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Adoção transnacional- Rachel Tiecher

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ADOÇÃO INTERNACIONAL1 
 
 
Rachel Tiecher Silveira 
 
 
RESUMO 
 
 
O instituto da Adoção Internacional será analisado sob o aspecto social e legal, tema 
de suma importância para a sociedade contemporânea. Passando pela origem do instituto e as 
mudanças no cenário nacional e seu desenvolvimento internacional. Remetendo a discussão 
para a legislação vigente, de forma mais específica para o Estatuto da Criança e do 
Adolescente (Lei n.º 8.069/90), confrontando-o com o Código Civil (Lei n.º 10.406/02) e com 
a Constituição Federal de 1988, que aderiu aos procedimentos adotados a partir da Convenção 
relativa à proteção e à cooperação em matéria de adoção internacional, realizada em Haia em 
29 de maio de 1993 (Decreto n.º 3.087/99), dentre outras convenções e tratados que foram 
ratificados pelo Brasil, representando uma nova visão da adoção internacional, concentrada 
nos direitos humanos da criança, visando a proteção, o bem-estar e o seu interesse superior. 
Diante disso, a proteção das crianças e adolescentes no âmbito do direito internacional, tais 
como o seqüestro e o tráfico internacional de órgãos, a atuação das autoridades centrais e 
organismos credenciados nos procedimentos para a adoção. O papel das Comissões Estaduais 
Judiciárias de Adoção (CEJA/CEJAI), que atuam como órgão auxiliador por parte daqueles 
que buscam adotar crianças brasileiras. 
Palavras-chave: Adoção Nacional e Internacional. Estatuto. Criança e Adolescente. 
Convenção. Estrangeiro. 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
O presente estudo tem por objetivo analisar a proteção de crianças e adolescentes no 
cenário mundial e brasileiro, tendo em vista que adoção internacional pode ser considerada 
um dos temas mais polêmicos da atualidade, sob o ponto de vista jurídico e social. 
A fim de facilitar a compreensão do trabalho ora apresentado, foram esquematizados 
três capítulos: Inicialmente, para o desenvolvimento da pesquisa, estudar-se-á os problemas 
que afetam a adoção internacional de menores, penetrando na origem histórica do instituto, 
 
1 Artigo extraído do Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial à 
obtenção do Grau de Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito da Pontifícia 
Universidade Católica do Rio Grande do Sul, aprovado, com grau máximo pela banca 
examinadora composta pelo orientador Prof. Rolf Hanssen Madaleno, Prof.ª Ana Luiza 
Carvalho Ferreira, e Prof.ª Marise Soares Corrêa, em 19 de junho de 2008. 
 
 
2 
preocupando-se em reconstituir aa mudanças ao instituto da adoção e o seu desenvolvimento, 
refletindo sobre o seu conceito e suas principais características no decorrer dos anos. 
No capítulo seguinte, serão analisados aspectos da doutrina brasileira em matéria de 
adoção internacional, mencionando o antigo Código de Menores de 1979, passando pela Carta 
Magna de 1988, o Código Civil de 2002, até finalmente ingressar no Estatuto da Criança e do 
Adolescente, que além de ser apresentado como um diploma legal específico, que rege a 
matéria ligada à adoção nacional e internacional, se mostrou inovador, à época de sua edição, 
também por inserir uma série de regras e princípios do Direito brasileiro sobre a adoção de 
menores, tendo como princípio-base a proteção integral dos direitos das crianças e 
adolescentes. Norteando o processo de adoção internacional, objetivando o interesse maior da 
criança, tratando da adoção internacional como uma medida excepcional. 
No último capítulo, desenvolvendo o objeto específico deste trabalho, é feito um 
exame dos diferentes critérios apontados pela doutrina para a solução da difícil problemática 
no caso de conflito de leis, sob a égide de realidade social, na medida em que há hoje no 
Brasil um grande pluralismo de leis, decretos, convenções e tratados com o objetivo de 
regulamentar o instituto da adoção internacional, há também um vazio normativo reinante no 
passado, preenchido, paulatinamente, por via do Direito internacional, que propiciou uma 
grande modernização das legislações nacionais de proteção à criança. Neste sentido, caberá 
aos operadores do Direito solver um possível conflito de normas, podendo recorrer às normas 
existentes na Lei de Introdução ao Código Civil, que adota critérios hermenêuticos 
apropriados para cada caso, em relação ao conflito de leis em matéria internacional. 
Ainda, verificar-se-á, como produto do estudo obtido no capítulo, a questão de fundo, 
conferindo especial atenção a grande problemática do tráfico internacional de crianças e 
adolescentes, e o papel das autoridades centrais, os organismos credenciados e as Comissões 
Judiciárias de Adoção, regulamentando cada passo dado no processo de adoção, assegurando 
o interesse do menor. Por fim, procurou tratar do tema de uma forma bastante articulada com 
a realidade, abordando os Tratados e convenções internacionais ratificados pelo Brasil, dentre 
eles os destacamos os mais importantes: A Convenção de Haia de 1988 e a Convenção 
Internacional dos Direitos da Criança da ONU (Organização das Nações Unidas). 
Quanto à metodologia de abordagem a ser empregada no trabalho, registra-se que, na 
fase de investigação, será predominantemente indutiva, com fundamento em pesquisas 
bibliográficas. Na fase de tratamento de dados, o método cartesiano e, o relatório dos 
resultados expressos na presente monografia é composto na base lógica indutiva. Outrossim, a 
técnica utilizada para pesquisa será a documental, na medida em que nos valeremos do estudo 
 
 
3 
través de pesquisas em livros e revistas para averiguar os estudos já realizados a respeito do 
tema proposto, e ainda, leis e jurisprudências. 
 
 
1 O INSTITUTO DA ADOÇÃO 
 
 
1.1 ORIGEM DA ADOÇÃO 
 
 
Neste primeiro momento do trabalho, importante que estudemos um ponto de extrema 
relevância para uma melhor compreensão e alcance acerca da adoção internacional, qual seja, 
o surgimento do instituto da adoção. 
Estudar o instituto da adoção reveste-se de importância singularíssima. Pode-se 
afirmar que os fatos que a determinam e as necessidades a que responde e para as quais 
proporciona uma contemplação jurídica, surgem na mais remota Antigüidade e perduram no 
transcurso dos séculos, se mantendo e se reafirmando nos tempos atuais de tão acentuadas 
desigualdades sociais e econômicas. 
A adoção teve seu prenúncio nos povos da Antigüidade podendo ser encontrada nas 
mais diversas formas, foi conhecida nas antigas civilizações como o Egito, a Babilônia, a 
Caldea e a Palestina. De cunho religioso, tinha como objetivo a perpetuação do culto 
doméstico, como forma de preservação da família para escapar de sua extinção, assegurando 
posterioridade a quem não tinha a família por consangüinidade.2 
A questão acerca do surgimento da adoção, inúmeras vezes foi abordada por 
doutrinadores brasileiros, razão pela qual, convém apresentar uma noção da origem. Luiz 
Carlos de Barros Figueirêdo, com o objetivo de buscar os primeiros casos de adoção, seja por 
nacional ou por estrangeiros, baseou-se em dados bíblicos e até mesmo em lendas.3 
Desta forma, segundo o autor, das histórias mais marcantes, pode ser destacada a de 
José do Egito, que foi adotado por Putifar e, ainda, o caso clássico da literatura infantil, a 
 
2 KAUSS, Omar Gama Ben. A Adoção no Código Civil e no Estatuto da Criança e do Adolescente. Rio de 
Janeiro: Lumen Juris, 1993. p. 01. 
3 FIGUEIRÊDO, Luiz Carlos de Barros. Adoção Internacional: doutrina e prática. Curitiba: Juruá, 2003. p. 
15. 
 
 
4 
lenda que envolve Rômulo e Remo, dois meninos que foram adotados por uma loba nos 
primórdios da civilização romana.4 
Instituto de grandeexpressão na Antigüidade teve acolhimento, nos chamados códigos 
orientais dos povos asiáticos: como o Código de Urnamu (2.050 a.C.), Código de Eshnunna 
(século XIX a.C.) e o Código de Hamurabi (1728-1686 a.C.).5 
Importante salientar, que o primeiro caso documentado de adoção foi encontrado em 
passagens da Bíblia Sagrada.6 A história de Moisés, cujo significado do nome seria “salvo 
pelas águas”, foi encontrado dentro de um cesto, às margens do Rio Nilo, por Termulos filha 
do faraó, conforme se extrai do velho testamento.7 
Entre os séculos XI e XII, mencionam-se em alguns poemas homéricos, casos de 
adoção. Assim, como o Canto IX da Ilíada, o ancião ginete Félix, chefe da embaixada de 
Aquileu recorda ao filho de Peleu e descendente de Zeus, que desde o abandono pelo pai o 
tomou a seu cuidado.8 
O povo hebraico caracterizava uma espécie de adoção conhecida pelo nome de 
levirato, palavra que provém do latim, considerada uma lei hebraica que obrigava um homem 
a esposar a viúva de um irmão quando do morto não houvesse herdeiro. Podendo ser 
encontrado vários registros sobre o instituto na Bíblia, como o de Jacó que adotou Efraim e 
Manassés, filho de seu filho José.9 
Entre os gregos a nomenclatura do instituto era Ampasis, a palavra “adotar” 
denominava-se “epi taiera agein”, e o nome de Tésis distinguia-se os tesei niós (que eram os 
filhos adotivos) dos fisei niós (filhos naturais).10 Em Atenas, a denominação do instituto era 
poíesis, eispoíesis e tesis, tanto os homens quanto as mulheres poderiam ser adotados, porém, 
as mulheres não podiam adotar.11 A adoção para os cidadãos da polites era um ato solene, 
com a intervenção do magistrado, os cidadãos poderiam adotar e serem adotados, porém a 
ingratidão do adotado revogava a adoção.12 
 
4 FIGUEIRÊDO, Luiz Carlos de Barros. Adoção Internacional: doutrina e prática. Curitiba: Juruá, 2003. p. 
15. 
5 KAUSS, Omar Gama Ben. A Adoção no Código Civil e no Estatuto da Criança e do Adolescente. Rio de 
Janeiro: Lumen Juris, 1993. p. 01-02. 
6 FIGUEIRÊDO, op. cit., p. 16. 
7 SZNICK, Valdir. Adoção. 2. ed. São Paulo: Leud, 1993. p. 08. Referindo a passagem do Gênesis. 
8 HOMERO. A Ilíada. São Paulo: Martin Claret, 2005. p. 452. 
9 FIGUEIRÊDO, op. cit., p. 15. 
10 SZNICK, op. cit., p. 27. Referindo a primeira cerimônia que está descrita em Gênesis, XXX, 3, L, 23; Ruth, 
IV. Referindo a Lei de Gortina (X, 34-5; XI, 1-19). 
11 SZNICK, loc. cit. Referindo Volterra, in Nov. Dig. Italiano, 1º, 281. 
12 SZNICK, loc. cit. 
 
