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A Revisão do Contratos e a Teoria da Imprevisão

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DIREITO DO CONSUMIDOR
Aula 1
A revisão do contratos e a teoria da imprevisão
Contrato
Um contrato é um vínculo jurídico entre dois ou mais sujeitos de direito correspondido pela vontade, da responsabilidade do ato firmado, resguardado pela segurança jurídica em seu equilíbrio social, ou seja, é um negócio jurídico bilateral ou plurilateral. É o acordo de vontades, capaz de criar, modificar ou extinguir direitos.
As cláusulas contratuais criam lei entre as partes, porém são subordinados ao Direito Positivo. As cláusulas contratuais não podem estar em desconformidade com o Direito Positivo, sob pena de serem nulas.
No Brasil, cláusulas consideradas abusivas ou fraudulentas podem ser invalidadas pelo juiz, sem que o contrato inteiro seja invalidado. Trata-se da cláusula geral rebus sic stantibus (ou revisão judicial dos contratos), que objetiva flexibilizar o princípio da pacta sunt servanda (força obrigatória dos contratos), preponderando, assim, a vontade contratual atendendo à Teoria da Vontade.
De um modo mais simples, contrato, como diz o nome, derivado do latim “contractu”, é um acordo entre duas ou mais pessoas.
Princípios basilares do contrato
Incidem sobre o contrato três princípios básicos:
O da autonomia da vontade, significando a liberdade das partes na estipulação do que lhes convenha;
O da supremacia da ordem pública, significando que a autonomia da vontade é relativa, sujeita que está a lei e aos princípios da moral e da ordem pública;
O da obrigatoriedade do contrato, significando que o contrato faz lei entre as partes (pacta sunt servanda).
Condições de validade
do contrato
Ordem geral
São comuns a todos os atos e negócios jurídicos:
- capacidade das partes; objeto lícito, possível e determinado ou determinável; forma prescrita ou não defesa em lei.
Ordem especial
Deve haver consentimento entre as partes contratantes, e, tem que haver aceitação dos dois lados, tanto do contratante, como do contratado.
Invalidade do contrato
Quando ocorre defeito de um ou mais elementos do negócio jurídico, resulta a invalidade jurídica do contrato. Divide-se em nulidade absoluta ou nulidade relativa (anulabilidade).
Nulidade absoluta do contrato
São considerados nulos os negócios que por vício grave não tenham eficácia jurídica. Não permitem ratificação. No Direito brasileiro são nulos os negócios jurídicos se (Art. 166 CC Brasileiro):
A manifestação de vontade for manifestada por agente absolutamente incapaz;
O objeto for ilícito, impossível, indeterminado ou indeterminável;
A forma for defesa (proibida) ou não for prescrita em lei;
Tiverem como objetivo fraudar a lei;
A lei declará-los nulos expressamente;
Negócio jurídico simulado, embora subsista o que se dissimulou se for válido na substância e na forma. (Art. 167 CC Brasileiro).
Nulidade relativa ou anulabilidade dos contratos
São considerados negócios anuláveis os praticados por relativamente incapazes, ou que possuam os chamados vícios do consentimento -erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou pelo vício social, apesar de no código ser tido como vício de consentimento, fraude contra credores (Art.171 do Código Civil de 2002). 
A legitimidade para pedir a anulação, diferente do caso de nulidade absoluta, está restrita aos interessados (partes prejudicadas), de acordo com o Art.177 do Código Civil de 2002. Decaído o prazo para a entrar com a ação anulatória o contrato se ratifica entre a partes não tendo mais vício algum.
Função econômica dos contratos
Estima-se que o contrato de compra e venda corresponde entre 60% a 70% de todos os contratos realizados pela população mundial. 
Os contratos, num modo geral, representam formas de transferência de patrimônio. Como por exemplo: doação, mútuo, compra e venda, dentre outros. Essas são as formalidades previstas em lei para realização de um contrato solene e ou formal.
Classificação dos contratos
I - contratos unilaterais, bilaterais (sinalagmáticos) e plurilaterais:
Nos contratos unilaterais, somente um é o credor, sendo o outro o devedor. Este ocorre na doação pura, no depósito e no comodato.
Nos bilaterais ou sinalagmáticos, os dois contratantes tem responsabilidades um com o outro, sendo esses reciprocamente devedores e credores um do outro. Nesta espécie de contrato não pode um dos lados antes de cumprir suas obrigações, exigir o cumprimento do outro. O nome provém do grego antigo synallagma, que significa "acordo mútuo".
