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FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO PEDAGOGIA, Licenciatura Modalidade a Distância Faculdade de Ciências Humanas de Cruzeiro - FACIC FACIC Mantenedora ASSOCIACAO EDUCACIONAL E CULTURAL NOSSA SENHORA APARECIDA Mantida Faculdade de Ciências Humanas de Cruzeiro - FACIC Patrícia Baptistella Diretor Geral Luciene Capucho Rodrigues Coordenadora do Curso de Pedagogia, Licenciatura Filosofia da educação/Autor. – Cruzeiro/SP, 2013. Impresso por computador (Fotocópia) 1. Filosofia. 2. Educação CDU 37.015 ENTRADA Inscrição - Seleção Inserção no AVA Acesso ao Material Didático Início das Atividades Encontro Presencial Professor da Disciplina 2 horas – Para cada 15 horas de estudo Tutoria Presencial Plantão de Tutoria (Todo sábado das 8:00 às 17:00 – Por Agendamento) Tutoria On-line Fluxo diário Tutoria com o Professor da Disciplina Avaliações processuais (30%) Avaliação Presencial (Todo o conteúdo) (70%) Composição da Nota 30% (processual) + 70% (presencial) Nota Final ≥ 7,0 APROVADO Nota Final ≤ 6,9 AVALIAÇÃO SUBSTITUTIVA (Todo o conteúdo) Nota Final ≥ 7,0 APROVADO Nota Final ≤ 6,9 REFAZ A DISCIPLINA Orientação ao aluno FLUXOGRAMA DE ESTUDOS AO ALUNO Um estudo que possibilite a formação do educador enquanto profissional capaz de interagir técnica, humana e politicamente no processo de transformação cultural de seu tempo, respondendo às necessidades da Escola e da sociedade com seriedade e comprometimento ético, jamais estaria completo sem que discorrêssemos sobre a dimensão filosófica da educação. Entre outros campos de conhecimento, a filosofia, a sociologia e a história oferecem elementos básicos para que possamos não só compreender nossa prática educativa, mas também concorrer para a sua transformação. Ao analisar o desenvolvimento da educação através dos séculos percebemos que a sua jornada não é continua e linear, pois é fruto das contradições e problemáticas das sociedades em que se origina. Assim não existe modelo de educação “mais” ou “menos” evoluído, e sim modelos diferentes de acordo com as características, os objetivos e os conflitos daquela sociedade em que o modelo educativo se desenvolve. Assim, ao analisarmos tais modelos acabamos por desvelar as ideologias subjacentes ao sistema educacional e que envolve determinadas práticas e doutrinas pedagógicas em cada época, refletindo igualmente esse olhar crítico sobre a nossa sociedade e o nosso fazer pedagógico, procurando assim lançar sobre a nossa prática um olhar que ultrapasse o senso comum e os “achismos” do cotidiano. Esse é na verdade, o nosso objetivo ao longo desse estudo, e esperamos que nossa contribuição possa auxiliá-lo nesse processo. FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO Carga Horária: 75 horas. OBJETIVOS Desenvolver a análise da Filosofia como produto do esforço humano para conferir sentido às coisas e às relações do homem com o mundo e com seus semelhantes. Propiciar condições para a compreensão da Filosofia na formação e na prática do educador. Perceber as diferentes concepções pedagógicas em sua historicidade, a partir da compreensão da relação entre a produção das ideias e o processo de produção da existência humana. Buscar o desenvolvimento da capacidade de analisar e refletir sobre a prática pedagógica individual e coletiva e sobre a realidade educacional local e nacional. CAPÍTULO I FILOSOFIA E EDUCAÇÃO: ELUCIDAÇÕES CONCEITUAIS E ARTICULAÇÕES CAPÍTULO II HISTÓRIA DA FILOSOFIA CAPÍTULO III CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO CAPÍTULO IV TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS E PRESSUPOSTOS POLÍTICOS DA EDUCAÇÃO CAPÍTULO V FILOSOFIA COMO PRÁTICA PEDAGÓGICA BIBLIOGRAFIA a) Básica ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. São Paulo: Moderna, 1992. BERGER, Peter L. A construção social da realidade. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 11- 13. CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1994. GADOTTI, Moacir. História das Ideias Pedagógicas. São Paulo: Ática, 2004. LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da Educação. São Paulo: Cortez, 1991. SEVERINO, Antônio Joaquim. Filosofia da Educação: Construindo a cidadania. São Paulo: FTD, 1994. b) Complementar ARENDT, Hanna. A condição humana. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1993. BRANDÃO, Zaia (org). A crise dos paradigmas e a educação. São Paulo: Cortez, 1994. CHAUÍ, Marilena. O que é ideologia. São Paulo. Brasiliense, 1994. CURY, C. R. Jamil. Educação e Contradição. São Paulo: Cortez, 1995. FREIRE, Paulo. Educação e mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985. GADOTTI, Moacir. Concepção dialética da Educação. São Paulo: Cortez, 1997. GILES, Thomas Ranson. Filosofia da Educação. São Paulo: EPU, 1983. GRAMSCI, Antônio. Obras Escolhidas. São Paulo: Martins Fontes, 1978, p. 44-45. MARCONDES, Danilo. Iniciação à História da Filosofia: dos pré-socráticos a Wittgensntein. Rio de Janeiro: Zahar, 1997. SAVIANI, Dermeval. Educação: do senso comum à consciência filosófica. