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Resum_o G1 e G2

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1 
 
Pontifícia Universidade Católica do Rio e Janeiro 
Pe. Jesus Hortal 
Departamento de Direito 
Professor Adriano Pilatti 
Divisão de Direito Civil 
Professora Maria Celina Bodin de Moraes 
 
 
 
 2 
 Cadeira de Teoria do Direito Privado 
 Professora Caitlin Sampaio Mulholland 
 
I. DO DIREITO CIVIL-CONSTITUCIONAL 
 
Para entendermos o conceito de direito civil-constitucional, é 
imprescindível o empréstimo das noções clássicas de direito civil, principalmente 
no que concerne ao Código Napoleônico, mas também a dicotomia entre direito 
público e direito privado. 
O Código Francês de 1804 surgiu num contexto extremamente fértil, 
legado dos filósofos da luzes que apregoavam, em sua maioria, os valores 
antropocentristas e os ideais burgueses de liberdade e igualdade. A propriedade 
privada era o centro da economia européia e as relações patrimoniais ganhavam 
cada vez mais realce. O limite que separava o direito público do direito privado 
era claramente percebido, constituindo-se em duas esferas separadas e 
herméticas. De um lado o direito público cuidando das relações estatais, 
posicionando o Estado num centro subordinador. Do outro lado o direito 
privado atento exclusivamente às relações patrimoniais, protegendo-se os 
interesses individuais. 
Assim era formada a summa divisio, distanciando marcadamente o público 
do privado e conformando um direito civil afeito apenas às relações 
patrimoniais, coroado pelo Código Napoleônico. 
Acontece que o desenvolvimento dos Estados Constitucionais permitiu a 
evolução de um direito público que cuidasse de toda a esfera jurídica, com a 
conformação de constituições que passaram a ter efetiva força normativa e, 
portanto, deixaram de ser meras cartas políticas. O direito público começa a 
abraçar todos os ramos do direito, inclusive o direito civil, para impor os valores 
 3 
constitucionais aos diplomas legais de todas as naturezas. O auge do positivismo 
kelseniano aponta como ápice do ordenamento jurídico a Constituição, 
tornando-a suprema e transformando o ordenamento em um conjunto 
sistemático e orgânico, no qual todas as normas devem ser interpretadas 
conforme a Carta Maior, inclusive as leis civis. 
Desta feita, o limite entre direito público e direito privado começa a ficar 
turvo, e a legalidade constitucional ganha força, impondo sua tábua axiológica à 
interpretação das normas de direito civil. A primeira manifestação favorável a 
esta hermenêutica civil-constitucional surge na Alemanha por força de julgados 
da Corte Constitucional deste país. A corrente se alastrou pela Europa e ganhou 
força doutrinaria na Itália, onde surgiram os estudos pioneiros sobre o direito 
civil-constitucional. Esta doutrina chegou ao Brasil através de juristas que 
buscaram na Itália o conhecimento acerca dessa corrente, como a Professora 
Maria Celina Bodin de Moraes e o Professor Gustavo Tepedino. Hodiernamente, 
a corrente civil-constitucionalista vem se solidificando na doutrina e 
jurisprudência pátrias, através de mestres como Luiz Edson Fachin, Renan 
Lotufo e os já mencionados Tepedino e Bodin de Moraes. 
O direito civil passa a ser interpretado através de um prisma fornecido 
pelos valores constitucionais, dando-se prevalência aos princípios da dignidade 
da pessoa humana, da solidariedade social, da boa-fé objetiva, da função social 
do contrato e da propriedade, da objetivação da responsabilidade civil entre 
outros que nos fazem perceber o fenômeno da despatrimonialização do direito 
civil, entregando a ele um caráter existencialista, que privilegie a sociedade, a 
pessoa humana e o desenvolvimento de sua personalidade em busca do bem 
comum na melhor acepção do Papa João XXIII, desprivilegiando a hermenêutica 
patrimonialista. 
 
 4 
II. O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA 
 
A Constituição Federal estabelece como alicerce fundamental do Estado 
brasileiro o princípio da dignidade da pessoa humana. Desde as elucubrações 
kantianas que nos indicavam o homem como fim em si mesmo e igualmente a 
identificação do valor ético do homem em sua dignidade, até a perplexidade 
mundial perante as atrocidades do império nazi-fascista, viu-se a necessidade de 
se aprimorar a noção de dignidade humana e identificar o seu raio de aplicação. 
Tornou-se fundamental a tutela da pessoa humana e de sua dignidade para que 
se possa efetivamente construir um Estado Democrático de Direito. “De acordo 
com KANT, no mundo social existem duas categorias de valores: o preço e a 
dignidade. Enquanto o preço representa um valor exterior (de mercado) e 
manifesta interesses particulares, a dignidade representa um valor interior 
(moral) e de interesse geral. As coisas têm preço; as pessoas, dignidade. O valor 
moral se encontra infinitamente acima do valor de mercadoria, porque, ao 
contrário deste, não admite ser substituído por equivalente”. (Maria Celina 
Bodin de Moraes, Danos à Pessoa Humana, p.81) 
Sabemos que a Constituição encontra-se no ápice do ordenamento 
jurídico, e o seu conteúdo se impõe sobre todas as outras normas deste 
ordenamento. Assim, nota-se o princípio da dignidade humana entranhado em 
todas as relações normatizadas pelo Direito, inclusive as patrimoniais, que agora, 
passam a ser analisadas também pelo prisma existencialista. 
Ninguém melhor para discorrer sobre o assunto do que a Professora 
Maria Celina Bodin de Moraes, que em sua célebre obra Danos à pessoa humana, 
apresenta uma interpretação lógica deste princípio. Assim o indica a Professora, 
“O substrato material da dignidade assim entendida pode ser desdobrado em 
quatro postulados: i) o sujeito moral (ético) reconhece a existência dos outros 
como sujeitos iguais a ele; ii) merecedores do mesmo respeito à integridade 
 5 
psicofísica de que ele é titular; iii) é dotado de vontade livre, de 
autodeterminação; iv) é parte do grupo social, em relação ao qual tem a garantia 
de não vir a ser marginalizado. São corolários desta elaboração os princípios 
jurídicos da igualdade, da integridade física e moral – psicofísica -, da liberdade e 
da solidariedade”. 
Por fim, ainda utilizando os ensinamentos de Maria Celina, e para se 
entender a fundamentação do direito civil-constitucional e o papel do princípio 
da dignidade humana no direito civil, cita-se: “Como regra geral daí decorrente, 
pode-se dizer que, em todas as relações privadas nas quais venha a ocorrer um 
conflito entre uma situação jurídica subjetiva existencial e uma situação jurídica 
patrimonial, a primeira deverá prevalecer, obedecidos, assim, os princípios 
constitucionais que estabelecem a dignidade da pessoa humana como valor 
cardeal do sistema”. 
 
III. PESSOA FÍSICA 
 
Ingressamos no estudo da Teoria Geral do Direito Civil, tendo como 
primeiro objeto de análise a pessoa. Como já é sabido, em Direito, podemos 
diferençar as pessoas em físicas e em jurídicas. Assim, passamos ao 
entendimento a cerca do conceito de pessoa física. 
O conceito de pessoa ganha um viés todo especial na seara do Direito. 
Pode-se traçar uma noção jurídica de pessoa física: 
Pessoa física ou pessoa natural é todo ser humano que nasce com vida e, 
doravante, adquire personalidade jurídica. 
Desta forma, podemos ler os dois primeiros artigos do Código Civil, que 
nos indicam: 
 
 6 
Art. 1°. Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil. 
 
Art. 2°. A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei 
põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. 
 
Note-se, ademais, que o Direito não leva em consideração qualquer 
valoração ética ou moral para se determinaro que seja pessoa. O Direito se vale 
apenas de critérios objetivos, identificando que somente será considerada pessoa 
física aquela que nascer com vida, que no momento do parto passa a realizar 
interações biológicas com o meio por conta própria. É neste instante no qual a 
criança deixa o ventre materno e não mais depende da mãe para viver, num 
sentido fisiológico, que o Direito garante à ela a personalidade jurídica e, 
portanto, ela torna-se pessoa física. No dizer de Caio Mário: “A vida do novo ser 
configura-se no momento em que se opera a primeira troca oxicarbônica no meio 
ambiente. Viveu a criança que tiver inalado ar atmosférico, ainda que pereça em 
seguida. Desde que tenha respirado, viveu: a entrada de ar nos pulmões denota a 
vida, mesmo que não tenha sido cortado o cordão umbilical e a sua prova far-se-
á por todos os meios, como sejam o choro, os movimentos e essencialmente os 
processos técnicos de que se utiliza a medicina legal para a verificação do ar nos 
pulmões. A partir deste momento afirma-se a personalidade civil”. 
Asseveramos novamente, que só é possível falar-se em pessoa física, em 
ser humano dotado de personalidade jurídica a partir do nascimento com vida, 
da primeira troca de ar realizada pela criança. 
Desta feita, o feto, o embrião, o óvulo ou o espermatozóide jamais serão 
considerados pessoa, jamais possuirão personalidade. A utilização de vários 
ovos para as chamadas fertilizações artificiais nos conduz a um debate ético, mas 
do ponto de vista jurídico, não a que se falar em personalidade dos embriões ou 
 7 
dos óvulos. São eles considerados coisas, meros bens que podem ser objeto de 
negócios jurídicos. Há grandes discussões no que concerne à consideração do 
ovo como ser humano. É discutida pelo clero a imoralidade pela utilização 
maciça de ovos em pesquisas e fertilizações, por se considerar o ovo como uma 
potencialidade de vida humana. O Direito não abre espaço a tal discussão, mas já 
é fixado pela medicina nacional um limite de utilização de tais ovos: 
 
Resolução Nº 1.358/92 (CFMB): 6 - O número ideal de oócitos e pré-embriões a 
serem transferidos para a receptora não deve ser superior a quatro, com o intuito de não 
aumentar os riscos já existentes de multiparidade. 
 
