Buscar

Brancher A Paz que Nasce de uma Nova Justica (1)

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 112 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 112 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 112 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

A PAZ QUE NASCE
DE UMA
NOVA JUSTIÇA
2012-2013
UM ANO DE IMPLANTAÇÃO DA JUSTIÇA RESTAURATIVA
COMO POLÍTICA DE PACIFICAÇÃO SOCIAL EM CAXIAS DO SUL
A
P A
Z
Q U
E
N A
S C
E
D E
U M
A
N O
V A
J U
S T
I Ç
A
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
Impressão:
Coordenação: Reportagem: Projeto gráfico: Revisão ortográfica:Leoberto Brancher Caroline Pierosan Tati Rivoire Fátima De BastianiI I I
A PAZ QUE NASCE DE UMA NOVA JUSTIÇA
2012-2013
UM ANO DE IMPLANTAÇÃO DA JUSTIÇA RESTAURATIVA
COMO POLÍTICA DE PACIFICAÇÃO SOCIAL EM CAXIAS DO SUL
Sumário
Lentes restaurativas: um novo foco sobre os confl itos e os crimes
O que é a Justiça Restaurativa e por que ela é tão transformadora?
Entenda as principais diferenças entre a JR e o processo penal tradicional
A paz que nasce de uma nova Justiça
Modelo Restaurativo de Justiça inspira política pública pioneira em Caxias do Sul
Um lugar para buscar justiça na comunidade
 Núcleo de JR tem por objetivo difundir as práticas restaurativas na solução de confl itos com a participação das famílias, amigos e comunidades
Central Judicial: Laboratório e Centro de Difusão
Casos judicializados têm oportunidade de encontrar um novo desfecho com as práticas restaurativas
Justiça que se aprende na infância 
Conviver pacifi camente, vivenciar valores positivos e aprender a relacionar-se com o diferente é o caminho para uma vida de paz
Justiça como poder da comunidade
Promover a Cultura da Paz em meio à comunidade da Zona Norte – região conhecida pelo contexto violento – é o desafi o da 
Central Comunitária 
Voluntariado pulsa no coração da JR em Caxias do Sul
Ajudar a criar um mundo de paz e um planeta mais seguro é apenas uma fração do orgulho que um voluntário sente ao doar seu 
tempo para uma causa em que acredita
Desmistifi cando os Círculos de Construção de Paz
Um processo que parece ser demorado mas que é, na verdade, mais econômico e rápido que o tradicional e na maioria dos casos 
promove resultados estáveis 
Kay Pranis avalia processo de implantação de JR em Caxias do Sul
Referência mundial em Círculos de Construção de Paz mostra-se impressionada com a amplitude da utilização das práticas 
restaurativas na cidade
Fundação Caxias aproxima sociedade civil da JR
Entidade quer conscientizar empresários de que a promoção da Cultura de Paz é, também, responsabilidade do setor. Fundação 
pretende manter gestão fi nanceira do Núcleo de JR
UCS planeja pesquisa e ensino de Justiça Restaurativa
Em 2014 devem ser desenvolvidos cursos de extensão e pesquisa científi ca, com o intuito de produzir publicações internacionais 
sobre a experiência pioneira da JR como Política Pública em Caxias do Sul
Município assume a JR como Política Pública de Pacifi cação Social
Prefeito e Secretário de Segurança reafi rmam a importância de uma Lei Municipal para que a Justiça Restaurativa se torne prática 
permanente na cidade e asseguram suporte ao projeto
Judiciário gaúcho institucionaliza e expande a JR como alternativa de solução de confl itos
Artigo de Leoberto Brancher, Juiz de Direito
ANEXO – RELATÓRIO DE MONITORAMENTO
A INTRODUÇÃO DA JUSTIÇA RESTAURATIVA EM CAXIAS DO SUL 
Ana Caroline Montezano Gonsales Jardim
7
1111
27 27 
3131
3939
4747
5353
6161
6767
7373
7777
8181
8585
8989
Cidades de Paz
As páginas a seguir contam a história da criação de uma política pública baseada 
nos princípios e nas práticas da Justiça Restaurativa na cidade de Caxias do Sul, 
Rio Grande do Sul.
A construção é uma confl uência de várias contribuições e várias histórias. 
Recapitulando nossas origens, vamos contar um pouco sobre o início da Justiça 
Restaurativa no Rio Grande do Sul e, por via refl exa, no Brasil. Entremeamos 
relatos de casos com noções sobre esse novo modelo de Justiça, ao lado de 
defi nições estratégicas do programa local. Enfi m, contamos sobre o passado e 
o presente para anunciar nossos sonhos de futuro. Porque é disso que se trata: 
um empreendimento dedicado a tornar um sonho em realidade. Por isso não 
disfarçamos nossa intenção de contagiar. Ao contrário, essa publicação é um 
convite à solidariedade. Para sonhar junto.
Apesar de tudo, nosso relato é pé no chão. E, assim é também, principalmente, 
uma história de desafi os.
A aliança institucional que lidera a proposta por si só já representa um desafi o, ao 
unir pela primeira vez Poder Judiciário, Prefeitura Municipal, Universidade e uma 
Fundação privada em torno de um horizonte tão incomum quanto promissor: o de 
promover a Justiça como Poder da Comunidade. 
Vistas assim, as histórias que compõem a história objeto desse relato são fruto do 
esforço de uma pequena multidão de pessoas que podem parecer anônimas, mas são 
elas que verdadeiramente assinam e iluminam cada linha dessa trajetória.
Por fi m, como nos une o propósito universal de promover a paz, é nosso desejo 
que nossa cidade não caminhe só, mas esteja unida a um conjunto cada vez maior 
de Cidades de Paz e de Cidadãos pela Paz, formando um autêntico movimento 
da cidadania democrática em que o direito à palavra e o poder de coesionamento 
social se exerce de baixo para cima e de dentro para fora, com o objetivo de 
RESTAURAR A JUSTIÇA E A PAZ no nosso País.
Alceu Barbosa Velho
Prefeito Municipal de Caxias do Sul
Leoberto Brancher
Juiz Coordenador do CEJUSC
Isidoro Zorzi
Reitor da UCS
Paulo Poletto
Presidente da Fundação Caxias
7
Lentes restaurativas: um novo foco 
sobre os confl itos e os crimes
O que é a Justiça Restaurativa e por que ela é tão 
transformadora? Entenda as principais diferenças entre
a JR e o processo penal tradicional
8
Caxias da Paz
A Justiça Restaurativa (JR) é uma nova forma de lidar com a questão 
dos confl itos e dos crimes, centrada mais nas pessoas e nos relacionamentos 
do que nas questões jurídicas. Antes que discutir questões legais, culpados 
e punições, a JR promove intervenções focadas na reparação dos danos, no 
atendimento das necessidades da vítima, na corresponsabilização do ofensor, 
sua família e pessoas do seu relacionamento, tudo visando à recomposição do 
tecido social rompido pela infração e o fortalecimento das comunidades.
O professor Howard Zehr, com sua obra “Trocando as Lentes – Um novo 
foco sobre o crime e a justiça”, é considerado um dos principais mentores 
da teoria restaurativa no mundo. Para ele, a grande diferença entre a Justiça 
Restaurativa e a tradicional está na abordagem. A justiça tradicional trabalha 
com três perguntas básicas: que lei foi infringida? Quem infringiu? Que 
castigo merece? É punitiva e gira em torno de questões legais. A Justiça 
Restaurativa se preocupa com questões como: Quem sofreu o dano? 
O que essa pessoa precisa para que esse dano seja reparado? Quem tem a 
responsabilidade por melhorar a situação? É reintegrativa e se preocupa com 
as pessoas e com os relacionamentos.
As deliberações dos envolvidos num encontro estruturado e orientado por 
um facilitador podem servir como alternativa ou complemento às soluções 
do sistema de justiça formal. O diálogo a respeito do problema pode servir 
de apoio aos participantes, auxiliar na solução, evitar a propagação de 
confl itos, reduzir a reincidência e contribuir para o coesionamento da vida 
comunitária.
A JR propõe que os ofensores devem entender as consequências de seu 
comportamento. Além disso, devem assumir a responsabilidade de corrigir a 
situação na medida do possível, tanto concreta como simbolicamente. Zehr 
afi rma que a verdadeira responsabilidade consiste em olhar de frente para os 
atos praticados, signifi ca estimular o ofensor a compreender o impacto de 
seu comportamento, os danos que causou – e instá-loa adotar medidas para 
corrigir tudo o que for possível. 
Moldadas sob a alta exigência do acertamento de relações feridas por fatos 
graves, como crimes, as práticas da Justiça Restaurativa têm se mostrado 
efi cientes na pacifi cação da mais ampla gama de confl itos: brigas em família, 
maus comportamentos escolares, desentendimentos nos locais de trabalho, 
confronto entre presos e até disputas por terras.
Para o Professor Zehr, o sistema 
tradicional de Justiça penal 
difi cilmente estimula o ofensor a 
compreender as consequências 
de seus atos ou desenvolver em-
patia em relação à vítima. Pelo 
contrário, exige que o ofensor 
defenda os próprios interesses. 
De acordo com Zehr, no sistema 
tradicional o réu é desestimulado 
a reconhecer sua responsabilidade 
e tem poucas oportunidades de 
agir de modo responsável concre-
tamente. Zehr afi rma que o senso 
de alienação social só aumenta 
ao passar pelo processo penal e 
pela experiência prisional.
9
Justiça Restaurativa
Satisfação da vítima: fortalecer a posição das vítimas, em consideração às suas necessidades, 
visando à superação da experiência traumática e buscando formas pelas quais o ofensor reconheça 
o impacto de suas ações e, tanto quanto possível, repare os danos causados.
Redução da reincidência: proporcionar que o ofensor compreenda o efeito de seu comportamento, 
o desvalor da sua conduta e se abstenha de repeti-los, oferecendo-lhe a oportunidade de ouvir a 
vítima, que poderá manifestar seus sentimentos e apresentar seus pleitos por reparação.
