Buscar

CCJ0034-WL-D-AMMA-04-Crimes Contra a Administração Pública - Praticados por Particular I

Prévia do material em texto

DIREITO PENAL IV
Aula 4- Crimes contra a Administração Pública. 
Crimes Praticados por Funcionário Público. Parte I.
AULA 4. Crimes contra a Administração Pública 
DIREITO PENAL IV
OBJETIVOS
Ao final da aula o aluno será capaz de:
● Identificar, nos casos concretos apresentados, os delitos
contra a Administração Pública praticados por funcionário
público e respectiva responsabilidade penal do agente.
● Diferenciar, nos casos concretos apresentados, os delitos
de Peculato furto, peculato culposo, peculato desvio, peculato
mediante erro de outrem.
● Diferenciar os crimes funcionais próprios e impróprios para
fins de aplicação do preceito estabelecido no art. 30, do
Código
AULA 4. Crimes contra a Administração Pública 
DIREITO PENAL IV
Crimes contra a Administração Pública.
Crimes em espécie praticados por funcionário público.
Peculato e Concussão. Elementos do tipo. Sujeitos do delito.
Consumação e Tentativa. Modalidades culposas. Figuras
qualificadas, majoradas e privilegiadas. O concurso de
pessoas e a incidência do art. 30, do Código Penal:
comunicabilidade das circunstâncias pessoais. Questões
controvertidas- entendimento dos Tribunais Superiores.
AULA 4. Crimes contra a Administração Pública 
DIREITO PENAL IV
I. Peculato.
Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor
ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que
tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito
próprio ou alheio:
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
§ 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público,
embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai,
ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou
alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a
qualidade de funcionário.
AULA 4. Crimes contra a Administração Pública 
DIREITO PENAL IV
1.1. Elementos do tipo: as condutas dolosas previstas
descrevem figuras especiais dos delitos de apropriação
indébita (caput) e de furto (§1º), caracterizando-se, portanto,
como delitos funcionais impróprios ou mistos.
Por outro lado, no caso da conduta culposa, o
agente público, por meio da quebra do dever objetivo de
cuidado, concorre para a prática de peculato doloso por
outrem.
1.2. Sujeitos do delito: configura-se como delito próprio, mas
admite o concurso de pessoas, desde que o estranho à
Administração Pública tenha conhecimento da condição do
sujeito ativo.
No que concerne ao sujeito passivo, o Estado figura tanto
como sujeito passivo indireto, quanto direto, na medida em que
ocorre a lesão ao seu patrimônio moral e patrimonial.
AULA 4. Crimes contra a Administração Pública 
DIREITO PENAL IV
1.3. Figuras típicas
A) Peculato Próprio
► Peculato-apropriação: configura delito especial de
apropriação indébita, caracterizada pela qualidade do sujeito
ativo, pela lesão ao patrimônio público, bem como à
moralidade administrativa – à função exercida pelo Estado
presentado pelo agente público.
►Peculato-desvio (malversação): neste caso, o funcionário
dá destinação diversa a res, em benefício próprio ou de
terceiro. O referido benefício pode ser material ou moral, bem
como a vantagem não será, necessariamente, de cunho
econômico.
AULA 4. Crimes contra a Administração Pública 
DIREITO PENAL IV
Peculato de uso: Da mesma forma que no delito de
furto, caracteriza-se quando o agente utiliza-se de bem
infungível, sem o especial fim de agir de assenhoreamento
definitivo e o restitui de forma completa e integral. No caso de
uso de bem público, discute-se se o denominado peculato
caracterizar-se-ia como mero ilícito administrativo.
Sobre o tema, vide decisão proferida pelo Tribunal de
Justiça do Rio Grande do Sul, in verbis:
Ementa: APELAÇÃO. ART. 312 DO CP. PEÇA DE VEÍCULO.
PROPRIEDADE DA PREFEITURA MUNICIPAL.