Outro conceito deveras importante é o de nascituro. Nascituro é o feto, é a 
forma humana que está se desenvolvendo no útero materno, é o ser que ainda 
não nasceu. Como já sabemos, o nascituro, por ainda não ter nascido, não tem 
personalidade jurídica! “Permanece fortemente majoritária, em nosso 
ordenamento, a opção segundo a qual antes do nascimento a posição do 
nascituro não é, de modo algum, a de titular de direitos subjetivos; é uma 
situação de mera proteção jurídica”. O nascituro não é sujeito de direitos, 
porquanto não possui personalidade, ele tem apenas uma expectativa de direitos. 
A lei civil põe a salvo seus direitos desde a concepção, ou seja, desde o momento 
no qual o zigoto é formado pela união entre óvulo e espermatozóide. É possível, 
então, resguardar os direitos do nascituro, como por exemplo, quando um avô 
decide doar um bem a seu neto que se encontra ainda na condição de nascituro. 
Ele, nascituro, será proprietário da coisa doada, mas somente efetivará a 
propriedade quando do nascimento com vida. Interessante é observar que se o 
nascituro não chega a nascer -natimorto -, a doação será resolvida, como se não 
tivesse existido. Entretanto, se a criança nasce e logo em seguida morre, teremos 
aí a abertura da sucessão da criança, pois no momento em que nasceu, foi 
 8 
contemplada com personalidade jurídica e, portanto, permitiu a eficácia da 
doação. O bem doado faz parte do patrimônio da criança, e se esta morre, 
teremos a aplicação das normas do Direito das Sucessões. Receberão o bem como 
herança a mãe e o pai do de cujus, que são seus herdeiros necessários. 
 
IV. PERSONALIDADE JURÍDICA E CAPACIDADE DE DIREITO 
 
Muito importante, para qualquer estudo que se faça, é identificar a 
etimologia de determinadas palavras. Personalidade deriva do grego persona, 
que significa máscara. Para melhor entender, Gustavo Tepedino verifica dois 
sentidos diferentes para personalidade: “A rigor, há dois sentidos técnicos para o 
conceito de personalidade. O primeiro associa-se à qualidade para ser sujeito de 
direito, conceito aplicável tanto às pessoas físicas quanto às jurídicas. O segundo 
traduz o conjunto de características e atributos da pessoa humana, considerada 
objeto de proteção privilegiada por parte do ordenamento, bem jurídico 
representado pela afirmação da dignidade humana, sendo peculiar, portanto, à 
pessoa natural”. Assim, personalidade jurídica se enquadra na primeira 
definição dada pelo Professor Tepedino, e também se liga ao remoto grego. Isso 
porque a personalidade jurídica é uma fantasia criada pelo Direito, uma 
verdadeira máscara, ou, melhor dizendo, uma ficção jurídica. O Direito só existe 
na vida de relação, e por isso, somente permite que atuem na ordem civil aqueles 
que sejam dotados de personalidade. O Direito empresta personalidade a todos 
os entes que, para manter o dinamismo social, precisam atuar na esfera jurídica. 
Desta forma, pode-se definir personalidade jurídica (ou personalidade civil) como a 
aptidão para adquirir direitos e contrair obrigações. Ela é uma qualidade que o Direito 
imputa à determinados sujeitos. Por outro lado, capacidade de direito é a 
‘faculdade abstrata de gozar os seus direitos’. “Cuida-se de critério quantitativo, 
que se opõe ao critério qualitativo da subjetividade. A subjetividade, como se viu, 
 9 
indica uma qualidade, a aptidão para ser sujeito de direito. A capacidade, ao 
revés, é a intensidade do seu conteúdo, e por isso mesmo é considerada a medida 
da subjetividade”. Na realidade, personalidade se trata de uma qualidade 
atribuída aos sujeitos, enquanto a capacidade de direito trata apenas de um 
critério quantitativo da personalidade. Ao final, os conceitos de personalidade 
jurídica e capacidade de direito se confundem. 
Para colmatar este tópico, estudemos a capacidade de fato. Capacidade de 
fato, nada mais é do que a possibilidade de se exercer os direitos e cumprir as 
obrigações. Capaz de fato é quem pode exercer, por força própria, os seus 
direitos. “Portanto, ter plena capacidade de fato é ter aptidão para utilizar os 
direitos na vida civil por si mesmo, sem necessidade de assistência ou 
representação”. Ou seja, capacidade de fato é poder exercer a capacidade de 
direito. 
 
V. INCAPACIDADES 
 
A partir desses entendimentos, poderemos passar para a análise das 
incapacidades, ou seja, das pessoas que têm personalidade jurídica, que são 
titulares de direitos, mas que não podem exercê-los, que não tem capacidade de 
fato. À guisa de início, podemos pensar nos menores de 18 anos. As crianças e 
adolescentes são pessoas físicas e, portanto, têm personalidade jurídica e 
capacidade de direito, são sujeitos de direito na ordem civil, mas não podem 
exercê-los. Essa limitação é facilmente explicável pela falta de discernimento que 
crianças e adolescentes têm. A lei entende que ao atingir os 18 anos, o indivíduo 
já tem discernimento suficiente para realizar os atos da vida civil, e por isso 
mesmo, tem capacidade de fato. 
O código, então, identifica dois tipos de incapacidade: 
 10 
 
A. Incapacidade Absoluta: 
São absolutamente incapazes aquelas pessoas que não possuem qualquer 
discernimento para realizar atos jurídicos, seja pelo evidente nível inferior de 
desenvolvimento mental, seja pela impossibilidade de se manifestar. Assim, o 
Art. 3° indica um elenco numerus clausus dos que são considerados 
absolutamenteincapazes: 
 
Art. 3°. São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida 
civil: 
I – os menores de dezesseis anos; 
II – os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário 
discernimento para a prática desses atos; 
III – os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade. 
 
O absolutamente incapaz não tem condições de realizar nenhum ato 
jurídico, e para tanto, qualquer ato por ele realizado será inquinado de nulidade. 
É bem verdade que mesmo não sendo capaz de exercer os atos da vida 
civil, o absolutamente incapaz precisa, de alguma maneira, se movimentar na 
ordem civil, precisa realizar atos civis, exercer seus direitos. Mas já sabemos que 
ele não pode fazê-lo pessoalmente. Para tanto, surge o instituto da representação, 
uma pessoa capaz de fato que atua em nome do absolutamente incapaz. O 
representante é o sujeito que atua em favor do incapaz, ele supre a vontade do 
incapaz. Este representante recebe nome específico quando da causa da 
incapacidade: se o sujeito é incapaz por força da idade, seu representante 
denominar-se-á Tutor; se o sujeito é incapaz por qualquer outro motivo que não 
seja idade, seu representante denominar-se-á Curador. Enfermos ou deficientes 
 11 
mentais são aqueles que não apresentam qualquer discernimento em decorrência 
de uma moléstia mental, ou da falta de desenvolvimento mental. Já os que não 
podem exprimir sua vontade são aqueles que por qualquer motivo não podem se 
expressar, não podem manifestar-se e exteriorizar suas vontades (e.g. pessoa em 
estado comatoso, pessoa cega, surda e muda ao mesmo tempo). 
 
 
B. Incapacidade Relativa: 
É considerado pela lei como relativamente incapaz o indivíduo que já 
possui certo grau de discernimento, e que pode realizar alguns negócios 
jurídicos. O relativamente incapaz não é completamente obliterado como é o 
absolutamente incapaz. O relativamente incapaz apenas não atingiu o grau 
necessário de discernimento para atuar livremente na vida civil, mas já possui 
discernimento suficiente para, sozinho, realizar alguns negócios jurídicos. Mais 
uma vez, o legislador estabeleceu um elenco taxativo em relação aos 
relativamente incapazes. É o que se depreende da dicção do Art. 4°: 
 
Art. 4°. São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer: 
I – os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; 
II – os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, 
tenham o discernimento reduzido; 
III – os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; 
IV – os pródigos. 
Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial. 
 
