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Análise do Artigo 3º do CDC

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DIREITOS DO CONSUMIDOR
Art. 3º. do CDC - Fornecedor
ART. 3º - Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.
FORNECIMENTO DE PRODUTOS
Critério caracterizador: 
- desenvolver atividades tipicamente profissionais, como a comercialização, a produção, a importação, indicando também a necessidade de uma certa habitualidade, como a transformação, a distribuição de produtos.
Estas características vão excluir da aplicação das normas do CDC todos os contratos firmados entre dois consumidores, não-profissionais. 
A exclusão parece-me correta, pois o CDC ao criar direitos para os consumidores, cria deveres, amplos, para os fornecedores. 
João Batista de Almeida esclarece que “fornecedor é não apenas quem produz ou fabrica, industrial ou artesanalmente, em estabelecimentos industriais centralizados ou não, como também quem vende, ou seja, comercializa produtos nos milhares e milhões de pontos-de-venda espalhados por todo o território” 
A Proteção jurídica do Consumidor, 2ª ed. Ed. Saraiva: 2000. p. 41.
FORNECEDOR – PESSOA FÍSICA OU JURÍDICA
No fornecimento de produtos ou serviços, podem ser considerados como fornecedores tanto a pessoa jurídica (o que é mais comum) como também a pessoa física, bastando se enquadrar nos ditames do artigo. 
PESSOAS JURÍDICAS PÚBLICAS
Também poderão ser enquadradas como fornecedores quando do fornecimento de serviços ou produtos em que haja uma contraprestação direta pelos consumidores (serviço de água, luz, telefone etc.). 
PAGAMENTO DE TRIBUTOS
Serviços Públicos mediante o pagamento de tributos
Estes não se submetem aos preceitos consumeristas, pois aqui não há um consumidor propriamente dito e sim um contribuinte, que não efetua um pagamento direto pelo serviço prestado, mas sim um pagamento aos cores públicos que destinam as respectivas verbas, de acordo com a previsão orçamentária, para as atividades devidas, não se falando, neste caso, numa relação entre fornecedor e consumidor.
CONDOMÍNIO X CONDÔMINO
No condomínio, a relação jurídica entre o condomínio e os condôminos não se qualifica como relação de consumo, primeiro, porque está submetida a regramento legal específico (CC, arts. 1.331 a 1.358). Segundo, porque o condomínio, por não desenvolver atividade econômica de caráter profissional, não pode ser considerado fornecedor.
ENTES DESPERSONALIZADOS
Os “entes despersonalizados” estão abrangidos pelo artigo de forma a evitar que a falta de personalidade jurídica venha a ser empecilho na hora de tutelar os consumidores, evitando prejuízos a estes. A família, por exemplo, praticando atividades típicas de fornecimento de produtos e serviços, segundo o enunciado do art. 3º, seria considerada fornecedora para os efeitos legais.
CONCEITO DE PRODUTO
§ 1.º Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial
O CDC definiu produto no § 1º do art. 3º e, de maneira adequada, seguindo o conceito contemporâneo, em vez de falar em bem ou coisa, como fazia o CC/16 e também o faz o de 2002, emprega o termo “produto” (e depois vai falar em “serviço”).
Este conceito de produto é universal nos dias atuais e está estreitamente ligado à idéia do bem, resultado da produção no mercado de consumo das sociedades capitalistas contemporâneas. É vantajoso seu uso, pois o conceito passa a valer no meio jurídico e já era usado por todos os demais agente do mercado (econômico, financeiro, de comunicações etc.).
PRODUTO MÓVEL E IMÓVEL
Na definição de produto, o legislador coloca então “qualquer bem”, e designa este como “móvel ou imóvel”, e ainda “material ou imaterial”. 
Da necessidade de interpretação sistemática do CDC nascerá também a hipótese de fixação do produto durável e não durável, por previsão do art. 26 (acontecerá o mesmo no que tange aos serviços). Então vejamos:
A utilização dos vocábulos “móvel” e “imóvel” nos remete ao conceito tradicional advindo do direito civil. O sentido é o mesmo. 
