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Unidade VIII – Objeto do Direito 1) Objeto da relação jurídica: é tudo o que se pode submeter ao poder dos sujeitos de direito como instrumento de realização de suas finalidades. 2) Patrimônio: Conceito: patrimônio é um complexo de relações jurídicas de uma pessoa que possui valor econômico. Características: Complexo de relações: engloba todo o ativo e o passivo de uma pessoa, abarcando dessa forma os seus créditos e débitos. Complexo econômico: só integram o patrimônio as relações que possam ser apreciadas pecuniariamente. Obs: Patrimônio Moral: utilizam equivocadamente para designar as relações sem valor econômico. 3) Bem e coisa: não há uniformidade na doutrina, possuindo, portanto, duas correntes: Coisa como gênero: os bens são coisas que possuem valor econômico e são suscetíveis de apropriação. Ex: coisa: ar, Lua; bem: imóveis, carros. Bem como gênero: bem é tudo aquilo que corresponde aos nossos anseios de viver. Ex: alegria de viver. Bens jurídicos seriam os bens que possuem valor econômico, podendo ser materiais ou imateriais. Coisa seriam os bens materiais. 4) Classificação dos bens: 4.1) Dos bens considerados em si mesmo: 4.1.1) Bens corpóreos e incorpóreos: A – Bens corpóreos: são aqueles que possuem existência material perceptível pelos nossos sentidos. B – Bens incorpóreos: são aqueles que possuem existência ideal criada pelo Direito. Ex: direito de crédito. C – Importância da distinção: não possui importância prática. Os termos “compra”, “venda”, “permuta” e “doação” são usados para designar a alienação de bens corpóreos e o termo “cessão” para os bens incorpóreos. 4.1.2) Bens móveis e imóveis: A – Bens imóveis: A.1 – Conceito: são aqueles que não podem ser transportados de um local para o outro sem destruição. A.2 – Classificação: Bens imóveis por sua natureza (art. 79, 1ª parte, CC): solo, subsolo e espaço aéreo correspondente. O petróleo encontrado nos subsolos pertence à União. O espaço aéreo é limitado até o espaço útil. Estatuto da Cidade: as cidades podem ter limite de edificações. Bens imóveis por acessão (art. 79, infine, CC): Acessão natural: são os bens que se incorporam ao solo sem qualquer intervenção humana. Ex: cursos de água, árvores. Acessão física, artificial ou industrial: são os bens que o homem agrega ao solo de forma permanente. Ex: construções. Não se incluem os bens temporários. Ex: feiras, circos e parques de diversão. Bens provisoriamente destacados de um imóvel (art. 81, CC): estes bens não perderão a característica de bem imóvel. Ex: casa de madeira, telhas. Acessão intelectual: são os bens que se tornam imóveis pela vontade humana que os emprega na exploração industrial ou ainda para o aformoseamento ou comodidade. Ex: quadro, ar-condicionado, lustre. Não está previsto no Código Civil. Bens imóveis por determinação legal (art. 80, CC): direito à sucessão aberta (herança) e direitos reais sobre bens imóveis e as ações correspondentes. B – Bens móveis: B.1 – Conceito: são bens móveis todos aqueles suscetíveis de movimento próprio ou de remoção por força alheia sem alteração da substância ou da destinação econômico-social. Semoventes: são os bens móveis que se deslocam de um lugar para o outro por vontade própria. B.2 – Classificação: Bens móveis por sua própria natureza (art. 82, CC): podem ser deslocados de um lugar para o outro sem que ocorra sua destruição. Bens móveis por determinação legal (art. 83, CC): Significado: são bens incorpóreos considerados móveis pela lei. Espécies: Energias com valor econômico; Direitos reais sobre bens móveis e as respectivas ações. Direitos patrimoniais e suas respectivas ações. Bens móveis por antecipação: são os bens agregados ao solo que se destinam a ser convertidos em bens móveis. Ex: árvores para corte. Obs: espécie criada pela jurisprudência, mas não reconhecida por lei. C – Importância da distinção: Instrumento público (art. 108, CC): a alienação de bens imóveis acima de 30 salários mínimos só pode ser feita por instrumento público. Anuência do cônjuge (art. 1647, CC): a alienação de bens imóveis, em regra, depende de outorga uxória ou marital independentemente do valor. Aquisição (art. 1227, CC): os bens móveis, em regra, são adquiridos por simples tradição e os bens imóveis são adquiridos pelo registro do ato translatício de domínio. Garantia (art. 1431 e 1437, CC): os bens móveis são utilizados como garantia por meio do penhor, enquanto que os bens imóveis são utilizados como garantia por meio de hipoteca. 