Coesão comunitária: prevenir a escalada de um confl ito de menor potencial ofensivo para eventos 
de maior gravidade, restaurar o senso de corresponsabilização e de pertencimento a uma “co-
munidade” na qual os ofensores reparam o dano feito diretamente ao indivíduo ou à vizinhança, 
permitindo que haja reintegração e a volta à normalidade.
Redução dos gastos públicos: otimizar as verbas públicas despendidas com segurança, mediante a 
simplifi cação e, quando apropriado, até mesmo a dispensa dos procedimentos formais em casos que 
possam ser resolvidos no âmbito comunitário.
Círculos Restaurativos
Os encontros restaurativos são organizados em formato de círculo, e para ele 
são convidadas as pessoas envolvidas ou afetadas, ou que possam ajudar na 
solução do problema – infratores, vítimas, seus familiares e comunidades. 
Habitualmente excluídos dos processos de Justiça, ou quando muito apenas 
ouvidos como meio de prova judicial, no processo restaurativo eles são 
chamados a expressar seus pontos de vista, sentimentos e necessidades e, 
principalmente, propor soluções para corrigir as coisas.
Os principais objetivos da Justiça 
Restaurativa incluem a RESPON-
SABILIZAÇÃO DO OFENSOR, com 
apoio da sua família, amigos e 
pessoas da sua comunidade, ob-
jetivando restaurar relaciona-
mentos e consertar as coisas. 
A REPARAÇÃO DOS DANOS, direta 
ou indiretamente, visa a atender 
às NECESSIDADES DA VÍTIMA, e 
dos demais atingidos pela vio-
lação. E um acordo ou plano de 
comportamentos futuros costuma 
ser elaborado a fi m de fortalecer 
vínculos afetivos e laços sociais, 
promovendo o COESIONAMENTO 
DA COMUNIDADE.
Resultados Restaurativos
JUSTIÇA RETRIBUTIVA JUSTIÇA RESTAURATIVA
Culpa
Perseguição
Imposição
Castigo
Coerção
Responsabilidade
Encontro
Diálogo
Reparação do Dano
Coesão
10
Caxias da Paz
Justiça Restaurativa é um processo 
através do qual todas as partes 
envolvidas em um ato que causou 
ofensa reúnem-se para decidir 
coletivamente como lidar com as 
circunstâncias decorrentes desse ato 
e suas implicações para o futuro.
Tony Marshall
JR em Caxias do Sul
A equipe do Núcleo de Justiça Restaurativa de Caxias do Sul acredita que 
o congestionamento e a demora dos processos judiciais, tão criticados 
pela sociedade, podem ser amenizados com o trabalho baseado na Justiça 
Restaurativa. “Situações que levam a inúmeros boletins de ocorrência e 
processos podem acabar com muito mais agilidade através dos Círculos de 
Construção de Paz”, defende Katiane Boschetti da Silveira, coordenadora da 
Central de Práticas Restaurativas da Infância e da Juventude. Para ilustrar, ela 
cita que, em um único caso resolvido de forma restaurativa, a família atendida 
já estivera envolvida em nada menos do que 15 processos judiciais, direta ou 
indiretamente relacionados à situação de desorganização familiar que vivia.
A Justiça Restaurativa propõe olhar as consequências da infração e reparar o 
dano, com a participação dos envolvidos, trazendo a vítima para um papel 
central. “Ninguém é capaz de assumir responsabilidade por algo que não 
percebe. Nada é mais veemente do que a voz de uma vítima dizendo, cara 
a cara com seu ofensor, o quanto a infração lhe prejudicou”, afi rma Paulo 
Moratelli, coordenador da Central Judicial de Pacifi cação Restaurativa. 
Leoberto Brancher – Juiz da Vara da Infância e da Juventude, coordenador 
do Centro Judiciário de Solução de Confl itos e Cidadania de Caxias do Sul 
(CEJUSC) – considera que o sistema institucional de Justiça Tradicional não 
é senão refl exo de um padrão cultural, historicamente pautado pela crença na 
legitimidade do emprego da violência como instrumento compensatório das 
injustiças e na efi cácia pedagógica das estratégias punitivas. 
De acordo com o magistrado, vivemos um momento decisivo em Caxias 
do Sul. Para ele, a promoção da Cultura da Paz como política pública é 
uma construção histórica, um modelo novo, um avanço que se deve a uma 
compreensão e um compromisso político diferenciado por parte do Município. 
“Caxias está iniciando uma aplicação incomum de Justiça Restaurativa como 
política pública municipal, dando base para um amplo movimento social 
de promoção da paz. É uma aposta ousada e que merece inspirar iniciativas 
semelhantes em outras cidades do País”, convida o Juiz.
11
A paz que nasce de
uma nova Justiça
Modelo Restaurativo de Justiça inspira 
política pública pioneira em Caxias do Sul
12
Caxias da Paz
A missão da Justiça é promover a 
pacifi cação social. Seja no âmbito 
judicial, na escola, na família ou 
na comunidade, temos feito isso 
usando certos mecanismos que 
se repetem. Culpa, perseguição e 
castigo são respostas automáticas, 
fazem parte da nossa cultura. Mas 
precisamos reconhecer que não 
vamos promover a paz repetindo 
estratégias que trazem hostilidade, 
vingança e violência incorporadas 
no seu DNA. Precisamos parar e 
refl etir antes de continuar agindo 
assim. A cada vez que fi zermos 
isso, estaremos dando uma chance 
verdadeira para a construção da paz. 
Leoberto Brancher,
Juiz de Direito
Faltava um corrimão
Um homem beberrão e violento, uma mulher sozinha, três fi lhos reféns da perturbação familiar. 
Um novo registro policial, e agora uma medida baseada na Lei Maria da Penha afasta o marido do 
lar. Um ano depois a mulher, em depressão profunda, acabou internada numa clínica psiquiátrica. 
Em razão disso as crianças foram recolhidas a uma instituição de abrigo, e o caso foi remetido para um 
procedimento restaurativo pelo Juizado da Infância. Durante sete meses foram realizados vários Círculos 
Restaurativos envolvendo a mãe, pai, avós, tios e profi ssionais das redes sociais. Desde o princípio a 
mulher deixou claro que não queria que o marido fosse afastado da família. Apenas queria que ele 
não bebesse, fi zesse um tratamento e tomasse os remédios para evitar os comportamentos violentos. 
Revelações como essa, ou que o alcoolismo e a violência se repetiam na família ao longo das gerações, 
foram trazidas ao longo de diálogos e refl exões intensos, e antecederamos acordos. No percurso, os 
avós assumiram as crianças temporariamente, tirando-as do abrigo. O casal se reconciliou, o homem 
parou de beber, dedicou-se ao tratamento, reorganizaram as fi nanças da família e concluíram as reformas 
do sobrado ainda em construção para receberem os fi lhos de volta. Construir um corrimão para proteger 
as crianças na escadaria da casa era o último item do acordo, que foi cumprido à risca. Em audiência, 
chorando, o homem desabafou ao Juiz: “se a gente tivesse a chance de conversar desse jeito desde 
o começo, não precisaríamos passar tudo isso que a gente passou, esse sofrimento todo”. De fato, os 
encontros restaurativos foram o corrimão que faltava para as pessoas subirem esse degrau da construção 
da paz em família. (Facilitadores: Alceu Valim de Lima e Fátima De Bastiani)
Quase mil pessoas cumprem pena de privação de liberdade hoje em Caxias do 
Sul. Um levantamento da Secretaria Municipal de Segurança Pública e Proteção 
Social realizado em outubro de 2013 apontou que 472 apenados (entre homens e 
mulheres) estão cumprindo pena no regime fechado e 495 no regime semiaberto. 
De janeiro a agosto de 2013, 1.243 mulheres vítimas de violência doméstica 
procuraram a ajuda da Coordenadoria da Mulher. Em média, 50 adolescentes 
infratores cumprem medida socioeducativa no CASE. Mais de 120 crianças estão 
acolhidas em instituições de abrigo.
Hoje, o Brasil é o quarto país com o maior número de presos do mundo, atrás de Estados Unidos, 
China e Rússia. O Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV) divulgou, 
em dezembro de 2012, um relatório sobre a situação dos direitos humanos no País na década de 
2001-2010. Neste período a população carcerária brasileira cresceu 112%. Segundo o documento, 
embora o crescimento da população carcerária tenha sido uma tendência mundial nas últimas déca-
das, o ritmo apresentado pelo Brasil foi “frenético e assustador”. O País registrou um aumento de 
233 mil pessoas, no ano 2001, para 496 mil em 2010. As penitenciárias continuam superlotadas. 
De acordo com o relatório, “o sistema prisional brasileiro continuou a ser, na década de 2000, um 
setor público dramaticamente atravessado por severas violações de direitos humanos”.
13
Paz Restaurativa
Nosso sistema de controle social tem custos vultosos. Recursos existem. Falta 
saber gastar. Veja-se o exemplo do Sistema Socioeducativo, que atende a menores 
infratores em privação da liberdade. Para manter presos uma média de 900 
adolescentes, ao longo do ano 2012, o Governo do Estado do Rio Grande do Sul 
gastou com a FASE (ex-FEBEM) – somando pagamentos de dívidas trabalhistas – 
um total superior a 120 milhões de reais. Isso signifi ca uma média próxima a 
R$ 133 mil por interno por ano, ou cerca de R$ 11 mil por adolescente a cada mês. 
Isso, sem contar os custos com a Brigada Militar, Polícia Civil, Poder Judiciário, 
Ministério Público, Defensoria Pública, investidos no processamento de cada caso. 
O Caso do Corrimão ilustra que, por melhor intencionadas, intervenções 
preponderantemente repressivas e institucionalizantes podem trazer repercussões 
desastrosas. Os dados acima indicam centenas de pessoas segregadas, distantes 
de suas famílias e amigos e, na sua maior parte, principalmente dissociados de si 
próprios, alheios às consequências dos seus atos. 
Na raiz de tudo, emoções perturbadas e confl itos mal resolvidos. Confl itos que 
podem estar na infância maltratada, na juventude mal acompanhada, na falta ou 
fragilidade dos pais, na falta da oportunidade de pertencer a uma família e a uma 
comunidade, na falta de cuidados.
