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Filosofia Lógica e Ética - UNIDADE I

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0 
 
 
UNIDADE 1 
 
FILOSOFIA 
LÓGICA E ÉTICA 
 
 
1 
 
 
 
 
Caro estudante, 
 
Queremos lhe dar as boas-vindas e 
cumprimentá-lo pela oportunidade de participar 
 dessa modalidade de ensino-aprendizagem 
presente no currículo do curso que escolhestes 
estudar. 
Você está participando de um momento 
importante na instituição e no nosso país, pois a 
Educação a Distância – EAD está se expandindo 
cada vez mais, por ser uma modalidade que 
busca atender as novas demandas educacionais 
decorrentes das mudanças na nova ordem 
econômica mundial. 
As características fundamentais da 
sociedade contemporânea que têm impacto 
sobre a educação são, pois, maior 
complexidade das relações sócio-produtivas, 
uso mais intenso de tecnologia, 
redimensionamento da compreensão das 
relações de espaço e tempo, trabalho mais 
responsabilizado, com maior mobilidade, 
exigindo um trabalhador multicompetente, 
multiqualificado, capaz de gerir situações de 
grupo, de se adaptar a situações novas e sempre 
pronto a aprender. 
Em suma, queremos que a partir do 
conhecimento das novas tecnologias de 
interação e do estudo independente, você, caro 
estudante, torne-se um profissional autônomo 
em termos de aprendizado e capaz de construir 
e reconstruir conhecimentos, afinal esse é o 
trabalhador que o mercado atualmente exige. 
Dessa forma, participe de todas as 
atividades e aproveite ao máximo esse novo tipo 
de relação com os seus colegas, tutores e 
professores, e nos ajude a construir uma FATE e 
uma sociedade cada vez melhor. 
 
Malverique Neckel – Diretor Acadêmico FATE 
 
 
2 
 
 UNIDADE I 
 
Ao finalizar esta nossa primeira Unidade , você deverá ser capaz de: 
 Conhecer a importância da filosofia; 
 Saber o quanto a filosofia é importante para o nosso cotidiano; 
 Analisar estruturas filosóficas e entendê-las ; 
 Aplicar de forma prática a filosofia no nosso cotidiano. 
 
 
"Qualquer porta que nos depararmos, não nos será intransponível, 
se tivermos as chaves da fé, para escancará-la." 
(Ivan Teorilang) 
 
Aprender a filosofar 
 
 
 
Toda aprendizagem supõe o encontro com o desconhecido. Nesse 
sentido, iniciar-se em filosofia pode significar o enfrentamento de dificuldades 
que, no entanto, não são intransponíveis ou seja insuperável. Ao contrário, 
você terá a alegria de descobertas prazerosas. 
 
3 
 
Como qualquer outro setor da reflexão humana, a filosofia 
pressupõe um repertório conceitual específico com o qual você deverá se 
familiarizar aos poucos, percebendo que o rigor da linguagem é indispensável. 
Verá, inclusive, que os conceitos adquirem sentidos diferentes no decorrer da 
história da filosofia, de acordo com os pensadores estudados. Daí a 
importância de recorrer aos dicionários, os de português e os de filosofia. 
Para se familiarizar com a tradição filosófica, nada melhor do que o 
contato com as dicas, as informações extras que estão no decorrer das 
unidades. Além disso, também há atividades complementares que deverão ser 
analisados de maneira filosófica. 
Lembre-se: mesmo que alguns dos textos nos cativem desde o início 
outros podem não parecer atraentes à primeira vista. Sabe por quê? Assim 
como para apreciar a arte é preciso desenvolver a sensibilidade, também 
precisamos aprender a ouvir o que o autor tem a dizer: o prazer de entender 
idéias às vezes é uma conquista final. 
Arranque da mente os pensamentos derrotistas: não sou capaz, e 
substitua-os por uma ideia efetiva: Posso fazer brilhantemente! 
 
R. O. Dantas 
 
 
4 
 
É comum a expectativa de que a aula de filosofia seja conduzida 
somente por meio de debates e exposição de opiniões pessoais. Apesar de ser 
em parte verdadeiro, lembrando que essa atividade deve ser entremeada pelo 
diálogo., de modo a enriquecer a discussão e ampliar o ponto de vista pessoal. 
Além disso, é preciso cuidar para que haja de fato debate e não “conversa de 
surdos”, em que não se concede espaço para ouvir os outros nem se respeita 
a opinião alheia. Lembre-se de que o debate é a ocasião do exercício da 
cidadania, porque a troca de idéias é o fundamento da aceitação do pluralismo. 
Escrever claramente sobre o que pensamos nem sempre é fácil: a 
habilidade de elaborar seu próprio texto supõe um exercício que exige esforço 
e atenção. A clareza é mais do que um exercício formal do uso da língua, 
porque exige o rigor dos conceitos, da exposição das idéias e da boa 
estruturação do pensamento. 
Cuidado com os exemplos: embora bem-vindos, são 
complementares, porque é preciso sempre usar argumentos que justifiquem 
suas idéias, a fim de não ficar restrito à visão concreta do mundo. 
Releia várias vezes o que escreveu, para não cair em expressões 
vazias: por exemplo, não adianta dizer que um filósofo foi inovador, se não 
explicitar em que ele inovou. 
A TAREFA DA FILOSOFIA 
A filosofia é um modo de pensar, é uma postura diante do mundo. 
Ela não é um conjunto de conhecimentos prontos, um sistema acabado, 
fechado em si mesmo. Ela é, antes de mais nada, um modo de se colocar 
diante da realidade, procurando refletir sobre acontecimentos a partir de certas 
posições teóricas. Essa reflexão permite ir além da pura aparência dos 
fenômenos, em busca de suas raízes e de sua contextualização em um 
horizonte amplo, que abrange os valores sociais, históricos, econômicos, 
políticos, éticos e estéticos, por essa razão, ela pode se voltar para qualquer 
objeto. Pode pensar sobre ciência, seus valores, seus métodos, seus mitos; 
pode pensar a respeito da religião; pode pensar sobre a arte; pode pensar 
 