 12 
Todas as hipóteses trazidas pelos incisos deste artigo tratam da relativa 
diminuição no discernimento dessas pessoas. Os menores púberes são incapazes 
pelo falta de desenvolvimento mental que somente se concretizará com o tempo. 
Já os excepcionais são incapazes pela falta de desenvolvimento mental que é 
devido não à idade tenra, mas sim a uma moléstia. Os ébrios habituais são 
pessoas que perdem o discernimento em função do constante contato com a 
bebida alcoólica. Não se trata da simples ingestão de bebida praticada por 
inúmeras pessoas cotidianamente. Trata-se de uma doença crônica, na qual o 
indivíduo é completamente dependente do álcool. Por isso, tem seu 
discernimento limitado, assim como os viciados em tóxicos. Os excepcionais são 
aqueles que, considerados pela moderna medicina, não atingiram 
desenvolvimento mental normal, como as pessoas que apresentam síndrome de 
Down. Finalmente, os pródigos são aqueles que ‘dilapidam seus patrimônios’, 
pessoas que não podem realizar negócios financeiros, pois, não possuem 
qualquer noção de pecúnia, e por isso, acabam por destruir seus próprios 
patrimônios, põem em risco a integridade de seu patrimônio, e até mesmo de sua 
existência. A interdição do pródigo se limita a atos de natureza exclusivamente 
patrimonial. Qualquer ato da vida civil que não esteja ligado à pecúnia poderá 
ser realizado pelo pródigo, como por exemplo, instituição de sociedade 
matrimonial. 
Note-se que o absolutamente incapaz não possui nenhuma vontade. Por 
outro lado, o relativamente incapaz já possui vontade própria, porém não tem o 
discernimento necessário para dela se valer. Então, em relação à incapacidade 
relativa, não se pode falar em representação, mas sim em assistência. 
O assistente se incumbe de acompanhar o relativamente incapaz nos atos 
da vida civil. Sabemos que determinados negócios jurídicos podem ser 
realizados exclusivamente pelo incapaz, entretanto, existem outros para os quais 
a lei exige a presença de um assistente que ajude na condução de tais negócios. 
 13 
Note-se que na incapacidade relativa, a vontade do incapaz tem relevância e será 
levada em consideração na formação do negócio. A vontade manifestada para a 
realização do ato civil será uma soma das vontades do incapaz e do assistente. O 
casamento já é uma situação ligeiramente diferente, pois o incapaz precisa da 
autorização do assistente para constituir a sociedade matrimonial, entrementes, 
não é o assistente que exprime a vontade de casar, mas o próprio nubente 
incapaz o faz. Não é demais lembrar, então, que o relativamente incapaz, por ter 
certo grau de discernimento, já pode realizar atos civis sozinho, porém, alguns 
outros que se revestem de maior solenidade, exigem a manifestação do 
assistente. 
 
VI. INTERDIÇÃO 
 
Sabemos que todos aqueles que foram citados nos incisos dos artigos 3° e 
4° não tem plena liberdade de agir no mundo civil, ou seja, não possuem 
capacidade de fato e por isso mesmo estão limitados no exercício de seus 
direitos. Um negócio jurídico realizado por um incapaz será inválido, pois a 
vontade emanada por ele é defeituosa, já que ele não tem o discernimento 
necessário para professar sua vontade. Acontece que, para se efetivar 
juridicamente a incapacidade, é necessário um processo judicial no qual será 
atestada a incapacidade (relativa ou absoluta). Se restar comprovada a 
incapacidade, o juiz proferirá uma sentença de interdição, que declara a real 
incapacidade do indivíduo para os atos da vida civil, limitando-o no exercício de 
seus direitos e nomeando-lhe um representante ou assistente, dependendo do 
caso de incapacidade. 
É ululante que não se pode pedir a interdição de um incapaz por motivo 
de idade. A incapacidade por razão da idade é transitória, pois, assim que a 
pessoa atingir os 18 anos, terá capacidade de fato, e não mais será considerada 
 14 
incapaz. É necessário, por outro lado, o processo de interdição em relação a todos 
os outros tipos de incapazes. 
O processo de interdição configura-se por uma análise pericial, na qual o 
perito constatará a existência de uma doença mental, da impossibilidade de 
manifestar a vontade, da prodigalidade, etc. 
Devemos, agora, analisar a natureza da sentença de interdição. A 
incapacidade é uma circunstância de fato, mas que cabe ao juiz atestar a sua 
existência. O juiz não constrói, não constitui a incapacidade, ele apenas atesta a 
sua existência, declara-a. Por isso, a natureza da sentença é declaratória. 
Acontece que uma sentença declaratória atesta uma circunstância que já existia 
antes do processo judicial. Isso nos faz inferir que se a sentença declara uma 
situação anterior a ela, os seus efeitos devem buscar o pretérito, ou seja, devem 
retroagir. Grave problema que se estabelece aqui é o da segurança jurídica. A 
sentença terá efeitos ex tunc (retroagirá no tempo, buscando o estabelecimento do 
status quo ante) ou terá efeitos ex nunc (somente produz efeitosapós a prolação da 
sentença)? 
A melhor solução é a que preza pela segurança jurídica, emprestando 
efeitos ex nunc à sentença. Mas, se o incapaz realiza ato jurídico antes da 
sentença de interdição, este poderá ser anulado (ação de anulação), privilegiando-
se a segurança jurídica e o terceiro de boa-fé. São legitimados para requer ação de 
interdição os ascendentes, descendentes e cônjuge do incapaz, assim também 
como o Ministério Público (Art. 1.177, CPC). 
Devemos lembrar a possibilidade da revogação da interdição. Isso porque 
a causa da incapacidade pode se dissolver seja através do tempo, ou de 
tratamentos, o interdito pode recuperar ou atingir o grau de discernimento 
necessário à capacidade de fato. 
 15 
Questão importante de se salientar é a de pessoas que não possuem 
certidão de nascimento. Muito comum em um país que apresenta diversas 
precariedades, a falta de registro de nascimento. Pessoas que não tem certidão de 
nascimento, obviamente são consideradas capazes de direito, porquanto esta é 
adquirida quando do nascimento com vida. Problema deveras espinhoso, no 
entanto, é estabelecer a idade daquela pessoa, que será feita por prova 
testemunhal de seus pais, outros parentes ou até mesmo vizinhos. 
Finalmente, é de se notar que existem algumas relações jurídicas tão 
usuais no bojo social permitem a participação de incapazes. É o chamado 
comportamento concludente, ou no dizer de Karl Larenz ‘contratos sociais 
adequados’. (e.g. uma criança de 9 anos que compra uma revista). 
 
VII. EMANCIPAÇÃO 
 
Passaremos, agora, à análise do Art. 5° do Código Civil, cuja redação nos 
indica: 
 
Art. 5°. A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica 
habilitada à prática de todos os atos da vida civil. 
Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade: 
I – pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante 
instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do 
juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos; 
II – pelo casamento; 
III – pelo exercício de emprego público efetivo; 
IV – pela colação de grau em curso de ensino superior; 
 16 
V – pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de 
emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha 
economia própria. 
 
“A emancipação representa ‘a aquisição da capacidade civil, antes da 
idade legal”. A emancipação é ato pelo qual se antecipa a capacidade de fato do 
menor púbere. Ou seja, através do instituto da emancipação, é possível conceder 
ao menor incapaz (Art. 4°, I), antes da maioridade civil de 18 anos, a capacidade 
de exercício, a capacidade para se exercer os atos da vida civil. Sabemos que o 
indivíduo, ao atingir os 18 anos, torna-se plenamente capaz. O que acontece na 
emancipação é a simples antecipação da capacidade de fato. Deste modo, pode-
se observar dois tipos de emancipação: 
 
A. Emancipação voluntária: 
É aquela que surge da vontade dos pais, que expressam seu desejo no 
sentido de seu filho emancipado. A emancipação é ato unilateral de vontade dos 
pais, não devendo se deixar de lado, entretanto, o melhor interesse do 
menor.“Para que não se coloque em dúvida a intenção dos pais, nem se alegue 
que a emancipação está sendo feita para que os pais se livrem da obrigação de 
sustento do filho, é conveniente que o filho emancipado participe do ato como anuente”. 
Para que se proceda a emancipação voluntária (ou emancipação outorga) deve 
ser feita uma escritura pública de emancipação, que deverá ser devidamente 
registrada em Registro Público (Art. 9°, II, CC c/c Art. 90 da Lei 6.015/73). Este 
registro tem natureza constitutiva, diversa, por exemplo, do registro de 
nascimento que tem natureza declaratória. São legitimados para requerer a 
emancipação os pais do incapaz que estiverem no exercício do poder familiar. 
Estão legitimados, então, ambos os pais, ou seja, é necessária a anuência conjunta 
de pai e mãe. Existem julgados avessos a tal obrigatoriedade, mas é o que se 
 17 
depreende da hermenêutica legal. Também temos a emancipação voluntária por 
força do tutor. Quando o infante não tem pais, ou estes foram destituídos do 
poder familiar, ter-se-á a figura do tutor. Este pode requerer a pedido de 
emancipação, exclusivamente, mediante juiz competente que outorgará a 
emancipação através de uma sentença judicial. 
 
B. Emancipação Legal: 
Estas são as hipóteses que decorrem imediatamente do texto da lei, são 
situações ex lege. Constatadas as circunstâncias previstas nos incisos II, III, IV e V 
do Art. 5°, o menor estará automaticamente emancipado. Analisemo-as 
individualmente: 
 
- Casamento: 
O menor de dezesseis anos, pelo ordenamento jurídico, pode se casar, 
desde que amparado pela devida autorização de seus pais. O condomínio 
matrimonial requer diversas responsabilidades, impõe uma gama de situações 
nas quais se faz mister a plena capacidade de exercício. Por isso mesmo, a lei 
concede a emancipação ao menor púbere que se casar. Lembremo-nos que é 
exigida a autorização dos pais, conforme Art. 1.517: 
 
Art. 1.517. O homem e a mulher com dezesseis anos podem casar, exigindo-se 
autorização de ambos os pais, ou de seus representantes legais, enquanto não atingida a 
maioridade civil. 
 
