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Prazos Decadenciais e Prescricionais no CDC

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Prazos decadenciais e prescricionais no CDC
Art. 26 - O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em:
 I - 30 (trinta) dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produto não duráveis;
II - 90 (noventa) dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produto duráveis.
§ 1º - Inicia-se a contagem do prazo decadencial a partir da entrega efetiva do produto ou do término da execução dos serviços.
§ 2º - Obstam a decadência:
I - a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o fornecedor de produtos e serviços até a resposta negativa correspondente, que deve ser transmitida de forma inequívoca;
II - (Vetado.)
III - a instauração de inquérito civil, até seu encerramento.
§ 3º - Tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial inicia-se no momento em que ficar evidenciado o defeito.
Paz social e tranquilidade da 
ordem jurídica.
O direito deve ser exercido dentro de um determinado prazo para que não cause instabilidade social. A prescrição e a decadência estão fundamentadas na paz social, na tranquilidade da ordem jurídica, isso porque o credor não deve ficar inerte; ao contrário, deve buscar a satisfação de seu direito junto ao devedor, utilizando-se dos meios em direito admitidos para tanto.
PRESCRIÇÃO
A prescrição, na definição de Clóvis Beviláqua, “é a perda da ação atribuída a um direito, e de toda a sua capacidade defensiva, em consequência do não uso delas, durante um determinado espaço de tempo” (VENOSA, 2004, p. 615). A prescrição não fere o direito em si mesmo, mas a pretensão à reparação.
Requisitos para a decretação da prescrição
A) existência de direito de ação;
B) não exercício do direito de ação pelo titular;
C) ausência de fato impeditivo, suspensivo ou interruptivo do curso da prescrição.
CC, arts. 197 a 204.
DECADÊNCIA
A decadência pode ser definida como “a extinção do direito pela inércia do titular quando a eficácia desse direito estava originalmente subordinada ao exercício dentro de um determinado prazo, que se esgotou, sem o respectivo exercício” (VENOSA, 2004, p. 620). 
Assim, na decadência, não se fala na perda do próprio direito de ação, mas na extinção do direito antes que ele se torne efetivo pelo exercício.
Diferença básica da decadência no CC e no CDC
Para o direito civil, não há que se falar em suspensão ou interrupção do prazo decadencial, sendo esta a diferença principal entre os efeitos da prescrição e da decadência. No entanto, veremos seguir que o CDC estabeleceu duas hipóteses de suspensão de prazo decadencial.
Os artigos 26 e 27 do CDC tratam da decadência e da prescrição. O prazo para reclamar por vício do serviço ou do produto é decadencial; já o prazo para reclamar pelo fato do produto ou do serviço é prescricional, conforme veremos.
CDC - Norma de ordem pública
Saliente-se que os prazos prescricionais e decadenciais no CDC são de ordem pública, por força do art. 1.º do mesmo diploma legal, razão pela qual não podem ser alterados pela vontade das partes.
PRAZO DECADENCIAL – VÍCIO DO PRODUTO OU DO SERVIÇO
O art. 26 do CDC determina que o direito do consumidor para reclamar dos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em:
30 (trinta) dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos não duráveis;
90 (noventa dias), tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos duráveis.
Menor ou maior durabilidade
A qualificação dos produtos ou serviços como duráveis ou não duráveis envolve a sua maior ou menor durabilidade, mensurada em termos de tempo de consumo. Assim, os produtos alimentares, de vestuário, e os serviços de dedetização, por exemplo, não são duráveis, ao passo que os eletrodomésticos, os veículos automotores e os serviços de construção civil são duráveis.
Distinção de vício aparente e 
vício oculto
O vício aparente é de fácil constatação, já o vício oculto é aquele que não se visualiza de pronto, de difícil constatação, ocorrendo geralmente, em fase mais avançada do consumo. Não se trata de vício oriundo de desgaste natural pela utilização do produto, mas de verdadeiro defeito de fabricação.
Para ambos os casos, o prazo é decadencial; o que diferencia é o termo inicial para contagem. Os prazos iniciam-se a partir da entrega efetiva do produto ou do término da execução dos serviços. A tradição se opera no momento em que o consumidor tenha recebido o produto e tenha condições de verificar a ocorrência de possível vício.
Na hipótese de vício aparente, o prazo decadencial é contado a partir da data do recebimento do produto ou do término do serviço. Já na hipótese de vício oculto, o prazo é contado a partir da data em que ele se evidencia.