 
5 
O instituto ganha notável desenvolvimento em Roma, a sua grande evolução adveio da 
necessidade de perpetuação do culto doméstico, como já notado pelos gregos.13 A finalidade 
da adoção no Direito Romano era suprir a morte prematura de filhos ou a falta destes por 
infecundidade, assegurando a sucessão legal, transformando um aliene juris em filho, se 
denominava Sacra. 14 
Acompanhando as transformações da família romana, o parentesco chamado agnatio 
compreendia todos os que estavam debaixo do poder de um "pater familas". A agnação 
(“agnatio”) referia-se ao parentesco que se instituía pelo culto, enquanto a cognição 
(“cognatio”) referia-se ao parentesco por laços consangüíneos”.15 
O sistema romano apresentava duas formas de adoção: a adrogatio (ad-rogação), que 
significava a adoção de um sui juris, pessoa que não estava submetida a nenhum pátrio poder, 
assim, um chefe de família entrava na família de outro ad-rogante, extinguindo-se a família do 
ad-rogado, sendo concebido como filho na família de um pater famílias, muitas vezes 
também, era emancipado por um pater famílias. Abandonando seu culto doméstico o sui juris 
tornava-se um herdeiro do culto do adotante (heres sacrorum).16 
Outra forma, era a adoção em sentido restrito ou propriamente dito, pela qual, um 
"alieni juris" se colocava sob o pátrio poder de um sui juris, o adotado quando ingressava na 
família do adotante assumia a qualidade de filho, filha, neto ou neta do pater-familias. 
Segundo a qual operava-se pela autoridade do magistrado, sendo necessário fazer cessar o 
pátrio poder do pai natural e colocar o filho debaixo do pátrio poder do pai adotivo. Aplicava-
se a disposição da Lei das XII Tábuas, que declarava extinto o pátrio poder, se o pai 
emancipasse o filho por três vezes. Por meio da emancipação o pai colocava o filho sob o 
mancipium do adotante.17 
A ad-rogação, era de grande interesse do Estado e da religião, pertencia ao Direito 
Público, que exigia rígidas formalidades, pois tornava-se um ato extremamente importante e 
grave, uma vez que implicava na submissão de um sui juris, a extinção de sua família e do 
respectivo culto privado. Portanto, obrigatória a intervenção do Estado que fazia uma prévia 
 
13 SZNICK, Valdir. Adoção. 2. ed. São Paulo: Leud, 1993. p. 27-8. 
14 MEIRA, Silvio Augusto de Bastos. Curso de Direito Romano: história e fontes. São Paulo: Saraiva, 1975. 
p. 179-80. 
15 VERONESE, Josiane Rose Petry e PETRY, João Felipe Correa. Adoção Internacional e Mercosul: 
Aspectos Jurídicos e Sociais. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2004. p. 16. 
16 KAUSS, Omar Gama Ben. A Adoção no Código Civil e no Estatuto da Criança e do Adolescente. Rio de 
Janeiro: Lumen Juris, 1993. p. 03. 
17 KAUSS, loc. cit. 
 
 
6 
investigação dos pontífices, sendo a decisão favorável submetida ao voto dos comícios e 
realização da cerimônia religiosa.18 
Posteriormente, surge a concepção orientada pelo Direito Privado, como a plasmada 
por Justiniano. Havia duas formas de adoptio: a adoptio plena e a adoptio minus plena; a 
primeira tinha a finalidade de conceder pátrio poder a quem não o tinha, porém, somente entre 
membros da mesma família natural ou de sangue. A segunda, em contrapartida, era realizada 
entre parentes e se caracterizava por manter os laços de parentesco do adotado com a sua 
família natural, evitando o rompimento destes, ficando sob o pátrio poder de seu pai de 
sangue.19 
Com o início das invasões bárbaras e da Idade Média a adoção cai em desuso. O 
instituto quase desapareceu completamente na Idade Média20, essa significativa diminuição, 
foi ocasionada pelo fato do instituto afrontar diretamente os interesses da Igreja Católica e por 
contrariar os interesses dos senhores feudais21, visto que, a constituição de um herdeiro 
prejudicava a donatio post obitum feita por ricos senhores feudais, que a hora de sua morte 
não deixavam descendentes.22 
A adoção era vista pelos sacerdotes, como um meio de suprir o casamento e a 
constituição da família legítima, acrescentando uma possibilidade de fraudar as normas que 
proíbam o reconhecimento de filhos adulterinos e incestuosos.23 Conseqüentemente, o 
instituto da adoção não teve qualquer previsão no Direito Canônico. 
No Direito feudal a adoção teve escassa aplicação, por ser contrária aos direitos 
hereditários dos senhores feudais sobre os feudos (Adpotivus in Feudum non Succedit), 
somente admitido quando lhes interessava do ponto de vista sucessório, uma vez que não 
admitiam mesclar nas suas famílias aldeões e plebeus.24 
Somente após a Revolução Francesa a adoção ressurgiu como um ato jurídico 
estabelecendo parentesco civil entre duas pessoas, passando a ser admitida por quase todas as 
legislações.25 
 
18 KAUSS, Omar Gama Ben. A Adoção no Código Civil e no Estatuto da Criança e do Adolescente. Rio de 
Janeiro: Lumen Juris, 1993. p. 03. 
19 KAUSS, loc. cit. 
20 MARCÍLIO, Maria Luisa. História Social da Criança Abandonada. São Paulo: Hucitec, 1998. p. 301. 
21 COSTA, Tarcísio José Martins. Adoção Transnacional – Um estudosociojurídico e comparativo da 
legislação atual. Belo Horizonte: Del Rey, 1998. p. 44. 
22 COSTA, loc. cit. 
23 WALD, Arnoldo. Curso de Direito Civil Brasileiro – O novo Direito de Família. v. IV. 12. ed. São 
Paulo: Revista dos Tribunais, 1999. p. 188. 
24 COSTA, op. cit., p. 44. 
25 COSTA, loc. cit. 
 
 
7 
A evolução do instituto entre os germanos pode ser observada em três períodos 
distintos: O primeiro foi o direito primitivo, em que o povo germano, essencialmente 
guerreiro, buscou na adoção um meio de perpetuar o chefe de família, para conseguir levar 
adiante as campanhas empreendidas pelo pai adotivo (campanhas bélicas).26 
O segundo período, sob a influência do Direito Romano, foi dividido em duas fases: o 
período anterior à influência da Escola de Bolonha e, a partir dessa influência, até a 
promulgação do Código da Prússia em 1794.27 
O terceiro período vai do Código da Prússia (Preussiches Landrech), para o atual 
Código Civil Alemão, sobreleva registrar que o código teve transcendental importância como 
antecedente histórico, para a legislação posterior, máxime na parte que se refere à adoção. 
Cabe ressaltar, que o Código Civil de Napoleão tomou-lhe, quase, integralmente, o sistema de 
disposições que regulamentavam adoção.28 
Tal como apareceu no Código Napoleônico, a adoção assoma na legislação francesa 
como um ato essencialmente contratual. Estabelecendo regras diferentes com respeito ao 
sujeito ativo da adoção.29 
Posteriormente, em 19 de junho de 1923, foi criada uma lei que trouxe importantes 
modificações à adoção, sobrevindo legislações, que culminaram por modernizar o instituto na 
França.30 
 
 
1.2 MUDANÇAS AO INSTITUTO DA ADOÇÃO NO BRASIL 
 
 
O abandono de crianças no Brasil, não é uma situação recente, tampouco por motivos 
políticos, quanto econômicos. Acredita-se que o ato de expor (abandonar) os próprios filhos 
foi introduzido no Brasil pelos europeus, como conseqüência, a colonização portuguesa no 
Brasil, introduziu leis, instituições e comportamentos de assistência e proteção à criança 
abandonada, nos moldes que foram adotados desde os tempos medievais.31 
 
26 COSTA, Tarcísio José Martins. Adoção Transnacional – Um estudo sociojurídico e comparativo da 
legislação atual. Belo Horizonte: Del Rey, 1998. p. 44-5. 
27 Ibidem. p. 45. 
28 Ibidem, p. 44-5. 
29 Ibidem, p. 46-7. 
30 Ibidem, p. 47. 
31 MARCÍLIO, Maria Luisa. História Social da Criança Abandonada. São Paulo: Hucitec, 1998. p. 12. 
 