5 
 
acerca do próprio ser humano em sua vida cotidiana. Uma historia em 
quadrinhos ou uma canção popular também pode ser objeto da reflexão 
filosófica. 
A filosofia é um jogo irreverente que parte do que existe, critica, 
coloca em dúvida, faz pergunta importunas, abre a porta das possibilidades, 
faz-nos entrever outros mundos e outros modos de compreender a vida. 
A filosofia incomoda porque questiona o modo de ser das pessoas, 
das culturas, do mundo. Questiona as práticas política, científica, técnica, ética, 
econômica, cultural e artística. Não há área em que ela não se meta, não 
indague, não perturbe. E nesse sentido, a filosofia [e perigosa, subversiva, pois 
vira a ordem estabelecida de cabeça para baixo. 
Essa subversão da ordem, entretanto, não é feita gratuitamente, não 
é um quebrar regras e costumes simplesmente por quebrar. A maior parte dos 
filósofos subverteu a ordem porque, ao indagar sobre a realidade de sua 
época, fez surgir novas possibilidades de comportamento e de relação social. 
Do ponto de vista da ordem estabelecida, isto é, das instituições e da ideologia 
dominante, eles destruíram uma tradição. Do ponto de vista da história, eles 
nos fizeram ver injustiças, arbitrariedades, estratagemas de dominação e de 
exploração. 
 
O NASCIMENTO DA FILOSOFIA 
Quando falamos em “nascimento” imediatamente percebemos o 
sentido de geração de alguma coisa a partir de algo que se supõe como 
anterior (por exemplo: os pais são precedentes ao nascimento de um filho). 
Assim, ao falarmos de nascimento da Filosofia poderíamos querer 
estabelecer não só as condições materiais que permitiram que ele ocorresse, 
mas também a estrutura cultural que serviria de base para um tal episódio. 
Muitas foram as discussões em que se tentou ou fazer um vínculo 
entre os gregos e o Oriente ou evidenciar a originalidade dos gregos em 
 
6 
 
relação à Filosofia. Mas segundo o helenista Jean-Pierre Vernant, nem milagre, 
nem orientalismo em suasextremidades, definem o surgimento da Filosofia. 
Isso porque claramente ela tem dívida com o Oriente em razão dos contatos 
com persas, egípcios, babilônicos, caldeus – mas aquilo em que ela 
transformou esses conteúdos resulta em algo totalmente inovador no 
pensamento humano. 
Enquanto muitas técnicas de previsão, cálculo etc., já existiam como 
práticas exercidas nas culturas citadas acima, a pergunta filosófica é 
inteiramente radical em relação àquilo que se tinha no cotidiano: a Filosofia 
pergunta sobre o que é a coisa, como é constituída a coisa, qual sua origem e 
causa. Mas ainda aqui há uma problemática, pois antes mesmo de se fazer 
essas perguntas, deslocando-as para um campo lógico-conceitual, já haviam 
respostas dadas que satisfaziam, ao menos temporariamente, as consciências 
da época. 
É nesse ínterim que se desenvolveu a chamada Cosmogonia 
(cosmos = mundo organizado, universo; gonia = gênese, origem) que foi a 
primeira tentativa de se explicar a realidade. Esta era baseada em mitos 
(narrativas) que criavam, a partir de imagens de deuses, de seres inanimados, 
animais, etc., a estrutura hierárquica e organizada do mundo. 
No entanto, a Filosofia surge como Cosmologia (lógos = razão, 
palavra, discurso, contar, calcular), ou seja, a compreensão de que o mundo é, 
sim, organizado, mas os fundamentos de suas explicações não são meramente 
seres antropomórficos, mas conceitos de nossa própria racionalidade. A 
Filosofia surge para substituir o modelo mitológico-cosmogônico, pelo 
cosmológico-racional. Não quer dizer que o processo anterior seja irracional, 
mas apenas se constitui como uma lógica imanente, no sentido de se atrelar ao 
psicológico ou a conteúdos que deem forma aos argumentos, enquanto que a 
Filosofia, ao se fazer e se constituir, vai propor o modelo inverso, qual seja, em 
que a forma lógica constitui melhor os conteúdos do pensamento, ascendendo 
ao verdadeiro conhecimento. 
 
7 
 
Portanto, com essa inversão, há duas consequências: a primeira é a 
de requerer a autonomia do ouvinte ou em geral do indivíduo para si mesmo e 
não mais conferi-la à autoridade externa dos poetas, rapsodos e aedos (artistas 
da época); a segunda é a de que esse processo de logicização e 
conceitualização promove a distinção entre misticismo e racionalismo de modo 
a desvelar o homem a si mesmo, com suas potências para conhecer e agir 
justificadas na razão, ou seja, finda o agonismo (combate) entre deuses e 
homens e fica apenas o agonismo entre os homens, como superação do 
trágico de nossa existência. 
 
Por João Francisco P. Cabral 
Colaborador Brasil Escola 
Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU 
Mestrando em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP 
 
A ATITUDE FILOSÓFICA 
Imaginemos, agora, alguém que tomasse uma decisão muita 
estranha e começasse a fazer perguntas inesperadas. Em vez de “que horas 
são” ou “que dia é hoje?”, perguntasse: O que é o tempo? Em vez de dizer 
“está sonhando” ou “ficou maluca”, quisesse saber: O que é o sonho? A 
loucura? A razão? 
Se essa pessoa fosse substituindo sucessivamente suas perguntas, 
suas afirmações por outras: 
“Onde há fumaça, há fogo”, ou “não saia na chuva para não se 
resfriar”, por: O que é causa? O que é efeito?; “seja objetivo”, ou “eles são 
muito subjetivos”, por: O que é a objetividade? O que é a subjetividade?; “Esta 
casa é mais bonita do que a outra”, por: O que é “mais”? O que é “menos”? O 
que é o belo? 
 
8 
 
Em vez de gritar “mentiroso!”, questionasse: O que é a verdade? O 
que é o falso? O que é o erro? O que é a mentira? Quando existe verdade e 
por quê? Quando existe ilusão e por quê? 
Se, em vez de falar na subjetividade dos namorados, inquirisse: O 
que é o amor? O que é o desejo? O que são os sentimentos? 
 