Dissemos que a decadência, para o Direito Civil, não é suspensa nem interrompida. Já o legislador consumerista estabeleceu, no § 2º do art. 26, duas hipóteses de suspensão de prazo decadencial, constituindo exceção à regra. São elas:
OBSTAM O PRAZO DECADENCIAL
1ª.) A reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o fornecedor, contando a suspensão do prazo da data da reclamação ao fornecedor até a resposta negativa correspondente, que deve ser transmitida de forma inequívoca (art. 26, § 2º, I);
2ª.) A instauração de inquérito civil, até seu encerramento (art. 26, § 2º, II).
Na hipótese de reclamação do consumidor perante o fornecedor, o prazo decadencial é suspenso, desde a entrega da reclamação, comprovada mediante recibo ou através de notificação judicial ou extrajudicial.
Vamos exemplificar:
Suponha que o consumidor compre um automóvel, bem de consumo durável, que apresente vício oculto somente 10 (dez) meses após a compra. Neste caso, tem o consumidor o prazo de 90 (noventa) dias, a partir da revelação do defeito oculto, para fazer reclamação por escrito ao fornecedor. 
Se o consumidor faz notificação extrajudicial de 5 (cinco) dias após a descoberta do vício, o prazo fica suspenso até que a montadora informe ao consumidor a respeito do conserto do veículo. 
Se a resposta da montadora for negativa, o consumidor terá mais 85 (oitenta e cinco dias) para ingressar com ação em juízo, requerendo o conserto do veículo, bem como as perdas e danos, se for o caso.
No mesmo exemplo, caso o fornecedor ofereça resposta afirmativa no sentido de consertar o veículo, o prazo continuaria suspenso, até o efetivo conserto e entrega ao consumidor.
Reclamação no PROCON 
obsta a decadência?
Há alguma discussão doutrinária sobre se a reclamação do consumidor perante o PROCON obsta a decadência. Para a doutrina majoritária, quando o consumidor faz reclamação perante o PROCON, fica obstada a fluência do prazo decadencial; no entanto, se houver encaminhamento de ofício por aquele órgão não suspende o prazo decadencial.
 Inquérito civil e suspensão do prazo decadencial
A instauração de inquérito civil, de acordo com o inciso II do § 2º do art. 26, obsta a decadência:
“III – a instauração de inquérito civil, até seu encerramento”.
Trata-se de reclamação formulada perante o Ministério Público.
Neste inciso III, há um problema de redação, o legislador falou menos do que deveria.
Devemos levar em conta que dá entrada da reclamação até ela ser processada, leva-se um tempo e às vezes é possível que o MP não instaure o inquérito civil por entender, por exemplo, que é o caso de mero direito individual.
Então, a solução qual seria? 
Devemos interpretar a norma de forma extensiva para dizer que o início do termo suspensivo é o da data da apresentação da reclamação junto ao MP.
PRAZO PRESCRICIONAL
ART. 27 DO CDC
Prazo prescricional – fato do produto ou do serviço – por defeito
O prazo prescricional para reclamar o fato do produto ou do serviço é de 5 (cinco) anos, na forma do art. 27 do CDC. Este mesmo diploma legal não estabelece nenhuma hipótese de interrupção ou suspensão dos prazos prescricionais, valendo, portanto, as regras previstas nos arts. 197 a 204 do CCB.
A contagem do prazo prescricional – conhecimento do dano e de sua autoria
A contagem do prazo prescricional
somente se inicia se o consumidor tem o conhecimento do dano e de sua autoria. No que diz respeito ao conhecimento do dano, a ressalva do legislador foi deveras importante, uma vez que pode o consumidor ter sido lesado e não ter-se dado conta do ocorrido. 
Exemplo disso está na utilização de medicamentos, cujos efeitos danosos somente poderão aparecer após algum tempo de uso.
Início da contagem do prazo – conhecimento do autor ao ato danoso
Ademais, para início da contagem do prazo, o consumidor de ter conhecimento do autor ao ato danoso. Assim, por exemplo, nas hipóteses de responsabilidade civil em que não se sabe ao certo quem foi o autor do dano causado ao consumidor, não há que se falar em contagem de prazo.
Ressalte-se que os prazos prescricionais estabelecidos no CCB somente serão aplicados na relação de consumo quando se tratar de regra específica, já que a lei especial derroga a regra geral. É o caso, por exemplo, do contrato de seguro, que estabelece prazo prescricional de 1 (um) ano para o segurado contra a seguradora para recebimento de indenização advinda de sinistro.
Há corrente doutrinária que sugere que os prazos prescricionais estabelecidos no art. 27 do CDC somente têm validade para as pretensões de natureza individual. Para as ações de natureza coletiva ou difusa, sendo indetermináveis os sujeitos, não há que se falar em prazos prescricionais, uma vez que estas ações são de interesse social (MANCUSO, 2000, p. 121).

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