A constatação desta realidade motivou profi ssionais caxienses da Justiça, da 
Segurança e das áreas afi ns a buscar outra forma de lidar com o crime e o confl ito, 
seja como forma de prevenção, seja como forma de resposta, visto que as soluções 
punitivas tradicionais, incluindo o aparato institucional que as cerca, mostram dar 
sinais de esgotamento.
Aprendemos com Marshall 
Rosenberg que “todo ato de 
violência é a expressão trágica de 
uma necessidade não atendida”. 
A toda hora nos deparamos com 
pedidos legítimos manifestados 
sob a forma de exigências 
violentas, necessidades legítimas 
reclamadas de forma agressiva. 
Manifestações que começam 
como pedidos de ajuda – até 
para que sejam contidos –, mas 
que, não encontrando um entorno 
continente, se convertem em atos 
de violência. E como respondemos 
com mais violência, o resultado é 
segregação, isolamento, descone-
xão, medo e insegurança, tanto 
para infratores quanto para víti-
mas, suas famílias e membros da 
sociedade direta ou indiretamente 
afetados por tais eventos. 
Leoberto Brancher,
Juiz de Direito
Tiro separa famílias
O que teria sido apenas uma brincadeira virou estampido, sangue e tragédia. Fascinado por um 
revólver que lhe caiu nas mãos, o adolescente encostou o cano da arma no rosto do amigo e 
desafi ou: “E agora...?” A arma disparou. A bala atravessou o rosto do colega e se alojou próximo à 
mandíbula, de onde não pôde ser retirada. As lembranças trazem mais do que dores de cabeça para 
a vítima: doem no coração dos jovens e das suas famílias. Embora vizinhos, ninguém se falou mais. 
Judicialmente responsabilizado pela tentativa de homicídio culposo, o ofensor cumpriu medida em 
liberdade. Incentivado por sua orientadora a refl etir sobre as consequências do seu ato, aceitou ouvir 
o relato de quem teve que senti-las na carne. O caso foi então encaminhado para a Central Judicial 
de Pacifi cação Restaurativa. Relutante, mas incentivado pela família, a vítima também se dispôs ao 
encontro. Um Círculo de Construção de Paz foi realizado com a presença dos jovens e suas famílias. 
14
Caxias da Paz
Num ambiente seguro e protegido, a família do ofensor contou que se afastara porque tinha medo 
de retaliação e sentia vergonha da tragédia causada por seu fi lho. A família da vítima disse que, em 
meio à dor e à raiva, muitas vezes chegou a duvidar que o tiro tivesse sido acidental. O jovem baleado 
pôde expressar o peso de suportar uma dor quase permanente: as fi sgadas da bala ainda metida em sua 
cabeça. Essas revelações reabriram os canais, promoveram empatia, restauraram os laços de amizade 
e a compreensão de que o evento fora acidental. Um perante o outro, ambos os jovens admitiram que 
naquela época faziam coisas arriscadas e reconheceram que o acidente fez parte de um modo de vida 
que haviam modifi cado desde então. Ao término de algumas horas de encontro os jovens e suas famílias 
se abraçaram, aliviados. A bala nunca pôde ser removida. Mas a muralha de rancor e desconfi ança entre 
as famílias não existe mais. (Facilitadores: Franciele Lenzi e Paulo Moratelli)
Fatos violentos como esse acontecem quase que diariamente em Caxias do Sul, mas 
desfechos incomuns como o relatado acima também passaram a fazer parte da rotina 
da cidade, a partir de novembro de 2012, quando teve início a implantação de uma 
política pública fundamentada na Justiça Restaurativa. 
Confl itos, disputas e até mesmo crimes que costumeiramente aportam na esfera 
judicial têm sido solucionados de forma pacífi ca através de práticas baseadas em 
estratégias de diálogo. Encontros que permitem a expressão de sentimentos e o 
reconhecimento de necessidades têm dado base à restauração dos relacionamentos e 
dos laços sociais rompidos por incidentes como este. 
O trabalho faz parte de um movimento que vem se espalhando no mundo há 
não mais de 40 anos e entrou na trajetória da Justiça gaúcha em 2005. Em 2013 
as práticas restaurativas também foram incluídas na política judiciária nacional de 
solução de confl itos, promovida desde 2010 pelo Conselho Nacional de Justiça(CNJ) – a princípio com ênfase em métodos de conciliação e de mediação – através 
da criação de Centros Judiciários de Solução de Confl itos e Cidadania (CEJUSC), 
nas principais cidades brasileiras. 
Em Caxias do Sul, esses avanços estão sendo alavancados pela união entre o Poder 
Judiciário, a Prefeitura de Caxias do Sul, a Universidade de Caxias do Sul e a Fundação 
Caxias, de forma que a pacifi cação social na cidade se tornou marcada pelo diferencial 
da interinstitucionalidade e pela adoção, como base fi losófi ca e metodológica, dos 
princípios e das práticas da Justiça Restaurativa.
Sob orientação técnica do Poder Judiciário, através do CEJUSC, e execução da 
Prefeitura de Caxias do Sul, através da Secretaria Municipal de Segurança Pública e 
Proteção Social, a iniciativa tornou-se ofi cial no dia 1º de novembro de 2012, em ato 
político que sacramentou a parceria entre as instituições envolvidas. Acompanhe um 
pouco de como começou essa história.
15
Paz Restaurativa
2004-2013 
Primeiros passos da JR no Brasil 
e sua chegada a Caxias
A temática da Justiça Restaurativa apareceu pela primeira vez em Caxias do Sul 
em agosto de 2004, no Curso de Formação de Lideranças em Cultura de Paz, 
promovido pela Biblioteca dos Direitos da Criança da UCS, em parceria com a 
Associação Palas Athena de São Paulo. No curso, o Juiz paulista Egberto Penido 
introduziu conceitos da Comunicação Não Violenta (CNV). Na mesma época, 
em 13 de agosto de 2004, também estava sendo fundado o Núcleo de Justiça 
Restaurativa da Escola da Magistratura em Porto Alegre.
A política pública de pacifi cação social que começa a ser construída em Caxias do Sul tem as marcas 
da interinstitucionalidade e vale-se da teoria e das práticas da Justiça Restaurativa, objetivando 
evitar o agravamento de relações confl itivas e uma resposta mais efi caz às transgressões da lei. 
2005
Fórum Social Mundial 
Ainda em novembro de 2004, Dominic Barter, inglês radicado no Rio de Janeiro, 
consultor e representante no Brasil da Rede CNV, palestrou no Teatro da UCS, em 
Caxias do Sul. Ele veio ao Rio Grande do Sul preparar a participação de Marshall 
Rosenberg, criador da CNV, no Fórum Social Mundial que seria sediado em Porto 
Alegre em janeiro de 2005. Essa edição do Fórum Social Mundial representou um 
marco de convergência entre a Cultura de Paz, a Comunicação Não Violenta, a 
Justiça Restaurativa e a Justiça Brasileira. 
Com a colaboração da AJURIS e da Palas Athena, várias ofi cinas foram realizadas 
durante o Fórum sobre esses temas, com as presenças internacionais de Marshall 
Rosenberg e Dominic Barter, da CNV, de Guillermo Kerber, do Conselho Mundial 
de Igrejas, e de David Adams, consultor da UNESCO, criador e articulador da 
Década da Cultura de Paz, que reuniu vários detentores do Prêmio Nobel da Paz, 
numa campanha mundial entre 2000 e 2010. 
Durante o Fórum também ocorreram as tratativas com a equipe do Ministério 
da Justiça para dar início aos projetos-piloto. A metodologia da CNV seria então 
16
Caxias da Paz
A CNV é estruturada sobre quatro elementos: observar sem julgar, identifi car e expressar as necessidades 
(do outro e minhas), nomear os sentimentos envolvidos (da outra pessoa e meus) e formular pedidos 
claros e possíveis. A CNV enfatiza a importância de determinar ações com base em valores comuns e 
aponta uma continuidade entre as esferas intrapessoal, interpessoal e social, além de providenciar formas 
práticas de intervir. A aplicação da CNV pode dar-se em todas as relações e interações em que se pressupõe 
que haverá diferenças e confl itos.
COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA
2005
Nasce a Justiça para o Século 21
A introdução ofi cial da Justiça Restaurativa no Brasil aconteceu a partir de 
2005, através do projeto “Promovendo Práticas Restaurativas no Sistema 
de Justiça Brasileiro”, iniciativa da Secretaria da Reforma do Judiciário do 
Ministério da Justiça em colaboração com o Programa das Nações Unidas para 
o Desenvolvimento – PNUD. Foram criados três projetos-piloto em Porto 
Alegre (RS), Brasília (DF) e em São Caetano do Sul (SP). Em Porto Alegre 
tomou forma o Projeto Justiça para o Século 21, um articulado de ações 
interinstitucionais liderados pela Associação dos Juízes do Rio Grande 
do Sul (AJURIS) com o objetivo de difundir a Justiça Restaurativa na 
pacifi cação de confl itos e violências envolvendo crianças, adolescentes e seu 
entorno familiar e comunitário.
As práticas restaurativas, até então baseadas na CNV e sob orientação de 
Dominic Barter, foram aos poucos se incorporando à rotina do Juizado da 
Infância e da Juventude da Capital, monitoradas por um programa de pesquisa 
e avaliação da Faculdade de Serviço Social da PUCRS. Estudos autodidatas 
evoluíram e deram lugar a um amplo processo de formações, a cargo da Escola 
da Magistratura. Esses cursos atraíram público e foram levados a vários outros 
Estados brasileiros. O programa tornou-se referência nacional na implantação 
adotada como base das formações dos pilotos de Porto Alegre e São Caetano do Sul, 
enraizando a introdução da Justiça Restaurativa no Brasil.
17
Paz Restaurativa
da Justiça Restaurativa. Entre 2005 e 2011, 11.793 pessoas haviam 
participado de atividades de sensibilização e formação promovidas pelo 
Justiça 21. A experiência de Caxias do Sul foi originada a partir dessa fonte.
