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FERRAMENTAS DE CONTROLE SOCIAL

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Ferramentas de controle social
Luiz Carlos Gonçalves
O homem é um ser social e político, por isso vive em sociedade. É através dessa associação que se tornou possível a cooperação em busca de objetivos em comum. Para funcionar, no entanto, uma sociedade precisa de multiplicidade de indivíduos, de interação social e de previsibilidade de comportamentos. A interação social se dá de três formas: através da cooperação, da competição e do conflito. O conflito é fruto de um impasse, geralmente advindo da disputa por poder e prestígio. Ocorre quando os interesses em jogo não encontram uma solução pelo diálogo. Haver conflitos no meio social não indica que a sociedade não seja evoluída. É um fenômeno social inevitável fruto da interação entre os indivíduos. A forma como uma sociedade lida com os conflitos é que pode demonstrar o grau de evolução desse grupo. Afinal, não haveria vida coletiva se fosse permitido que cada indivíduo procedesse de acordo com seus impulsos e desejos pessoais, sem respeitar os interesses dos demais (Betioli, 2015, p. 50).
Uma sociedade organizada consegue prever os comportamentos do indivíduo e, assim, prevenir conflitos. Caso ocorram, é preciso ter mecanismos eficientes para mediá-los e para punir, se for o caso, resultados advindos deles. No início da organização social todo conflito era resolvido com base na força física. A mediação de demandas sociais através da força física, no entanto, mostra-se ineficaz à medida em que os conflitos se tornam mais complexos. Daí a necessidade de um processo igualmente sofisticado de regulamentação da conduta em sociedade visando à harmonia social. Os conflitos, então, passam a ser mediados através de ferramentas de controle social, conceito empregado pela primeira vez na literatura pelos sociólogos americanos Albion Small e George Vincent, no século XIX. 
Inicialmente, essas ferramentas eram principalmente a religião e a moral. A polidez social também ajuda a evitar conflitos: dizer “bom dia!”, digitar “hahaha” depois da piada sem graça na rede social, elogiar o penteado da esposa ou a camisa nova do chefe podem livrar o indivíduo de embates futuros... Mas, antes do Estado Moderno eram a religião e a moral que mandavam mesmo. Ou seja, a decisão sobre quem estava certo em um conflito era tomada com base em interpretações bíblicas ou em padrões de comportamento em vigor. O problema é que, após o Estado Moderno, a imposição de preceitos de cunho moral e religioso, no entanto, não se revela mais eficiente. Com e a popularização dos direitos individuais, tão propalados por Revoluções como a Francesa e a Americana, resolver um conflito com base em uma visão religiosa ou na noção de certo ou errado de uma parte da sociedade não condiz com o espírito democrático que começa a se impor nas sociedades ocidentais. Além disso, as noções éticas e a moral religiosa variam no tempo e no espaço, o que traz insegurança quanto à forma de se abordar um conflito.
Nesse contexto, o Direito surge como uma forma civilizada de se resolverem conflitos. O Direito é constituído de normas previamente acordadas e sujeitas à adequação com a realidade histórica do homem. Para se chegar a essas normas ou leis, o Estado escolheu algumas relações sociais a que passou a chamar de relações jurídicas. Apenas para essas relações existem normas de regulamentação. Dessa forma, o indivíduo passa a ter mais segurança em agir socialmente porque ele sabe previamente as regras de conduta preconizadas pelo Estado. Surge, então, uma noção de justiça como sendo “fazer valer as normas preconizadas pelo Estado para comportamentos individuais ou coletivos”. No Direito, portanto, não se fala em certo ou errado, mas em obediência a normas. 
“O Direito, assim, provoca, pela precisão e previsibilidade de suas regras, um grau de certeza e segurança no comportamento humano que não pode ser alcançado pelos demais instrumentos de controle social: como religião e moral” (Betioli, 2015). Age preventivamente, diante do conflito concreto e, após, punindo. Mas é uma força civilizatória coercitiva que também está sujeita a críticas. Para o filósofo Karl Marx (1818-1883), o Direito não é um instrumento para a realização da justiça mas uma “superestrutura ideológica a serviço das classes dominantes”. Os defensores de pontos de vista como esse baseiam-se no fato de que as normas do Direito são elaboradas a partir de valores morais de grupos sociais específicos. Assim, não deixam de estar entranhadas de valores que podem não ser compartilhados pela maioria. É verdade, mas a vantagem das normas do Direito é que elas podem ser alteradas. No Brasil, o divórcio já foi proibido e o adultério, um crime. Com a evolução da sociedade, normas morais perdem vigor e outras surgem. Esse movimento leva à mudança também das normas jurídicas. Hoje, por exemplo, a união civil de pessoas do mesmo sexo implica os mesmos direitos e obrigações que aquela entre pessoas de sexos diferentes. Em uma sociedade regulada apenas por noções religiosas ou morais essas mudanças dificilmente teriam ocorrido.
O Direito, portanto, é fruto direto da dimensão social do homem e do aprimoramento das suas relações sociais. Trata-se de uma força cujo poder é um atributo imprescindível e sem o qual não passa de um conjunto de normas morais.

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