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parceiro estraté ico: especialistas em políticas públicas e estão overnamental apresentação O Projeto Agenda de Melhorias apresenta-se como um movimento pela inovação na gestão pública. Inovar no sentido de criar mais valor pú- blico, de buscar a consolidação de boas práticas e disseminá-las no âmbito da gestão governamental. Essa ousada criação somente se viabilizou pela atitude republicana e pelo espírito empreendedor de dois Governadores do Estado de Minas Gerais, Aécio Neves e Antonio Anastasia, lideranças mineiras e nacio- nais, que desenvolveram e consolidaram um ambiente inovador no qual prevalecem a governança, a responsabilidade e o rigor técnico e ético. Ter como objeto de análise a experiência mineira de oito anos, em que se revigorou a importância de uma gestão eficiente e orientada para resultados, foi essencial para a construção das propostas aqui contidas. Desse patamar vislumbram-se avanços relevantes que devem ser bus- cados pelas lideranças desse País. Tudo isso, sem abrir mão da ênfase no equilíbrio fiscal, pressuposto de qualquer avanço na gestão pública. É com a expectativa de um futuro promissor, que já se faz presente hoje, que se oferece à sociedade uma estratégia de desenvolvimento para Mi- nas Gerais e propostas para um efetivo sistema de entrega de resultados para a gestão pública. Agradecemos aos coordenadores técnicos desse projeto, a todos os par- ticipantes da Rede por uma Gestão Pública Inovadora, do Comitê Ges- tor, aos facilitadores, às consultorias parceiras McKinsey & Company, Macroplan e Fundação Dom Cabral e ao MBC. Destacamos, particular- mente, o papel decisivo do presidente do BDMG, Paulo Paiva, que, de primeira hora, apoiou essa iniciativa. Tadeu Barreto Guimarães Fernando Lage de Melo Diretores do projeto * Este é um dos documentos complementares, elaborado no âmbito do Projeto Agenda de Melhorias. Os demais documentos do Projeto estão disponíveis no site www.agendademelhorias.org.br Este documento descreve e analisa um dos componentes do sistema de entregas de resultados do governo de Minas Gerais, a carreira do Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental – EPPGG. Tal documento visa subsidiar a construção de um conjunto de ações de melhorias e inovações, para que se alcance um novo patamar de efetividade dessa iniciativa. A estrutura parte da descrição da cadeia de processos e do mapa de relacionamento da iniciativa, que serviram de subsídios para estru- turar as dimensões de análise constantes no Quadro 1. Essas dimen- sões direcionaram a coleta de dados e dão a organização aos tópicos deste registro. A coleta de dados foi realizada via análise de dados, documentos e entrevistas em profundidade com stakeholders envolvidos no compo- nente, quais sejam: alunos, EPPGGs, professores, equipe da Escola de Governo e representantes do governo. No total foram ouvidos 56 stakeholders. Todas as recomendações contidas neste documento visam fortalecer a pioneira iniciativa, mantida com sucesso pelo governo do Estado de Minas Gerais. Nesse sentido, vale o comentário do especialista Fran- cisco Longo: “Inovar é criar, mas também é consolidar as iniciativas. Mais do que dizer onde temos que inovar, deve-se perguntar o que temos que fazer para garantir a continuidade e que ferramentas de comunicação são necessárias para manter a ideia de que se continua inovando”. É com esse espírito que o presente trabalho busca fazer proposições para a iniciativa de Especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governa- mental (EPPGG). resUMo Dimensão de análise Descrição Processo de entrada (atração) Foram mapeados os mecanismos de atração para a entrada do EPPGG no governo. Docentes Foi analisado como se dá a seleção, como é o vínculo e como são avaliados os docentes do curso de formação do EPPGG. Formação do EPPGG Mapeou-se como é realizada a formação do EPPGG em termos de grade curricular, conteúdos, avaliações e prática profissional durante o curso. Desenvolvimento Foi verificado como é realizado o desenvolvimento do EPPGG pelo governo. Desempenho Mapeou-se como é avaliado o desempenho do EPPGG pelo governo. Remuneração Foi analisada a remuneração do EPPGG. Carreira Realizou-se o mapeamento das perspectivas de carreira do EPPGG. Quadro 1 Dimensões de análise. Fonte: FDC. 3 sumário Cadeia de processos - EPPGG 1 Estratégia do governo 2 Processo de seleção dos alunos do CSAP 3 Formação do EPPGG 3.1 O Curso Superior de Administração Pública 3.2 Docentes do CSAP 4 Alocação do EPPGG 5 Gestão da carreira: remuneração, evasão e desenvolvimento do EPPGG 6 Propostas de melhorias 7 Considerações finais Referências Anexo A - Critérios de avaliação por disciplina – determinados no regimento interno da Escola de Governo Ficha técnica 5 6 14 22 23 32 36 43 58 65 67 71 74 A cadeia de processos da carreira de EPPGG, apresentada na sequência, ilustra os macroprocessos finalísticos que formam as dimensões de análise do componente. Carreira de EPPGG Macroprocessos finalísticos cadeia de processos - eppGG Seleção dos Alunos Formação dos Alunos Alocação dos EPPGGs Gestão da carreira de EPPGG 5 1 estratégia do governo O embrião da Escola de Governo Professor Paulo Neves de Carvalho, na Fundação João Pinheiro – FJP, surge na década de 1980, a partir do momento em que o Curso Superior de Administração Pública – CSAP foi autorizado a funcionar pelo Decreto Federal nº 92.745, de 4 de junho de 1986, e pela Lei Estadual nº 9.360, de 9 de dezembro de 1986. A criação do CSAP teve como objetivo formar e capacitar servidores públicos aptos a atuar no processo de modernização do Estado. Após a sua autorização, o curso foi oferecido inicialmente em 1987, entretanto, em março de 1988, foi transferido da Fundação João Pinheiro para a União de Negócios e Administração – UNA. Apesar da trajetória conturbada, a primeira turma de administradores públicos foi graduada e nomeada em 1992. Segundo Oliveira (2009), os problemas relacionados à continuidade de formação dessa primeira turma se devem aos choques políticos e questões referentes à estratégia de aplicação do curso. Nesse sentido, Nicácio (2003, p. 12) pontua: “Vale destacar o cenário adverso em que se deu a iniciativa da criação do CSAP. De certo modo, o curso foi lançado em um ambiente cuja preocupação central não consistia em melhorar o aparato governamental. Ao contrário, os esforços estavam direcionados para a redução do papel e do tamanho do estado, em detrimento de uma política voltada para a qualidade da ação governamental. E o CSAP, sendo um projeto com vistas a equipar o Estado de servidores bem formados para desempenhar de maneira eficiente suas atribuições e modernizá-lo, não se enquadrava nesta perspectiva.” Após reformulações da formatação do curso e da grade curricular, o CSAP foi retomado em 1993, pela então criada Escola de Governo da FJP, e a partir daí passou a ser oferecido todos os anos. Excepcionalmente, ocorreu o ingresso de duas turmas em 1993, e, posteriormente, entre 1994 e 2003, o número de turmas ofertadas passou a ser apenas uma. Entretanto, de 2004 em diante, a Escola de Governo passa a ofertar novamente duas turmas anuais, de ingresso semestral. Nesse mesmo ano, o curso de Administração Pública também passou por uma reforma curricular, aprovada pelo Conselho Estadual de Educação, por meio do parecer nº 689/2004, aprovado em 28/08/2004 e que permanece inalterada até o momento. 7 A Escola de Governo Professor Paulo Neves de Carvalho é hoje uma instituição de ensino superior que combina “autonomia acadêmica dos seus programas de ensino e pesquisa com subordinação aos objetivos de modernização da gestãoda máquina administrativa do governo do Estado” (FJP, 2007, p. 6). Além da graduação, a Escola de Governo também oferece cursos de pós-graduação lato sensu e stricto sensu bem como programas de educação continuada. Atualmente, são regularmente oferecidos os seguintes cursos na Escola de Governo: • Curso Superior de Administração Pública – CSAP – curso de graduação voltado para a formação dos Especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governamental – EPPGGs e de profissionais que atuarão nas áreas de gestão governamental e de formulação, implementação e avaliação de políticas públicas; • curso de mestrado em Administração Pública – curso stricto sensu credenciado pela Capes e que objetiva a formação teórica e técnica de alto nível com ênfase em questões centrais da administração pública moderna. O público-alvo do curso consiste em profissionais que atuam no serviço público, em centros de pesquisa, em instituições de ensino superior, no setor privado e em organizações não governamentais. Além da área de atuação, os interessados nos problemas da gestão pública e formulação, planejamento, implementação e avaliação de políticas públicas também fazem parte do público-alvo; • Programa de Especialização em Administração Pública – Proap – programa que visa utilizar o conhecimento para a construção de uma visão estratégica da administração pública. O público- alvo são profissionais de nível superior de diferentes esferas de governo e profissionais envolvidos na gestão pública; • curso de especialização em segurança pública – curso ministrado em parceria com a Polícia Militar de Minas Gerais, cujo objetivo é promover a reflexão e o debate sobre políticas de segurança pública e o papel da PMMG no planejamento e execução dessas políticas. O curso é exclusivo para oficiais capitães da força policial militar de Minas Gerais; • curso de especialização em gestão estratégica de