Se, em lugar de discorrer tranqüilamente sobre “maior” e “menor” ou 
“claro” e “escuro”, resolvesse investigar: O que é a quantidade? O que é a 
qualidade? 
E se, em vez de afirmar que gosta de alguém por que possui as 
mesmas idéias, os mesmos gostos, as mesmas preferências e os mesmos 
valores, preferisse analisar: O que é um valor? O que é um valor moral? O que 
é um valor artístico? O que é a moral? O que é a vontade? O que é a 
liberdade? 
Alguém que tomasse essa decisão, estaria tomando distância da 
vida cotidiana e de si mesmo, teria passado a indagar o que são as crenças e 
os sentimentos que alimentam, silenciosamente, nossa existência. 
Ao tomar essa distância, estaria interrogando a si mesmo, desejando 
conhecer por que cremos no que cremos, por que sentimos o que sentimos e o 
que são nossas crenças e nossos sentimentos. Esse alguém estaria 
começando a adotar o que chamamos de atitude filosófica. 
Assim, uma primeira resposta à pergunta “O que é Filosofia?” 
poderia ser: A decisão de não aceitar como óbvias e evidentes as coisas, as 
idéias, os fatos, as situações, os valores, os comportamentos de nossa 
existência cotidiana; jamais aceitá-los sem antes havê-los investigado e 
compreendido. 
 
9 
 
Perguntaram, certa vez, a um filósofo: “Para que Filosofia?”. E ele 
respondeu: “Para não darmos nossa aceitação imediata às coisas, sem 
maiores considerações”. 
ATITUDE CRÍTICA 
A primeira característica da atitude filosófica é negativa, isto é, um 
dizer não ao senso comum, aos pré-conceitos, aos pré-juízos, aos fatos e às 
idéias da experiência cotidiana, ao que “todo mundo diz e pensa”, ao 
estabelecido. 
A segunda característica da atitude filosófica é a positiva, isto é, uma 
interrogação sobre o que são as coisas, os fatos, as situações, os 
comportamentos, os valores, nós mesmos. É também uma interrogação sobre 
o porquê disso tudo e de nós, a uma interrogação sobre como tudo isso é 
assim e não de outra maneira. O que é? Por que é? Como é? Essas são as 
indagações fundamentais da atitude filosófica. 
A face negativa e a face positiva da atitude filosófica constituem o 
que chamamos de atitude crítica e pensamento crítico. 
A Filosofia começa dizendo não às crenças e aos preconceitos do 
senso comum e, portanto, começa dizendo que não sabemos o que 
imaginávamos saber; por isso, o patrono da Filosofia, o grego Sócrates, 
afirmava que a primeira e fundamental verdade filosófica é dizer: “Sei que nada 
sei”. Para o discípulo de Sócrates, o filósofo Platão, a Filosofia começa com a 
admiração; já o discípulo de Platão, o filósofo Aristóteles, acreditava que a 
Filosofia começa o espanto. 
Admiração e espanto significam: tomamos distância do nosso 
mundo costumeiro, através de nosso pensamento, olhando-o como se nunca o 
tivéssemos visto antes, como se não tivéssemos tido família, amigos, 
professores, livros e outros meios de comunicação que nos tivessem dito o que 
o mundo é; como se estivéssemos acabando de nascer para o mundo e para 
nós mesmos e precisássemos perguntar o que é, por que é e como é o mundo, 
 
10 
 
e precisássemos perguntar também o que somos, por que somos e como 
somos. 
Ora, muitos fazem uma outra pergunta: afinal, para que 
Filosofia? 
PARA QUE FILOSOFIA? 
É uma pergunta interessante. Não vemos nem ouvimos ninguém 
perguntar, por exemplo, para que a matemática ou a física? Para que geografia 
ou geologia? Para que história ou sociologia? Para que biologia ou psicologia? 
Para que astronomia ou química? Para que pintura, literatura, música ou 
dança? Mas todo mundo acha muito natural perguntar: Para que Filosofia? 
Em geral, essa pergunta costuma receber uma resposta irônica, 
conhecida dos estudantes de 
Filosofia: “A Filosofia é uma ciência com a qual e sem a qual omundo permanece tal e qual”. Ou seja, a Filosofia não serve para nada. Por 
isso, se costuma chamar de “filósofo” alguém sempre distraído, com a cabeça 
no mundo da lua, pensando e dizendo coisas que ninguém entende e que são 
perfeitamente inúteis. 
Essa pergunta, “Para que Filosofia”, tem a sua razão de ser. 
Em nossa cultura e em nossa sociedade, costumamos considerar 
que alguma coisa só tem o direito de existir se tiver alguma finalidade prática, 
muito visível e de utilidade imediata. 
 Por isso, ninguém pergunta para que as ciências, pois todo mundo 
imagina ver a utilidade das ciências nos produtos da técnica, isto é, na 
aplicação científica à realidade. 
Todo mundo também imagina ver a utilidade das artes, tanto por 
causa da compra e venda das obras de arte, quanto porque nossa cultura vê 
os artistas como gênios que merecem ser valorizados para o elogio da 
 
11 
 
humanidade. Ninguém, todavia, consegue ver para que serviria a 
Filosofia, donde dizer-se: não serve para coisa alguma. 
Parece, porém, que o senso comum não enxerga algo que os 
cientistas sabem muito bem. As ciências pretendem ser conhecimentos 
verdadeiros, obtidos graças a procedimentos rigorosos de pensamento; 
pretendem agir sobre a realidade, através de instrumentos e objetos técnicos; 
pretendem fazer progressos nos conhecimentos, corrigindo-os e aumentando-
os. 
Ora, todas essas pretensões das ciências pressupõem que elas 
acreditam na existência da sua verdade, de procedimentos corretos para bem 
usar o pensamento, na tecnologia como aplicação prática de teorias, na 
racionalidade dos conhecimentos, porque podem ser corrigidos e 
aperfeiçoados. 
Verdade, pensamento, procedimentos especiais para conhecer 
fatos, relação entre teoria e prática, correção e acúmulo de saberes: tudo isso 
não é ciência, são questões filosóficas. Os cientistas partem delas como 
questões já respondidas, mas é a Filosofia quem as formula e busca respostas 
para elas. 
Assim, o trabalho das ciências pressupõe, como condição, o 
trabalho da filosofia, mesmo que os cientistas não sejam filósofos. No entanto, 
como apenas os cientistas e filósofos sabem disso, o senso comum continua 
afirmando que a Filosofia não serve para nada. 
Para dar alguma utilidade à Filosofia, muitos consideram que, de 
fato, a Filosofia não serviria para nada, se “servir” fosse entendido como a 
possibilidade de fazer usos técnicos dos produtos filosóficos ou dar- lhes 
utilidade econômica, obtendo lucros com eles; consideram também que a 
Filosofia nada teria a ver com a ciência e a técnica. 
Para quem pensa dessa forma, o principal para a Filosofia não 
seriam os conhecimentos (que ficam por conta da ciência), nem as aplicações 
de teorias (que ficam por conta da tecnologia), mas o ensinamento moral ou 
 