Uma vez casado, o indivíduo é automaticamente emancipado. O divórcio 
ou a separação não têm o condão de revogar a emancipação. O emancipado não 
volta a ser incapaz caso ele venha a se separar ou se divorciar. Entretanto, se o 
 18 
casamento está inquinado de nulidade, se ele apresenta qualquer indício para ser 
considerado nulo (Art. 1.548, CC), sabemos que a sentença que declarar a 
nulidade do casamento terá efeitos ex tunc, restabelecendo o status quo ante, e, 
portanto, revogando a emancipação. Porém, temos a exceção do cônjuge de boa-
fé no casamento putativo, o qual faz permanecer a emancipação (Art. 1.561, CC). 
Já nos casos de anulabilidade do casamento, a sentença constitutiva de anulação 
terá efeitos ex nunc, fazendo continuar a emancipação (Art. 1.550, CC). Exceção a 
esta regra é quando o menor sem a autorização dos pais (Art. 1.550, II, CC). 
Mesmo sendo hipótese de anulabilidade, entende-se que os efeitos serão 
retrógrados, atingido a emancipação, devido à torpeza do menor que se esquiva 
da autorização dos pais. 
A lei permite o casamento abaixo da idade núbil nas seguintes 
circunstâncias: 
 
Art. 1.520. Excepcionalmente, será permitido o casamento de quem ainda n ao 
alcançou a idade núbil (Art. 1.517), para evitar imposição de pena criminal ou em caso de 
gravidez. 
 
Então, se uma rapariga de 12 anos engravida, ela poderá se casar. A 
questão é: tal casamento tem o condão de antecipar a capacidade de fato, mesmo 
abaixo dos 16 anos? 
Maior parte da doutrina entende que sim, entrementes há embate 
doutrinal, sendo que uma minoritária corrente defende que apenas quando se 
atinge a idade núbil é possível se ter a emancipação. 
 
- Exercício de emprego público efetivo: 
 19 
Este dispositivo encontrava guarida na legislação anterior, mas sua 
mantença no atual ordenamento se acha um tanto inusitada. Enfim, aquele que 
exercer emprego público, será emancipado. Há certa discussão no que concerne 
ao estágio probatório. Os cargos públicos exigem um período de adequação até 
que o funcionário possa ser efetivado. Parte da doutrina entende que a mera 
convocação para o cargo não pasta para constituir a emancipação, sendo 
necessário passar por todo período de estágio probatório. Entretanto, outro lado 
da doutrina se encaminha para afirmar que a simplesconvocação já basta para se 
verificar a emancipação. 
 
- Colação de grau em curso de ensino superior: 
Hipótese assaz rara é esta na qual o menor se torna emancipado por 
concluir o nível superior. Note-se que se trata exclusivamente de ensino superior, 
e não técnico. 
 
- Estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, 
desde que, em função deles, o menor com 16 anos completos tenha economia própria: 
A lei, por entender que o menor que já tenha como se sustentar, garante-
lhe a emancipação. “A expressão economia própria deve ser entendida no 
sentido da caracterização de renda suficiente para a sobrevivência da pessoa, de 
acordo com o nível social em que está inserida”. Finalmente, o menor que 
participa de uma relação empregatícia; que faz parte de uma sociedade simples; 
ou que faz parte de uma sociedade empresarial que lhe garantam o sustento 
próprio, emancipado será. 
 
 
 20 
VIII. MORTE 
 
A morte é o momento no qual se verifica a cessação da personalidade 
jurídica da pessoa natural. O momento da morte é indicativo de que a pessoa 
natural não mais será considerada pela ordem jurídica, ou seja, além de deixar de 
existir faticamente, deixa também de existir juridicamente. Assim, pode-se dizer 
que com a morte vem a extinção da personalidade jurídica. 
Questão que se apresenta é a de se determinar quando ocorre a morte. O 
código civil é silente em relação aos critérios para se determinar a morte, mas 
podemos buscar alhures no ordenamento jurídico lei ordinária que discipline tal 
assunto, qual seja a lei dos transplantes de órgãos (Lei n° 9434/97). O artigo 3° da 
referida lei indica que somente se considerará morto aquele que tiver constatada 
a morte encefálica, ou seja, a cessação de todas as atividades neurais. 
Art. 3º A retirada post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano 
destinados a transplante ou tratamento deverá ser precedida de diagnóstico de morte 
encefálica, constatada e registrada por dois médicos não participantes das equipes de 
remoção e transplante, mediante a utilização de critérios clínicos e tecnológicos definidos 
por resolução do Conselho Federal de Medicina. 
 
O código civil identifica dois tipos de morte. De um lado a morte natural, 
objetivamente verificada através de critérios médicos, possibilitando a lavratura 
da certidão de óbito. De outro lado encontra-se a morte presumida, criada pela 
lei quando esta identifica hipóteses nas quais haja alta probabilidade de ter 
ocorrido a morte efetiva. 
 
Art. 7°. Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência: 
I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida; 
 21 
II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado 
até dois anos após o término da guerra. 
Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá 
ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a 
data provável do falecimento. 
 
Desta feita, será presumida a morte quando for extremamente provável 
que tenha acontecido a morte, como no caso das vítimas do World Trade Center 
cujos cadáveres não foram encontrados. Também é presumida a morte, quando 
dois anos após término de guerra, o soldado de que não se tem notícia. 
Finalmente, existe uma outra hipótese de morte presumida que merece 
maior atenção, que é a ausência. 
 
IX. AUSÊNCIA 
 
Além das duas hipóteses de morte presumida supramencionadas, 
devemos estudar igualmente a ausência, situação jurídica que permite presumir-
se a morte. 
A ausência se dá quando uma pessoa desaparece de seu domicílio sem 
deixar qualquer vestígio, rompe comunicações com todos os seus conhecidos e 
não deixa rastro nem notícia de seu paradeiro. 
 
Art. 22. Desaparecendo uma pessoa do seu domicílio sem dela haver notícia, se 
não houver deixado representante ou procurador a quem caiba administrar-lhe os bens, o 
juiz, a requerimento de qualquer interessado ou do Ministério Público, declarará a 
ausência, e nomear-lhe-á curador. 
 22 
Lembre-se que, com a morte, cessa-se a personalidade jurídica, e, 
portanto, o patrimônio do morto fica sem titular. Acontece que os bens não 
podem gravitar pelo mundo jurídico sem um proprietário. Por isso mesmo, o 
direito das sucessões cria uma ficção jurídica que nos permite identificar o 
momento da morte como o instante de transferência imediata da titularidade do 
patrimônio, do de cujus para seus sucessores. Este é o chamado princípio da 
Saisine, importado do direito francês e insculpido no Art. 1.517, CC. 
Com a ausência não é diferente. O patrimônio daquele que desaparece não 
pode ficar desamparado. Assim, a primeira providência a ser tomada é a 
nomeação de um curador, que terá a administração dos bens do desaparecido. 
Ou seja, qualquer interessado que já tenha esgotado todos os recursos possíveis 
para se encontrar o desaparecido, pode ingressar em juízo e pedir a declaração 
de ausência. O juiz, então, prolata uma sentença que declara a ausência, 
verificados todos os pressupostos para esta, e nomeia um curador para a 
administração dos bens do ausente. Já constituído o curador, o juiz lançará mão 
de editais a cada dois meses chamando o ausente para entrar na posse de seus 
bens. O curador será nomeado conforme a redação do Art. 25: 
 
Art. 25. O cônjuge do ausente, sempre que não esteja separado judicialmente, ou 
de fato por mais de dois anos antes da declaração de ausência, será o seu legitimo curador. 
§1º Em falta do cônjuge, a curadoria dos bens do ausente incumbe aos pais ou aos 
ascendentes, nesta ordem, não havendo impedimento que os iniba de exercer o cargo. 
§2º Entre os descendentes, os mais próximos precedem os mais remotos. 
§3º. Na falta das pessoas mencionadas, compete ao juiz a escolha do curador. 
 
Passado um ano depois da declaração de ausência e da arrecadação dos 
bens, poderão os interessados requerer a abertura da sucessão provisória (Art. 26, 
 23 
CC). “A sucessão provisória é a segunda etapa da ausência, na qual, tendo em 
vista a extensão do desaparecimento do ausente, seus interesses são ponderados 
com aqueles dos sucessores. Os bens do ausente são entregues aos herdeiros 
presumidos, mas com uma serie de cautelas para preservar a integridade do 
patrimônio, em nome da ainda considerável possibilidade de retorno do 
ausente...os sucessores provisórios não recebem a propriedade plena dos bens, 
mas tão-somente sua posse, com alguns direitos previstos em lei”. Note-se que se 
passados 3 anos do desaparecimento de uma pessoa que tenha deixado 
representante, os legitimados poderão requerer a declaração de ausência e a 
abertura da sucessão provisória. A sucessão provisória apenas dará azo à 
abertura de testamentos, de inventários e da partilha, apenas 180 dias após a 
prolação da sentença do juiz declarando aberta tal sucessão. 
O código faz uma ressalva com o fito de proteger os interesses do ausente, 
exigindo dos sucessores que se imitirem na posse, uma garantia de restituição 
dos bens (Art. 30, CC). Esta regra não se aplica àqueles herdeiros imediatos, 
como o cônjuge, ascendentes e descendentes. Se restar provado o falecimento do 
ausente, dá-se lugar a sucessão tradicional, seguindo-se todas as normas 
preceituadas pelo direito das sucessões e pelo Art. 35, CC. Todavia, se o ausente 
reaparece, voltará ele à posse de seus bens (Art. 36, CC). 
Transcorridos dez anos da abertura da sucessão provisória, podem os 
legitimados requeres a abertura da sucessão definitiva. A última etapa do 
processo de ausência é a chamada sucessão definitiva que consiste, principalmente,na lavratura da certidão de óbito do ausente, considerado, agora, morto. 
Interessante questão que se põe ao se tratar de ausência é a liberdade para 
o cônjuge do ausente contrair novo casamento. Já é assentada jurisprudência em 
entender que existe a possibilidade da dissolução do vínculo conjugal antes da 
sucessão definitiva. 
 
