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George Marmelstein Lima - A Força Normativa dos Princípios Constitucionais

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MUNDO JURÍDICO 
Artigo de George Marmelstein Lima 
 
 
www.mundojuridico.adv.br 
A FORÇA NORMATIVA DOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS 
 
Por George Marmelstein Lima, Juiz Federal Substituto 
 
“Da morte não faço caso. O que não quero é passar por doido, porque então 
o princípio cairia. Que me importa a vida? O que me importa é que o 
princípio se mantenha”. Passanante, regicida italiano do século passado, 
recusando a justificação de irresponsabilidade que se queria alegar em sua 
defesa. 
 
Sumário: 1. Princípios: um bom começo - 2. Normas, princípios e regras - 3. Princípios expressos e 
não expressos: “descobrindo” os princípios constitucionais - 4. Pode um princípio embasar uma 
pretensão em juízo? - 5. Afronta a princípios constitucionais e o recurso extraordinário - 6. 
Conclusão - Bibliografia 
 
1. PRINCÍPIOS: UM BOM COMEÇO 
 
“os princípios haurem parte de suas majestades no mistério que os envolve.” 
Jean Boulanger 
 
Para discorrermos com segurança acerca da força normativa dos princípios 
constitucionais, precisamos, antes de tudo, entender, ainda que superficialmente, o 
que são os princípios1. 
“Princípio”, do latim pricipium, significa, numa acepção vulgar, início, começo, 
origem das coisas. Tal noção, explica-nos PAULO BONAVIDES, deriva da 
linguagem da geometria, “onde designa as verdades primeiras”2. 
Não é este, porém, o sentido que adotamos quando nos referimos aos “princípios 
constitucionais”. 
Realmente, aqui a palavra princípio conota a idéia de “mandamento nuclear de 
um sistema”, utilizando o célebre conceito de CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE 
MELLO, para quem princípio é, por definição, 
“mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição 
fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o espírito e 
servindo de critério para sua exata compreensão e inteligência, exatamente por 
 
1 Para uma compreensão mais completa e profunda do tema, fundamental é a le i tura da 
obra Concei to de Princípios Consti tucionais - Elementos teóricos para uma formulação 
dogmática consti tucionalmente adequada , de Ruy Samuel Espíndola. Da mesma forma, o 
capítulo 8 (Dos Pr incípios Gerais de Direito aos Princíp ios Constitucionais) do Curso de 
Dire i to Consti tucional (7a ed. ) do professor Paulo Bonavides traz uma análise insuperável 
do tema. 
2 Curso de Dire i to Consti tucional . 7a ed. Malheiros, São Paulo, 1998, p. 228. 
MUNDO JURÍDICO 
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definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a 
tônica e lhe dá sentido harmônico...”3 
A despeito de ser uma noção bastante clara, não podemos deixar de lado que 
princípio é um termo multifacetário, equívoco4 e polissêmico5. 
MANOEL GONÇALVES FERREIRA FILHO, discorrendo sobre o tema, faz a 
seguinte elucidação: 
“os juristas empregam o termo ‘princípio’ em três sentidos de alcance diferente. 
Num primeiro, seriam ‘supernormas’, ou seja, normas (gerais ou generalíssimas) 
que exprimem valores e que por isso, são ponto de referência, modelo, para 
regras que as desdobram. No segundo, seriam standards, que se imporiam para o 
estabelecimento de normas específicas - ou seja, as disposições que preordenem 
o conteúdo da regra legal. No último, seriam generalizações, obtidas por indução 
a partir das normas vigentes sobre determinada ou determinadas matérias. Nos 
dois primeiros sentidos, pois, o termo tem uma conotação prescritiva; no 
derradeiro, a conotação é descritiva: trata-se de uma ‘abstração por indução’”6. 
Da mesma forma, GENARO CARRIÓ, citado por EROS ROBERTO GRAU, 
indica sete focos de significação assumidos pelo vocábulo princípio, a partir dele 
enunciando, nada mais, nada menos do que onze significações atribuíveis à expressão 
princípio jurídico7! 
O que é importante assinalar, a despeito da multi-dimensionalidade do sentido 
da palavra, é que, no atual estágio de evolução da Teoria Geral do Direito, sobretudo 
do Direito Constitucional, os princípios jurídicos, em qualquer ângulo em que se 
ponha o jurista ou operador do direito, caracterizam-se por possuírem um grau 
máximo de juridicidade, vale dizer, uma normatividade potencializada e 
predominante. “Tanto uma constelação de princípios quanto uma regra positivamente 
estabelecida podem impor uma obrigação legal”8, na sugestiva passagem de 
RONALD DWORKIN. E mais: “violar um princípio é muito mais grave do que 
transgredir uma norma [rectius, regra]. A desatenção ao princípio implica ofensa não 
apenas a um específico mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de comandos. 
É a mais grave forma de ilegalidade ou inconstitucionalidade, conforme o escalão do 
 
