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TRANSTORNO DE PERSONALIDADE ANTI SOCIAL E COMPORTAMENTO CRIMINAL Lukamba Joaquim Angola

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UNIVERSIDADE AGOSTINHO NETO 
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS 
Departamento de Psicologia 
 
 
TRANSTORNO DE PERSONALIDADE 
ANTISSOCIAL E COMPORTAMENTO CRIMINAL 
(Caso: Reclusos do Presídio Militar de Luanda) 
 
 Autor: Lukamba João Joaquim 
 Tutor: Professor Doutor José da Costa Berdinadinel 
Alcântara Pedro Ph.D. 
 
Trabalho de Fim do Curso apresentado para obtenção do Grau de Licenciado em 
Psicologia, opção Criminal 
 
 
 
 Luanda/2016 
 
 
II 
 
DEDICATÓRIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
À Minha querida Mãe 
Delfina A. Augusto Fernando 
6 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Os meus agradecimentos vão primeiramente para os meus familiares (irmãos, tios, 
primos) em seguida, para a Direcção da Faculdade de Ciências Sociais da 
Universidade Agostinho Neto; ao Departamento de Psicologia, à todos os 
Professores, em particular, ao meu Orientador Professor Doutor Alcântara Costa, 
por ter sido o meu Mestre e guia nesta difícil missão, agradeço pela inspiração, pelos 
ensinamentos e por trazer-me ao campo apaixonante da Psicologia Criminal bem 
como também, por assumir a paternidade académica, serei eternamente grato. 
Agradeço à Professora Doutora Maria Adelina do Nascimento Alberto, por todo 
o apoio material e pelos conselhos que me tem dado, a ela, também serei eternamente 
grato. Ao Professor Doutor Aníbal João Ribeiro Simões pelos valiosos 
ensinamentos no campo da metodologia científica, pois, graças a esses ensinamentos, 
foi possível terminar este trabalho em tempo útil. Agradeço à Psicóloga e 
pesquisadora Cabo-Verdiana Aleida de Jesus Gomes Varela, pelo suporte dado na 
compreensão do manual da P-scan e pelos conhecimentos partilhados ao longo da 
realização da pesquisa. Ao Comandante do Presídio Militar de Luanda, à todos os 
reclusos participantes da pesquisa e não só. Finalmente, quero agradecer todos os 
colegas, amigos, conhecidos e pessoas que, directa ou indirectamente contribuíram 
para que este trabalho tivesse êxitos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
 
RESUMO 
 
O estudo foi realizado no corrente ano e teve como objectivo principal, Compreender 
a relação entre o Transtorno de Personalidade Anti-social e o comportamento 
Criminal nos reclusos do Presídio Militar de Luanda. Com base na metodologia 
qualitativa e quantitativa, realizou-se o levantamento bibliográfico bem como o 
contexto histórico tendo como suportes teóricos, as teorias evolucionista de 
Stalenheim, a teoria psicanalítica de Freud e a teoria interpessoal de Kiesler e 
Benjamim. A população em estudo foi composta por 38 reclusos condenados onde 
foi extraída uma amostra de 36 para a parte quantitativa e 1 técnico da área de 
reeducação penal para a parte qualitativa. Os instrumentos utilizados para a recolha 
de dados foram, um questionário padronizado da P-Scan e um guião de entrevista. 
Para o tratamento, utilizou-se o manual da P-scan, os Softwares Nvivo10 e o SPSS. 
Depois do tratamento e análise dos dados, concluímos que, mais do que a metade dos 
reclusos inqueridos apresentam traços claros do transtorno de personalidade anti-
social e comportamento criminal (76%) conforme os dados da tabela 12. E fica por 
se provar apenas o grau de correlação entre estes dois fenómenos. Concluímos 
também que os temas que descrevem correctamente este comportamento anti-social 
são os seguintes: indivíduo, sociedade, problemas, comportamento criminal e 
reeducação. Estes dados resultaram da análise de conteúdo. 
Palavras-chave: personalidade anti-social, comportamento criminal, transtorno. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
 
ABSTRACT 
 
 The study was conducted in the current year and its main objective, understand the 
relationship between Personality Disorder Antisocial and criminal behavior in the 
Military Prison inmates Luanda. Based on qualitative and quantitative methodology 
was held the literature and the historical context having as theoretical support, the 
evolutionary theories of Stalenheim, psychoanalytic theory of Freud and the 
interpersonal theory of Kiesler and Benjamin. The study population consisted of 38 
prisoners convicted where a sample was taken from 36 for the quantitative part and 1 
technician criminal rehabilitation area for the qualitative part. The instruments used 
for collecting data, a standardized questionnaire P-Scan and an interview guide. For 
the treatment, we used the P-manual scan, the software Nvivo10 and SPSS. After 
processing and analysis of data, we find that more than half of the surveyed prisoners 
with clear traces of antisocial personality disorder and criminal behavior (76%) as 
table data are 12. And for only prove the degree of correlation between these two 
phenomena. We also conclude that the issues that properly describe this antisocial 
behavior are: individual, society, problems, criminal behavior and reeducation. 
These data resulted from content analysis. 
Keywords: antisocial personality, criminal behavior disorder. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
 
 
ÍNDICE GERAL 
INTRODUÇÃO……………………………………………………………………..10 
IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA ........................................................................ 14 
JUSTIFICAÇÃO DO ESTUDO ................................................................................. 15 
OBJECTIVOS ............................................................................................................ 16 
HIPÓTESES ............................................................................................................... 16 
VARIÁVEIS………………………………………………………………………...14 
DELIMITAÇÃO E LIMITAÇÃO .............................................................................. 17 
METODOLOGIA ....................................................................................................... 18 
Instrumentos ................................................................................................................ 19 
Critérios de seleção da amostra .................................................................................. 20 
Estrutura do trabalho ................................................................................................... 21 
CAPÍTULO I - TRANSTORNO DE PERSONALIDADE ANTI-SOCIAL E 
COMPORTAMENTO CRIMINAL……………………………………………...22 
1.1 - Definição de termos e conceitos ........................................................................ 22 
1.2 – Contexto Histórico ................................................................................... 23 
1.2.1- Contribuições de Hervey Cleckle…………………………………………….23 
1.3 -Teorias sobre o transtorno de personalidade anti-social relacionadas ao 
comportamento criminal ............................................................................................ 25 
1.3.1 - Teoria evolucionista de Stalenheim………………………………………….25 
1.3.2 - Teoria psicanalítica…………………………………………………………..27 
1.3.4 - Teoria interpessoal…………………………………………………………...28 
1.4 - Transtorno de personalidade anti-social segundo o DSM-IV ........................... 30 
1.4.1- Características do Transtorno de Personalidade Anti-Social .......................... 30 
10 
 
 
1.5 – Diagnósticos do Transtorno de Personalidade Anti-Social segundo Cleckey, 
Hare e o DSM-IV. ...................................................................................................... 31 
1.5.1 – Factores que desencadeiam o Transtorno de Personalidade Anti-Social ...... 35 
1.5.1.1 - Factores neurofisiológicos do Transtorno de Personalidade Anti-Social….361.5.1.2 - Factores psicológicos do Transtorno de Personalidade Anti-Social………37 
1.5.1.3 – Outros factores do Transtorno de Personalidade Anti-Social……………..40 
1.6- Transtornos de personalidade e a perícia psicológica………………………….40 
CAPÍTULO II – RELAÇÃO DO TRANSTORNO DE PERSONALIDADE 
ANTI-SOCIAL COM O COMPORTAMENTO CRIMINAL ............................. 42 
2.1 – Conceituação sobre o comportamento criminal ................................................. 42 
2. 2 – Traços da personalidade criminosa ................................................................... 43 
2.3 – A tripla maturidade como garantia da formação de uma personalidade 
saudável……………………………………………………………………………...45 
CAPÍTULO III – TRATAMENTO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS 
RESULTADOS ......................................................................................................... 47 
3.1 – Caracterização da instituição em estudo ............................................................ 47 
3.2 – Procedimentos éticos e dificuldades encontradas .............................................. 48 
3.3 - Resultado da pesquisa qualitativa ....................................................................... 48 
3.3.1 - Técnica interpretativa ...................................................................................... 48 
3.3.2 - Caracterização da amostra em estudo .............................................................. 48 
3.3.3 - Análise temática .............................................................................................. 49 
3.4 - RESULTADOS DA PESQUISA QUANTITATIVA ........................................ 52 
3.4 - Caracterização dos reclusos de acordo com os níveis de preocupação 
relactivamente ao Transtorno de Personalidade Anti-social ....................................... 65 
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS .......................................................................... 73 
CONCLUSÕES .......................................................................................................... 74 
SUGESTÕES .............................................................................................................. 76 
11 
 
 
Referências Bibliográficas ...........................................Erro! Marcador não definido. 
APÊNDICES E ANNEXOS ....................................................................................... 80 
 
ÍNDICE DE TABELAS E GRÁFICOS 
Tabela 1 - Distribuição da amostra qualitativa pelas variáveis sócio-
demográficas………………………………………………………………………...43 
Tabela e Gráfico 2- Distribuição da amostra em relação a idade e ao 
gênero………………………………………………………………………………..46 
Tabela e Gráfico 3- Distribuição da amostra de acordo as habilitações 
literárias……………………………………………………………………………...47 
 
Tabela e Gráfico 4 – Distribuição da amostra de acordo às profissões para além de 
Militar………………………………………………………………………………48 
 