 24 
X. DIREITOS PERSONALÍSSIMOS 
 
Para iniciarmos este estudo, recorreremos ao trecho supracitado de 
autoria do Professor Gustavo Tepedino, “A rigor, há dois sentidos técnicos para 
o conceito de personalidade. O primeiro associa-se à qualidade para ser sujeito 
de direito, conceito aplicável tanto às pessoas físicas quanto às jurídicas. O 
segundo traduz o conjunto de características e atributos da pessoa humana, 
considerada objeto de proteção privilegiada por parte do ordenamento, bem 
jurídico representado pela afirmação da dignidade humana, sendo peculiar, 
portanto, à pessoa natural”. O direito dispensa uma proteção especifica para o 
segundo conceito elegido por Tepedino. Existem atributos e qualidades 
intrínsecas e exclusivas da personalidade humana, cuja tutela é exercida pela 
Constituição e pelo Código Civil, com o interesse de se manter integro o atributo 
basilar da personalidade, qual seja, a dignidade da pessoa humana. O Direito 
Constitucional habilita-se a tutelar os direitos decorrentes da personalidade, sob 
o nome de Direitos Fundamentais. A importância da tutela de tais direitos pelo 
Direito Público é máxime, pois coloca o Estado numa posição privilegiada, capaz 
de proteger tais direitos. Um bom exemplo da tutela constitucional dos direitos 
da personalidade é a Carta Magna de João Sem-Terra, que indicava como esses 
direitos a liberdade de ir e vir, e criava como remédio à violação de tal direito o 
instituto do habeas corpus. 
Além do dispositivo referente à consagração do principio da dignidade da 
pessoa humana, devemos atentar, no que diz respeito à tábua axiológica 
constitucional, aos incisos V e X do Art. 5° da Constituição Federal: 
 
Art. 5°. 
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da 
indenização por dano material, moral ou à imagem; 
 25 
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, 
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua 
violação; 
 
Desta maneira, a ordem constitucional estabelece uma rígida proteção aos 
direitos personalíssimos, garantindo uma indenização a título de danos morais. 
O estudo dos danos morais cabe à cadeira de Responsabilidade Civil, porém 
daremos uma breve noção do que seja a noção de dano moral, pelas solares 
exposições de Maria Celina Bodin de Moraes, que nos indica o dano moral como 
uma conseqüência da violação de um direito personalíssimo associado a um 
grave dano à dignidade humana. Entendimento diverso e mais amplo é aquele 
defendido por maior doutrina e jurisprudência , sintetizado por Sergio Cavalieri 
ao dizer: “(...) Para os que preferem um conceito positivo, dano moral é dor, 
vexame, sofrimento, desconforto, humilhação – enfim, dor na alma. (...) a 
Constituição deu ao dano moral uma nova feição e maior dimensão, porque a 
dignidade humana nada mais é do que a base de todos os valores morais, a 
essência de todos os direitos personalíssimos.” 
Caso interessante é o de famosa atriz que, na década de 90, posou nua 
para uma revista pornográfica de renome. Acontece que o ensaio fora divulgado 
antes da revista por um jornal de circulação popular. A atriz postulou ação de 
indenização por danos morais por ter sido violado seu direito de imagem. O 
intento judicial chegou ao Superior Tribunal de Justiça, depois de desastrada 
decisão do TJRJ, na qual o desembargador afirmou que ‘mulher bonita não sofre 
dano moral’. 
Os direitos personalíssimos não podem ser quantificados na esfera 
pecuniária, mas a sua violação receberá uma avaliação monetária a título de 
restituição por dano moral. 
 26 
Partimos para uma avaliação classificatória dos direitos personalíssimos, 
realizada pela doutrina. Assim, recorremos às lições de Bodin de Moraes, 
Barboza e Tepedino: “Em doutrina destacam-se as características dos chamados 
direitos da personalidade. São eles: inatos, no sentido de surgirem com a própria 
existência da pessoa humana; extrapatrimoniais, embora sua lesão possa surtir 
efeitos patrimoniais; absolutos, isto é, oponíveis erga omnes; 
indisponíveis,abrangendo sua impenhorabilidade e a mencionada 
irrenunciabilidade; imprescritíveis, pois a sua lesão não convalesce com o tempo; 
e a citada intransmissibilidade”. 
Ainda podemos acrescentar que os direitos da personalidade são atípicos, 
uma vez que a lei não lhes indica um rol numerus clausus, sendo tais direitos 
personalíssimos oriundos da cláusula geral de tutela da dignidade humana. 
Pondere-se, igualmente, que tais direitos são indisponíveis, mas passivos de 
cessão parcial. Ou seja, é possível que uma pessoa permita o uso de sua imagem, 
porém não há a renúncia. 
 
XI. DOMICÍLIO 
 
Domicílio é conceito jurídico e não deve se confundir com as noções de 
morada e residência. Como diria Bruno Lewicki: “a morada não implica idéia de 
permanência, a residência implica e o domicílio pressupõe a permanência com o 
ânimo definitivo”. 
O domicílio, então, é o ambiente espacial no qual a pessoa física se 
estabelece com o fito de por lá permanecer tempo longo e indeterminado, ou seja, 
com ânimo definitivo, para que neste local possa exercer de pleno sua 
capacidade civil. 
 
 27 
Art. 70. O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua 
residência com ânimo definitivo. 
 
Ressalte-se que se deve ater ao elemento subjetivo, ao estado anímico do 
sujeito de permanecer naquele lugar. Não importa se a pessoa trabalhe em 
cidade diferente ou se não é a proprietária do local onde estabelece seu domicílio. 
Se a pessoa natural apresentar diversas residências, toma-se como 
domicílio qualquer um deles. É a chamada duplicidade de domicílios, acolhida pelo 
Código Civil: 
 
Art. 71. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde, 
alternadamente, viva, considerar-se-á domicílio seu qualquer delas. 
 
Se, pelo contrário, a pessoa não dispuser de qualquer domicílio, ou seja de 
difícil determinação a localização dele, ter-se-á por domicílio, o local onde esta 
pessoa for encontrada. O andarilho que vaga sem rumo e que não impõe o ânimo 
definitivo às residências nas quais se aloja, terá como domicílio o lugar onde for 
encontrado. 
A pessoa natural pode ter como domicílio o seu local de trabalho, 
exclusivamente no que concerne às atividades decorrentes do labor (Art. 72). 
 
Art. 73. Ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que não tenha residência 
habitual, o lugar onde for encontrada. 
 
Lembre-se que o domicílio eleitoral não se confunde com o domicílio civil, 
apenas é indício deste, como também o são os débitos. A comprovação do 
 28 
domicílio é complicada, sendo os melhores registros para este a Receita Federal e 
o Tribunal Regional Eleitoral. 
A lei civil abre uma distinção entre domicílio voluntário e necessário. 
Domicílio necessário ou legal é aquele estipulado pela lei, como no caso do preso 
ou do marítimo. Assim também se estipula o domicílio do incapaz, que será o 
mesmo de seu representante (Art. 76). 
Os agentes diplomáticos que representam o Brasil no exterior respondem 
como se fossem domiciliados no Brasil, especificamente em Brasília ou então no 
último domicílio fixado em terra brasileira (Art. 77). Assim, se a mulher do 
embaixador do Brasil na França quiser dele se divorciar, deverá intentaras 
devidas ações judiciais em Brasília, e não na França. 
A título de curiosidade, o direito adjetivo estabelece duas ações para se 
intentar a citação em outro estado da Federação (Carta Precatória) ou em outro 
país (Carta Rogatória). 
Finalmente, remete-se ao domicilio contratual. O Código Civil permite aos 
contratantes estabelecer um domicílio específico para todos os direitos e deveres 
decorrentes do contrato. Porém, na seara consumerista, esta disposição pode ser 
considerada abusiva, quando, e.g., se der um contrato de adesão e o consumidor 
se vir obstado em seu direito de acesso à justiça (vide Art. 51, Lei. 8.098/90). 
 
XII. PESSOA JURÍDICA 
 
Pessoa jurídica é um ente moral criado com o escopo de atingir 
determinado fim social. A vida em sociedade exigiu do homem a construção de 
grupos. Ou seja, o homem passou a compreender que precisa da ajuda do 
próximo para atingir seus objetivos, e desta maneira, criar um ente capaz de 
buscar esses interesses coletivos. A pessoa jurídica existe por conta de uma 
 29 
necessidade de associação para determinada finalidade, determinado objetivo. 
São constituídas para que a união de determinadas pessoas físicas ou jurídicas 
possa atender a um objetivo. Muitas são as teorias que discorrem sobre a 
natureza jurídica da pessoa moral, destacando-se a teoria realista e a teoria 
ficcionista. Mas a doutrina mais moderna já chega a um entendimento ubíquo: “A 
pessoa jurídica, segundo a teoria da realidade técnica, existe de fato para o 
direito, não como uma realidade corporal, mas ideal. É uma das criações da 
ciência jurídica, que aprecia os diferentes fenômenos de acordo com critérios 
próprios e escolhe, discricionariamente, quais grupos humanos podem receber a 
personalidade e seus atributos”. Assim, à reunião de pessoas físicas ou jurídicas 
que tenham determinado objetivo a cumprir, o direito empresta personalidade 
para que este grupo, esta reunião possa atuar no mundo jurídico. 
As pessoas jurídicas dividem-se em: Pessoas Jurídicas de Direito Público e 
Pessoas Jurídicas de Direito Privado. 
 