3 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Elementos de Dire i to Adminis trativo . Ed. RT, São 
Paulo, 1980, p. 230. Em sentido semelhante, a Corte Constitucional i tal iana assim 
defin iu pr incíp ios: “são aquelas or ientações e aquelas diret ivas de caráter gera l e 
fundamental que se possam deduzir da conexão s istemática, da coordenação e da ínt ima 
racional idade das normas, que concorrem para formar assim, num dado momento 
histórico, o tec ido do ordenamento juríd ico.” (apud BONAVIDES, Paulo. Curso. . .p. 230) 
4 Cf. SILVA, José Afonso da. Curso de Dire i to Consti tuc ional Posi t ivo . 9a ed. Malheiros, 
São Paulo, 1994, p. 84. 
5 Cf. GRAU, Eros Roberto. A Ordem Econômica na Consti tuição de 1988. 4a ed. Malheiros, 
São Paulo, 1998, p. 76. 
6 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Direi to Consti tucional do Trabalho - Estudos em 
Homenagem ao prof . Amaur i Mascaro do Nascimento . Ed. Ltr, 1991, Vol. I , pp. 73-74. 
7 GRAU, Eros Roberto. A Ordem Econômica na Consti tu ição de 1988. 4a ed. Malheiros, São 
Paulo, 1998, p. 76. 
8 apud BONAVIDES, Paulo. Curso , p. 238. 
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princípio atingido, porque representa insurgência contra todo o sistema, subversão de 
seus valores fundamentais...”9 
Dada a fundamental característica normativa dos princípios, afigura-se acertada 
a noção desenvolvida por CRISAFULI, já em 1952: 
“Princípio é, com efeito, toda norma jurídica, enquanto considerada como 
determinante de uma ou de muitas outras subordinadas, que a pressupõem, 
desenvolvendo e especificando ulteriormente o preceito em direções mais 
particulares (menos gerais), das quais determinam, e portanto resumem, 
potencialmente, o conteúdo: sejam, pois, estas efetivamente postas, sejam, ao 
contrário, apenas dedutíveis do respectivo princípio geral que as contém”10. 
Partindo dessa “pré-compreensão” de princípio como norma jurídica, cumpre 
fazer uma melhor distinção entre regras e princípios, que são, na atual fase de 
evolução da Teoria Geral do Direito, as duas espécies de normas11. O próximo tópico 
tratará do assunto. 
 
2. NORMAS, PRINCÍPIOS E REGRAS 
 
Durante muito tempo houve uma dissociação dos conceitos de normas e 
princípios, o que leva, ainda hoje, a grandes juristas incorrerem no erro primário de 
igualar as regras às normas. 
Graças, em grande parte, aos estudos de ROBERT ALEXY e do jusfilósofo 
norte-americano RONALD DWORKIN, sucessor de HERBERT HART na cátedra 
de Jurisprudence na Universidade de Oxford, essa dissociação foi superada: 
“a dogmática moderna avaliza o entendimento de que as normas jurídicas, em 
geral, e as normas constitucionais, em particular, podem ser enquadradas em 
duas categorias diversas: as normas-princípios e as normas-disposição. As 
normas-disposição, também referidas como regras, têm eficácia restrita às 
situações específicas as quais se dirigem. Já as normas-princípio, ou9 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Elementos de Dire i to Adminis trativo . Ed. RT, São 
Paulo, 1980, p. 230. Os colchetes são nossos. 
10 Apud BONAVIDES, Paulo. Curso .. .p. 230. Em sentido contrário, ARNALDO 
VASCONCELOS: “Os princíp ios gera is de Dire ito, nada obstante sua força v inculante, 
não são, contudo, normas jur íd icas no sentido formal do termo” (Teoria da Norma 
Juríd ica , 3 a ed . Malheiros, São Paulo, 1993, p. 210). " ( . . . ) apesar de terem posit iv idade, 
não constituem normas jur íd icas” (p. 208). Porém, mais à frente, o professor cearense, a 
meu ver , contraditor iamente, sustenta que o princíp io “não representa mera aspiração 
ideológica (. . . ) , mais do que isso: uma norma jur ídica iguais às outras, sem mais, nem 
menos, tanto que não lhe falta a possib i l idade de sancionamento” (p. 210). 
11 Deve ser ressa ltado, outrossim, que alguns autores (Perez Luño, Pietro Sanchis e 
García de Enterr ia ) incluem os va lores, ao lado dos princíp io e das regras, como espécies 
de norma. Porém, por transcender aos estre itos l imites do objeto desse estudo, 
deixaremos de tratar dos valores como espécie de normas , preferindo incluí- los como 
parte componente do próprio princípio , tendo em vista a enorme carga valorat iva que nele 
está inser ida. 
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simplesmente princípios, têm, normalmente, maior teor de abstração e uma 
finalidade mais destacada dentro do sistema.”12 
Seguindo esta trilha, BOBBIO faz um clara análise dos princípios gerais do 
Direito13, inserindo-os no amplo conceito de normas: 
“Os princípios gerais são apenas, a meu ver, normas fundamentais ou 
generalíssimas do sistema, as normas mais gerais. A palavra princípios leva a 
engano, tanto que é velha questão entre juristas se os princípios gerais são 
normas. Para mim não há dúvida: os princípios gerais são normas como todas as 
outras. E esta é também a tese sustentada por Crisafulli. Para sustentar que os 
princípios gerais são normas, os argumentos são dois, e ambos válidos: antes de 
mais nada, se são normas aquelas das quais os princípios gerais são extraídos, 
através de um procedimento de generalização sucessiva, não se vê por que não 
devam ser normas também eles: se abstraio da espécie animal obtenho sempre 
animais, e não flores ou estrelas. Em segundo lugar, a função para qual são 
extraídos e empregados é a mesma cumprida por todas as normas, isto é, a 
função de regular um caso. E com que finalidade são extraídos em caso de 
lacuna? Para regular um comportamento não-regulamentado: mas então servem 
ao mesmo escopo que servem as normas. E por que não deveriam ser 
normas?”14 
Dessume-se, por conseguinte, que, na atual classificação, de cunho pós-
positivista, norma é o gênero do qual são espécies as regras e os princípios (e os 
valores, para os que aceitam essa tese), que se diferenciam lógica e qualitativamente. 
Não pode, pois, o estudioso do direito equiparar a norma jurídica às regras. Estas são 
apenas uma das faces das normas. O jurista, ao analisá-las, deve aferir-lhes a espécie 
(princípios ou regras) e a hierarquia (norma constitucional, legal ou mesmo 
infralegal) para bem entender seu posicionamento no ordenamento jurídico. 
E qual seria a diferença entre regras e princípios? 
A resposta não é simples, mas se pode, com a ajuda de doutrinadores, chegar a 
uma distinção satisfatória. 
 