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1980. SUCHOLDOLSKI, Bogdan. A pedagogia e as grandes correntes filosóficas. Lisboa, Livros Horizonte, 1978. CAPÍTULO I FILOSOFIA E EDUCAÇÃO: ELUCIDAÇÕES CONCEITUAIS E ARTICULAÇÕES OBJETIVOS Refletir sobre a Filosofia enquanto produção humana realizada dentro de um contexto histórico. Compreender o conceito de Filosofia e no que constitui a atitude do filósofo. CONTEÚDOS DO CAPÍTULO As origens da Filosofia e a Filosofia como realização histórica e cultural do homem. O conceito de Filosofia e o processo do filosofar. A Filosofia da Educação. Imagens filosóficas do homem. CONTEÚDOS DAS UNIDADES 1. Guia de estudos da unidade. 2. Exercícios de fixação. SEQUÊNCIA DIDÁTICA DAS UNIDADES Para alcançar os objetivos propostos em cada unidade, é necessário que você: 1. Faça a leitura do material da Unidade. 2. Realize os exercícios de fixação. AS ORIGENS DA FILOSOFIA E A FILOSOFIA COMO REALIZAÇÃO HISTÓRICA E CULTURAL DO HOMEM. “Decifra-me ou te devoro”. Com essa frase a Esfinge, monstro mitológico, ameaçava todos aqueles que tentavam se aproximar de tebas. afinal o que essa história tem a ver com o nosso estudo sobre a filosofia da educação? no texto que segue você irá analisar através desse mito o que é a filosofia e qual a sua importância para o homem. A forma de expressão e o sentido do pensamento filosófico, tais quais os conhecemos hoje no Ocidente, nasceram da experiência cultural da Grécia antiga. Foram os assim chamados filósofos pré-socráticos, pensadores gregos do século V a. C., os introdutores do processo de reflexão sistemática da Filosofia. Na verdade, muito antes deles, os próprios gregos já anunciavam e pressentiam essa postura de reflexão humana que se consagrou como filosofia, paradoxalmente através de seus mitos. A mitologia grega, embora não se desenvolvesse nos mesmos esquemas lógico-racionais da filosofia posterior, não deixou de explicitar uma rica significação lógica, embutida em formas alegóricas de pensar . Assim não devemos pensar a mitologia como um conjunto de formas ilógicas, irracionais. Trata-se de uma primeira forma de pensar, expressando basicamente um esforço de ordenação, de unificação, que prenunciou tudo o que viria aseguir no Ocidente em termos de saber. Vamos retomar aqui uma conhecida passagem dessa mitologia, em que acreditamos estar prenunciada a significação mais autentica da filosofia. Trata-se do mito da Esfinge. Conta a tradição oral da mitologia grega. Vinculada ao mito de Édipo, que, quando Creonte governava Tebas, após o assassinato de Laio, por Édipo, seu filho, a Esfinge, monstro fabuloso, fixara-se próxima a essa cidade e passara a devorar quem não soubesse resolver os seus enigmas, espécies de charadas, a quem eram submetidos todos aqueles que tentavam adentrar os portões da cidade e libertar Tebas. Esse monstro tinha sido enviado pela deusa Hera para punir os tebanos por toda uma série de crimes que aí se cometiam. Tentando libertar Tebas dessa maldição, Creonte ofereceu seu trono a quem destruísse a Esfinge, que só conseguiria quem decifrasse os enigmas da mesma. Só Édipo os decifrou. Provocando a autodestruição da Esfinge e a conseqüente libertação de Tebas. O que nos interessa aqui é a prefiguração que os enigmas da Esfinge manifestam, ao expressar, a nosso ver, o próprio sentido da atitude filosófica, no contexto da condução da sua existência. A Esfinge formulara dois enigmas. O primeiro era o seguinte: “quem é que, dotado de voz, anda primeiro com quatro pés, depois com dois e finalmente com três?” E o segundo era: “existem duas irmãs, a primeira engendra a segunda que, por seu turno, engendra a primeira. Quem são elas?” Édipo respondeu que no primeiro caso tratava-se do “homem’, e no segundo, “da claridade do dia” e da “escuridão da noite”. É interessante observarmos os diferentes elementos prefigurados nessa passagem do mito. Não podemos deixar de perceber em Édipo um representante do próprio homem que enfrenta uma dupla situação problemática de sua condição existencial: de um lado, a necessidade do saber, do conhecimento; de outro, a íntima vinculação do saber com o poder. É preciso ter o conhecimento, o saber, para que possamos decifrar os enigmas que oprimem a humanidade. No caso, Tebas representa a humanidade, Édipo, o homem; a capacidade de decifração, o saber. As injunções políticas de Tebas e a opressão política representam o poder. Ora, está aí representada a problemática básica da humanidade e a significação mais profunda do esforço filosófico. Com efeito, a reflexão filosófica desenvolvida pela humanidade é fundamentalmente um esforço em busca do saber, conhecimento que visa esclarecer, libertar o homem de todas as formas de opressão, que podemos sintetizar através do conceito de poder. Na verdade, os únicos problemas especificamente humanos, não compartilhados por nenhuma espécie de seres vivos, são aqueles relacionados com a exigência do saber e com a presença das relações de poder entre os homens. Também a pergunta e a resposta relacionadas com “a claridade do dia” e a “escuridão da noite” constituem uma contraposição significativa da relação saber poder: a claridade da luz, representando o saber, que vence a escuridão; as trevas simbolizando o poder. Podemos então dizer, numa primeira abordagem, que a filosofia, de uma maneira geral, é uma forma de saber; é o esforço de conhecimento e reflexão, de esclarecimento, que os homens desenvolvem com o objetivo de compreender a significação