PRODUTO MATERIAL E IMATERIAL
No que respeita ao aspecto da materialidade do produto, vimos que ele pode ser material ou imaterial.
Mas, por conta do fato de o CDC ter definido produto como imaterial, é de perguntar que tipo de bem é esse que poderia ser oferecido no mercado de consumo. Afinal, o que seria um produto imaterial que o fornecedor poderia vender e o consumidor adquirir?
PRODUTO IMATERIAL
Diga-se em primeiro lugar que a preocupação da lei é garantir que a relação jurídica de consumo esteja assegurada para toda e qualquer compra e venda realizada. Por isso fixou conceitos os mais genéricos possíveis. Isso é que é importante. A pretensão é que nada se lhe escape.
Assim, a designação “produto” é utilizada, por exemplo, nas atividades bancárias (mútuo, aplicação em renda fixa, caução de títulos, software, etc.)
PRODUTO DURÁVEL
Produto durável é aquele que, como o próprio nome diz, não se extingue com o uso. Ele dura, leva tempo para se desgastar. Pode e deve ser utilizado muitas vezes. Contudo, é preciso chamar a atenção para o aspecto “durabilidade” do bem durável. Nenhum produto é eterno. Todos tendem a um fim material. Até mesmo um imóvel construído se desgasta.
DESGASTE NATURAL
Nesses casos de desgaste natural não se pode nem se falar em vício do produto. Não há proteção legal contra o desgaste, a não ser que o próprio fabricante tenha assumido certo prazo de funcionamento (conforme permite o CDC: arts. 30, 31, 37, 50 etc.). A norma protege o produto durável, em certo prazo, por vício (arts. 18, 26, II e 50), para garantir sua finalidade e qualidade.
PRODUTO NÃO DURÁVEL
O produto “não durável”, por sua vez, é aquele que se acaba com o uso. Como o próprio nome também diz, não tem qualquer durabilidade. Usado, ele se extingue ou, pelo menos, vai-se extinguindo. Estão nessa condição os alimentos, os remédios, os cosméticos etc. 
PRODUTOS IN NATURA
O produto in natura, assim, é aquele que vai ao mercado consumidor diretamente do sítio ou fazenda, local de pesca, produção agrícola ou pecuária, em suas hortas, pomares, pastos, granjas etc. São os produtos hortifrutigranjeiros, os grãos, cereais, vegetais em geral, legumes, verduras, carnes, aves, peixes etc.
PRODUTO GRATUITO OU AMOSTRA GRÁTIS
Há uma única referência à “amostra grátis”, no CDC: a constante do parágrafo único do art. 39 e apenas para liberar o consumidor de qualquer pagamento. A amostra grátis diz respeito não só ao produto mas também ao serviço, posto que é sanção imposta ao fornecedor que descumpre as regras estabelecidas.
Aqui, ao que nos interessa, refira-se que o produto entregue como amostra grátis está submetido a todas as exigências legais de qualidade, garantia, durabilidade, proteção contra vícios, defeitos etc.
SERVIÇO
§ 2º. Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.
INCIDÊNCIA DO CDC
Serviço bancário, financeiro, de crédito, securitário etc.
Este é um assunto pacificado pelo STJ e pelo STF, apesar de nunca ter existido por parte do legislador e da doutrina, dúvida quanto à aplicabilidade do CDC nos serviços do parágrafo 2º. do artigo 3º.
INCIDÊNCIA DO CDC AOS SERVIÇOS BANCÁRIOS
Demonstrando tal assertiva, temos que, após reiteradas decisões, em primeiro e segundo graus, e após chegarem ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) um sem número de processos, em que as instituições financeiras tentavam afastar de si a incidência do CDC, nosso STJ editou a Súmula 297, publicada no DJ 09.09.2004, que proclama, literalmente: "O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras."
POSIÇÃO DO STF
As relações de consumo de natureza bancária ou financeira devem ser protegidas pelo
Código de Defesa do Consumidor (CDC). Esse foi o entendimento do Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) que, por maioria, (nove votos a dois) julgou improcedente o pedido formulado pela Confederação Nacional das Instituições Financeiras (Consif) na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 2591.