segurança Pública – o curso tem como objetivo a capacitação de oficiais das polícias militares como gerentes estratégicos de suas respectivas corporações. Assim, é voltado para majores e tenentes-coronéis das polícias militares de Minas Gerais e demais Estados da União; 8 • cursos de extensão – o curso tem por objetivo treinar, capacitar, desenvolver e otimizar as potencialidades dos servidores públicos estaduais. Apesar de ministrado pela Escola de Governo, é coordenado pela Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão – SEPLAG. A Escola de Governo faz parte da estrutura orgânica da FJP e sua inserção na instituição pode ser vista no organograma a seguir. Fonte: FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Dis- ponível em: <http://www.fjp.gov.br> Escola de Governo Professor Paulo Neves de Carvalho Centro de Estatísticas e Informações Centro de Estudos de Políticas Públicas Paulo Camilo de Oliveira Penna Diretoria de Planejamento, Gestão e Finanças Secretaria-Geral Gerência de Ensino e Pesquisa Gerência de Extensão e Relações Internacionais Gerência de Capacitação e Treinamento Secretaria Registro e Controle Acadêmico Gerência de Contabilidade e Finanças Gerência de Planejamento e Modernização Institucional Gerência de Recursos Humanos Gerência de Logística e Manutenção Conselho Curador Conselho Diretor da Escola de Governo Professor Paulo Neves de Carvalho Biblioteca Profa. Maria Helena de Andrade Assessoria de Tecnologia e Informação Gabinete Procuradoria Assessoria de Comunicação Social Auditoria Seccional Presidência Vice-Presidência 9 Figura 1 Organograma da Fundação João Pinheiro. No âmbito da missão da Fundação João Pinheiro, que é a de “contribuir para a qualidade e efetividade da administração e das políticas públicas, por meio da geração e difusão de informações e conhecimentos e da formação de gestores públicos”, a Escola de Governo Professor Paulo Neves de Carvalho tem a missão institucional de promover a modernização e profissionalização da administração pública de Minas Gerais. A consecução da sua missão é realizada mediante: • formação de Especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governamental; • desenvolvimento de estudos e pesquisas voltados para a superação dos problemas do Estado identificados na área de administração pública; • formação de quadros de alto nível, através da qualificação e treinamento de profissionais encarregados da gestão de políticas públicas, dotando-os de competências que conduzam à melhor qualidade da administração pública; • criação de ethos próprio de uma burocracia profissional moderna, que fortaleça as instituições em sua dimensão pública (FJP, 2007, p. 7). Por ser a Escola de Governo uma diretoria da Fundação João Pinheiro, sua visão de futuro mescla-se com a da instituição da qual faz parte. A FJP tem como visão de futuro: “Ser um centro de excelência na produção de informação e de conhecimento e na formação de gestores públicos”. As opiniões dos entrevistados em relação à visão de futuro da escola divergem. Enquanto alguns colaboradores entrevistados salientam o processo de expansão dos cursos ofertados, como a criação de um doutorado, outros ressaltam a inexistência de uma visão de futuro própria da Escola de Governo, mas apenas aquela referente à Fundação João Pinheiro. Na percepção dos entrevistados, a Escola de Governo tem um papel importante na transformação e modernização da administração pública de Minas Gerais, principalmente no que se refere à formação dos Especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governamental. 10 Segundo a opinião de alguns stakeholders, a intenção é ampliar os cursos de formação e capacitação para aumentar a gama de servidores atendidos. Um problema que pode ser constatado é o não envolvimento de forma mais explícita nessa missão de um dos elementos-chave nesse processo de modernização e profissionalização, que são os alunos do CSAP. Os alunos entrevistados comentam que nunca lhes foram apresentadas a missão, a visão e a estratégia da Escola de Governo. Eles acreditam que, por fazerem parte da Escola, deveriam estar mais envolvidos nessas questões. E argumentam que a dificuldade de estabelecer uma visão para a Escola se deve à fragmentação política existente em seu quadro funcional. Um trabalho de envolvimento desses alunos com a missão da Escola de Governo pode criar uma identificação mais profunda com a carreira de EPPGG. Outro ponto importante, que poderia auxiliar na consecução da missão, é a criação de uma visão de futuro específica para a Escola de Governo. A relevância dessas discussões para o CSAP, sobre um maior envolvimento com missão e a criação de uma visão de futuro própria da Escola de Governo, se deve à sua própria trajetória suscetível a mudanças de orientação política. A ideia é que uma consolidação da razão de ser do CSAP – missão, visão de futuro, objetivos – é um elemento importante para “blindá-lo” em relação à possibilidade de descontinuidade, resultante das mudanças de governo e orientações políticas. Atualmente, o CSAP é estruturado em torno de um núcleo básico e de um núcleo específico de disciplinas. A partir dessa estrutura, o CSAP tem como objetivos específicos: • a formação de servidores para composição dos quadros para o setor público; • o fortalecimento de competências na área de gestão governamental; • o desenvolvimento de pesquisas relacionadas com as questões e problemas da administração pública; • o treinamento dos alunos em órgãos governamentais na formulação e execução de políticas públicas. Segundo informações disponibilizadas pela Escola de Governo, o investimento em cada EPPGG, apurado em 2004, totalizava R$ 30.918,91, incluindo os custos diretos e indiretos. Os custos11 diretos referem-se ao pagamento da bolsa de estudo mensal, despesas de custeio, pagamento de docentes e subsídio-alimentação (opcional). Entre os custos indiretos, incluem-se gastos com água e luz, aquisição e manutenção do acervo da biblioteca, despesas com a coordenação e secretaria do curso, entre outros. A Escola de Governo avisa que o referido valor pode variar entre os alunos e as turmas do CSAP, devido à utilização do subsídio de alimentação, à titulação dos docentes que ministram as aulas e, também, à titulação do professor orientador. Devido aos investimentos feitos pelo governo de Minas Gerais na formação do EPPGG, o aluno precisa firmar um compromisso de permanência no governo por um período mínimo de dois anos após a conclusão do curso. Caso não cumpra o compromisso de permanência firmado, além de outros critérios, o EPPGG terá que restituir aos cofres públicos o valor do investimento correspondente aos quatro anos de estudo. A regulamentação da multa rescisória da carreira de EPPGG está presente nos §§ 5º e 6º do artigo 8º da Lei Estadual nº 18.974, de 29 de junho de 2010. De acordo com a referida lei: § 5º O aluno a que se refere o § 2º firmará termo de compromisso, obrigando-se a ressarcir ao Estado o valor atualizado dos serviços escolares recebidos e, se for o caso, o valor atualizado da bolsa de estudo mensal, na hipótese de: I - abandonar o curso, a partir do quarto semestre, a não ser por motivo de saúde, devidamente atestado pelo órgão competente; II - ser reprovado em três disciplinas previstas no currículo do CSAP; III - não tomar posse no cargo de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental; IV - não permanecer na carreira pelo período mínimo de dois anos após o ingresso. § 6º A Fundação João Pinheiro cobrará judicialmente as despesas decorrentes da aplicação do disposto no § 5º se não houver o ressarcimento pela via administrativa. De acordo com os controles administrativos da Fundação João Pinheiro, até o momento, 40 integrantes da carreira abandonaram o curso antes de completarem dois anos de efetivo exercício. Desses, apenas seis pagaram o valor estipulado para a multa recisória, sendo que um de forma parcial. Sete ações judiciais foram consideradas 12 improcedentes por prescrição do prazo ou por falta de assinatura de termo de compromisso que, atualmente, deve ser assinado no ato da matrícula. As demais ações se encontram em julgamento. O investimento da Escola de Governo em cada aluno é um ponto que merece reflexão. Minas Gerais adotou um modelo único no País de formação de gestores, no formato de graduação com extensa carga horária, que vem sendo bem avaliado tanto pelos stakeholders como pelos órgãos oficiais (MEC). Contudo, o modelo ainda é questionado quando comparado ao adotado por outras Unidades da Federação e pelo governo federal. Nesses casos, a seleção é feita para candidatos com nível superior que são submetidos a um curso intensivo de gestão pública, como segunda etapa do concurso público, em formato mais rápido e, provavelmente, menos dispendioso. O governo de Minas chegou a adotar uma alternativa para ingresso na carreira com a Lei nº 15.304, de 2004. A norma previa a seleção de candidatos para o nível III da carreira que deveriam preencher como requisito ter formação em nível de mestrado, o que dava a possibilidade de recrutar profissionais especializados e com mais tempo de formação. A entrada alternativa foi utilizada apenas uma vez com a realização de concurso público, mas o dispositivo foi revogado com a entrada em vigor da nova lei que reestrutura a carreira em 2010. O debate é ampliado quando levada em consideração a evasão1 observada ao longo da carreira. Para alguns entrevistados, o governo mineiro estaria formando mão de obra qualificada para atuação em outras esferas de governo, notadamente o governo federal, além da iniciativa privada, mesmo que de forma residual. Perguntas importantes precisam ser respondidas para que a avaliação desse investimento seja analisada. Qual a expectativa do governo em relação à permanência desses profissionais na estrutura do Estado? O que seria suficiente para “pagar” um investimento estimado superior a R$ 1 milhão em cada turma do curso? A evasão é alta em relação ao observado em outras carreiras que não realizam o mesmo tipo de investimento? Interessa ao Estado de Minas Gerais, além de formar técnicos para sua própria administração, ser formador de quadros qualificados para outras esferas de governo? Haveria externalidades positivas na migração de egressos da Escola de Governo para o governo federal? As seções seguintes deste relatório apresentam dados objetivos e percepções de stakeholders que podem indicar respostas ou facilitar a reflexão sobre as questões apresentadas. 