Tabela e Gráfico 5 – Distribuição da amostra de acordo ao tipo de 
crime………………………………………………………………………………...49 
Tabela e Gráfico 6 – Distribuição da amostra de acordo aos tipos de 
pena………………………………………………………………………………….50 
Tabela e Gráfico 7 – Distribuição da amostra de acordo ao uso de 
drogas…………..........................................................................................................51 
Tabela e Gráfico 8 – Distribuição da amostra de acordo ao uso de 
álcool………………………………………………………………………………...52 
 
Tabela e Gráfico 9 – Parece não ser capaz de compreender os sentimentos dos 
outros?.........................................................................................................................53 
Tabela e Gráfico 10 – Quando era adolescente foi considerado irrequieto e 
indisciplinado?............................................................................................................54 
Tabela e Gráfico 11 – Os teus olhos não mostram sentimento nem 
emoção?......................................................................................................................55 
Tabela e Gráfico 12 – Considera-se como alguém que não pára em um lugar 
fixo?............................................................................................................................56 
Tabela e Gráfico 13 – Tem explicações convincentes (nas quais os outros 
acreditam) para todo o comportamento?.....................................................................57 
Tabela e Gráfico 14 – Distribuição da amostra de acordo aos níveis da faceta 
interpessoal………………………………………………………………………….59 
Tabela e Gráfico 15 - Distribuição da amostra de acordo aos níveis da faceta 
Afectiva……………………………………………………………………………..60 
Tabela e Gráfico 16 – Distribuição da amostra de acordo aos níveis da faceta estilo 
de vida………………………………………………………………………………61 
 
12 
 
 
Tabela e Gráfico 17 – Apresentação da amostra de acordo ao resultado total da P-
Scan sobre a prevalência do Transtorno de Personalidade Anti-
Social………………………………………………………………………………...62 
 
Tabela 18 – Correlação de Pearson: Transtorno de Personalidade Anti-
social………………………………………………………………………………...63 
 
Tabela 19 – Relatório de correlação de Pearson……………………………………64 
 
Tabela 20 – Correlação de Pearson: Transtorno de Personalidade anti-social e 
substâncias Psicoactivas……………………………………………………………..64 
 
 
 
 
13 
 
 
INTRODUÇÃO 
A conduta criminosa, desde os primórdios é explicada de várias maneiras por 
diversos teóricos. Causas como determinações genéticas, distúrbios neurofisiológicos 
e aspectos da dinâmica social têm sido apontadas, com base em estudos aturados 
desenvolvidos por especialistas da Antropologia Criminal, Psiquiatria, Psicologia e 
da Sociologia Criminal. 
Teorias como a do criminoso nato de Cesare Lombroso e seus discípulos: 
Charles Goring «hereditariedade»; Ernest Hooton «inferioridade antropológica»; 
W. Sheldon «tipo constitucional»; H. Goddard e Kuhlman «debilidade mental», 
dominaram as discussões em torno da denominada escola positivista cujo patrono foi 
Lombroso. Não tardou para juntarem-se ao debate as “teses ecléticas” 
fundamentadas pelos Glueck que, no entender de Andrade e Dias (2013) “era 
irrecusável que os indivíduos de predominância mesomórfica exibissem um claro 
«potencial de delinquência». O que se compreende dada a sua energia e tendência 
para a acção, bem como o facto de serem exageradamente frouxos nos seus 
“mecanismos de inibição”. 
Dada as discussões acesas entre estas duas escolas, juntaram-se também as 
teorias psicodinâmicas baseadas na psicanálise de Sigmund Freud passando então, 
para a psicologia criminal no sentido mais amplo, colocando na mesa o debate sobre 
a natureza Versos educação ou seja, a dualidade cunhada nos Estados Unidos como 
Nature/Furture, posteriormente, surgem as teorias sociológicas particularmente a 
teoria da anomia sustentada por Émile Durkheim. 
Foi então, a partir destes cenários explicativos que levamos a cabo esta 
pesquisa sobre o Transtorno de personalidade anti-social, um estudo sobre a relação 
com o comportamento criminal. A pesquisa foi realizada com os reclusos do Presídio 
Militar de Luanda. Para a operacionalização da pesquisa, foram utilizados dois 
grandes instrumentos: um questionário padronizado de Robert Hare para o 
diagnóstico do transtorno de personalidade anti-social e um guião de entrevista 
elaborado com base nos indicadores do conceito chave e, finalmente, fez-se a 
confrontação dos dados a fim de saber-se a sua relação com o comportamento 
criminal. 
 
14 
 
 
 
IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA 
São várias as investigações sobre o transtorno de personalidade anti-social e, 
têm sido constantemente relacionadas ao comportamento criminal. Deacordo com 
Caballo (2004) este transtorno “se caracteriza por um padrão de comportamento 
desconsiderado, explorador, socialmente irresponsável, bem como o fracasso para 
adaptar-se às normas sociais” (p.109). Por este facto, em função dos relatos que 
foram chegando por intermédio dos meios de comunicação e os relatórios da Polícia, 
verificamos que Luanda assiste nos últimos dias um número elevado de crimes 
praticados por indivíduos de diversos extractos sociais. Assim sendo, lançou-se o 
desafio de procurar saber se a prática criminal está relacionada ao transtorno de 
personalidade anti-social. 
Segundo dados estatísticos, avançados pelo então director do Hospital 
Psiquiátrico Penitenciário de Luanda, o Médico Rui Pires, percebe-se que, de acordo 
com os exames psiquiátrico-forenses que aquela unidade sanitária tem realizado, para 
auxiliar o Sistema Legal, existe um número elevado de indivíduos em conflito com a 
lei que têm sido diagnosticados com Transtornos de Personalidade, particularmente 
o transtorno Anti-social. Embora não sendo propriamente uma doença, este 
transtorno carece de esclarecimentos quer a nível da Psiquiatria, da Psicologia 
Clínica, como também, a nível da Psicologia Criminal. 
Não é menos verdade que o indivíduo portador de um transtorno de 
personalidade específico, apresenta-se mais vulnerável a desenvolver condutas 
desviantes e/ou criminosas caso, não seja devidamente assistido, entretanto, o quadro 
do transtorno de personalidade anti-social destaca-se pela elevada incidência que, 
geralmente é marcada pela extrema violência e insensibilidade emocional. Salienta-
se também que a prática ou conduta criminosa violenta, como o homicídio, estupro 
ou sequestro, não se aplicam a todas as pessoas com transtorno de personalidade 
anti-social. 
Conforme descrevemos atrás, o fenómeno em causa carece de estudos 
aprofundados e, para tal, elaboramos as seguintes questões científicas: 
 Será que o Comportamento Criminal dos reclusos do Presídio Militar de 
Luanda está relacionado com o transtorno de personalidade anti-social? 
15 
 
 
 Em termos de tipificação, existem crimes específicos cometidos por pessoas 
com transtorno de personalidade anti-social? 
 
JUSTIFICAÇÃO DO ESTUDO 
Apresentamos em seguida a justificativa para a realização deste estudo, desde 
a motivação, a importância para a comunidade acadêmico-científica até a actualidade 
e a visão geral da metodologia. 
 Teoricamente o estudo é importante visto que existem poucos do género 
realizados nessa temática e não só, esta pesquisa surge também com o objectivo de 
ajudar na identificação das condutas criminosas tipicamente relacionadas ao 
transtorno, que têm seu início com pequenos actos, quase que insignificantes, na 
tenra idade. Desta forma, na efectivação da pesquisa tivemos a oportunidade de 
ampliar, de modo científico, o nosso campo de conhecimentos sobre o transtorno de 
personalidade anti-social e a sua relação com o comportamento criminal. 
Do ponto de vista prático, este estudo poderá auxiliar as instituições 
judiciárias (SIC- Serviços de Investigação Criminal; Procuradoria Geral da 
República; Tribunais e os estabelecimentos prisionais), a melhorarem as suas formas 
de lidar com indivíduos acometidos por este transtorno e que estejam em conflitos 
com a lei, a pensar na possível reabilitação dos mesmos para garantir o seu regresso 
exitoso ao convívio social. Isto terá um grande impacto à todos os agentes que lidam 
directamente com a matéria do crime bem como as motivações. Pois, só conhecendo 
as verdadeiras causas é que podemos “banir” o mal ou minimizar os seus efeitos 
nefastos. 
a) Actualidade 
O estudo é bastante actual por razões óbvias. Pelo facto de ser um assunto 
cuja temática tem sido estudada não só nos PALOPs como também a nível de países 
francófonos, anglófonos e até hispânicos, em segundo lugar, pelo facto da escassez, 
em Angola, deste tipo de abordagem que torna imperioso realizá-lo a fim de darmos 
uma outra visão panorâmica do que se tem feito em torno do comportamento 
criminal. 
Por último, tornou-se ainda mais que necessário realizar este estudo visto que, 
a Psicologia vai ocupando aos pouco, o seu espaço dentro das instituições que 
16 
 
 
ultimamente se têm vergado diante deste campo vastíssimo e útil do saber científico 
para compreender melhor aquilo que escapa nas suas esferas de conhecimento, 
referimo-nos, particularmente, ao campo do direito que, em Angola, cada vez mais 
transforma-se em uma área interdisciplinar. 
 
