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Seminário - Mares de Morro

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Domínio Tropical Atlântico
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
CENTRO DE CIÊNCIAS
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
BASES NATURAIS DA GEOGRAFIA DO BRASIL
Ana Nery Evangelista
Hudson Silva Rocha
Maciel Gomes
Mariana Cavalcante Machado
Fortaleza, 2013
Lavras Novas, Ouro Preto, MG/ Letícia Teixeira Palla Braga, 2008.
Domínio Tropical Atlântico
(MARES DE MORRO)
Mar de morros é uma denominação criada pelo geógrafo francês Pierre Deffontaines e consagrada pelo geógrafo brasileiro Aziz Ab'Sáber, que se utilizou dessa expressão para designar o relevo das colinas dissecadas do Planalto Atlântico (Serra Geral).
Fonte: http://pe360graus.globo.com/obj/107/78855.gif
SITUAÇÃO GEOGRÁFICA
- Possui extensão espacial de aproximadamente 650.000 km² em sua área nuclear;
- Estende-se do sul do Brasil até o Estado da Paraíba (no Nordeste).
- Situado nos Estados do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, Paraná, de São Paulo, do Rio de Janeiro, do Espírito Santo, da Bahia, de Sergipe, de Alagoas, de Pernambuco e da Paraíba.
- Incluindo em sua extensão territorial cidades importantes, como: São Paulo, Rio de Janeiro, Vitória, Salvador, Recife, Porto Alegre e Florianópolis.
CARACTERIZAÇÃO
Mamelonização quase universal das vertentes (meias-laranjas).
Decomposição profunda e quase universal das rochas cristalinas, desde 3 e 8m até 40 e 60m, atingindo localmente mais de 100m em alguns micaxistos (manto de intemperismo).
Terrenos compostos por rochas cristalinas em litologias predominantemente gnáissico-graníticas, migmatizadas ou não.
Cinturão Orogênico do Atlântico
Fonte: TORRES; MARQUES NETO; MENEZES, 2012, p. 137.
Presença de pães de açúcar ou agrupamento deles pertencentes aos chamados domos de esfolição. Ocorrem somente onde o espaçamento das diáclases tectônicas é muito grande. 
Presença marcante de planícies alveolares e de terraços fluviais.
Serras quartzitícas-itabiríticas (Quadrilátero Ferrífero) e campos de matacões.
Pão-de-açúcar
Fonte: TORRES; MARQUES NETO; MENEZES, 2012, p. 126.
Bondinho do morro do Pão-de-açúcar, Rio de Janeiro.
Fonte: http://olimpiadasrio2016.blogspot.com.br/p/pontos-turisticos.html
Fonte: TORRES; MARQUES NETO; MENEZES, 2012, p. 138.
Fonte: TOLEDO; OLIVEIRA; MELFI, 2009, p. 148.
Padrões de juntas alargadas e alteradas, desenvolvidas em duas direções, nas rochas da Point Lobos State Reserve, Califórnia (EUA). [Jeff Foot/DRK]
Fonte: GROTZINGER; JORDAN, 2013, p. 448.
Fonte: TORRES; MARQUES NETO; MENEZES, 2012, p. 138.
Presença extensiva de solos Vermelho-Amarelos (Argissolos e Latossolos) nas vertentes e interflúvios de morros arredondados, até níveis de 1.100m de altitude. 
Onde os Latossolos têm origem direta sobre rochas decompostas, sem sinais de superposição de solos, podem ser identificados refúgios de florestas originadas anteriormente nos períodos secos do fim do Pleistoceno.
Tais solos podem ter se formado diretamente sobre regolito, na vertente dos morros, ou em depósitos de cobertura que escondem alguns paleopavimentos detríticos (stone lines) do final do Pleistoceno. 
Cambissolos e Neossolos Litólicos em segmentos de vertentes curtas de morros ou nas encostas montanhosas da região.
Superposição de solos devido às flutuações climáticas do Quaternário Antigo, com o aparecimento frequente de linhas de pedras (stone lines) enterradas a 80cm até 2m de profundidade.