Exemplo: na compra de um produto, o contratante (consumidor) e o contratado (vendedor) combinam de acertar a quantia em dinheiro somente no término do serviço do contratado (entrega do produto); o contratado só pode cobrar após entregar o produto e o contratante só o paga ao receber o objeto negociado.
Os contratos plurilaterais são aqueles que apresentam mais de duas partes, como nos contratos de consórcio e de sociedade.
II – Onerosos e gratuitos:
Os contratos onerosos, são aqueles que as duas partes levam vantagem – sendo estes bilaterais - como exemplo, a locação de um imóvel; o locatário paga ao locador para poder usar o bem, e o locador entrega o que lhe pertence para receber o pagamento.
Nos contratos gratuitos, somente umas das partes obtém proveito, como na doação pura.
III – Comutativos e aleatórios:
O contrato comutativo é o que, uma das partes, além de receber prestação equivalente a sua, pode apreciar imediatamente essa equivalência, como na compra e venda.
Nos aleatórios, as partes se arriscam a uma prestação inexistente ou desproporcional, como exemplos, seguros, empréstimos. Simplificando, é o contrato de decisões futuras, em que uma parte é responsável por elas acontecerem ou não.
IV – Consensuais ou reais:
Consensuais são os que se consideram formados pela simples proposta e aceitação.
Os reais, são os que se formam com a entrega efetiva do produto, a entrega deste não é decidida no contrato, mas somente as causas do que irá acontecer depois dessa entrega. 
Os contratos reais são em geral unilaterais, sendo que se limitam a restituir a coisa entregue. Os bilaterais, sendo que enquanto não se entrega o produto, não há obrigação gerada.
V – contratos nominados e inominados:
contratos nominados são os regulamentados por lei, o código civil rege, são: compra e venda, troca, doação, locação, empréstimo, depósito, mandato, gestão, edição, representação dramática, sociedade, constituição de renda, seguro, jogo e aposta, e fiança. 
Os inominados são contrários aos nominados, não necessitando de uma ação legal, pois estas não estão definidas em lei, precisando apenas do básico dos contratos (que as partes sejam livres, que os produtos sejam lícitos e etc.)
VI – Solenes e não solenes:
Os solenes são os contratos que necessitam de formalidades nas execuções após ser concordado por ambas as partes, dando a elas segurança e algumas formalidades da lei, como na compra de um imóvel, sendo necessário um registro em cartório para que este seja válido. 
Os não solenes são aqueles que não precisam dessas formalidades, necessitando apenas da aceitação de ambas as partes.
VII – Principais e acessórios:
Os principais, são os que existem por si só, sendo independente de outros. Os acessórios são emendas do contrato principal, sendo que estes necessitam do outro para existirem.
VIII – Paritários ou por adesão:
Os contratos paritários, são os que realmente são negociados pelas partes, discutindo e montando-o dentro das formalidades da lei.
Já os por adesão, se caracterizam por serem prontos por um a das partes e aceitos pelas outras, sendo um pouco inflexíveis por excluir o debate ou discussão de seus termos.
O dogma da autonomia da vontade - O desenvolvimento da noção de autonomia. 
Para Pontes de Miranda. “O auto-regramento da vontade, a chamada autonomia da vontade, é que permite que a pessoa, conhecendo o que se produzirá com o seu ato, negocie ou não, tenha ou não o gestum que a vincule”. 
Assim é que, durante muito tempo, dissemos que o contrato nasce da
vontade livre, tendo por base o princípio da autonomia da vontade.
O desenvolvimento da noção de autonomia da vontade: dos primórdios à concepção clássica
Já no Direito Romano, à vontade era dado um valor normativo, pois que o acordo celebrado entre duas pessoas era obrigatório para elas e constituía a chamada lex primatia.
O desenvolvimento da noção de autonomia da vontade que teve seu apogeu no liberalismo e, diferentemente de inúmeros outros institutos jurídicos, não teve início no Direito Romano. 
Na verdade, como observa Cláudia Lima Marques, os doutrinadores franceses destacam como principais origens deste princípio o Direito Canônico, a Teoria do Direito natural, as Teorias de Ordem Política e a Revolução Francesa e as Teorias Econômicas e o Liberalismo.
O Direito Canônico foi especialmente importante para a formação do princípio da autonomia da vontade. Nesse modelo jurídico, falava-se em sacralidade dos contratos, sendo que a palavra dada, a vontade manifestada a outra pessoa, formando um contrato, era tida como sagrada e o seu descumprimento configurava pecado. 