CONSIF
A entidade pedia a inconstitucionalidade do parágrafo 2º do artigo 3º do Código de Defesa do Consumidor (CDC) na parte em que inclui, no conceito de serviço abrangido pelas relações de consumo, as atividades de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária.
A presidente do STF, ministra Ellen Gracie, também entendeu que as relações de consumo nas atividades bancárias devem ser protegidas pelo CDC. O placar do julgamento definitivo da ADI ficou assim: votaram pela improcedência do pedido formulado pela Consif os ministros Néri da Silveira (aposentado), Eros Grau, Carlos Ayres Britto, Joaquim Barbosa, Sepúlveda Pertence, Cezar Peluso, Marco Aurélio, Celso de Mello e Ellen Gracie. Ficaram parcialmente vencidos os ministros Carlos Velloso (aposentado), relator, e Nelson Jobim (aposentado).
O receio dos banqueiros era tão-somente que o controle dos juros passasse do Banco Central para o Judiciário. Alegavam, ainda, que somente através da Lei n. 4.595/64, art. 4º. , o poder de fixar juros era do Conselho Monetário Nacional.
JULGADOS E SÚMULA 321 STJ
Arrendamento Mercantil – equipamento médico. O CDC incide sobre a relação jurídica de arrendamento mercantil de equipamento médico, daí a competência do respectivo juízo especializado. (STJ, REsp. 680.571-BA, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito.)
Previdência Privada – “(...) Aplicam-se os princípios e regras do CDC à relação jurídica existente entre a entidade de previdência privada e seus participantes.” (STJ, REsp. 306155/MG, DJU25/02/2002, p. 377, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 19/11/2001, 3ª T.)
Súmula 321 do STJ – “O CDC é aplicável à relação jurídica entre a entidade de previdência privada e seus participantes”.
SERVIÇO DURÁVEL E NÃO DURÁVEL
Serviços não duráveis serão aqueles que, de fato, exercem-se uma vez prestados, tais como, p. exemplo, os serviços de transportes, de diversões públicas, de hospedagem etc.
Serviços duráveis serão aqueles que:
tiverem continuidade no tempo em decorrência de uma estipulação contratual. São exemplos à prestação dos serviços escolares, os chamados planos de saúde etc., bem como todo e qualquer serviço que no contrato seja estabelecido como contínuo;
SERVIÇO SEM REMUNERAÇÃO
Tem-se ainda que tratar do aspecto da “remuneração” lá inserido e da exclusão do serviço de caráter trabalhista. Comecemos por este último, que não demanda qualquer dificuldade. A lei pura e simplesmente exclui de sua abrangência os serviços de caráter trabalhista, no que está certa, pois a relação instaurada nesse âmbito tem conotação diversa da instaurada nas relações de consumo. Já o aspecto da remuneração merece comentários mais cuidadosos.
O CDC define serviço como aquela atividade fornecida mediante “remuneração”.
Antes de qualquer coisa, consigne-se que praticamente nada é gratuito no mercado de consumo. Tudo tem, na pior das hipóteses, um custo, e este acaba, direta ou indiretamente, sendo repassado ao consumidor. Assim, se, p. exemplo, um restaurante não cobra pelo cafezinho, por certo seu custo já está embutido no preço cobrado pelos demais produtos. 
OS SERVIÇOS PÚBLICOS
No art. 22, a lei consumerista regrou especificamente os serviços públicos essenciais e sua existência, por si só, foi de fundamental importância para impedir que os prestadores de serviços públicos pudessem construir “teorias” para tentar dizer que não estariam submetidos às normas do CDC.
SERVIÇO PÚBLICO PRESTADO DIRETO OU INDIRETAMENTE
“Órgão públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento”, 
Vale dizer, toda e qualquer empresa pública ou privada que por via de contratação com a Administração Pública forneça serviços públicos, assim como, também, as autarquias, fundações e sociedades de economia mista. 
Art. 22 do CDC
O que caracteriza a pessoa jurídica responsável na relação jurídica de consumo estabelecida é o serviço público que ela está oferecendo e/ou prestando.
No mesmo artigo a lei estabelece a obrigatoriedade de que os serviços prestados sejam: 
“adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos”.

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