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CCJ0022-WL-A-LC-ECA - Aula 10 - Justiça da Infância e do Adolescente

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AULA 10
JUSTIÇA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE
Com o objetivo de implementar uma nova concepção à Justiça da Infância e da Juventude, o legislador preocupou-se em regulamentar a sua formação, a competência do juiz da Infância e, ainda, cuidou dos serviços auxiliares. Além disso, traçou regras que garantem, às crianças e aos adolescentes, o acesso a essa justiça, tais como as referentes à capacidade, à gratuidade de justiça, aos recursos, etc.
DA COMPETÊNCIA
 Arts. 145 e 146
- As varas da Infância e da Juventude não integram a denominada Justiça Especializada, e sim uma especialização da Justiça Comum. Pertence ao Poder Judiciário Estadual a atribuição de criação e instalação destes órgãos, conforme determina o art. 146 do ECA.
 Arts. 147 e 148: Sob a rubrica “do juiz”, o legislador disciplinou os critérios específicos de FIXAÇÃO DE COMPETÊNCIA das varas da Infância e da Juventude, no que concerne à:
I. MATÉRIA a ser decidida (art. 148).
II. Ao TERRITÓRIO (art. 147). 
I. COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA MATÉRIA
- Com base na regra processual de que a competência em razão da matéria é considerada absoluta e, como tal, não pode ser alterada, o legislador estatutário trouxe DUAS SITUAÇÕES DE COMPETÊNCIA ABSOLUTA no art. 148:
1ª hipótese (art. 48 caput) - cuida das matérias da competência exclusiva da Vara da Infância.
2ª hipótese (art. 148, § único) - cuida das matérias em que sua competência concorre com as da Vara de Família.
Importante!
As matérias constantes na 2ª hipótese (art. 148, § único), de regra, são conferidas às VARAS DE FAMÍLIA. Assim, torna-se necessário buscar um critério para que se saiba quando a competência recairá sobre a Vara de Família e quando recairá sobre a Vara da Infância.
Nesses casos, a regra básica tem sido utilizar como norte a situação da própria criança, isto é:
A competência é da VARA DA INFÂNCIA caso a criança se encontre em uma das situações do art. 98.
A competência é da VARA DE FAMÍLIA caso a criança NÃO se encontre em uma das situações do art. 98.
Ressalte-se que muitas vezes o aplicador da lei, face às situações que se apresentam, DA SITUAÇÃO DA CRIANÇA E O ARTIGO 98
Há que ressaltar que, muitas vezes, em face das situações que se apresentam, O APLICADOR DA LEI TEM DE VERIFICAR SE A CRIANÇA ENCONTRA-SE NA SITUAÇÃO DO ARTIGO 98. O entendimento que já se firmou de longa data é o de que: 
Estando a criança ou o adolescente 
SOB A RESPONSABILIDADE DE QUALQUER PARENTE OU PESSOA
 COM GRAU DE AFETIVIDADE
, AFASTADA ESTÁ A HIPÓTESE DO ART. 98
, e o juiz da 
VARA DE FAMÍLIA
 é a
 
autoridade competente
 para processar e julgar causas relativas àqueles.
Exemplo:
Você recorda o caso do filho de uma famosa cantora de rock nacional, órfão de pai desde antes de seu nascimento e de mãe quando ainda era menor de idade? Nesta situação, a ação de tutela não deveria ter sido proposta na Vara da Infância e da Juventude da Comarca do Rio de Janeiro, porque o menor não se encontrava na situação do art. 98. Ou seja, ele já vivia, desde seu nascimento, sob os cuidados da autora da ação, que, além de companheira da destacada cantora, era mãe socioafetiva do menor.
REGRA DO ARTIGO 209
Esta regra merece atenção, porque trata, de forma específica, da competência para conhecer e julgar as AÇÕES CÍVEIS PÚBLICAS que tratem de LESÃO A DIREITOS TRANSINDIVIDUAIS de crianças e adolescentes.
A norma legal trata de 2 hipóteses de competência do juiz da VARA DA INFÂNCIA:
1. Em razão da MATÉRIA – que se extrai da expressão “competência absoluta”;
2. Em razão TERRITORIAL – que decorre do local onde tenha ocorrido ou deva ocorrer a ação ou omissão.
Observe:
No art. 209, o legislador aponta ressalva para a competência da Justiça Federal e dos Tribunais Superiores, e deve o aplicador do direito seguir a regra contida no art. 109, CF e no art. 99 do CPC. Em outras palavras, nas causas onde há INTERESSES DA UNIÃO E DE ENTIDADES PÚBLICAS FEDERAIS (autarquias e empresas públicas), desloca-se a competência para a JUSTIÇA FEDERAL.
