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Aula 19 - A "Era de Ouro" do capitalismo 1 A “Era de Ouro do Capitalismo”: o estado de bem-estar, o sistema de Bretton Woods e a crise dos anos 70. Bibliografia: O: Frieden (2006), caps. 12 e 15. A: Frieden (2006), cap. 11; Isard (2005), cap. 2.2. C: Dalton (1977), cap. 5; van der Wee (1997), cap. 2. AULA 16 Aula 19 - A "Era de Ouro" do capitalismo 2 1. As lições da Grande Depressão e da II Guerra. “As principais imperfeições da sociedade econômica em que vivemos são seu fracasso em estabelecer o pleno emprego e sua distribuição arbitrária e desigual da riqueza e da renda ... Os atuais sistemas autoritários de Estado parecem resolver os problemas de desemprego às expensas da eficiência e da liberdade ... Parece possível, através de uma adequada análise do problema, curar a doença preservando ao mesmo tempo a eficiência e a liberdade” (Keynes, Teoria Geral, cit. em Dalton (1977), p. 88) “O maior dos males decorrentes do desemprego não reside na perda de riqueza material que poderíamos obter a partir do pleno emprego: existem dois males ainda maiores que esse. O primeiro, que o desemprego faz com que os homens se sintam desnecessários,não desejados, sem país; o segundo, que o desemprego faz com que os homens vivam atemorizados, e do temor surge o ódio” (William Beveridge, Full Employment in a Free Society, cit. em Dalton (1977), p. 88) Aula 19 - A "Era de Ouro" do capitalismo 3 2. As políticas keynesianas. • Idéia principal: não existem mecanismos automáticos para atingir o pleno emprego (especialmente para garantir gastos com o investimentos) → necessidade de intervenção do governo através dos seus próprios gastos, mexendo nos gastos privados e manipulando a tributação. • Julga-se conveniente reduzir as diferenças (pessoais e regionais) de renda e riqueza. Também aceita-se que os governos devem garantir um nível mínimo de bem-estar (saúde, renda, educação) para todos os cidadãos. • Aceita-se um certo nível de planejamento centralizado dos investimentos (experiência da guerra). (Obs: a tentativa é fazer um sistema mais justo e eficiente, mas sem abrir mão da propriedade privada e da democracia → solução capitalista). Aula 19 - A "Era de Ouro" do capitalismo 4 3. Criação do Sistema de Bretton Woods - I •EUA e Inglaterra mantêm conversas durante a guerra, planejando a reconstrução da economia mundial de modo a evitar a repetição da situação dos anos 30. •Princípios que conseguiam acordo entre ambos países: • a) evitar câmbio flutuante; • b) evitar restrições comerciais; • c) dificultar movimentos de capitais de curto prazo. •Estas políticas representam um acordo entre visões mais “free-traders” e outras mais keynesianas (preocupadas com o pleno emprego, etc). Aula 19 - A "Era de Ouro" do capitalismo 5 3. Criação do Sistema de Bretton Woods - II •FMI: controle das flutuações das taxas de câmbio, fornecimento de recursos para governos com problemas temporários no balanço de pagamentos. • Os países deveriam fixar suas moedas em dólares, e só alterar isso por um “desequilíbrio estrutural” no balanço de pagamentos. •Banco Mundial: fornecimento de recursos de longo prazo para reconstruir economias destruídas ou países pobres. •Pretendia-se criar uma OMC para favorecer o livre-comércio internacional, mas não houve acordo suficiente, logo criou-se apenas o GATT. •Obs: lembre-se da impossibilidade de ter política monetária autônoma, câmbio fixo e mobilidade de capitais simultaneamente. Aula 19 - A "Era de Ouro" do capitalismo 6 4. O governo trabalhista inglês, 1945-1951. • (Obs: questão básica foi fazer um capitalismo mais justo, mas sem abandonar a propriedade privada e a democracia). • Nacionalização de aprox. 25% da indústria, com indenizações (serviços públicos, comunicações, carvão). • Introdução do Sistema Nacional de Saúde, auxílio-desemprego, ajuda para habitação, pensões, etc. • Mudanças na distribuição de renda: % da renda - 1938 % da renda - 1947 100.000 rendas maiores 7,9 3,3 500.000 rendas maiores 16,8 9,8 1.000.000 rendas maiores 23,0 15,1 5.000.000 rendas maiores 48,6 39,8 Seguintes 5.000.000 rendas maiores 18,3 20,8 Restantes (> 13 milhões) 33,1 39,4 Aula 19 - A "Era de Ouro" do capitalismo 7 5. Situação da economia mundial no pós-guerra - I • EUA saem fortalecidos, assim como (em menor medida) Canadá e América do Sul. • Europa fica destruída. •Contexto de crescentes tensões políticas entre os países capitalistas e a URSS → Guerra Fria. •Começo do processo de descolonização. •Criação do Bloco Soviético e da “Cortina de Ferro”. •Reconstrução da Alemanha, divisão e volta à economia mundial. Aula 19 - A "Era de Ouro" do capitalismo 8 5. Situação da economia mundial no pós-guerra - II • O Plano Marshall e a recuperação européia: –Problema de falta de dólares na Europa de pós-guerra. –Recuperação econômica lenta → fortalecimento dos partidos de esquerda (especialmente comunistas). –Para se contrapor a isso, o