EMPRÉSTIMO E DEVOLUÇÃO. ANIMO DE APROPRIAÇÃO
DEFINITIVA. AUSÊNCIA. Comprovado que a peça de
propriedade da Prefeitura foi utilizada no veículo de forma
transitória e logo devolvida, impositiva a absolvição, pois
AULA 4. Crimes contra a Administração Pública 
DIREITO PENAL IV
ausente o ânimo de apropriação definitiva, que caracteriza o
delito do art. 312 do CP. A hipótese, coincidente com peculato
de uso, não está tipificada no Código Penal, só podendo ser
responsabilizados por fatos dessa natureza, os Prefeitos
Municipais, em face do que dispõe o art. 1º , inc. II, do Dec. Lei
201. Recurso do Ministério Público improvido. (Apelação Crime
Nº 70037611134, Quarta Câmara Criminal, Tribunal de Justiça
do RS, Relator: Gaspar Marques Batista, Julgado em
07/10/2010)
AULA 4. Crimes contra a Administração Pública 
DIREITO PENAL IV
Ainda, vide decisão proferida pelo Tribunal Regional Federal 
da Terceira Região, in verbis:
EMENTA. PENAL E PROCESSUAL PENAL. PRESCRIÇÃO
DECLARADA NA SENTENÇA, À VISTA DA PENA APLICADA.
INVIABILIDADE. PRESCRIÇÃO RECONHECIDA DE OFÍCIO
PELO TRIBUNAL. PECULATO DE USO. DINHEIRO. BEM
FUNGÍVEL. NÃO CONFIGURAÇÃO. SAQUES E
TRANSFERÊNCIAS BANCÁRIAS. AUTORIZAÇÃO DO
CORRENTISTA. AUSÊNCIA DE DOLO.
(...) Cuidando-se de dinheiro o bem subtraído, não há falar em
peculato de uso, figura que pressupõe a infungibilidade do
objeto material. Precedentes do Supremo Tribunal
Federal.(TRF 3. ACR 2030 SP 2001.61.14.002030-0. Segunda
Turma. Rel. Des. Nelton dos Santos. Julgado em 20/09/2011).
AULA 4. Crimes contra a Administração Pública 
DIREITO PENAL IV
B) Peculato Impróprio – peculato-furto.
Art.312, §1º, CP - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário
público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o
subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio
ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a
qualidade de funcionário
C) Peculato Culposo - Art.312, §2º, CP
§ 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de
outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano.
Segundo Guilherme de Souza NUCCI trata-se de participação
culposa em crime doloso (Manual de Direito Penal.6.ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais. pp 989)
AULA 4. Crimes contra a Administração Pública 
DIREITO PENAL IV
D) Peculato mediante erro de outrem.
Art.313, caput, CP
Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício
do cargo, recebeu por erro de outrem:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
No delito em exame o terceiro, mediante uma falsa
percepção da realidade, entrega dinheiro ou utilidade – qualquer
vantagem ou lucro a funcionário público que não esteja
autorizado a recebê-los e este dolosamente não informa o
terceiro e nem a Administração Pública acerca do erro com o fim
de assegurar a sua apropriação.
Pode ocorrer ainda a situação na qual o funcionário público
seja competente para receber o valor, entretanto, o terceiro por
erro, paga um valor a maior e o funcionário dolosamente,
apropria-se da diferença.
AULA 4. Crimes contra a Administração Pública 
DIREITO PENAL IV
1.4. Reparação do dano: perdão judicial ou causa de
diminuição de pena:
§ 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de
outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano.
§ 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se
precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é
posterior, reduz de metade a pena imposta.
anterior à sentença condenatória irrecorrível
extinção de punibilidade;
posterior à sentença condenatória irrecorrível
causa de diminuição de pena.