de sua própria existência. Tal como Édipo, seu representante mítico, os homens se defrontam com a necessidade de saber quem é o próprio homem para superarem todas as dificuldades que essa existência lhes impõe. Quem não possuir o saber será inexoravelmente devorado, ou seja, oprimido pelas forças naturais e sociais que o cercam. Obviamente estamos aqui diante de uma alegoria, mas que não deixa de ter significação pertinente e permanente. Continuamos hoje na mesma situação em que se encontrava Édipo, os desafios são os mesmos. A filosofia não foi apenas uma prefiguração mítica. Na verdade, ela se constitui historicamente em uma impressionante expressão cultural no Ocidente. Criou assim, uma tradição de pensamento elaborando complexas visões de realidade, procurando sempre “explicar” e “compreender” o sentido de todas as coisas, de todos os objetos de sua experiência, inclusive do processo dessa experiência. Inaugurando-se, pois, na Grécia, desenvolveu-se como instância significativa da cultura ocidental nos últimos dois milênios. Quando se examinam as grandes articulações da história da cultura ocidental, não há como negar a impressionante presença e atuação de concepções de mundo que se sucedem, num permanente processo de afirmação, negação e superação, como marcas características e dominantes dos diversos momentos dessa história. “O que é a filosofia?” em menos de 3 mil palavras Da maneira como a desenvolvo, a filosofia tem uma dupla acepção. De um ponto de vista geral, ela é uma narrativa de desbanalização do banal. De um ponto de vista específico, ela é uma investigação que lida com os mecanismos que nos fazem tomar o aparente pelo real – se é que estamos envolvidos nesse problema. Essa maneira de descrever o que faço como filósofo é o melhor modo que encontrei para colocar meu leitor, de modo rápido, inteirado a respeito do que é o meu cotidiano. Tudo que vejo e que os outros também enxergam todos os dias se torna banal para nós. O trânsito não funciona na cidade de São Paulo e o prefeito diz que está tudo bem. Alguns reclamam. Mas a pressão do trabalho faz com que todos entrem no ônibus lotado e se submetam a condições desumanas para ir para o serviço. Eis que em determinado momento, ninguém reclama mais. Toma-se como banal que o trânsito não funcione. Ocorre aí a banalização de nossa própria vida. Então, é hora do filósofo mostrar uma cidade grande, em outro lugar, em outro país, onde o trânsito funciona – para desbanalizar o nosso banal, que é o trânsito não funcionando. O filósofo é aquele que vê o que todos vêem todos os dias, mas ele, diferente de outros, aponta para situações em que aquilo que é visto não é algo que deveria estar ali como está. Poderia não estar. Talvez devesse não estar como está. Até aí, estou no âmbito da minha atividade de desbanalizador do banal. Caminho na função da filosofia, assumida de acordo com a acepção geral que dou a ela. Mas essa desbanalização do banal me conduz para à minha segunda acepção de filosofia. Entro em casa, ligo a televisão e vejo o prefeito, de helicóptero, passeando por cima de São Paulo e afirmando que o trânsito em São Paulo não é tão ruim, que “sempre foi dessa maneira”, que São Paulo é muito grande e que com 22 milhões de pessoas aglomeradas “não poderia ser diferente”. Eis que está na sala um vizinho, e ele apoia o prefeito. Ele acredita que, de certo modo, o prefeito está certo. Como poderiam 22 milhões de pessoas aglomeradas, todo mundo de carro, não congestionar a cidade – impossível. O jeito de lidar com a coisa, então, é uma só: paciência – esta é a fórmula do prefeito e do meu vizinho. Bem, diante dessa conclusão do meu vizinho, minha atividade de desbanalização do banal caminha para o campo da minha segunda acepção de filosofia. Pois o que meu parente está fazendo é simplesmente parar de pensar e aceitar o discurso – ideológico – do prefeito. O problema, então, não é o de convencer o meu vizinho de que o prefeito está usando de um discurso ideológico. O problema filosófico, neste caso, é mais complexo. O filósofo não é o que vai desideologizar o discurso do prefeito. O filósofo é o que vai investigar para entender quais os mecanismos (se é que existem) tornaram o vizinho capaz de tomar o aparente – o problema do trânsito não tem solução – pelo real – o problema do trânsito deve ter solução, umavez que a racionalidade em outros lugares eliminou tal problema. Paulo Ghiraldelli Jr. Fonte: http://portal.filosofia.pro.br/o-que--filosofia-short.html O CONCEITO DE FILOSOFIA E O PROCESSO DO FILOSOFAR Uma vez que estudamos no texto anterior o que seria a filosofia e qual a sua função para o homem, talvez uma dúvida entre tantas outras se sobressaia. E o filósofo, quem seria esse sujeito? Afinal filosofia vem do grego filo = amor, sofia = conhecimento, então filosofo é aquele que ama o conhecimento. Assim, todo aquele que busque o saber pode de alguma maneira ser considerado filósofo. Mas a questão não é tão simples, afinal o que diferencia o homem comum e o filósofo “profissional”, haveria tal diferença? O texto a seguir traz mais elementos para essa discussão. Uma vez aceito o princípio de que todos os homens são “filósofos”, isto é, que entre os filósofos profissionais ou “técnicos” e os outros homens não há diferença “qualitativa”, mas apenas “quantitativa” (e nesse caso “Quantidade” tem um significado particular, que não pode ser confundido com soma aritmética, já que indica maior ou menor “homogeneidade”, “coerência”, “logicidade” etc., isto é, quantidade de elementos qualitativos), deve, contudo ver-se em que consiste propriamente a diferença. Assim, não será exato chamar “filosofia” a cada tendência de pensamento, a cada orientação geral etc., nem mesmo a cada tendência de pensamento, a cada orientação geral etc., nem mesmo a cada “concepção do mundo e da vida”. O filósofo poder-se-á chamar “um operário qualificado” em relação ao servente, mas nem isto é exato, porque na indústria, além do servente e do operário qualificado, há o engenheiro, quando não só conhece o oficio praticamente, mas também teórica e historicamente. O filósofo profissional ou técnico não só “pensa” com maior rigor lógico, com maior coerência, com maior espírito de sistema do que os outros homens, mas conhece toda a história do pensamento, sabe explicar o desenvolvimento que o pensamento teve até ele e é capaz de retomar os problemas a partir do ponto em que se encontram, depois de terem sofrido as mais variadas tentativas nos diversos campos científicos. Todavia há uma diferença entre o filósofo especialista e os outros especialistas: é que o filósofo especialista aproxima-se mais dos outros homens do que os outros especialistas. O ter feito do filósofo especialista uma figura semelhante aos outros especialistas na ciência, foi precisamente o que determinou a caricatura do filósofo. Com efeito, pode imaginar-se um entomólogo especialista, sem que todos os outros homens sejam “entomólogos” empíricos, um especialista, da trigonometria, sem que as maiores partes dos outros homens se ocupem de trigonometria, etc.. (Podem-se encontrar ciências refinadíssimas, especializadíssimas necessárias, mas não por isso “comum”), mas não se pode pensar em nenhum homem que não seja também filósofo, que não pense, precisamente porque o pensar é próprio do homem como tal. É possível definir filosofia? Talvez você esteja se perguntando: como então definir o que é filosofia? O filósofo alemão Edmund Husserl diz que ele sabe o que é filosofia, ao mesmo tempo que não sabe. Isto é, a explicitação do que é a filosofia já é uma questão filosófica. E adverte que apenas os pensadores pouco exigentes se contentam com definições cabais. Além disso, a filosofia não está à margem do mundo, nem constitui uma doutrina, um saber acabado ou um conjunto de conhecimentos estabelecidos de uma vez por todas. Ao contrário, a filosofia pressupõe constante disponibilidade para a indagação. Por isso, Platão e Aristóteles disseram que a primeira virtude do filósofo é admirar-se, ser capaz de se surpreender com o óbvio e questionar as verdades dadas. Essa é a condição para problematizar, o que caracteriza a filosofia não como posse da verdade e sim como a sua busca. O processo do filosofar Kant, filósofo alemão, assim se refere ao filosofar: […] não é possível aprender qualquer filosofia; […] só é possível aprender a filosofar, ou seja, exercitando o talento da razão, fazendo-a seguir os seus princípios universais em certas tentativas filosóficas já existentes, mas sempre reservando à razão o direito de investigar aqueles princípios até mesmo em suas fontes, confirmando-os ou rejeitando-os. 1 Em que essa citação de Kant pode orientar seu contato com a filosofia? Ela serve para advertir que, mesmo estudando o pensamento dos grandes filósofos – e é importante que se conheça o que pensaram -, você mesmo deve aprender a filosofar, exercer o direito de refletir por si próprio, de confirmar ou rejeitar as ideias e os conceitos com os quais se depara. Em outras palavras, a filosofia é sobretudo a experiência de um pensar permanente. Mais que um saber, a filosofia é uma atitude diante da vida, tanto no dia a dia como nas situações-limite, que exigem decisões cruciais. Por isso, no seu encontro com a tradição filosófica, é preferível não recebê-la passivamente como um produto, como algo acabado, mas compreendê-la como processo, reflexão crítica e autônoma a respeito da realidade. Reflexão filosófica Já dissemos que a reflexão não é privilégio do filosófo. O que, portanto, distingue a reflexão filosófica das demais? O filósofo brasileiro Demerval Saviani, no livro Educação brasileira: estrutura e sistema, na tentativa de se aproximar de uma definição possível, conceitua a filosofia como uma reflexão radical, rigorosa e de conjunto sobre os problemas que a realidade apresenta. Explicaremos esses três tópicos. a) Radical A filosofia é radical, não no sentido corriqueiro de ser inflexível – nesse caso 1 KANT, Immanuel in Filosofando – Introdução à filosofia. Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins.p. 19. seria a antifilosofia! -, mas porque busca explicitar os conceitos fundamentais usados em todos os campos do pensar e do agir. Por exemplo, a filosofia das ciências examina os pressupostos do saber científico: é ela que define o que é ciência, como a ciência se distingue da filosofia e de outros tipos de saber, quais são as características dos diversos métodos científicos, qual a dimensão de verdade das teorias científicas e assim por diante. O mesmo se dá com a psicologia, ao abordar o conceito de liberdade: indagar se o ser humano é livre ou determinado já é fazer filosofia. b) Rigorosa Os filósofos desenvolvem um pensamento rigoroso, justificado por argumentos, coerente em suas diversas partes. O uso de linguagem rigorosa evita as ambiguidades das expressões cotidianas, o que permite a interlocução com outros filósofos a partir de conceitos claramente definidos. Por isso criam expressões novas ou alteram o sentido de palavras usuais. Por exemplo, enquanto o termo ideia no grego arcaico (eidos) significava a intuição sensível de uma coisa (aquilo que se vê ou é visto), Platão criou o conceito de ideia para referir-se à concepção racional do conhecimento: por exemplo, as pessoas e as coisas belas são percebidas pelos meus sentidos, mas a beleza é uma ideia pela qual compreendo a essência – ou seja, aquilo que faz com que uma coisa seja bela. Nesse sentido, para ele as ideias são mais “reais” que as próprias coisas. No entanto, o conceito de ideia seria reinventado ao longo da história da filosofia, assumindo conotações diferentes em Descartes, Kant, Hegel e assim por diante. É pelo rigor dos conceitos que se inovam os caminhos da reflexão. E isso não significa que um filósofo “suplanta” outro, porque qualquer um deles pode – e deve – ser revisitado sempre.c) De conjunto A filosofia é um tipo de reflexão totalizante, de conjunto, porque examina os problemas relacionando os diversos aspectos entre si. Mais ainda, o objeto da filosofia é tudo, porque nada escapa a seu interesse. Por exemplo, o filósofo se debruça sobre assuntos tão diferentes como a moral, a política, a ciência, o mito, a religião, o cômico, a arte, a técnica, a educação e tantos outros. Daí o caráter transdisciplinar da filosofia, ao estabelecer o elo entre as diversas expressões do saber e do agir. Desse modo, o avanço da biologia genética desperta a discussão filosófica da bioética; a produção artística provoca a reflexão estética e assim por diante. Aranha, Maria Lucia de Arruda. Filosofando: introdução à filosofia. 4ª ed. revisada. São Paulo: Moderna, 2009. p.19-21. A FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO Mas, além da qualificação técnico-científica e da nova consciência social, é ainda exigência da preparação dos professores urna profunda formação filosófica. E esta formação é a tarefa que cabe à Filosofia da educação. A existência de disciplina desse teor no currículo dos cursos de preparação de professores justifica-se não por alguma sofisticada erudição ou academicismo: é uma exigência do próprio amadurecimento humano do educador. Coloca-se, com efeito, uma questão antropológica: trata-se de explicitar qual o sentido possível da existência (do homem brasileiro como pessoa situada na sua comunidade, de tais contornos sociais e em tal momento histórico. Esta reflexão filosófica, desenvolvida no âmbito teórico da filosofia da educação, deverá dar ao futuro educador a oportunidade da tentativa de explicitação do projeto existencial a se buscar para a comunidade brasileira, na busca de seu destino e de sua civilização. Ou seja, não é possível compreender um projeto educacional fora de um projeto político, nem este fora de um projeto antropológico, isto é, de uma visão de totalidade que articula o destino das pessoas como o destino da comunidade humana. Assim, cabe à reflexão filosófica explorar o significado da condição humana no mundo. E à filosofia da educação explicitar esse significado para o educador. Vale dizer, pois, que a filosofia da educação deve colocar para o educador a questão antropológica, questão que deve equacionar adequadamente, recorrendo à filosofia social e à filosofia da história, e fundamentando-se numa antropologia, alicerce último de toda reflexão sobre o realizar-se do homem. Obviamente, a explicitação do significado da própria atividade filosófica é tarefa preliminar: o alcance do pensamento humano, o seu equacionamento epistemológico é questão permanente para a filosofia. O educador não pode realizar sua tarefa e dar a sua contribuição histórica se o seu projeto de trabalho não estiver lastreado nesta visão da totalidade humana. A filosofia da educação cabe então colaborar para que esta visão seja construída durante o processo de sua formação. O desafio radical que se impõe aos educadores é de um ingente esforço para a articulação de um projeto histórico - civilizatório para a sociedade brasileira como um todo, mas isto pressupõe que se discutam, com rigor e profundidade, questões fundamentais concernentes à condição humana. Filosofia e Educação A educação é um típico “que-fazer” humano, ou seja, um tipo de atividade que se caracteriza fundamentalmente por uma preocupação, por uma finalidade a ser atingida. A educação dentro de uma sociedade não se manifesta como um fim em si mesma, mas sim como um instrumento de manutenção ou transformação social. Assim sendo, ela necessita de pressupostos, de conceitos que fundamentem e orientem os seus caminhos. A sociedade dentro da qual ela está deve possuir alguns valores norteadores de sua prática. Não é nem pode ser a prática educacional que estabelece os seus fins. Quem o faz é a reflexão filosófica sobre a educação dentro de uma dada sociedade. As relações entre Educação e Filosofia parecem ser