OBJECTIVOS 
Toda investigação é guiada por um objectivo ou vários. Como não deixaria de 
ser, com esta investigação pretendeu-se atingir os seguintes objectivos: 
 Objectivo geral: 
 Compreender a relação entre o Transtorno de Personalidade Anti-social e o 
comportamento Criminal nos reclusos do Presídio Militar de Luanda. 
Objectivos específicos: 
1. Identificar o transtorno de personalidade anti-social nos reclusos do Presídio 
Militar de Luanda; 
2. Descrever o transtorno de personalidade anti-social nos reclusos do Presídio 
Militar de Luanda; 
3. Verificar a relação entre comportamento criminal e o transtorno de 
personalidade anti-social aos reclusos do Presídio Militar de Luanda; 
4. Relacionar o transtorno de personalidade anti-social com as variáveis sócio-
demográficas (sexo, idade, nível académico); 
5. Propor medidas preventivas para lidar com indivíduos que apresentam o 
transtorno de personalidade anti-social. 
 
HIPÓTESES 
Como hipóteses de investigação, temos as seguintes: 
H1: O transtorno de personalidade anti-social pode estar relacionado com o 
Comportamento Criminal nos reclusos do Presídio Militar de Luanda; 
H2: O transtorno de personalidade anti-social tende a variar conforme o sexo, a 
idade, o nível de escolaridade que cada indivíduo possui; 
H3: O grupo de reclusos com mais de um crime cometido, podem ser os que 
apresentam maiores indícios de transtorno de personalidade anti-social. 
17 
 
 
VARIÁVEIS 
De acordo com Marconi e Lakatos (2003) “uma variável pode ser considerada como 
uma classificação ou medida; uma quantidade que varia; um conceito operacional, 
que contém ou apresenta valores; aspecto, propriedade ou factor, discernível em um 
objecto de estudo e passível de mensuração”. Para a presente pesquisa, foram 
consideradas as seguintes variáveis: 
 Variável Independente: Transtorno de personalidade anti-social; 
 Variável Dependente: Comportamento criminal; 
 Variáveis sócio-demográficas: Idade, gênero, Nível de escolaridade, 
profissão. 
 
DELIMITAÇÃO E LIMITAÇÃO 
O estudo foi realizado no Presídio Militar de Luanda. Importante também, 
referir que, o mesmo foi delimitado apenas aos reclusos condenados, ou seja, àqueles 
que encontram-se a cumprir suas penas independentemente do tipo de crime sendo a 
população composta por 38 reclusos do gênero masculino, pelo facto de não ter 
existido até a altura da realização da pesquisa, reclusos do gênero feminino, fez parte 
também da parte qualitativa, um técnico da área de reeducação penal, seleccionado a 
partir do chamado critério de relevância teórica. 
Qualquer investigação científica, seja em que ramo do conhecimento for, 
dado ao facto de ser científica, apresenta sempre limitações, o que para o caso desta 
pesquisa não foi excepção. Na realidade, o estudo sobre o Transtorno de 
Personalidade Anti-social tem sido bastante complexo e torna-se mais ainda quando, 
o mesmo é feito numa instituição judiciária onde impera o chamado “segredo de 
justiça” e não só, pelo facto de se tratar de reclusos cumprindo a Pena Privativa de 
Liberdade. 
Portanto, não foi fácilatrair a simpatia de todos para a pesquisa e os que 
responderam ao convite ao longo do inquérito sentiram-se desconfortáveis com 
algumas perguntas do questionário que levaram-lhes à omissões de informações que 
são consideradas relevantes para a pesquisa e, em caso mais extremos, à desistências, 
a outra limitação também é o facto de não ter existido mulheres dentro do universo 
18 
 
 
estudado, visto que, pretendíamos relacionar os géneros face o comportamento 
criminal e o transtorno de personalidade anti-social. 
Não obstante este facto, os resultados que apresentamos deste estudo são 
válidos e aplicáveis, até certo ponto, no campo da ciência estando aberto à críticas e 
sugestões de outros pesquisadores que possam futuramente abordar a mesma 
temática em estudos futuros. 
 
METODOLOGIA 
Para a presente pesquisa utilizou-se a triangulação, que caracteriza-se pelo 
cruzamento dos dois métodos, qualitativo e quantitativo. 
 Qualitativo por ser compreendido como um “conjunto de diferentes técnicas 
interpretativas que visam descrever e descodificar os componentes de um sistema 
complexo de significados a partir da análise de conteúdo. O objectivo deste método 
é traduzir e expressar o sentido dos fenómenos do mundo social analisando as 
significações subjectivas na perspectiva do sujeito em relação ao fenómeno estudado 
e o meio em que estiver inserido, a fim de reduzir a distância entre o indicador e o 
indicado, entre a teoria e dados, entre o contexto e a acção (Maanen, 1979) ”. 
Segundo Roeseh (2005, p.154), “a pesquisa qualitativa é descritiva e enfatiza 
a interacção entre o entrevistado e o entrevistador, quanto aos fins, tem como 
principal objectivo expor características de determinada população ou determinado 
fenómeno. Pode também estabelecer correlações entre variáveis e definir sua 
natureza. A pesquisa de opinião insere-se nessa classificação”. 
Portanto, este método serviu-nos de base para tratar os dados da entrevista 
feita ao técnico da área de controlo e reeducação penal, a fim de entender os 
significados que o mesmo dá ao comportamento dos reclusos, distribuir pelas 
variáveis sócio-demográficas e finalmente estabelecer a relação com o Transtorno de 
Personalidade Anti-social. Tudo isso foi feito com base nas três etapas: colecta de 
dados, interpretação e apresentação dos relatos. 
 O método quantitativo, por sua vez, é entendido como “um método que 
caracteriza-se pelo emprego da quantificação, tanto nas modalidades de colecta de 
informações, quanto no tratamento destas por meio de técnicas estatísticas, desde as 
mais simples até as mais complexas”, Richardson (1989). 
19 
 
 
De acordo com Popper, (1972). 
“De uma forma geral, tal como a pesquisa experimental, os estudos de campo 
quantitativos guiam-se por um modelo de pesquisa onde o pesquisador parte de 
quadros conceituais de referência tão bem estruturados quanto possível, a partir 
dos quais formula hipóteses sobre os fenômenos e situações que quer estudar. Uma 
lista de consequências é então deduzida das hipóteses. A colecta de dados 
enfatizará números (ou informações conversíveis em números) que permitam 
verificar a ocorrência ou não das consequências, e daí então a aceitação (ainda que 
provisória) ou não das hipóteses. Os dados são analisados com apoio da Estatística 
(inclusive multivariada) ou outras técnicas matemáticas”. 
 
Isto quer dizer que, geralmente, assim como na pesquisa experimental, os 
“estudos quantitativos” orientam-se por uma forma de “pesquisa” em que o 
pesquisador parte de painéis conceituais possivelmente bem estruturados onde 
formula hipóteses relacionadas aos fenómenos a serem compreendidos. Das 
hipóteses propõem-se algumas consequências. Os dados darão ênfase aos números 
(ou informações possíveis de serem convertidas em números) que permitem 
confirmar a existência ou inexistência das consequências, e daí então a aceitação 
(provisória à princípio) ou não das hipóteses. A análise dos dados é feita à luz da 
Estatística (multifacetadas) ou outros procedimentos matemáticos. 
Portanto, este método também serviu como base para colecta, interpretação e 
apresentação dos dados por intermédio de um questionário padronizado, específico 
para o estudo do Transtorno de Personalidade Anti-social. 
Instrumentos 
Depois de um levantamento bibliográfico referente ao Transtorno de 
Personalidade Anti-social, comportamento criminal, bem como a efectivação das 
consultas aos documentos da instituição em estudo, foi feita a colecta de dados 
utilizando dois instrumentos principais: um guião de entrevista e um questionário 
padronizado da P-Scan de Robert Hare. 
Entrevista: “A entrevista é uma das técnicas de colecta de dados considerada como 
sendo uma forma racional de conduta do pesquisador, previamente estabelecida, 
para dirigir com eficácia um conteúdo sistemático de conhecimentos, de maneira 
mais completa possível, com o mínimo de esforço de tempo”. Rosa e Arnoldi apud 
Júnior (2011). 
20 
 
 
Nesta perspectiva, foi elaborado um guião de entrevista articulado a partir da 
operacionalização do conceito em abordagem a ser utilizado para a colecta das 
opiniões e relatos no campo de pesquisa. Estes relatos foram obtidos a partir da 
entrevista com um técnico especializado que desenvolve suas actividades no 
departamento de controlo e reeducação penal do Presídio Militar de Luanda 
“Luanda”. Depois de efectuada a entrevista, os depoimentos foram inseridos em um 
computador equipado com o Software Nvivo10 a foi feita a análise de frequências 
das palavras para se determinar os temas emergentes. 
Questionário: um instrumento composto por “um conjunto de perguntas sobre um 
determinado tópico que não testa a habilidade do respondente, mas mede sua 
opinião, seus interesses, aspectos da personalidade e informações biográficas, 
(Yaremko et al apud Gunther 2003) ”. Assim sendo, foi utilizado o questionário P-
Scan de Robert Hare, traduzido para o português por Gonçalves (…) e utilizado a 
nível de pesquisas realizadas nos países lusófonos. Este questionário é padronizado e 
tem como principal objectivo verificar o grau de incidência do Transtorno de 
Personalidade Anti-social. O tratamento dos dados do questionário foi feito por 
intermédio de um manual denominado “Manual da P-Scan” e do pacote informático 
“Software SPSS”. 
Critérios de selecção da amostra 
Sendo “uma pequena parte dos elementos que compõem o universo” a ser 
estudado, a selecção da amostra deve obedecer a critérios rigorosos para que dê 
maior credibilidade aos resultados da pesquisa. 
São vários os critérios de selecção da amostra, para o efeito deste estudo 
foram considerados dois critérios principais: o “critério da aleatoriedade” da 
amostra e o “critério da relevância teórica”. Antes de defini-los, torna-se importante 
realçar que a amostragem tem como principais objectivos os seguintes: “Determinar 
as variações que se observam numa amostra representativa da população 
(amostragem descritiva) e Compreender de maneira aprofundada o caso estudado 
(amostragem teórica) ”. 
“Critério da aleatoriedade da amostra: : a escolha deve ser feita a partir da 
população, que se exige representativa”. 
21 
 