12 BARROSO, Luís Roberto. In terpre tação e apl icação da Consti tuição , 2a ed. Saraiva, São 
Paulo, 1998, p. 141. 
13 Segundo PAULO BONAVIDES, os pr incípios gera is do d ire ito foram os antecedentes 
históricos dos princípios constitucionais. Vale ressaltar que SAMPAIO DÓRIA, em 
trabalho pioneiro escr ito em 1926 (! ) , cujo tí tulo era Pr incipios Consti tucionais , tendo 
como referência a Constituição Republicana de 1891, já definia os princípios como 
normas: "pr incipios se entendem por normas geraes e fundamentaes que inferem le is. E, 
em dire ito constitucional, pr incip ios são as bases organicas do Estado, aquelas 
general idades do dire ito publ ico, que como naus da civi l ização devem sobrenadar ás 
tempestades pol i t icas, e ás paixões dos homens. Os princip ios constitucionaes da União 
brasi le ira são aquel les canones, sem os quaes não exist ir ia esta União ta l qual é nas 
suas caracter íst icas essenciaes" (apud ESPÍNDOLA, Ruy Samuel. Concei to de Princípios 
Consti tucionais . Revista dos Tr ibunais, São Paulo, 1999, p. 109). 
14 BOBBIO, Norbeto. Teoria do Ordenamento Jurídico. 7a ed. Unb, Brasí l ia, 1996, p. 159. 
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Para CANOTILHO, saber como distinguir, no âmbito do superconceito norma, 
entre regras e princípios, é uma tarefa particularmente complexa, podendo, porém, ser 
utilizado os seguintes critérios por ele sugeridos: 
“a) O grau de abstração: os princípios são normas com um grau de abstracção 
relativamente elevado; de modo diverso, as regras possuem uma abstracção 
relativamente reduzida. 
b) Grau de determinabilidade na aplicação do caso concreto: os princípios, por 
serem vagos e indeterminados, carecem de mediações concretizadoras (do legislador? 
do juiz?), enquanto as regras são susceptíveis de aplicação direta. 
c) Carácter de fundamentalidade no sistema de fontes de direito: os princípios 
são normas de natureza ou com um papel fundamental no ordenamento jurídico 
devido à sua posição hierárquica no sistema das fontes (ex: princípios 
constitucionais) ou à sua importância estruturante dentro do sistema jurídico (ex: 
princípio do Estado de Direito). 
d) ‘Proximidade da ideia de direito’ : os princípios são ‘standards’ juridicamente 
vinculantes radicados nas exigências de ‘justiça’ (DWORKIN) ou na ‘ideia de 
direito’ (LARENZ); as regras podem ser normas vinculantes com um conteúdo 
meramente formal. 
e) Natureza normogenética: os princípios são fundamento de regras, isto é, são 
normas que estão na base ou constituem a ratio de regras jurídicas, desempenhando, 
por isso, uma função normogenética fundamentante”15. 
Na lição de WILLIS SANTIAGO GUERRA FILHO, as regras “possuem a 
estrutura lógica que tradicionalmente se atribui às normas do Direito, com a descrição 
(ou “tipificação”) de um fato, ao que se acrescenta a sua qualificação prescritiva, 
amparada em uma sanção (ou na ausência dela, no caso da qualificação como “fato 
permitido”). Já os princípios fundamentais - prossegue o jurista cearense -, 
igualmente dotados de validade positiva e de um modo geral estabelecidos na 
constituição, não se reportam a um fato específico, que se possa precisar com 
facilidade a ocorrência, extraindo a conseqüência prevista normativamente. Eles 
devem ser entendidos como indicadores de uma opção pelo favorecimento de 
determinado valor, a ser levada em conta na apreciação jurídica de uma infinidade de 
fatos e situações possíveis, juntamente com outras tantas opções dessas, outros 
princípios igualmente adotados, que em determinado caso concreto podem se 
conflitar uns com os outros, quando já não são mesmo, in abstracto, antinômicos 
entre si”16. 
Em outras palavras: 
 