Junho de 2010 
A Justiça Restaurativa sobe a Serra
Em 2010 a Secretaria Municipal de Segurança Pública e Proteção Social de Caxias 
do Sul resolveu adotar a Justiça Restaurativa como estratégia de prevenção da 
violência no Município. Em 18 de junho daquele ano, realizou-se um Ceminário 
na UCS, no qual foram apresentadas várias experiências com a JR em Porto Alegre, 
e foi celebrado um protocolo de intenções entre a AJURIS, a Prefeitura de Caxias 
do Sul e diversas instituições locais. O objetivo era unir esforços para começar a 
aplicação da Justiça Restaurativa na cidade, a partir da sua afi liação ao Projeto Justiça 
para o Século 21.
Sensibilização, formação de lideranças, formação de facilitadores, consultoria de 
implantação, supervisão de práticas: o roteiro do Justiça 21 para implantação 
da Justiça Restaurativa foi seguido em Caxias. Entre junho e julho de 2010, 70 
líderes da rede socioassistencial foram apresentados aos conceitos básicos da Justiça 
Restaurativa. Dos 70 participantes, 20 foram inscritos no curso de facilitadores, 
segundo a metodologia da Comunicação Não Violenta (CNV), que se realizou 
ainda em julho de 2010. E desde então as atividades de formação não pararam.
Agosto de 2010 
Acadêmicos canadenses trazem
lições de Justiça ancestral
Em agosto de 2010, cerca de 400 pessoas participaram de outro grande evento 
na UCS. O encontro marcou a presença de professores do Centro de Justiça 
Restaurativa do Departamento de Criminologia da Simon Fraser University 
(SFU), de Vancouver, Canadá, Brenda Morrison e Elisabeth Eliot, acompanhados 
pelo professor brasileiro João Salm, também docente da SFU e articulador da 
parceria. Mais do que conhecimentos de ponta no cenário acadêmico restaurativo 
internacional, essas contribuições assinalaram um primeiro e decisivo contato de 
Caxias do Sul com uma das principais vertentes metodológicas do movimento 
restaurativo no mundo: os Círculos de Construção de Paz, derivados das tradições 
indígenas daquele país. 
18
Caxias da Paz
Outubro – Novembro de 2010 
Formações com Kay Pranis 
introduzem os Círculos de 
Construção de Paz no Brasil
Os meses de outubro e novembro de 2010 assinalam o início de uma 
nova etapa no movimento restaurativo brasileiro, com a introdução da 
metodologia dos Círculos de Construção de Paz. Uma mudança que 
também passou por Caxias. Emviagem articulada pelo Projeto Justiça 21 
e patrocinada pela UNESCO, com recursos do Criança Esperança, Kay 
Pranis esteve pela primeira vez no Brasil para uma série de capacitações 
que ocorreram em São Luís do Maranhão, São Paulo, Rio de Janeiro, Porto 
Alegre e Caxias do Sul. 
Aqui, sob patrocínio da Prefeitura Municipal através do Conselho 
Municipal dos Direitos da Criança (COMDICA), foram formados os 
primeiros 25 facilitadores, na sua maioria servidores municipais. Kay 
também palestrou para um grande público na Universidade de Caxias 
do Sul sobre o tema Processos Circulares: Ferramenta para Intervenção e 
Prevenção no Trabalho com Jovens.
Após a capacitação, os novos facilitadores passaram a aplicar a metodologia, 
informalmente, nos seus espaços de atuação profi ssional. Desde então, o 
grupo – que também recebera formação em CNV – optou pelos Círculos de 
Construção de Paz como sua principal ferramenta nas práticas restaurativas, 
passando a manter reuniões quinzenais sistemáticas – que perduraram até 
o fi nal de 2012 – com o objetivo de dividir experiências e aprofundar seus 
conhecimentos sobre os Círculos. Estava fundado o movimento restaurativo 
em Caxias do Sul.
Outubro de 2012 
Novos facilitadores formados
Em setembro de 2012, desta vez em turma aberta organizada pela Escola da 
AJURIS, Kay Pranis formou um segundo grupo de facilitadores em Caxias. 
Além de pessoas da região (Caxias e Bento Gonçalves) participaram alunos 
também de outros Estados (Cascavel – PR, e Belém – PA). Nessa segunda 
19
Paz Restaurativa
visita a Caxias, Kay Pranis também formou um grupo de multiplicadores. 
Desde então Caxias conta com 6 profi ssionais aptos a formarem novos 
facilitadores, que também integram o corpo docente dos cursos da 
Escola da Magistratura da AJURIS. No dia 18 de outubro de 2012, Kay 
também palestrou em evento aberto, realizado no auditório do Ministério 
Público de Caxias do Sul. Essas atividades serviram como preparação 
para o III Simpósio Internacional de Justiça Restaurativa – Abordagens 
Transdisciplinares, que ocorreu no dia 1o de novembro de 2012 em Caxias, 
no bloco J da Universidade de Caxias do Sul.
Novembro de 2012 
3o Simpósio Internacional de 
Justiça Restaurativa
O III Simpósio Internacional de Justiça Restaurativa foi realizado na 
Universidade de Caxias do Sul no dia 1º de novembro de 2012, como parte 
de um circuito nacional que incluiu Porto Alegre, São Paulo e Belém do 
Pará. A participação de representantes do movimento restaurativo canadense 
e norte-americano foi promovida em âmbito nacional em parceria entre a 
AJURIS, Associação Palas Athena, Terre des Hommes e o Consulado do 
Canadá, com apoio da Secretaria Estadual da Justiça do Rio Grande do Sul. 
Aqui no Estado, também foram parceiros o Tribunal de Justiça, o Ministério 
Público e as Prefeituras de Porto Alegre e de Caxias do Sul. 
Autoridades em Justiça Restaurativa como Barry Stuart, Carolyn Boyes 
Watson, Catherine Bargen, Sayra Pinto e João Salm, palestraram no Simpósio. 
A proposta foi de aproximar os países para trocar experiências e aprofundar 
a compreensão da Justiça Restaurativa e a difusão da Cultura da Paz junto a 
profi ssionais das áreas de justiça e políticas sociais como Juízes, promotores, 
Defensores Públicos, advogados, assistentes sociais, educadores, guardas 
municipais, policiais civis e militares, psicólogos, professores e estudantes.
No evento foi assinado o convênio entre a Prefeitura e a Fundação Caxias, e 
anunciada a criação de um Núcleo de Justiça Restaurativa e de três Centrais 
de Pacifi cação Restaurativa na cidade – passo decisivo e concreto na 
materialização da Justiça Restaurativa como política pública em Caxias. 
O convênio para instalar as Centrais foi fi rmado entre Prefeitura e 
Fundação Caxias, sob o testemunho de representantes do Consulado do 
Quatrocentas pessoas participam 
do III Simpósio Internacional de 
Justiça Restaurativa realizado 
na UCS, quando é anunciada 
a criação de um Núcleo e três 
Centrais de Pacifi cação. A Justiça 
Restaurativa começa a ser es-
truturada como política pública 
na cidade.
20
Caxias da Paz
Dezembro de 2012 
Seminário de Planejamento 
Estratégico define rumos da 
futura política
Representantes das instituições envolvidas na execução do projeto – 
Judiciário, Prefeitura, UCS e Fundação Caxias – e das equipes que viriam 
a integrar as Centrais de Pacifi cação Restaurativa participaram de um 
seminário de planejamento estratégico no dia 16 de dezembro de 2012. 
O encontro, realizado de forma participativa pelo método ZOPP, foi 
facilitado pelo assessor da Secretaria de Governança Urbana da Prefeitura 
de Porto Alegre, Carlos Simões Filho. Objetivos, linhas de ação e 
resultados a serem alcançados fi caram defi nidos desde então.
Objetivo Geral (2016) Consolidação Conquistar perante a sociedade o reconhecimento da Justiça Restaurativa como uma 
metodologia efetiva de resolução de confl itos e promoção da paz.
Implementar a Justiça Restaurativa como política pública no Município de Caxias do Sul.
JR é uma política pública de pacifi cação social.
JR é uma articulação intersetorial.
Investimentos para a JR assegurados.
JR conecta instituições, serviços e comunidades.
Capacitação continuada e rede de facilitadores ampliada e fortalecida.
Difusão e mobilização promovida.
Objetivo Específi co (2013) Implementação
Eixo 1 – Política Pública
Eixo 2 – Intersetorialidade
Eixo 3 – Investimento
Eixo 4 – Integração
Eixo 5 – Facilitadores
Eixo 6 – Comunicação
Canadá, do Tribunal de Justiça do RS, da Universidade de Caxias do Sul e 
das diversas Secretarias Municipais envolvidas. O investimento inicial da 
Administração Municipal para a realização do projeto foi de R$ 267 mil. 
O então Prefeito José Ivo Sartori afi rmou na ocasião que a Administração 
Municipal acreditava no processo de conversa, diálogo e restauração – 
respaldado pela presença de Alceu Barbosa Velho, novo Prefeito eleito, na 
ocasião representando a Assembleia Legislativa do Estado.
21
Fevereiro de 2013 
Grupo de Estudos e de 
Autossupervisão de Práticas
Desde 26 de fevereiro de 2013 e ao longo de todo o ano, o Núcleo de Justiça 
Restaurativa de Caxias do Sul promoveu encontros quinzenais para estudos e 
autossupervisão das práticas restaurativas. Participam profi ssionais, estudantes e 
pessoas da comunidade. 
Com participação média de 25 pessoas, o grupo tem por objetivo difundir 
o conhecimento teórico e prático sobre Justiça Restaurativa e Círculos de 
Construção de Paz, promover a integração e estimular o voluntariado das pessoas 
interessadas no tema.
O roteiro dos encontros seguiu a leitura do Livro Reuniões de Justiça Restaurativa, 
de Ted Wachtel, Terry O`Connell e Ben Wachtel, que apresenta os conceitos 
fundamentais da Justiça Restaurativa mesclados a uma narrativa da introdução 
nos Estados Unidos do modelo das conferências restaurativas australianas, por 
iniciativa do Instituto Internacional de Práticas Restaurativas.