12 
 
ético. A Filosofia seria a arte do bem-viver. Estudando as paixões e os vícios 
humanos, a liberdade e a vontade, analisando a capacidade de nossa razão 
para impor limites aos nossos desejos e paixões, ensinando-nos a viver de 
modo honesto e justo na companhia dos outros seres humanos, a Filosofia 
teria como finalidade ensinar-nos a virtude, que é o princípio do bem-viver. 
Essa definição da Filosofia, porém, não nos ajuda muito. De fato, 
mesmo para ser uma arte moral ou ética, ou uma arte do bem-viver, a Filosofia 
continua fazendo suas perguntas desconcertantes e embaraçosas: O que é o 
homem? O que é a vontade? O que é a paixão? O que é a razão? O que é o 
vício? O que é a virtude? O que é a liberdade? 
Como nos tornamos livres, racionais e virtuosos? Por que a 
liberdade e a virtude são valores para os seres humanos? O que é um valor? 
Por que avaliamos os sentimentos e as ações humanas? 
Assim, mesmo se disséssemos que o objeto da Filosofia não é o 
conhecimento da realidade, nem o conhecimento de nossa capacidade para 
conhecer, mesmo se disséssemos que o objeto da Filosofia é apenas uma vida 
moral ou ética, ainda assim, o estilo filosófico e a atitude filosófica 
permaneceriam os mesmos, pois as perguntas filosóficas – o que, por que e 
como – permanecem. 
Se, portanto, deixarmos de lado, por enquanto, os objetos com os 
quais a Filosofia se ocupa, veremos que a atitude filosófica possui algumas 
características que são as mesmas, independentemente do conteúdo 
investigado. Essas características são: 
– perguntar o que a coisa, ou o valor, ou a idéia, é. A Filosofia 
pergunta qual é a realidade ou natureza e qual é a significação de alguma 
coisa, não importa qual; 
– perguntar como a coisa, a idéia ou o valor, é. A Filosofia indaga 
qual é a estrutura e quais são as relações que constituem uma coisa, uma idéia 
ou um valor; 
 
13 
 
– perguntar por que a coisa, a idéia ou o valor, existe e é como é. A 
Filosofia pergunta pela origem ou pela causa de uma coisa, de uma idéia, de 
um valor. 
A atitude filosófica inicia-se dirigindo essas indagações ao mundo 
que nos rodeia e às relações que mantemos com ele. Pouco a pouco, porém, 
descobre que essas questões se referem, afinal, à nossa capacidade de 
conhecer, à nossa capacidade de pensar. 
Por isso, pouco a pouco, as perguntas da Filosofia se dirigem ao 
próprio pensamento: o que é pensar, como é pensar, por que há o pensar? A 
Filosofia torna-se, então, o pensamento interrogando-se a si mesmo. Por ser 
uma volta que o pensamento realiza sobre si mesmo, a Filosofia se realiza 
como reflexão. 
 A REFLEXÃO FILOSÓFICA 
Reflexão significa movimento de volta sobre si mesmo ou movimento 
de retorno a si mesmo. A reflexão é o movimento pelo qual o pensamento 
volta-se para si mesmo, interrogando a si mesmo. 
A reflexão filosófica é radical porque é um movimento de volta do 
pensamento sobre si mesmo para conhecer-se a si mesmo, para indagar como 
é possível o próprio pensamento. 
Não somos, porém, somente seres pensantes. Somos também 
seres que agem no mundo, que se relacionam com os outros seres humanos, 
com os animais, as plantas, as coisas, os fatos e acontecimentos, e 
exprimimos essas relações tanto por meio da linguagem quanto por meio de 
gestos e ações. 
A reflexão filosófica também se volta para essas relações que 
mantemos com a realidade circundante, para o que dizemos e para as ações 
que realizamos nessas relações. 
 
14 
 
A reflexão filosófica organiza-se em torno de três grandes conjuntos 
de perguntas ou questões: 
1. Por que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos 
e fazemos o que fazemos? Isto é, quais os motivos, as razões e as causas 
para pensarmos o que pensamos, dizermos o que dizemos, fazermos o 
que fazemos? 
2. O que queremos pensar quando pensamos, o que queremos 
dizer quando falamos, o que queres fazer quando agimos? Isto é, qual é o 
conteúdo ou o sentido do que pensamos, dizemos ou fazemos? 
3. Para que pensamos o que pensamos, dizemos o que 
dizemos, fazemos o que fazemos? Isto é, qual é a intenção ou a finalidade 
do que pensamos, dizemos e fazemos? 
Essas três questões podem ser resumidas em: O que é pensar, falar 
e agir? E elas pressupõem a seguinte pergunta: Nossas crenças cotidianas são 
ou não um saber verdadeiro, um conhecimento? 
Como vimos, a atitude filosófica inicia-se indagando: O que é? Como 
é? Por que é?, dirigindo-se ao mundo que nos rodeia e aos seres humanos que 
nele vivem e com ele se relacionam. São perguntas sobre a essência, a 
significação ou a estrutura e a origem de todas as coisas. 
 Já a reflexão filosófica indaga: Por quê? O quê? Para quê?, 
dirigindo-se ao pensamento, aos seres humanos no ato da reflexão. São 
perguntas sobre a capacidade e a finalidade humanas para conhecere agir. 
PENSAMENTO FILOSÓFICO: UMA MANEIRA DE PENSAR O 
MUNDO 
A filosofia não é um conjunto de conhecimentos prontos, um sistema 
acabado, fechado em si mesmo. A filosofia é uma maneira de pensar e é 
também uma postura diante do mundo. 
 
15 
 
Antes de mais nada, ela é uma forma de observar a realidade que 
procura pensar os acontecimentos além da sua aparência imediata. Ela pode 
se voltar para qualquer objeto: pode pensar sobre a ciência, seus valores e 
seus métodos; pode pensar sobre a religião, a arte; o próprio homem, em sua 
vida cotidiana. 
Uma história em quadrinhos ou uma canção popular podem ser 
objeto da reflexão filosófica. Há alguns anos, foi publicado no Brasil, um livro 
chamado "Os Simpsons e a Filosofia", que tratava das questões filosóficas 
implícitas no famoso desenho animado da TV. 
Como o próprio Bart Simpson, a filosofia é um jogo irreverente que 
parte do que existe, critica, coloca em dúvida, faz perguntas importunas, abre a 
porta das possibilidades, faz entrever outros mundos e outros modos de 
compreender a vida. 
 