15 Apud ESPÍNDOLA, Ruy Samuel. Concei to de Pr incípios Consti tucionais . Revista dos 
Tr ibunais, São Paulo, 1999, p. 65. 
16 Dire i tos Fundamentais, processo e princíp io da proporcional idade . In : Dos Dire i tos 
Humanos aos Dire i tos Fundamentais . Coor. WILLIS SANTIAGO GUERRA FILHO. Ed. 
Livrar ia do Advogado, Porto Alegre, 1997, p. 17. 
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a) as regras descrevem uma situação jurídica, oumelhor, vinculam fatos 
hipotéticos específicos, que, preenchidos os pressupostos por ela descrito, exigem, 
proíbem ou permitem algo em termos definitivos (direito definitivo), sem qualquer 
exceção. P. ex. “aquele que detiver a coisa em nome alheio, sendo-lhe demandada em 
nome próprio, deverá nomear à autoria o proprietário ou o possuidor” (art. 62 do 
CPC); 
b) os princípios, por sua vez, expressam um valor ou uma diretriz, sem 
descrever uma situação jurídica, nem se reportar a um fato particular, exigindo, 
porém, a realização de algo, da melhor maneira possível, observadas as 
possibilidades fáticas e jurídicas (reserva do possível). Possuem um maior grau de 
abstração e, portanto, irradiam-se por diferentes partes do sistemas, informando a 
compreensão das regras, dando unidade e harmonia ao sistema normativo. P. ex., 
“todos são iguais perante a lei”, onde a igualdade surge como a instância valorativa 
adotada pela Carta Magna. 
Como se observa, a diferença entre os princípios e as regras são quantitativas e 
qualitativas. 
Já no século passado, JEAN BOULANGER, que, segundo PAULO 
BONAVIDES, foi o mais insigne predecessor da normatividade dos princípios, dizia: 
“Há entre princípio e regra jurídica não somente uma disparidade de importância 
mas uma diferença de natureza. Uma vez mais o vocábulo é a fonte de confusão: 
a generalidade da regra jurídica não se deve entender da mesma maneira que a 
generalidade de um princípio”17. 
Pode-se dizer, assim, que as regras são “concreções dos princípios”18, e estes são 
“mandamentos de otimização”19 das regras. Afinal, por trás de toda regra há um 
princípio que a fundamenta20. É a natureza normogenética dos princípios. 
Importante salientar que tanto as regras quanto os princípios são necessários à 
composição do sistema jurídico, pois, na lição de CANOTILHO: 
 “Um modelo ou sistema constituído exclusivamente por regras conduzir-nos-ia 
a um sistema jurídico de limitada racionalidade prática. Exigiria uma disciplina 
legislativa exaustiva e completa - legalismo - do mundo da vida, fixando, em 
termos definitivos, as premissas e os resultados das regras jurídicas. Conseguir-
se-ia um ‘sistema de segurança’, mas não haveria qualquer espaço livre para a 
 
17 BONAVIDES, Paulo. Idem, p. 239. 
18 GRAU, Eros Roberto. Lici tação e Contrato Adminis trativo . Malheiros, São Paulo, 1995, 
p. 16. 
19 A expressão é de Alexy , conforme SANTOS, Fernando Ferre ira dos. Princípio 
Consti tucional da Dign idade da Pessoa Humana. Celso Bastos Editor, São Paulo, 1999, p. 
14. Ressalte-se que Alexy é um dos grandes expoentes dessa dogmática princ ipial is ta que 
domina os d iscursos constitucionais da atual idade. 
20 Dessa assertiva, vem logo à tona a famosa frase do jur isconsulto WACH de que "a le i é 
mais sábia que o legis lador", ou seja, a regra "tem no espír ito do intérprete sua usina e 
complemento de produção" (FALCÃO, Raimundo Bezerra . Hermenêutica . Malheiros, São 
Paulo, 1997, p. 265). Cabe, pois, ao hermeneuta extrair da regra o sentido que melhor se 
coadune com a d iretr iz dada pelo pr incípio que fundamenta essa regra mesma. 
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complementação e desenvolvimento de um sistema, como o constitucional, que 
é necessariamente um sistema aberto. Por outro lado, um legalismo estrito de 
regras não permitiria a introdução dos conflitos, das concordâncias, do 
balanceamento de valores e interesses, de uma sociedade pluralista e aberta. 
Corresponderia a uma organização política monodimensional (...). 
O modelo ou sistema baseado exclusivamente em princípios (...) levar-nos-ía a 
conseqüências também inaceitáveis. A indeterminação, a inexistência de regras 
precisas, a coexistência de princípios conflitantes, a dependência do ‘possível’ 
fáctico e jurídico, só poderiam conduzir a um sistema falho de segurança 
jurídica e tendencialmente incapaz de reduzir a complexidade do próprio 
sistema”21. 
Malgrado possa parecer que essa idéia de sistema jurídico como o somatório de 
regras e princípios tenha valor meramente doutrinário, o certo é que ela enfatiza a 
força normativa e vinculante dos princípios, impondo sua aplicação sempre e sempre. 
De fato, na antiga noção que distinguia as normas dos princípios, estes, por 
possuírem grande traços de indeterminação, tinham valor suplementar, meramente 
indicativo, quando muito, subsidiário. Tratava-se mais de disposição política do que 
jurídica22. 
 Com o evoluir da Teoria Geral do Direito, mormente em face da inserção dos 
princípios nos textos constitucionais, operou-se “uma revolução de juridicidade sem 
precedentes nos anais do constitucionalismo. De princípios gerais se transformaram, 
já, em princípios constitucionais”23. Assim, “as novas Constituições promulgadas 
acentuam a hegemonia axiológica dos princípios, convertidos em pedestal normativo 
sobre o qual assenta todo o edifício jurídico dos novos sistemas constitucionais”24, 
tornando “a teoria dos princípios hoje o coração das Constituições”25. E mais: “a 
constitucionalização dos princípios constitui-se em axioma juspublicístico de nosso 
tempo”26. 
Realmente, considerando que a Constituição é um sistema de normas27, e que os 
princípios, doravante, são peremptoriamente normas de hierarquia constitucional, não 
 