1. Os dados de evasão serão apresentados e analisados no Capítulo 5 deste relatório. 13 2 processo de seleção dos alunos do csap Concomitantemente à reestruturação da carreira de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental em 2004, a Escola de Governo ampliou a oferta de 40 para 80 vagas anuais no CSAP. Os candidatos ao curso são selecionados por meio de concurso público vestibular, que é composto de duas etapas. Na primeira, constam provas escritas, constituídas de questões de múltipla escolha. Na segunda etapa do concurso, as provas escritas são constituídas de questões abertas. Os programas das provas do concurso público vestibular são divulgados antecipadamente. A partir dos conteúdos, as provas objetivam avaliar, em nível de ensino médio, os conhecimentos e habilidades (capacidade de raciocínio, pensamento crítico, compreensão, análise e síntese) do candidato. O CSAP oferece uma série de benefícios que motiva muitos jovens a se candidatarem. Dentre os benefícios, primeiramente se destaca o fato de que é um curso gratuito e muito bem avaliado pelo MEC. Além disso, os aprovados no concurso público vestibular têm direito a uma bolsa de estudo mensal no valor de um salário mínimo vigente. Os benefícios se estendem, também, aos servidores do Poder Executivo Estadual que já tenham cumprido o período de estágio probatório. Esses servidores podem receber dispensa do ponto durante o período letivo, caso a instituição em que trabalham o permita, com direito à remuneração integral do cargo efetivo que ocupam. Por fim, talvez o maior benefício de todos: ainda há a garantia de um emprego. Após a colação de grau, o formando é nomeado para a classe inicial da carreira de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental. Assim, pode-se dizer que a qualidade e gratuidade do curso, assim como a concessão de bolsas de estudo e a garantia de uma carreira ligada à formação, compõem o conjunto de fatores que explica a atratividade e a motivação para o ingresso no CSAP, o que tem feito desse, um dos cursos mais concorridos de Minas Gerais. A Tabela 1 a seguir apresenta as quantidades de vagas ofertadas e o número de candidatos inscritos no concurso público vestibular, bem como a relação candidato/vaga. 15 Para fins de comparação, a Tabela 2 abaixo apresenta a relação candidato por vaga dos cursos mais concorridos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para o vestibular de 2009. Ano Inscritos Vagas Candidato/vaga 1995 901 40 22,5 1996 747 40 18,7 1997 698 40 17,5 1998 844 40 21,1 1999 1004 40 25,1 2000 648 40 16,2 2001 952 40 23,8 2002 1485 40 37,1 2003 1290 40 32,3 2004 / 1 1432 40 35,8 2004 / 2 804 40 20,1 2005 1091 80 13,6 2006 1257 80 15,7 2007 1373 80 17,2 2008 1046 80 13,1 2009 1516 80 19,0 Curso Candidatos Vagas Cand/Vaga ADMINISTRACAO – D 792 50 15,8 ADMINISTRACAO – N 951 50 19,0 DIREITO – D 3103 200 15,5 DIREITO – N 3176 200 15,9 ENGENHARIA AMBIENTAL- D 1125 50 22,5 ENGENHARIA DE MINAS - D 992 60 16,5 ENGENHARIA QUIMICA - D 1307 60 21,8 GEOLOGIA – D 689 35 19,7 MEDICINA – I 10.077 320 31,5 TOTAL DE CANDIDATOS (NÃO TREINEIROS) 60.882 5.950 10,2 16 tabela 1 Vagas e candidatos no con- curso público vestibular: 1995-2009. Fonte: EG/FJP. tabela 2 Relação candidato por vaga para cursos com concorrência superior a 15 candidatos por vaga - vestibular UFMG 2009. Fonte: UFMG. http://www.ufmg.br/online/arquivos/ anexos/Candidato_vaga.pdf. Neste mesmo ano, o curso de Gestão Pública noturno, recém-criado pela UFMG, teve 297 inscritos para um total de 80 vagas e relação candidato por vaga de 3,7. As opiniões dos entrevistados são díspares em relação ao processo seletivo do CSAP. Uma parte referenda a competitividade e a capacidade de concurso público vestibular em selecionar bons alunos, o que garante satisfação em relação ao processo. As críticas em relação ao processo seletivo abarcam desde a forma do mesmo até o tipo de aluno que acaba selecionando. Um professor entrevistado diz o seguinte sobre a forma do concurso: “Acho que não é o ideal. Talvez incorporar entrevistas, mas isso dá muito problema. Assim, não consigo imaginar uma saída. O que tentamos hoje é mudar o conteúdo programático das provas do vestibular”. Alguns alunos consideram o processo seletivo deficitário e que não deveria ser parecido com um vestibular. Para eles, a prova deveria ser mais parecida com um concurso público (incorporando conteúdos como raciocínio lógico, sociologia, etc.) do que com um vestibular tradicional. As opiniões sobre a alta qualidade do corpo discente do CSAP são unânimes. Segundo professores entrevistados, a formação pregressa dos alunos é ótima. São críticos, proativos, com um nível intelectual alto. A maioria é composta de indivíduos jovens provenientes da classe média. Eles ressaltam que esse é um perfil recente. Antigamente, observava-se uma maior heterogeneidade dos alunos, dado que havia mais servidores cursando o CSAP. Se, por um lado, com a mudança de perfil, o nível acadêmico dos alunos melhorou, de outro, os alunos passaram a ter um perfil com menos experiência de vida e com um conhecimento mais limitado sobre a carreira do EPPGG. Em relação ao perfil dos formandos que ingressam na carreira, o que pode ser observado ao longo do tempo é uma redução da média de idade. Excluída a primeira turma que apresentou média de idade no momento de ingresso na carreira superior a 32 anos, as turmas seguintes até o XVI CSAP apresentou variação entre 23 e 27 anos de idade, sendo a média geral das turmas inferior a 25 anos. O Gráfico 1 abaixo, apresenta a média de idade de ingresso no cargo a partir da 2ª turma do CSAP. 17 Média de idade no início do exercício (por CSAP) Média de idade (Geral) 28.00 27.00 26.00 25.00 24.00 23.00 22.00 Id ad e CSAP 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 16 26.64 24.69 26.77 26.06 25.17 25.94 25.22 23.81 14 15 23.63 24.48 24.44 23.75 23.08 24.81 23.58 24.13 Gráfico 1 Média de idade na data de início do exercício no cargo de EPPGG por CSAP (ex- cluído o I CSAP). Fonte: Dados fornecidos pelo EpR (outubro de 2009). O processo de seleção do CSAP remete à discussão sobre o perfil dos candidatos aprovados. Se considerarmos apenas o critério meritocrático, a concorrência do concurso público vestibular e o perfil de alunos com bom capital humano, o processo seletivo pode ser, a princípio, considerado um sucesso para o CSAP. A grande questão é que uma seleção bem-sucedida para o CSAP não necessariamente é um sucesso na seleção de futuros EPPGGs. Para muitos stakeholders entrevistados um fator de motivação desejável para o ingresso no CSAP deveria ser o de querer atuar no setor público, que hoje seria pouco presente entre os alunos. Conforme menciona um professor: “[...] eles pensam mais no curso do que na carreira. Antigamente o foco era na carreira”. Para um grupo de alunos: “Falta a característica de querer ser EPPGG. Tem pessoas que estão pela bolsa e pelo emprego, não se comprometem com nada”. O que contribuiu para essa mudança de foco, segundo alguns entrevistados, é a própria mudança do perfil dos alunos. Quando os alunos servidores tinham uma maior representatividade nas turmas, a preocupação com a carreira era mais exacerbada. Além do problema relacionado à imaturidade dos alunos, ressaltado por alguns professores, um deles enfatiza esse novo perfil como um grande problema para a Escola. Há quem considere que o perfil dos ingressantes no CSAP, de ótima formação intelectual e socioeconômica os leva a ter uma grande ambição profissional e financeira. “De uma maneira geral são alunos de famílias ricas, de boas escolas. Eu vejo um problema nisso, porque essas são pessoas com grandes expectativas, que são difíceis de satisfazer. Assim, acho que a Escola poderia focar o seu público-alvo em pessoas mais humildes.” 