 
“Critério da relevância teórica”: as unidades de estudo escolhidas devem contribuir 
para o desenvolvimento do assunto em estudo”. 
A partir destes parâmetros definiu-se a amostra. Sendo a população em estudo 
constituida pelos reclusos do Presídio Militar de Luanda, foram considerados estes 
critérios para extrair do universo estatístico, uma amostra representativa que venha 
contribuir com insight para o desenvolvimento da temática em estudo. A partir dos38 reclusos condenados, utilizou-se o cálculo amostral com base nesta fórmula (
 ) sendo o erro amostral de 5%, nível de 
confiança de 90% e a amostra necessária foi de 34 reclusos, o cálculo foi feito por 
intermédio de uma calculadora online. 
Estrutura do trabalho 
 O trabalho está estruturado da seguinte maneira: 
 CAPÍTULO I - Transtorno de personalidade anti-social e comportamento 
criminal (definição de termos e conceitos, contexto histórico, teorias de base, 
factores e diagnósticos); 
 CAPÍTULO II - Relação do transtorno de personalidade anti-social com o 
comportamento criminal (comportamento criminal face os indicadores do 
TPAS); 
 CAPÍTULO III - Tratamento, análise e interpretação dos resultados 
(caracterização, resultados da pesquisa qualitativa, resultados da pesquisa 
quantitativa, discussão, conclusões, sugestões, referências bibliográficas). 
 
22 
 
 
CAPÍTULO I - TRANSTORNO DE PERSONALIDADE 
ANTI-SOCIAL E COMPORTAMENTO CRIMINAL 
Antes de entrarmos para a abordagem propriamente dita, apresentaremos as 
definições dos termos e conceitos. 
1.1 - Definição de termos e conceitos 
Transtorno: “Algo que provoca desarranjo, uma desordem na área psíquica 
do indivíduo. Transtorno é um distúrbio relacionado a uma resposta de medo ou 
ansiedade activada em uma situação em que não é necessária ou durante um 
período mais prolongado do que o necessário”. 
Personalidade: “É a totalidade relactivamente estável e previsível dos traços 
emocionais e comportamentais que caracterizam a pessoa na vida quotidiana, sob 
condições normais” (Kaplan e Sadock citado por Fiorelli, 2012). 
Transtorno de personalidade: É definido como “um padrão persistente de 
vivência íntima ou comportamento que se desvia acentuadamente das expectativas 
da cultura do indivíduo, é invasivo e inflexível, tem seu início na adolescência ou 
começo da idade adulta. É estável ao longo do tempo e provoca sofrimento ou 
prejuízo” (APA, citado por Minto 2012). 
Anti-social: “Contrário às ideias, costumes ou interesses da sociedade; 
transgressor das regras da vida em sociedade e da moral social. Aquele que vai 
contra os interesses favoráveis a melhores condições sociais para os trabalhadores”. 
Transtorno de personalidade anti-social: “É um transtorno que “se 
caracteriza por um padrão de comportamento desconsiderado, explorador, 
socialmente irresponsável, bem como o fracasso para adaptar-se às normas sociais” 
(Caballo 2004). 
Comportamento: “Termo que designa a actividade global ou conjunto dos 
actos de um indivíduo perante uma situação ou conjunto de estímulos, ou seja, é 
resposta que um organismo dá perante a situação que a suscita”. 
Comportamento criminal: “Todo o comportamento adoptado por um 
indivíduo que, de alguma forma fere um plano moral e ético compreendido pela 
sociedade em que ele está inserido, mesmo que por algumas vezes o “delito” 
23 
 
 
praticado por ele não esteja previsto e não seja reprovado legalmente”. (Davoglio, 
2010). 
Recluso: “Pessoa condenada a pena de reclusão; metido em cela; em 
clausura, enclausurado ou recolhido ao convento”. 
1.2 – Contexto Histórico 
 Tencionamos neste subcapítulo, fazer uma resenha histórica sobre as 
primeiras abordagens do transtorno de personalidade anti-social relacionado ao 
comportamento criminal. 
1.2.1- Contribuições de Hervey Cleckley 
A paternidade dos estudos sobre o Transtorno de Personalidade Anti-social 
foi atribuída ao psiquiatra norte-americano Hervey Millton Cleckley em função das 
várias pesquisas que realizou acerca desta temática durante muitos anos, da 
abrangência e dos destaques das suas pesquisas. A sua obra-prima sobre esta 
temática foi lançada em 1941 e tinha como título em inglês The Mask of Sanity (A 
Máscara da Sanidade). 
Cleckey citado por Caballo (2004). 
“Ofereceu uma caracterização clínica do transtorno. Descreveu a expressão 
transtorno de personalidade anti-social como um transtorno apresentado por 
indivíduos com um estilo de vida claramente anti-social, que cometem actos 
delitivos desde a infância e manifestam uma baixa tolerância à frustração, um 
frequente abuso de drogas, uma forma de vida parasita e um nível elevado de 
impulsividade”. 
 
Isto quer dizer que, do ponto de vista clínico, o transtorno de personalidade 
anti-social é descrito como um transtorno evidenciado por aquelas pessoas cujo 
modus vivendi é reflectidamente anormal, com condutas delitivas desde a tenra idade 
manifestando um nível reduzido de tolerância à situações frustrantes, uso constante 
de estupefacientes, uma vida exploradora acompanhada de ataques impulsivos. 
Cleckley, nas suas contribuições bastante válidas e inspiradoras sobre o 
transtorno de personalidade anti-social, teve o cuidado, de esclarecer semelhanças 
com a psicopatia, uma expressão mais jurídica, diferente da clínica-descritiva. 
24 
 
 
Mas, de acordo com Henriques (2009) “a descrição da psicopatia como 
personalidade anti-social vigora até nossos dias, como o atestam as nosografias 
psiquiátricas contemporâneas”. 
Portanto, Cleckley (2004) foi mais exaustivo ao descrever o transtorno de 
personalidade anti-social, na sua forma clínica e não analítica, facto que deixa 
algumas lacunas na sua abordagem do ponto de vista jurídico já que, o transtorno de 
personalidade anti-social tem sido visto, não como uma patologia mental, 
propriamente dita. 
Pois, uma das inquietações relacionadas aos contributos de Hervey Cleckley é 
a de saber até que ponto o transtorno de personalidade anti-social deve ser 
considerado uma patologia visto que nas abordagens do autor, fala-se em tratamento 
difícil para as pessoas acometidas por este transtorno. A outra tem que ver com a 
diferença entre transtorno de personalidade anti-social e conduta anti-social. Até 
porque, interessa-nos, uma vez que pode ajudar a identificar as condutas anti-sociais 
e o transtorno, por outro lado. 
De acordo com Gauer (2004), “Há uma distinção crucial entre actos anti-
sociais e transtorno de personalidade anti-social: nem todas as pessoas que 
cometem desrespeitos isolados têm TPAS, mas todas as pessoas com TPAS exibem 
uma gama extensiva de comportamentos desviantes”. 
Assim, conforme consta, existe uma separação fundamental entre as condutas 
anti-sociais e o TPAS, visto que, nem todo indivíduo que desrespeita às normas de 
forma separada é portador de TPAS, mas o indivíduo com TPAS acarreta sempre 
traços condutais à margem das normas. 
Finalmente, apesar do aspecto negativo antes avançado, há outro aspecto a 
reter nas contribuições de Cleckley, prende-se com o facto de as abordagens deste 
autor poderem ser vistas como um tratado geral sobre o transtorno de personalidade 
anti-social pelo seu aspecto profundo, assim, facilitará a aplicabilidade no contexto 
angolano. E o autor esclarece também a dimensão do TPAS. De acordo com Ikal 
(2005) “é importante destacar que qualquer pessoa pode apresentar características 
do TPA, não é necessário que cometa um delito para que faça parte do grupo das 
condutas anti-sociais”. 
25 
 
 
Por outras palavras, torna-se importante sublinhar que um indivíduo qualquer 
pode demonstrar traços do TPA sem, no entanto, cometer um acto delictivo para que 
seja integrado entre os anti-sociais. 
 
 
 
 
1.3 -Teorias sobre o transtorno de personalidade anti-social 
relacionadas ao comportamento criminal 
Depois de termos apresentado as contribuições valiosas de Hervey Cleckley, 
que também estimularam-nos a necessidade de desenvolver os estudos sobre o 
transtorno de personalidade anti-social e a sua relação como o comportamento 
criminal em Angola, falaremos em seguida, das teoriasque sustentam esta temática. 
 
1.3.1 - Teoria evolucionista de Stalenheim 
São várias as teorias desenvolvidas sobre o assunto, das quais destacamos 
apenas três. Apresentaremos primeiramente a teoria evolucionista de Stalenheim por 
ser a mais actual. 
Segundo Vasconcellos (2004) 
“Estudos desenvolvidos por Stalenheim e colaboradores encontraram uma 
correlação significativa entre o TPAS e um elevado nível de testosterona em 
indivíduos portadores do citado transtorno. Algumas pesquisas investigando a 
acção da monoamina oxidase (MAO) têm demonstrado a possibilidade que esta 
possa servir como um marcador biológico para uma série de traços anti-sociais da 
personalidade”. 
 