21 Apud ESPÍNDOLA, Ruy Samuel. Concei to de Pr incípios Consti tucionais . Revista dos 
Tr ibunais, São Paulo, 1999, p. 186. 
22 Ainda hoje, há jur istas que não compreendem a verdadeira força normativa dos 
princíp ios. Assim, por exemplo, há quem entenda que a v io lação a um princípio não 
just if ica a concessão de um mandado de segurança, porquanto, no caso, não haver ia um 
"dire ito" l íquido e certo a ser protegido. Trata-se, porém, de uma visão d istorc ida e 
desatual izada que, na verdade, ret ira grande parte da ef icácia protet iva do mandado de 
segurança, vez que, na maior ia dos casos, a vio lação a dire ito l íquido e certo ocorre por 
transgressão a pr incíp ios. 
23 BONAVIDES, Paulo. Curso.. .p. 232. 
24 Idem. P. 237 
25 Idem, p. 253. 
26 Idem, p. 18. 
27 "A Constituição, uma vez posta em vigência, é um documento jurídico, é um sistema de normas. As 
normas constitucionais, como espécie do gênero normas jurídicas, conservam os atributos essenciais destas, 
dentre os quais a imperatividade. De regra, como qualquer outra norma, elas contêm um mandamento, uma 
prescrição, uma ordem, com força jurídica e não apenas moral. Logo, a sua inobservância há de deflagrar 
um mecanismo próprio de coação, de cumprimento forçado, apto a garantir-lhe a imperatividade, inclusive 
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há mais como negar o seu caráter jurídico e vinculante, impondo, por esse motivo, a 
sua observação, densificação e concretização pelos três poderes28 estatais 
(Legislativo, Executivo e Judiciário) e, por que não dizer, pela própria sociedade, 
que, longe de querer adentrar em discussões jusfilosóficas, é a principal destinatária 
das normas jurídicas. 
Concretizar o princípio, seguindo a lição de CANOTILHO, é fazer com que ele 
chegue até a norma de decisão, ou seja, é fazer com o princípio “construa” a norma 
jurídica concreta, passando de normas generalíssimas abstratas (dos textos 
normativos-constitucionais) a normas concretas de decisão (contextos jurídicos-
decisionais). 
Densificar, por sua vez, significa preencher, complementar e precisar o espaço 
normativo de um preceito constitucional, especialmente carecido de concretização, a 
fim de tornar possível a solução, por esse preceito, dos problemas concretos. 
As tarefas de concretização e de densificação de normas andam pois,associadas: 
densifica-se um espaço normativo (= preenche-se uma norma) para tornar possível 
sua concretização e a conseqüente aplicação a um caso concreto. 
É de grande importância ter em mente que a densificação não é tarefa apenas do 
legislador. De fato, a densificação de um princípio é uma tarefa complexa, que se 
inicia com a leitura isolada do texto que enuncia o princípio, passando, em uma 
segunda fase, por uma análise sistemática do texto constitucional, e, a partir daí, 
buscando os contornos capazes de preencher o significado do princípio. Esses 
“contornos”, portanto, podem ser encontrados tanto no próprio texto constitucional, 
quanto na lei, na doutrina, na jurisprudência etc. Ou seja, a densificação do princípio 
é qualquer atividade capaz de fornecer subsídios hábeis a melhorar a compreensão do 
significado da norma. 
 
3. PRINCÍPIOS EXPRESSOS E NÃO EXPRESSOS: “DESCOBRINDO” OS 
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS 
 
 
pelo estabelecimento das conseqüências de insubmissão ao seu comando. As disposições constitucionais são 
não apenas normas jurídicas, como têm um caráter hierarquicamente superior, não obstante a paradoxal 
equivocidade que longamente campeou nesta matéria, considerando-as prescrições desprovidas de sanção, 
mero ideário não-jurídico". (BARROSO, Luís Roberto. A Constituição e a efetividade de suas normas. Limites 
e Possibilidades da Constituição Brasileira. 3a ed. atual, Renovar, Rio de Janeiro, 1996, p. 287) 
28 O termo é aqui uti l izado com acepção semelhante à dada por Montesquieu, qual se ja, a 
de “Poder Constituído” , pois, conquanto se ja termo bastante cr i t icado - vez que “poder” , 
no aspecto substancial, é uno e indiv is íve l e pertence ao povo - ainda está consagrado 
em nossa Carta Magna e reforça a importância e força pol í tica das três funções estatais, 
além de ser amplamente usado pela melhor doutr ina. Nas palavras de José de 
Albuquerque Rocha: "a 'div isão dos poderes' , na verdade, é div isão de órgãos, ou 
separação relat iva de órgãos, para exerc itarem as dist intas funções do Estado. Uma coisa 
é o poder do Estado, uno e indiv is ível , outra coisa é a d ivers idade de funções com a 
correspondente d ivers idade de órgãos preordenados ao seu exerc íc io" (Estudos sobre o 
Poder Judiciár io . Malheiros, São Paulo, 1995, p. 13) 
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“Por que, toleirões, fazer tratantadas fora da lei, se há lugar de sobra para 
fazê-las dentro?” G. Dossi 
 