quase “naturais”. Enquanto a educação trabalha com o desenvolvimento dos jovens e das novas gerações de uma sociedade, a filosofia é a reflexão sobre o que e como devem ser ou desenvolver estes jovens e esta sociedade. Anísio Teixeira chega a refletir que “muito antes que as filosofias viessem expressamente a ser formuladas em sistemas, já a educação, como processo de perpetuação da cultura, nada mais era do que o meio de se transmitir a visão do mundo e do homem, que a respectiva sociedade honrasse e cultivasse”. Evidentemente, nessa afirmação o autor está tomando filosofia como forma de vida de um povo, não como sistema filosófico elaborado e explicitado deliberadamente. Deve-se mesmo observar que os primeiros filósofos do Ocidente, na quase totalidade, tiveram um “preocupar” com o aspecto educacional. Os chamados filósofos pré-socráticos, os sofistas, Sócrates, Platão forma os intérpretes das aspirações de seus respectivos tempos e apresentaram-se sempre como educadores. Por exemplo, os pré-socráticos, pelo que podemos saber por seus fragmentos, dedicavam-se a entender a origem do cosmos e a criar uma compreensão para a educação moral e espiritual dos homens. Os sofistas foram educadores. Foram, inclusive, no Ocidente os primeiros a receberem pagamento para ensinar. Sócrates foi o homem que morreu em função do seu ideal de educar os jovens e estabelecer uma moralização do ambiente grego ateniense. Platão foi o que pretendeu dar ao filósofo o posto de rei, a fim de que este tivesse a possibilidade de imprimir na juventude as ideias do bem, da justiça, da honestidade. Da mesma maneira, se precorrermos a História da Filosofia e dos filósofos, vamos verificar que todos eles tiveram uma preocupação com a definição de uma cosmovisão que deveria ser divulgada através dos processos educacionais. Filosofia e Educação são dois fenômenos que estão presentes em todas as sociedades. Uma como interpretação teórica das aspirações, desejos e anseios de um grupo humano, a outra como instrumento de veiculação dessa interpretação. A Filosofia fornece à educação uma reflexão sobre a sociedade na qual está situada, sobre o educando, o educador e para onde esses elementos podem caminhar. Nas relações entre Filosofia e educação só existem realmente duas opções: ou se pensa e se reflete sobre o que se faz e assim se realiza uma ação educativa consciente; ou não se reflete criticamente e se executa uma ação pedagógica a partir de uma concepção mais ou menos obscura e opaca existente na cultura vivida do dia a dia – e assim se realiza uma ação educativa com baixo nível de consciência. O educando, quem é, o que deve ser, qual o seu papel no mundo; o educador, quem é, qual é o seu papel no mundo; a sociedade, o que é, o que pretende; qual deve ser a finalidade da ação pedagógica. Estes são alguns problemas que emergem da ação pedagógica dos povos para a reflexão filosófica, no sentido de que esta estabeleça pressupostos para aquela. Assim sendo, não há como se processar uma ação pedagógica sem uma correspondente reflexão filosófica. Se a reflexão filosófica não for realizada conscientemente, ela o será sob a forma do “senso comum”, assimilada ao longo da convivência dentro de um grupo. Se a ação pedagógica não se processar a partir de conceitos e valores explícitos e conscientes, ela se processará, queiramos ou não, baseada em conceitos e valores que a sociedade propõe a partir de sua postura cultural. Quando não se reflete sobre a educação, ela se processa dentro de uma cultura cristalizada e perenizada. Isso significa admitir que nada mais há para ser descoberto em termos de interpretação do mundo. É propriamente a reproduçãodos meios de produção. Por mais grandiosa que seja uma cultura – diz Arcângelo Buzzi – ela jamais é a interpretação acabada do ser. A ciência, a moral, a arte, a religião, a política, a economia são expressões visíveis, codificadas de uma determinada interpretação, que em seu conjunto perfaz aquilo que denominamos cultura ou, de modo mais amplo, “mundo”. Estamos tão habituados a encarar esse “mundo” interpretado como “natural” que não nos damos conta de que ele é apenas possível e realizada interpretação do ser. Inconscientemente, adaptamo-nos a essa interpretação do mundo e ela permanecerá como a única para nós, se não nos pusermos a filosofar sobre ela, questioná-la, a buscar-lhe novos sentidos e novas interpretações de acordo com os novos anseios que possam ser detectados no seio da vida humana. Filosofia e educação, pois, estão vinculadas no tempo e no espaço. Não há como fugir a essa “fatalidade” da nossa experiência. Assim sendo, parece-nos ser mais válido e mais rico, para nós e para a vida humana, fazer esta junção de uma maneira consciente, como bem cabe a qualquer ser humano. É a liberdade no seio da necessidade. LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da Educação. 