científicos, qual a dimensão de verdade das teorias científicas e 
assim por diante. O mesmo se dá com a psicologia, ao abordar o conceito de 
liberdade: indagar se o ser humano é livre ou determinado já é fazer filosofia. 
b) Rigorosa 
 Os filósofos desenvolvem um pensamento rigoroso, justificado por argumentos, 
coerente em suas diversas partes. O uso de linguagem rigorosa evita as ambiguidades 
das expressões cotidianas, o que permite a interlocução com outros filósofos a partir 
de conceitos claramente definidos. Por isso criam expressões novas ou alteram o 
sentido de palavras usuais. Por exemplo, enquanto o termo ideia no grego arcaico 
(eidos) significava a intuição sensível de uma coisa (aquilo que se vê ou é visto), 
Platão criou o conceito de ideia para referir-se à concepção racional do conhecimento: 
por exemplo, as pessoas e as coisas belas são percebidas pelos meus sentidos, mas 
a beleza é uma ideia pela qual compreendo a essência – ou seja, aquilo que faz com 
que uma coisa seja bela. Nesse sentido, para ele as ideias são mais “reais” que as 
próprias coisas. 
 No entanto, o conceito de ideia seria reinventado ao longo da história da 
filosofia, assumindo conotações diferentes em Descartes, Kant, Hegel e assim por 
diante. É pelo rigor dos conceitos que se inovam os caminhos da reflexão. E isso não 
significa que um filósofo “suplanta” outro, porque qualquer um deles pode – e deve – 
ser revisitado sempre.c) De conjunto 
 A filosofia é um tipo de reflexão totalizante, de conjunto, porque examina os 
problemas relacionando os diversos aspectos entre si. Mais ainda, o objeto da filosofia 
é tudo, porque nada escapa a seu interesse. Por exemplo, o filósofo se debruça sobre 
assuntos tão diferentes como a moral, a política, a ciência, o mito, a religião, o cômico, 
a arte, a técnica, a educação e tantos outros. Daí o caráter transdisciplinar da filosofia, 
ao estabelecer o elo entre as diversas expressões do saber e do agir. Desse modo, o 
avanço da biologia genética desperta a discussão filosófica da bioética; a produção 
artística provoca a reflexão estética e assim por diante. 
Aranha, Maria Lucia de Arruda. Filosofando: introdução à filosofia. 
4ª ed. revisada. São Paulo: Moderna, 2009. p.19-21. 
A FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO 
Mas, além da qualificação técnico-científica e da nova consciência social, é 
ainda exigência da preparação dos professores urna profunda formação filosófica. E 
esta formação é a tarefa que cabe à Filosofia da educação. A existência de disciplina 
desse teor no currículo dos cursos de preparação de professores justifica-se não por 
alguma sofisticada erudição ou academicismo: é uma exigência do próprio 
amadurecimento humano do educador. Coloca-se, com efeito, uma questão 
antropológica: trata-se de explicitar qual o sentido possível da existência (do homem 
brasileiro como pessoa situada na sua comunidade, de tais contornos sociais e em tal 
momento histórico. 
Esta reflexão filosófica, desenvolvida no âmbito teórico da filosofia da 
educação, deverá dar ao futuro educador a oportunidade da tentativa de explicitação 
do projeto existencial a se buscar para a comunidade brasileira, na busca de seu 
destino e de sua civilização. Ou seja, não é possível compreender um projeto 
educacional fora de um projeto político, nem este fora de um projeto antropológico, isto 
é, de uma visão de totalidade que articula o destino das pessoas como o destino da 
comunidade humana. 
Assim, cabe à reflexão filosófica explorar o significado da condição humana no 
mundo. E à filosofia da educação explicitar esse significado para o educador. Vale 
dizer, pois, que a filosofia da educação deve colocar para o educador a questão 
antropológica, questão que deve equacionar adequadamente, recorrendo à filosofia 
social e à filosofia da história, e fundamentando-se numa antropologia, alicerce último 
de toda reflexão sobre o realizar-se do homem. Obviamente, a explicitação do 
significado da própria atividade filosófica é tarefa preliminar: o alcance do pensamento 
humano, o seu equacionamento epistemológico é questão permanente para a filosofia. 