 
8 
Nos períodos Imperial e Colonial, inúmeras crianças “legítimas” e “ilegítimas” foram 
abandonadas por suas famílias naturais, na tentativa dos pais livrarem-se do filho indesejado 
(aquele que não era amado ou legítimo). Para essas crianças denominadas “enjeitadas, 
desvalidas ou expostas”, lhes foi dado um destino, copiado do modelo europeu, que se 
chamava “Roda dos Expostos”, ou “Roda dos Enjeitados”.32 
A Roda dos Enjeitados foi criada pela Igreja na Idade Média, sob a influência do 
Cristianismo, nas quais serviam para o abandono anônimo de bebês, e assim, 
conseqüentemente se reduziam os infanticídios, práticas comuns na época, em que o 
nascimento de um filho ilegítimo era ostensivamente reprovado.33 Nesta época, a adoção 
ficou em desuso, pois a própria igreja que a criou a condenava, por tentar regularizar filhos 
adulterinos.34 
No período entre 1861 e 1874, a “Roda” entrou em vigor no Brasil, com isso, mais de 
8.086 crianças, das quais 3.545 morreram, porém nem todas as crianças que foram entregues à 
Roda dos Expostos permaneciam internadas, pois muitas eram criadas por “negras de aluguel” 
ou “famílias criandeiras”.35 
A adoção foi definitivamente oficializada no Brasil, mais precisamente no Estado da 
Bahia, em 1941, pelo médico Álvaro Bahia36, que implementou a primeira Agência de 
Colocação Familiar, em 1939, no interior do Departamento Estadual da Criança, servindo de 
modelo para a criação de outras agências estaduais durante a mesma década. 
É de extrema relevância fazer uma reconstrução histórica da legislação brasileira a 
respeito da adoção, mostrando que “a priori” o instituto foi introduzido no Brasil com as 
Ordenações Filipinas e a Lei Imperial de 22 de setembro de 1828, assim, considerado o 
primeiro dispositivo legal a tratar do instituto de adoção.37 
 
32 MARCÍLIO, Maria Luisa. História Social da Criança Abandonada. São Paulo: Hucitec, 1998. p. 12. 
33 MARCÍLIO, loc. cit. A Roda dos Expostos ou Enjeitados teve origem na Idade Média, na Itália. O nome 
“Roda” – dado por extensão à casa dos expostos – provém do dispositivo de madeira onde se depositava o 
bebê. De forma cilíndrica e com uma divisória no meio, esse dispositivo era fixado no muro ou na janela da 
instituição. No tabuleiro inferior da parte externa, o expositor colocava a criança (ainda pequenina) que era 
enjeitada, girava a “Roda” e puxava um cordão com uma sineta para avisar à vigilante – ou Rodeira – que 
um bebê acabara de ser abandonado, retirando-se furtivamente do local, sem ser reconhecido. A origem 
desses cilindros rotatórios vinha dos átrios ou dos vestíbulos de mosteiros e de conventos medievais, usados 
para outros fins, como o de evitar o contato dos religiosos com o mundo exterior. 
34 WEBER, Lidia Natalia Dobriansyj. Pais e Filhos por Adoção no Brasil. Curitiba: Juruá, 2006. p. 34. 
35 ORLANDI, Orlando. Teoria e Prática do Amor à Criança. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1988. p. 
61. 
36 BAHIA. Correio da. Repórter – Roda dos Expostos: Instrumento medieval recebia os órfãos e desvalidos na 
Santa Casa de Misericórdia. Matéria publicada em 15.10.06. Disponível em: 
<http://www.clubecorreio.com.br/reporter/noticia_impressao.asp?codigo=114420>. Acesso em: 29 abr. 
2008 às 10:10. 
37 WEBER, op. cit., p. 50. 
 
 
9 
A inclusão da adoção no Código Civil de 1916 ocorreu graças à persistência e à 
argumentação de Clóvis Bevilácqua, tanto que, a partir disso, a adoção passou a ser 
amplamente praticada em vários estados brasileiros.38 
No entanto, como a grande tendência da sociedade é a sua evolução, transformação e 
modificação, em 1927, foi criado o Código de Menores, o primeiro da América Latina a trazer 
definições de “abandono – físico e moral”, foi editado exclusivamente, visando o controle da 
infância e da adolescência abandonada e delinqüente.39 
Em 8 de maio de 1957, a Lei n. 3.133, acrescentou algumas modificações atinentes à 
adoção40 em seus arts. 368, 369, 372, 374 e 377. Distante de atingir o ápice da perfeição, ou 
pelo menos atender aos anseios da sociedade, algumas alterações introduzidas pela referida 
Lei, versavam sobre a idade mínima do adotante, a diferença de idade entre adotante e 
adotado e a concessão da permissão para ser adotante, mesmo que o adotante tivesse filhos 
legítimos ou reconhecidos, dentre outras modificações.41 Algumas modificações estariam por 
vir, no anteprojeto de reforma do Código Civil, que foi apresentado pelo Prof. Orlando Gomes em 
31 de março de 1963, o referido anteprojeto também tratava do instituto da adoção e da legitimidade 
adotiva.42 
A discriminação criada em torno da sucessão permaneceu estável por quase 10 anos, 
até 2 de julho de 1965, com a edição da Lei n.º 4.655, que dispôs sobre o instituto da 
legitimação adotiva, acarretando muitos benefícios para o menor abandonado. O adotado 
permanecia com os mesmos direitos e deveres do filho legítimo, salvo no caso de sucessão, se 
concorresse com filho legítimo superveniente à adoção.43 
Foi somente com promulgação do Código de Menores – Lei n.º 6.697, de 10 de 
outubro de 197944, que surgiram duas formas de adoção, desaparecendo do ordenamentoo 
instituto da legitimação adotiva.45 
Diante das grandes transformações no cenário político nacional na década de 1980, 
passou-se a contar com a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança, em 
 
38 WEBER, Lidia Natalia Dobriansyj. Pais e Filhos por Adoção no Brasil. Curitiba: Juruá, 2006. p. 50. 
39 MARQUES, Claudia Lima. Novas Regras sobre Adoção Internacional no Direito Brasileiro. v. 692. São 
Paulo: Revista dos Tribunais, 1993. p. 08. 
40 Disponível em: <http://www3.dataprev.gov.br/SISLEX/paginas/42/1957/3133.htm>. Lei nº 3.133 - de 8 de 
maio de 1957. Atualiza o instituto da adoção prescrita no Código Civil. Juscelino Kubitschek e José Carlos 
de Macedo Soares sancionam a seguinte lei. Acesso em: 29 abr. 2008 às 10:25. 
41 REALE, M. Novo Código Civil Brasileiro – estudo comparativo com o Código Civil de 1916... São Paulo: 
Revista dos Tribunais, 2003. p. 451-53. 
42 MONTEIRO, S. M. Aspectos Novos da Adoção. Rio de Janeiro: Forense, 1997. p. 36-7. 
43 Ibidem, p. 37-8. 
44 MENORES. Código de. Acesso em: 29 abr. 2008 às 16:49 Disponível em: <http://diviliv.blogspot.com/2007/10/lei-
n-66971979-cdigo-de-menores.html>. 
45 WEBER, op. cit., p. 54. 
 
 
10 
1989, legada pela Assembléia Geral da ONU, e, mais tarde, com a Convenção de Haia, em 
1993, unificando a atividade de cooperação das autoridades centrais dos países das crianças e 
dos adotantes, gerando movimentos significativos em relação à proteção da criança. 
Em meio a uma revolução sociopolítica no Brasil, em 13 de julho de 1990, foi 
promulgada a Lei n.º 8.069, que deu origem ao Estatuto da Criança e do Adolescente46, 
considerada uma das leis mais avançadas, amparando as crianças e adolescentes, sob o ponto 
de vista material e espiritual, como também a sua salvaguarda.47 Mister se faz dizer que o 
tratamento da questão da adoção no ECA adveio do artigo 227 da Constituição Federal de 
1988, § 6º da denominada “Constituição Cidadã”. Inegável, portanto, tamanho importância do 
ECA, por estabelecer a igualdade de tratamento entre os filhos biológicos e os filhos adotivos, 
afastando qualquer caráter discriminatório. 
 
 
1.3 DESENVOLVIMENTO DA ADOÇÃO INTERNACIONAL 
 
 
A análise do desenvolvimento histórico, por sua vez, permite a compreensão da 
interpretação sociológica das leis e convenções que regem o instituto da adoção internacional, 
na medida em que facilitam o entendimento de sua razão no ordenamento. 
O início do século XXI foi marcado pela ocorrência de inúmeras catástrofes mundiais, 
momentos em que se pode constatar a comoção das pessoas frente ao drama vivenciado por 
milhares de crianças e jovens órfãos ou abandonados à própria sorte, vítimas de guerras que 
aniquilam povos inteiros, quiçá nações, ações terroristas, até mesmo de fenômenos naturais. 
Após o término da Segunda Guerra Mundial, a proteção aos direitos humanos 
aumentou internacionalmente, tornando a adoção de crianças por estrangeiros uma prática 
regular, até então, a filiação adotiva se mantinha restrita ao Direito interno. O fim do conflito, 
conseqüentemente trouxe uma multidão de crianças órfãs sem a menor possibilidade de 
acolhimento por suas famílias. A melhor alternativa encontrada, foi a adoção de crianças por 
famílias de países que haviam sofrido em menores proporções, os efeitos do grande conflito. 
As comunidades sensibilizadas com o drama das crianças que tiveram suas famílias dizimadas 
 
46 BRASIL. Lei n.º 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente. 
Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, 13 jul. 1990. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/Leis/L8069.htm>. Acesso em: 29 abr. 2008 às 17:28. 
47 CHAVES, Antônio. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. 2. ed. São Paulo: Ltr, 1997. 
p. 52. 
 
 
11 
durante a guerra, e os governos com grande interesse de solucionar a questão, produziram um 
acordo de vontades.48 
Esgotados com os conflitos, os Estados empenharam-se em criar uma organização 
internacional. Em 1945 surge a Organização das Nações Unidas, aprovando a Declaração 
Universal dos Direitos Humanos, em 1948, que passa a influenciar os ordenamentos jurídicos 
de diversas nações.49 Outra medida tomada em conseqüência das duas grandes guerras 
mundiais e diante de um mundo desamparado pelo sofrimento que pairava, foi aumentar 
exponencialmente o processo de adoção internacional.50 
A Organização das Nações Unidas (ONU), fundada em 1945, destaca a relevância do 
tema da adoção por estrangeiros, e em 1960 torna-se objeto de discussões no Seminário 
Europeu sobre Adoção realizado em Leysin na Suíça. O estudo resultou nos primeiros 
princípios da adoção “Fundamental Principles for intercountry adoption Leysin”, a partir 
disso, a adoção internacional já se compreendia como instrumento de caráter excepcional, 
dando prioridade a adoção nacional, ainda que, a adoção internacional somente seria 
autorizada se fosse configurado o bem-estar da criança.51 
A adoção internacional, portanto, foi utilizada como instrumento para solucionar os 
problemas dentro daquele contexto. Países emergentes como o Brasil, utilizaram-se do mesmo 
instrumento como último recurso para amparar crianças em situações em que não podiam 
permanecer com sua família de origem. A pobreza, a miséria, o pouco investimento na 
geração de novos empregos, o descaso na área de saúde e na área de educação pública, fez 
com que o Brasil fosse provedor de crianças abandonadas, para uma adoção em larga escala.52 
Esse foi um dos grandes motivos que levou o Brasil a internalizar tratados e 
convenções internacionais, aprimorando o processo de adoção internacional.53 
Visto que a adoção internacional, além ser uma questão de preocupação mundial, 
possui grande importância no âmbito interno brasileiro, devido a este motivo, cada vez mais, 
está sendo alvo de discussões para o aperfeiçoamento. 
 