18 Outro professor entrevistado critica os tipos de alunos que são selecionados e diz: “Creio que selecionamos os melhores, mas não os que vão ficar na carreira. Acho que tínhamos que tentar captar pessoas com um nível socioeconômico mais baixo”. Segundo esse ponto de vista, a estratégia deveria focar em alunos com um nível socioeconômico mais baixo, que, a princípio, teriam expectativas financeiras não tão ambiciosas. Foi sugerido por um entrevistado que a introdução de cotas para candidatos com um perfil socioeconômico mais baixo poderia ser uma solução. Entretanto, tal argumento considera verdadeiro o diagnóstico de que tais candidatos teriam expectativas salariais mais modestas e, consequentemente, tenderiam a permanecer na carreira. Essa linha argumentativa é apenas uma conjectura, pois não há evidências de que esteja correta. A questão da motivação para o ingresso no CSAP remete ao problema de assimetria de informação entre a Escola de Governo e os candidatos do concurso público vestibular. Os motivos se concentram na qualidade do curso, muito bem avaliado pelo MEC2 , na existência de bolsa e emprego garantido no futuro. Um ponto interessante é que os alunos entrevistados propõem um mecanismo de sinalização de interesse, autosseleção, na carreira de EPPGG, que pode ser considerado contundente, que é a extinção das bolsas de estudo: “Se a bolsa acabasse, iria ter uma evasão inicial grande, mas achamos que ficariam apenas as pessoas que querem ser EPPGGs. A bolsa descaracteriza o curso. Ficou incoerente ao longo do tempo, pois antes era tempo integral”. É uma proposta extremada e polêmica, mas que não deve ser descartada. Há a necessidade de maiores discussões para se entender melhor o problema. Uma opção menos extrema seria a alteração no conteúdo das provas do concurso público vestibular, com o intuito de que se pareça menos com um vestibular e mais com um concurso público. Isso foi sugerido tanto por professores como por alunos entrevistados. Pelo conteúdo exigido atualmente, pode-se perguntar qual a contribuição para a carreira de EPPGG em exigir conhecimentos de Física, Química e Biologia. O problema é que, ao estruturar o concurso público vestibular nos moldes de um vestibular convencional, gera-se um problema de assimetria informacional conhecido como “seleção adversa”. Isso ocorre porque, pelo conteúdo exigido, a Escola de Governo não consegue selecionar candidatos realmente interessados em seguir a carreira de EPPGG. Só os candidatos conhecem o seu verdadeiro 2. A avaliação do curso será apresentada no Capítulo 3 que trata da formação do EPPGG durante o curso superior na Escola de Governo. 19 interesse em seguir na carreira, e é preciso estruturar um processo seletivo que os faça revelar essa informação, o interesse. Um concurso públicovestibular similar ao vestibular da UFMG possibilita que os alunos façam ambos os vestibulares estudando os mesmos conteúdos. Assim, o CSAP pode aparecer como uma segunda opção, que revela um interesse não muito firme em seguir na carreira de EPPGG. O CSAP também pode ser a primeira opção, mas nessa situação se abre precedente para a realização de outros cursos superiores por parte do candidato, o que não é do interesse da Escola de Governo. Ao diferenciar o conteúdo do concurso público vestibular do vestibular da UFMG, estar-se-ia utilizando um mecanismo de diminuição da assimetria de informações conhecido como autosseleção. A necessidade de estudar para um conteúdo mais específico impõe um custo, em termos de esforço, de se estudar o conteúdo de outros vestibulares. Assim, ao optar por fazer o concurso público vestibular, o candidato estaria se autosselecionando, o que sinalizaria seu interesse em seguir a carreira de EPPGG. Independentemente de qualquer medida de âmbito estadual, uma Legislação Federal recente, a Lei nº 12.089 de 11 de novembro de 2009, já trará impactos diretos na dinâmica da Escola de Governo. A citada lei proíbe que uma mesma pessoa possa ocupar duas vagas simultâneas em instituições públicas em todo território nacional. Os efeitos da lei ainda são recentes para serem analisados, principalmente porque autoriza a conclusão dos cursos simultâneos que tenham se iniciado antes da publicação da Lei. O importante é que, independentemente da interpretação se o perfil atual dos alunos é bom ou ruim, a Escola de Governo tenha posicionamento mais claro relativamente ao seu público-alvo e que isso venha acompanhado de ações para captar esse público. A Escola de Governo descreve no Projeto Pedagógico do CSAP que o seu público-alvo são pessoas com o ensino médio concluído e que tenham interesse em ingressar na carreira de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, no entanto, esse interesse não é investigado no processo de seleção desses alunos. Por se tratar de um vestibular com caráter de concurso público, o processo de seleção observa as limitações da legislação referente a concursos no Brasil, que invariavelmente tem sido alvo de ações judiciais ao menor indício de falta de objetividade no processo seletivo. 20 A partir dos dados coletados, percebe-se que a Escola de Governo não possui, de forma explícita, a descrição de um perfil de aluno almejado para o CSAP. No Projeto Pedagógico, há apenas uma menção, referente ao público-alvo, de que o candidato ao concurso público vestibular tenha interesse em ingressar na carreira de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, mas sem qualquer ação ou estratégia para captar esses indivíduos. Para a retenção futura do EPPGG, principalmente após o término do contrato legal de dois anos, a definição mais clara do perfil do aluno torna-se chave. 21 3 Formação do eppGG o curso superior de administração pública 3.1 A atual grade curricular do CSAP é decorrente da reforma curricular ocorrida em 2004. Segundo a Fundação João Pinheiro (2007, p. 12), “ela é fruto de um intenso processo de discussão conduzido no segundo semestre de 2003 e no primeiro semestre de 2004. Foram consultados alunos, ex-alunos e professores do curso de Administração Pública bem como Diretores, Superintendentes e Secretários de Estado que trabalham com os egressos do curso.” As disciplinas do curso foram alocadas em sete áreas temáticas e dispostas de forma matricial ao longo dos oito semestres letivos do curso. A seguir, apresentam-se as áreas temáticas com as suas respectivas disciplinas. 23 Área temática de Fundamentos Quantitativos, Finanças e Orçamento Núcleo de Administração (Geral) Matemática 60 h/a Teoria Geral da Administração 60 h/a Estatística 60 h/a Informática 30 h/a Matemática Financeira 30 h/a Organização, Sistemas e Métodos 60 h/a Introdução à Contabi- lidade 30 h/a Administração de Ma- teriais e Patrimônio 60 h/a Administração Finan- ceira e Orçamentária 60 h/a Administração de Recursos Humanos 60 h/a Contabilidade Pública 60 h/a Planejamento Estratégico 30 h/a Auditoria e Controle 60 h/a Sistemas de Infor- mação e Governança Eletrônica 60 h/a Finanças Públicas 60 h/a Elaboração, Gestão e Avaliação de Projetos 45 h/a Marketing do Setor Público 60 h/a Núcleo de Administração Pública Área temática de Sociologia e Política Administração Pública 60 h/a Filosofia Política 60 h/a Políticas Públicas 60 h/a Formação Social do Brasil 60 h/a Gestão Pública 30 h/a Sociologia 60 h/a Planejamento Governa- mental 30 h/a Teoria Política 60 h/a Regulação e Gestão de Serviços Públicos 60 h/a Sociologia das Organi- zações 60 h/a Tópicos Especiais em Administração Pública I 30 h/a Política Brasileira 60 h/a Tópicos Especiais em Administração Pública II 30 h/a Psicologia Organiza- cional 60 h/a Tópicos Especiais em Administração Pública III 30 h/a Políticas Sociais 60 h/a Administração Muni- cipal 60 h/a Área temática de Economia Área temática de Direito Microeconomia 60 h/a Introdução ao Direito 45 h/a Macroeconomia 60 h/a Direito Constitucional 60 h/a Economia do Setor Público 60 h/a Direito Administrativo I 60 h/a Crescimento e Desenvol- vimento Econômico 30 h/a Direito Administrativo II 60 h/a Avaliação Social de Projetos 30 h/a Total Geral: 2.760 h / a Economia Brasileira 60 h/a Núcleo de Metodologia e Pesquisa Introdução ao Pensa- mento Científico 30 h/a Metodologia Científica 30 h/a Métodos Quantitativos Aplicados à Gestão Pública 60 h/a Metodologia de Pes- quisa 60 h/a Estágio Supervisio- nado I 150 h/a Estágio Supervisiona- do II 150 h/a Quadro 2 Grade curricular do CSAP. Fonte: EG/FJP. 24 A maioria dos entrevistados fala que deveria haver uma maior mescla de disciplinas teóricas com disciplinas práticas, conforme relato a seguir: “Há muita teoria e prática de menos. Faltam matérias práticas e professores com experiência prática. Faltam mecanismos para aplicação prática. Os estágios não curriculares são para “tirar xerox”. A consultoria júnior não absorve todo mundo, além do fato de que a seleção tem critérios desconhecidos, com a preferência pelos alunos de determinados CSAPs”. Para diminuir um pouco os problemas constatados pelos alunos, uma professora entrevistada propõe a inclusão na grade curricular de uma disciplina para mostrar na prática a administração pública, a partir de visitas aos órgãos públicos. Em relação aos conteúdos programáticos do CSAP, há uma crítica unânime entre os entrevistados de que esse é um ponto com problemas. Apesar da formação sólida nas disciplinas básicas e de formação analítica, os alunos carecem de maior e melhor conhecimento em gestão. Nas palavras de um entrevistado: “A formação deles é boa, mas se foca muito em políticas sociais. Eles são muito focados na área finalística. É preciso dar foco na área meio. É preciso ter mais coisas na área de gestão de pessoas, RH. Existem problemas em outras áreas, mas acho esse um problema mais sério”. Essa crítica sobre a ênfase em políticas públicas e a escassez de conhecimentos em recursos humanos é recorrente. Nesse sentido, outra entrevistada diz o seguinte: “O que eles têm lá não está acompanhando os desenvolvimentos em RH, como Gestão da Competência. Por isso, não acho que eles saem com uma visão de política de desenvolvimento”. Além do déficit em disciplinas e conteúdos vinculados aos recursos humanos, há também uma deficiência vinculada à gestão de projeto. “O problema da gestão de projeto é que a Escola ainda não absorveu, e o governo trabalha assim”, diz um dos entrevistados.Alguns observam que esses problemas se devem ao fato de que os conteúdos programáticos não acompanharam a modernização da administração. Desde sua criação até o final de 2009, 520 alunos foram graduados pela Fundação João Pinheiro. Nove integrantes da primeira turma formaram em uma entidade particular após descontinuidade do curso logo no primeiro ano de sua implementação. A Tabela 3 a seguir apresenta as turmas formadas pelo CSAP e os seus respectivos números de graduados. 