Tais linhas de pedra representam certamente antigos “chãos pedregosos”(paleopavimentos detríticos) que atapetavam a superfície de paisagens semi-áridas, em condições climáticas menos quentes mas muito mais secas que as atuais.
Stone Lines
Desenho esquemático da formação das linhas de pedra
a partir da hipótese do transporte de materiais em superfície.
Fonte: SANTOS; SALGADO; RAKSSA; MARRENT, 2010, p. 106.
Fonte: http://www.pedologiafacil.com.br/curiosidade.php
Estudo das variações climaticas no Quaternário
Indicios de fragmentos de quartzo na base dos solos avermelhados
Jean Tricart e André Cailleux: explicação das stone lines (vizualização de possiveis espaços ocupados anteriormente por outras coberturas características de clima seco)
Na ultima glaciação pleistocenica, o nivel do mar desceu cerca de 100m e as temperaturas medias em todo planeta baixaram cerca de 3 a 4°;
Deslocamentos das correntes maritimas frias para o leste do continente, anteriormente propicios aos efeitos da correntes quentes, geradoras de umidade;
A semi-aridez causou o desgaste dos horizontes superficiais do solo.
Foi o primeiro lugar a ser descoberto e colonizado pelos portugueses – tanto que é em Porto Seguro, Bahia, que atracou o navegante Pedro Álvares Cabral, descobrindo o Brasil. É neste domínio que estão as duas maiores cidades brasileiras – São Paulo e Rio de Janeiro. 
Isto se deve a antiga constituição das duas cidades como centros econômicos, integradores, culturais e políticos. Foram muitos os resultados desse povoamento, como por exemplo, a maior concentração populacional do Brasil e a de melhor base econômica.
USO E OCUPAÇÃO
Domínio dos Mares de Morro
CICLOS ECONÔMICOS
Pau-Brasil.
Cana de Açúcar.
Café.
Latifúndio.
Monocultura.
Trabalho escravo.
Assim, o uso de técnicas agrícolas de preservação da vegetação era bem reduzido ou inexistente.
Mineração.
Industrialização.
VALE DO PARAÍBA
O Vale do Paraíba é uma região sócio-econômica que abrange parte do leste do estado de São Paulo e sul do estado do Rio de Janeiro, e que se destaca por concentrar uma parcela considerável do PIB do Brasil. O nome deve-se ao fato de que a região é a parte inicial da bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul. 
Deve-se ressaltar que o nome, em sentido estrito, é comumente utilizado apenas para se referir a uma região com certas características sócio-econômicas, correspondendo aproximadamente ao curso superior do rio Paraíba do Sul, já que esse rio se estende ainda ao longo de quase todo o comprimento do estado do Rio de Janeiro e separa parte deste do estado de Minas Gerais. Geralmente, a denominação costuma incluir também o litoral norte do estado de São Paulo, que lhe é vizinho e estreitamente ligado.
MAPA e IMAGEM
Este domínio é o mais impactado de todos, pois foi o primeiro a ser devastado, já pelos Portugueses nas primeiras épocas do Brasil Colônia, como a exploração do Pau-Brasil. Posteriormente, este domínio presenciou diversos ciclos econômicos, como a Cana de Açúcar e o Café. 
Hoje em dia mais de 90% da população brasileira vive nos Mares de Morros, e em poucos locais a Mata Atlântica é encontrada conservada.  
O domínio dos “mares de morros” tem mostrado ser o meio físico, ecológico e paisagístico mais complexo e difícil do país em relação às ações antrópicas. No seu interior tem sido difícil encontrar sítios para centros urbanos de uma certa proporção, locais para parques industriais avantajados – salvo no caso das zonas colinosas das bacias de Taubaté e São Paulo – como, igualmente, tem sido difícil e muito custosa a abertura, o desdobramento e a conservação de novas estradas no meio dos morros. Trata-se ainda da região sujeita aos mais fortes processos de erosão e de movimentos coletivos de solos em todo o território brasileiro.