II. COMPETÊNCIA EM RAZÃO DO TERRITÓRIO
- Há 2 hipóteses previstas:
1. Art. 147, I - A competência do juízo será fixada pelo DOMICÍLIO DOS PAIS OU RESPONSÁVEIS.
- Responsável = Guardião, o tutor ou o curador
- Ex: Em uma AÇÃO DE ADOÇÃO em que os autores já detenham a guarda jurídica do adotando, esta será proposta no FORO DO DOMICÍLIO DOS AUTORES, mesmo que os pais biológicos residam em comarca diferente. 
- Ex: Sendo proposta AÇÃO DE DESTITUIÇÃO DE PODER FAMILIAR, esta ação será proposta no DOMICÍLIO DOS PAIS OU RESPONSÁVEL. Aqui, o que se objetiva é atender ao interesse da criança.
2. Art. 147, II – (1) Não havendo pais ou responsável, ou (2) estando eles em local incerto e não sabido, o foro competente será o do local onde se encontre a criança ou o adolescente. 
- Essa hipótese é SUPLETIVA do inciso I.
- Ex: Em uma AÇÃO DE ADOÇÃO em que o adotando não possua pais ou responsável, ou que estejam em local incerto e não sabido, a ação será proposta na COMARCA ONDE ESTEJA A CRIANÇA. 
- Ex: Sendo proposta AÇÃO DE DESTITUIÇÃO DE PODER FAMILIAR, cujos pais se encontrem em local incerto e não sabido, a ação será proposta no LOCAL ONDE A CRIANÇA SE ENCONTRE.
ALGUMAS OBSERVAÇÕES ESPECÍFICAS:
 § 1º do art. 147 - Trata da COMPETÊNCIA PARA CONHECER E JULGAR AS AÇÕES SOCIOEDUCATIVAS. 
- O critério adotado é o do LOCAL DA PRÁTICA DO ATO INFRACIONAL, e não o local do resultado. 
- Esse critério visa a facilitar a colheita de provas em função da proximidade e faz com que o processo tenha curso mais célere. 
- Já para o processo de execução para as medidas socioeducativas, o juízo competente será o mesmo que julgou a ação.
 § 2º do art. 147 - Traz EXCEÇÃO à regra anterior, quando os pais ou responsáveis residam em comarca diversa do local onde tenha ocorrido o ato infracional. Neste caso, a lei determina que a medida pode ser delegada à autoridade competente da residência dos pais ou responsável, ou do local onde sediar-se a entidade que abrigar a criança ou adolescente.
 § 3º do art. 147 - Cuida do juízo competente para o processo por INFRAÇÃO ÀS NORMAS ADMINISTRATIVAS do ECA. 
- Competente será o Juízo da Infância do local da sede da emissora ou rede. 
- Essa norma termina por determinar que a sentença terá eficácia para todas as emissoras e retransmissoras do respectivo Estado, o que se constitui numa heresia jurídica, porque, ao restringir a jurisdição, também restringe a atuação do Poder Judiciário, que, por sua vez, acaba violando a independência dos poderes do Estado.
Alguns doutrinadores, entre os quais Walter Kengi Ishida, defendem a tese da NÃO APLICAÇÃO DA REGRA DA PERPETUAÇÃO DA JURISDIÇÃO, contida no art. 87 do CPC, aos processos que tramitam perante a Vara da Infância e da Juventude. Baseiam-se no PRINCÍPIO DO JUÍZO IMEDIATO, contido no texto do art. 147 e seus incisos, para defender que, se o processo tem início com base no critério do inciso I do art. 147 e posteriormente a criança é levada para localidade diversa da dos pais, deve-se utilizar a regra do inciso II do mesmo artigo, e os autos devem ser remetidos para o juízo do local onde estiver a criança. 
Não se pode concordar com tal posicionamento, por destoar de todo o sistema processual brasileiro e por total falta de amparo legal, já que O PRÓPRIO LEGISLADOR, NO ART. 152, REMETE O APLICADOR ÀS REGRAS PROCESSUAIS VIGENTES.