Em outros moldes, a tese por Stalenheim defendida e seus colaboradores é a 
de que existe um correlato significativo entre o TPAS e um nível considerável de 
testosterona em pessoas que apresentam o transtorno. Os estudos feitos sobre a acção 
da monoamina (MAO) demonstraram a possibilidade de que esta substância sirva 
como um tipificador biológico para um seriado de traços de personalidade anti-
social. 
26 
 
 
O aspecto importante desta abordagem é o facto de ela ser do fórum 
biológico, porque tem sido discutido durante as últimas pesquisas se existiam no 
TPAS componentes biológicas e se podem ser consideradas estes factores não 
psicológicos para a possível conjugação, visto que, de acordo com Del_Ben (2004) 
 
 “Nenhum factor isolado pode ser identificado como agente causal de TPAS, mas 
alguns específicos, quando combinados, poderiam predispor ao desenvolvimento de 
comportamento anti-social na vida adulta. Entre eles, estariam incluídos: 
predisposição genética, exposição intra-uterina a álcool e drogas, exposição 
durante a infância à violência, negligência e cuidados parentais inconsistentes e 
dificuldades de aprendizagem e desempenho escolar insatisfatório”. 
Quer dizer que, a abordagem evolucionista não considera um factor único 
como causador do TPAS, releva também a conjugação de factores que pudessem 
activar a predisposição para a conduta anti-social na fase adulta. Dos tais factores 
destacam-se o factor genético, ambiente uterino exposto às drogas e álcool, ambiente 
violento durante à infância, comportamentos negligenciais nos cuidados parentais 
acompanhado de inconsistência bem como, problemas de aprendizagem e insucesso 
escolar. 
É importante salientar e está bastante claro, que apesar de ser uma abordagem 
biológica ela, não desconsidera os outros factores pelo facto de serem determinantes, 
quando relacionados. Pois seria impossível para o nosso estudo no contexto angolano 
se não considerássemos os aspectos multifactoriais. 
De acordo com Lykken citado por Fernández (2010), 
“Para ter um comportamento adaptado às normas, apesar da determinação da 
herança biológica é necessário também um processo de socialização que inculque 
hábitos adaptados às regras. Este processo dependerá de dois factores: as práticas 
educativas dos pais e as características psicobiológicas herdadas que facilitam ou 
dificultam o processo de aquisição das normas”. 
 
Ou seja, agir conforme às normas, para além do factor biológico determinante 
é claramente indispensável o processo socio-educativo dentro e fora do contexto 
familiar para impingir rotinas adaptáveis às regras e normas socialmente aceites. Tal 
processo subordina-se ao duplo factor: modelos educacionais dos progenitores e as 
27 
 
 
características psicobiológicas que tenham sido herdadas facilitando ou dificultando 
o processo de aquisição das normas. 
Como vimos, a abordagem evolucionista estende-se à tridimensionalidade dos 
factores: biológico, psicológico e social, culminando assim nos chamados “factores 
biopsicossociais” do transtorno de personalidade anti-social. 
Por fim, torna-se imperativo saber quais foram os objectivos desta teoria? 
Para tal desiderato nada melhor do que citar Millon (2006) que de acordo com o 
autor, “o objectivo principal da teoria evolucionista é explicar o modelo evolutivo da 
personalidade anti-social, o padrão de conduta dentro da matriz pessoal no contexto 
da determinação biológica”. 
Ou seja, a abordagem evolucionista cujo expoente máximo foi Stalenheim surge 
principalmente com o propósito explicativo da maquete evolutiva da personalidade 
anti-social, forma de conduta do molde pessoal enquadrada no padrão dos 
determinantes biológicos. 
Por outro lado, o objectivo da abordagem evolucionista é o de explicar o 
transtorno de personalidade anti-social a partir de uma componente genética sem 
descurar os outros factores. 
 
1.3.2 - Teoria psicanalítica 
Tal como foi anunciado no princípio, para além da teoria evolucionista, outras 
abordagens também foram feitas em torno da problemática do transtorno de 
personalidade anti-social, uma delas foi feita, embora não tendo sido muito exausta, 
pelo psicanalista Sigmund Freud. 
Os postulados da psicanálise são bastante conhecidos a nível do campo da 
ciência psiquiátrica em geral e psicológica em particular. Uma das temáticas mais 
desenvolvidas na psicanálise clássica foi sobre o estudo da personalidade que 
mereceu do seu patrono, Sigmund Freud, uma explicação em sua obra intitulada “o 
ego e o id”. 
Freud recorreu também às suas experiências clínicas para explicar a essência 
do transtorno de personalidade anti-social e, segundo o autor citado por Millon 
(2006) “a personalidade anti-social pode ser entendida a partir também do esquema 
psicanalítico clássico”. Visto que, ainda segundo autor, “de uma maneira clara o ego 
28 
 
 
se desenvolve não como o superego e, toda a personalidade é dominada pelos 
impulsos do id bem como pelo princípio do prazer”. 
Quer dizer que, de acordo com Millon (2006) “a psicanálise clássica afirma 
que o id está centrado por completo em suas necessidades imediatas”, e por este 
facto, “os anti-sociais violam impulsiva e egocentricamente a norma convencional 
da vida social”. O id, tal como assevera Freud, por estar “dominado pelo sexo e 
pela agressividade” serve como base para despolectar “o comportamento da 
maioria dos anti-sociais”. 
Freud faz então uma relação de causa - efeito entre o gênero, a agressividade 
e o comportamento anti-social. 
 
Finalmente Freud citado por Millon (2006) explica que: 
“Os indivíduos anti-sociais são aqueles que cometem crimes sem nenhum tipo de 
sentimento de culpa ou aqueles que não apresentam qualquer desenvolvimento de 
inibição moral e em consequência do seu conflito com a sociedade consideram que 
os seus actos são justificados. Os anti-sociais não têm uma voz interna ou um sensor 
interno que modere seus actos. ” 
Ou seja, para a corrente freudiana aqueles indivíduos que cometem actos 
delitivos sem demonstração de algum “sentimento de culpa” ou com ausência de 
bloqueio moral e, no seguimento da conflitualidade “com a sociedade” considerem 
as suas condutas justificáveis, são os denominados anti-sociais. Estes por sua vez não 
possuem um comando interno ou um correspondente que arbitre as suas acções. 
Portanto como avançou-se no início, Freud, apesar de não ter sido exausto 
nessa temática do transtorno de personalidade anti-social deu um contributo valioso e 
foi mais claro ao estabelecer a relação com o comportamento criminal. Ao falar do 
comportamento advindo dos instintos, Freud faz referência a falta de controlo dos 
impulsos que se criam a nível do id, uma entidade que precisa ser regulada com a 
consciência do ego (realidade) e as repressões do superego (moral). Daí ele ter 
destacado a ausência em indivíduos com comportamentos anti-sociais do “sensor 
interno que modere seus actos”. 
 
1.3.4 - Teoria interpessoal29 
 
 
A terceira teoria a de base, centra-se na abordagem interpessoal representada 
por Kiesler e Benjamim. Esta abordagem coloca a discussão numa vertente 
relacional, porque para ela, “os comportamentos estão organizados em função do 
círculo interpessoal”. 
De acordo com Kiesler (1996) “a personalidade anti-social representa a 
hostilidade interpessoal quase em estado puro”. E acrescenta que, “segundo 
descrições dos níveis de gravidade, as acções moderadamente patológicas são 
hostis, irritáveis e grosseiras”. 
Nessa linha de pensamento, para este autor, os indivíduos com transtorno de 
personalidade anti-social “são pessoas que discutem com facilidade, ignoram os 
sentimentos dos demais, resistem a cooperar com os outros e provocam conflitos”. 
Por seu turno, Benjamim citado por Millon (2006) 
“Cria a Análise Estrutural do Comportamento Social (AECS) onde descreve um 
quadro parecido ao de Kiesler. Benjamim ressalta que a diferença entre o 
comportamento criminal e o comportamento anti-social está no facto de, por 
exemplo, o indivíduo anti-social poderá negar-se a pagar sustento dos filhos em 
função da obrigação de uma autoridade externa, este acto poderá não constituir 
necessariamente um crime ao passo que no comportamento puramente criminal 
sobressairá mais o factor satisfação de uma necessidade pessoal sem 
necessariamente estar relacionada à dificuldade de cumprir alguma norma social 
direccional. Essa é uma diferença importante em relação ao comportamento 
criminal”. 
Quer dizer que Benjamim ao conceber o (AECS) Análise Estrutural do 
Comportamento Social era com o propósito de elaborar um conjunto de itens com 
similitudes da conjuntura elaborada por Kiesler. Mas em contrapartida, a divergência 
entre a conduta criminal e a conduta anti-social é ressaltada pelo autor, por exemplo, 
o acto de alguém imiscuir-se de pagar a pensão alimentar aos filhos em 
descumprimento de uma exigência de alguma autoridade poderá ser descrita como 
contendo indícios de algum transtorno de personalidade anti-social sem tal acto estar 
directamente ligado a conduta criminal. Portanto, relativamente ao “comportamento 
criminal” este é um aspecto preponderante a ser relevado. 
A intenção do autor é apresentar a componente interactiva sem deixar de parte o 
aspecto clínico. Se ele ressalta o aspecto da “dificuldade em cumprir as normas 
estabelecidas” pode nos dar a ideia de que, cometendo crime seria mais viável uma 
30 
 
 
intervenção clínica (tratamento), do que no âmbito penal (punitiva). Mas seria 
precipitado chegar já a esta conclusão porque o problema é bastante complexo e na 
tentativa de aclarar o autor termina explicando o seguinte: 
 
“Os comportamentos criminais só são anti-sociais quando contêm um elemento 
interpessoal adicional que consiste em estabelecer e proporcionar alguma forma de 
controlo sobre os demais sem ter em conta as consequências dos seus actos. Assim 
sendo, os actos criminais encaminhados exclusivamente para obter benefícios 
pessoais não se consideram uma evidência de personalidade anti-social”. 
(Benjamim, 1996). 
 