Se por um lado parece fácil aceitar a idéia de que os princípios expressos são 
normas jurídicas e, por isso mesmo, devem ser tratados como normas capazes de 
impor obrigações e direitos no mundo fático, o mesmo não se pode afirmar quando 
nos referimos aos princípios não expressos. 
Com efeito, ninguém duvida que o “princípio da função social da propriedade”, 
explícito no art. 5o, inc. XXIII, da CF/88, deve ser por todos observado, sobretudo 
por se tratar de norma elevada à categoria de cláusula pétrea ou, como preferem 
alguns, garantia de eternidade. 
Por outro lado, bem mais difícil é admitir a juridicidade de princípios tais qual o 
da proporcionalidade, ou mesmo da unidade da Constituição, que carecem de 
disposição expressa29. 
No entanto, deve-se ter em conta - e isto já é pacífico, apesar das intermináveis 
discussões em torno do Direito Natural, que parece estar superada em face do 
surgimento dessa nova teoria pós-positivista que, ao “valorizar” a norma, considera 
que o Direito Natural está “positivado” - que os princípios não necessitam estar 
expressos num determinado diploma jurídico para ter força vinculante, vez que eles 
podem ser encontrados “de forma latente” no ordenamento. “Assim como quem tem 
vida física, esteja ou não inscrito no Registro Civil, também os princípios ‘gozam de 
vida própria e valor substantivo pelo mero fato de serem princípios, figurem ou não 
nos Códigos”30. 
 
29 Quanto ao pr incíp io da proporcional idade, é de se anotar que vár ias le is 
infraconstitucionais fazem a ele referência, sendo de se destacar que a recente Lei do 
Processo Administrativo Federa l (9.784, de 29 de janeiro de 1999), em seu art . 2 o , inclui 
expressamente a proporcional idade entre os informadores do procedimento 
administrat ivo. 
30 BONAVIDES, Paulo. Curso. . . . p. 229. Cr ít ica interessante acerca da necessidade de se 
"normatizar" a Constituição é fe i ta por LUÍS ROBERTO BARROSO: " ( . . . ) . Em matér ia de 
Dire ito Constitucional , é fundamental que se diga, ser posit iv ista não signi f ica reduzir o 
dire ito a norma, mas s im elevá- lo à condição de norma, pois e le tem sido menos que isto. 
Não é próprio das normas jur íd icas - e , ipso facto, das normas constitucionais - suger ir , 
aconselhar, a lv i trar . São elas comandos imperativos. O resgate da imperativ idade do 
texto constitucional, por óbvio que possa parecer, é uma inst igante novidade neste Pa ís 
habituado a maltratar suas inst i tuições. 
 Em busca desse desiderato, é importante difundir uma concepção de Direito 
Constitucional dotada de rigor c ientíf ico, com apropriada uti l ização de princíp ios, 
conceitos e e lementos interpretat ivos. Esta é a única forma de isolá-lo do que se poder ia 
chamar de charlatanismo constitucional, que é o discurso constitucional inte iramente 
dissociado do dire ito, desenvolvido em níve l retór ico, com vulgar idade e inciência. 
 Este d iscurso normativista e ' c ientí f ico ' não constitui uma preferência acadêmica 
ou uma opção estét ica. Ele resulta de uma necessidade histór ica. Sem ele , o Dire ito 
Constitucional continuaria uma miragem, com as honras de uma falsa supremacia , que 
não se traduz em nenhum proveito para os cidadãos. Sobretudo os que, já desamparados 
pela fortuna, f icam também desamparados da proteção das normas jur ídicas. 
 Faço, todavia, a ressalva de que, não sendo f i losoficamente posit iv ista, espero 
ainda viver o dia em que, resgatada a densidade juríd ica do d ire ito constitucional, possa 
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Com efeito, os princípios jurídicos podem estar expressamente enunciados em 
normas explícitas ou podem ser descobertos no ordenamento jurídico, sendo que, 
neste último caso, eles continuam possuindo força normativa. Ou seja, não é por não 
ser expresso que o princípio deixará de ser norma jurídica. Reconhece-se, destarte, 
normatividade não só aos princípios que são, expressa e explicitamente, 
contemplados no âmago da ordem jurídica, mas também aos que, defluentes de seu 
sistema, são anunciados pela doutrina e descobertos no ato de aplicar o Direito31. 
Como observa LUÍS ROBERTO BARROSO, 
“os grandes princípios de um sistema jurídico são normalmente enunciados em 
algum texto de direito positivo. Não obstante, e sem pretender enveredar por 
discussão filosófica acerca do positivismo e jusnaturalismo, tem-se, aqui, como 
fora de dúvida que estes bens sociais supremos existem fora e acima das regras 
legais, e nelas não se esgotam, até porque não tem caráter absoluto e se 
encontram em permanente mutação. No comentário de Jorge Miranda, ‘o Direito 
nunca poderia esgotar-se nos diplomas e preceitos constantemente publicados e 
revogados pelos órgãos do poder’”32. 
Apesar disso, o mais prudente é que os princípios sejam, na medida do possível, 
expressos, a fim de que se prestigiem a segurança jurídica e a harmonia sistemática 
do direito33, evitando-se, dessa forma, que os mais apegados aos formalismos de 
outrora neguem a existênciade determinado princípio, tal como ocorre ainda hoje 
com o princípio da proporcionalidade, ou então que haja um “abuso principiológico” 
por parte dos operadores do direito, levando o intérprete a “encontrar” um princípio 
que não esteja “descoberto” no texto constitucional, “mas em instância valorativa 
fundada em subjetivismos, em posturas axiológicas, ideológicas, ou outras formas de 
subjetividade interpretativa, que frustrem a tendencial objetividade exigível na 
atividade de extração dos princípios da ordem constitucional positiva”, fazendo com 
 