AULA 4. Crimes contra a Administração Pública 
DIREITO PENAL IV
Agente de polícia é presa por peculato
Escrito por Pedro Paulo, Assessoria da Polícia Civil, em 
19/03/2010. Disponível em http://www.agencia.ac.gov.br/
Prisão é resultado de uma rigorosa investigação da Polícia 
Civil
A agente de polícia Maria Terezinha de Jesus, foi presa na
tarde desta sexta-feira, 19, acusada de peculato. Policiaisda
Delegacia Especializada em Flagrantes, onde Terezinha
trabalhava como escrivã, a prenderam no início da tarde. A
prisão ocorreu em função de investigações que vinham sendo
efetuadas pela Corregedoria da Polícia Civil e pelo Serviço de
Inteligência da instituição, em função de denúncias de desvio de
dinheiro oriundo de fianças, de cerca de 103 inquéritos policiais
manuseados por Terezinha.
Caso concreto A partir da análise da notícia, abaixo transcrita, responda, de forma objetiva e fundamentada, se a restituição da quantia desviada pela agente teria relevância jur
AULA 4. Crimes contra a Administração Pública 
DIREITO PENAL IV
A investigação detalhada da Corregedoria constatou que a
servidora pública desviou aproximadamente R$ 60 mil, além
de haver retardado a remessa dos inquéritos à Justiça. No
final da investigação, o delegado corregedor André Luis
Monteiro a indiciou por peculato doloso. Após reunir provas
robustas que comprovam o crime - disciplinado pelo art. 312
do Código Penal (CP) - a corregedoria da instituição
representou pela prisão da policial. A juíza da 2ª Vara Criminal
Denise Bonfim acolheu a fundamentação da recomendação e
mandou prender preventivamente Maria Terezinha. Além das
providências criminais, cuja pena varia de 2 a 12 anos de
reclusão, a corregedoria instaurou processo administrativo,
que poderá resultar na exclusão de Terezinha dos quadros da
Polícia Civil.
AULA 4. Crimes contra a Administração Pública 
DIREITO PENAL IV
A DGPC, esclarece que as investigações se iniciaram, quando
o delegado coordenador da Delegacia de Flagrantes percebeu
atraso nas remessas de processos à Justiça. Ao proceder uma
auditoria, constatou a ausência de peças dos autos (dinheiro de
fiança) e repassou as informações a Corregedoria. Com base
no inquérito já concluído que ensejou na prisão servidora, a
Direção da PC irá determinar procedimentos para apurar a
conduta da policial no Conselho Superior da Polícia Civil. O
secretário interino da Polícia Civil informou que a instituição
continuará primando pela lisura na prestação de seus serviços,
e que todas as providências cabíveis serão tomadas, não só
em relação a este, mas em outros casos de infração disciplinar
praticada por seus servidores. "Somos agentes da Lei, e temos
que ser os primeiros a dar o exemplo", conclui André Monteiro.