Maio de 2013
Protocolo estabelece atendimento 
restaurativo para atos infracionais 
de menor potencial ofensivo 
Secretaria Municipal de Segurança Pública e Proteção Social, Juizado da 
Infância e Juventude, Promotoria da Infância e Juventude, Defensoria da 
Infância e Juventude, Brigada Militar, Polícia Civil e Guarda Municipal 
reunidas na Direção do Fórum de Caxias do Sul no dia 23 de maio de 
2013 celebram protocolo operacional prevendo esforços integrados para 
promover atendimento restaurativo a crianças e adolescentes envolvidos 
em conflitos e atos infracionais de menor potencial ofensivo, através 
da Central de Práticas Restaurativas da Infância e da Juventude.O pacto 
permite colocar em prática as disposições da Lei n. 12.594/2012 – SINASE. 
Paz Restaurativa
22
Caxias da Paz
Julho de 2013 
Jornada Municipal de Pacificação 
Restaurativa consagra repercussão 
nacional do projeto
O dia 12 de julho de 2013 já teria sido um momento marcante na trajetória 
da Justiça Restaurativa em Caxias do Sul pela formatura da terceira turma 
de facilitadores formados pela Professora Kay Pranis na cidade, com o 
destaque de tratar-se da primeira formação em Justiça Restaurativa oferecida 
ofi cialmente pelo Tribunal de Justiça gaúcho – uma iniciativa que benefi ciou 
também as Comarcas de Porto Alegre e de Pelotas e representou um marco 
na institucionalização da Justiça Restaurativa no âmbito do Poder Judiciário. 
Representativa desse momento, a 1ª Jornada Municipal de Pacifi cação 
Restaurativa reuniu na cidade importantes autoridades e parceiros por 
ocasião da assinatura do Convênio entre a Prefeitura Municipal e o Tribunal 
de Justiça, ofi cializando a parceria com o Poder Judiciário para implantação 
do Núcleo e Centrais de Pacifi cação. 
Além do representante da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, 
Cláudio Vieira da Silva, e de uma delegação da ONG Terre des Hommes, 
que promove Justiça Restaurativa nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, 
liderada por Anselmo de Lima, o encontro foi prestigiado pelo Presidente do 
Tribunal de Justiça, Desembargador Marcelo Bandeira Pereira, pelo 1º Vice-
-Presidente do Tribunal, Desembargador Guinther Spode, pelo Corregedor-
-Geral da Justiça do Estado, Desembargador Orlando Heemann Júnior, 
e pelo Corregedor Nacional de Justiça em exercício, o Conselheiro do 
Conselho Nacional de Justiça e Desembargador Federal Guilherme Calmon 
Nogueira da Gama. 
Na ocasião, o Desembargador Guilherme Calmon parabenizou todos os 
envolvidos pela coragem de investir na construção de uma justiça autêntica 
para o século XXI. “É preciso alterar o olhar no âmbito das lesões e 
A nova lei estabelece que práticas restaurativas, o atendimento às 
necessidades das vítimas e a autocomposição de conflitos devem ser 
usados preferencialmente, de forma a dispensar a intervenção judicial e a 
imposição de medidas aos adolescentes infratores.
Revista da Paz
23
dos confl itos. É preciso criar a ideia de corrigir os erros para que haja a 
reconstrução da sociedade”, ressaltou. O Presidente do Tribunal de Justiça, 
Marcelo Bandeira Pereira, destacou a sensibilidade do Prefeito Alceu 
para fazer com que o convênio fosse fi rmado. “Esta iniciativa é louvável 
e não podíamos deixar de nos fazer presentes”. Conforme o Prefeito, o 
projeto foi encarado com muita determinação e seriedade. Alceu destacou 
a preocupação da Administração Municipal em cuidar das pessoas. 
“Nossa cidade é pujante economicamente, mas é preciso também haver 
solidariedade. E esta iniciativa tem tudo para dar certo, pois promove a paz 
acima de tudo” afi rmou.
Na solenidade foi apresentada à Comunidade caxiense a equipe de 19 
pessoas que já vinham atuando diretamente junto ao Núcleo e às Centrais 
de Pacifi cação, e também foram diplomados os 25 novos facilitadores 
formados pela Professora Kay Pranis.
Núcleo de Justiça Restaurativa e Central Judicial de Pacifi cação Restaurativa
Central de Pacifi cação Restaurativa da Rede da Infância e da Juventude
Central Comunitária de Pacifi cação Restaurativa – Zona Norte
5 de novembro de 2012
5 de junho de 2013
19 de julho de 2013
Cronograma de início das atividades
Agosto de 2013 
Conselho Gestor: pacificar a 
cidade é compromisso de todos
Concluída a instalação do Núcleo e das Centrais, em agosto de 2013 também 
foi ofi cializada a instalação de um Conselho Gestor da Política de Pacifi cação 
Restaurativa, que deverá servir como espaço de articulação e compartilhamento 
de informações, sendo integrado por representantes dos diversos segmentos 
institucionais envolvidos no programa de pacifi cação restaurativa. O Conselho 
Gestor é integrado pela Secretaria Municipal de Segurança Pública e Proteção 
Social, pelo Centro Judiciário de Resolução de Confl itos e Cidadania, pela 
Fundação Caxias do Sul e pela Universidade de Caxias do Sul. Também 
possuem assento no órgão, segundo o projeto original, a Fundação de 
Assistência Social do Município, o Ministério Público e a Defensoria Pública. 
Na elaboração do seu regimento interno, o Conselho Gestor já cogita a 
Paz Restaurativa
24
Caxias da Paz
Julho – Outubro de 2013 
Curso de Pacificação Social reúne 
350 servidores e lideranças 
comunitárias 
Ao longo do segundo semestre de 2013, a Secretaria Municipal de Segurança 
Pública e Proteção Social e a Guarda Municipal promoveram o Curso de Gestão 
de Processos de Pacifi cação Social, parte do projeto Gestão Local da Violência e 
Criminalidade, por meio de um convênio entre o Governo Federal e o Município. 
Os alunos, integrantes de políticas públicas que atuam em interface com a 
segurança e em organizações da sociedade civil, foram divididos em cinco turmas 
considerando a proximidade geográfi ca entre as regiões administrativas, a fi m de 
promover a aproximação das instituições. 
Trezentas e cinquenta pessoas participaram da formação, que teve uma carga horária 
total de 140 horas – das quais foram dedicadas 10 horas para uma introdução 
aos conceitos da Justiça Restaurativa, ministradas pelo Prof. Afonso Armando 
Konzen, coordenador do Núcleo de Justiça Restaurativa da Escola da AJURIS. 
Durante outras 20 horas do curso, os alunos conheceram a metodologia das Práticas 
Circulares para Construção da Paz, com as formadoras Fátima De Bastiani e Lenice 
Pons Pereira, que contaram com o apoio de voluntários e integrantes da equipe do 
Núcleo de Justiça Restaurativa de Caxias do Sul. O curso teve ainda 10 horas-aula 
dedicadas à mediação de confl itos, ministradas por Eliana Giusto e Ronaldo Karnal.
ampliação de seus componentes para incluir outras instituições como Secretaria 
Municipal de Educação, Secretaria Municipal de Saúde, 4ª Coordenadoria 
Regional de Educação, Brigada Militar e Polícia Civil.
O Conselho Gestor decidiu também pela criação de uma Coordenação 
Executiva, integrada pelas quatro instituições que ancoram o projeto – 
Secretaria Municipal de Segurança Pública e Proteção Social, CEJUSC/Poder 
Judiciário, Universidade de Caxias do Sul/Faculdade de Direito e Fundação 
Caxias do Sul, responsável pela implementação das decisões do Conselho e 
para concentrar as atividades num nível mais operacional. Além de gerenciar 
o processo de implantação e as atividades do Núcleo e das três Centrais de 
Pacifi cação, o Conselho Gestor vem se dedicando a elaborar o projeto de Lei 
Municipal para instituir e regulamentar a aplicação da Justiça Restaurativa 
como política pública permanente em Caxias do Sul.
25
Paz Restaurativa
Novembro de 2013 
Primeiro ano do projeto 
foi concluído com formação 
inspirada no modelo das 
conferências australianas
O encerramento do primeiro ano de atividades do projeto foi marcado pela 
formação de três novas turmas de facilitadores restaurativos, a cargo dos 
Professores Jean Schmitz e Keila Carvalho. Belga radicado no Peru, Jean é o 
representante para a América Latina do Instituto Internacional de Práticas 
Restaurativas, do norte-americano Ted Wachtel – um dos mais proeminentes 
difusores da Justiça Restaurativa naquele País, que adota metodologias 
adaptadas a partir do modelo australiano de conferências de Justiça 
Restaurativa – desenvolvida pelo policial Terry O’Connel e conhecida como 
“Modelo Wagga Wagga”. 
A formação intensiva de 40 horas-aula objetivou ampliar as opções 
metodológicas das práticas restaurativas aplicadas em Caxias do Sul. Umgrupo de 30 
dos facilitadores já atuantes junto às Centrais foi habilitado para a aplicação 
de abordagens rápidas e objetivas de Justiça Restaurativa, principalmente em 
confl itos de menor complexidade. 
Uma versão compacta da formação com 20 horas-aula foi proporcionada para 
outros 60 alunos, divididos em duas turmas, na sua maioria guardas municipais 
e policiais militares. O objetivo da formação foi integrar as forças policiais para 
que possam imprimir uma condução restaurativa desde o início do atendimento 
das ocorrências, ou mesmo facilitar o encaminhamento de soluções restaurativas 
para confl itos sem expressão criminal ou de menor potencial ofensivo.
26
Caxias da Paz
27
Um lugar para buscar justiça
na comunidade
Núcleo de JR tem por objetivo difundir 
as práticas restaurativas na solução de 
confl itos com a participação das famílias, 
amigos e comunidades
28
Caxias da Paz
O Núcleo de Justiça Restaurativa de Caxias do Sul é resultado de 
uma articulação interinstitucional entre o Poder Executivo Municipal 
(representado pela Secretaria Municipal de Segurança Pública e Proteção 
Social), o Poder Judiciário (representado pelo Centro Judiciário de Solução 
de Confl itos e Cidadania – CEJUSC), a Academia (representada pela 
Universidade de Caxias do Sul, através da Faculdade de Direito) e da 
sociedade civil (representada pela Fundação Caxias). 