O educador não pode realizar sua tarefa e dar a sua contribuição histórica se o 
seu projeto de trabalho não estiver lastreado nesta visão da totalidade humana. A 
filosofia da educação cabe então colaborar para que esta visão seja construída 
durante o processo de sua formação. O desafio radical que se impõe aos educadores 
é de um ingente esforço para a articulação de um projeto histórico - civilizatório para a 
sociedade brasileira como um todo, mas isto pressupõe que se discutam, com rigor e 
profundidade, questões fundamentais concernentes à condição humana. 
Filosofia e Educação 
 A educação é um típico “que-fazer” humano, ou seja, um tipo de atividade que 
se caracteriza fundamentalmente por uma preocupação, por uma finalidade a ser 
atingida. A educação dentro de uma sociedade não se manifesta como um fim em si 
mesma, mas sim como um instrumento de manutenção ou transformação social. 
Assim sendo, ela necessita de pressupostos, de conceitos que fundamentem e 
orientem os seus caminhos. A sociedade dentro da qual ela está deve possuir alguns 
valores norteadores de sua prática. 
 Não é nem pode ser a prática educacional que estabelece os seus fins. Quem 
o faz é a reflexão filosófica sobre a educação dentro de uma dada sociedade. 
 As relações entre Educação e Filosofia parecem ser quase “naturais”. 
Enquanto a educação trabalha com o desenvolvimento dos jovens e das novas 
gerações de uma sociedade, a filosofia é a reflexão sobre o que e como devem ser ou 
desenvolver estes jovens e esta sociedade. 
 Anísio Teixeira chega a refletir que “muito antes que as filosofias viessem 
expressamente a ser formuladas em sistemas, já a educação, como processo de 
perpetuação da cultura, nada mais era do que o meio de se transmitir a visão do 
mundo e do homem, que a respectiva sociedade honrasse e cultivasse”. 
Evidentemente, nessa afirmação o autor está tomando filosofia como forma de vida de 
um povo, não como sistema filosófico elaborado e explicitado deliberadamente. 
 Deve-se mesmo observar que os primeiros filósofos do Ocidente, na quase 
totalidade, tiveram um “preocupar” com o aspecto educacional. Os chamados filósofos 
pré-socráticos, os sofistas, Sócrates, Platão forma os intérpretes das aspirações de 
seus respectivos tempos e apresentaram-se sempre como educadores. 
 Por exemplo, os pré-socráticos, pelo que podemos saber por seus fragmentos, 
dedicavam-se a entender a origem do cosmos e a criar uma compreensão para a 
educação moral e espiritual dos homens. Os sofistas foram educadores. Foram, 
inclusive, no Ocidente os primeiros a receberem pagamento para ensinar. Sócrates foi 
o homem que morreu em função do seu ideal de educar os jovens e estabelecer uma 
moralização do ambiente grego ateniense. Platão foi o que pretendeu dar ao filósofo o 
posto de rei, a fim de que este tivesse a possibilidade de imprimir na juventude as 
ideias do bem, da justiça, da honestidade. 
 Da mesma maneira, se precorrermos a História da Filosofia e dos filósofos, 
vamos verificar que todos eles tiveram uma preocupação com a definição de uma 
cosmovisão que deveria ser divulgada através dos processos educacionais. 
 Filosofia e Educação são dois fenômenos que estão presentes em todas as 
sociedades. Uma como interpretação teórica das aspirações, desejos e anseios de um 
grupo humano, a outra como instrumento de veiculação dessa interpretação. 
 A Filosofia fornece à educação uma reflexão sobre a sociedade na qual está 
situada, sobre o educando, o educador e para onde esses elementos podem 
caminhar. 
 Nas relações entre Filosofia e educação só existem realmente duas opções: ou 
se pensa e se reflete sobre o que se faz e assim se realiza uma ação educativa 
consciente; ou não se reflete criticamente e se executa uma ação pedagógica a partir 
de uma concepção mais ou menos obscura e opaca existente na cultura vivida do dia 
a dia – e assim se realiza uma ação educativa com baixo nível de consciência. 
 O educando, quem é, o que deve ser, qual o seu papel no mundo; o educador, 
quem é, qual é o seu papel no mundo; a sociedade, o que é, o que pretende; qual 
deve ser a finalidade da ação pedagógica. Estes são alguns problemas que emergem 
da ação pedagógica dos povos para a reflexão filosófica, no sentido de que esta 
estabeleça pressupostos para aquela. 