25 Com exceção para a primeira turma do CSAP, que apresentou evasão muito acima da média, a evasão total3 do curso apresentou ao longo do tempo uma redução dos índices observados nas duas primeiras turmas, que foram superiores a 30%. De acordo com pesquisa (SILVA FILHO, 2007) realizada com base nos dados do INEP, referente ao período de 2001 a 2005, a evasão total média nacional foi de 48%, sendo de 33% para instituições públicas e 53% para instituições privadas. O CSAP, que teve evasão total média de 22,21% para todo o período e 18,75% quando excluída a primeira turma, apresenta índice relativamente baixo se comparado com outros cursos superiores. Uma informação apresentada pela pesquisa fornece subsídios para analisar a realidade do CSAP. Quando analisada a evasão média anual4 foi constatada uma correlação entre número de candidatos por vaga e evasão. Segundo a pesquisa, os cursos com maior demanda, como é o caso aqui analisado, apresentam menor evasão. CSAP Formatura Graduados Evasão I 1994 9 77,5% II 1997-dez. 27 32,5% III 1998-jun. 27 32,5% IV 1998-dez. 31 22,5% V 1999-dez. 36 10,0% VI 2000-dez. 32 20,0% VII 2001-dez. 30 25,0% VIII 2002-dez. 33 17,5% IX 2003-dez. 34 15,0% X 2004-dez. 34 15,0% XI 2005-dez. 36 10,0% XII 2006-dez. 34 15,0% XIII 2007-dez. 33 17,5% XIV 2008-jun. 36 10,0% XV 2008-dez. 33 17,5% XVI 2009-jun. 30 25,0% XVII 2009-dez. 34 15,0% Total 529 22,21% tabela 3 Turmas do CSAP e graduados. Fonte: EG/FJP. 3. A evasão total mede o número de alunos que, tendo entrado num determinado curso, IES ou sistema de ensino, não obteve o diploma ao final de um certo número de anos. (SIlvA FIlhO, 2007). 4. A evasão anual média mede qual a percentagem de alunos matriculados num sistema de ensino, em uma IES, ou em um curso que, não tendo se formado, também não se matriculou no ano seguinte. (SIlvA FIlhO, 2007). 26 Como referência para comparação internacional, a evasão do CSAP se aproxima a de instituições de ensino superior americanas, classificadas como “privadas muito seletivas”, que, de acordo com o referido estudo, apresentam índice de evasão total médio de 16%, o menor observado para instituições daquele país. O curso sempre foi bem avaliado pelo MEC. No extinto “provão”, obteve, entre 1997 e 2003, conceito A, com exceção de 1998, quando o provão não foi realizado. Em 2006, o curso foi, também, considerado o melhor em Administração do País pelo Enade, quando foi o primeiro colocado entre os 1.475 cursos superiores de Administração. Em um indicador de qualidade das instituições de ensino superior recém- divulgado pelo MEC, o CSAP obteve nota 5 (máxima) no Índice Geral de Cursos – IGC. Por fim, cabe mencionar a avaliação do Guia do Estudante, da Editora Abril, no qual o curso obteve nota 5, o mais alto conceito atribuído pela publicação a um curso. Apenas 16 cursos da área de Administração obtiveram essa classificação, dentre 120 cursos avaliados em todo o País. Entre os alunos, há uma discordância sobre a avaliação do curso. Se, de um lado, há elogios em relação à sua multidisciplinaridade, de outro há uma crítica em relação à mesma. A parte que visualiza a multidisciplinaridade como algo positivo se deve ao fato de que eles atuarão no Estado em todas as áreas. Assim, conhecer a sociedade no maior número de aspectos possível seria benéfico. Os que a criticam argumentam que ele não foca em nada, que não aprofunda em nada, ou seja, é muito superficial. Essa polarização também é observada entre os não alunos. Na opinião de um entrevistado, a gama de temáticas é algo fantástico, entretanto, o seguinte depoimento critica isso: “Existe uma Escola que tem uma formação direcionada a desempenhar, atender as demandas do governo. Atualmente o aluno sai generalista, ele demora a atender a essas demandas”. 40.00% 30.00% 20.00% 10.00% 0.00% E va sã o to ta l p or C S A P 2 3 4 5 6 8 9 10 11 12 13 1614 15 17 Gráfico 2 Evasão total do CSAP por turma (excluído o I CSAP). Fonte: EpR (dados de outubro de 2009). CSAP Evasão por CSAP Média 27 7 Embora a formação generalista proporcionada pelo CSAP possua o argumento de preparar o profissional para atuar nas mais diversas áreas e esferas do governo do Estado de Minas Gerais, esse argumento não pode se sobrepor à formação relativa a ferramentas básicas de gestão. Existe um consenso por parte dos mais diversos stakeholders (alunos, professores, gestores, etc.) de que o CSAP é deficiente na área de gestão, quando esta deveria ser o carro-chefe do curso. Os mecanismos de avaliação dos alunos e as notas por eles obtidas no CSAP integram o concurso público de EPPGG, dado que o Curso de Administração Pública da Escola de Governo é uma etapa da seleção, daí a natureza especial de todo esse processo. A reprovação em três disciplinas do currículo leva à obrigação de ressarcimento, ao Estado, dos valores equivalentes à qualificação e bolsas recebidas pelo aluno, pois essa é uma obrigação e norma que regulamenta o ingresso na carreira de EPPGG. Dentre as disciplinas, merece destaque o Estágio Supervisionado I e Estágio Supervisionado II, realizados, respectivamente, nos sétimo e oitavo períodos da grade curricular e com carga horária prevista de 150 horas para cada. As críticas dos entrevistados se concentram na avaliação do Estágio Supervisionado. Segundo os entrevistados, as avaliações são muito benevolentes. Nas palavras de um entrevistado: “Não me recordo de alguém que não tenha passado”. Outro entrevistado critica a inexistência de relatórios padronizados para se avaliarem esses estágios. Segundo dados da coordenação do curso, do X ao XVIII CSAP, seis alunos foram reprovados em Estágio II. No XIX CSAP, dois alunos foram reprovados no Estágio I. Visando ao desenvolvimento, à avaliação e ao reconhecimento de competências e conhecimentos adquiridos, o CSAP inclui as chamadas Atividades Complementares de Graduação – ACGs – na sua matriz curricular. As ACGs objetivam enriquecer a formação dos alunos a partir de práticas nas seguintes modalidades: 28 Quadro 3 Atividades Complementares de Graduação – ACGs. Fonte: EG/FJP. Atividades Modalidades ENSINO a) Atividades de monitoria em disciplinas do curso. b) Integração com disciplinas de pós-graduação latu e stricto sensu da Escola de Governo. c) Participação em grupos de estudo. d) Certificação em língua estrangeira. e) Realização de estágios extracurriculares em órgãos públicos. f) Realização de estágios extracurriculares em empresas privadas. g) Representação discente nos órgãos colegiados da Escola de Governo. h) Realização de estágios voluntários em órgãos e entidades públicas. PESQUISA a) Atividades de iniciação à pesquisa e projetos da Consultoria Júnior que envolvam um produto. b) Participação em concursos de monografia. c) Premiação ou menção honrosa em concursos de monografias. d) Publicação de trabalhos científicos em periódicos indexados. e) Publicação de trabalhos científicos em periódicos não indexados. f) Apresentação de trabalhos em eventos científicos nacionais. g) Apresentação de trabalhos em eventos científicos internacionais. h) Assistência a defesas de dissertações de mestrado e teses de doutorado.i) Assistência a seminários de pesquisa promovidos pela Escola de Gover- no. j) Assistência da aula magna dos CSAPs. k) Assistência de seminários de estágio. EXTENSÃO a) Participação nas atividades do Laboratório de Políticas Públicas. b) Participação em cursos de extensão presenciais. c) Participação em cursos de extensão a distância. d) Participação em eventos (congressos, seminários, encontros, simpósios, palestras, etc.). e) Trabalho voluntário em ONGs. f) Participação em atividades de direção do DA. g) Participação em atividades de direção da João Pinheiro Consultoria Júnior. h) Participação em atividades de simulações. INTERCÂMBIO CULTURAL a) Participação em programas de intercâmbio cultural. b) Participação em programas de intercâmbio mediados pela Escola de Governo. 29 Essa gama de possibilidades é lembrada pelos entrevistados. Segundo as palavras de um ex-aluno: “Há muitas possibilidades. Eu comecei a fazer estágio no segundo período. Antes do estágio eu ainda trabalhei com pesquisa”. Entretanto, não é cobrado do aluno a exploração dessas possibilidades. Esta dinâmica de buscar agregar valor ao conhecimento via experiência prática está relacionada ao perfil de alunos com atitudes de proatividade. Os programas de intercâmbio consistem em um ponto que poderia ser melhorado, segundo a opinião de um grupo de alunos. Segundo eles: “Faltam maiores opções de intercâmbio. A instituição faz esforço, apresentaram mais opções, mas ainda pode melhorar”. No que tange às expectativas em relação ao CSAP, há uma demanda por parte dos alunos de uma aproximação da teoria da prática. A falta de compatibilização entre a teoria e a prática não é um problema defrontado apenas pelo CSAP a maioria dos cursos superiores, no Brasil, vinculado à área de ciências sociais aplicadas padece dessa deficiência. Segundo a Escola de Governo, o desenvolvimento de atividades práticas é uma preocupação permanente. Objetivando propiciar aos alunos uma inserção na realidade à qual se integrarão como servidores públicos estaduais, a Escola os estimula a participar de estágios voluntários ou extracurriculares desde o início do curso. Complementando essas atividades voluntárias, tem-se o Estágio Supervisionado, obrigatório, curricular, realizado no sétimo e oitavo períodos da grade curricular e com carga horária prevista de 300 horas. No Estágio Supervisionado, os alunos são acompanhados, em grupo e individualmente, por dois professores, um responsável pela disciplina de Estágio I e outro pela disciplina Metodologia de Pesquisa. Além dos professores, há também a participação dos supervisores de estágio nos locais de trabalho e dos orientadores na elaboração do projeto e do trabalho de conclusão do curso. Os alunos entrevistados avaliam que há uma boa oferta de vagas de estágio no governo de Minas Gerais. Dado que essas vagas são oferecidas apenas aos alunos da Escola, eles entendem isso como uma valorização. Segundo um ex-aluno, isso melhorou ao longo do tempo. Segundo suas palavras: “Na minha época, os estágios eram basicamente na própria FJP. Hoje, há estágios extracurriculares nos mais diversos órgãos do governo”. Uma demanda dos alunos é iniciar o estágio o mais cedo possível. Isso é endossado pelos próprios professores. Conforme palavras de um deles: “Acho que a própria administração pública poderia utilizar mais. Eles poderiam ser inseridos mais cedo. Chegou ao quarto período, manda para o trabalho”. 