AULA 4. Crimes contra a Administração Pública 
DIREITO PENAL IV
Acerca do tema cabe citar decisão proferida, em sede de
Apelação Criminal, pelo Tribunal Regional Federal da 5ª Região:
EMENTA. PENAL E PROCESSUAL PENAL. ESTELIONATO
QUALIFICADO E PECULATO CULPOSO. EXTINÇÃO DA
PUNIBILIDADE QUANTO A ESTE, PELO RESSARCIMENTO
DO DANO. NÃO CARACTERIZAÇÃO DO CRIME DE
PECULATO-ESTELIONATO. ERRO INDUZIDO. . PRÁTICA DO
DELITO CONFESSADA PELOS ACUSADOS. A PRIMEIRA
DELES SUBTRAIU FOLHA DO TALONÁRIO DE CHEQUES DA
ENTIDADE EM QUE TRABALHAVA (ENTIDADE ESTA
VINCULADA À FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE),
FALSIFICOU A ASSINATURA DAS PESSOAS CREDENCIADAS
AULA 4. Crimes contra a Administração Pública 
DIREITO PENAL IV
A ASSINAR O CHEQUE E SACOU A IMPORTÂNCIA JUNTO À
CAIXA ECONÔMICA FEDERAL - CEF. O SEGUNDO ACUSADO
- CAIXA DA CEF - CONFESSA TER AGIDO
NEGLIGENTEMENTE, AO ENTREGAR À PRIMEIRA ACUSADA
O NUMERÁRIO, SEM CONFERÊNCIA DAS ASSINATURAS
APOSTAS NO TÍTULO E SEM VERIFICAR EXIGÊNCIAS
NECESSÁRIAS AO DESCONTO DE CHEQUES DAQUELE
MONTANTE. 2. NÃO CARACTERIZAÇÃO DE CONCURSO DE
AGENTES, MERCÊ DA HETEROGENEIDADE DOS
ELEMENTOS SUBJETIVO-NORMATIVOS (NÃO SE ADMITE
PARTICIPAÇÃO CULPOSA EM CRIME DOLOSO). CRIMES
DISTINTOS PARA CADA ACUSADO - UMA PUNIDA A TÍTULO
DE DOLO E O OUTRO, A TÍTULO DE CULPA. 3. EXTINÇÃO DA
PUNIBILIDADE EM RELAÇÃO AO ACUSADO - CAIXA DA CEF -
AULA 4. Crimes contra a Administração Pública 
DIREITO PENAL IV
QUE COMETEU PECULATO CULPOSO (ARTIGO 312, 2O,
DO CÓDIGO PENAL BRASILEIRO)À CONTA DA
REPARAÇÃO DO DANO ANTES DA PROLAÇÃO DA
SENTENÇA (ARTIGO 312, 3O, DO MESMO DIPLOMA
LEGAL). EXTINÇÃO QUE NÃO BENEFICIA A ACUSADA,
POSTO HAVER ESTA COMETIDO CRIME DISTINTO,
CONFORME EXPOSTO NO ITEM ANTERIOR. 4. SENTENÇA
QUE, MALGRADO ENTENDESSE TER OCORRIDO A
PRÁTICA DE PECULATO-ESTELIONATO (ARTIGO 313 DO
"CPB"), CONDENOU A ACUSADA NAS PENAS DO ARTIGO
312, "CAPUT", DO MESMO DIPLOMA. 5. REFORMA DA
SENTENÇA NA PARTE EM QUE, EMENDANDO A
DENÚNCIA (POSSIBILIDADE ENCARTADA NO ARTIGO 383
DO CÓDIGO PROCESSUAL PENAL), ENTENDEU TER
OCORRIDO, NÃO O CRIME DE ESTELIONATO
AULA 4. Crimes contra a Administração Pública 
DIREITO PENAL IV
.
QUALIFICADO, COMO ASSEGURADO NA PEÇA
ACUSATÓRIA, MAS O DE PECULATO-ESTELIONATO. 6. O
CRIME PRATICADO PELA ACUSADA FOI, EFETIVAMENTE,
AQUELE DESCRITO NA DENÚNCIA, QUAL SEJA, O DE
ESTELIONATO QUALIFICADO (ARTIGO 171, 3O, DO
CÓDIGO PENAL). O PECULATO-ESTELIONATO SOMENTE
SE CARACTERIZA QUANDO A VANTAGEM É OBTIDA
MEDIANTE ERRO ESPONTANEAMENTE PRATICADO POR
OUTREM, E NÃO QUANDO O AGENTE INDUZ, MEDIANTE
FRAUDE, A PRÁTICA DESSE ERRO. 7. REDUÇÃO DA PENA
DE 2 (DOIS) ANOS (QUE FORA COMINADA POR SER A
PENA MÍNIMA PREVISTA PARA O CRIME DE PECULATO)
PARA 1 (UM) ANO E 3 (TRÊS) MESES, QUE É O MÍNIMO
PREVISTO PARA O ESTELIONATO QUALIFICADO.