4.3.1) Bens fungíveis e infungíveis (art. 85, CC): A – Conceito: são bens fungíveis aqueles que podem ser substituídos por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade. Ex: produtos industrializados de forma geral. Ex. de bem infungível: quadro raro. B – Caracterização: há bens fungíveis que podem se transformar em bens infungíveis, tanto por mudanças históricas ou pela vontade das partes. Ex: moeda. C – Relação entre bens fungíveis e móveis (art. 85, CC): os bens fungíveis são bens móveis. Caio Mário vislumbra uma exceção: o loteamento. D – Importância da distinção: Relações contratuais: bens fungíveis são objeto de contrato de mútuo e bens infungíveis são objeto de contrato de comodato. Direito das obrigações: Caso fortuito ou força maior: pode-se alegar para obrigações infungíveis, mas não se pode alegar para obrigações fungíveis. Obrigação de fazer: as obrigações fungíveis podem ser cumpridas por terceiros e as obrigações infungíveis devem ser cumpridas pela própria parte. 4.1.4) Bens consumíveis e inconsumíveis: A – Conceito (art. 86, CC): são consumíveis os bens móveis cujo uso importa destruição imediata da própria substância, sendo também considerados tais os destinados à alienação. Ex: alimentos e bebidas. B – Classificação: Bens consumíveis de fato (naturalmente consumíveis): são aqueles que não podem ser utilizados de forma continuada. Ex: alimentos. Bens consumíveis de direito (juridicamente consumíveis): são os bens destinados à alienação. Ex: livros expostos em uma prateleira para venda. C – Importância da distinção: o usufruto impróprio ou quase usufruto (art. 1320, §1°, CC) é o que recai sobre bens consumíveis. 4.1.5) Bens divisíveis e indivisíveis (arts. 87 e 88, CC): A – Aspectos gerais: Conceito: bens divisíveis são os que se podem fracionar sem alteração na sua substância, diminuição considerável de valor ou prejuízo do uso a que se destinam. Critérios: Critério natural: considera a possibilidade de fracionamento sem alteração da substância. Ex: saco de arroz, barra de chocolate. Critério econômico: considera a possibilidade de fracionamento sem que ocorra redução considerável do valor. Ex: isso não ocorre se reduzir uma pedra de diamante ou se dividir um lote no centro. Critério convencional: considera a vontade das partes, considerando um bem divisível em indivisível. Ex: doador de um lote (obs: indivisibilidade máxima de cinco anos). B – Importância da distinção: Obrigações indivisíveis (arts. 257 a 263, CC): são aquelas relacionadas a um bem indivisível. Nessas obrigações, o credor pode escolher apenas um dos credores para se responsabilizar pela obrigação. 4.1.6) Bens singulares e coletivos (art. 89 et seq, CC): A – Bens singulares A.1 – Conceito: bens singulares são aqueles que são considerados em sua individualidade representados por uma unidade autônoma e, por isso, distinta de quaisquer outras. A.2 – Espécies: Bens simples: são aqueles bens formados por partes unidas por força da natureza. Ex: animais, árvores. Bens compostos: são os bens constituídos por partes unidas por força humana. Ex: carro, eletrodoméstico. B – Bens coletivos: B.1 – Conceito: são aqueles que formam um conjunto homogêneo. Ex: livros de uma biblioteca, imagens de um presépio. B.2 – Espécies: Universalidade de fato (universitas facti): é o conjunto de bens que possui uma destinação unitária por vontade humana. Ex: bens deuma coleção. Universalidade de direito (universitas juris): é o conjunto de bens que possui uma destinação unitária por determinação legal. Ex: herança, massa falida. 4.2) Dos bens reciprocamente considerados: 4.2.1) Bens principais e acessórios: Significado: bem principal é aquele que possui existência autônoma e bem acessório é aquele que existe em função do principal. Ex: celular é bem principal e carregador é bem acessório. Regra geral: o destino do bem acessório segue o do bem principal. Espécies de acessórios: A – Frutos: Conceito: são utilidades que a coisa periodicamente produz sem desfalque de sua substância. Ex: fruta. Classificação dos frutos: Quanto à natureza: Naturais: são os frutos gerados por um bem principal em razão de sua própria força orgânica. Ex: frutas, filhotes de animais. Industriais: são os frutos gerados por um bem principal em decorrência de intervenção humana. Ex: sorvete. Civis (rendimentos): são utilidades que o bem produz possibilitando a