30 31 Alguns entrevistados criticam os mecanismos de acompanhamento dos estagiários, a inexistência deles, e a pouca atuação e empenho dos tutores. Os alunos também demandam a criação de projetos de extensão na Escola. Uma sugestão de um grupo de alunos entrevistados é a parceria da Escola com prefeituras no período das férias. Outra sugestão é a de transformar a Consultoria Júnior em um projeto de extensão vinculado à Escola. O problema da prática profissional não é algo trivial de se solucionar. Entretanto, devido à relação da Escola de Governo, e da FJP, com o empregador dos seus alunos, o CSAP encontra-se em uma posição privilegiada para resolver isso. Dificilmente o governo de Minas Gerais se oporia a uma ampliação da atuação do EPPGG em formação no aparato estatal. Possivelmente, é algo que agradaria a todas as partes envolvidas. Apesar dos problemas relativos à prática profissional, as entrevistas indicam que muitos avanços foram feitos em termos de oferta e diversidade de oportunidades, se antes os estágios eram restritos à própria FJP, hoje é possível estagiar em diversos órgãos públicos. Ao serem indagados sobre o que a Escola espera dos alunos, alguns stakeholders entrevistados pontuaram que ela deseja uma dedicação exclusiva de seus alunos, para que a atenção não seja desviada da administração pública, conforme relata um dos entrevistados: “Posso dizer o que a Escola não quer. Eles não querem que os alunos tenham foco em outra formação que não a administração pública. Por isso, dificulta-se ao máximo a frequência em outro curso com uma grade curricular complicada. Para tanto, colocam-se aulas em período integral, nas sextas-feiras, e uma mudança de turno, metade do curso é feito no turno da manhã e a outra metade no turno da tarde.” Com a garantia de uma bolsa mensal de um salário mínimo para os seus alunos, seria interessante que o curso adquirisse um caráter integral. Na verdade, faltam argumentos para que não o seja. Isso poderia ser feito com estágios ao longo de todo o curso, e não apenas no 7º e 8º semestres. Essa política não apenas satisfaria o desejo dos alunos por maior quantidade de prática, como também os auxiliaria na escolha da trajetória de carreira, dado que eles fariam o Estágio Supervisionado I e II após algumas experiências. Por fim, a estrutura integral do curso criaria um desincentivo para a realização de outros cursos superiores, garantindo uma maior dedicação ao CSAP e um maior foco na futura carreira de EPPGG. 31 32 Docentes do csap 3.2 O ingresso no quadro de servidores da FJP é feito por meio de concurso público para professores permanentes e um processo de credenciamento para professores colaboradores. Quando há necessidade de contratação de docentes colaboradores, é aberto processo de credenciamento. São considerados docentes colaboradores todos os ocupantes de cargos comissionados na Fundação João Pinheiro não pertencentes ao quadro de servidores estaduais, desenvolvendo atividades docentes na Escola de Governo, servidores estaduais lotados ou à disposição de outros órgãos e entidades da administração pública estadual, desenvolvendo atividades docentes na Escola de Governo, e professores contratados na forma da lei, inclusive professores visitantes. Os profissionais interessados em ficar à disposição como docentes em determinadas disciplinas são submetidos a um processo de credenciamento, para o qual é constituída uma banca avaliadora específica, composta por dois servidores do quadro de docentes permanentes da Escola de Governo. A comissão de credenciamento de docentes colaboradores pré- seleciona para o credenciamento os candidatos que possuam titulação, especialização e experiência profissional compatíveis com a área de conhecimento e com as necessidades do respectivo programa acadêmico, ou seja, de capacitação e treinamento, a partir da documentação apresentada pelos interessados. Segundo parte dos stakeholders entrevistados, um grande problema na seleção dos professores da Escola de Governo é que o salário não é competitivo para trazer bons profissionais para a Escola. Entretanto, no que tange especificamente à área de administração pública, um entrevistado argumenta que “gestão pública é uma área frágil, pois não tem docentes e nem literatura”. Um grupo dealunos critica a exigência de titularidade, dado que, segundo eles, isso “tira bons profissionais que não têm titulação e, em alguns casos, deixa professores que têm o título, mas não têm didática”. De acordo com dados da Fundação João Pinheiro de 2007, pouco mais da metade dos professores fazia parte do quadro de servidores efetivos da Fundação, enquanto aproximadamente 44% eram de professores externos. 32 Os alunos entrevistados criticam essa quantidade de professores temporários, com contratos administrativos, pois, segundo eles, isso “reduz o compromisso do profissional com a Escola”. Ainda argumentam que “menos compromisso significa não ter disponibilidade fora de sala de aula, didática pior, não se preocupam tanto com o aluno aprender, formar uma causa”. Segundo dados obtidos com a coordenação do curso, em 2010 o número de docentes externos é de quatro apenas. Esse mesmo grupo de alunos também critica parte dos professores com dedicação exclusiva. Para eles, “alguns professores da casa são pesquisadores, sem perfil de dar aulas, e estão ali apenas para complementar renda”. Há uma constatação generalizada de que os alunos se frustram com o curso. Não encontram um bom ensino de gestão por causa do perfil de professores, que são muito acadêmicos, segundo eles. Conforme um entrevistado: “Faltam profissionais com maior experiência em administração pública. Tinha-se que mesclar melhor a teoria com a prática”. Devido a isso, os alunos apreciam muito professores que também atuam na administração pública. Um professor observa que os alunos são mais críticos em relação a isso depois de formados. Nas palavras dele, os alunos “refletem melhor sobre as suas expectativas quando já estão na carreira”. Na avaliação do corpo docente da Escola de Governo, há uma disparidade nas opiniões. Enquanto alguns elogiam a formação do corpo docente, com muitos mestres e doutores, outros criticam um viés acadêmico do mesmo. Nas palavras de um professor: “Eu escuto dos alunos que os docentes EPPGGs são os melhores. Eles têm a experiência para levar para sala de aula. Os pesquisadores têm uma bagagem teórica, mas não possuem tanta facilidade para fazer a conexão com a realidade”. Essas palavras são validadas pelos alunos, mas um grupo deles ressalta que são esses professores que possuem o maior risco de sair, por possuírem menor titulação. Regime de trabalho Número % do corpo docente Dedicação exclusiva / efetivo 24 55,82 Aulista / Contrato Administrativo 19 44,18 tabela 4 Tipos de vínculos dos docentes do CSAP. Fonte: Fundação João Pinheiro, 2007, P. 101. 33 A composição do grupo de professores para uma graduação com as peculiaridades do CSAP demanda a formação de um mix que agregue professores efetivos, com maior identificação com o curso como um todo, mais estáveis e capazes de manter o eixo central da formação; docentes servidores públicos, que podem contribuir com a aproximação entre a teoria e a prática do administrador público; e ainda docentes mais próximos à realidade da iniciativa privada, como aposta para oxigenação e inovação para o processo de formação, principalmente ligados aos conteúdos de gestão, apontados como deficiente, segundo a percepção dos entrevistados. Certo é que não existe uma composição exata entre as três categorias de professores e a adequação da origem dos docentes deverá ser permanentemente acompanhada e avaliada pela Escola. Outro ponto que merece ser ressaltado é que o nível de formação acadêmico, exigido pelos órgãos oficiais de avaliação do ensino superior, não podem ser abandonadas para possibilitar o recrutamento de docentes servidores públicos. A solução para essa restrição, ao médio prazo, passa pelo incentivo da formação em nível de mestrado e doutorado de servidores com potencial para a docência. O processo formal de avaliação dos docentes ocorre semestralmente, mediante levantamentos de opinião junto aos alunos em relação a aspectos didático-pedagógicos e de operação institucional do CSAP. As informações são disponibilizadas aos professores, à direção da escola e ao colegiado de graduação, que as utiliza para auxiliar na alocação do quadro docente. O Projeto Pedagógico da Escola de Governo apresenta as dimensões investigadas na avaliação dos docentes pelo corpo discente, que ocorreu no primeiro semestre de 2007. Assim, nesse mesmo semestre, os alunos avaliaram os seguintes tópicos referentes às disciplinas ofertadas e à atuação dos professores: a) domínio de conteúdo dos professores; b) clareza de exposição dos professores; c) metodologia de avaliação utilizada pelos professores; d) assiduidade e pontualidade dos professores; e) adequação quantitativa da bibliografia indicada pelos professores; f) autoavaliação do aluno quanto ao seu envolvimento e compromisso com as disciplinas cursadas; g) autoavaliação do aluno quanto ao seu desempenho nas disciplinas cursadas. 