Aqui fica mais claro porque, tal como se lê, a ausência da consciência dos 
efeitos das suas acções e a tendência de propiciar alguma forma de domínio sobre 
terceiros constituem quesitos para que se considere um acto, de anti-social, ou seja, 
para ser considerado um comportamento criminal como anti-social o “elemento 
interpessoal” deve ser indispensável. Nessa senda, não constituem evidências de 
“”personalidade anti-social” as acções criminais direccionadas exclusivamente a 
obtenção de benesses pessoais. 
Portanto, percebe-se que nenhuma das três teorias apresentadas nessa 
abordagem é por si só, suficientemente capaz de explicar esta problemática do 
transtorno de personalidade anti-social e sua relação com o comportamento criminal, 
por isso, vale dizer que elas, as teorias, tanto a evolucionista, a psicanalítica como a 
interpessoal são úteis no seu conjunto porque se forem consideradas de forma 
separada saltará sempre algum aspecto relevante. 
 
1.4 - Transtorno de personalidade anti-social segundo o DSM-IV 
Depois de apresentarmos as teorias que serviram como base para o estudo, 
apresentar-se-á também, a visão do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos 
Mentais (DSM-IV). Aspectos como as características, o diagnóstico e os factores são 
importantes para a pesquisa. 
1.4.1- Características do Transtorno de Personalidade Anti-Social 
Segundo o DSM-IV (1994) “a característica essencial do Transtorno da 
Personalidade Anti-Social é um padrão invasivo de desrespeito e violação dos 
31 
 
 
direitos dos outros que inicia na infância ou começo da adolescência e continua na 
idade adulta”. 
Ou seja, os comportamentos que se manifestam na fase adulta cujo princípio 
se dá na fase infantil, desrespeitar os direitos de outras pessoas bem como a conduta 
agressiva constituem um padrão de transtorno de personalidade anti-social. Em 
relação as características, o DSM-IV postula também que: 
“Este padrão também é conhecido como psicopatia, sociopatia ou transtorno da 
personalidade dissocial. Uma vez que o engodo e a manipulação são aspectos 
centrais do Transtorno da Personalidade Anti-Social, pode ser de especial utilidade 
integrar as informações adquiridas pela avaliação clínica sistemática com 
informações colectadas a partir de fontes colaterais, DSM-IV (1994) ”. 
 
Quer dizer que para o DSM-IV, o transtorno de personalidade dissocial, a 
sociopatia bem como a psicopatia são as outras formas como é conhecido o 
transtorno de personalidade anti-social e as formas principais deste transtorno 
caracterizam-se pelo engano e controle. Os dados provenientes das pessoas próximas 
bem como aqueles conseguidos a partir da prática clínica serão úteis se forem 
integrados. 
Ou seja, 
“O Transtorno da Conduta envolve um padrão de comportamento repetitivo e 
persistente, no qual ocorre violação dos direitos básicos dos outros ou de normas 
ou regras sociais importantes e adequadas à idade. Os comportamentos específicos 
característicos do Transtorno da Conduta ajustam-se a uma dentre quatro 
categorias: agressão a pessoas e animais, destruição de propriedade, defraudação 
ou furto, ou séria violação de regras” (DSM-IV 1994). 
 
1.5 – Diagnósticos do Transtorno de Personalidade Anti-Social 
segundo Cleckey, Hare e o DSM-IV. 
O diagnóstico é indispensável para aferir se o indivíduo que está a ser 
observado preenche os critérios do transtorno de personalidade anti-social. Para que 
isso seja possível, existe uma referência principal que é o Manual diagnóstico e 
estatístico de transtornos mentais elaborado e sempre actualizado pela comissão de 
pesquisa da Associação Americana de Psiquiatria (APA), que já se encontra na sua 5ª 
edição. 
32 
 
 
Mas, dado o facto de estarmos a falar do transtorno de personalidade anti-
social e o comportamento criminal, traremos primeiro os itens de diagnósticos 
elaborados por Cleckey e Hare citados por Lobo (2009). 
Para Cleckey (2009), “o indivíduo para ser considerado como portador de 
transtorno de personalidade anti-social deve apresentar em seu comportamento, 
características que preencham os seguintes itens: 
1. Aparência sedutora e boa inteligência; 
2. Ausência de delírios e de outras alterações patológicas do pensamento; 
3. Ausência de “nervosidade” ou manifestações psiconeuróticas; 
4. Não confiabilidade; 
5. Desprezo para com a verdade e insinceridade; 
6. Falta de remorso ou culpa; 
7. Conduta anti-social não motivada pelas contingências; 
8. Julgamento pobre e falha em aprender através da experiência; 
9. Egocentrismo patológicoe incapacidade para amar; 
10. Pobreza geral na maioria das reacções afectivas; 
11. Perda específica de insight (compreensão interna); 
12. Não reactividade afectiva nas relações interpessoais em geral; 
13. Comportamento extravagante e inconveniente, algumas vezes sob a acção de bebidas, outras não; 
14. Suicídio raramente praticado; 
15. Vida sexual impessoal, trivial e mal integrada; 
16. Falha em seguir qualquer plano de vida. (Cleckey citado por Henriques 2009). 
Como podemos ver, nos dezasseis itens apresentados por Cleckey (1998), os 
indivíduos com o transtorno de personalidade anti-social normalmente, na visão do 
autor, demonstram uma inteligência muito admirada e são aparentemente sedutores 
não apresentam episódios delirantes nem problemas no pensamento, ou seja, são 
cognitivamente tranquilos. Por outro lado, não demonstram complicações neuróticas 
mas são inconfiáveis. 
Eles, não demonstram arrependimentos em seus actos e são insensíveis com o 
sofrimento alheio. Os seus actos anti-sociais em parte, não têm nada a ver com 
problemas sociais, por exemplo, o roubo praticado por um indivíduo com transtorno 
de personalidade anti-social, muitas vezes não é motivado por uma carência ou por 
necessidade. 
Em relação a aprendizagem têm dificuldades em adquirir habilidades com a 
experiência e fazem julgamento errôneo das situações. São egocentricamente 
33 
 
 
patológicos levando-os a incapacidade para amar. Nisso, se parecem com os 
narcisistas e por este facto, costumam não ser bem-sucedidos nas relações 
interpessoais. Quando estiverem sob efeito de álcool apresentam acções que escapam 
às normas e ao bom senso ou seja, indecente e imoral. 
Por último, os indivíduos com transtorno de personalidade anti-social têm 
uma vida sexual promíscua, ou seja, não têm uma só parceira sexual e falham 
constantemente no plano de vida. 
O outro autor que também dedicou-se ao estudo do transtorno de 
personalidade anti-social, foi Robert Hare. Hare teve como principal influência a 
abordagem de Cleckey (1998), aliás, trouxe uma revisão da anterior escala e 
chamou-a de Psicopaty Checklist Revew-PCL-R. 
Segundo Lobo (2007) “A estrutura bi-factorial da PCL-R de Hare pressupõe 
que os itens tenham uma distribuição de acordo com dois factores, no total 20 itens, a 
saber”: 
1. Loquacidade/volubilidade/encanto superficial; 
2. Sentido grandioso do valor de si próprio; 
3. Necessidade de estimulação/tendência para o tédio; 
4. Mentir patológico; 
5. Estilo manipulativo; 
6. Ausência de remorsos ou sentimentos de culpa; 
7. Superficialidade afectiva; 
8. Frieza/ausência de empatia; 
9. Estilo de vida parasita; 
10. Deficiente controlo comportamental; 
11. Comportamento sexual promíscuo; 
12. Comportamento problemático precoce; 
13. Ausência de objectivos realistas; 
14. Impulsividade; 
15. Irresponsabilidade; 
16. Não acatamento de responsabilidades pelas suas acções; 
17. Relacionamentos conjugais numerosos e de curta duração; 
18. Delinquência juvenil; 
19. Revogação de medidas alternativas ou flexibilizadoras da pena de prisão; 
20. Versatilidade criminal (Hare apud Lobo 2007). 
 