Uma disciplina indisciplinada 
Por isso, a filosofia incomoda, pois ela questiona o modo de ser das 
pessoas, das sociedades, do mundo. Discute as práticas política, científica, 
técnica, ética, econômica, cultural e artística. Não há área onde ela não se 
meta, não indague, não perturbe. E, nesse sentido, a filosofia pode ser 
perigosa ou subversiva, pois pode virar a ordem estabelecida de cabeça para 
baixo. 
 
Quando surgiu entre os gregos, no século 6 a.C., a filosofia englobava tanto a 
indagação filosófica propriamente dita, quanto aquilo que hoje é chamado de 
conhecimento científico. O filósofo refletia e teorizava sobre todos os assuntos, 
procurando responder não só ao porquê das coisas, mas, também, ao como, 
ou seja, ao modo pelo qual elas acontecem ou "funcionam". 
Euclides, Tales e Pitágoras, por exemplo, foram filósofos que 
também se dedicaram ao estudo da geometria. Aristóteles, por sua vez, 
 
16 
 
investigou problemas físicos e astronômicos, na medida em que esses 
problemas também interessavam à cultura e à sociedade de sua época. 
 
O saber científico 
Só a partir do século 17, com o aperfeiçoamento do método 
científico - baseado na observação, na experimentação e matematização dos 
resultados -, a ciência tal qual a entendemos hoje começou a se constituir, 
como uma forma específica de abordagem do real que se destacava ou 
desprendia da filosofia propriamente dita. 
Afastando-se da filosofia por se tornarem mais específicas, 
apareceram pouco a pouco as ciências particulares, que investigam 
determinados aspectos da realidade: à física interessam os movimentos dos 
corpos; à biologia, a natureza dos seres vivos; à química, as transformações 
das substâncias; à astronomia, os corpos celestes; à psicologia, os 
mecanismos do funcionamento da mente humana; à sociologia, a organização 
social, etc. 
O conhecimento fragmenta-se entre as várias ciências, pois cada 
uma se ocupa somente de uma parte do real. Estudam os fenômenos que 
pertencem à sua área específica e pretendem mostrar como estes ocorrem e 
como se relacionam com outros fenômenos. A posse do conhecimento sobre 
os fenômenos naturais e humanos gera a possibilidade de prevê-los e controlá-
los. 
 
Integração e totalidade 
Por outro lado, a filosofia trata dessa mesma realidade, só que - em 
vez de separá-la em conhecimentos particulares e estanques - considera-a no 
interior da totalidade de fenômenos, ou seja, procura enxergar a realidade a 
partir de uma visão de conjunto. Qualquer que seja o problema, a reflexão 
 
17 
 
filosófica considera cada um de seus aspectos, relacionando-o ao contexto 
dentro do qual ele se insere e restabelecendo a integridade do universo 
humano. 
Sob o ponto de vista filosófico, por exemplo, é impossível considerar 
os problemas econômicos do Brasil somente a partir de princípios de 
economia. É necessário relacioná-la com os interesses das diversas classes 
sociais, os interesses políticos, os interesses nacionais, etc. 
Um país economicamente instável é um país política e socialmente 
instável. Já para a ciência econômica, estrito senso, isso não vem ao caso. Seu 
foco é verificar como a inflação ou a recessão funciona para poder controlá-la, 
independentemente dos reflexos que esse controle tenha para a sociedade. 
(Evidentemente, estamos falando das coisas teoricamente, e portanto podemos 
isolá-las. Na prática, nem sempre é assim que isso ocorre. O alemão Karl Marx 
fez da economia um elemento essencial de sua doutrina filosófica). 
 
Perguntas e mais perguntas 
Por isso, sem desmerecer o conhecimento especializado das várias 
ciências, a reflexão filosófica é sempre - mais do que necessária - obrigatória. 
Cabe ao filósofo refletir sobre o que é ciência, o que é método científico, qual a 
sua validade e seus limites. 
A ciência é realmente um conhecimento objetivo? O que é a 
objetividade e até que ponto um sujeito histórico - o cientista - pode ser 
objetivo, isto é, isento de interesses pessoais? Cabe ao filósofo, também, 
refletir sobre a condição humana atual: o que é o homem? O que é liberdade? 
O que é trabalho? Quais as relações entre homem e trabalho? É possível 
existir uma outra ordem social? 
A própria escola é alvo de reflexão filosófica. A educação pressupõe 
uma visão do homem como um ser incompleto, que pode ser aprimorado, 
educado, ao contrário dos animais, que não precisam ser educados, pois 
 
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orientam-se pelos instintos. Só os educamos, ou domesticamos, para 
acomodá-los às nossas necessidades humanas. 
O caso dos homens é diferente, sem dúvida, mas, para que o ser 
humano é educado? Para o exercício da liberdade e da responsabilidade ou só 
para se inserir na ordem estabelecida? Em outras palavras, a educação ocorre 
para cada homem saber pensar por si próprio ou para aceitar as regras que 
outros pensaram para ele? 
A filosofia quer encontrar o significado mais profundo dos 
fenômenos. Não basta saber como funcionam, mas o que significam na ordem 
geral do mundo humano. A filosofia emite juízos de valor ao julgar cada fato, 
cada ação em relação ao todo. A filosofia vai além daquilo que é, para propor 
como poderia ser. E, portanto, indispensável para a vida de todos nós, que 
desejamos ser seres humanos completos, cidadãos livres e responsáveis por 
nossas escolhas. 
 
Características do pensamento filosófico 
O trabalho do filósofo é refletir sobre a realidade, qualquer que seja 
ela, descobrindo seus significados mais profundos. Porém, como se faz isso? 
 