Princípio da força obrigatória dos contratos
Pela doutrina da autonomia da vontade, o contrato, uma vez constituído validamente, faz lei entre as partes, como muito bem preleciona o art. 1.134 do CC francês.
O contrato e o pacta sunt servanda
O contrato é um importante instrumento para a circulação de riquezas. É um dos motores da economia, possibilitando o deslinde de diversas relações negociais. É por causa das oscilações fáticas e econômicas que os homens buscam a segurança conferida pelos pactos escritos, oponíveis diante de seus parceiros e perante terceiros.
Todavia, é exatamente por causa das mesmas oscilações supracitadas que o pacto poderá ser revisto nas situações em que restar evidenciada uma completa desfiguração do panorama inicial previsto pelas partes, e isto ocorre mediante a revisão contratual, instituto cunhado com base nas teorias revisionistas.
O liberalismo do século XIX entendia de forma absoluta o pacta sunt servanda, apenas existindo, como forma de extinção da avença, o caso fortuito e a força maior. A observância aos princípios da autonomia da vontade e da força obrigatória dos contratos era, portanto, rígida, sem valoração do momento econômico ou das circunstâncias supervenientes.
Após a 1ª Guerra Mundial, tornou-se necessário uma evolução na teoria contratual tradicional, tornando-se possível a aplicação da cláusula rebus sic stantibus, pois muitos contratos estavam onerando excessivamente alguma das partes devido às grandes mudanças provocadas pela Guerra nos cenários político, econômico e social.
Necessária era, portanto, uma nova concepção de contrato, a qual alterasse a forma de valoração dos princípios basilares da teoria tradicional dos contratos. Em outros termos, a autonomia da vontade e a força obrigatória dos contratos não poderiam ser mais considerados absolutos, pois com esta concepção não mais tutelavam os interesses nem conferiam a segurança necessária aos contratantes.
Esta nova concepção, mais justa, busca equilibrar as relações contratuais, atingindo, assim, a almejada justiça contratual, amenizando o alcance da famosa expressão pacta sunt servanda e buscando proteger os contratantes que podem sofrer prejuízos decorrentes de eventos supervenientes que tornem as avenças excessivamente onerosas, tornando possível a revisão contratual, sempre que tais eventos imprevistos no momento da formação do contrato venham a ocorrer. 
Deste modo, o Estado passou a intervir nos contratos, relativizando o pacta sunt servanda e impondo normas de ordem pública para certas relações.
O liberalismo do século XIX encontrava argumentos para sustentar o princípio do pacta sunt servanda na idéia de que, se as partes alienaram livremente sua liberdade através da manifestação de suas vontades, devem cumprir o prometido, ainda que de tal avença lhes ocorra prejuízo. Isto porque "quem diz contratual, diz justo“.
A cláusula rebus sic stantibus
A cláusula rebus sic stantibus é a mais antiga expressão da possibilidade de revisão contratual nos contratos de execução diferida ou de trato sucessivo. Tal cláusula deve ser considerada implícita nos contratos acima mencionados, não necessitando, portanto, de menção das partes.
A cláusula possuía uma fórmula extensa, posteriormente resumida, qual seja: "Contractus qui habent tractum successivum et dependentiam de futuro rebus sic stantibus intelliguntur". 
Todavia, a mesma ficou conhecida apenas como rebus sic stantibus, cuja tradução seria "estando assim as coisas"
A expressão rebus sic stantibus consiste, resumidamente, em presumir, nos contratos comutativos, uma cláusula implícita, segundo a qual os contratantes estão adstritos ao seu rigoroso cumprimento, no pressuposto de que as circunstâncias do momento da contratação se conservem inalteradas no momento da execução contratual, ou seja, permaneçam idênticas às que vigoravam no momento da celebração.
É sabido que os romanos já se preocupavam com os efeitos provenientes das mudanças do ambiente objetivo no momento da execução dos pactos, as quais diferiam das circunstâncias do momento da formação dos mesmos. Cícero e Sêneca possuíam escritos com este conteúdo, os quais "foram tratados como primeiro germe do princípio da tácita cláusula rebus sic stantibus“.
Todavia, as primeiras construções teóricas sobre a cláusula, incidindo nos contratos, surgiram na Idade Média e não no Direito Romano. Este último tratou das situações em que as circunstâncias objetivas poderiam se transformar, porém os juristas romanos não formularam nenhum princípio geral e constante a tal respeito. 