34 
 
 
Como dissemos anteriormente, o PCL-R é uma revisão feita por Hare com 
base naquilo que foi traçado por Cleckey (1998). Mas há aqui algumas diferenças 
que devem ser ressaltadas, até porque o nosso estudo é no âmbito da Psicologia 
Criminal e Robert Hare, ao contrário de Cleckey, traçou estas características não na 
vertente clínica mas sim, na vertente criminal. Ou seja, adaptou a escala de Cleckey 
para o entendimento do comportamento criminal, isso é facilmente percebido se 
olharmos para os itens dez, dezoito, dezanove e vinte. 
A perda da capacidade de monitoramento das suas próprias acções, ter 
históricos de desobediência às leis ou padrões morais, não corresponder 
satisfatoriamente às medidas de substituição ou de menos rigidez das punições no 
âmbito da justiça, está directamente ligado com o comportamento criminal. E o item 
vinte aponta algo muito importante, a “versatilidade criminal”, quer dizer que, 
indivíduos com transtorno de personalidade anti-social podem apresentar uma 
variedade de práticas criminais dito de outro modo, podem ser estupradores, 
assaltantes, homicidas, violadores etc. 
Em relação ao diagnóstico o DSM-IV (1994) verificam-se alguns critérios a 
serem levados em conta: 
a) Os indivíduos com Transtorno da Personalidade Anti-Social não se conformam às normas 
pertinentes a um comportamento dentro de parâmetros legais (Critério A1); 
b) Frequentemente enganam ou manipulam os outros, a fim de obter vantagens pessoais ou prazer 
(por ex., para obter dinheiro, sexo ou poder) (Critério A2); 
c) Podem mentir repetidamente, usar nomes falsos, ludibriar ou fingir. Um padrão de impulsividade 
pode ser manifestado por um fracasso em planejar o futuro (Critério A3). 
d) Os indivíduos com Transtorno da Personalidade Anti-Social tendem a ser irritáveis ou agressivos 
e podem repetidamente entrar em lutas corporais ou cometer atos de agressão física (inclusive 
espancamento do cônjuge ou dos filhos) (Critério A4). 
e) Esses indivíduos também exibem um desrespeito imprudente pela segurança própria ou alheia 
(Critério A5), o que pode ser evidenciado pelo seu comportamento ao dirigir (excesso de 
velocidade recorrente, dirigir intoxicado, acidentes múltiplos); 
f) Eles podem engajar-se em um comportamento sexual ou de uso de substâncias com alto risco de 
consequências danosas. Eles podem negligenciar ou deixar de cuidar de um filho, de modo a 
colocá-lo em perigo. Os indivíduos com Transtorno da Personalidade Anti-Social também 
tendem a ser consistente e extremamente irresponsáveis (Critério A6); 
g) O indivíduo deve ter pelo menos 18 anos (Critério B); 
35 
 
 
h) Deve ter tido uma história de alguns sintomas de Transtorno da Conduta antes dos 15 anos 
(Critério C). 
 O DSM-IV acrescenta que estes indivíduos “podem mostrar-se indiferentes ou oferecer uma 
racionalização superficial para terem ferido, maltratado ou roubado alguém (por ex., "a vida é 
injusta", "perdedores merecem perder" ou "isto iria acontecer de qualquer modo, DSM-IV, 1994). 
Em relação as vítimas, “podem culpá-las por serem tolas, impotentes ou por 
terem os destinos que merecem; podem minimizar as consequências danosas de suas 
ações, ou simplesmente demonstrar completa indiferença, DSM-IV, 1994). 
Por último, “os indivíduos com Transtorno da Personalidade Anti-Social 
estão mais propensos do que as outras pessoas na população geral a morrer 
prematuramente por meios violentos (por ex., suicídio, acidentes e homicídios). 
Incapacidade de tolerar o tédio, DSM-IV, 1994). 
Vale dizer que o DSM-IV (1994) é restritamente indicado para diagnósticos clínicos, 
mas também pode ser usado no âmbito forense desde que se tenha em conta a 
seguinte observação: 
 
“O uso do DSM deve envolver o conhecimento dos riscos e limitações no âmbito 
forense. Quando as categorias, os critérios e as descrições do DSM-5 são 
empregados para fins forenses, há o risco de que as informações diagnósticas sejam 
usadas de forma indevida ou compreendidas erroneamente. Esses perigos surgem 
por não haver uma concordância perfeita entre as questões de interesse da justiça e 
as informações contidas em um diagnóstico clínico, (DSM-5 TR, 2014) ”. 
 
 Quer dizer que o perito forense ao recorrer ao DSM para auxiliá-lo no 
diagnóstico do transtorno de personalidade anti-social deve ter consciência das 
restrições e dos perigos que este manual pode ter para o seu trabalho. A compreensão 
errônea e o uso inadequado dos subsídios contidos no DSM no âmbito forense, têm 
sido os maioresperigos. As discrepâncias que existem entre o propósito da justiça e 
as informações expostas no manual são os principais indicadores desses perigos, 
(DSM-5, 2014). 
1.5.1 – Factores que desencadeiam o Transtorno de Personalidade 
Anti-Social 
São vários os factores apontados que podem influenciar no surgimento do 
transtorno de personalidade anti-social. Factores biológicos, psicológicos ou sociais 
36 
 
 
concorrem para se obter uma explicação plausível. Destacaremos os mais 
convincentes ao longo deste tópico. 
1.5.1.1 - Factores neurofisiológicos do Transtorno de Personalidade Anti-Social 
O primeiro factor a ser apontado, será o factor neurofisiológico levantado por 
Del-Ben citado por Carvalho e Suecker (2011) nos seguintes termos: 
“O sistema límbico encontra-se relacionado ao controle e à elaboração de 
significativa parte dos comportamentos motivados e da emoção, sendo formado 
pelas seguintes estruturas: tálamo, epitálamo, hipocampo, hipotálamo, amígdalas, 
cíngulo e septo. Todas essas estruturas, juntamente com os lobos temporais, 
encontram-se relacionadas à regulação do comportamento agressivo”. 
 
Ou seja, as estruturas responsáveis pelo regulamento dos actos agressivos 
fazem parte, para além dos lobos temporais, septo, cíngulo, as amígdalas, o 
hipotálamo, o hipocampo, o epitálamo e o tálamo; de um sistema denominado por 
“sistema límbico”. Significa que todos os actos motivados e todas as acções emotivas 
têm como comando central este sistema e, será a partir de alguma disfunção dessa 
zona onde surgirá o comportamento anti-social. 
Aires (1999) por seu turno, explica que, 
 “As estimulações ou lesões do tálamo encontram-se relacionadas à reactividade 
emocional do indivíduo. O hipocampo, por sua vez, é uma estrutura cerebral 
envolvida com os fenômenos da memória de longa duração, enquanto o hipotálamo 
é considerado a estrutura mais importante do sistema límbico, pois é responsável 
pelo controle das funções vegetativas, além disso, suas partes laterais estão 
envolvidas com o prazer e a raiva. Já a amígdala é a porção do sistema límbico 
relacionada ao sentimento afectivo, quando estimulada, pode provocar crises de 
violenta agressividade. O cíngulo participa das reacções emocionais à dor e da 
regulação do comportamento agressivo, ao passo que o septo se relaciona ao 
prazer sexual”. 
Como se pode compreender do que está acima exposto, cada compartimento do 
sistema límbico responde por uma função específica, mas, por outro lado, 
Davies (2010) salienta que, 
“Embora a área pré-frontal do córtex cerebral não faça parte do sistema límbico, 
também pode ser considerada responsável pela regulação das emoções, pois se 
conecta, de forma directa, com algumas estruturas do sistema límbico. Uma lesão no 
córtex pré-frontal pode desencadear a perda do senso de responsabilidade, assim 
37 
 
 
como a capacidade de concentração e abstracção, além de desenvolver um quadro 
de “tamponamento afectivo” (Davies, citado por Carvalho e Suecker, 2011). 
Por meio dos estudos realizados por Raine e colaboradores citados por 
Carvalho e Suecker (2003), as análises de neuro-imagem estrutural com ressonância 
nuclear magnética, demonstraram-se anormalidades volumétricas do lobo frontal em 
indivíduos com TPAS. Quando realizada a comparação entre pacientes com 
diagnóstico de TPAS com controlos não clínicos, verificou-se que os pacientes com 
TPAS apresentavam uma redução do volume de substância cinzenta pré-frontal, 
redução essa que se encontrava correlacionada com uma diminuição da resposta 
autonômica a um evento estressor provocado experimentalmente, como, por 
exemplo, a realização de um discurso, (Raine, citado por Carvalho e Suecker 2011). 
1.5.1.2 - Factores psicológicos do Transtorno de Personalidade Anti-Social 
Os factores psicológicos de acordo com Carvalho e Suecker (2005), baseiam em três 
áreas principais: 
a) Psicanálise: tem como característica a divisão da estrutura psíquica do 
indivíduo em partes distintas com diferentes graus de subjetividade e a 
concentração de todas as características e conflitos concernentes à 
personalidade em torno da obtenção do prazer. 
Nesta vertente psicanalítica Freud diz que “no tocante à maioria dos outros 
criminosos, aqueles para os quais medidas punitivas são realmente criadas, tal 
motivação para o crime poderia muito bem ser levada em consideração; ela poderia 
lançar luz sobre alguns pontos obscuros da psicologia do criminoso e oferecer 
punição com uma nova base psicológica” Freud (1916). 
Ou seja, Freud chama a atenção para que se considere as motivações dos 
crimes do ponto de vista psicológico para que as punições fossem baseadas também 
na própria estrutura da psique do indivíduo. 
Freud (1916) acrescenta o seguinte: 
“Fui levado a proceder a um estudo mais completo de tais incidentes por alguns 
casos gritantes e mais acessíveis, nos quais as más ações eram cometidas enquanto 
os pacientes se encontravam sob meus cuidados, e já não eram tão jovens. O 
trabalho analítico trouxe então a surpreendente descoberta de que tais ações eram 
praticadas principalmente por serem proibidas e por sua execução acarretar, para 
seu autor, um alívio mental”. 
38 
 
 
Ao analisar os actos mais violentos, dos indivíduos que se encontravam sobre os seus 
cuidados enquanto “pacientes”, Freud (1916) descobriu com base no trabalho 
analítico, que, os actos criminosos eram cometidos fundamentalmente por serem 
acções que a sociedade proibia e por, depois do acto, o seu perpetrador vivenciar um 
“alívio mental”, quer dizer que o comportamento criminoso funcionava como um 
escape. 
Em seu artigo intitulado, tipos libidinais, Freud (1931), com mais 
propriedade, faz uma descrição segunda qual, “às pessoas do tipo narcísicas que se 
expõem a uma frustração do mundo externo, embora sob outros aspectos 
independentes, estão particularmente dispostas à psicose, e também apresentam 
precondições essenciais para a criminalidade”. 
Mais adiante, Freud (1931) finaliza da seguinte maneira: 
“Constitui fato familiar que as precondições etiológicas da neurose ainda não são 
conhecidas com certeza. As causas precipitantes dela são frustrações e conflitos 
internos: conflitos entre os três principais agentes psíquicos; conflitos que surgem 
dentro da economia libidinal em consequência de nossa disposição bissexual e 
conflitos entre os componentes instituais erótico e agressivo. É trabalho da 
psicologia das neuroses descobrir o que faz com que esses processos, pertencentes 
ao curso normal da vida mental, se tornem patogênicos!”. 
 