Art. 40. As pessoas jurídicas são de direito público, interno ou externo, e de 
direito privado. 
 
Pessoas jurídicas de direito público interno são aquelas que resguardam 
os interesses da coletividade como um todo, e.g. a União, os Estados Federados e 
as autarquias (Art. 41). 
Já as pessoas jurídicas de direito público externo são aquelas que 
representam interesses de caráter internacional, ou que atuam na órbita da 
coletividade internacional, e.g. Os Estados soberanos, a Santa Sé e a ONU (Art. 
42). 
 30 
Por outro lado, as pessoas jurídicas de direito privado são aquelas criadas 
por particulares com o intuito de perseguir interesses exclusivos daquele grupo. 
Estão elas elencadas no Art. 44, CC: 
 
Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado: 
I – as associações; 
II – as sociedades; 
III – as fundações; 
IV – as organizações religiosas; 
V – os partidos políticos. 
§1º. São livres a criação, a organização, a estruturação interna e o funcionamento 
das organizações religiosas, sendo vedado ao poder público negar-lhes reconhecimento ou 
registro dos atos constitutivos e necessários ao seu funcionamento. 
§2º. As disposições concernentes às associações aplicam-se subsidiariamente às 
sociedades que são objeto do Livro II da Parte Especial deste Código. 
§3º. Os partidos políticos serão organizados e funcionarão conforme o disposto em 
lei específica. 
 
As associações e fundações serão objeto de nosso estudo logo em breve. 
As sociedades são objeto de estudo exclusivo do Direito Societário, nas cadeiras 
de Direito Empresarial. Todavia, é importante ressaltar que as sociedades são 
pessoas jurídicas que têm por objetivo a obtenção de lucro. Desde o pequeno 
consultório médico até as empresas multinacionais, temos aí a conformação de 
diversos tipos societários, todas pessoas jurídicas que visam o lucro. 
Os partidos políticos e as organizações religiosas são objeto de estudo de 
Direito Constitucional I e III, respectivamente. 
 31 
Passemos, então, a analisar as regras gerais da pessoa jurídica. 
 
XIII. REGRAS GERAIS DA PESSOA JURÍDICA 
 
Devemos lembrar que estas regras serão aplicadas a todos os tipos de 
pessoas jurídicas, até mesmo às sociedades que tem seu arcabouço jurídico 
esmiuçado no Livro II da Parte Especial do Código Civil. Para que uma pessoa 
jurídica exista e possa penetrar no mundo jurídico, é mister a feitura de um ato 
que capaz de criar esse ente moral, um contrato formado pela manifestação de 
vontade dos integrantes daquela pessoa jurídica, no sentido de se estabelecer um 
ente moral capaz de perseguir, no mundo jurídico, determinados objetivos. Este 
ato é chamado de Contrato Social. O contrato social é o instrumento responsável 
pela gênese da pessoa jurídica, assim como pela sua organização, pela 
estipulação de sua finalidade, de seus representantes, seu domicílio, seu nome e 
outras características imprescindíveis à formação da pessoa jurídica. O Estatuto 
Social é, então, a matriz jurídica da pessoa moral, responsável pela determinação 
de todos os ditames que irão reger aquela pessoa jurídica. 
 
Art. 46. O registro declarará: 
I – a denominação, os fins, a sede, o tempo de duração e o fundo social, quando 
houver; 
II – o nome e a individualização dos fundadores ou instituidores, e dos diretores; 
III – o modo por que se administra e representa, ativa e passivamente, judicial e 
extrajudicialmente; 
IV – se o ato constitutivo é reformável no tocante à administração, e de que modo; 
V – se os membros respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais; 
 32 
VI – as condições de extinção da pessoa jurídica e do destino do seu patrimônio, 
nesse caso. 
 
Feito o Contrato Social, este deverá ser levado ao Registro de Pessoas 
Jurídicas . O Estatuto Social apenas cria a pessoa jurídica no mundo dos fatos, 
enquanto ele não for levado a Registro, a pessoa jurídica existirá apenas no 
‘mundo das idéias’. É a averbação em Registro que garante à pessoa jurídica a 
sua existência no mundo do Direito, entregando-lhe personalidade civil. 
 
Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito provado com a 
inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, procedida, quando necessário, de 
autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as 
alterações por que passar o ato constitutivo. 
Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular a constituição das pessoas 
jurídicas de direito privado, por defeito do ato respectivo, contado o prazo da publicação 
de sua inscrição no registro. 
 
Deveras importante de se lembrar é o fato de que a pessoa jurídica tem 
personalidade civil diversa da dos seus membros! A pessoa jurídica tem 
personalidade civil própria e exclusiva, que não se confunde com a de seus 
membros (princípio da separação). Se, portanto, o Contrato Social não for levado a 
registro, o ente moral não terá adquirido personalidade e seus membros 
responderão pelos seus atos. Se uma associação contrai uma dívida, seus 
credores poderão haver penhorados, exclusivamente, os bens da associação. 
Entrementes, se esta mesma associação não tiver sido devidamente registrada (e, 
portanto, não tem personalidade) as dívidas serão quitadas pelos seus membros, 
atingindo-se o patrimônio destes, pois sem o devido registro, a pessoa jurídica 
 33 
não existe para o direito. Esta situação, na qual a pessoa jurídica apenas existe no 
mundo dos fatos, é denominada sociedade irregular ou sociedade de fato. Desta feita, 
os membros responderão pessoal e individualmentecom seus próprios 
patrimônios. 
 
XIV. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA 
 
Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de 
finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou 
do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e 
determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos 
administradores ou sócios da pessoa jurídica. 
 
Como vimos anteriormente, a pessoa jurídica possui personalidade civil 
diversa da de seus membros – societas distat a singulis. Não raramente, os sócios e 
administradores de entidades se utilizam da personalidade própria da pessoa 
moral para atingir interesses particulares. Assim, poderia se pensar num 
administrador que utiliza o fundo social para comprar um carro, ou o sócio que 
proibido de fazer determinado ato, o faz em nome da pessoa jurídica. A 
personalidade jurídica do ente moral pode servir para encobrir e alcançar 
interesses particulares e escusos de seus membros. Para que esse tipo de 
ilegalidade não ganhasse proporção demasiada, a doutrina estadunidense criou a 
chamada teoria do lifting the corporate veil. Esta teoria permite afastar o principio 
da separação e atingir diretamente o patrimônio do membro responsável pela 
ilegalidade. É levantado o véu da pessoa jurídica, utilizada como esconderijo, 
para se identificar o verdadeiro deturpador da entidade. Há, portanto, um abuso 
da personalidade da pessoa jurídica, o sócio ou administrador se utiliza 
levianamente do ‘escudo’ que a personalidade do ente moral lhe representa para 
 34 
conseguir vantagens ilegítimas e ilegais. Tal ilegalidade, que enseja a 
desconsideração da personalidade, é observada em dois casos: Confusão 
patrimonial (quando o sócio se utiliza indevidamente do patrimônio da pessoa 
jurídica, ou quando contrai dívida pessoal e a imputa à pessoa jurídica) ou desvio 
de finalidade (quando o sócio se utiliza da personalidade do ente moral para 
conseguir vantagens particulares, diversas dos interesses da pessoa jurídica). 
São legitimados para intentar a desconsideração da personalidade os 
credores ou o parquet, sendo o caso avaliado concretamente pelo juiz, e 
desconsiderada a personalidade estritamente para se resolver aquela questão, ou 
seja, não há a dissolução da entidade, apenas a desestimação da personalidade 
para se afastar a ilegalidade realizada por um membro. 
 
XVI. ASSOCIAÇÕES 
 
A principal característica que nos permite diferenciar a associação de uma 
fundação ou de uma sociedade é a sua finalidade. Já sabemos que as sociedades 
perseguem o lucro, mas e a finalidade de uma associação? 
Art. 53. Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem para 
fins não econômicos. 
Parágrafo único. Não há, entre os associados, direitos e obrigações recíprocos. 
 
Desta maneira, um grupo de pessoas pode se reunir para criar uma 
associação capacitada para atingir um objetivo qualquer, exceto o lucro. O 
exemplo mais corriqueiro é de um clube. Os associados de um clube se reúnem 
com o simples escopo de recreação. 
 35 
A lei exige que os estatutos que constituem as associações possuam 
determinadas disposições: 
 
Art. 54. Sob pena de nulidade, o estatuto das associações conterá: 
I – a denominação, os fins e a sede da associação; 
II – os requisitos para a admissão, demissão e exclusão dos associados; 
III – os direitos e deveres dos associados; 
IV – as fontes de recursos para sua manutenção; 
V – o modo de constituição e funcionamento dos órgãos deliberativos; 
VI – as condições para a alteração das disposições estatutárias e para a dissolução; 
VII – a forma de gestão administrativa e de aprovação das respectivas contas. 
 