 
48 COSTA, Tarcísio José Martins. Adoção Transnacional – Um estudo sociojurídico e comparativo da 
legislação atual. Belo Horizonte: Del Rey, 1998. p. 58. 
49 ANNONI, Danielle. Os Novos Conceitos do Novo Direito Internacional: cidadania, democracia e Direitos 
Humanos. Rio de Janeiro: América Jurídica, 2002. p. 278. 
50 COSTA, op. cit., p. 58. 
51 VERONESE, Josiane Petry; PETRY, João Felipe Correa. Adoção Internacional e Mercosul: aspectos 
jurídicos e sociais. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2004. p. 21. 
52 FIGUEREDO, Luis Carlos de Barros. Adoção Internacional: a Convenção de Haia e a normativa brasileira 
– uniformização de procedimentos. 2ª tir. Curitiba: Juruá, 2003. p. 23. 
53 ACQUAVIVA, M. Vademecum Universitário de Direito. 8. ed. São Paulo: Jurídica Brasileira, 2005. p.45. 
 
 
12 
1.4 CONCEITO 
 
 
1.4.1 Conceito de Adoção 
 
 
Os padrões de comportamento construídos historicamente refletem nas crenças e nos 
valores, assim, a conceituação da adoção pode variar de acordo com as tradições e a época. 
Primeiramente é importante que se faça uma distinção entre criança e adolescente. 
Uma definição legal é dada pelo ECA, conforme disposto no seu art. 2º “Considera-se 
criança, para os efeitos desta lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente, 
aquela entre doze e dezoito anos de idade”. 
A origem da palavra adoção, segundo Wilson Donizeti Liberati, deriva do latim 
adoptio, que tem como significado dar seu próprio nome a, pôr um nome em; em linguagem 
mais popular, tem o sentido de acolher alguém.54 
A adoção, na concepção de Pontes de Miranda "é o ato solene pelo qual se cria entre o 
adotantee o adotado relação fictícia de paternidade e filiação".55 
Nas palavras de Arnaldo Marmitt, a adoção se traduz pelo relevante conteúdo humano 
e social que encerra, sendo muitas vezes um verdadeiro ato de amor, tal como o casamento, 
não simples contrato.56 
O conceito de adoção começou a ter maior abrangência, a partir da criação do Estatuto 
da Criança e do Adolescente, apontando para os interesses do adotando. Caracterizando como 
principal finalidade, oferecer um ambiente familiar favorável ao desenvolvimento da criança 
ou adolescente, que por quaisquer motivos, ficou privada disso em relação a sua família 
biológica, nesse sentido a autora menciona: 
 
 
[...] podemos definir a adoção como a inserção num ambiente familiar, de 
forma definitiva e com aquisição de vínculo jurídico próprio da filiação, 
segundo as normas legais em vigor, de uma criança cujos pais morreram ou 
são desconhecidos, ou, não sendo esse o caso, não podem ou não querem 
 
54 LIBERATI, Wilson Donizeti. Adoção Internacional: doutrina e jurisprudência. 2. ed. São Paulo: 
Malheiros, 2003. p. 13. 
55 MIRANDA, Pontes de. Tratado de Direito de Família. v. III. Atualizado por ALVES, Vilson Rodrigues. 
Campinas: Bookseller, 2001. p. 217. 
56 MARMITT, Arnaldo. Adoção. Rio de Janeiro: Aide, 1993. p. 07. 
 
 
13 
assumir o desempenho das suas funções parentais, ou são pela autoridade 
competente, considerados indignos para tal.57 
 
 
Dando enfoque ao conceito de adoção, que passa de vínculo legal para a preocupação 
com o adotado e sua inserção em um ambiente familiar sadio, tendo o adotante que assumir as 
responsabilidades legais e morais da criação de um filho. Nesse mesmo sentido, a maneira 
como a adoção é entendida nos dias de hoje, não consiste apenas em ter pena de uma criança 
ou resolver um problema do casal conflitante, mas o que se pretende é “atender às reais 
necessidades da criança”, e assim, dando-lhe uma família onde possa se sentir amada, 
acolhida, segura e educada.58 
 
 
1.4.2 Conceito de Adoção Internacional 
 
 
Inicialmente, é importante fazer a distinção da adoção interna da adoção 
internacional. A adoção interna vincula-se desde a origem a um único ordenamento jurídico, 
qual seja, o nacional, enquanto a adoção internacional, desde o início, vincula-se a dois ou 
mais direitos nacionais. Na medida em que se pretenda o reconhecimento da adoção 
internacionalmente, “as verdadeiras adoções transnacionais são aquelas que envolvem pessoas 
subordinadas a soberanias diferentes”.59 
Alguns tratadistas conceituam a adoção internacional de forma bastante ampla, 
consideram-na internacional toda vez que se encontre presente um elemento de estraneidade: 
nacionalidade estrangeira de uma das partes ou que algumas delas tenha domicílio ou 
residência no estrangeiro, ou, ainda, que alguns atos vinculados à adoção tenham ocorrido no 
estrangeiro. Assim a adoção internacional é definida como: 
 
 
[...] uma instituição jurídica de proteção e integração familiar de crianças e 
adolescentes abandonados ou afastados de sua família de origem, pela qual 
se estabelece, independentemente do fato natural da procriação, uma vinculo 
 
57 GRANATO, Eunice Ferreira Rodrigues. Adoção Doutrina e Prática: com abordagem do novo Código 
Civil. Curitiba: Juruá, 2003. p. 25-6. 
58 GRANATO, loc. cit. 
59 COSTA, Tarcísio José Martins. Adoção Transnacional – Um estudo sociojurídico e comparativo da 
legislação atual. Belo Horizonte: Del Rey, 1998. p. 52. 
 
 
14 
de paternidade e filiação entre pessoas radicadas em distintos Estados: a 
pessoa do adotante com residência habitual em um país e a pessoa do 
adotado com residência habitual em outro.60 
 
 
Concluindo que a adoção internacional significa, um “des-enraizamento” social e 
cultural da criança, levada para uma sociedade diferente, fazendo com que o Direito 
Internacional volte-se para a “segurança do adotado, seu bem-estar e a realização de seus 
direitos fundamentais”.61 Constituindo-se um instituto de ordem pública, devida a sua 
proteção constitucional, ressalte-se a idéia de soberania supranacional perante as legislações 
estrangeiras, uma vez que na adoção internacional prevalecem as benesses legais brasileiras 
ao adotando. 
 
 
1.5 NATUREZA JURÍDICA 
 
 
A natureza jurídica da adoção tem sido modificada com o passar dos anos, moldando-
se aos tempos, de conformidade com o desenvolvimento da humanidade.62 Apesar da grande 
controvérsia existente entre doutrinadores, onde uns consideram a adoção um autêntico 
negócio jurídico contratual, ou seja, contrato que estabelece entre duas pessoas relações 
puramente civis de paternidade (ou de maternidade) e de filiação; outros, no entanto, 
consideram-na como instituto de ordem pública.63 Podemos afirmar que não existe uma 
concordância plena na doutrina brasileira, até mesmo para aqueles que a consideram um 
negócio jurídico, existe uma divergência dentro da construção da teoria contratualista, quanto 
à unilateralidade ou a bilateralidade do ato. 64 
Consta no art. 47, caput do Estatuto da Criança e do Adolescente, a caracterização da 
modalidade de adoção como uma instituição, que nega a natureza contratual, e fixa-lhe a 
natureza jurídica, ao dispor “O vínculo da adoção constitui-se por sentença judicial que será 
inscrita no Registro Civil mediante mandado do qual não se fornecerá certidão”. A referida 
 
60 COSTA, Tarcísio José Martins. Adoção Transnacional – Um estudo sociojurídico e comparativo da 
legislação atual. Belo Horizonte: Del Rey, 1998. p. 58. 
61 MARQUES, Claudia Lima. O Regime da Adoção Internacional no Direito Brasileiro após a Entrada em 
Vigor da Convenção de Haia de 1993. Revista de Direito Privado, São Paulo, n. 9, p. 43-67, 2002. 
62 MARMITT, Arnaldo. Adoção. Rio de Janeiro: Aide Editora, 1993. p. 09. 
63 FONSECA, Edson José da. A Constitucionalidade da Adoção Internacional. Cadernos de Direito 
Constitucional e Ciência Política, São Paulo, Revista dos Tribunais, v. 11; n. 3; p. 249, abr.-jun. 1995. 
64 KAUSS, Omar Gama Ben. A Adoção. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 1993. p. 10. 
 
 
15 
sentença, que constitui um novo estado civil do adotado apaga a sua filiação sangüínea e ao 
mesmo tempo cria uma filiação adotiva, abrangendo todos os direitos e deveres pertinentes a 
filiação de sangue, como representa o cerne da instituição.65 Sendo assim, ao dispor que o 
vínculo da adoção é constituído por sentença judicial afasta, portanto a idéia de contrato 
aplicada nas relações de filiação.66 
A natureza jurídica da adoção, em suma, é instituto de ordem pública, especialmente 
ante os efeitos sucessórios. Portanto, vigora uma norma estatutária, fundamentada na primazia 
do interesse da criança e adolescente, o que demonstra a função social da adoção, e seu 
objetivo que é a formação de um lar para o menor desamparado, compreendendo uma das 
formas de colocação do menor em família substituta, consoante a leitura do artigo 28, caput, 
do ECA. 
 