MANUTENÇÃO DA PENALIDADE PECUNIÁRIA FIXADA NA
SENTENÇA.
AULA 4. Crimes contra a Administração Pública 
DIREITO PENAL IV
8. O FATO DE SOMENTE SE HAVER INTERPOSTO
RECURSO PELA ACUSAÇÃO NÃO CONSTITUI ÓBICE A
QUE SE DIMINUA A PENA IMPOSTA, MÁXIME QUANDO É
A PRÓPRIA ACUSAÇÃO QUE SUSTENTA SE ENQUADRAR
O DELITO, NÃO NO ARTIGO 312, MAS NO ARTIGO 171, 3º.
IMPÕE-SE, SEMPRE, COMO AVENTADO NO OPINATIVO
MINISTERIAL, O RESULTADO MAIS FAVORÁVEL AO RÉU.
9. APELO PARCIALMENTE PROVIDO. (Apelação Criminal
1442/ AL 95.05.31954-1, Terceira Turma Rel. Des. Federal
Geraldo Apoliano, julgado em 26/08/1998).
AULA 4. Crimes contra a Administração Pública 
DIREITO PENAL IV
1.5. Confronto entre o delito de peculato e os delitos
falsificação de documento e uso de documento falso.
A partir da análise do caso concreto a concorrência entre a
prática dos delitos de peculato e uso de documento falso
pode ensejar as seguintes controvérsias:
a)Incidência do conflito aparente de normas a ser
solucionado pelo princípio da absorção.
Neste sentido, sendo caracterizado o delito de falso como
crime meio para a prática do delito contra a Administração
Pública, vide decisão proferida pelo Tribunal de Justiça de
Minas Gerais:
AULA 4. Crimes contra a Administração Pública 
DIREITO PENAL IV
Ementa: APELAÇÃO CRIMINAL. FALSIDADE IDEOLÓGICA.
USO DE DOCUMENTO FALSO. PECULATO. PRELIMINAR DE
NULIDADE DE SENTENÇA POR AUSÊNCIA DE APRECIAÇÃO
DAS PROVAS. AFASTAMENTO. VÍCIO INEXISTENTE.
SENTENÇA DEVIDAMENTE FUNDAMENTADA, EM
CONFORMIDADE COM AS EXIGÊNCIAS LEGAIS.
COMPROVAÇÃO DA MATERIALIDADE E AUTORIA DELITIVA
DOS CRIMES PREVISTOS NO ARTIGO 299, 304 E 312.
CONCURSO MATERIAL. CO-AUTORIA. ABSORÇÃO DOS
CRIMES DE FALSIDADE IDEOLÓGICA E USO DE
DOCUMENTO FALSO PELO PECULATO. PRINCÍPIO DA
CONSUNÇÃO. PRESENÇA DE CRIME CONTINUADO.
PRELIMINAR REJEITADA. DADO
AULA 4. Crimes contra a Administração Pública 
DIREITO PENAL IV
PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO. 1. Trata-se de
apelação com preliminar de nulidade por vício na sentença,
vez que o magistrado não teria apreciado as provas
carreadas aos autos quando de sua prolação. 2. Preliminar
afastada, já que o magistrado fundamentou suas razões
decidende do decreto absolutório, o fazendo declinando as
provas que foram apreciadas, motivo pelo qual não há de se
falar em nulidade 3. A materialidade e autoria delitiva dos
crimes de falsidade ideológica, uso de documento falso e
peculato restaram amplamente comprovadas, seja pelas
notas fiscais acostadas, seja pela prova pericial ou
testemunhal
AULA 4. Crimes contra a Administração Pública 
DIREITO PENAL IV
4. Tratando-se de ato preparatório para a prática do crime
de peculato, os crimes de falsidade ideológicae uso de
documento falso são meros antefatos impuníveis, uma vez
que o dolo dos agentes era de apropriação do dinheiro
público, de que tinha posse em função do exercício do
cargo. 5. As circunstâncias de tempo, modo, lugar, maneira
de execução dos diversos delitos de peculato estão a
ensejar o reconhecimento de continuidade delitiva e não
concurso material de crimes. 6. A causa de aumento de
pena prevista no artigo 71 do Código Penal variará
conforme a quantidade de crimes perpetrados, de forma
proporcional.