 Assim sendo, não há como se processar uma ação pedagógica sem uma 
correspondente reflexão filosófica. Se a reflexão filosófica não for realizada 
conscientemente, ela o será sob a forma do “senso comum”, assimilada ao longo da 
convivência dentro de um grupo. Se a ação pedagógica não se processar a partir de 
conceitos e valores explícitos e conscientes, ela se processará, queiramos ou não, 
baseada em conceitos e valores que a sociedade propõe a partir de sua postura 
cultural. 
 Quando não se reflete sobre a educação, ela se processa dentro de uma 
cultura cristalizada e perenizada. Isso significa admitir que nada mais há para ser 
descoberto em termos de interpretação do mundo. É propriamente a reproduçãodos 
meios de produção. 
Por mais grandiosa que seja uma cultura – diz Arcângelo Buzzi – ela 
jamais é a interpretação acabada do ser. A ciência, a moral, a arte, a 
religião, a política, a economia são expressões visíveis, codificadas 
de uma determinada interpretação, que em seu conjunto perfaz aquilo 
que denominamos cultura ou, de modo mais amplo, “mundo”. 
Estamos tão habituados a encarar esse “mundo” interpretado como 
“natural” que não nos damos conta de que ele é apenas possível e 
realizada interpretação do ser. 
 Inconscientemente, adaptamo-nos a essa interpretação do mundo e ela 
permanecerá como a única para nós, se não nos pusermos a filosofar sobre ela, 
questioná-la, a buscar-lhe novos sentidos e novas interpretações de acordo com os 
novos anseios que possam ser detectados no seio da vida humana. 
 Filosofia e educação, pois, estão vinculadas no tempo e no espaço. Não há 
como fugir a essa “fatalidade” da nossa experiência. Assim sendo, parece-nos ser 
mais válido e mais rico, para nós e para a vida humana, fazer esta junção de uma 
maneira consciente, como bem cabe a qualquer ser humano. É a liberdade no seio da 
necessidade. 
LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da Educação. 
14ª reimpressão. São Paulo: Cortez, 1994. p. 30-33. 
AS IMAGENS FILOSÓFICAS DO HOMEM 
Podemos identificar três grandes caminhos percorridos pela Filosofia em sua 
constituição histórica no Ocidente no que se refere a concepção de homem e sua 
relação com a sociedade: 
O homem numa perspectiva essencialista 
Constatamos que, nos quinze primeiros 
séculos de sua história na cultura ocidental, a Filosofia 
construiu uma concepção de mundo 
fundamentalmente essencialista. Nesse longo período 
que compreende a Antiguidade e a Idade Média, ela 
se apresentou como um modo metafísico de pensar. A 
realidade se constitui como uma ordem ontológica: 
tanto o mundo como o homem são vistos como entes 
substanciais que realizam uma essência. Esta se 
define por características peculiares, próprias de cada espécie, sendo, portanto, 
comuns e universais. 
A realização e a perfeição de cada ente são avaliadas exatamente em 
proporção à plenitude de atualização das potencialidades intrínsecas dessa essência. 
O homem, como todos os demais seres existentes, tem uma essência, uma natureza, 
fixa e permanente, na qual estão inscritos os valores que presidem a sua ação. Tanto 
a ética como a política apóia-se, pois, em fundamentos propriamente metafísicos, 
essencialistas. 
É dessa mesma perspectiva que se pode 
compreender a educação nesse primeiro momento. 
Em toda a Antiguidade e Idade Média, predominou 
uma concepção de educação como processo de 
atualização das potencialidades da essência 
humana, mediante o desenvolvimento das suas 
características específicas, visando sempre a um 
estágio de plena perfeição. 
 
É interessante notar, por sinal, que nesse período dominado pelo modo 
metafísico de pensar, julga-se que a busca da perfeição se dá fundamentalmente pela 
educação vista como paidéia. 
Essencialismo 
É uma forma de conceber a 
realidade, entendendo-a 
formada por essências. 
Essência é o conjunto de 
características 
supostamente fixas e 
imutáveis que constituem 
cada ser e o identifica em 
relação aos outros. 
Paidéia 
Na cultura grega, era a 
formação integral do 
homem, a ser propiciada 
pela educação, através de 
recursos pedagógicos e 
culturais, com destaque para 
a formação filosófica. 
Logos 
É o princípio da 
racionalidade, organizador e 
ordenador do real. 
O homem é por excelência, um ser educável porque ele pode ser aperfeiçoado. 
Ora, a característica básica de sua essência é a racionalidade, através da qual ele 
compartilha do próprio logos, princípio ontológico, quase divino, que a cultura filosófica 
grega coloca como o princípio ordenador de todo o real. A educação se dirige 
prioritariamente ao espírito, entendido este como subjetividade racional. 