Os critérios para se admitir um associado serão previstos pelo Ato 
Constitutivo, porém não podem ser guiados por discriminações injustificadas, 
como aquelas repudiadas pela própria Constituição (e.g. racismo). Assim 
também é vedada a diferenciação de direitos entre os associados, salvo se 
disposto no Estatuto. Ou seja, o Contrato Social pode prever a discriminação 
razoável dos associados (honorários, beneméritos, efetivos e etc.). Note-se que, 
apesar das diversas ressalvas possíveis de serem feitas no estatuto quanto aos 
direitos dos associados, devemos asseverar que todos, indiscriminadamente, tem 
o direto de convocar assembléia geral. 
 
Art. 55. Os associados devem ter direitos iguais, mas o estatuto poderá instituir 
categorias com vantagens especiais. 
 
 36 
É regra geral, também, a intransmissibilidade da condição de sócio. O 
sócio mantém um vínculo de caráter pessoal com a associação, portanto, o título 
está intrinsecamente ligado à pessoa do sócio, explicando a impossibilidade da 
transmissão da condição de sócio. Será transmissível a quota, futuramente 
revestida em pecúnia, mas não passará para o sucessor a qualidade de sócio. O 
estatuto pode prever o oposto, por ser o Art. 56 cláusula dispositiva. 
 
Art. 56. A qualidade de associado é intransmissível, se o estatuto não dispuser o 
contrário. 
Parágrafo único. Se o associado for titular de quota ou fração ideal do patrimônio 
da associação, a transferência daquela não importará, de per si, na atribuição da qualidade 
de associado ao adquirente ou ao herdeiro, salvo disposição diversa do estatuto. 
 
Lembre-se que entre os associados não existe relação jurídica direta, 
apenas entre associado e associação. Além disso, necessário ressaltar que apesar 
do fito não econômico, a associação pode exigir o pagamento de taxas que se 
reverterão exclusivamente em prol da associação. 
 
- Da extinção das associações: A pessoa jurídica poderá ser extinta, e, 
portanto, deixar de existir no mundo jurídico. São vários os tipos de extinção, 
valendo-nos das preciosas lições de Bodin de Moraes, Tepedino e Barboza, em 
seu Código Interpretado: “Será convencional quando tiver origem na deliberação 
dos associados, os quais, munidos que estiveram do poder de criá-la, têm, pelo 
mesmo fundamento, o poder de extingui-la. A deliberação deverá ocorrer em 
conformidade com o previsto no estatuto e, se não for unânime, ficam 
resguardados os direitos da minoria vencida. Será administrativa nos casos de 
associações que, em virtude de um objeto específico, demandam autorização do 
 37 
poder público para funcionar. Se desviadas de seu objeto ou praticarem outros 
atos que derem causa à cassação da autorização, extinguir-se-á a pessoa jurídica. 
Será legal quando fundamentada em motivo previsto em lei, como o implemento 
de condição ou termo a que esteja subordinada sua existência, ou no caso de a 
associação possuir finalidade especifica, quando esta for atingida. Chama-se 
judicial quando tiver origem em processo”. contencioso, como quando 
questionada a possibilidade de sua sobrevivência e, enfim, natural, quando sua 
extinção decorrer do falecimento de todos os associados, impossibilitada a 
transmissão sucessória desta condição”. 
É de se ressaltar que, quando da extinção convencional, esta deverá ser 
levada a registro, e somente depois de quitadas todas as pendências jurídicas, 
ter-se-á a extinção. 
Devemos destacar, igualmente, a extinção através do processo de falência. 
Falência é um processo judicial pelo qual passa a pessoa jurídica que está em 
pendência com seus credores e não mais pode se sustentar. A entidade 
permanecerá existindo até que quite suas dívidas. Não sendo isso possível, 
extingue-se, mesmo assim, a pessoa jurídica e distribui-se a massa falida entre os 
credores. 
Uma vez extinta, os bens daquela associação não se reverterão embeneficio dos associados, mas sim de instituições de escopo semelhante ou do 
Estado. 
 
Art. 61. Dissolvida a associação, o remanescente do seu patrimônio líquido, depois 
de deduzidas, se for o caso, as quotas ou frações ideais referidas no parágrafo único do art. 
56, será destinado à entidade de fins não econômicos designada no estatuto, ou, omisso 
este, por deliberação dos associados, á instituição municipal, estadual ou federal, de fins 
idênticos ou semelhantes. 
 38 
§1º. Por cláusula do estatuto ou, no seu silêncio, por deliberação dos associados, 
podem estes, antes da destinação do remanescente referida neste artigo, receber em 
restituição, atualizado o respectivo valor, as contribuições que tiverem prestado ao 
patrimônio da associação. 
§2°. Não existindo no Município, no estado, no Distrito Federal ou no Território, 
em que a associação tiver sede, instituição nas condições indicadas neste artigo, o que 
remanescer do seu patrimônio se devolverá à Fazenda do Estado, do Distrito Federal ou 
da União. 
 
XVII. FUNDAÇÕES 
 
Novamente, o que vai nos ajudar a distinguir a fundação dos outros tipos 
de pessoa jurídica é a finalidade a que se dirige. As fundações não podem ter 
qualquer escopo de caráter econômico, assim como as associações, e mais ainda, 
deve se destinar a um objetivo filantrópico, altruístico. Uma notável 
peculiaridade da fundação é que ela não é decorrente da união de pessoas, mas 
sim fruto da vontade de um indivíduo que disponibiliza bens livres que servirão 
a determinado fim. “É uma pessoa jurídica de tipo especial, pois não se forma 
pela associação de pessoas físicas; nem é obra de um conjunto de vontades, mas, 
de uma só, ou seja, é criada pela atribuição de personalidade ao conjunto de bens 
destinados à realização de certo fim, socialmente útil”. Assim, será constituída 
uma fundação pela disponibilização de bens livres através de escritura pública 
ou testamento, direcionados à realização de algum fim socialmente útil. 
 
Art. 62. Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública ou 
testamento, dotação especial de bens livres, especificando o fim a que se destina, e 
declarando, se quiser, a maneira de administrá-la. 
 39 
Parágrafo único. A fundação somente poderá constituir-se para fins religiosos, 
morais, culturais ou de assistência. 
 
Um bom exemplo de uma fundação é a Pontifícia Universidade Católica 
se forma entorno de um patrimônio, visando atender a um objetivo cultural e 
educacional. A mensalidade cobrada se reverte exclusivamente para a mantença 
da instituição, sem qualquer fim lucrativo. 
Outra interessante especificidade das fundações é o cuidado dispensado 
pelo parquet, que dispõe de um órgão especial (Curadoria de Fundações) 
responsável pela fiscalização das fundações. Desta maneira, o Ministério Público 
se incumbe de fiscalizar e zelar pelo bom funcionamento das fundações, 
garantindo a utilidade social delas (Art. 66). 
Lembre-se que uma vez extinta a fundação, seus bens irão se reverter em 
benefício de fundações de fins idênticos ou, então, do erário público, jamais serão 
incorporados ao patrimônio de seu instituidor ou administradores. A extinção da 
fundação somente será veiculada através de decisão judicial, cabendo ao 
Ministério Público ou a qualquer interessado pedir a sua extinção, seja pelo 
desvio, ilicitude, impossibilidade ou inutilidade de sua finalidade (Art. 69). 
 
XVIII. BENS 
 
Bem é a classificação jurídica dada a todo e qualquer objeto que se insere 
na órbita de uma relação jurídica. Muito se aproximam os conceitos de bem e 
coisa, porém a doutrina vem construindo diversos entendimentos, concluído-se 
que coisa está relacionada ao mundo matéria, tangível, enquanto bem recebe 
uma conotação mais ampla, abrangendo também o mundo da abstração. À guisa 
de exemplo, podemos citar uma casa sendo um bem tangível (coisa) mensurável 
 40 
economicamente; e a honra com sendo um bem intangível, abstrato que não é 
passível de uma análise econômica. Assim, bem jurídico ganha uma acepção de 
objeto de direito, objeto de uma relação jurídica, que será composta por sujeitos 
(pessoa física ou jurídica) e pelos bens. Finalmente, podemos pensar naqueles 
bens que tem caráter econômico, que são apreciáveis economicamente, e 
portanto, compõe uma universalidade de direitos (Art. 91) chamada patrimônio. 
Patrimônio, na definição aguçada de Beviláqua, é o complexo das relações 
jurídicas de uma pessoa, apreciáveis economicamente. 
A melhor didática e a própria doutrina nos sugere a classificação dos bens 
respeitando diversas categorias: 
 
- Bens considerados em si mesmos: 
 
A) Bens imóveis e bens móveis: Bens imóveis são aqueles que estão 
intrinsecamente incorporados ao solo, seja pela ação da natureza, seja pela ação 
do homem. É da essência do objeto pertencer ao solo e dele não se desligar, como 
é a árvore ou a construção predial. São objetos que estão presos ao solo e que 
dele forem desligados, perderam sua utilidade econômico-social. É de se 
ressaltar que serão considerados imóveis todos aqueles bens que se incorporarem 
ao bem imóvel principal, e com este mantiver uma relação de permanência, como 
é, por exemplo, o tijolo, um balcão ou uma pia. Ver Arts. 79, 80 e 81. 
Bens móveis são aqueles capazes de deslocamento no espaço físico, seja 
por força própria, seja por força externa. Os animais são bens móveis que se 
movimentam por força própria, sendo denominados de semoventes. Ver Arts. 
82, 83 e 84. 
 