AULA 4. Crimes contra a Administração Pública 
DIREITO PENAL IV
7. Presentes os requisitos concessivos de pena alternativa,
inexiste razões para a manutenção da reprimenda privativa de
liberdade. 7. Preliminar rejeitada. Recurso parcialmente
provido nos termos do voto do Relator.(TJMG, Apelação
Criminal n. 1.0460.04.015305-4/001. Sétima Câmara Criminal.
Rel. Des. Marcílio Eustáquio Santos, julgado em: 13/01/2011).
b) Caracterização do uso de documento falso como pós
fato impunível.
Neste sentido já proferiu decisão o Tribunal de Justiça do
Rio Grande do Sul.
Ementa: APELAÇÃO. PECULATO. DESVIO DE CESTAS
BÁSICAS. USO DE DOCUMENTO FALSO. "POST FACTUM
IMPUNÍVEL. Comprovado que o réu desviou bem público, em
proveito próprio, utilizando documento falso para ocultar a
AULA 4. Crimes contra a Administração Pública 
DIREITO PENAL IV
manobra ilícita, está perfeitamente demonstrado o crime de 
peculato. O delito de uso de documento falso é "post factum 
impunível, uma vez praticado como acabamento da ação 
peculatária, devendo permanecer somente a condenação pelo 
crime do art. 312 do C. Penal. Recurso da defesa parcialmente 
provido. (Apelação Crime Nº 70030943559, Quarta Câmara 
Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Gaspar Marques 
Batista, Julgado em 08/10/2009).
c) Incidência do concurso crimes (material ou formal
imperfeito) e, conseqüente, cúmulo material de penas.
Neste sentido já se pronunciou o Supremo Tribunal Federal
e o Superior Tribunal de Justiça face à pluralidade de bens
jurídicos lesionados.
AULA 4. Crimes contra a Administração Pública 
DIREITO PENAL IV
Ainda, sobre o tema cabe transcrever decisão proferida pelo
Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro:
HABEAS CORPUS. Impetrante alega estar o paciente
suportando constrangimento ilegal decorrente da decisão do
Juiz da Vara de Execuções Penais que indeferiu o trabalho
extramuros e a visitação periódica ao lar. O paciente foi
condenado pelas práticas dos delitos de extorsão mediante
sequestro, peculato e uso de documento falso. As penas
foram unificadas no total de 35 anos e 02 meses de reclusão.
O Juízo de primeiro grau esclareceu que o indeferimento dos
pedidos se deu em virtude da incompatibilidade do benefício
com os objetivos da pena, na forma do inciso III, do artigo 123
da Lei 7.210/84 porque no momento ¿ prematura a visitação
do lar e o trabalho extramuros, sendo necessária avaliação do
comportamento do apenado durante tempo maior.
AULA 4. Crimes contra a Administração Pública 
DIREITO PENAL IV
O apenado ostenta histórico de fugas, o que demonstra,
tendência a se comportar de modo incompatível com os
benefícios do trabalho extramuros e da visitação periódica ao
lar. CONHECE-SE DA DEMANDA, MAS DENEGA-SE ¿
ORDEM PLEITEADA (TJRJ. Habeas Corpus. Oitava Câmara
Criminal. Rel. Des. Ronaldo Assed Machado, julgado em
10/05/2012).