Não é, pois, sem razão que o alicerce de toda a teoria e prática educacional 
desse período se constitui através das filosofias de Platão, Aristóteles, Santo 
Agostinho e Santo Tomás de Aquino. Pouco importa suas diferenças doutrinárias, no 
fundamental elas convergiam para uma visão essencialista do homem. 
O homem numa perspectiva naturalista 
Já nos cinco séculos da Idade Moderna, predomina uma nova visão da 
realidade e do homem constituída a partir do Renascimento, por meio de uma 
profunda revolução epistemológica. Essa revolução instaura o projeto iluminista da 
modernidade, fundado na naturalização da racionalidade humana, resgatando-a de 
suas vinculações teológico-religiosas do período metafísico medieval. 
Esse momento se configura pretensamente 
como negação do primeiro. Uma nova visão 
antropológica se forma de acordo com a qual o 
homem faz parte da natureza física, submetendo-se 
às mesmas leias que presidem a vida orgânica e a 
matéria. Ele é apenas um ser vivo como os demais. Além disso, a natureza esgota o 
real, não havendo por que recorrer a entidades transcendentes para se dar conta dela. 
A filosofia moderna desenvolve assim, uma visão naturalista do mundo e do 
homem, a partir da nova perspectiva de abordagem do real: o modo científico de 
pensar, sem dúvida, o primeiro fruto do projeto iluminista da Modernidade. 
A realidade corporal do homem passa a ser mais valorizada, uma vez que a 
própria razão é uma dimensão natural. E a perfeição a que o homem pode aspirar 
relaciona-se com as peculiaridades do processo vital natural. 
A perfeição de qualquer ser vivo é viver mais e melhor; o objetivo de toda a 
Naturalismo 
É a forma de conceber todas 
as realidades como partes 
integrantes exclusivamente 
da natureza física. 
vida é mais vida. A própria vida espiritual depende das boas condições do corpo. A 
razão é razão natural, guia-se apenas por suas próprias luzes, que lhe revelam o 
mundo, determinado por leis mecânicas rígidas e imutáveis. 
O saber do próprio homem é a ciência. E é pelos seus conhecimentos que o 
homem pode conhecer não apenas o mundo, mas também a si próprio, de modo que, 
a partir deles, possa manipular a natureza e assegurar sua própria plenitude orgânica, 
vital. 
Essa perspectiva naturalista, constituída a partir das contribuições teóricas de 
filósofos e cientistas, tais como Bacon, Descartes, Locke, Hume, Galileu, Kepler, Kant, 
Leibniz, Newton e Comte, dentre tantos outros, valoriza a natureza e a vida, 
englobando, assim, todas as propostas educacionais. Tal perspectiva responde pela 
nova orientação da educação, que agora se desenvolve com base na ciência e não 
mais na metafísica. 
Os referenciais filosófico-educacionais que desde então subsidiam a educação 
e o ensino fundamenta-se, em última instância, nessa perspectiva naturalista, 
quaisquer que sejam suas diferenças metodológicas e doutrinárias. 
Não há dúvida de que a cultura ocidental ainda está vivendo sob a influência 
marcante desse projeto iluminista da Modernidade. É o que atesta no âmbito da 
educação, a presença consolidada da Escola Nova. As marcas da ciência na 
educação e no ensino não se revelam apenas no conteúdo, mas também na própria 
metodologia dos processos didáticos. 
O homem numa perspectiva histórico-social 
No entanto, já estão igualmente presentes as primeiras configurações da 
gênese de um terceiro momento constituído a partir de um modo dialético de pensar. 
Esta nova perspectiva representa concretamente, tanto em sua teoria como em 
suas práticas, um esforço de superação tanto da visão metafísica quanto da visão 
científica da realidade em geral e da condição humana em particular. 
O homem não é mais considerado nem como a essência espiritual dos 
metafísicos,nem como o corpo natural dos cientificistas. Ele passa a ser considerado 
como membro da pólis, corpo animado, animal 
espiritualizado, sujeito objetivado. 
Trata-se de uma entidade natural e histórica, 
determinada por condições objetivas de existência, 
mas capaz de intervir sobre elas, modificando-as 
pela sua práxis. Sujeito e objeto formam-se pois, 
historicamente. E as leis que presidem o 
desenvolvimento histórico não se situam mais nem 
no plano da determinação metafísica nem no 
plano da necessidade física. 