percepção de uma renda. Ex: aluguel, juros. Quanto ao estado: Pendentes: são os frutos que ainda se encontram agregados ao bem principal. Ex: vaca prenha, fruta que ainda está no pé. Colhidos ou percebidos: são os frutos já destacados do bem principal. Percipiendos: são os frutos que poderiam, mas não foram colhidos. Ex: aluguel atrasado, fruta estragada no pé. Estantes: são os frutos já colhidos e armazenados. Consumidos: são os frutos que não mais existem. Importância da caracterização: Possuidor de boa-fé (art. 1214, CC): tem direito aos frutos colhidos ou percebidos e mais uma indenização pelos custos de produção pendentes. Possuidor de má-fé: deve haver uma indenização ampla (por toda a fazenda mais os bens percipiendos). Regime de comunhão parcial de bens (art. 1660, V, CC): comunicam-se os frutos dos bens particulares de cada cônjuge. B – Produtos: Conceito: são utilidades que a coisa principal produz cuja percepção ou extração diminui a sua substância. Ex: recursos naturais não-renováveis. Importância da caracterização: o possuidor que extrai produtos de uma propriedade alheia sem autorização, ainda que de boa-fé, deverá restituir ou indenizar o proprietário. C – Partes integrantes e pertenças: Partes integrantes: Conceito: são as partes concretas que entram na unidade que faz a coisa, embora conserve a sua identidade. Ex: volante e rodas. Partes integrantes e partes componentes: as partes componentes dão origem a um bem, mas perdem a sua identidade. Ex: cimento, tinta de carro. Pertenças: Conceito: são bens destinados a conservar ou facilitar o uso dos bens principais sem que destes sejam partes integrantes. Ex: ar-condicionado. Importância da distinção (art. 94, CC): as partes integrantes se submetem ao princípio da gravitação jurídica (acessório segue o principal) ao contrário das pertenças. D – Benfeitorias (art. 96 et seq, CC): Conceito: benfeitoria é a obra realizada pelo homem na estrutura da coisa principal com o propósito de conservá-la, melhorá-la ou embelezá-la. Classificação: Benfeitoria necessária (art. 96, §3°, CC): é aquela destinada a conservar o bem ou evitar a destruição. Ex: substituição do telhado de uma casa. Benfeitoria útil (art. 96, §2°, CC): é aquela que se destina a ampliar ou facilitar a utilização do bem. Ex: colocar portão eletrônico. Benfeitoria voluptuária (art. 96, §1°, CC): é aquela para mero deleite ou recreio, possuindo apenas fins estéticos. Obs: função social da propriedade (art. 5°, XXIII, CF): fazer com que a propriedade cumpra seu papel social, influenciando, mesmo que indiretamente, toda a sociedade. A doutrina considera como bem necessário. Ex: adubar a terra. Benfeitoria e acessão: Quanto à origem (art. 97, CC): a benfeitoria só resulta de força humana, enquanto a acessão pode resultar tanto de força humana quanto de força da natureza. Ex: aluvião (acréscimo contínuo e sucessivo de porção de terra por força da natureza) e avulsão (acréscimo de grande porção de terra decorrente de força natural violenta). Quanto à criação: a benfeitoria acarreta a transformação de um bem, enquanto na acessão resulta em criação de um novo bem. Dar o mesmo tratamento para acessão e benfeitoria. Importância da classificação: Possuidor de boa-fé (art. 1219, CC): possui três direitos; Direito de indenização pelas benfeitorias necessárias e úteis; Direito de levantar as benfeitorias voluptuárias (obs: não vai reaver se danificar a propriedade); Direito de retenção pelas benfeitorias necessárias e úteis. Regime da comunhão parcial de bens (art. 1660, IV, CC): comunicam-se as benfeitorias feitas em bens particulares de cada cônjuge. Obs (sum. 335 do STJ): nos contratos de locação é válida a renúncia aos direitos de retenção e de indenização por benfeitorias. 4.3) Bens públicos: A – Significado (art. 98, CC): são aqueles que pertencem às pessoas jurídicas de direito público. B – Espécies: Bens de uso comum do povo (art. 99, I, CC): são os bens destinados à utilização coletiva sem qualquer formalidade. Ex: ruas, praças. Bem de uso especial (art. 99, II, CC): são os bens utilizados pelo poder público na prestação de um serviço público. Ex: ambulância, prédio da prefeitura. Bem dominial ou dominical (art. 99, III, CC): são os bens que, embora pertençam ao Estado, eles não são utilizados nem pela coletividade nem para a prestação de serviço público. Ex: bens herdados pelo Estado. C – Possibilidade de alienação (arts. 100 e 101, CC): Bens dominiais: podem