 Art. 149
Ainda no âmbito da competência do juiz, cuidou o legislador, no art. 149, da competência do juiz da Vara da Infância para disciplinar, por meio de PORTARIAS, e autorizar, mediante ALVARÁS, a entrada e a permanência da criança e do adolescente, desacompanhados dos pais ou responsáveis, em determinados locais, e para regulamentar a participação da criança ou do adolescente em espetáculos públicos. 
Sob esse aspecto, cuidou o legislador de estabelecer os parâmetros que visam a nortear o magistrado no momento da elaboração das portarias ou do exame do pedido de alvará. Como o estatuto não vinculou a validadedessas portarias à submissão de reexame a nenhum órgão, permitiu que a sua revisão seja feita por meio de recurso de APELAÇÃO (art. 199).
 Art. 150 
Aqui, cuidou o legislador da formação dos serviços auxiliares, prevendo a formação de uma equipe interprofissional, com a finalidade de dar suporte às decisões do juiz da Infância.
DOS RECURSOS
Por ser um microssistema, o legislador estatuário cuidou das regras mínimas para os recursos a serem utilizados nos processos que tenham por objetivo matéria por ele regulamentada.
Para uma melhor compreensão, acesse sua disciplina on-line, entre na Biblioteca da Disciplina, seção Material da Aula e leia o texto Dos recursos
Para concluir esta aula, acesse sua disciplina on-line, entre Biblioteca da Disciplina, link Material de Aula, e leia o texto Regras gerais de acesso à Justiça da Infância e da Juventude.
REGRAS GERAIS DE ACESSO À JUSTIÇA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE
Depois de delinear toda a rede de atendimento, começa o legislador a traçar as linhas mestras para garantir às crianças e aos adolescentes o acesso à justiça por especificar toda a parte processual do direito da Infância e da Juventude: normas referentes: à capacidade, à gratuidade de justiça, ao segredo de justiça, à competência, às ações e seus procedimentos, aos recursos e às partes que atuam nos processos (juiz, Mistério Público, advogado).
As regras do Estatuto da Criança e do Adolescente, por ser lei especial, prevalecem sobre as leis tidas como gerais. A partir dessa premissa, dispôs o legislador, no art. 152, que as normas gerais processuais previstas nas legislações pertinentes se apliquem subsidiariamente às suas regras do ECA.
Apesar de a Lei 8.069/90 ser uma excelente lei, extremamente avançada, o E.C.A. peca, em sua parte processual, pela falta de técnica legislativa e pela má distribuição da ordem dos assuntos, o que gera, para o aplicador, em determinados momentos, dificuldade em encontrar o dispositivo desejado. Esta falta de técnica faz com que grande parte dos operadores do direito encare o Estatuto como uma lei de segunda categoria.
 Art. 142
Aqui, começa o legislador a tratar da CAPACIDADE PROCESSUAL, praticamente repetindo as palavras do art. 8º do CPC, adotando a mesma linha do CPC no art. 142. Isso resulta em reforçar que: os absolutamente incapazes são representados, e 
 os relativamente são assistidos.
Em seguida, cuidou da figura do CURADOR ESPECIAL, para superar possível conflito de interesses entre o incapaz e o seu representante legal ou a falta de representante legal. Tal como na legislação processual civil, a figura do curador especial é decorrente da aplicação do princípio do contraditório, na medida em que visa a garantir a ampla defesa. Como exemplo de curador especial na Vara da infância, podemos citar pedidos de emancipação, de registro tardio, suprimento de capacidade ou consentimento para casamento, ação de alimentos.
Com relação à GRATUIDADE DE JUSTIÇA, apesar de o § 2º do art. 141 dispor acerca da gratuidade de custas e emolumentos para todos os processos da competência da Vara da Infância, esta norma há de ser interpretada nos moldes do art. 19 do CPA, já que a gratuidade de justiça é exceção em nosso sistema jurídico. Por tratar-se de norma de exceção, tem de ser interpretada restritivamente, ou seja, SOMENTE SERÁ CONCEDIDA A GRATUIDADE DE JUSTIÇA NA VARA DA INFÂNCIA QUANDO O PROCESSO EM CURSO TIVER POR OBJETO A PROTEÇÃO DO DIREITO DE UM MENOR. Se o objeto não for esse, haverá necessidade do recolhimento de custas e emolumentos. 