dedicar-me à at iv idade mais atraente de combiná-lo e temperá- lo com outros domínios. 
Não apenas os mais ev identes - pol í t ica, socio logia, economia - , mas outros mais 
fascinantes, como a psicanál ise, a metaf ísica , a l inguagem." Cf. "A Efet ividade das 
Normas Constitucionais Revis itada", Revista de Dire ito Administrat ivo, Rio de janeiro, 
Renovar, n. 197, jul./set. 1994, p. 30-60, p. 31. 
31 ESPÍNDOLA, Ruy Samuel. Concei to de Princíp ios Consti tuc ionais . Revista dos 
Tr ibunais, São Paulo, 1999, p. 55. 
32 BARROSO, Luís Roberto. Direi to . . .p.288. 
33 Neste sentido, JOSÉ DE ALBUQUERQUE ROCHA: “Segundo a lguns, os princíp ios não 
necessitar iam de formulação normativa expl íc i ta. No entanto, pensamos que a fa lta de 
concreção normativa dos pr incípios, expressão da certeza jur íd ica, pode trazer certo grau 
de insegurança. Ademais, são tantas, e tão heterogêneas, as proposições que se incluem 
entre os pr incíp ios gerais, que o mais prudente é recorrer ao ordenamento jur íd ico-
posit ivo para determiná-los, especia lmente à Constituição que, como norma 
fundamental, e fundamentadora do ordenamento jur íd ico, é a instância onde devemos 
colher os mater ia is para uma ref lexão sobre os pr incíp ios. Isto não nega, porém, a 
existência de pr incípios que, embora não expressos, podemos considerar implíc i tos no 
ordenamento juríd ico” (Teoria. . .p. 48). 
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que, de forma arbitrária, sejam introduzidas normas exóticas, que poderão destruir a 
ordenação jurídica34. 
LUÍS ROBERTO BARROSO, no mesmo texto já citado, enumera alguns 
princípios que, embora não expressos no texto constitucional ou em qualquer outro 
diploma escrito, são de comum observância: princípio da supremacia da Constituição, 
princípio da unidade da Constituição, princípio da continuidade da ordem jurídica, 
princípio da interpretação conforme a Constituição. Em suma: são princípios que, 
embora não constem no texto constitucional, estão positivados, pois decorrem do 
próprio sistema em que estão inseridos. 
Aliás, é interessante notar que a própria Constituição pátria vigente “positiva” 
este entendimento quando afirma que “os direitos e garantias expressos nesta 
Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela 
adotados” (§2o, do art. 5o). 
 
4. PODE UM PRINCÍPIO EMBASAR UMA PRETENSÃO EM JUÍZO? 
 
Feitas essas considerações, podemos agora formular e responder uma questão 
processual que atormenta deveras os juristas. Diz respeito às condições da ação, mais 
especificamente à possibilidade jurídica do pedido: pode um princípio, por si só, 
fundamentar uma pretensão em juízo? Em outras palavras: decorrem direitos 
subjetivos dos princípios ou seria “juridicamente impossível” recorrer ao juridiciário 
fundamentado tão-somente em um princípio constitucional? 
Nossa resposta a essa pergunta é categórica: é óbvio que os princípios, enquanto 
normas jurídicas, podem fundamentar autonomamente uma pretensão! 
Embora possa não parecer difícil essa assimilação, sobretudo em face de tudo o 
que foi exposto acerca da normatividade dos princípios, o certo é que não foi fácil - 
como ainda hoje para alguns juristas não o é - aceitar que os princípios podem gerar 
direitos subjetivos. Até CANOTILHO já defendeu, nos seus primeiros estudos, que 
os princípios não poderiam, de per si, fundamentar autonomamente pretensões: 
“enquanto um direito constitucional pode ser directamente invocado em tribunal 
como justificativo de um recurso de direito público, já a inobservância de um 
princípio é considerada insusceptível de, por si só, fundamentar autonomamente um 
recurso contencioso. Seria, por exemplo, difícil fazer valer uma pretensão em tribunal 
 
34 ESPÍNDOLA, Ruy Samuel. Conceito de Princíp ios Constitucionais . Revista dos 
Tr ibunais, São Paulo, 1999, p. 197 e 200. Vale a pena reproduzir o ensinamento de 
CANOTILHO sobre o assunto: "Mas o que deve entender-se por pr incípios consignados 
na constituição? Apenas os pr incípios constitucionais escr itos ou também os pr incípios 
constitucionais não escr itos? A resposta mais aceitável, dentro da perspetiva 
princip ial ista (. . . . ) , é a de que a consideração de princípios constitucionais não escr itos 
como e lementos integrantes do b loco da constitucional idade só merece aplauso 
relat ivamente a pr incípios reconduzíve is a uma densif icação ou revelação especí f ica de 
princíp ios constitucionais posit ivamente p lasmados" (ESPÍNDOLA, Ruy Samuel. Conceito 
de Pr incípios Constitucionais . Revista dos Tr ibunais, São Paulo, 1999, p. 198) 
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invocando-se tão somente o princípio da proporcionalidade. Os princípios 
fundamentais, fornecendo embora directivas jurídicas para uma correta análise dos 
problemas constitucionais, não possuem normatividade individualizadora que os 
torne suscetíveis de aplicação imediata e autónoma”35. Somente posteriormente, após 
seu “encontro teórico” com ALEXY e DWORDIN, é que o mestre português passou 
a ter um posicionamento mais principialista, passando a reconhecer a força 
normativa imediata dos princípios constitucionais. 
 