ser alienados desde que observadas as condições legais (Esfera Federal: lei de licitações). Bens de uso especial e de uso comum do povo: podem ser alienados após um processo administrativo de desafetação. Esse processo é a declaração de perda de utilidade pública. D – Usucapião (art. 102, CC e arts. 183, §3° e 191, CF): os bens públicos não podem ser usucapidos. E – Terras devolutas: Significado: são aquelas que não estão registradas nem em nome do poder público nem em nome de particulares. Propriedade: existem duas correntes: Pertencem ao Estado; São res nullius (coisa de ninguém). Só passam a pertencer ao Estado através de um processo de discriminação. Caso o particular chegue antes do Estado, o mesmo poderá registrá-la ou usucapi-la. 4.4) Bem de família: 4.4.1) Conceito: o bem de família constitui-se em uma porção de bens que a lei resguarda com os característicos de inalienabilidade e impenhorabilidade em benefício da constituição e permanência de uma moradia para o corpo familiar. Penhora é o ato processual por meio do qual se promove a individualização de bens, colocando-os à disposição do órgão judicial, para a satisfação do credor. 4.4.2) Bem de família voluntário (arts. 1711 a 1722): A – Procedimento: Modo de constituição (art. 1711, CC): poderá ser constituído mediante escritura pública ou testamento. O ato será registrado no Cartório de Registro de Imóveis. Abrangência: até um terço do patrimônio líquido de uma pessoa existente ao tempo da constituição. B – Objeto (art. 1712, CC): abrange dois tipos de bens: Imóvel rural ou urbano; Valores mobiliários, destinados à sustentação da família e conservação do imóvel. C – Duração (art. 1722, CC): gera efeitos até que ocorra o falecimento de ambos os cônjuges e que seja atingida a capacidade por todos os filhos. D – Efeitos: Inalienabilidade (art. 1717, CC): o bem de família só pode ser alienado mediante autorização judicial, com motivo justificável. Ex: doença. Impenhorabilidade (art. 1715, CC): Regra geral: o bem de família voluntário não pode ser objeto de penhora para as dívidas contraídas após a sua constituição. Exceções: Despesas de condomínio; Tributos relativos ao imóvel. Venda do bem: na hipótese de penhora do bem, o Código Civil prevê que a quantia que sobra deve ser aplicada para comprar outro imóvel de aproximado valor, ou ainda na aquisição de títulos da dívida pública ou dar o destino que o juiz achar conveniente. 4.4.3) Bem de famílialegal (Lei 8009/90): A – Procedimento: independe de qualquer manifestação de vontade. B – Objeto (art. 1°, lei 8009/90): Regra geral: é o imóvel urbano ou rural destinado à residência e os bens móveis que guarnecem a mesma. Exceções: Bens móveis não quitados; Obras de arte; Adornos suntuosos; Veículos de transporte. Bens do locatário (art. 2°, § único, lei 8009/90): são impenhoráveis os bens móveis do locatário que guarnecem a residência, com exceção dos bens acima citados. C – Efeito: o bem de família legal gera apenas a impenhorabilidade, podendo ser alienado livremente. Exceções: Crédito trabalhista e previdenciário: em relação aos trabalhadores do próprio imóvel; Execução de pensão alimentícia; Execução de crédito utilizado para financiamento para aquisição ou construção do imóvel; Execução de tributos relativos ao imóvel; Execução de sentença penal condenatória; Execução de hipoteca oferecida sobre o imóvel; Execução da obrigação do fiador nos contratos de locação. Obs: a sétima exceção tem sido considerada, em alguns julgados, como inconstitucional, por ofensa ao Princípio da Igualdade, pois trata de forma desigual o locatário e o fiador numa mesma relação. D – Má-fé na aquisição do bem (art. 4°, lei 8009/90): a lei permite que o juiz considere que a impenhorabilidade recaia sobre o bem de menor valor, podendo até invalidar a venda do móvel anterior. E – Pluralidade de residência (art. 5°, § único, lei 8009/90): Regra: a impenhorabilidade deverá recair sobre o imóvel de menor valor. Exceção: a impenhorabilidade poderá recair sobre o imóvel de maior valor se este for bem de família voluntário. F – Aplicação da lei às pessoas que vivem sozinhas: Corrente minoritária: a lei não abrange os solitários, já que a lei faz menção ao vocábulo “entidade familiar”. Corrente majoritária (sum. 364 do STJ): aplica-se a lei às pessoas sozinhas, com base no Princípio da Dignidade da Pessoa Humana e do Patrimônio Jurídico Mínimo.
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