Em primeiro lugar, é preciso estabelecer o que é reflexão. Refletir é pensar, 
considerar cuidadosamente o que já foi pensado. Como um espelho que reflete 
a nossa imagem, a reflexão do filósofo também deixa ver, revela, mostra, 
traduz os valores envolvidos nas coisas, nos acontecimentos e nas ações 
humanas. 
Para chegar a isso, segundo o filósofo e educador Demerval Saviani, 
a reflexão filosófica deve possuir as seguintes características: 
 
 
19 
 
 Radicalidade - ou seja, chegar até a raiz dos 
acontecimentos, isto é, aos seus fundamentos; à sua origem, não só 
cronológica, mas no sentido de chegar aos valores originais que 
possibilitaram o fato. A reflexão filosófica, portanto, é uma reflexão em 
profundidade. 
 Rigor - isto é, seguir um método adequado ao objeto em 
estudo, com todo o rigor, colocando em questão as respostas mais 
superficiais, comuns à sabedoria popular e a algumas generalizações 
científicas apressadas. 
 Contextualidade - como já se disse antes, a filosofia não 
considera os problemasisoladamente, mas dentro de um conjunto de 
fatos, fatores e valores que estão relacionados entre si. A reflexão 
filosófica contextualiza os problemas tanto verticalmente, dentro do 
desenvolvimento histórico, quanto horizontalmente, relacionando-os a 
outros aspectos da situação da época. 
Assim, embora os sistemas filosóficos possam chegar a conclusões 
diversas, dependendo das premissas de partida e da situação histórica dos 
próprios pensadores, o processo do filosofar será sempre marcado por essas 
características, resultando em uma reflexão rigorosa, radical e de conjunto. 
Antonio Carlos Olivieri, Da Página 3 Pedagogia & Comunicação é 
escritor, jornalista e diretor da Página 3 Pedagogia & Comunicação. 
 
FILOSOFIA: UM PENSAMENTO SISTEMÁTICO 
Essas indagações fundamentais não se realizam ao acaso, segundo 
preferências e opiniões de cada um de nós. A Filosofia não é um “eu acho que” 
ou um “eu gosto de”. Não é pesquisa de opinião à maneira dos meios de 
comunicação de massa. Não é pesquisa de mercado para conhecer 
preferências dos consumidores e montar uma propaganda. 
As indagações filosóficas se realizam de modo sistemático. Que 
significa isso? 
 
20 
 
Significa que a Filosofia trabalha com enunciados precisos e 
rigorosos, busca encadeamentos lógicos entre os enunciados, opera com 
conceitos ou idéias obtidos por procedimentos de demonstração e prova, exige 
a fundamentação racional do que é enunciado e pensado. Somente assim a 
reflexão filosófica pode fazer com que nossa experiência cotidiana, nossas 
crenças e opiniões alcancem uma visão crítica de si mesmas. Não se trata de 
dizer “eu acho que”, mas de poder afirmar “eu penso que”. 
O conhecimento filosófico é um trabalho intelectual. É sistemático 
porque não se contenta em obter resposta para as questões colocadas, mas 
exige que as próprias questões sejam válidas e, em segundo lugar, que as 
respostas sejam verdadeiras, estejam relacionadas entre si, esclareçam umas 
às outras, formem conjuntos coerentes de idéias e significações, sejam 
provadas e demonstradas racionalmente. 
Quando o senso comum diz “esta é minha filosofia” ou “isso é a 
filosofia de fulana ou de fulano”, engana-se e não se engana. 
Engana-se porque imagina que para “ter uma filosofia” basta alguém 
possuir um conjunto de idéias mais ou menos coerentes sobre todas as coisas 
e pessoas, bem como ter um conjunto de princípios mais ou menos coerentes 
para julgar as coisas e as pessoas. “Minha filosofia” ou a “filosofia de fulano” 
ficam no plano de um “eu acho” coerente. 
Mas o senso comum não se engana ao usar essas expressões 
porque percebe, ainda que muito confusamente, que há uma característica nas 
idéias e nos princípios que nos leva a dizer que são uma filosofia: a coerência, 
as relações entre as idéias e entre os princípios. Ou seja, o senso-comum 
pressente que a Filosofia opera sistematicamente, com coerência e lógica, que 
a Filosofia tem uma vocação para formar um todo daquilo que aparece de 
modo fragmentado em nossa experiência cotidiana. 
 
 
 
21 
 
EM BUSCA DE UMA DEFINIÇÃO DA FILOSOFIA 
Quando começamos a estudar Filosofia, somos logo levados a 
buscar o que ela é. Nossa primeira surpresa surge ao descobrirmos que não há 
apenas uma definição da Filosofia, mas várias. A segunda surpresa vem ao 
percebermos que, além de várias, as definições parecem contradizer-se. Eis 
porque muitos, cheios de perplexidade, indagam: afinal, o que é a Filosofia que 
sequer consegue dizer o que ela é? 
Uma primeira aproximação nos mostra pelo menos quatro definições 
gerais do que seria a Filosofia: 
1 – Visão de mundo de um povo, de uma civilização ou de uma 
cultura. Filosofia corresponde, de modo vago e geral, ao conjunto de idéias, 
valores e práticas pelos quais uma sociedade apreende e compreende o 
mundo e a si mesma, definindo para si o tempo e o espaço, o sagrado e o 
profano, o bom e o mau, o justo e o injusto, o belo e o feio, o verdadeiro e o 
falso, o possível e o impossível, o contingente e o necessário. 
Qual o problema dessa definição? Ela é tão genérica e tão ampla 
que não permite, por exemplo, distinguir Filosofia e religião, Filosofia e arte, 
Filosofia e ciência. Na verdade, essa definição identifica Filosofia e Cultura, 
pois esta á uma visão de mundo coletiva que se exprime em idéias, valores e 
práticas de uma sociedade. 
A definição, portanto, não consegue acercar-se de especificidade do 
trabalho filosófico e por isso não podemos aceitá-la. 
2 – Sabedoria de vida. Aqui, a Filosofia é identificada com a 
definição e a ação de algumas pessoas que pensam sobre a vida moral, 
dedicando-se à contemplação do mundo para aprender com ele a controlar e 
dirigir suas vidas de modo ético e sábio. 
A Filosofia seria uma contemplação do mundo e dos homens para 
nos conduzir a uma vida justa, sábia e feliz, ensinando-nos o domínio sobre 
 
