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CCJ0022-WL-B-LC-ECA - Aula 03 - Direito à Liberdade e Dignidade

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AULA 3 
 
DIREITO À LIBERDADE, À DIGNIDADE E AO RESPEITO 
 
Antes de se iniciar o estudo destes direitos, torna-se necessário ressaltar alguns 
aspectos importantes para não ensejar interpretações equivocadas, como, por exemplo: a 
criança pode ficar pelas ruas; não é permitido aos pais o uso da força para impor-lhe limites; 
ela tem o direito de fazer o que bem entender com a sua vida. 
O legislador estatutário, de forma elogiável, tratou do direito à liberdade, à dignidade 
e ao respeito de forma acoplada, definindo-os num único capítulo, pelo fato de eles se 
complementarem, pois não podemos pensar em liberdade sem respeito e dignidade. 
Ciente também de que, no mundo dos adultos, os direitos das pessoas têm, como 
limites, as outras pessoas e de que esta regra não deve ser aplicada de forma ilimitada às 
crianças e aos adolescentes, por se encontrarem em processo de desenvolvimento, esse 
mesmo legislador estatutário, de forma sutil, antes de defini-los, limitou-os à própria criança 
ou adolescente. Em outras palavras, O LIMITE DA LIBERDADE, DA DIGNIDADE E DO 
RESPEITO DA CRIANÇA ESTÁ NA PRÓPRIA CRIANÇA OU ADOLESCENTE. Logo, uma 
criança ou um adolescente pode brincar, passear ou se divertir, desde que esta liberdade não 
a/o prejudique. 
Como a liberdade pode ser analisada sob vários ângulos, o legislador limitou-a a 7 
aspectos: 
Diz a lei: 
Art. 16, I - O direito de liberdade consiste no direito de ir, vir e estar nos logradouros 
públicos e espaços comunitários ressalvadas as restrições legais. 
Por interpretação errônea desta norma e sem levar em conta o disposto no art. 16, 
começou-se a admitir que as crianças poderiam ficar nas ruas. 
Esta interpretação incorreta decorre de uma interpretação literal do disposto na lei. O 
legislador se utilizou do verbo "estar", na frase "estar nos logradouros públicos", no sentido 
de trânsito, e não no de permanência. Se o verbo utilizado fosse o verbo "ficar", aí sim 
caberia tal entendimento. 
Não tem sentido este tipo de permissão, se levar em conta a doutrina da proteção 
integral. A intenção do legislador foi garantir o direito de ir e vir dos menores, não no 
sentido de ficar nas ruas, mas no de ir e vir para estudar, passear, andar, brincar, namorar 
etc. 
 
Art. 16, II – Compreende o direito de opinião e expressão. 
Este dispositivo é de grande valia para as situações que deságuam na Vara de 
Família, principalmente quando o futuro do menor está em jogo, independentemente da 
idade. 
O fato de a criança ou adolescente ser vulnerável e, como tal passível de influências 
inadequadas, não impede que sejam ouvidos na Vara de Família, até porque a fala do menor 
deverá ser avaliada dentro do conjunto de provas e ainda sob a orientação de uma equipe 
especializada. Logo, não cabe mais aquela velha indagação "a partir de que idade, o meu 
filho poderá ser ouvido em juízo?". 
 
Art. 16, III - Crença e culto religioso. 
Aqui o legislador seguiu a orientação constitucional. Contudo, esta liberdade tem 
como freio o próprio menor. Conseqüentemente, não é permitido ao menor marcar o corpo, 
dormir com o santo e fazer retiro sem autorização de seus pais ou responsáveis. 
 
Art. 16, IV - Brincar, praticar esporte e divertir-se. 
São atividades permitidas, desde que sejam praticadas dentro das regras de 
segurança e de forma a não colocar em risco o desenvolvimento do menor. 
 