 Arts. 143 e 144
- Não obstante o legislador estatutário ter tratado da regra processual relativa ao SEGREDO DE JUSTIÇA, nos art. 143 e 144, ele se referiu única e exclusivamente aos procedimentos e PROCESSOS PARA APURAÇÃO DA PRÁTICA DE ATO INFRACIONAL. 
 Como conseqüência do sigilo do processo e da investigação, é vedada a divulgação do nome, da imagem ou de qualquer outro dado que possa identificar o autor do ato infracional. 
- Segundo o disposto no § do art. 143, a violação dessa regra configura a prática da infração administrativa prevista no art. 247 do Estatuto. 
- Deve ser ressaltado que não estão amparadas pela regra do art. 143 as VÍTIMAS DO ATO INFRACIONAL, mesmo que sejam crianças ou adolescentes, já que a regra é específica para o autor do ato infracional.
- A regra constante no art. 144 é decorrência lógica do art. 143, quando estabelece que a expedição de qualquer CERTIDÃO REFERENTE A ALGUMA AÇÃO SOCIOEDUCATIVA só se dará mediante REQUERIMENTO JUSTIFICADO. 
- No que se refere aos processos dos adolescentes carentes, o ECA não traz regra expressa sobre o segredo de justiça, mas, em face da disposição constante do art. 152, que remete para a legislação processual vigente, torna perfeitamente possível a aplicação do art. 155 do CPC, que cuida desse tema.
Art. 155. Os atos processuais são públicos. Correm, todavia, em segredo de justiça os processos:
I - em que o exigir o interesse público;
Il - que dizem respeito a casamento, filiação, separação dos cônjuges, conversão desta em divórcio, alimentos e guarda de menores. 
Parágrafo único. O direito de consultar os autos e de pedir certidões de seus atos é restrito às partes e a seus procuradores. O terceiro, que demonstrar interesse jurídico, pode requerer ao juiz certidão do dispositivo da sentença, bem como de inventário e partilha resultante do desquite.
AULA 11
DO MINISTÉRIO PÚBLICO E A PROTEÇÃO JUDICIAL DOS INTERESSES INDIVIDUAIS, DIFUSOS OU COLETIVOS
Sabe-se que, a partir da Constituição de 1988, o MP passou a ter uma atuação muito mais voltada para a solução dos problemas sociais. Nessa esteira, ao estabelecer o rol de atribuições no art. 201 o legislador estatuário elegeu o MP como o grande ator na defesa dos direitos das crianças e adolescentes, permitindo-lhe atuar tanto na esfera judicial como extrajudicial.
1. ATRIBUIÇÕES JUDICIAIS DO MINISTÉRIO PÚBLICO
Promover as ações socioeducativas; promover as ações de alimentos, suspensão e destituição de poder familiar, nomeação e remoção de tutores, curadores e guardiões; promover a inscrição da hipoteca legal e a prestação de contas de tutores e curadores; promover ação civil pública; promover as medidas judiciais cabíveis; impetrar mandado de segurança, mandado de injunção e habeas corpus; propor ação representação administrativa para apuração de infrações às normas de proteção.
2. ATRIBUIÇÕES EXTRAJUDICIAIS DO MINISTÉRIO PÚBLICO
Conceder remissão como forma de exclusão do processo; promover inquérito civil; instaurar procedimentos administrativos; instaurar sindicância, requisitar diligências investigatórias e requisitar instauração de inquérito policial; promover medidas extrajudiciais para o efetivo exercício dos direitos fundamentais; inspecionar as entidades e programas destinados aos menores; requisitar força policial bem como serviços públicos ou particulares para o desempenho de suas funções.
DO ADVOGADO
O ECA seguiu as determinações constantes dos tratados e convenções internacionais ao garantir às crianças e aos adolescentes a DEFESA TÉCNICA POR ADVOGADO CONSTITUÍDO OU ATRAVÉS DA DEFENSORIA EM CASO DE HIPOSSUFICIÊNCIA (art. 206 e 207).
Merece destaque a regra contida no § 2º do art. 207: a falta do defensor do adolescente infrator a um ato processual, previamente designado, não implica no adiamento do ato. Quanto a esse tema, destacam-se dois aspectos importantes: 
1. Presença do advogado durante a oitiva informal do adolescente infrator pelo órgão do MP - o entendimento prevalente é no sentido de se PERMITIR A PRESENÇA DO ADVOGADO, desde que ele não interfira no depoimento de seu cliente.