 
2 A NORMATIVA BRASILEIRA FRENTE À ADOÇÃO INTERNACIONAL 
 
 
2.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 
 
 
Neste momento do trabalho, pretende-se fazer uma análise em relação à Constituição 
Federal de 1988 e os mecanismos de proteção dos direitos da criança e do adolescente, 
referentes à adoção, a nível nacional e internacional, bem como, a forma como são 
incorporados no ordenamento jurídico brasileiro. 
Com relação às Constituições Federais pretéritas, não existe qualquer resquício 
relativo à matéria da adoção, no entanto, faz-se ressalva à Carta Políticade 1967, em seu art. 
147, ao tratar das inelegibilidades.67 Gize-se, que as muitas inovações advindas com a 
“Constituição Cidadã”, de 1988, possibilitaram uma verdadeira abertura de espaço no 
conceito de família, concedendo lugar ao instituto da adoção.68 Contemplando uma série de 
 
65 MARMITT, Arnaldo. Adoção. Rio de Janeiro: Aide, 1993. p. 09. 
66 FONSECA, Edson José da. A Constitucionalidade da Adoção Internacional. Cadernos de Direito 
Constitucional e Ciência Política, São Paulo, Revista dos Tribunais, v. 11; n. 3; p. 249, abr.-jun. 1995. 
67 BRASIL. CF/1967 - art 147 - São ainda inelegíveis, nas mesmas condições do artigo anterior, o cônjuge e 
os parentes, consangüíneos ou afins, até o terceiro grau, ou por adoção [...]: 
68 VERONESE, Josiane Petry; OLIVEIRA, Luciene Cássia Policarpo. Grandes Temas da Atualidade. 
Adoção: Aspectos jurídicos e metajurídicos/ coordenador: Eduardo de Oliveira Leite; Adriana Kruchin 
Hirschfeld... [et al.]. Adoção de Crianças e Adolescentes no Brasil: as inovações (?) do Código Civil. Rio 
de Janeiro: Forense, 2005. p. 202. 
 
 
16 
garantias pertinentes ao universo infanto-juvenil, desta forma, abrindo o caminho para o 
nascimento de leis que regulassem posteriormente a adoção de forma específica.69 
Com o advento da Constituição Federal de 1988, foi reservado o Capítulo VII, para 
tratar da ordem social. O mencionado capítulo, cuida da família, da criança, do adolescente e 
do idoso, apresentando regras gerais sobre adoção, dentro deste contexto.70 
O art. 227 da Constituição Federal de 1988 deu abrangência explícita aos direitos das 
crianças e dos adolescentes, assegurando o dever da família, da sociedade e do Estado, 
estímulo à adoção e à isonomia filial. Dessa forma, encampou definitivamente a política de 
proteção integral da infância e da adolescência no Brasil.71 Com efeito, o art. 227, 
proporciona a criança e ao adolescente, um convívio familiar, uma vida saudável e 
principalmente proíbe de forma categórica, “toda forma de negligência, discriminação, 
exploração, violência, crueldade e opressão”.72 
Em relação ao direito internacional, a própria Constituição Federal em seu art. 5º, § 2º, 
dispõe que ”os direitos e garantias expressos na Constituição não excluem outros decorrentes 
do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a 
República Federativa do Brasil seja parte”.73 
No tocante aos princípios constitucionais relativos à pessoa humana instituídos na 
Constituição Federal, todos são aplicáveis ao tema em estudo, porém, de maior relevância, o 
Princípio da Dignidade Humana, deve ser observado com um interesse especial, pois o 
referido princípio é um valor-guia para a aplicação dos demais princípios. 
 
 
2.2 O CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO DE 2002 
 
 
A regulamentação específica da adoção é um fenômeno tardio, no Brasil, as 
determinações do Código de 1916, foram complementadas pelas alterações implementadas 
 
69 VERONESE, Josiane Petry; PETRY, João Felipe Correa. Adoção Internacional e Mercosul: aspectos 
jurídicos e sociais. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2004. p. 110. 
70 CARVALHO, Jeferson Moreira de. Adoção Internacional Estatuto da Criança e do Adolescente e 
Convenção de Haia. São Paulo: Themis Livraria e Editora, 2002. p. 1. 
71 CACHAPUZ, Rozane da Rosa. Grandes Temas da Atualidade. Adoção: Aspectos jurídicos e 
metajurídicos. Coordenador: LEITE, Eduardo de Oliveira; HIRSCHFELD, Adriana Kruchin... [et al.]. Da 
Importância da Adoção Internacional. Rio de Janeiro: Forense. p. 286. 
72 CARVALHO, op. cit., p. 1. 
73 CARVALHO, loc. cit. 
 
 
17 
em 1957, que lançaram as modernas bases da regulamentação da adoção de crianças74, como 
adoção simples de forte inspiração contratual (arts. 368 e 378).75 
O Código Civil brasileiro de 2002, parece ter aberto mão de regulamentar a adoção 
internacional, deixando claro no que diz respeito a “adoção por estrangeiro residente ou 
domiciliado fora do Brasil”, que deverão ser observadas as condições previstas no ECA, 
remetendo a responsabilidade à aplicação da lei para a “lei especial”, não somente no caso do 
ECA, como as normas hoje existentes na Lei de Introdução ao Código Civil e na Convenção 
de Haia de 1993 (Decreto nº 3.087/99). Esclarece o art 1.629: Art. 1.629. A adoção por 
estrangeiro obedecerá aos casos e condições que forem estabelecidos em lei.76 
Nos dizeres de Maria Berenice Dias: 
 
 
O Código Civil delega a adoção por estrangeiros à lei especial (1.629), a 
qual ainda não foi editada. Aplicam-se, pois, as escassas normas do ECA. O 
Brasil ratificou a Convenção Relativa à Proteção e Cooperação Internacional 
em Matéria de Adoção Internacional, de 1993. Assim, passou o Ministério 
da Justiça a ser responsável pelas adoções internacionais. Ao admitir a 
adoção somente por meio das agências, e ao proibir os advogados de 
atuarem, tais exigências geram sérios obstáculos à operacionalização da 
medida de colocação familiar. 77 
 
 
Porém, é incontroverso afirmar que as normas do Código Civil, não trarão reflexos na 
adoção internacional, principalmente na omissão do ECA, em relação a adoção internacional. 
Sendo assim, as regras do Código Civil assumem um caráter subsidiário frente às normas 
elencadas pelo ECA, até que se legisle novamente, e especificadamente, sobre a adoção 
internacional.78 
 
 
 
74 VENÂNCIO, Renato Pinto. Grandes Temas da Atualidade. Adoção: Aspectos jurídicos e metajurídicos/ 
coordenador: LEITE, Eduardo de Oliveira; HIRSCHFELD, Adriana Kruchin...[et al.]. Adoção Antes de 
1916. Rio de Janeiro: Forense, 2005. p. 271. 
75 MARQUES, Cláudia Lima. Novas Regras sobre Adoção Internacional no Direito Brasileiro. v. 692. São 
Paulo: Revista dos Tribunais, 1993. p. 08. 
76 Idem. Grandes Temas da Atualidade. Adoção: Aspectos jurídicos e metajurídicos. Coordenador: Eduardo 
de Oliveira Leite; Adriana Kruchin Hirschfeld... [et. al.]. A Subsidiariedade da Adoção Internacional: 
Diálogo entre a Convenção de Haia 1993, o ECA e o Novo Código Civil Brasileiro. Rio de Janeiro: Forense, 
2005. p. 34. 
77 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005. p. 
434. 
78 MARQUES, op. cit., p. 34. 
 
 
18 
2.3 O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 
 
 
 As regras formais sobre a adoção internacional de menores, atualmente estão 
reguladas no Estatuto da Criança e do Adolescente, como lei especial com relação ao tema, e 
subsidiariamente no que não colidir com o ECA, o Código Civil, ambos, devidamente 
coordenados pela norma suprema da ordem pública instituída pela Carta Magna de 1988, 
afirmando que a adoção terá o acompanhamento do Estado, formulando regras especiais para 
a adoção por estrangeiros, garantindo a isonomia de direitos e qualificações entres filiação 
legítima e adotiva e a prioridade da criança e de seus direitos fundamentais (arts. 226 e 227 da 
Constituição Federal), como base para a aplicação de qualquer lei com relação à adoção.79 
O ECA prevê apenas a adoção plena, a ser concedida através de sentença judicial (art. 
47 do ECA). Esta adoção adveio com o intuito de inserir a criança na família dos adotantes, 
gozando dos mesmos direitos, inclusive sucessórios, dos filhos biológicos.80 Os efeitos da 
adoção foram amplamente versados, conforme preceitua o art. 41 do ECA, atribuindo ao 
adotado direitos sucessórios idênticos aos filhos de sangue, e, inibindo qualquer restrição que 
os adotados possam sofrer referentes à filiação.81 
Conforme nos mostra o art. 41 do ECA, § 2º: § 2º É recíproco o direito sucessório 
entreo adotado, seus descendentes, o adotante, seus ascendentes, descendentes e colaterais até 
o 4º grau, observada a ordem de vocação hereditária. O ECA assegura em seu artigo 1º “a 
proteção integral à criança e ao adolescente”, onde reconheceu como fundamentação 
doutrinária o mencionado princípio, a partir da Convenção Internacional sobre os Direitos da 
Criança, aprovada pela Assembléia Geral das Nações Unidas em 20.11.1989, entrando em 
vigor em 02.09.1990, prevendo a proteção por parte do Estado das crianças que se encontram 
sob sua custódia contra toda e qualquer forma de violência ou maus tratos às mesmas, e, 
ainda, estabelecer processos eficazes para o estabelecimento de programas sociais destinados 
a assegurar o apoio necessário à criança e àqueles a cuja guarda está confiada. 
A adoção plena é irrevogável (art. 48 do ECA) produzindo efeitos a partir do trânsito 
em julgado da sentença judicial (art. 47, § 1º, do ECA), possibilitando a mudança do nome e 
 
79 MARQUES, Cláudia Lima. Grandes Temas da Atualidade. Adoção: Aspectos jurídicos e metajurídicos. 
Coordenador: Eduardo de Oliveira Leite; Adriana Kruchin Hirschfeld... [et. al.]. A Subsidiariedade da 
Adoção Internacional: Diálogo entre a Convenção de Haia 1993, o ECA e o Novo Código Civil Brasileiro. 
Rio de Janeiro: Forense, 2005. p. 31. 
80 MARQUES, loc. cit. 
81 CHAVES, Antônio. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. 2. ed. São Paulo: LTr, 1997. 
p. 172. 
 