5. AFRONTA A PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS E O RECURSO 
EXTRAORDINÁRIO 
 
É possível encontrar uma postura tradicional (anti-principiológica) nas decisões 
do Supremo Tribunal Federal ao entender que 
“não cabe recurso extraordinário quando a alegada ofensa à Constituição é 
reflexa ou indireta, porquanto, a prevalecer o entendimento contrário, toda a 
alegação de negativa de vigência de lei ou até de má interpretação desta passa a 
ser ofensa a princípios constitucionais genéricos como o da reserva legal, o do 
devido processo legal ou o da ampla defesa, tornando-se, assim, o recurso 
extraordinário - ao contrário do que pretende a Constituição - meio de ataque à 
aplicação à legislação infraconstitucional” (STF, AgRg 170637-7, rel. Min. 
Moreira Alves). 
No nosso entender, quando a Constituição determina que caberá recurso 
extraordinário quando a decisão recorrida contrariar dispositivo da Constituição (art. 
102, III, a), é inegável que, se a decisão recorrida contrariar princípio constitucional, 
configurado está o pressuposto para o cabimento do recurso extraordinário. Nem se 
diga que, no caso, a contrariedade seria “reflexa” ou “mediata”. Primeiro, porque a 
Constituição não exige que a contrariedade seja direta; segundo, porque os princípios 
constitucionais são normas jurídicas e, por isso, sempre que a decisão contrariar o 
princípio estará contrariando a norma constitucional diretamente e na sua pior forma 
de violação, que é a contrariedade a princípio. Do contrário, o princípio 
constitucional seria mero ideário político, destituído do força sancionatória, e todos se 
sentiriam “à vontade” para os contrariar. 
Em sintonia com esse posicionamento, o Min. Marco Aurélio dá-nos a solução 
ideal: 
“Caso acaso, compete ao Supremo Tribunal Federal exercer crivo sobre a 
matéria, distinguindo os recursos protelatórios daqueles em que versada, com 
procedência, a transgressão a texto constitucional, muito embora torne-se 
necessário, até mesmo, partir-se do que previsto na legislação comum. 
Entendimento diverso implica relegar à inocuidade dois princípios básicos em 
 
35 Esse texto pode ser encontrado na primeira edição de seu Dire i to Consti tuc ional , de 
1977. 
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um Estado Democrático de Direito - o da legalidade e do devido processo legal, 
com a garantia da ampla defesa, sempre a pressuporem a consideração de 
normas estritamente legais” (RE-158655 / PA). 
 
6. CONCLUSÃO 
 
Não há mais dúvidas: os princípios, ao lado das regras, são normas jurídicas. E 
mais: os princípios, cuja ambiência natural é a Constituição, são normas jurídicas 
com um grau máximo de juridicidade, cuja normatividade é, por conseguinte, 
potencializada. 
Se isso é verdade - e, nesse ponto, parece que não há mais tanta discussão 
quanto havia outrora -, por que então os nossos Tribunais insistem em não reconhecer 
a força normativa dos princípios? Por que há quem afirme que o princípio não pode 
fundamentar uma pretensão jurídica em juízo? Por que há quem defenda que um 
mandado de segurança não pode ser impetrado com base unicamente em princípios? 
Será que um princípio não pode ser um "direito" em líquido e certo? Por que a 
violação a princípio constitucional, segundo a orientação vetusta do Supremo 
Tribunal Federal, não enseja o cabimento de recurso extraordinário? Violar um 
princípio constitucional não é violar a própria Constituição, de forma direta? 
A resposta para todas essas questões é bem simples: os nossos juristas ainda não 
dão o devido valor à força normativa dos princípios. E o pior: fazem uma completa 
inversão de valores, fazendo com o princípio tenha que se rebaixar à lei para ser 
aplicado, como se fosse o princípio que girasse em torno da lei, e não o inverso. 
Para finalizar o presente artigo, que abordou sucintamente alguns aspectos 
acerca da normatividade dos princípios constitucionais, permitimo-nos transcrever 
passagem de texto de PAULO BONAVIDES que sintetiza bem tudo o que foi 
exposto: 
“Tudo quanto escrevemos fartamente acerca dos princípios, em busca de sua 
normatividade, a mais alta de todo o sistema, porquanto quem os decepa arranca 
as raízes da árvore jurídica, se resume no seguinte: não há distinção entre 
princípios e normas, os princípios são dotados de normatividade, as normas 
compreendem regras e princípios, a distinção relevante não é, como nos 
primórdios da doutrina, entre princípios e normas, mas entre regras e princípios, 
sendo as normas o gênero, e as regras e os princípios a espécie. 
Daqui já se caminha para o passo final da incursão teórica: a demonstração do 
reconhecimento da superioridade e hegemonia dos princípios na pirâmide 
normativa; supremacia que não é unicamente formal, mas sobretudo material, e 
apenas possível na medida em que os princípios são compreendidos e 
equiparados e até mesmo confundidos com os valores, sendo, na ordem 
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constitucional dos ordenamentos jurídicos, a expressão mais alta da 
normatividade que fundamenta a organização do poder”36. 
 
BIBLIOGRAFIA 
 
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VASCONCELOS, Arnaldo. Teoria da Norma Jurídica. 3a ed. Malheiros, São Paulo, 1993 
 
36 Curso de Dire i to Consti tucional , p. 255.

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