2. Atuação do advogado junto ao Conselho Tutelar - o entendimento é no sentido de que, como os procedimentos que têm em curso perante o Conselho Tutelar também são acobertados pelo manto do SEGREDO DE JUSTIÇA, essas informações somente podem ser fornecidas pelo Conselho Tutelar para atender requisições judiciais e do MP.
DA PROTEÇÃO JUDICIALDOS INTERESSES INDIVIDUAIS, DIFUSOS OU COLETIVOS
Ao tratar de ações para a garantia dos direitos dos menores, o legislador agrupou-as em ações individuais e coletivas. Visto que as ações coletivas protegem um grupo maior de pessoas, iniciaremos nosso estudo com as ações coletivas. 
Continue sua aprendizagem a partir da leitura do texto Da proteção judicial dos interesses individuais, difusos ou coletivos. Ele está disponível na Biblioteca da Disciplina, seção Material de Aula.
DA PROTEÇÃO JUDICIAL DOS INTERESSES INDIVIDUAIS, DIFUSOS OU COLETIVOS
Observe:
A enumeração do art. 201 é EXEMPLIFICATIVA e não taxativa. 
O legislador também prevê ser obrigatória a intervenção do MP em todos os processos em curso na Vara da Infância, sob pena de NULIDADE (art. 202 e 204). 
Ainda nessa linha, o legislador determina que as manifestações do Ministério Público devem ser fundamentadas (art. 205).
Como é sabido por todos, os interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos correspondem à 3ª geração de direitos fundamentais. Para atender a essa nova modalidade de direitos, fez-se necessário que o ordenamento jurídico criasse novos instrumentos para a sua proteção, como a ação popular e a ação civil pública.
1. AÇÃO POPULAR 
- Criação pela Lei 4.717/65
- Legitimado ativo: o cidadão
- Objeto: a anulação ou decretação de nulidade dos atos lesivos ao patrimônio público.
2. AÇÃO CIVIL PÚBLICA 
- Criação pela Lei 7.347/85
- Legitimado ativo: o MP , as autarquias, a sociedade de economia mista, a empresa pública e as associações constituídas há pelo menos um ano
- Objeto: a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, ao patrimônio artístico, histórico, turístico e paisagístico ou a qualquer outro interesse difuso ou coletivo.
Na linha de garantir os direitos metaindividuais dos menores, o legislador estatutário disciplinou da AÇÃO CIVIL PÚBLICA em seu art. 210, divergindo apenas no que diz respeito aos FINS DAS ASSOCIAÇÕES, que deve ser o de “DEFESA DOS INTERESSES E DIREITOS PROTEGIDOS PELA LEI 8.069/90.” 
Também, aqui A LEGITIMAÇÃO É CONCORRENTE, AUTÔNOMA E DISJUNTIVA, dando possibilidade a cada um dos concorrentes proporem a ação INDIVIDUALMENTE OU EM LITISCONSÓRCIO, inclusive entre os membros do MP.
Visto que são graves as situações de violação de direitos metaindividuais – que, de regra, necessitam de proteção judicial - a lei prevê a CONCESSÃO DE LIMINAR (art. 213 §1º). Essa providência cautelar pode ser PRÉVIA À AÇÃO CIVIL PÚBLICA OU INCIDENTAL, sendo que para a concessão da liminar é OBRIGATÓRIA A OITIVA DO PODER PÚBLICO.
Quanto ao OBJETO DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA, o legislador estatutário seguiu a mesma técnica contida na Lei 7.347/85, ou seja, apenas indicou um ROL EXEMPLIFICATIVO e não taxativo em seu art. 208, enumerando oito situações de desrespeito aos direitos dos menores.
Quanto ao ÓRGÃO COMPETENTE PARA CONHECER ESTA AÇÃO, o legislador adotou a regra da competência territorial em seu art. 209, ressalvadas a competência da Justiça Federal e a competência originária dos Tribunais Superiores. 
Diante da importância da matéria em litígio, o legislador estatutário também permitiu ao juiz da causa JULGAR EXTRA PETITA nas obrigações de fazer e não fazer, aplicando astreintes, mesmo que o autor não as tenha pedido (art. 213 e §§2º e 3º), in versis: 
“... ou determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.”