 
19 
do prenome do adotado, ficando esta medida à critério do juiz, casa haja manifestação do 
adotante nesse sentido (art. 47, § 5º, do ECA).82 
 
 
2.3.1 O Caráter Excepcional da Adoção Internacional 
 
 
A legislação brasileira preceituou de forma incisiva no Estatuto da Criança e do 
Adolescente, que fica expressamente permitida a adoção de brasileiros por estrangeiros, 
residentes ou domiciliados fora do país, ainda que, em caráter excepcional, assim, ao mesmo 
tempo, deve ser considerada como alternativa e exceção83, conforme preceitua o art. 31 do 
referido diploma legal “a colocação em família substituta estrangeira constitui medida 
excepcional, somente admissível na modalidade de adoção”.84 
À luz do disposto no art. 19 do ECA, a própria colocação do menor em família 
substituta, já constitui um caráter excepcional, na medida em que toda criança ou adolescente 
tem o direito de ser educado e criado no seio de sua família natural e, excepcionalmente, em 
família substituta, sendo-lhe assegurado a convivência familiar e comunitária, portanto, 
tornando-se regra geral, o cumprimento das funções de proteção e cuidados da criança pelos 
pais biológicos.85 
O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul têm procurado ser efetivo nas decisões, 
nesse sentido o acórdão: 
 
 
ADOÇÃO INTERNACIONAL. Pressupostos. Excepcionalidade. 
Cabimento mesmo havendo casais nacionais. A releitura da norma menorista 
não conduz a interpretação de que o casal estrangeiro, que preenche os 
pressupostos legais deva ser arrendado, invariavelmente quando existem 
pretendentes nacionais, principalmente quando já desenvolveram forte afeto 
ao menor, cujo interesse deve ser preservado. Casos isolados que 
abalaram o Instituto de Adoção Internacional, não devem servir como 
escusa para frustrar o pedido, sendo injusto obstar que o infante desfrute de 
 
82 MARQUES, Cláudia Lima. Grandes Temas da Atualidade. Adoção: Aspectos jurídicos e metajurídicos. 
Coordenador: Eduardo de Oliveira Leite; Adriana Kruchin Hirschfeld... [et. al.]. A Subsidiariedade da 
Adoção Internacional: Diálogo entre a Convenção de Haia 1993, o ECA e o Novo Código Civil Brasileiro. 
Rio de Janeiro: Forense, 2005. p. 31. 
83 COSTA, Tarcísio José Martins. Adoção Transnacional – Um estudo sociojurídico e comparativo da 
legislação atual. Belo Horizonte: Del Rey, 1998. p. 236. 
84 CHAVES, Antônio. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. 2. ed. São Paulo: LTr, 1997. 
p. 146. 
85 COSTA, loc. cit. 
 
 
20 
melhor qualidade de vida em país desenvolvido. Inteligência dos arts. 28, 31, 
e 198, VII, ECA. 
Apelação Provida. Decisão Unânime.86 
 
 
Com relação aos tribunais brasileiros, o entendimento é majorado no STJ em relação à 
adoção internacional, como diz o seguinte julgado: 
 
 
ADOÇÃO INTERNACIONAL. Cadastro Geral. Antes de deferida a adoção 
para estrangeiros, devem ser esgotadas as consultas a possíveis interessados 
nacionais. Organizado no Estado um cadastro geral de adotantes nacionais, o 
juiz deve consultá-lo, não sendo suficiente a inexistência de inscritos no 
cadastro da comarca. Situação já consolidada há anos, contra a qual nada se 
alegou nos autos, a recomendar que não seja alterada. Recurso não 
conhecido.87 
 
 
Destarte, que a medida alternativa ou tida como excepcional, é aquela que substitui a 
adoção nacional, sendo expressamente exigido o interesse do menor, o que vêm proporcionar 
um ambiente familiar adequado, ainda que fora de seu país de origem, e fornecendo-lhe 
condições para que possa vir a exercer seus direitos. As teses contrárias abordam que quando 
for evidenciado e comprovado, através de estudos realizados, que na sociedade em que o 
adotado nasceu, ele encontrará mais facilidade em ser adaptado em uma família substituta, 
bem como quando envolver a complexidade dos conflitos de leis na adoção internacional. 
Gize-se que os recém-nascidos geralmente são adotados por casais brasileiros, 
diferentemente do que acontece com crianças de maior faixa etária, ou adolescentes, que 
primeiramente são rejeitados por casais nacionais, e após, são encaminhados para a adoção 
internacional.88 
Em suma, o que se almeja é que a adoção internacional seja encarada no sentido 
literal, somente utilizada nos casos em que pairar alguma dúvida do julgador. Evitando-se 
abrir exceção a regra, para que não se torne um ato corriqueiro e fácil. Esta medida é devida 
ao fato do legislador objetivar o privilégio da adoção por brasileiros. Somente após esgotar as 
vias da adoção por brasileiros, é que se poderá deferir àqueles, ou seja, à família estrangeira, 
 
86 BRASIL. Tribunal de Justiça n. 594039844. UF: RS. Órgão Julgador: OITAVA CÂMARA CÍVEL. Relator: 
José Carlos Teixeira Giorgis. Data da Decisão: 26.05.1994. Disponível em: <http://www.tj.rs.gov.br>. 
Acesso em: 25 abr. 2007 às 16:20. 
87 BRASIL. STJ, DJU. 17 dez.1999. REsp. 180.341/SP. Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar. 
88 AOKI, L. P. S. Comentários ao art. 31 do ECA. In: CURY, Munir (coord.). Estatuto da Criança e do 
Adolescente Comentado – comentários jurídicos e sociais. 7. ed. São Paulo: Malheiros, 2005. p. 239. 
 
 
21 
dando preferência aos estrangeiros residentes no Brasil, a fim de proporcionar a permanência 
do adotando no Brasil. 
 
 
2.4 DO PROCESSO DE ADOÇÃO INTERNACIONAL 
 
 
A adoção de crianças e adolescentes brasileiros reger-se-á pelo disposto na lei n. 
8.069, de 13.07.90, o Estatuto da Criança e do Adolescente. Para que se chegue a prolatação 
da sentença constitutiva definitiva, transitada em julgado, deve-se passar por um processo, 
cujo rito é mesmo estabelecido para a tutela e a guarda, conforme disposto nos art. 165 à 170 
do referido Estatuto.89 Consumados todos os ritos legais e judiciais, nos termos do 
ordenamento jurídico nacional, teremos a efetivação da adoção do menor brasileiro por casal 
estrangeiro. 
 
 
2.4.1 Habilitação 
 
 
Para dar o primeiro passo com processo de adoção internacional, o candidato 
estrangeiro interessado em adotar uma criança brasileira, deve estar apto para tal, portanto, 
deve-se conferiro que rezam os dispositivos da legislação do país de origem do adotante e do 
adotado á respeito da adoção. Conforme o disposto no art. 7.º da Lei de Introdução do Código 
Civil brasileiro90, é escolhido o domicílio da pessoa (lex domicilii) para regular os direitos 
relativos à personalidade, conforme a teoria da aplicação distributiva das leis, atendo às 
exigências das leis do adotante e do adotando nas suas peculiaridade, devendo ser analisadas 
conjuntamente, para que se cumpra os requisitos exigidos por ambas.91 
Os requisitos da adoção nacional são os mesmos exigidos para a adoção internacional, 
porém, acrescidos de requisitos específicos, previstos no art. 51 do ECA. 
 
89 AMORIM, Edgar Carlos de. Direito Internacional Privado. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005. p. 134. 
90 BRASIL. “Art. 7º - A lei do país em que for domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o 
fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família.” 
91 AMORIM, op. cit., p. 138. 
 
 
22 
O casal estrangeiro de posse do laudo psicossocial elaborado por agência especializada 
e credenciada do país de origem, vai requerer junto a Comissão Judiciária Estadual de Adoção 
a habilitação para adotar criança ou adolescente no Brasil. 92 
As determinações do art. 41, § 2º do ECA, devem estar em consonância com o art. 14 
da Lei de Introdução ao Código Civil, cujo texto dispõe: “Não conhecendo a lei estrangeira, 
poderá o juiz exigir de quem a invoque prova do texto e da vigência”.93 
Ainda, no processo de adoção, existem três modalidades de impedimentos94: os 
impedimentos relativos podem ser sanados tanto no início quanto no curso do processo de 
adoção, como nos casos do art. 29 e art. 52. Nos Impedimentos absolutos, a adoção torna-se 
frustrada, como no caso dos art. art. 51, § 1º, art. 46, § 2º e art. 51, §§ 1º, 2º e 3º. E ainda, os 
impedimentos condicionais, impõem algumas condições a serem tomadas pelos interessados 
para que estejam aptos95, como nos casos art. 44, art. 130 e art. 42, § 5º. 
Após o processo de habilitação a Vara da Infância e Juventude, determinará que a 
equipe técnica proceda no acompanhamento da adoção, auxiliando e orientando de maneira 
incisiva durante todo o período adaptação da criança com o adotado, chamado de estágio de 
convivência. 
 
 
2.4.2 Estágio de Convivência 
 
 
O estágio de convivência não é somente uma fase transitória, na busca do preparo da 
criança e do adotante no processo de adoção, é um período fundamental, para todos que estão 
envolvidos no processo de adoção, pois é feita uma grande avaliação, cujo desempenho é de 
suma importância dentro dos elementos avaliativos. Existe uma série de exigências, a serem 
seguidas de acordo com o art. 46 do ECA, após proposta a adoção.96 
 
92 BANDEIRA, Marcos. Adoção na Prática Forense. Bahia: Editus, 2001. p. 83. 
93 AMORIM, Edgar Carlos de. Direito Internacional Privado. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005. p. 138. 
94 Exemplos relativos aos impedimentos: impedimentos relativos - nos casos de pessoas que não oferecem 
ambiente familiar adequado ou nos casos de pessoas incompatíveis com a medida, ou mesmo no caso de 
pessoas que não estiverem devidamente habilitadas perante as respectivas CEJAs; impedimentos absolutos - 
como nos casos de pessoas não estarem devidamente habilitadas em seu país de origem, não cumprirem o 
estágio de convivência, ou não disporem de documentação em língua estrangeira devidamente traduzida e 
autenticada por autoridade consular; impedimentos condicionais - como nos casos de o tutor ou curador 
deixar de prestar contas da administração dos bens do pupilo ou curatelado, nos casos de o adotante vir a 
falecer no curso do processo de adoção, antes de prolatada a sentença. 
95 MARMITT, Arnaldo. Adoção. Rio de Janeiro: Aide, 1993; p. 104. 
96 Ibidem, p.148. 
 