O objetivo do Núcleo é desenvolver uma política pública de pacifi cação 
social através de um conjunto de ações desencadeadas pelos órgãos públicos 
na prevenção e no controle da violência, notadamente os que atuam nas 
áreas da Justiça, Segurança, Assistência, Educação e Saúde, em colaboração 
com organizações da sociedade civil. 
Segundo justifi cado no projeto que lhe deu origem, a intenção é “oferecer 
reações sociais curativas, sistemáticas e continuadas para enfrentar situações 
disruptivas mediante o reatamento dos laços sociais rompidos, promover o 
coesionamento do tecido social e (re)construção do senso de pertencimento 
e de comunidade, como forma de interrupção das espirais confl itivas, 
objetivando prevenir e reverter as cadeias de propagação da violência”.
Para isso, as ações do Núcleo são fundamentadas nos princípios e nas 
práticas da Justiça Restaurativa, visando a promover a cultura de paz.
CEJUSC
Prefeitura de 
Caxias do Sul
Fundação
Caxias
Universidade de 
Caxias do Sul
Poder JudiciárioPoder Executivo
Sociedade civilAcademia
29
Núcleo de Justiça Restaurativa
Além de promover a integração interinstitucional, o Núcleo de Justiça 
Restaurativa de Caxias do Sul responde pela gestão administrativa, 
formações, avaliações, difusão e supervisão técnica das práticas restaurativas. 
O Núcleo é composto pela Central Judicial de Práticas Restaurativas 
(Fórum), pela Central Comunitária de Práticas Restaurativas (Centro de 
Referência de Assistência Social, CRAS Norte) e pela Central de Práticas 
Restaurativas da Infância e da Juventude (Universidade de Caxias do Sul).
Um diferencial com relação aos projetos-piloto que introduziram a Justiça 
Restaurativa no Brasil a partir de 2005 é que a iniciativa não se limita a testar a 
aplicação das práticas restaurativas a casos isolados, mas envolve a implantação de 
uma estrutura sustentada por investimentos públicos com o fi m de consolidar, de 
maneira sistêmica, um conjunto de ações e serviços que objetivam difundir a cultura 
de paz e incorporar as práticas restaurativas nos mais diversos âmbitos das políticas 
públicas e espaços de convivência social e comunitária.
Tem-se observado que a maioria dos participantes dos processos de JR fi cam 
satisfeitos com a experiência e com os resultados. As vítimas expressam que os 
benefícios incluem: sentir-se escutado e reconhecido, receber respostas para dúvidas 
pessoais, ter a experiência de uma sensação de segurança aumentada e, em alguns 
casos, até receber restituição fi nanceira. Além disso, percebe-se que participar da 
elaboração dos itens do plano de compromissos para o ofensor cumprir é muito 
importante para algumas vítimas. 
Central JUDICIAL
de Práticas 
Restaurativas
Central 
COMUNITÁRIA 
de Práticas 
Restaurativas
Central de Práticas 
Restaurativas da 
INFÂNCIA
e da JUVENTUDE
30
Caxias da Paz
Cada Central tem um coordenador e uma equipe de facilitadores, alguns servidores 
com dedicação exclusiva e voluntários que dedicam alguns turnos semanais para 
a realização de Círculos. Os profi ssionais e voluntários que atuam nos Núcleos já 
passaram por capacitação nos conceitos de Justiça Restaurativa e foram preparados 
para serem facilitadores de Círculos de Construção de Paz.
A função do Núcleo e das três Centrais de Pacifi cação (que atualmente 
envolvem um total de 13 profi ssionais, na maioria servidores designados 
ou contratados pelo Município, junto a diversos outros que atuam como 
voluntários) não é absorver a totalidade dos confl itos, mas promover a 
difusão e o compartilhamento dessas competências sociais estratégicas para 
que a cidade possa aprender a agir preventivamente, de forma a desarticular 
as espirais confl itivas, estabilizar relacionamentos potencialmente 
disruptivos e harmonizar ambientes de convivência social. 
Espaços de convergência e referenciamento das contribuições 
institucionais, recursos humanos, materiais, acadêmicos e 
demais esforços investidos no Projeto
Visa articular, mobilizar, capacitar, gerenciar e avaliar
o processo de implantação e implementação
Braço executivo da Política Municipal
de Pacifi cação Restaurativa
Composto de três Centrais de Pacifi cação
e uma Assessoria Técnica
Revista da Paz
31
31
Casos judicializados têm 
oportunidade de encontrar um 
novo desfecho com as práticas 
restaurativas
Central Judicial: Laboratório
e Centro de Difusão 
32
Caxias da Paz
A Central Judicial de Pacifi cação Restaurativa deu início às atividades 
em 3 de novembro de 2012. Até o início de outubro de 2013, os Círculos de 
Construção de Paz haviam sido aplicados em 164 casos, com a participação de 
1.104 pessoas.
Essa Central é coordenada por Paulo Henrique Moratelli, psicólogo e servidor 
da Fundação de Assistência Social (FAS). Moratelli atua também como 
Facilitador, assim como a advogada e educadora social da FAS, Franciele Lenzi 
Ferreira. Vanessa Campos colabora como agente administrativa.
Os Círculos promovidos pela Central buscam resolver os casos que antes 
corriam apenas pelo processo judicial tradicional. A partir da realização do 
Círculo de Construção de Paz é criado um Termo de Acordo, que precisa ser 
cumprido pelas partes. Ao receber o documento, o Juiz do processo analisa 
os termos e homologa ou não o acordo. “Tomamos muito cuidado para que 
os acordos feitos nos Círculos estejam em conformidade com a Lei, sejam 
exequíveis e equilibrados entre as partes”, explica Moratelli. Depois disso são 
realizados pós-círculos para monitoramento dos acordos que foram fi rmados. 
A cada pós-círculo o termo de acordo pode ou não ser modifi cado, de acordo 
com a necessidade de cada caso.
Um exemplo de aplicação típica de Justiça Restaurativa realizada pela Central 
Judicial de Pacifi cação Restaurativa pode ser compreendida no caso a seguir:
Atos infracionais, pequenos delitos, 
disputas de vizinhança, confl itos 
intrafamiliares e violação de 
direitos de crianças são exemplos 
do que tem sido resolvido através 
de práticas restaurativas.
Juizado da Infância e da Juventude (Rotina)
 Infrações penais (Atos Infracionais)
 Círculos Restaurativos com vítimas, infratores e suas comunidades em casos de Atos Infracionais
 Círculos Familiares, sem vítima, foco na infração = pactuação dos PIAs = maior compreensão,responsabilização, comportamento e coesionamento
 Confl itos familiares (Jurisdição protetiva)
 Círculos Familiares focos situação confl itiva ou de risco motivadora da intervenção jurídico-protetiva
Juizado Especial Criminal, Vara da Violência Doméstica, 
Juizado Especial Cível, Varas Cíveis (Experimental)
 Infrações Penais pequeno potencial ofensivo, confl itos familiares e/ou de proximidade
“Laboratório de Práticas & Centro de Formação em Serviço”
 Infrações Penais pequeno potencial ofensivo, confl itos familiares e/ou de proximidade
33
Central da Paz Judicial
Ameaçados por dois rapazes armados de revólver, dois empregados de um restaurante não 
tiveram opção senão entregar o malote no qual transportavam 15 mil reais para serem 
depositados no banco. As investigações apontaram quatro infratores, três deles menores 
(dois já tinham trabalhado no restaurante, um deles ainda estava empregado no local). 
A vítima e todas as testemunhas haviam sido ouvidas e o processo estava pronto para 
julgamento. Pela gravidade, o fato justifi caria o Juizado da Infância e Juventude internar 
os três adolescentes no CASE. A vítima, porém, insistia na devolução do dinheiro. Tanto os 
jovens como suas famílias, bastante envergonhadas, se propunham a restituir o valor. 
O processo foi suspenso e um Círculo com a presença da vítima resultou em acordo. 
Os jovens cumpririam as medidas de liberdade assistida e, a título de reparação dos 
danos, cada um devolveria R$ 3.750,00 à vítima. Foi combinado que os pagamentos 
seriam feitos com o próprio trabalho dos jovens. Por isso, durante meses, eles tiveram de 
comparecer pessoalmente para pagar suas prestações no mesmo restaurante que haviam 
assaltado. Os acordos foram cumpridos, a sentença nunca foi prolatada e foram poupadas 
três vagas no CASE. Os três jovens se reorganizaram e, até então, não se envolveram mais 
em delitos. Todos experimentaram um processo de responsabilização e amadurecimento 
cujos resultados provavelmente seriam muito diferentes caso tivessem fi cado um ou dois 
anos presos. Num contato recente com o facilitador, a vítima avaliou positivamente o 
resultado. Inclusive, lamentou não ter conseguido reaver a parte do dinheiro por parte do 
outro jovem envolvido que, por ser maior de idade, não teve seu caso encaminhado à 
Justiça Restaurativa. (Facilitadores: Alceu Valim de Lima e Fátima De Bastiani)
Justiça Restaurativa se 
consolida no Judiciário
O coordenador da Central explica que durante este ano de aplicação de 
Círculos de Construção de Paz em processos judicializados a Central 
ganhou muito espaço dentro do Judiciário. “Os Juízes começaram a 
ver resultados positivos a partir dos Círculos e a encaminhar casos. 
Foi também uma fase de consolidação da proposta entre a rede 
socioassistencial”, comemora Moratelli.
A credibilidade do trabalho da Justiça 
Restaurativa cresce entre Juízes, 
Promotores, rede socioassistencial e 
comunidade
34
Caxias da Paz
Integração com o Judiciário 
facilita trabalho
O contato direto com autoridades agiliza 
os procedimentos e dá segurança para 
casos de maior potencial ofensivo
O peso da culpa
Um menino de 12 anos e seu irmão andavam de bicicleta por uma das ruas do bairro onde 
moram com a família. Na mesma ocasião, um senhor idoso caminhava pela mesma via. 
Ao colidirem as bicicletas, os irmãos perderam o controle dos veículos e um deles acabou 
atropelando o idoso, com saúde bastante frágil, que veio a falecer no hospital algum 
tempo depois. O garoto foi processado por homicídio culposo. O sentimento de culpa o 
atormentava. Antes sempre um bom aluno, acabou reprovado. Vivia sobressaltado, com 
medo da polícia. A mãe deixou de fazer compras no mercado do bairro, onde a filha da 
vítima trabalhava. As famílias, que eram vizinhas há muitos anos, não se falavam mais. 