Na trilha da Lei 7.347/87, no art. 223, o legislador estatutário previu a possibilidade de INSTAURAÇÃO DE INQUÉRITO CIVIL, sob a presidência do Ministério Público, com a finalidade de verificar a existência de LESÃO DE DIREITO METAINDIVIDUAL. Ao término do inquérito civil, o MP poderá optar por:
1) Intentar a ação civil pública, ou 
2) Realizar o termo de ajustamento de conduta ou 
3) Promover o seu arquivamento. 
 A promoção desse arquivamento, segundo os moldes do § 1º do art. 223, deverá ser FUNDAMENTADA com a exposição dos fatos e os motivos que levaram ao seu entendimento. 
 Controle desse arquivamento (§ 2º do art. 223): Feito pelo Conselho Superior do Ministério Público, devendo o MP que promoveu o arquivamento remeter os autos ao Conselho para homologação, no prazo de 3 dias, sob pena de falta funcional. 
 Previu ainda o legislador que, enquanto o Conselho Superior não se manifestar, qualquer dos legitimados para a propositura da ação civil pública poderá se manifestar nos autos e, inclusive, acrescentar peças (art. 223, § 3º). 
 Finalmente, estabelece a lei que, após o arquivamento, o inquérito somente será reaberto com FATOS NOVOS.
TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA (TAC)
- Instrumento que permite ao CAUSADOR DA LESÃO fazer uma COMPOSIÇÃO EXTRAJUDICIAL DO CONFLITO EM QUESTÃO, de forma a se buscar a execução específica da obrigação. 
- Legitimidade para negociar o TAC:
1) MP
2) Todos aqueles que têm legitimidade para propor a ação civil pública 
 (art. 211). 
- A lei atribuiu ao TAC a NATUREZA DE TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL e, como conseqüência, poderá ser executado diretamente em caso de descumprimento (§ 5º do art. 211).
OUTRAS AÇÕES PREVISTAS NO ECA
- Ainda dentro do capítulo da proteção dos direitos metaindividuais, o legislador estatutário cuidou dos DIREITOS INDIVIDUAIS, instrumentalizados através de outras ações como a ação mandamental e a ação para cumprimento de obrigação de fazer (art. 212). 
- O MP somente terá legitimidade para propor ação que vise à defesa dos direitos individuais do menor quando:
1) Não possua representante legal
2) Mostre-se omisso ou 
3) Não cumpra com a sua obrigação legal. 
- Diante do texto do art. 212, a conclusão que se chega é que NÃO É CABÍVEL A UTILIZAÇÃO DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA PARA A DEFESA DE DIREITOS INDIVIDUAIS.
1. AÇÃO MANDAMENTAL (§ 2º do art. 212)
- Cabimento: Contra ATOS ILEGAIS OU ABUSIVOS de (1) autoridade pública ou (2) agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do poder público, que lesem DIREITO LÍQUIDO e certo previsto no ECA. Rege-se pelas normas da lei do MS (Lei 1.533/51). 
- Aspectos importantes nessa ação:
a) Autoridade - é aquela pessoa que desempenha uma FUNÇÃO PÚBLICA COM PODER DE DECISÃO.
b) Direito líquido e certo - é aquele que pode ser exercido e, por conta disso, pode ser comprovado plenamente no ato da impetração da ação.
c) Juiz competente - será o Juízo da Infância do local onde estiver ocorrendo a violação do direito (art. 209). Ex: Decorrem das situações ligadas à educação, como obtenção do histórico escolar para transferência do aluno que se encontra com a mensalidade atrasada, ou pedido para fazer prova na hipótese de o aluno se encontrar suspenso.
2. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER OU NÃO FAZER
- Como toda modalidade obrigacional, estas ações decorrem de duas fontes: 
a) A LEI
b) A CONVENÇÃO DAS PARTES
- No âmbito da Vara da Infância, estas ações decorrem mais da OBRIGAÇÃO LEGAL do que do contrato. 
- A Vara da Infância somente terá competência para conhecer dessas ações quando um direito fundamental estiver sendo violado (art. 209). 
 Ex: Escola pública que possua sala de aula em péssimo estado de conservação; falta de docente em determinada escola; entrega de medicamentos; tratamento especializado etc.

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