 
23 
O estágio é um período experimental em que há um convívio entre o adotante e o 
adotado, com o objetivo de que seja avaliada a adaptação do adotado na família substituta, 
bem como, a compatibilidade desta com a adoção. A sua importância é devida, pelo fato, de 
ser uma nova forma de vida, diferente das adoções precipitadas, que geram situações de 
sofrimento para todos os envolvidos.97 
Havendo aceitação do pedido inicial, será agendado o encontro da criança com os 
adotantes, nesse momento os adotantes virão ao Brasil, com o objetivo de conhecer a criança, 
da qual, já podem ter sido informados a respeito, acompanhando seu histórico médico, 
psicossocial e outros.98 
O estágio de convivência a princípio é obrigatório, podendo ser dispensado se o 
adotante tiver menos de um ano de idade, ou se, independente da idade, já estiver na 
companhia do adotante tempo suficiente para que se possa avaliar a convivência e a 
constituição do vínculo.99 O estágio será sempre realizado no Brasil, não havendo 
possibilidade da sua realização no estrangeiro, diferentemente do que ocorria no regime legal 
anterior, o revogado Código de Menores,100 “que a sindicância era realizada pela equipe 
técnica, podendo substituída por informação prestada por agência especializada, de 
idoneidade reconhecida por organismo internacional” 101, conforme arts. 28 e 108. 
Após o término do período do estágio, poderá ser determinado pelo magistrado a 
realização do estudo psicossocial, com o fim de avaliar a relação adotiva. Uma equipe 
interprofissional de psicólogos e assistentes sociais deverá avaliar a convivência da adoção 
pretendida, através de um estudo visando analisar as condições de estabilidade familiar dos 
adotantes e a adaptação do adotando, durante o estágio de convivência. 
Durante o período de estágio de convivência, deverá, por determinação judicial, ser 
lavrado "termo de estágio de convivência", pois, conforme disposto no art. 33, § 1º, do 
 
97 GRANATTO, Eunice Ferreira Rodrigues. Grandes Temas da Atualidade. Adoção: Aspectos jurídicos e 
metajurídicos. Coordenador: LEITE, Eduardo de Oliveira; HIRSCHFELD, Adriana Kruchin... [et al.]. A 
Destituição do Poder Familiar e os Procedimentos da Adoção. Rio de Janeiro: Forense, 2005. p. 175. 
98 BRAUNER, M. C. C. Problemas e perspectivas da adoção internacional em face do estatuto da criança e do 
adolescente. Revista Informação Legislativa, Brasília, ano 31, n. 122, p. 12-9, mai.-jul. 1994. 
99 GRANATTO, loc. cit. 
100 O art. 46 e § 2.º do ECA assim dispõe acerca do estágio de convivência: “Art. 46 - A adoção será precedida 
de estágio de convivência com a criança ou adolescente, pelo prazo que a autoridade judiciária fixar, 
observadas as peculiaridades do caso. [...] § 2.º - Em caso de adoção por estrangeiro residente ou 
domiciliado fora do país, o estágio de convivência, cumprido no Território Nacional, será de no mínimo 15 
(quinze) dias para crianças de até 2 (dois) anos de idade, e de no mínimo 30 (trinta) dias quando se tratar de 
adotando acima de 2 (dois) anos de idade”. 
101 COSTA, Tarcísio José Martins. Adoção Transnacional – Um estudo sociojurídico e comparativo da 
legislação atual. Belo Horizonte: Del Rey, 1998. p. 246. 
 
 
24 
ECA.102 Com término do estágio de convivência, e com o laudo psicossocial, acostado aos 
autos, será dado vista ao representante do Ministério Público, com o parecer favorável para tal 
promoção, os autos serão conclusos ao juiz para proferir a sentença.103 
Quando a matéria em discussão for de interesse do menor, deve prevalecer o princípio 
da menor rigidez formal, tendo em vista a prevalência do interesse da criança e suas 
necessidades inerentes à assistência, vigilância e proteção.104 Cabendo ao juiz, diante do casoconcreto, estabelecer o prazo que entender necessário, obedecendo ao mínimo determinado 
em lei. 
 
 
2.4.3 Da Ação 
 
 
O processo de adoção implica na destituição ou extinção do pátrio poder dos pais 
biológicos, primeiramente é necessário que a situação jurídica da criança já tenha sido 
definida, ou seja, que exista uma sentença que tenha decretado a perda do poder familiar, e 
que tenha transitado em julgado, ou nos casos de falecimento dos pais biológicos do menor, 
que esteja sobre a proteção do Estado. Todavia, torna-se imprescindível a observância do 
princípio do contraditório.105 
O procedimento do contraditório, para os casos da perda do poder familiar tem 
previsão nos art. 155 a 163 do ECA. Para os casos em que os genitores já forem falecidos, 
tiverem sido previamente destituídos do pátrio poder ou aderido expressamente ao pedido, 
não incide em toda sua plenitude o contraditório, apenas os genitores que houverem aderido 
expressamente ao pedido. As partes serão ouvidas em juízo pela autoridade judiciária e pelo 
Ministério Público, observadas todas as garantias, devido ao fato de ser um direito 
personalíssimo.106 
 
 
 
 
 
102 CHAVES, Antônio. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. 2. ed. São Paulo: Ltr, 1997. 
p. 147. 
103 Ibidem, p. 149. 
104 Idem. Adoção Internacional. Belo Horizonte: Edusp, 1994. p. 84-5. 
105 BANDEIRA, Marcos. Adoção na Prática Forense. Bahia: Editus, 2001. p. 87. 
106 BANDEIRA, loc. cit. 
 
 
25 
2.4.4 Do Procedimento 
 
 
Os processos que envolvam crianças e adolescentes, tramitam nas Varas da Infância e 
Juventude, ou nas que apresentam competência acumulada com esta área. Portanto, existem 
dois procedimentos relativos a adoção, em situações distintas, um é o procedimento de 
jurisdição contenciosa e o outro é o procedimento de jurisdição voluntária.107 
O procedimento contencioso será estabelecido quando não forem configuradas as hipóteses 
previstas no art. 166 do ECA.108 Já o procedimento de jurisdição voluntária, é a regra prevista 
nos arts. 165 a 170 do ECA, sendo dispensada a representação do requerente por advogado, 
uma vez que não está configurada a existência de lide, desaparecendo o contraditório.109 
 
 
2.4.5 Da Sentença 
 
 
Encerrada a instrução e após a manifestação do requerente, do requerido e do 
Ministério Público, a decisão será proferida em audiência, podendo ser aprazada a sua 
publicação pelo prazo máximo de cinco dias (art. 162, § 2º, ECA).110 O juiz perscrutando os 
interesses superiores do menor, prolatará a sentença, no efeito constitutivo, assim, 
constituindo uma nova situação jurídica atribuindo ao menor a condição de filho legítimo.111 
Será expedido mandado judicial (de retificação do registro civil), ao qual, a sentença será 
inscrita no registro civil (art. 47, ECA) no sentido de cancelar o assentamento judicial, 
inscrevendo-se outro, no qual, deverá constar o nome dos adotantes como pais, bem como 
seus ascendentes, não havendo qualquer observação sobre a origem do ato, nos termos do art. 
47 do Estatuto.112 
A sentença produzirá seus efeitos a partir do trânsito em julgado (ex nunc), exceto na 
hipótese do art. 42, § 5º do ECA.113 Somente depois de decorrido o prazo recursal, será 
 
107 VERONESE, Josiane Rose Petry e PETRY, João Felipe Correa. Adoção internacional e Mercosul: 
Aspectos Jurídicos e Sociais. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2004. p.144. 
108 VERONESE, loc. cit. 
109 Ibidem, p.145. 
110 COSTA, Tarcísio José Martins. Adoção Transnacional – Um estudo sociojurídico e comparativo da 
legislação atual. Belo Horizonte: Del Rey, 1998. p. 265. 
111 Ibidem, p. 266. 
112 BANDEIRA, Marcos. Adoção na Prática Forense. Bahia: Editus, 2001. p. 87. 
113 COSTA, op. cit., p. 266. 
 
 
26 
expedido alvará para a retirada do passaporte, antes disso não será permitida a saída do 
adotando do território nacional, não havendo hipótese de guarda provisória aos adotantes. A 
partir do trânsito em julgado da sentença é que o menor poderá viajar, em face de haver 
eventual recurso de terceiro interessado, já que o Ministério Público atua como custos legis.114 
As ações de adoção nacional ou internacional são de competência da Justiça da Infância e 
Juventude, portanto, isentas de custas e emolumentos, ressalvada a hipótese de litigância de 
má-fé (ECA, § 2º, do art. 141). 115 
O efeito extraterritorial da sentença, o seu reconhecimento, depende de sua 
homologação no país do adotante, daí surge a importância de exigir do adotante que 
comprove mediante documentos expedidos em seu país de domicílio que são habilitados, 
segundo suas leis, ao processo de adoção.116 
 
 
2.4.6 Do Recurso 
 
 
Da sentença que concede ou não a adoção, é cabível o recurso de apelação, destinado 
ao reexame da decisão proferida, baseado no princípio do duplo grau de jurisdição117, a ser 
interposto no prazo de dez dias. O ECA, com fulcro no art. 198 adotou o sistema recursal do 
Código de Processo Civil.118 
Preenchidos os pressupostos de admissibilidade recursal, a apelação será recebida no 
duplo efeito, devolutivo e suspensivo (art. 198, inciso VI, ECA). 
 