34 A maioria dos entrevistados considera que os mecanismos de avaliação dos docentes melhoraram muito nos últimos anos e que hoje eles podem ser considerados como bons. Apesar disso, ainda existem criticas por parte dos alunos. Na opinião deles, “na avaliação dos alunos para os professores existe subjetividade, é preciso criar mecanismo mais objetivo de avaliação do professor”. Criticou-se, anteriormente, a falta de uma política de envolvimento dos alunos com a missão da Escola, para criar uma maior identificação. O argumento utilizado referente aos alunos também pode ser direcionado aos professores. Os professores entrevistados consideram alto o seu comprometimento com a Escola. Eles sabem que a qualidade dos seus alunos, na média, é maior do que em outras universidades, e também acreditam na importância da Escola de Governo. Entretanto, no olhar de alguns professores sobre os seus colegas, o comprometimento não é em relação à Escola. Segundo um depoimento, “o que há hoje é um comprometimento com as disciplinas, e em relação ao curso é bem menor”. Nesse sentido, para um dos professores, perdeu-se ao longo do tempo uma visão mais compartilhada do curso. Assim, pelas entrevistas, é possível identificar uma deficiência no sentimento de unidade, por parte dos docentes, para a formação de EPPGGs. Por isso, é preciso que a Escola de Governo crie mecanismos para envolver, e comprometer, os professores com a sua missão institucional. Cabe ressaltar também que a maior preocupação de parte dos docentes com as suas disciplinas do que com o CASP pode ser decorrente de uma falta de compromisso com a missão da Escola de Governo, ou mesmo da ausência de uma visão de futuro própria. 35 4 alocação do epp A reestruturação da carreira de EPPGG se enquadra no âmbito da reforma gerencial preconizada pelo Choque de Gestão, ocorrido em Minas Gerais em 2003-2006. O governo mineiro almejou, com essa nova carreira, um maior alinhamento, em termos de perfil, do fluxo de administradores públicos que ingressam anualmente no Estado com as necessidades da administração pública de Minas Gerais. Além do mais, “com a alteração da nomenclatura dos cargos da carreira (de AP para EPPGG), buscou-se ressaltar o papel estratégico da carreira na gestão governamental e, mais especificamente, na gestão de políticas públicas” (COUTINHO; BERNARDO, 2010, p. 8). Alguns dos stakeholders entrevistados ressaltaram a importância do EPPGG como força motriz na transformação e evolução da Administração Pública e, por isso, tais profissionais são demandados e encarados como uma das principais fontes de recursos humanos do Estado de Minas Gerais. Há quem diga que esses profissionais são mal aproveitados. Apesar da habilidade de inovar no setor público, um dos entrevistados ressalta: “Ambiente sem orientação a desenvolver coisas novas. A ideia é seguiro que é feito há muitos anos. É frustrante chegar ao governo motivado a fazer coisas novas. Chegar ao governo e ter pouca autonomia para inovar”. Em relação às expectativas sobre os EPPGGs de que eles se tornem uma força motriz na transformação e evolução da administração pública, é importante a existência de apoio para a concretização dessas expectativas. O ambiente no qual o EPPGG será inserido constitui um fator-chave para o desenvolvimento do potencial modernizador desses profissionais, o que sugere reforçar o processo de análise, além do perfil de competência de cada profissional, das unidades que os receberão, bem como mecanismos de acompanhamento de sua inserção profissional. As atribuições, gerais e específicas, do Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental estão definidas na Lei Estadual nº 18.974, de 29 de junho de 2010, e no Decreto no 45.010, de 16 de janeiro de 2009. De acordo com a Lei nº 18.974: 37 Art. 4º – São atribuições gerais do Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental: I – a formulação, a avaliação e a supervisão de políticas públicas; II – o exercício de atividades relacionadas às áreas de planejamento e avaliação, administração financeira e orçamentária, contabilidade, modernização da gestão, racionalização de processos, gestão e tecnologia da informação, recursos logísticos, recursos materiais, recursos humanos e administração patrimonial. O Anexo I do Decreto nº 45.010 define as atribuições específicas do cargo de EPPGG com o seguinte texto: 1. Participar da elaboração, desenvolvimento, planejamento, implementação, execução, suporte, acompanhamento e avaliação de atividades, planos, projetos, programas ou estudos ligados às áreas de gestão de pessoas, gestão social, comunicação, gestão da informação, governança eletrônica, estatística, recursos logísticos, materiais e patrimoniais, economia, planejamento, orçamento, finança e contabilidade, bem como a informações operacionais e gerenciais e ao desenvolvimento organizacional. 2. Gerenciar, executar e orientar atividades e tarefas necessárias à elaboração, ao planejamento, à implementação, à supervisão, ao controle e à coordenação de políticas públicas. 3. Elaborar, propor, coordenar e acompanhar projetos e iniciativas de inovação e modernização do modelo de gestão do arranjo institucional. 4. Elaborar, propor, acompanhar e/ou monitorar as metas firmadas por meio de contratualização de resultados. 5. Participar da elaboração de diretrizes conforme as necessidades presentes e futuras da instituição, e da decisão sobre as políticas de ação, normas e medidas a serem propostas. 6. Articular, de maneira sistêmica, os recursos e as capacidades técnicas disponíveis à consecução dos objetivos institucionais. 7. Apresentar e/ou expor trabalhos nas áreas correlatas à sua área de atuação. 38 8. Promover e incentivar, em seu âmbito de atuação, o compartilhamento de informações e a busca de experiências entre as instituições. 9. Participar de atividades de elaboração, proposição e acompanhamento do cumprimento das normas, instruções e regulamentos da instituição. 10. Prestar assessoramento técnico e especializado em sua área de atuação a dirigentes de instituições. 11. Executar outras atividades correlatas, compatíveis com as atribuições gerais definidas no art. 4º da Lei nº 15.304, de 2004, conforme necessidade do serviço e orientação superior ou norma interna adotada pelo órgão ou entidade. Devido à necessidade de gerenciar e executar atividades relacionadas à elaboração, implementação, coordenação e ao controle de políticas públicas em diversas áreas temáticas e de diversos órgãos, é preciso que o profissional EPPGG tenha uma formação generalista e diversificada. Na Escola de Governo, essa formação teórica generalista e diversificada é complementada pelo Estágio Curricular Supervisionado, que visa dar subsídios para a futura atuação na área de escolha. Assim, após a formação na Escola de Governo, o EPPGG deve ser capaz de atuar em funções técnicas, de direção, coordenação e supervisão em diferentes níveis e áreas da administração pública. No que tange ao profissional EPPGG, os entrevistados, no geral, definiram-os como pessoas jovens com uma excelente formação e ocupando cargos estratégicos no governo. Salientam que é uma carreira diferenciada que forma gestores com alto grau de conhecimento técnico para atuar em vários setores da administração pública de Minas Gerais. A Lei Estadual no 18.974, de 29 de junho de 2010, define o quantitativo de 1.450 vagas de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental lotadas no Quadro de Pessoal da Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão – SEPLAG. Entretanto, o exercício do cargo dar-se-á nas unidades administrativas dos órgãos e entidades da administração direta, autárquica e fundacional do Poder Executivo Estadual. Segundo um dos entrevistados, apesar do aumento da oferta de vagas anuais no CSAP, de 40 para 80, ocorrido em 2004, ela não é suficiente para preencher a demanda por EPPGGs, que é sempre maior do que a quantidade de profissionais formados. 