Art. 16, V– Participar da vida familiar sem discriminação. 
Este dispositivo é muito importante para aquelas famílias que se formam com 
pessoas oriundas de diferentes origens. Por exemplo, o caso da mulher que vai conviver com 
um homem e leva seus filhos e estes passam a conviver com os do seu companheiro. Assim, 
independentemente da filiação, todos têm direito ao mesmo tipo de atenção, porque este 
direito está contido. 
 
Art. 16, VI - Participar da vida política. 
Este direito pode ser exercido somente a partir dos 16 anos de idade, segundo o 
disposto no art. 14, § 1º, II, c, da CF. 
 
Art. 16, VII – Buscar refúgio, auxílio e orientação. 
Sempre que um menor procurar um adulto como fonte de apoio, terá de ser ouvido 
por quem quer que seja. 
 
O disposto no art. 17 do ECA, à primeira vista, leva a uma interpretação equivocada, 
principalmente no que diz respeito à inviolabilidade da integridade física, na medida em que 
muitos começaram a defender a tese de que hoje não é permitido aos pais bater em seus 
filhos para educar. 
Este dispositivo, como os demais, deve ser interpretado à luz do art. 6º e, como 
tal, será respeitado desde que o direito por ele previsto não venha a prejudicar a formação 
dos menores. Ainda em favor desse entendimento, temos de considerar que O 
NASCIMENTO DE UM FILHO GERA PARA OS PAIS O PODER FAMILIAR, poder este 
que se resume muito mais num FEIXE DE OBRIGAÇÕES do que de poder, e, dentre 
essas obrigações, está a de EDUCAR E IMPOR LIMITES. 
Ainda em relação à formação do menor, o Código Penal, em seu art. 136, dispõe 
que os pais respondem por EXCESSO EM CASO DE MAUS TRATOS, o que nos leva a 
concluir ser permitido o uso da força moderada na educação dos filhos somente aos pais e a 
mais ninguém. 
Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, 
para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou 
cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando 
de meios de correção ou disciplina: 
Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa. 
§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: 
Pena - reclusão, de um a quatro anos. 
§ 2º - Se resulta a morte: 
Pena - reclusão, de quatro a doze anos. 
§ 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 anos. 
 
Tal raciocínio deve ser feito também em relação à privacidade e à imagem do filho, 
mas, se o filho começa a apresentar sinais de que alguma coisa está errada, nada impede o 
pai de segui-lo ou mexer em seus pertences para entender o que está se passando. 
Conseqüência prática: já tivemos pais levando projétil de arma de fogo encontrado 
na bermuda do filho e cigarros de maconha, e a solução dada foi o encaminhamento para o 
conselho tutelar, onde foram tomadas as medidas cabíveis. 
Na verdade, o que a lei objetivou foi proteger a imagem do menor, de forma a ser 
respeitado como uma pessoa em desenvolvimento, em vez de ser olhado como um adulto 
anão. 
Para fechar esse conjunto de direitos, o legislador coloca a SOCIEDADE NA 
FUNÇÃO DE GARANTIDORA. Essa medida é muito importante, porque quase sempre o 
menor é vítima dentro de sua própria casa, tendo por algozes seus pais ou 
familiares. Diante de um caso como este, qualquer um de nós tem o dever de denunciar, 
sob pena de ser responsabilizado por omissão. Como conseqüência dessa disposição legal, 
foram criados programas como o SOS Crianças Vítimas de Violência, em que basta um 
telefonema para que o caso seja encaminhado à autoridade competente. 
 
 
* PARTICIPE DO FÓRIM – TEMA I: 
Na medida em que o cuidado passou a ter valor jurídico, com base na Convenção dos 
Direitos da Criança art. 3, na Constituição Federal art. 227, Estatuto da Criança e do 
Adolescente art. 1º, 15, 17, 19 é assegurado “à criança o direito de ser CUIDADA por eles” 
(art. 7 da Convenção dos Direitos da Criança). 
Indaga-se: Os pais podem educar seus filhos com palmadas? 
 
* SAIBA MAIS: Consulte os artigos referidos no texto do tema I e ainda os arts. 3º, 5º e 18 
do ECA, arts. 1634, VII; 1638, I, CC.

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