Peculato Eletrônico:
Forma especial do delito de peculato e configura-se como
delito de mera atividade. Inserção de dados falsos em
sistema de informações
Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a
inserção de dados falsos, alterar ou excluir indevidamente
dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos de
dados da Administração Pública com o fim de obter vantagem
indevida para si ou para outrem ou para causar dano:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
AULA 4. Crimes contra a Administração Pública 
DIREITO PENAL IV
II. Concussão.
Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou
indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la,
mas em razão dela, vantagem indevida:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
1. Elementos do tipo: a conduta dolosa prevista descreve
figura especial do delito de extorsão caracterizando-se,
portanto, como delito funcional impróprio ou misto.
Diferencia-se do delito de corrupção passiva, art.317, do
Código Penal, pois neste o núcleo do tipo descreve a conduta
de “solicitar”, diferentemente do delito de concussão, no qual o
agente “exige” para si ou para outrem a vantagem indevida, ou
seja, impõe à vítima a prática de uma conduta que o beneficie e
esta cede por “temor” a possíveis represálias.
AULA 4. Crimes contra a Administração Pública 
DIREITO PENAL IV
2.2.. Sujeitos do delito: configura-se como delito próprio, mas
admite o concurso de pessoas, desde que o estranho à
Administração Pública tenha conhecimento da condição do
sujeito ativo.
Em relação à figura típica prevista no §1º (excesso de
exação), somente pode ser sujeito ativo o funcionário
encarregado da arrecadação.
No que concerne ao sujeito passivo, o Estado figura tanto
como sujeito passivo indireto, quanto direto, na medida em que
ocorre a lesão ao seu patrimônio moral e patrimonial.
AULA 4. Crimes contra a Administração Pública 
DIREITO PENAL IV
2.3.Consumação e Tentativa.
Configura-se como delito formal, logo consuma-se com a
mera conduta de exigir, para si ou para outrem, mas em razão
da função a vantagem indevida; caso esta ocorra, será
caracterizada como mero exaurimento da conduta.
2.4. Excesso de exação.
§ 1º - Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que
sabe ou deveria saber indevido, ou, quando devido, emprega na
cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza:
Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa.
AULA 4. Crimes contra a Administração Pública 
DIREITO PENAL IV
O excesso de exação, compreendida esta como a exigência
rigorosa de tributos (imposto, taxa ou contribuição de melhoria)
ou contribuição social e perfaz-se mediante duas modalidades:
exigência indevida do tributo ou contribuição social e cobrança
vexatória ou gravosa não autorizada em lei (CAPEZ, Fernando.
Curso de Direito Penal. V.3. 8.ed. São Paulo:Saraiva, 2010, pp
491).
► Forma qualificada §2º
§ 2º - Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de
outrem, o que recebeu indevidamente para recolher aos cofres
públicos:
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
Obs. Caso o agente desvie a quantia após sua inclusão aos
cofres públicos o delito será de peculato.
AULA 4. Crimes contra a Administração Pública 
DIREITO PENAL IV
CASO CONCRETO
Considere que Charles, funcionário público no exercício de
suas funções, tenha desviado dolosamente valores particulares
de que tinha a posse em razão do cargo. Nessa situação
hipotética: (Exame OAB/CESPE –UnB. 2010.1)
A) Charles praticou peculato-desvio, podendo eventual
reparação do dano ser considerada arrependimento posterior
ou circunstância atenuante genérica, a depender do momento
em que for efetivada.
B) Charles praticou crime de furto, e não de peculato, haja vista
que os valores de que tinha a posse em razão do cargo eram
particulares, e não, públicos.
AULA 4. Crimes contra a Administração Pública 
DIREITO PENAL IV
.C) se Charles reparar o dano antes do recebimento da
denúncia, sua punibilidade será extinta; se o fizer
posteriormente, sua pena será diminuída.
D) a pena de Charles não seria alterada na eventualidade de
ser ele ocupante de cargo em comissão de órgão da
administração direta, visto que a tipificação do crime já
considera o fato de ser o agente funcionário público como
elementar do tipo.

Outros materiais

Materiais relacionados

Perguntas relacionadas

Perguntas Recentes