22 
 
nós mesmos, sobre nossos impulsos, desejos e paixões. É nesse sentido que 
se fala, por exemplo, numa filosofia do budismo. 
Esta definição, porém, nos diz, de modo vago, o que se espera da 
Filosofia (a sabedoria interior), mas não o que é e o que faz a Filosofia e, por 
isso, também não podemos aceitá-la. 
3 – Esforço racional para conceber o Universo como uma totalidade 
ordenada e dotada de sentido. Neste caso, começa-se distinguindo entre 
Filosofia e religião e até mesmo opondo uma à outra, pois ambas possuem o 
mesmo objeto (compreender o Universo), mas a primeira o faz através do 
esforço racional, enquanto a segunda, por confiança (fé) numa revelação 
divina. 
 Ou seja, a Filosofia procura discutir até o fim o sentido e o 
fundamento da realidade, enquanto a consciência religiosa se baseia num dado 
primeiro e inquestionável, que é a revelação divina indemonstrável. 
Pela fé, a religião aceita princípios indemonstráveis e até mesmo 
aqueles que podem ser considerados irracionais pelo pensamento, enquanto a 
Filosofia não admite indemonstrabilidade e irracionalidade. Pelo contrário, a 
consciência filosófica procura explicar e compreender o que parece ser 
irracional e inquestionável. 
No entanto, esta definição também é problemática, porque dá à 
Filosofia a tarefa de oferecer uma explicação e uma compreensão totais sobre 
o Universo, elaborando um sistema universal ou um sistema do mundo, mas 
sabemos, hoje, que essa tarefa é impossível. 
Há pelo menos duas limitações principais a esta pretensão 
totalizadora: em primeiro lugar, porque a explicação sobre a realidade também 
é oferecida pelas ciências e pelas artes, cada uma das quais definindo um 
aspecto e um campo da realidade para estudo (no caso das ciências) e para a 
expressão (no caso das artes), já não sendo pensável uma única disciplina que 
pudesse abranger sozinha a totalidade dos conhecimentos; em segundo lugar, 
porque a própria Filosofia já não admite que seja possível um sistema de 
 
23 
 
pensamento único que ofereça uma única explicação para o todo da realidade. 
Por isso, esta definição também não pode ser aceita. 
4 – Fundamentação teórica e crítica dos conhecimentos e das 
práticas. A Filosofia, cada vez mais, ocupa-se com as condições e os princípios 
do conhecimento que pretenda ser racional e verdadeiro; com a origem, a 
forma e o conteúdo dos valores éticos, políticos, artísticos e culturais; com a 
compreensão das causas e das formas da ilusão e do preconceito no plano 
individual e coletivo; com as transformações históricas dos conceitos, das 
idéias e dos valores. 
A Filosofia volta-se, também, para o estudo da consciência em suas 
várias modalidades: percepção, imaginação, memória, linguagem,inteligência, 
experiência, reflexão, comportamento, vontade, desejo e paixões, procurando 
descrever as formas e os conteúdos dessas modalidades de relação entre o 
ser humano e o mundo, do ser humano consigo mesmo e com os outros. 
Finalmente, a Filosofia visa ao estudo e à interpretação de idéias ou 
significações gerais como: realidade, mundo, natureza, cultura, história, 
subjetividade, objetividade, diferença, repetição, semelhança, conflito, 
contradição, mudança, etc. 
Sem abandonar as questões sobre a essência da realidade, a 
Filosofia procura diferenciar-se das ciências e das artes, dirigindo a 
investigação sobre o mundo natural e o mundo histórico (ou humano) num 
momento muito preciso: quando perdemos nossas certezas cotidianas e 
quando as ciências e as artes ainda não ofereceram outras certezas para 
substituir as que perdemos. 
Em outras palavras, a Filosofia se interessa por aquele instante em 
que a realidade natural (o mundo das coisas) e a histórica (o mundo dos 
homens) tornam-se estranhas, espantosas, incompreensíveis e enigmáticas, 
quando o senso comum já não sabe o que pensar e dizer e as ciências e as 
artes ainda não sabem o que pensar e dizer. 
 
24 
 
Esta última descrição da atividade filosófica capta a Filosofia como 
análise (das condições da ciência, da religião, da arte, da moral), como reflexão 
(isto é, volta da consciência para si mesma para conhecer-se enquanto 
capacidade para o conhecimento, o sentimento e a ação) e como crítica (das 
ilusões e dos preconceitos individuais e coletivos, das teorias e práticas 
científicas, políticas e artísticas), essas três atividades (análise, reflexão e 
crítica) estando orientadas pela elaboração filosófica de significações gerais 
sobre a realidade e os seres humanos. Além de análise, reflexão e crítica, a 
Filosofia é a busca do fundamento e do sentido da realidade em suas múltiplas 
formas indagando o que são, qual sua permanência e qual a necessidade 
interna que as transforma em outras. O que é o ser e o aparecer– desaparecer 
dos seres? 
A Filosofia não é ciência: é uma reflexão crítica sobre os 
procedimentos e conceitos científicos. Não é religião: é uma reflexão crítica 
sobre as origens e formas das crenças religiosas. Não é arte: é uma 
interpretação crítica dos conteúdos, das formas, das significações das obras de 
arte e do trabalho artístico. Não é sociologia nem psicologia. Não é política, 
mas interpretação, compreensão e reflexão sobre a origem, a natureza e as 
formas do poder. Não é história, mas interpretação do sentido dos 
acontecimentos enquanto inseridos no tempo e compreensão do que seja o 
próprio tempo. Conhecimento do conhecimento e da ação humanos, 
conhecimento da transformação temporal dos princípios do saber e do agir, 
conhecimento da mudança das formas do real ou dos seres, a Filosofia sabe 
que está na História e que possui uma história. 
O primeiro ensinamento filosófico é perguntar: O que é o útil? Para 
que e para quem algo é útil? O Inútil? Útil? que é o inútil? Por que e para quem 
algo é inútil? 
O senso comum de nossa sociedade considera útil o que dá 
prestígio, poder, fama e riqueza. Julga o útil pelos resultados visíveis das 
coisas e das ações, identificando utilidade e a famosa expressão “levar 
vantagem em tudo”. Desse ponto de vista, a Filosofia é inteiramente inútil e 
defende o direito de ser inútil. 
 