Portanto, apesar de reconhecer que a psicologia da neurose precisa fazer mais 
descobrimentos sobre como a actividade mental normal se transforma em estado 
mórbido, Freud (1931) não deixa de acentuar que agressividade está relacionada às 
frustrações e a três componentes conflituais que se dão no mundo intrapsíquico: 
conflitos de origem libidinal e conflitos entre as partituras dos instintos eróticos. 
A componente dos factores psicológicos para a explicação do transtorno de 
personalidade anti-social e comportamento criminal, estende-se também para 
psiquiatria forense, com um pendor mais clínico. 
b) Psiquiatria Forense: tem como função precípua determinar, a 
partir de cada caso concreto, o aspecto do comportamento ou 
faculdade do indivíduo que se acha alterada e o impacto que essa 
alteração causa em sua personalidade. 
 
39 
 
 
A psiquiatria forense enquadra o transtorno de personalidade anti-social em 
um grupo da qual denomina de condutopatias, expressão que, de acordo com 
Palomba (2003), “é uma palavra composta por sufixação (conduta+pathos, moléstia),referindo-se aos indivíduos que apresentam distúrbios de condutas e distúrbios de 
comportamentos”. Essa classificação enquadra os transtornos de personalidade e de 
comportamento na Classificação Internacional das enfermidades (CID-10) e os 
transtornos de personalidade, personalidades psicopáticas, sociopatias, descritos no 
manual de diagnóstico e estatístico das doenças mentais (DSM-IV). 
A causa desse transtorno de comportamento para a psiquiatria forense aqui 
representada por Palomba (2003) “é devido ao comprometimento de três estruturas 
psíquicas: a afectividade, a conação-volição e a capacidade crítica, mantendo-se 
íntegras as outras partes mentais”. Por outro lado, retira-se a possibilidade da 
existência de problemas com a inteligência e o mau funcionamento da memória bem 
como da parte que responde pela sensibilidade e percepção, pois os indivíduos com 
transtornos de personalidade anti-social são “capazes de produzir raciocínios 
correctos e profundos” (Palomba, 2003). 
O problema com a estrutura afectiva é marcado pela insensibilidade, 
indiferença, resposta emocional inadequada, egoísmo; a conação está ligada a 
intenção mal dirigida e a volição está relacionada com movimentos voluntários sem 
crítica. Na realidade, o que se encontra em uma estrutura anormal são as faculdades 
de julgamento de valores morais e éticos e a faculdade de autocrítica, pelo fato de 
que se essas faculdades estivessem sã, existiria um processo de inibir a intenção 
impossibilitando assim o movimento espontâneo que daria a passagem ao ato. A 
outra parte do psiquismo não encontra-se prejudicado e se há prejuízo nessa outra 
parte, poderá ser por uso de bebidas alcoólicas, drogas ou intoxicação, essas 
substâncias, por sua vez, podem apenas auxiliar no transtorno do comportamento 
anti-social, (Palomba, 2003). 
c) Psicologia criminal: aborda modelos biológico-comportamentais 
de aprendizagem social, de desenvolvimento moral e de traços 
variáveis da personalidade. 
A psicologia criminal sendo um sub-ramo da psicologia que se ocupa do 
estudo das causas ou motivos normais e patológicos que fazem com que um 
40 
 
 
indivíduo se torne delinquente, ela, procura formular hipóteses e constructos 
psicológicos para explicar a personalidade do indivíduo que delinqui, (Jiménez e 
Brunce citado por Paulino 2015). 
 1.5.1.3 – Outros factores do Transtorno de Personalidade Anti-Social 
Factores como o contexto sócio-econômico no qual os comportamentos 
ocorrem, o gênero, a idade e, neste aspecto, é importante realçar que para o DSM-IV 
(1994) 
“O Transtorno da Personalidade Anti-Social tem um curso crônico, mas pode 
tornar-se menos evidente ou apresentar remissão à medida que o indivíduo 
envelhece, particularmente por volta da quarta década de vida. Embora esta 
remissão apresente uma propensão a ser particularmente evidente com relação a 
envolver-se em comportamentos criminosos, é provável que haja uma diminuição no 
espectro total de comportamentos anti-sociais e uso de substâncias” (DSM-IV, 
1994). 
O Transtorno da Personalidade Anti-Social deve ser distinguido do 
comportamento criminal visando ganhos financeiros, que não é acompanhado pelos 
aspectos de personalidade característicos do transtorno. Estes aspectos, sobretudo o 
da relação com o comportamento criminoso já foram discutidos a nível das teorias 
principalmente a interpessoal de Benjamim (1996). 
1.6- Transtornos de personalidade e a perícia psicológica 
Depois das visões apresentadas acima bastante esclarecedoras, seria 
importante já a seguir, tratar o assunto a nível da perícia psicológica visto ser uma 
pesquisa que se realiza dentro da psicologia criminal e, por este facto não podemos 
perder o foco. Para o efeito, Mezquita começa por dizer que: 
“Muitos juízes e advogados se empenham bastante em perguntar se uma pessoa 
possui ou não um perfil de determinado tipo de agressor. Diante desta pergunta 
teremos a obrigação de dizer que não existem tais perfis, o que pode existir são 
certas variáveis de personalidade incluindo transtornos que favorecem o 
surgimento de uma conduta agressiva. Esta é uma resposta frustrante para a lei, já 
que no mundo jurídico os factos existem ou não existem, (Mezquita, 2007).” 
Está patente a controvérsia entre o campo jurídico e a psicologia, ao procurar 
saber se um determinado indivíduo tenha um traço de agressividade os juízes e 
advogados costumam estar muitas vezes interessados nisso para entender 
41 
 
 
determinados comportamentos. Mas em contrapartida, a resposta que lhes é dada é a 
de que tais padrões não existem necessariamente, o que se deve considerar são certos 
aspectos de mutabilidade na personalidade que pode até envolver um transtorno que 
facilitem o aparecimento de actos agressivos. Diante desta resposta nota-se um 
descontentamento e uma inquietude visto que para o campo jurídico “os factos 
existem ou não existem”. 
Esta controvérsia é explicada por Mezquita (2007), segundo a autora, 
“O mundo do direito se move dentro das variáveis discretas ao passo que a psicologia 
fundamentalmente está orientada pelas variáveis contínuas.” Pois, “temos de explicar que a 
existência de um determinado transtorno não garante a existência de uma determinada conduta.” 
Porque um psicodiagnóstico de transtorno de personalidade antissocial pode não garantir a 
taxativamente que determinada pessoa cometa um delito”, outrossim a maioria das pessoas com 
transtorno antissocial da personalidade se encontram socialmente adaptadas e só uma minoria 
passam a delinquir”. 
Apesar disso, Mezquita (2007) destaca que, se enquadrarmos as quatro 
variáveis na teoria da personalidade de Millon (1998) podemos perceber que os 
estilos de personalidades mais potencialmente agressivas são: o estilo paranóide, o 
limítrofe, o negativista, o sádico e o anti-social. 
Se tivermos que agrupá-los em uma ordem hierárquica, a personalidade anti-
social aparecerá no topo da tabela, como avança Mezquita (2007). 
 
42 
 
 
CAPÍTULO II – RELAÇÃO DO TRANSTORNO DE 
PERSONALIDADE ANTI-SOCIAL COM O 
COMPORTAMENTO CRIMINAL 
2.1 – Conceituação sobre o comportamento criminal 
A gama de conceitos sobre comportamento criminal é vasta se considerarmos as 
várias áreas do saber a partir do conhecimento filosófico-moral, jurídico-
constitucional e sociológico. A psicologia por sua vez procura também explicar o que 
deve ser considerado então por comportamento desviante dando assim, pouca ênfase 
ao termo criminal. 
De acordo com Born (2005), 
“Para a perspectiva psicossocial, os actos de delinquência e/ou desviantes são actos sociais, 
isto é, actos que põem em ligação os seres humanos, sem que isso aconteça necessariamente 
numa relação imediata no aqui e agora. Neste conjunto de comportamentos sociais, 
distinguimos comportamentos neutros, comportamentos pró-sociais, comportamentos 
associais que podem provocar um dano sem que haja vontade de prejudicar e 
comportamentos anti-sociais que traduzem uma intenção negativa. É nestes dois últimos 
subconjuntos que se encontram os comportamentos que serão considerados como 
delinquentes conforme a avaliação da responsabilidade que, em direito penal, inclui 
nomeadamente a noção de intenção culpável ou de dolo”. 
Quer isto dizer que, para a perspectiva psicossocial, as acções de delinquir ou que 
representam um certo desvio enquadram-se primeiramente em um campo que 
descreve o vínculo entre os seres humanos não obstante, estar directamente 
relacionada com o presente momento em que estas interacções acontecem. Neste 
sentido, os actos intencionalmente negativos encontram-se destacados no quarto 
grupo, o dos “comportamentos anti-sociais”, a contar

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