Um Círculo com as duas famílias foi realizado pela Central Judicial. A filha do idoso contou 
que enquanto o pai estava no hospital os médicos descobriram um fungo em seu pulmão. 
Se o idoso não tivesse sido hospitalizado (por causa do acidente) provavelmente teria 
transmitido a doença para outras pessoas. Ela também declarou no Círculo que perdoava 
o menino pela morte do pai, e que, do seu ponto de vista, não existiam culpados nesta 
situação. Ela pediu que o menino voltasse a frequentar a sua casa. Ao final do encontro, 
a família do menino foi embora de carona com a filha do senhor. O processo foi arquivado 
sem nenhuma sanção para o menino, que retomou seu bom desempenho escolar. Aliviadas, 
as famílias voltaram a se relacionar. (Facilitadoras: Franciele Lenzi e Katiane B. da Silveira)
A partir das experiências concretas, um padrão de atendimento está sendo 
desenvolvido. “Neste ano muito trabalho foi investido na elaboração e 
construção de material próprio, e isso foi realizado à medida que os casos 
eram tratados. A partir de agora, como isso já está superado, teremos mais 
tranquilidade nos procedimentos”, afi rma o coordenador. 
De acordo com Moratelli, um dos grandes desafi os é conseguir maior apoio 
da rede socioassistencial. “Estamos no momento de conquista do coração 
das pessoas envolvidas. Estamos mostrando que vale a pena sentar por 
algumas horas para resolver cada caso desses, porque isso traz resolutividade 
a situações complexas, que se arrastavam há anos”, explica.
35
Central da Paz Judicial
A pedagoga Katiane Boschetti da Silveira afi rma que, se o caso não tivesse 
sido encaminhado para um procedimento restaurativo, os detalhes da 
história nunca teriam sido descobertos. “O fato de ele se sentir perdoado 
e não culpado possibilitou que retomasse sua vida”, acredita Katiane, que 
foi a facilitadora deste caso, encaminhado à Central Judicial de Pacifi cação 
Restaurativa. 
A Central Judicial de Pacifi cação Restaurativa funciona dentro do Fórum, o 
que proporciona proximidade entre os facilitadores e o sistema judiciário. 
O psicólogo e coordenador Paulo Moratelli explica que o fato de a Central 
estar situada no prédio do Judiciário também favorece os atendimentos, já que 
o ambiente oferece segurança e traz respeitabilidade para o processo. “É muito 
mais fácil você convidar, chamar ou intimar as pessoas estando aqui dentro. 
As pessoas começam a perceber que é uma coisa séria. Fica muito claro que, se 
os acordos previstos no Círculo não se cumprirem, isso trará consequências”, 
destaca o psicólogo.
De acordo com o Juiz Leoberto Brancher, além do pioneirismo em 
instituir uma política pública restaurativa no âmbito municipal, no âmbito 
judicial a introdução da JR está sendo conduzida de forma a constituir um 
modelo organizacional apto a ser replicado noutras Comarcas. Isso porque 
as práticas restaurativas estão sendo integradas aos serviços do Centro 
Judiciário de Solução de Confl itos e Cidadania (CEJUSC) – órgão que está 
sendo criado nas principais cidades brasileiras, a partir da Resolução n. 125/2009 
do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). 
A arquitetura institucional que está sendo modelada em Caxias facilitará a 
difusão da Justiça Restaurativa também em outras Comarcas, pois a experiência 
caxiense parte da defi nição de um espaço institucional onde a JR pode ser 
instalada no Poder Judiciário. Essa contribuição pode ser favorecida também 
por oferecer alguns padrões de procedimentos, já testados, sistematizados e 
prontos para serem multiplicados. 
A inclusão das práticas restaurativas no menu de atendimento do CEJUSC, 
aliás, é um modelo organizacional que vem sendo referendado pelo Tribunal 
do Rio Grande do Sul, e sua difusão já começou, como é o caso de Pelotas, 
onde a JR foi introduzida na Comarca via CEJUSC, e em Porto Alegre, onde 
o Tribunal estuda um plano para que a Central de Práticas Restaurativas do 
Juizado da Infânciae da Juventude seja absorvida pelo CEJUSC do Foro da 
Capital.
36
Caxias da Paz
Metas da Central Judicial 
de Pacificação Restaurativa
Moratelli afi rma que o desafi o dessa Central é conquistar mais espaço dentro 
do Sistema Tradicional de Justiça. O apoio da comunidade também é fator 
importante, já que os Círculos Restaurativos podem ser muito úteis para 
resolver situações confl ituosas de uma forma mais criativa, com a participação 
de todos os envolvidos. Além disso, o processo contribui para eliminar 
despesas públicas. “Tratamos o caso de uma família em que nove irmãos 
estavam institucionalmente acolhidos. Cada criança residente naquela Casa de 
Acolhimento custava em média R$ 5 mil por mês para o Município. Por meio 
dos Círculos, pudemos restituir essas crianças ao cuidado dos pais. Eliminamos 
um gasto de aproximadamente R$ 45 mil reais mensais para a Administração 
Pública, além de – e isso é o mais importante – proporcionar que elas voltassem 
para sua família de origem”, explica o psicólogo. 
Moratelli destaca também as vantagens do método quando se trata de casos 
envolvendo adolescentes em confl ito com a lei, como no relato a seguir:
Círculo de Construção de Paz 
aplaca ameaças de morte entre 
adolescentes 
Um dos adolescentes que cumprem medida socioeducativa no CASE estava sendo ameaçado de 
morte por outros três internos. Para evitar uma situação grave de confl ito que pudesse terminar 
em morte, a transferência do menino estava sendo providenciada. Depois de conversar 
com todos, o facilitador da Central Judicial de Pacificação Restaurativa concluiu que 
cada um dos rivais do rapaz tinha um motivo diferente para querer a sua morte, mas 
todos estavam dispostos a conversar para resolver a questão. Um Círculo de Construção 
de Paz foi promovido com os quatro adolescentes e dois apoiadores. Os conflitos foram 
resolvidos e todos permaneceram cumprindo sua medida na mesma unidade sem que 
ocorresse alguma agressão entre eles. (Facilitador: Paulo Moratelli)
Para Moratelli, um jovem que consiga, depois de um encontro como 
esse, ressignificar seus comportamentos, se responsabilizar por seus 
37
Central da Paz Judicial
atos, assumir o controle sobre si e a partir disso construir uma história 
diferente, representa um ganho social imensurável. “O que isso representa 
para a sociedade? É algo que não tem preço”, afirma o psicólogo. Ele 
conclui que cada caso tratado pelo Círculo também representa um 
benefício para toda a comunidade, já que uma situação particular bem 
resolvida traz sensação de segurança para outras pessoas. “O que está se 
construindo em Caxias é muito concreto, e a cidade carece muito de uma 
cultura de paz”, alerta o psicólogo.
Crianças também ganham 
voz nos Círculos de Justiça 
Restaurativa 
Uma mãe drogadita, um pai violento e cinco crianças de uma mesma família afastadas 
do lar e enviadas para uma Casa de Acolhimento Institucional. Um deles ainda bebê, e os 
demais com 3, 7, 10 e 12 anos. Todas as provas já haviam sido produzidas e o processo 
de perda do poder familiar estava pronto para o julgamento. Entretanto, as promessas 
de regeneração dos pais, apoiados pela avó e uma tia, para reaverem os filhos, eram 
convincentes. Um Círculo de Construção de Paz foi realizado com a família, e o resultado 
parecia muito positivo. Tudo se encaminhava para a volta das crianças para casa, mas um 
Círculo realizado apenas com as crianças, do qual apenas não participou o bebê, mudou 
novamente o rumo do processo. Os pequenos revelaram em detalhes uma rotina de 
opressão, agressões, maus-tratos, violência e negligência. Surpreendentemente, pediram 
para não voltarem para casa. A Justiça ouviu, e as crianças foram afastadas dos pais 
agressores. (Facilitadores: Miriam Baumgarten Rauber e Paulo Moratelli)
“Apelação Civil. Destituição do poder familiar. Depoimentos testemunhais não presenciados 
pelos genitores. Ausência de prejuizo à defesa. Juntada dos relatórios resultantes dos Círculos 
restaurativos. Ausência de ilegalidade. Instrumentos idôneos e aptos a colaborar com a formação 
do convencimento do magistrado. Ativismo judicial. Situação fl agrante vulnerabilidade. Mãe usuária 
de drogas. Genitor que castigava imoderadamente os fi lhos. Ausência de alteração no quadro 
vivenciado. Art. 1.638, I, II e III, do Código Civil. Art. 22 do ECA – A ausência de ilegalidade na 
juntada aos autos dos Relatórios provenientes dos “Círculos Restaurativos” realizados, porquanto 
são documentos idôneos produzidos com o fi to único de dar ao julgador mais subsídios, com 
lastro científi co, para a formação de sua convicção quanto ao destino dos irmãos. Ativismo judicial 
pertinente e inovador”. (Apelação Cível N. 70054290002, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça 
do RS, Relator: Ricardo Moreira Lins Pastl, Julgado em 15-08-2013)
Caxias da Paz
38
A maioria dos casos atendidos pela Central Judicial são oriundos do Juizado 
da Infância e da Juventude. Essa Central, porém, está apta a atender casos 
encaminhados pelas diversas áreas jurisdicionais, o que vem permitindo 
oferecer as práticas restaurativas como parte do menu de soluções 
autocompositivas que pode ser acessado através do CEJUSC. 
Foi esse o caso da disputa civil relatada a seguir, em que um Círculo 
Restaurativo foi intercalado entre sessões de mediação:
Vizinhos, inimigos e irmãos
Eram irmão e irmã, mas há muito não se falavam. As brigas pelas terras da família 
tinham se agravado ao ponto de se transformarem em agressões e ameaças de morte. 