39 O processo de alocação dos EPPGGs tem início com a definição das vagas disponíveis para a realização do estágio supervisionado obrigatório, realizado no último ano do curso. O local de realização do estágio e o desenvolvimento da monografia de final de curso funcionam como o principal critério para a alocação inicial do servidor após nomeado, havendo, contudo, possibilidade de alteração à critério da SEPLAG. São muitas as críticas dos entrevistados em relação à alocação dos EPPGGs. A grande demanda por EPPGGs e a pequena oferta deles tornam o processo de alocação uma “incógnita”, como expressam alguns dos entrevistados. Dado que as solicitações por esses profissionais são maiores que a disponibilidade dos mesmos, vários entrevistados entendem que a SEPLAG se utiliza de critérios políticos e estratégicos na definição da alocação. Gestores entrevistados acreditam que o processo deveria ser mais transparente, público. Por causa disso, os alunos reclamam que as escolhas deles com base no local onde se está realizando o estágio supervisionado não são realizadas. Além dos referidos problemas, alguns entrevistados criticam que os EPPGGs não são alocados de acordo com as suas competências. Ou seja, se um determinado EPPGG é o mais adequado a assumir um cargo em determinado órgão, isso não é observado pelo órgão que demanda e nem pelos EPPGGs. Segundo um professor, os EPPGGs querem galgar posições e eles acham que só as principais secretarias possibilitarão isso. Além disso, esses EPPGGs, nas palavras do professor, “não querem secretarias menores, pois são lugares cheios de problemas e sem infraestrutura”. Um dos entrevistados considera isso uma miopia dos EPPGGs, dado que, nas palavras dele: “A questão é que são lugares com grandes possibilidades, pois uma pequena solução administrativa pode dar grande visibilidade a quem a implementa. Os alunos não visualizam isso”. O art. 3º da Lei Estadual nº 15.304 definia os possíveis locais de exercício do EPPGG de forma restritiva, concentrando sua atuação nas secretarias sistêmicas como SEPLAG, Secretaria da Fazenda, Secretaria de Governo, Advocacia-Geral do Estado e Auditoria-Geral do Estado. Além dessas Secretarias, o exercício de EPPGGs também poderia se dar nas Superintendências de Planejamento, Gestão e Finanças das Secretarias setoriais e nos gabinetes de Secretário de Estado, Secretário Adjunto e Subsecretários. O exercício em unidades diversas das citadas, apenas se daria em caso de ocupação de cargo comissionado ou função gratificada. A partir de junho de 2010, com a promulgação da Lei nº 18.974, o exercício do EPPGG ficouaberto a qualquer unidade da Administração Estadual, dando maior flexibilidade para a distribuição desses 40 servidores e um caráter mais descentralizado para a carreira, antes voltada mais para o sistema central de planejamento e coordenação. Segundo dados de 20085, havia 106 servidores em exercício na própria SEPLAG, aproximadamente 45% do total. Considerando órgãos vinculados à SEPLAG (onze servidores) e o programa Estado para Resultados (nove servidores), o número e o percentual sobem, respectivamente, para 126 e 53%. A prioridade da SEPLAG na lotação desses profissionais se deve ao papel da mesma na coordenação do Choque de Gestão. Além da SEPLAG, profissionais também foram alocados na Secretaria de Saúde (17 servidores – aproximadamente 7,2%), na Secretaria de Defesa Social (13 – aproximadamente 5,5%) e na Secretaria de Transportes e Obras Públicas (incluindo os lotados no DER, órgão vinculado à Secretaria – 10 servidores – aproximadamente 4,2%). Alguns servidores, seis no total, foram cedidos à Prefeitura de Belo Horizonte, à Assembleia Legislativa e ao Ministério Público. Um dos grupos de alunos entrevistados critica as restrições de lugares de exercício que a Lei nº 15.304 impunha em seu artigo 3º. Segundo eles, deveria haver uma expansão das possibilidades de lotação, o que foi atendido pela mais recente legislação. Após o processo de definição do local de exercício, não há um procedimento formal para melhorar a inserção do EPPGG no local de trabalho. Informalmente, um procedimento é o de alocar o EPPGG no mesmo local de realização do estágio supervisionado. Nessa situação, o processo de inserção se dá pelo próprio estágio supervisionado. Os entrevistados ressaltam a ocorrência de problemas na inserção dos EPPGGs nos seus locais de lotação, conforme argumenta um entrevistado: “Antigamente, os EPPGGs eram mal recebidos pelos demais servidores e hoje eles são mais aceitos, acho que devido ao aval do governo aos EPPGGs. A fase de resistência à chegada deles foi superada. A resistência acontecia muitas vezes pela arrogância de um ou outro EPPGG. Isso acontece devido ao fato de que durante o curso se fala muito aos alunos sobre a importância deles na administração pública”. Entretanto, os problemas de inserção não se devem apenas aos alunos, como o depoimento anterior pode fazer crer, mas também a questões políticas e institucionais. Por integrarem uma carreira lotada e gerida pela SEPLAG, podem ser identificados como agentes de controle dessa Secretaria, o que não necessariamente interessa às unidades setoriais. O seguinte depoimento de um entrevistado joga luz sobre esses problemas: “No Estado, os EPPGGs muitas vezes não são bem- vindos. Em alguns lugares, eles são incentivados a sair. 41 5. lEMOS; NEvES, 2008, p. 6-7. O problema é que eles vêm da SEPLAG, e a SEPLAG acha que é o órgão de controle, e as secretarias não gostam disso”. Apesar dos problemas mencionados, a pesquisa realizada por Lemos e Neves (2008) junto a gestores que participaram do Choque de Gestão revela que a participação dos EPPGGs é entendida pelos seus pares como fundamental. Alguns entrevistados reconhecem que hoje os EPPGGs são reconhecidos pelos demais servidores, fato que tem ajudado a diminuir os problemas de sua inserção. Em termos de mobilidade funcional, a estrutura da carreira de EPPGG permite que o servidor possa atuar em qualquer secretaria ou órgão da Administração Pública do Poder Executivo Estadual. Segundo Coutinho e Bernardo (2010, p. 9) “os servidores da carreira são distribuídos entre os diversos órgãos; portanto, pode-se dizer que possuem uma atuação matricial, uma vez que os EPPGGs possuem relativa mobilidade institucional e a carreira está inserida horizontalmente nos diversos órgãos.” Os alunos consideram boa a mobilidade funcional na carreira, conforme palavras de um EPPGG entrevistado: “Hoje, as regras são claras. Após 12 meses, você pode solicitar posições. Antigamente era muito discricionário. Hoje é bem melhor”. 42 5 Gestão da carreira: remuneração, evasão e desenvolvimento do epp A seção II da Lei Estadual no 18.974, de 29 de junho de 2010, redefiniu os procedimentos para o desenvolvimento dentro da carreira de EPPGG adotando um inovador modelo de pontos que passa a valer a partir de janeiro de 2011. De acordo com a referida Lei: Art. 11. O desenvolvimento na carreira de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental dar-se-á por meio de progressão ou promoção, que serão concedidas mediante o acúmulo de pontos, conforme distribuição prevista no Anexo II. § 1º Progressão é a passagem do servidor da carreira de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental do grau em que se encontra para o grau subsequente, no mesmo nível da carreira, sendo concedida ao servidor sempre que acumular cinco pontos, a partir da conclusão do período de estágio probatório, segundo os critérios apresentados no Anexo II. § 2º Promoção é a passagem do servidor da carreira de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental para o nível imediatamente superior da carreira, sendo concedida ao servidor sempre que acumular cinquenta pontos, a partir da conclusão do período de estágio probatório, segundo os critérios apresentados no Anexo II, observado o disposto no § 7º . § 3º O posicionamento do servidor no nível para o qual foi promovido dar-se-á no primeiro grau cujo vencimento básico seja superior ao percebido pelo servidor no momento da promoção. § 4º A contagem de pontos para a progressão e promoção terá início com a entrada em exercício no cargo de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental e produzirá efeitos após a conclusão do estágio probatório. § 5º Para fins de acumulação de pontos, conforme os critérios previstos no Anexo II, somente serão admitidos títulos ou certificados obtidos pelo servidor após o início do exercício do cargo de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental e que sejam compatíveis com as atribuições da carreira, nos termos do regulamento. § 6º A progressão do servidor poderá implicar seu posicionamento em grau acima do subsequente àquele em que se encontra, desde que tenha atingido pontuação igual ou superior a dez pontos, na forma do Anexo II, observado o disposto no § 12. 44 § 7º A promoção do servidor para o nível subsequente àquele em que se encontra ocorrerá somente após o interstício de quatro anos de efetivo exercício no mesmo nível. § 8º A contagem do interstício de que trata o § 7º para fins de concessão da primeira promoção ocorrerá a partir do término do período de estágio probatório. § 9º Os atos de progressão e promoção na carreira de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental serão publicados nos meses de janeiro, abril, agosto e outubro. § 10. Os critérios e prazos para a apresentação e a aceitação de certificados e títulos para comprovação do cumprimento das exigências do Anexo II serão estabelecidos em regulamento. § 11. A pontuação correspondente a títulos ou certificados apresentados para fins de concessão de progressão não poderá ser utilizada para obtenção de novas progressões na carreira, ressalvada a hipótese de aproveitamento de saldo de pontos prevista no § 13. § 12. A pontuação correspondente a títulos ou certificados apresentados para fins de concessão de progressão poderá ser utilizada, uma única vez, para fins de promoção na carreira, nos termos do § 2º . § 13. Caso o servidor possua pontuação excedente após a concessão de progressão ou promoção na carreira, o saldo de pontos poderá ser aproveitado para a próxima progressão ou promoção, observados os critérios previstos no Anexo II. A partir da nova Lei, a carreira de EPPGG passou a ser estruturada em cinco
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