governo dos EUA lança um plano de empréstimos (1947), aceito com a criação da OECC (depois OECD) e da Administração para a Cooperação Econômica (1948) nos EUA → envio de 13 bilhões de dólares (muitos a fundo perdido) alimentos, etc. –Criação da União Européia de Pagamentos (1950) para lidar com a falta de dólares, que teve sucesso e foi dissolvida em 1958. Aula 19 - A "Era de Ouro" do capitalismo 9 5. Situação da economia mundial no pós-guerra - III • Os “milagres” econômicos e a era de ouro: –Altas taxas de crescimento econômico: • Valores médios anuais para o período 1951-69: UK 3%, EUA 4%, CEE (incluindo Alemanha) 5%, Japão 10%. –Aumento da presença do setor público na economia, através das políticas fiscal e monetária, correspondendo a 30-40% do PIB, e de um quarto à metade dos investimentos. Também houve aumento das transferências, que representam tipicamente 10% do PIB. –Taxas de crescimento médias da OECD 1950-73 de 4,5% a.a, com alguns países crescendo acima disso (notadamente Alemanha, Japão e Itália) → “milagres econômicos”. Aula 19 - A "Era de Ouro" do capitalismo 10 5. Situação da economia mundial no pós-guerra - IV • Redução das desigualdades de renda. Salários Firmas pessoais Rendas de propriedade Inglaterra 1905-14 47,2 16,2 35,9 Inglaterra 1945-54 71,6 12,2 16,2 Salários Firmas pessoais Rendas de propriedade França 1929-38 56,2 23,7 20,1 França 1952-56 59,0 31,3 9,6 Salários Firmas pessoais Rendas de propriedade Suíça 1938-42 48,9 23,1 28,0 Suíça 1952-56 60,6 18,9 20,5 Aula 19 - A "Era de Ouro" do capitalismo 11 5. Situação da economia mundial no pós-guerra - V • Rumo à economia européia. – Existência de acordo entre Bélgica e Luxemburgo antes da II Guerra. – Criação do Benelux (1947). – Comunidade Européia do Carvão e do Aço (1951) elimina tarifas nesses produtos e define tarifa externa comum. – Mercado Comum Europeu (1958): gradual eliminação de tarifas internas, adoção de tarifa externa comum (em 12/15 anos, reduzido depois para 10). • Propõe convergir à unificação de políticas diversas. • Não pode ser denunciado unilateralmente. • Livre mobilidade de pessoas e capitais. –Expansão paulatina com a entrada de novos países. Aula 19 - A "Era de Ouro" do capitalismo 12 5. Situação da economia mundial no pós-guerra - VI • Avanços tecnológicos sistemáticos: desenvolvimento de P&D nas firmas e aumento do sistema universitário de pesquisa e ensino. – Incorporação de novos produtos tanto no Primeiro Mundo quanto nos países pobres (Revolução Verde). – Expansão dos gastos em P&D no PIB. –Avanços tecnológicos tipicamente intensivos em capital (pouca expansão relativa do emprego) • Expansão das atividades de empresas multinacionais. Aula 19 - A "Era de Ouro" do capitalismo 13 6. As características da Idade de Ouro - I 1. Aplicação de políticas liberais nas transações internacionais. a) Bom funcionamento do sistema internacional de pagamentos. b) Exportações de países do GATT aumentam 7 vezes entre 1950 e 1973. c) Capitais dos EUA na Europa passam de 1,7 bi (1950) a 40 bi (1973). 2. Demanda interna flutuante administrada pelos governos. a) Desemprego nos países desenvolvidos cai de uma média de 7,5% (1921-38) a 2,6% (1950-73). b) “Ativismo fiscal”: orçamento é uma arma para manter pleno emprego na economia, não necessidade de que esteja sempre equilibrado. c) Tolerância com inflação moderada (média nos países desenvolvidos passa de – 0,6% (1921-38) a 4,2% (1950-73). Aula 19 - A "Era de Ouro" do capitalismo 14 6. As características da Idade de Ouro - II 3. Circunstâncias especiais permitem crescimento da demanda com inflação baixa. a) Câmbio fixo e abertura internacional criam pressões concorrenciais nos mercados internos. b) Preços de alimentos e petróleo estáveis no período. c) Oferta elástica de mão de obra: migrações internacionais e saída da agricultura. d) Baixa tensão social permite aumentos salariais moderados. Aula 19 - A "Era de Ouro" do capitalismo 15 7. O fim da Idade de Ouro - I 1. Fim do sistema de Bretton-Woods. a) Taxas de câmbio estáveis pós 1949. b) Crescimento dos outros países (esp. Alemanha e Japão) permite que estes acumulem reservas, enquanto as dos EUA caem (sem realinhar câmbio). c) Reservas dos EUA são 63% das reservas internacionais em 1950, mas só 21% em 1970, caindo em valores absolutos. d) EUA preferem acabar com a convertibilidade em lugar de desvalorizar o dólar (1971). e) Fim do sistema de câmbio fixo. Aula 19 - A "Era de Ouro" do capitalismo 16 7. O fim da Idade de Ouro - II 2. Aumento das tensões sociais, maiores pressões salariais, fim da “ilusão monetária”. 3. A volta de pressões inflacionárias. a) Choque do petróleo (1973): preços aumentam quatro vezes. b) Crescimento da economia mundial permite empréstimos, que reforçam essas grandes taxas de crescimento, com aumento de pressões inflacionárias . c) Aumento dos preços dos alimentos e de outras matérias primas.
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