Em decorrência disso, a educação passa a ser proposta como processo, 
individual e coletivo, de constituição de uma nova consciência social e de 
reconstituição da sociedade, pela rearticulação de suas relações políticas. 
O estabelecimento dos fins e valores envolvidos na ação educativa passa a 
levar em consideração as relações de poder que atravessam o universo humano, no 
âmbito da prática real dos homens, sendo pois, os critérios da ação e da Educação, 
critérios eminentemente políticos. 
O modo dialético de considerar a realidade nunca esteve ausente da cultura 
ocidental. Para comprovar isso, basta citar Heráclito, pensador do período pré-
socrático (século IV a.C.), que já defendia a historicidade do real. Na verdade, tal 
método só começa a se desenvolver sistematicamente a partir do século XIX, 
sobretudo com a filosofia de Hegel e de Marx. 
Como enfoque histórico-social da realidade, a abordagem dialética não se 
limita a esses dois filósofos, permeando praticamente todas as tendências vivas da 
filosofia contemporânea, constituindo uma conquista universal de todo o pensamento 
humano. 
O homem. Quem é ele? 
Esta é a grande, a máxima interrogativa, a interrogativa das interrogativas. São 
Praxis 
Prática humana tendente a 
criar as condições 
indispensáveis à existência 
da sociedade e 
particularmente, à atividade 
material e à produção 
 
Praxismo 
É a forma de conceber 
todos os objetos, seres e 
eventos como resultados 
históricos da prática social 
dos homens. 
infinitos quesitos que se juntam em nossa mente; muitos roçam problemas de grande 
interesse, mas nenhuma questão a precede em ordem de importância, urgência e 
gravidade. Com efeito, a interrogativa “o homem, quem é ele?” não se refere a 
qualquer fato, coisa, pessoa estranha ou afastada de nós, mas toca diretamente a nós 
mesmos, a todo o nosso ser, a nossa origem e nosso destino. Frente a tantas outras 
interrogações, poderemos ficar indiferentes e deixar que outros se preocupem em 
achar a resposta conveniente. Ante a pergunta “o homem, quem é ele?” não podemos 
adotar uma atitude de indiferença ou superficialidade, posto que o encaminhamento de 
nossa vida depende dessa solução, seja individual seja social, bem como nossa 
conduta, nossas relações com outrem e com o mundo. 
“O homem, quem é ele?” constitui, por conseguinte, um problema 
importantíssimo, mas, infelizmente, também um problema muito difícil, dada a enorme 
complexidade de nosso ser, o nosso grande dinamismo, as fortes e elevadas 
aspirações, as múltiplas expressões do bem e do mal, do ódio e do amor, da 
generosidade e da perversidade, do progresso e do retrocesso de que somos 
capazes. Que a questão do homem seja problema difícil, atesta-o claramente a 
história: realmente o homem tem sido objeto de pesquisa e de estudo, desde os 
primórdios da filosofia grega. A questão que importava a Sócrates precipuamente era: 
“Conhece-te a ti mesmo”. Todos os grandes filósofos da Antiguidade (Platão e 
Aristóteles), da Idade Média (Santo Agostinho e Santo Tomás) e da época moderna 
(Descartes, Kant, Hegel, Marx, Heidegger) estudaram-na com paixão. Contudo, 
nenhuma de suas mais brilhantes soluções satisfaz-nos plenamente. 
A questão, pois, torna a apresentar-se e a impor-se com reiterada urgência. É 
uma questão que, como se viu, não podemos nem evitar, nem contornar, nem passar 
aos outros. Devemos enfrentá-la, pois, com empenho e até com humildade, sem a 
pretensão de obter resultados portentosos sobre um argumento em que as mentes 
mais geniais, nem de perto, balbuciaram miseravelmente. 
 
MONDIN, Battista. O homem: quem é ele?: elementos de antropologia filosófica. 
12ª ed. São Paulo: Paulus, 2005. p. 5-6. 
 
Exercícios de fixação: 
1. Redija um pequeno texto apresentando as diversas perspectivas sob as quais o 
homem pode ser compreendido. 
2. Por que, para Mondin, não podemos ficar indiferentes ante a pergunta sobre o 
homem? 
 
Importante: 
 
Ao final desta unidade você deverá ser capaz de: 
 
1. Apresentar uma reflexão crítica sobre as várias concepções de homem, a partir das 
concepções apresentadas pela filosofia.

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