(AB’SÁBER, 2003, p.17)
DESASTRES NATURAIS
Em janeiro de 2010, em Angra dos Reis, 52 pessoas foram mortas por escorregamentos. No final de novembro 2008, uma tragédia ocorreu no Estado de Santa Catarina, deixando 135 mortos e 32 mil desabrigados, além de SC, em Minas Gerais as enchentes, em 2008, foram responsáveis por 30 mortos. Não bastando essas catástrofes, no Rio Grande do Sul por efeitos das chuvas 12 pessoas morreram naquele ano. 
 As cidades de Salvador – BA, Belo Horizonte – MG, Zona da Mata mineira, Rio de Janeiro – RJ, cidades serranas –RJ e São Paulo (capital) cresceram aceleradamente e sem nenhum projeto de ocupação dos planaltos mais elevados. O núcleo destes centros urbanos, geralmente, está localizado em micro bacias existentes entre os planaltos, mas a periferia foi direcionadapara as encostas destes morros.
 
Os habitantes destas periferias, além de numerosos são despossuídos de recursos para a construção de suas casas. A ocupação dos morros se dá pela destruição total da vegetação e a edificação de casas escoradas umas nas outras. 
Consequentemente o solo fica exposto às águas pluviais e encharca-se, a rocha cristalina que está sob este solo não é capaz de reter esta massa de terra, facilitando o escorregamento. Não é raro sobre estes morros encontrar rochas enormes desagregadas, conhecidas por “matacões”. A vegetação tem um fundamental trabalho de fixar estas rochas, mas com a retirada da floresta o solo escorrega levando consigo estas enormes pedras, aumentando o desastre. 
O Professor Luiz F. Vaz, do Instituto de Geociências da Unicamp, explicitou o fato em artigo no jornal O Estado de S. Paulo: 
“O mecanismo desses deslizamentos segue o mesmo padrão: alguns meses consecutivos de chuvas contínuas, não necessariamente fortes, seguidos por um período concentrado de precipitações muito fortes; os vazios da camada de solo ficam saturados pelas chuvas contínuas, reduzindo a resistência do solo; como a água da chuva forte não tem como se infiltrar, escorre pela superfície, transformando o solo em lama e carregando árvores e blocos de rocha. Esse processo é conhecido como corrida de lama, pela alta velocidade do deslizamento, que pode chegar a algumas dezenas de quilômetros por hora.”
O Domínio dos Mares de Morros não é o responsável pelas desgraças ocorridas. Os aspectos vantajosos vencem as dificuldades aparentes. O clima da região é propicio para uma agricultura de produtos que demandam muita água. Os rios formados pelas chuvas e pelo relevo são altamente adequados à obtenção de energia elétrica. Os incontáveis recursos biológicos podem, ainda, enriquecer a indústria farmacêutica e de cosméticos do país. Além da beleza única do domínio que auxilia o setor turístico do Brasil.
A urbanização das cidades devem primeiramente obedecer ao padrão e resistência natural. As encostas devem ser urbanizadas pelo método de curva de nível, intercalado pela mata nativa. Um programa de redistribuição urbana deve ser efetivado para oficializar as residências das encostas e realocar famílias em lugares mais seguros. O aparelho urbano para os milhões de habitantes dos morros brasileiros passa pela retomada do espaço natural
REFERÊNCIA
AB’SÁBER, A. N. Domínios Morfoclimáticos e os solos do Brasil. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE SOLOS, 1996.
AB’SÁBER, A. N. Domínio Tropical Atlântico. In:____. Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. 5 ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003.
SANTOS, L. J. C.; SALGADO, A. A. R.; RAKSSA, M. L.; MARRENT, B. R. Gênese das linhas de pedra. Revista Brasileira de Geomorfologia, v. 11, n. 2, p. 103-108, 2010.
TOLEDO, M. C. M.; OLIVEIRA, S. M. B. de; MELFI, A. F. (Orgs.)Intemperismo e formação do solo. p. 139-166. In: TEIXEIRA, W.; TOLEDO, M. C. M. de; TAIOLI, F. Decifrando a Terra. 2. ed. São Paulo, São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2009. 
TORRES, F. T. P.; MARQUES NETO, R; MENEZES, S. de O. Introdução à Geomorfologia. São Paulo: Cengage Learning, 2012.
http://eligeornal.blogspot.com.br/2011/02/o-maior-desastre-natural-do-brasil.html

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