 
 
 
 
 
114 BANDEIRA, Marcos. Adoção na Prática Forense. Bahia: Editus, 2001. p. 88. 
115 COSTA, Tarcísio José Martins. Adoção Transnacional – Um estudo sociojurídico e comparativo da 
legislação atual. Belo Horizonte: Del Rey, 1998. p. 266. 
116 MARQUES, Cláudia Lima. “Notícia sobre a Nova Convenção de Haia sobre Adoção Internacional: 
Perspectiva de Cooperação Internacional e Proteção dos Direitos das Crianças”. In: Igualdade. Revista 
Trimestral do Centro de Apoio Operacional das Promotorias da Criança e do Adolescente, Curitiba, 
Ministério Público do Estado do Paraná, ano IV, n. XI, p. 17, abr.-jun. 1996. 
117 NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 
1996. p. 307. 
118 COSTA, loc. cit. 
 
 
27 
3 A ADOÇÃO INTERNACIONAL 
 
 
3.1 TRÁFICO INTERNACIONAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES 
 
 
A adoção internacional pode ser considerada um tema de ingente atualidade, devido ao 
fato do instituto ser intrinsecamente voltado para o bem, porém, em trágico paradoxo tem 
servido a criminosos, mormente internacionais, para saciar seu espírito de ganância e 
requintes inescrupulosos.119 Os atos de barbárie realizados sob a capa da adoção internacional 
são uma prática nefanda, cabendo acentuar que a maioria das crianças traficadas é do sexo 
feminino.120 Cláudia Lima Marques define tráfico de crianças com, finalidade de adoção 
como: 
 
 
O processo visando à transferência internacional definitiva de adoção da 
criança de um país para outro, em que qualquer um dos envolvidos (pais 
biológicos, pessoas que detêm a guarda, as crianças, os terceiros ajudantes 
ou facilitadores, as autoridades ou os intermediários) recebe algum tipo de 
contraprestação financeira por sua participação na adoção internacional.121 
 
 
 
O tráfico de seres humanos, especialmente o de mulheres e crianças, tem aumentado 
nos últimos anos, sendo escolhido pelos grupos de criminosos por causa dos altos lucros e do 
baixo risco inerentes ao “negócio”. Traficar pessoas, não dá o mesmo rendimento do que 
traficar “mercadorias”, pois os seres humanos podem ser usados repetidamente. Além do 
 
119 DEL’OLMO, Florisbal de Souza e ARAÚJO, Luis Ivani de Amorim. Direito de Família Contemporâneo 
e Novos Direitos: estudos em homenagem ao professor José Russo. Adoção Internacional:Reflexões na 
Contemporaneidade. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p. 37. 
120 Ibidem, p. 36. “Investigação procedida pelo Ministério da Justiça e pelo Escritório das Nações Unidas contra 
Drogas e Crimes no Brasil, no período de agosto de 2003 a outubro de 2004, intitulada “Pesquisa sobre 
Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para fins de Exploração Sexual Comercial – PESTRAF”, traz 
dados estarrecedores, que revoltam e requerem uma ação de juristas e autoridades em geral”. 
121 MARQUES, Cláudia Lima. A Convenção de Haia d 1993 e o Regime da Adoção Internacional no Brasil 
após a Aprovação do Novo Código Civil Brasileiro em 2002. In: Cadernos do Programa de Pós-
Graduação em Direito – PPGDir/UFRGS, v. II, n. IV, jun. 2004, Edição Especial – Inserção 
Internacional. Porto Alegre: PPGDir/UFRGS, 2004. p. 485. 
 
 
28 
mais, esse tipo de crime se apóia na aparente omissão com que muitos governos lidam com o 
problema da migração internacional, além de não exigir grandes investimentos.122 
A adoção internacional tem sido tema de constante preocupação, o qual representa o 
único caminho legal e suficientemente seguro para garantir o bem-estar da criança em lares 
substitutos no exterior. O alerta é feito, devido à existência de uma tabela que regula os preços 
mundiais de um mercado clandestino de órgãos humanos, destinados a transplante, que 
podem ser encontrados em países de terceiro mundo como o Brasil. A referida tabela 
“macabra” que chega ao conhecimento do público, regula os preços como: “a córnea custa U$ 
1 mil, ossos U$ 5 mil, uma criança completa para a adoção U$ 10 mil e a parte mais 
valorizada, um rim, não sai por menos de U$ 20 mil”.123 
No momento em que a adoção internacional perde o caráter de prática destinada ao 
bem, cujo objetivo é a proteção crianças e adolescentes, que estão em situação de abandono e 
desamparados, à procura de uma família, para se transformar em um mecanismo voltado à 
satisfação de adultos, passam a surgir práticas irregulares, que, sob o manto de aparente 
bondade, possuem um caráter criminoso. Os seres humanos são transformados em 
mercadorias, mais precisamente em objetos de consumo.124 
Apesar de serem formas muito distintas, o tráfico internacional de crianças e adoção 
internacional estão interligados, pelo fato de destinarem à colocação de crianças em famílias 
substitutas no exterior. Visando uma medida punitiva para a prática do tráfico internacional de 
crianças, o ECA assim prevê: 
 
 
Art. 239 - Promover ou auxiliar a efetivação de ato destinado ao envio de 
criança e adolescente para o exterior com inobservância das formalidades 
legais ou com o fito de obter lucro: pena de reclusão de 4 a 6 anos e multa – 
incidem as mesmas penas a quem oferece ou efetiva a paga ou a 
recompensa.125 
 
 
 
122 BASSIOUNI apud JESUS, Damásio Evangelista de. Tráfico Internacional de Mulheres e Crianças – 
Brasil. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 13-4. 
123 FONSECA, Edson José da. A Constitucionalidade da Adoção Internacional. Cadernos de Direito 
Constitucional e Ciência Política, São Paulo, Revista dos Tribunais, v. 11; n. 3; p. 250, abr.-jun. 1995. 
124 JESUS, Damásio Evangelista de. Tráfico Internacional de Mulheres e Crianças – Brasil. São Paulo: 
Saraiva, 2003. p. 142. 
125 CHAVES, Antônio. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. 2. ed. São Paulo: Ltr, 1997. 
p. 751. 
 
 
29 
Atualmente, observa-se na esfera jurídica brasileira, um enorme pluralismo de fontes 
sobre a adoção. Acentua-se, que o ECA continua a reger, como lex specialis, a adoção 
internacional no Brasil, por expressa menção do Código Civil de 2002. Esse pluralismo tem-
se mostrado “bastante protetivo dos direitos humanos das crianças e um eficaz sistema de 
combate aos perigos da adoção internacional, especialmente de combate ao tráfico de 
crianças, uma das mazelas brasileiras na década de 70-80 do século XX”.126 
 
 
3.2 AS PROBABILIDADES DE ÊXITO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES NUMA 
SOCIEDADE DIVERSA 
 
 
A todo instante surgem questionamentos do ponto de vista sócio-cultural, a respeito 
das probabilidades de êxito de uma criança numa sociedade diversa, social, cultural, 
lingüística, hábitos, tradições e racialmente distinta de sua origem: “A adoção internacional 
apresenta uma dimensão extrafamiliar a diferenciá-la da adoção nacional, pois os menores 
adotivos irão viver em países de cultura, hábitos e sistema jurídico bastante diferente”.127 
A criança não rompe somente seu laço sangüíneo com a sua família biológica, mas 
abandona definitivamente o seu contexto cultural, substituindo a sua língua de origem e 
expressando-se de maneira a se adequar ao seu novo meio social. Substituindo seus hábitos, 
com o fim de adaptar-se a nova realidade, da mesma forma que os adotantes estrangeiros 
estão acolhendo em seu lar, uma criança vinda de outra cultura, de outro povo, ou até mesmo, 
de outra raça e de outra cor.128 
Do ponto de vista sociopsicológico, são inúmeras as dificuldades enfrentadas pelos 
adotados no exterior, pois, para aquelas que já estão mais desenvolvidas fisicamente e 
mentalmente, são grande as dificuldades de adaptação num ambiente tão diverso daquele que 
estão acostumadas.129 
Os problemas envolvendo a adoção internacional culminaram, por converter-se em 
uma exaustivamente discussão nos fóruns internacionais. De grande e notável interesse em 
 
126 MARQUES, Cláudia Lima. “Notícia sobre a Nova Convenção de Haia sobre Adoção Internacional: 
Perspectiva de Cooperação Internacional e Proteção dos Direitos das Crianças”. In: Igualdade. Revista 
Trimestral do Centro de Apoio Operacional das Promotorias da Criança e do Adolescente, Curitiba, 
Ministério Público do Estado do Paraná, ano IV, n. XI, p. 13, abr.-jun. 1996. 
127 COSTA, Tarcísio José Martins. Adoção Transnacional – Um estudo sociojurídico e comparativo da 
legislação atual. Belo Horizonte: Del Rey, 1998. p. 75. 
128 COSTA, loc. cit. 
129 Ibidem, p. 76. 
 
 
30 
torno da instituição, foram feitos intensos e aprofundados estudos jurídicos, em relação à 
matéria, ocasionando diversas modificações na normativa legal existente. Foram aprovadas 
inúmeras Declarações, Tratados e Convenções Internacionais sobre o tema, que exerceram 
grande influência no desenvolvimento da legislação dos diferentes países.130 
 
 
3.3 A PROTEÇÃO DA CRIANÇA NO ÂMBITO DO DIREITO INTERNACIONAL 
 
 
3.3.1 Conflito de Leis 
 
 
No Brasil, a vigência das leis é feita mediante as determinações da Lei de Introdução 
ao Código Civil. No art. 1.º dessa lei está determinado: “Salvo disposição em contrário, a lei 
começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada”. O § 
1.º desse artigo dispõe: “Nos Estados estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando 
admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada.” O direito pátrio qualifica a 
adoção como sendo um instituto de Direito de Família. Assim sendo, aplicar-se á a regra 
insculpida no art. 7º, caput da Lei de Introdução ao Código Civil que reza: 7º A lei do país em 
que for domiciliada a pessoa determinada as regras sobre o começo e o fim da personalidade, 
o nome, a capacidade e os direitos de família.131 
Será aplicada a lex domicilli (lei do domicílio), portanto, a capacidade para adotar 
deverá ser apreciada pela legislação do domicílio do adotante, enquanto a capacidade para ser 
adotado deverá ser observada a legislação do domicílio do adotando.132 
A partir do exame da legislação comparada, pode ser observada uma grande e 
acentuada diversidade legislativa nos mais diferentes países. As legislações nacionais

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