 41 
B) Bens fungíveis e infungíveis: Bens fungíveis são aqueles que podem ser 
substituídos por outro da mesma espécie, qualidade e quantidade (Art. 85). O 
bem fungível por excelência é o dinheiro. Ao revés, bens infungíveis são aqueles 
que guardam uma característica peculiar e individual, que os impossibilita de 
serem substituídos. No dizer de Maria Helena Diniz: “bens infungíveis são os 
que, pela sua qualidade individual, têm um valor especial, não podendo, por 
esse motivo, ser substituídos sem que isso acarrete a alteração de seu conteúdo”. 
Note-se que não é o valor da estima que torna um bem infungível, mas sim as 
suas características peculiares. Bom exemplo de bem infungível é uma garrafa de 
vinho 
 
C) Bens consumíveis e inconsumíveis: Consumível é o bem que importa sua 
consumação imediata, cujo uso implica em sua alienação, e que tal utilização não 
pode ser renovada (Art. 86). O bem consumível por excelência é o alimento. Já 
bem inconsumível é aquele cujo uso não implica em sua alienação, e, portanto, o 
bem permanece existindo mesmo depois de sua reiterada utilização. Exemplo 
comum é o carro. 
 
D) Bens divisíveis e indivisíveis: Bem divisível é aquele cuja divisão, partição 
não acarreta em mudança na sua natureza. Bem indivisível é aquele que ao ser 
dividido perde completamente sua utilidade, tem sua substância alterada (Art. 
87). A característica da indivisibilidade de um bem pode se originar da vontade 
das partes ou da lei, mesmo que faticamente o bem seja divisível (Art. 88). 
 
E) Bens coletivos e singulares: Bem singular é aquele cuja existência é 
plenamente independente da de qualquer outro bem (Art. 89). Já os bens coletivos 
são aqueles cuja essência esta ligada à unidade do grupo: 
 42 
 
Art. 90. Constitui universalidade de fato a pluralidade de bens singulares que, 
pertencentes à mesma pessoa, tenham destinação unitária. 
Parágrafo único. Os bens que formam essa universalidade podem ser objeto de 
relações jurídicas próprias. 
 
Assim, é-se considerada universalidade de fato o agrupamento de bens 
singulares que reunidos pela vontade de seu dono, tenham a mesmadestinação, 
como uma biblioteca ou um rebanho. 
 
- Bens considerados pela titularidade: 
 
Bens públicos e privados: Públicos são os bens cujo titular é o Poder Público, 
seja a União, um Estado Federado ou um Município. Bens privados são todos 
aqueles que não são públicos, impondo a lei um critério de exclusão (Art. 98). 
Serão observadas regras especificas para a utilização dos bens públicos no 
arcabouço jurídico-administrativo, entrementes o próprio código civil endereça 
algumas regras gerais, como a da impossibilidade de prescrição aquisitiva de um 
bem público (Art. 102) ou ainda, a inalienabilidade dos bens públicos (Art. 100). 
Este aparato legal específico é justificado pela proteção exigida para os bens 
públicos, pois estes visam assegurar um “interesse público”. Os bens públicos 
ainda podem ser classificados em: 1. De uso comum do povo, aqueles cujo uso é 
concedido em beneficio da coletividade. Esses bens não implicam na gratuidade 
de sua utilização, podem sofrer exploração de concessionária; 2. De uso especial, 
são bens destinados a uma atividade específica do Poder Público; 3. Dominiais, 
são aqueles, que por exclusão, não são nem de uso especial, nem de uso comum 
do povo. Os bens dominiais são bens dos quais o Poder Público é titular, como o 
 43 
dinheiro arrecadado na tributação. Estes bens dominiais podem ser alienados a 
um particular, conforme o instituto da desafetação. Por outro lado, um mesmo 
bem dominial pode ter especificada sua finalidade e tornar-se um bem de uso 
comum ou de uso especial, através do instituto da afetação. 
 
- Bens reciprocamente considerados: 
 
A) Bens principais e acessórios: 
Bem principal é aquele cuja existência independe da de qualquer outro 
bem. O bem principal, individualmente posicionado já está apto a alcançar sua 
utilização plena. Ao revés, bem acessório é aquele cuja existência está atrelada a do 
principal. No dizer de Caio Mário: “o bem acessório, pela sua própria existência 
subordinada, não tem, nesta qualidade, uma valoração autônoma, mas liga-se-
lhe o objetivo de completar, como subsidiário, a finalidade econômica da coisa 
principal”. Assim, um carro é um bem principal, porém o volante, ou uma roda 
são bens acessórios. 
Revelho princípio que remonta aos doutrinadores do Lácio, é o da 
gravitação jurídica (Accessorium sequitur principale). Segundo tal princípio, o bem 
principal atrai o acessório e lhe comunica o seu próprio regime jurídico. 
 
1. Pertenças: Esta categoria identifica os bens que não são partes 
integrantes do principal, e portanto, não são bens acessórios, mas unem-se ao 
bem principal para uso, serviço ou aformoseamento do principal (Art. 93). As 
pertenças são bens independentes do principal, mas que lhe servem de alguma 
maneira, melhorando sua utilização. Por serem independentes, excluem-se da 
aplicação do princípio da gravitação jurídica, e podem ser objetos de relações 
jurídicas próprias (Art. 94). Um bom exemplo é o rádio de um carro. 
 44 
 
2. Frutos: São bens que derivam do principal, bens que observam sua 
gênese no bem principal, e que se renova no decorrer do tempo. O fruto é 
produzido em caráter periódico. Como a maça que floresce da macieira a cada 
primavera, ou o aluguel de um apartamento pago mensalmente, ou os juros 
embutidos no valor principal ao mês, ou ao ano. Desta feita, os frutos podem 
caracterizar-se em naturais, que resultam das forças da natureza, civis, que 
sobrevém às abstrações feitas na órbita do direito civil, e os industriais, que 
surgem do engenho humano. Finalmente, pelo caráter de periodicidade com que 
se renovam, devem-se classificar os frutos em: pendentes quando ainda estão 
aderidos naturalmente ao principal, num momento de seu desenvolvimento; 
percipiendos quando já deviam ter sido colhidos mas ainda não foram; 
percebidos se já foram desligados do principal. “A possibilidade descrita no 
artigo em análise (Art. 95), de ser objeto de relações distintas, é comum tanto aos 
frutos quanto aos produtos, mesmo que ainda não separados do bem principal”. 
 
Art. 95. Apesar de ainda não separados do bem principal, os frutos e produtos 
podem ser objeto de negócio jurídico. 
 
3. Produtos: Os produtos se diferenciam dos frutos pelo caráter da 
periodicidade, sendo que esses não se renovam. Já dizia Orlando Gomes: 
“Enquanto a separação do fruto não altera a substancia da coisa principal, a 
extração do produto determina sua progressiva diminuição”. São bons exemplos 
o carvão, o petróleo e as pedras preciosas. 
 
4. Benfeitorias: As benfeitorias têm por escopo melhorar o bem principal. A 
própria redação do Art. 96 esclarece dados importantes: 
 45 
 
Art. 96. As benfeitorias podem ser voluptuárias, úteis ou necessárias. 
§1º. São voluptuárias as de mero deleite ou recreio, que não aumentam o uso 
habitual do bem, ainda que o tornem mais agradável ou sejam de elevado valor. 
§2º. São úteis as que aumentam ou facilitam o uso do bem. 
§3º. São necessárias as que têm por fim conservar o bem ou evitar que se deteriore. 
 
Tomando exemplos, ficará mais fácil de se compreender tal classificação. 
Uma casa localizada em uma encosta, exige a construção de um muro de 
contenção, para evitar deslizamentos. Esta é uma obra de natureza fundamental, 
pois o muro impedirá a eventual destruição da casa, visando conservar o bem. 
Portanto, o muro de contenção é considerado uma benfeitoria necessária. Na 
mesma casa, temos um novo cômodo sendo construído. Este cômodo irá 
aumentar a utilidade da casa, sendo considerado como benfeitoria útil. 
Finalmente, observamos a construção de um lago artificial, que terá a função 
exclusiva de mero deleite e de tornar o local mais agradável, sendo entendido 
como uma benfeitoria voluptuária. 
Outro problema a solucionar é o da benfeitoria realizada pelo possuidor, 
remetendo-se aos ensinamentos clarividentes de Tepedino, Bodin de Moraes e 
Barboza: “O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias 
necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, a 
levantá-las, quando o puder sem detrimento da coisa, e poderá exercer o direito 
de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis (CC, art. 1.219); ao 
possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as benfeitorias necessárias; não lhe 
assiste o direito de retenção pela importância destas, nem o de levantar as 
voluptuárias (CC, art. 1.220); (...) o reivindicante, obrigado a indenizar as 
 46 
benfeitorias ao possuidor de má-fé, tem o direito de optar entre seu valor atual e 
o seu custo; ao possuidor de boa-fé indenizará pelo valor atual (CC, art. 1.222)”. 
À guisa de conclusão, se o contrato de locação possui cláusula dispondo 
sobre a não indenização das benfeitorias, todavia, o locatário realiza benfeitoria 
necessária, como será dirimida a questão? O contrato indicava a impossibilidade 
de indenização pelas benfeitorias, mas poderá se alegar o enriquecimento sem 
causa do locador. 
 
XIX. BEM DE FAMÍLIA 
 
Uma outra classificação dos bens que ganha maior destaque é a do bem de 
família. Para que possamos compreender a noção de bem de família, 
imprescindível a remição à Lei n° 8.009/90. Esta lei versa sobre a 
impenhorabilidade do bem de família, e logo em seu artigo 1° fornece-nos um 
conceito para bem de família: 
 
Art. 1º. O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é 
impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, 
previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que 
sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas nesta

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