14ª reimpressão. São Paulo: Cortez, 1994. p. 30-33. AS IMAGENS FILOSÓFICAS DO HOMEM Podemos identificar três grandes caminhos percorridos pela Filosofia em sua constituição histórica no Ocidente no que se refere a concepção de homem e sua relação com a sociedade: O homem numa perspectiva essencialista Constatamos que, nos quinze primeiros séculos de sua história na cultura ocidental, a Filosofia construiu uma concepção de mundo fundamentalmente essencialista. Nesse longo período que compreende a Antiguidade e a Idade Média, ela se apresentou como um modo metafísico de pensar. A realidade se constitui como uma ordem ontológica: tanto o mundo como o homem são vistos como entes substanciais que realizam uma essência. Esta se define por características peculiares, próprias de cada espécie, sendo, portanto, comuns e universais. A realização e a perfeição de cada ente são avaliadas exatamente em proporção à plenitude de atualização das potencialidades intrínsecas dessa essência. O homem, como todos os demais seres existentes, tem uma essência, uma natureza, fixa e permanente, na qual estão inscritos os valores que presidem a sua ação. Tanto a ética como a política apóia-se, pois, em fundamentos propriamente metafísicos, essencialistas. É dessa mesma perspectiva que se pode compreender a educação nesse primeiro momento. Em toda a Antiguidade e Idade Média, predominou uma concepção de educação como processo de atualização das potencialidades da essência humana, mediante o desenvolvimento das suas características específicas, visando sempre a um estágio de plena perfeição. É interessante notar, por sinal, que nesse período dominado pelo modo metafísico de pensar, julga-se que a busca da perfeição se dá fundamentalmente pela educação vista como paidéia. Essencialismo É uma forma de conceber a realidade, entendendo-a formada por essências. Essência é o conjunto de características supostamente fixas e imutáveis que constituem cada ser e o identifica em relação aos outros. Paidéia Na cultura grega, era a formação integral do homem, a ser propiciada pela educação, através de recursos pedagógicos e culturais, com destaque para a formação filosófica. Logos É o princípio da racionalidade, organizador e ordenador do real. O homem é por excelência, um ser educável porque ele pode ser aperfeiçoado. Ora, a característica básica de sua essência é a racionalidade, através da qual ele compartilha do próprio logos, princípio ontológico, quase divino, que a cultura filosófica grega coloca como o princípio ordenador de todo o real. A educação se dirige prioritariamente ao espírito, entendido este como subjetividade racional. Não é, pois, sem razão que o alicerce de toda a teoria e prática educacional desse período se constitui através das filosofias de Platão, Aristóteles, Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino. Pouco importa suas diferenças doutrinárias, no fundamental elas convergiam para uma visão essencialista do homem. O homem numa perspectiva naturalista Já nos cinco séculos da Idade Moderna, predomina uma nova visão da realidade e do homem constituída a partir do Renascimento, por meio de uma profunda revolução epistemológica. Essa revolução instaura o projeto iluminista da modernidade, fundado na naturalização da racionalidade humana, resgatando-a de suas vinculações teológico-religiosas do período metafísico medieval. Esse momento se configura pretensamente como negação do primeiro. Uma nova visão antropológica se forma de acordo com a qual o homem faz parte da natureza física, submetendo-se às mesmas leias que presidem a vida orgânica e a matéria. Ele é apenas um ser vivo como os demais. Além disso, a natureza esgota o real, não havendo por que recorrer a entidades transcendentes para se dar conta dela. A filosofia moderna desenvolve assim, uma visão naturalista do mundo e do homem, a partir da nova perspectiva de abordagem do real: o modo científico de pensar, sem dúvida, o primeiro fruto do projeto iluminista da Modernidade. A realidade corporal do homem passa a ser mais valorizada, uma vez que a própria razão é uma dimensão natural. E a perfeição a que o homem pode aspirar relaciona-se com as peculiaridades do processo vital natural. A perfeição de qualquer ser vivo é viver mais e melhor; o objetivo de toda a Naturalismo É a forma de conceber todas as realidades como partes integrantes exclusivamente da natureza física. vida é mais vida. A própria vida espiritual depende das boas condições do corpo. A razão é razão natural, guia-se apenas por suas próprias luzes, que lhe revelam o mundo, determinado por leis mecânicas rígidas e imutáveis. O saber do próprio homem é a ciência. E é pelos seus conhecimentos que o homem pode conhecer não apenas o mundo, mas também a si próprio, de modo que, a partir deles, possa manipular a natureza e assegurar sua própria plenitude orgânica, vital. Essa perspectiva naturalista, constituída a partir das contribuições teóricas de filósofos e cientistas, tais como Bacon, Descartes, Locke, Hume, Galileu, Kepler, Kant, Leibniz, Newton e Comte, dentre tantos outros, valoriza a natureza e a vida, englobando, assim, todas as propostas educacionais. Tal perspectiva responde pela nova orientação da educação, que agora se desenvolve com base na ciência e não mais na metafísica. Os referenciais filosófico-educacionais que desde então subsidiam a educação e o ensino fundamenta-se, em última instância, nessa perspectiva naturalista, quaisquer que sejam suas diferenças metodológicas e doutrinárias. Não há dúvida de que a cultura ocidental ainda está vivendo sob a influência marcante desse projeto iluminista da Modernidade. É o que atesta no âmbito da educação, a presença