Sob a forma de um processo em andamento numa Vara Cível, o conflito foi encaminhado 
para mediação. Identificada a questão de fundo afetivo preponderante sobre o conteúdo 
patrimonial, a mediação foi suspensa com apoio dos advogados, e abriu-se espaço 
para a realização de um Círculo de Construção de Paz. Durante o Círculo, mágoas e 
ressentimentos tomaram o lugar da discussão da herança. Frente a frente, auxiliados 
por um facilitador experiente, irmão e irmã, acompanhados por seus cônjuges, puderam 
desabafar anos e anos de rancores acumulados. Analisaram a origem dos conflitos e 
propuseram soluções para as desavenças. Terminado o Círculo, irmão e irmã saíram 
conversando lado a lado e entraram juntos no elevador, coisa até então inconcebível 
entre eles. Ao retornarem à sessão de mediação com os advogados, com as emoções 
harmonizadas, a divisão de terras transcorreu tranquilamente. Até uma indenização por 
prejuízos e danos morais decorrentes de uma agressão entre eles foi acertada. Os irmãos 
chegaram a um acordo, e o processo foi finalizado pacificamente. Através do Círculo, a 
família, antes inimiga, encontrou paz. (Facilitadores: Franciele Lenzi e Paulo Moratelli)
Revista da Paz
39
Conviver pacifi camente, vivenciar 
valores positivos e aprender a 
relacionar-se com o diferente é o 
caminho para uma vida de paz
39
Justiça que se aprende na infância 
40
Caxias da Paz
A Central de Práticas Restaurativas da Infância e da Juventude foi 
inaugurada no dia 5 de junho de 2013. Até o fi nal de outubro de 2013, 
haviam sido realizados um total de 120 encontros restaurativos, relativos ao 
atendimento de 27 casos de confl itos (incidentes relativos a fatos concretos, 
que implicaram um total de 88 encontros incluindo pré-círculos, círculos e 
pós-círculos), e outros 32 encontros de sensibilização e/ou de prevenção de 
confl itos. Esses encontros envolveram um total de 749 pessoas. 
Briga de meninas vira 
inimizade de gente grande
As duas adolescentes de 14 anos eram colegas do oitavo ano do ensino fundamental 
quando brigaram na saída do colégio, resultando em uma delas com lesões corporais. 
Somente um ano depois, o caso entrou em pauta na Vara da Infânciae da Juventude. 
Mesmo passado tanto tempo, o conflito não perdera sua atualidade. Pior, evoluíra para uma 
desavença entre as famílias. Novos boletins de ocorrência foram registrados, desta vez por 
ameaças. O caso foi encaminhado para um procedimento restaurativo. Com a participação 
das duas famílias, o encontro em forma de Círculo de Construção de Paz mostrou que o 
conflito entre as meninas vinha de longa data. Desde o quinto ano do Ensino Fundamental 
elas discutiam frequentemente. Uma delas viera de outra cidade, tinha hábitos interioranos 
e seu modo de vestir era motivo de chacota. A colega a chamava de “pano de chão”, e 
ela revidava chamando-a de “patricinha”. Já haviam sido chamadas muitas vezes para as 
tradicionais reuniões de aconselhamento, inclusive envolvendo familiares, mas o conflito não 
se resolvia. As desavenças evoluíram para as agressões relatadas. Uma das meninas trocou 
de escola depois do fato. Mas havia outras crianças das mesmas famílias que permaneciam 
no colégio, e o conflito se desdobrava entre elas. E foi além da escola, tensionando a 
vida das famílias na comunidade. Embora vizinhos, evitavam frequentar os mesmos 
lugares. Encontros ocasionais entre familiares, adultos, crianças e adolescentes faziam 
aflorar a hostilidade, com ameaças e até a iminência de agressões. O Círculo permitiu não 
somente às garotas, mas também aos familiares, desabafarem o mal-estar gerado pela 
rivalidade. As meninas reconheceram terem sentimentos em comum. Embora constassem 
no processo como ofensora e vítima, ambas admitiram ter praticado agressões. Frente a 
frente com a realidade e lado a lado com suas famílias, as duas perceberam a dimensão das 
consequências de seus atos. Sentiram-se responsáveis e arrependidas pela grande confusão 
em que tinham envolvido os familiares. Decidiram então pedir desculpas recíprocas, e aos 
seus familiares, e dar um fi m às provocações. O processo foi arquivado, e as famílias voltaram a 
conviver pacifi camente. (Facilitadoras: Franciele Lenzi e Katiane B. da Silveira)
41
Casos como este agora podem ter dispensadas as tramitações na polícia, 
Ministério Público, Juizado da Infância e da Juventude, pois já podem ser 
resolvidos preventivamente na Central de Práticas Restaurativas da Infância e 
da Juventude. A Central atende casos de confl ito entre crianças e adolescentes 
e seu entorno familiar e comunitário, com o intuito de prevenir que evoluam 
negativamente e, até mesmo, que se transformem em processos judiciais. 
O espaço ocupado pela Central da Infância e da Juventude é cedido pela 
Faculdade de Direito da Universidade de Caxias do Sul. 
A equipe da Central é composta pela pedagoga Katiane Boschetti da 
Silveira, que atua como coordenadora e facilitadora, pela assistente social 
Marí Ângela Stallivieri e pela professora de letras e bacharel em Direito 
Rachel Marques, que atuam como facilitadoras. Henrique Simionato, aluno 
de Direito da UCS, colabora como secretário. Diversos voluntários auxiliam 
na realização dos Círculos. Katiane, Marí Ângela e Henrique trabalham em 
turno integral. Rachel trabalha meio turno.
A Central atende casos encaminhados sobretudo por Escolas, mas também 
pode receber encaminhamentos da Guarda Municipal, Brigada Militar, 
Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente, Conselho Tutelar, 
Centros de Referência em Assistência Social (CRAS e CREAS), Ministério 
Público, Defensoria Pública, Casas de Acolhimento, Centros Educativos, 
comunidade. Depois que o atendimento é solicitado, a Central tem o prazo 
de 90 dias para concluir o procedimento restaurativo. 
O propósito da Central é acelerar 
o atendimento a confl itos e 
infrações de menor potencial 
ofensivo envolvendo crianças e 
adolescentes, como forma de 
estabilizar a convivência familiar 
e comunitária e de evitar a 
abertura de processos judiciais. 
Um protocolo entre a Secretaria 
Municipal de Segurança Pública 
e Proteção Social, o Juizado, 
a Promotoria, a Defensoria, a 
Polícia Civil, a Brigada Militar e a 
Guarda Municipal possibilita que 
infrações de menor relevância 
sejam resolvidas mediante 
práticas restaurativas. A intenção 
é proporcionar soluções mais 
rápidas, econômicas e efetivas 
do que as oferecidas pelas vias 
tradicionais. 
Demandas dos serviços municipais que atendem
à clientela infantojuvenil
 Confl itos envolvendo crianças, adolescentes e seus entornos familiares, comunitários e dos 
serviços de atendimento
Difusão dos métodos circulares na rede especializada de 
Assistência, Educação e Saúde
 Escolas, Centros Educativos, Instituições de Abrigo, CRASs e CREAS, Guarda Municipal,
 Conselhos Tutelares
Situações confl itivas de natureza não infracional envolvendo 
crianças e adolescentes usuários do Sistema
 Infrações de menor potencial ofensivo, abordagem diversória
 Situações confl itivas intrafamiliares
 Situações confl itivas entre as famílias e servidores de atendimento
 Procedimento semelhante ao da Central Judicial
Aplicações em circunstâncias não confl ituais
 Círculos de Construção de Senso de Comunidade (coesionamento familiar, comunitário e 
 institucional)
 Círculos de Diálogos, de Planejamento, de Cura, de Refl exão, etc.
“Centro de Difusão da JR para a Rede da Infância e Juventude”
Central da Paz - Infância e Juventude
42
Caxias da Paz
“O trabalho de prevenção é a 
nossa principal meta. Acreditamos 
que é mais fácil armar os jovens 
com valores, ferramentas que 
vão ajudá--los quando surgirem 
os confl itos, do que intervir 
depois que a situação já virou 
um grande problema ou, até, 
um caso de agressão. Resolver o 
confl ito de alguém é promover o 
bem de todos. Os membros de 
uma comunidade estão sempre 
interligados. Qualquer situação boa 
ou ruim tem um alcance muito 
abrangente; o mal ou bem de um 
atinge a todos”.
Katiane Boschetti da Silveira,
pedagoga e coordenadora da Central
de Práticas Restaurativas da Infância
e da Juventude
Vivenciando valores positivos
Experiência de resolução não violenta 
de conflitos desde a infância é o 
melhor caminho para prevenir 
incidentes violentos, harmonizar 
trajetórias de vida e evitar a 
multiplicação de processos judiciais
A verdade jogada pela janela
A avó reclamava que não conseguia mais lidar com ele. Queria livrar-se do “demônio” 
(como ela o chamava). O neto não lhe dava mais sossego. Na falta de outro familiar 
que o recebesse, o destino do menino seria o acolhimento institucional. Antes, porém, 
o Ministério Público encaminhou o caso para a Central de Práticas Restaurativas da 
Infância e da Juventude. No Círculo de Construção de Paz, o garoto revelou a raiz 
da sua perturbação. Segundo lhe contara a avó paterna, pela qual fora criado desde 
bebê, ele não teria sido apenas abandonado pela mãe, mas com apenas 11 meses 
de vida, fora por ela jogado para fora da janela de um carro em movimento. De fato, 
nessa ocasião a família se envolvera em um acidente de trânsito, quando o pai do 
menino dirigia embriagado. O veículo capotou. O casal e a criança se feriram e foram 
hospitalizados. Ainda no hospital, as famílias se desentenderam. O bebê teve alta antes 
dos genitores e a avó paterna o assumiu. Desde então não permitiu que a mãe visse 
o filho. Quinze anos se passaram sem que mãe e filho se falassem. No Círculo, a mãe 
revelou ter mentido à polícia para proteger o companheiro das consequências legais do 
crime de dirigir embriagado. Não era verdade que tivesse jogado o menino pela janela 
do carro. O menino perdoou a mãe e reatou os laços com ela. Hoje, eles moram juntos. 
O menino frequenta a escola e estabilizou seu comportamento. Mantém um ótimo 
relacionamento com a mãe e o padrasto.

Outros materiais

Outros materiais