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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE UNIDADE 1 - DIREITOS AULA 1 1. INTRODUÇÃO À LEI 8.069/90 – ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ECA) Com a chegada do 3º milênio, as pessoas começaram a se questionar acerca de algumas situações conflitantes, como: Grande avanço tecnológico em confronto com a exclusão social O excesso de concentração de riqueza nas mãos de uns em contradição com a pobreza excessiva de outros. O crescimento vertiginoso da violência urbana ou decorrente de guerras entre os povos A exclusão social, causada por diversos fatores, levou alguns setores da sociedade a achar que o erro estava na própria criança: A criança não representa apenas o homem de amanhã mas a própria sociedade, na medida em que ela se constitui na BASE SOBRE A QUAL A SOCIEDADE IRÁ SE DESENVOLVER. Criança não se constitui no ser inacabado que espelha a imagem do seu educador, mas sim no ser completo e acabado, na medida em que ao nascer traz dentro de si todas as qualidades necessárias para a boa convivência social. Se a criança representa a fase + pura do ser humano e ela se constitui na base da sociedade moderna, TODOS SÃO OBRIGADOS A PROPORCIONAR-LHE UM AMBIENTE FAVORÁVEL ONDE ELA POSSA CRESCER DE FORMA SADIA, pois somente assim conseguiremos formar uma SOCIEDADE JUSTA E SOLIDÁRIA. A partir de uma nova visão, foram firmados vários documentos internacionais, dentre os quais a Declaração dos Direitos da Criança de Genebra, em 1924, promovida pela Liga das Nações; a Declaração Universal dos Direitos da Criança (*) (http://www.unicef.org/brazil/decl_dir.htm), adotada pela ONU em 1959; e a Convenção dos Direitos da Criança (http://www.onu-brasil.org.br/doc_crianca.php), firmada na ONU em 1979, subscrita pelo governo brasileiro em 26.01.90, aprovada pelo Congresso Nacional por meio do decreto Legislativo nº 28 de 14/09/90 e promulgada pelo Decreto Executivo nº 99.710, de 21 de novembro de 1990. Na esteira do compromisso firmado em relação à rápida implementação da convenção, o legislador constituinte, em 1988, adotou, no art. 227, a DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL, em substituição à Doutrina da Situação Irregular, oficializada pelo antigo código de Menores, Lei 6.697, de 10 de outubro de 1979 (revogada). Na verdade, a adoção dessa doutrina implica uma mudança de paradigma, e não uma simples mudança de terminologia, na medida em que crianças e adolescentes deixam de ser objetos de proteção do Estado para se transformarem em BENEFICIÁRIOS DE DIREITOS FUNDAMENTAIS. Da mesma forma, em lugar do direito do menor, passa a existir o Direito da Criança do Adolescente, mais amplo, abrangente, universal e exigível. O legislador constituinte não se limitou a definir os direitos fundamentais. NO ART. 227, DILUIU A RESPONSABILIDADE ENTRE A FAMÍLIA, A SOCIEDADE E O ESTADO e, assim, assegurou o respeito a esses direitos dentro de uma concepção de CO-GESTÃO E CORESPONSABILIDADE. (*) I - o menor faminto deve ser alimentado; II - o menor enfermo deve ser conduzido; o órfão e o abandonado devem ser recolhidos e socorridos; III - o menor deve ser o primeiro a receber socorro em época de calamidade; IV - o menor deve ser dotado de meios para que possa ganhar na vida; deve ser protegido contra toda exploraçao; V - o menor deve ser educado no sentimento do que suas melhores qualidades devem ser postas a serviço de seus irmãos. Comentário: A consciência de defesa dos direitos do menor, deu impulso à criação da nova Declaração dos Direitos Humanos de 1959, ao terminar a Segunda Guerra Mundial, desenvolvendo em seu corpo, com mais detalhes, os princípios na Carta de 1924. Apesar de o art. 227 da CF ser uma norma auto-aplicável, coube à Lei 8.069/90 a construção sistêmica da DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL À CRIANÇA E AO ADOLESCENTE. NATUREZA JURÍDICA DO DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE O entendimento prevalente é que se trata de uma MODALIDADE DE DIREITO PÚBLICO, não de direito privado, que, como tal, é regido pelo princípio da subordinação, e não da coordenação. Importância prática desta conclusão: todos são obrigados a respeitar e a agir de acordo com os preceitos estabelecidos pelo ECA, inclusive o poder público. Assim, não cabe questionar se é certo ou errado o prazo máximo de três anos de internação para o adolescente que mate, estupre ou roube. Da mesma forma que não cabe ao Estado, com o intuito de se eximir de uma obrigação, tentar alegar estar agindo dentro do seu poder discricionário em relação à realização ou não