25 
 
Não poderíamos, porém, definir o útil de uma outra maneira? 
Platão definia a Filosofia como um saber verdadeiro que deve ser 
usado em benefício dos seres humanos. 
Descartes dizia que a Filosofia é o estudo da sabedoria, 
conhecimento perfeito de todas as coisas que os humanos podem alcançar 
para o uso da vida, a conservação da saúde e a invenção das técnicas e das 
artes. 
Kant afirmou que a Filosofia é o conhecimento que a razão adquire 
de si mesma para saber o que pode conhecer e o que pode fazer, tendo como 
finalidade a felicidade humana. 
Marx declarou que a Filosofia havia passado muito tempo apenas 
contemplando o mundo e que se tratava, agora, de conhecê-lo para 
transformá-lo, transformação que traria justiça, abundância e felicidade para 
todos. 
Merleau-ponty escreveu que a Filosofia é um despertar para ver e 
mudar nosso mundo. 
Espinosa afirmou que a Filosofia é um caminho árduo e difícil, mas 
que pode ser percorrido por todos, se desejaram a liberdade e a felicidade. 
QUAL SERIA, ENTÃO, A UTILIDADE DA FILOSOFIA? 
Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum for 
útil; se não se deixar guiar pela submissão às idéias dominantes e aos poderes 
estabelecidos for útil; se buscar compreender a significação do mundo, da 
cultura, da história for útil; se conhecer o sentido das criações humanas nas 
artes, nas ciências e na política for útil; se dar a cada um de nós e à nossa 
sociedade os meios para serem conscientes de si e de suas ações numa 
prática que deseja a liberdade e a felicidade para todos for útil, então podemos 
dizer que a Filosofia é o mais útil de todos os saberes de que os seres 
humanos são capazes. 
 
26 
 
Leitura Complementar 
 
René Descartes 
René Descartes (1596 - 1650) 
Descartes visualizou a filosofia como uma árvore onde a metafísica 
são as raízes, a física é o tronco e as outras ciências são os galhos. Percebia 
desta forma o conhecimento como uma unidade, todos os saberes estão 
interligados. A filosofia é também algo útil na vida cotidiana das pessoas, a 
árvore filosófica dá frutos que são colhidos através das ciências práticas 
representadas pelos galhos. O principal objetivo da filosofia não é a teorização 
abstrata, ela tem que ser útil para a vida, ela serve para tornar os homens 
senhores da natureza. A filosofia deve ser um instrumento para melhorar a vida 
dos homens. Basta pensar corretamente para agir corretamente. 
Ele busca um ponto de partida sobre o qual possa fundar sua 
filosofia, busca uma verdade que não possa ser questionada como tal, um 
princípio que possa lhe dar uma certeza inquestionável. Assim pensando ele 
cria a dúvida metódica, a partir do qual ele duvida de tudo, inclusive da própria 
existência e de todas as percepções dos seus sentidos. Todas as minhas 
 
27 
 
sensações podem estar me enganando, como me engano quando sonho e 
acredito que o sonho é realidade. 
Até as verdades matemáticas podem nos enganar, pois podem ser 
ilusões criadas por um demônio, com o objetivo de me levar ao erro no agir, 
falar ou pensar. 
E é justamente no grau máximo da dúvida que Descartes encontra a 
sua primeira verdade inquestionável, enquanto duvido de tudo não posso 
duvidar que esteja duvidando, eu sou algo que duvida, sou algo que pensa na 
dúvida, sou algo que existe por pensar, se penso, logo existo. 
Na sequência o filósofo busca fundamentar outras verdades através 
da verdade da existência por pensar. Nosso pensamento é imperfeito, mas 
somente pode ter sido criado por um ser perfeito que é Deus. Deus sendo 
perfeito não pode querer nos enganar em relação às nossas sensações e se as 
nossas sensações também são verdadeiras, o mundo exterior existe e é 
conforme nós o sentimos e intuímos. 
Descartes cria um método para bem conduzir nossos pensamentos. 
Para alcançar a verdade devemos seguir os seguintes princípios: Princípio da 
evidência, não admitir algo como verdadeiro se não tivermos evidências 
suficientes para considerar como tal. Princípio da análise, dividir os problemas 
em tantas partes quanto forem possíveis para que melhor possam ser 
resolvidos. Princípio da síntese, estabelecer uma ordem de relação entre 
nossos pensamentos, solucionando primeiroas questões mais simples e 
depois as mais complexas. E o princípio de controle, fazer constantes revisões 
de todo processo para ter certeza de que nada foi omitido. 
São também verdades nossas ideias inatas, como as matemáticas, 
pois nos foram dadas por Deus. E é no método matemático que ele vai 
fundamentar a ciência para conhecer e modificar o mundo. O mundo é uma 
variação de formas, tamanhos e movimentos da matéria e essas variações 
podem ser quantificadas e entendidas pela matemática através também da 
geometria. 
 
28 
 
Descartes divide matéria de pensamento, para ele o pensamento, ou 
a substância pensante independe e é separada da matéria. A nossa 
consciência individual é separada do corpo e continua a existir mesmo sem o 
corpo. Nós somos um marinheiro navegando no mundo através do nosso corpo 
que é o navio, mas estamos ligados ao corpo de uma forma estreita, formando 
um todo com ele. A relação entre nossa consciência e nosso corpo se dá 
através da glândula pineal, que é a sede da nossa alma. Corpo a alma assim 
se misturam, mas não ao ponto que não seja possível distinguir uma da outra. 
Nesta relação podemos diferenciar algumas operações que pertencem 
somente ao corpo e outras que são específicas da alma. A alma busca o 
conhecimento da verdade, o corpo é responsável pelas sensações. 
Sentenças: 
- Penso, logo existo. 
- O bom senso é a coisa mais bem dividida no mundo: todos 
pensam ter em abundância. 
- Além do nosso pensamento, nada está realmente sobre nosso 
controle. 
- Conquiste você mesmo, não o mundo. 
- A dúvida é a origem da sabedoria 
- Nada vem do nada. 
- As melhores mentes podem ter as maiores virtudes ou os 
maiores vícios. 
 
Bibliografia 
ARANHA, Maria Lucia Arruda e Martins, Maria Helena. Temas de Filosofia. 
Moderna: 2005. 
 
 
29 
 
CHAUÍ, Marilena Et all. Primeira filosofia: lições introdutórias. São Paulo: 
Brasiliense, 1984. 
 
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1994. 
Martins, Maria; PIRES, Helena.Filosofia. Estudo e ensino I, II. 
SEVERINO, Antonio Joaquim. Filosofia. São Paulo: Cortez, 1992. 
 
http://www.filosofia.com.br/historia_show.php?id=70 
 
 
 
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