consolidada da Escola Nova. As marcas da ciência na educação e no ensino não se revelam apenas no conteúdo, mas também na própria metodologia dos processos didáticos. O homem numa perspectiva histórico-social No entanto, já estão igualmente presentes as primeiras configurações da gênese de um terceiro momento constituído a partir de um modo dialético de pensar. Esta nova perspectiva representa concretamente, tanto em sua teoria como em suas práticas, um esforço de superação tanto da visão metafísica quanto da visão científica da realidade em geral e da condição humana em particular. O homem não é mais considerado nem como a essência espiritual dos metafísicos,nem como o corpo natural dos cientificistas. Ele passa a ser considerado como membro da pólis, corpo animado, animal espiritualizado, sujeito objetivado. Trata-se de uma entidade natural e histórica, determinada por condições objetivas de existência, mas capaz de intervir sobre elas, modificando-as pela sua práxis. Sujeito e objeto formam-se pois, historicamente. E as leis que presidem o desenvolvimento histórico não se situam mais nem no plano da determinação metafísica nem no plano da necessidade física. Em decorrência disso, a educação passa a ser proposta como processo, individual e coletivo, de constituição de uma nova consciência social e de reconstituição da sociedade, pela rearticulação de suas relações políticas. O estabelecimento dos fins e valores envolvidos na ação educativa passa a levar em consideração as relações de poder que atravessam o universo humano, no âmbito da prática real dos homens, sendo pois, os critérios da ação e da Educação, critérios eminentemente políticos. O modo dialético de considerar a realidade nunca esteve ausente da cultura ocidental. Para comprovar isso, basta citar Heráclito, pensador do período pré- socrático (século IV a.C.), que já defendia a historicidade do real. Na verdade, tal método só começa a se desenvolver sistematicamente a partir do século XIX, sobretudo com a filosofia de Hegel e de Marx. Como enfoque histórico-social da realidade, a abordagem dialética não se limita a esses dois filósofos, permeando praticamente todas as tendências vivas da filosofia contemporânea, constituindo uma conquista universal de todo o pensamento humano. O homem. Quem é ele? Esta é a grande, a máxima interrogativa, a interrogativa das interrogativas. São Praxis Prática humana tendente a criar as condições indispensáveis à existência da sociedade e particularmente, à atividade material e à produção Praxismo É a forma de conceber todos os objetos, seres e eventos como resultados históricos da prática social dos homens. infinitos quesitos que se juntam em nossa mente; muitos roçam problemas de grande interesse, mas nenhuma questão a precede em ordem de importância, urgência e gravidade. Com efeito, a interrogativa “o homem, quem é ele?” não se refere a qualquer fato, coisa, pessoa estranha ou afastada de nós, mas toca diretamente a nós mesmos, a todo o nosso ser, a nossa origem e nosso destino. Frente a tantas outras interrogações, poderemos ficar indiferentes e deixar que outros se preocupem em achar a resposta conveniente. Ante a pergunta “o homem, quem é ele?” não podemos adotar uma atitude de indiferença ou superficialidade, posto que o encaminhamento de nossa vida depende dessa solução, seja individual seja social, bem como nossa conduta, nossas relações com outrem e com o mundo. “O homem, quem é ele?” constitui, por conseguinte, um problema importantíssimo, mas, infelizmente, também um problema muito difícil, dada a enorme complexidade de nosso ser, o nosso grande dinamismo, as fortes e elevadas aspirações, as múltiplas expressões do bem e do mal, do ódio e do amor, da generosidade e da perversidade, do progresso e do retrocesso de que somos capazes. Que a questão do homem seja problema difícil, atesta-o claramente a história: realmente o homem tem sido objeto de pesquisa e de estudo, desde os primórdios da filosofia grega. A questão que importava a Sócrates precipuamente era: “Conhece-te a ti mesmo”. Todos os grandes filósofos da Antiguidade (Platão e Aristóteles), da Idade Média (Santo Agostinho e Santo Tomás) e da época moderna (Descartes, Kant, Hegel, Marx, Heidegger) estudaram-na com paixão. Contudo, nenhuma de suas mais brilhantes soluções satisfaz-nos plenamente. A questão, pois, torna a apresentar-se e a impor-se com reiterada urgência. É uma questão que, como se viu, não podemos nem evitar, nem contornar, nem passar aos outros. Devemos enfrentá-la, pois, com empenho e até com humildade, sem a pretensão de obter resultados portentosos sobre um argumento em que as mentes mais geniais, nem de perto, balbuciaram miseravelmente. MONDIN, Battista. O homem: quem é ele?: elementos de antropologia filosófica. 12ª ed. São Paulo: Paulus, 2005. p. 5-6. Exercícios de fixação: 1. Redija um pequeno texto apresentando as diversas perspectivas sob as quais o homem pode ser compreendido. 2. Por que, para Mondin, não podemos ficar indiferentes ante a pergunta sobre o homem? Importante: Ao final desta unidade você deverá ser capaz de: 1. Apresentar uma reflexão crítica sobre as várias concepções de homem, a partir das concepções apresentadas pela filosofia.
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