da obrigação, como, por exemplo, construir uma escola, contratar professores, criar um programa para dependentes químicos etc. 2. FONTES MEDIATAS E IMEDIATAS O Estatuto da Criança e do Adolescente baseia-se em fontes mediatas e imediatas: 3. PRINCÍPIOS - Partindo-se do pressuposto de que os princípios fornecem a segurança necessária para delimitarmos a conduta, a conclusão a que se chega é que o ECA se funda em 6 princípios norteadores: a) PRINCÍPIO DA PRIORIDADE ABSOLUTA - Trata-se de um princípio constitucional previsto no art. 227 e no art. 4° da Lei 8069/90. - Por conta desse princípio, o legislador constituinte e infraconstitucional estabeleceu primazia em favor das crianças e adolescentes em todas as esferas de interesses, não comportando indagações ou ponderações sobre o interesse a tutelar em 1º lugar, se do velho ou do adulto no lugar do interesse do menor. - A criança e o adolescente têm DIREITOS A SER PROTEGIDOS E ATENDIDOS EM SUAS NECESSIDADES, com prioridade no recebimento de socorro, na utilização de serviços públicos e na destinação de verbas e políticas sociais públicas (art.4º); b) PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE - Tem sua origem anglo-saxônica, através do instituto protetivo do parens patrie. Foi adotado pela Declaração dos Direitos da Criança em 1959 e pelo antigo Código de Menores. Hoje esse princípio foi absorvido pela doutrina da proteção integral. Princípio da Proteção Integral: A criança e o adolescente têm direito a proteção em todas as esferas de sua vida (art. 1º) c) PRINCÍPIO DA MUNICIPALIZAÇÃO - O legislador constituinte seguindo os sistemas de gestão contemporânea, fundada na descentralização administrativa, reservou a execução da política assistência à esfera estadual e municipal, seja através de programas assistenciais ou de entidades beneficentes. - A Lei 8069/90 incorporou essa modernidade lógica, contida no §7º do art. 227, CF, no seu art. 88, ao estabelecer dentre as diretrizes da política de atendimento à municipalização dos serviços, a criação de conselhos municipais de direitos da criança e do adolescente e ainda a manutenção de programas de atendimento com observância da descentralização político-administrativo. Assim entre construir uma creche ou um sambódromo, primeiro deve ser construída a creche. d) PRINCÍPIO DA CIDADANIA - Hoje, como as crianças e adolescentes são SUJEITOS DE DIREITOS SOCIAIS, passaram a ser considerados cidadãos e, como tal, devem ser orientados e ensinados que cidadania consiste no exercício social de direitos e deveres, os quais são limitados. e) PRINCÍPIO DO BEM COMUM - O ECA representa um conjunto de normas que visa ao BEM COMUM, conseqüentemente, não podemos a pretexto de defender alguém prejudicar outrem. Temos sempre que buscar os 2 lados da questão, de forma a não ferir os direitos do cidadão em geral. Com base nesse princípio, o aluno indisciplinado pode ser expulso da escola, o infrator pode ter a sua liberdade restrita, etc. f) PRINCÍPIO DO PECULIAR DESENVOLVIMENTO - Tanto a família, como a sociedade e a população infanto-juvenil têm que estar preparados para entender que a criança e o adolescente são pessoas em processo de desenvolvimento. Assim, nem todas as regras que se aplicam a crianças se aplicam aos adolescentes e nem todas as regras que se aplicam a este devem se aplicar aos adultos. - A criança e o adolescente são seres em formação que requerem cuidados especiais em cada fase da vida, para que tenham desenvolvimento sadio e harmonioso (art.6º). AUTONOMIA Os autores são unânimes em entender que o Direitoda Criança e do Adolescente é autônomo, com suas FONTES E PRINCÍPIOS PRÓPRIOS, e não um apêndice do Direito Civil. EXERCÍCIOS 1) Corretas as alternativas: - A Convenção dos Direitos da Criança, firmada na ONU em 1979, elevou as crianças e os adolescentes à categoria de SUJEITOS DE DIREITOS - A doutrina relativa à infância e à adolescência adotada no Brasil pela CF foi a da PROTEÇÃO INTEGRAL - A Convenção dos Direitos da Criança, firmada na ONU em 1979, teve seus princípios incorporados pela CF, no seu art. 227, e foi subscrita pelo governo brasileiro em 26.01.90. 2) Em que documento internacional se baseia a Doutrina da Proteção Integral para crianças e adolescentes? ( ) Declaração Universal dos Direitos da Criança ( ) Convenção dos Direitos da Criança e do Adolescente ( ) Convenção dos Direitos da Criança ( ) Declaração dos Direitos da Criança Gabarito: Convenção dos Direitos da Criança 3) A Doutrina da Proteção Integral substituiu qual Doutrina? R: Doutrina da Situação Irregular
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