Já na Idade Média, os canonistas, principalmente Santo Tomas de Aquino e Graciano, faziam referências em seus escritos aos ensinamentos de Sêneca, aplicando-os nos Tribunais Eclesiásticos.
Foi, porém, com Andrea Alciato que se iniciou a teorização da cláusula rebus sic stantibus como argumento jurídico, com critérios dogmáticos, no tratado de autoria do mesmo de título "De Praesumptionibus“.
Após tal período, nos fins do século XVIII e início do século XIX, a cláusula entrou em decadência. Os autores começaram a ser cada vez menos favoráveis à sua admissão, procurando limitar os casos em que a cláusula seria aplicável.
Evolução da cláusula rebus sic stantibus: A teoria da imprevisão
Com o surgimento do primeiro grande conflito do século XX, ou seja, a 1ª Guerra Mundial, circunstâncias imprevistas ocorreram, golpeando de maneira absurda vários contratantes, causando o desequilíbrio de diversos contratos, num contexto em que a economia europeia encontrava-se desgastada e vulnerável.
As transformações ditadas pela Guerra foram de tal monta que, caso os contratos comutativos de trato sucessivo ou de execução continuada fossem seguidos à risca, sem qualquer revisão, chegar-se-ia a situações inviáveis, com enorme e injusto enriquecimento de um dos contratantes à custa da total ruína, ou quase total, do outro.
Nesse contexto, portanto, retorna com nova roupagem jurídica a cláusula rebus sic stantibus, mais aperfeiçoada e adaptada aos contornos do momento histórico, sob o novo nome de Teoria da Imprevisão.
Importante marco inicial para a Teoria da Imprevisão foi a Lei Faillot, da França, de 1918, que versava sobre a revisão dos contratos afetados pela Grande Guerra.
A Teoria da Imprevisão consiste no reconhecimento de que "a ocorrência de acontecimentos novos, imprevisíveis pelas partes e a elas não-imputáveis, refletindo sobre a economia ou na execução do contrato, autorizam sua revisão, para ajustá-lo às circunstâncias supervenientes“.
É nestes casos que entra em tela a Teoria da Imprevisão, atualmente adotada e prevista pelo Código Civil brasileiro de 2002, no Título V, capítulo II, na seção IV, atinente à extinção dos contratos. O principal artigo atinente à resolução contratual por onerosidade excessiva é o art. 478, in verbis:
Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das
partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação.
Teorias revisionistas em outros países
Ao mesmo tempo imaginou-se na Inglaterra a doutrina da Frustration of Adventure; 
Retomou-se na Itália a cláusula rebus sic stantibus”. 
Assim tentou-se reconstruir “por toda parte o mecanismo de proteção do contratante contra a excessiva onerosidade superveniente”.
O CDC e a teoria da imprevisão
Como é notório, a Lei nº 8.078/90, que instituiu o Código de Defesa do Consumidor, constitui norma de ordem pública e interesse social, pelo que consta do seu art. 1º, sendo também norma principiológica, pela previsão expressa de proteção aos consumidores constante no Texto Maior, particularmente do seu art. 5º, XXXII e art. 170, III.
Na esfera contratual, o CDC inseriu entre nós a regra de que mesmo uma simples onerosidade ao consumidor poderá ensejar a chamada revisão contratual, prevendo também o afastamento de uma cláusula abusiva, onerosa, ambígua ou confusa (artigos 51 e 46) e a interpretação do contrato sempre em benefício do consumidor (artigo 47).
Entendemos que a intenção da expressão "função social do contrato" está intimamente ligada ao ponto de equilíbrio que o negócio celebrado deve atingir e ao que se denomina princípio da equidade contratual.
Dessa forma, um contrato que traz onerosidade a uma das partes – tida como hipossuficiente e/ou vulnerável –, não está cumprindo o seu papel sociológico, necessitando de revisão pelo órgão judicante.
Sendo a igualdade para contrair direitos e deveres entre os sujeitos do direito uma cláusula pétrea, prevista no art. 5º, "caput", da CF/88, procura-se resolver eventuais desigualdades de forma casuística.
Sem maiores debates quanto à tal discussão, o que nos interessa, principalmente, é o que preceitua o art. 6º, inciso V, da Lei nº 8.078, de 1990, dispositivo que trata da proteção do consumidor em relação às cláusulas abusivas e do direito à revisão contratual, "in verbis":
"Art. 6º. São direitos básicos do consumidor:
(...)
V – a modificação das cláusulas contratuais que estabelecem prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas."

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