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CCJ0022-WL-B-LC-ECA - Aula 11 - Do Ministério Público

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AULA 11 
 
DO MINISTÉRIO PÚBLICO E A PROTEÇÃO JUDICIAL DOS INTERESSES 
INDIVIDUAIS, DIFUSOS OU COLETIVOS 
Sabe-se que, a partir da Constituição de 1988, o MP passou a ter uma atuação muito 
mais voltada para a solução dos problemas sociais. Nessa esteira, ao estabelecer o rol de 
atribuições no art. 201 o legislador estatuário elegeu o MP como o grande ator na defesa dos 
direitos das crianças e adolescentes, permitindo-lhe atuar tanto na esfera judicial como 
extrajudicial. 
 
1. ATRIBUIÇÕES JUDICIAIS DO MINISTÉRIO PÚBLICO 
Promover as ações socioeducativas; promover as ações de alimentos, suspensão e 
destituição de poder familiar, nomeação e remoção de tutores, curadores e guardiões; 
promover a inscrição da hipoteca legal e a prestação de contas de tutores e curadores; 
promover ação civil pública; promover as medidas judiciais cabíveis; impetrar mandado de 
segurança, mandado de injunção e habeas corpus; propor ação representação administrativa 
para apuração de infrações às normas de proteção. 
 
2. ATRIBUIÇÕES EXTRAJUDICIAIS DO MINISTÉRIO PÚBLICO 
Conceder remissão como forma de exclusão do processo; promover inquérito civil; instaurar 
procedimentos administrativos; instaurar sindicância, requisitar diligências investigatórias e 
requisitar instauração de inquérito policial; promover medidas extrajudiciais para o efetivo 
exercício dos direitos fundamentais; inspecionar as entidades e programas destinados aos 
menores; requisitar força policial bem como serviços públicos ou particulares para o 
desempenho de suas funções. 
 
DO ADVOGADO 
O ECA seguiu as determinações constantes dos tratados e convenções internacionais 
ao garantir às crianças e aos adolescentes a DEFESA TÉCNICA POR ADVOGADO 
CONSTITUÍDO OU ATRAVÉS DA DEFENSORIA EM CASO DE HIPOSSUFICIÊNCIA (art. 206 e 
207). 
Merece destaque a regra contida no § 2º do art. 207: a falta do defensor do 
adolescente infrator a um ato processual, previamente designado, não implica no 
adiamento do ato. Quanto a esse tema, destacam-se dois aspectos importantes: 
1. Presença do advogado durante a oitiva informal do adolescente infrator pelo 
órgão do MP - o entendimento prevalente é no sentido de se PERMITIR A PRESENÇA 
DO ADVOGADO, desde que ele não interfira no depoimento de seu cliente. 
2. Atuação do advogado junto ao Conselho Tutelar - o entendimento é no sentido de 
que, como os procedimentos que têm em curso perante o Conselho Tutelar também são 
acobertados pelo manto do SEGREDO DE JUSTIÇA, essas informações somente 
podem ser fornecidas pelo Conselho Tutelar para atender requisições judiciais e 
do MP. 
 
DA PROTEÇÃO JUDICIAL DOS INTERESSES INDIVIDUAIS, DIFUSOS OU COLETIVOS 
Ao tratar de ações para a garantia dos direitos dos menores, o legislador agrupou-as 
em ações individuais e coletivas. Visto que as ações coletivas protegem um grupo maior de 
pessoas, iniciaremos nosso estudo com as ações coletivas. 
Continue sua aprendizagem a partir da leitura do texto Da proteção judicial dos 
interesses individuais, difusos ou coletivos. Ele está disponível na Biblioteca da 
Disciplina, seção Material de Aula. 
 
 
DA PROTEÇÃO JUDICIAL DOS INTERESSES INDIVIDUAIS, DIFUSOS OU COLETIVOS 
Observe: 
A enumeração do art. 201 é EXEMPLIFICATIVA e não taxativa. 
O legislador também prevê ser obrigatória a intervenção do MP em todos os 
processos em curso na Vara da Infância, sob pena de NULIDADE (art. 202 e 204). 
Ainda nessa linha, o legislador determina que as manifestações do Ministério Público 
devem ser fundamentadas (art. 205). 
 
Como é sabido por todos, os interesses difusos, coletivos e individuais 
homogêneos correspondem à 3ª geração de direitos fundamentais. Para atender a essa 
nova modalidade de direitos, fez-se necessário que o ordenamento jurídico criasse novos 
instrumentos para a sua proteção, como a ação popular e a ação civil pública. 
 
1. AÇÃO POPULAR 
- Criação pela Lei 4.717/65 
- Legitimado ativo: o cidadão 
- Objeto: a anulação ou decretação de nulidade dos atos lesivos ao patrimônio 
público. 
2. AÇÃO CIVIL PÚBLICA 
- Criação pela Lei 7.347/85 
- Legitimado ativo: o MP , as autarquias, a sociedade de economia mista, a empresa 
pública e as associações constituídas há pelo menos um ano 
- Objeto: a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, ao patrimônio artístico, 
histórico, turístico e paisagístico ou a qualquer outro interesse difuso ou coletivo. 
 
Na linha de garantir os direitos metaindividuais dos menores, o legislador estatutário 
disciplinou da AÇÃO CIVIL PÚBLICA em seu art. 210, divergindo apenas no que diz 
respeito aos FINS DAS ASSOCIAÇÕES, que deve ser o de “DEFESA DOS INTERESSES E 
DIREITOS PROTEGIDOS PELA LEI 8.069/90.” 
Também, aqui A LEGITIMAÇÃO É CONCORRENTE, AUTÔNOMA E DISJUNTIVA, 
dando possibilidade a cada um dos concorrentes proporem a ação INDIVIDUALMENTE 
OU EM LITISCONSÓRCIO, inclusive entre os membros do MP. 
Visto que são graves as situações de violação de direitos metaindividuais – que, de 
regra, necessitam de proteção judicial - a lei prevê a CONCESSÃO DE LIMINAR (art. 213 
§1º). Essa providência cautelar pode ser PRÉVIA À AÇÃO CIVIL PÚBLICA OU INCIDENTAL, 
sendo que para a concessão da liminar é OBRIGATÓRIA A OITIVA DO PODER 
PÚBLICO. 
 
Quanto ao OBJETO DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA, o legislador estatutário seguiu a 
mesma técnica contida na Lei 7.347/85, ou seja, apenas indicou um ROL 
EXEMPLIFICATIVO e não taxativo em seu art. 208, enumerando oito situações de 
desrespeito aos direitos dos menores. 
 
Quanto ao ÓRGÃO COMPETENTE PARA CONHECER ESTA AÇÃO, o legislador 
adotou a regra da competência territorial em seu art. 209, ressalvadas a competência da 
Justiça Federal e a competência originária dos Tribunais Superiores. 
Diante da importância da matéria em litígio, o legislador estatutário também 
permitiu ao juiz da causa JULGAR EXTRA PETITA nas obrigações de fazer e não 
fazer, aplicando astreintes, mesmo que o autor não as tenha pedido (art. 213 e §§2º e 3º), 
in versis: 
“... ou determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do 
adimplemento.” 
 
Na trilha da Lei 7.347/87, no art. 223, o legislador estatutário previu a possibilidade 
de INSTAURAÇÃO DE INQUÉRITO CIVIL, sob a presidência do Ministério Público, com a 
finalidade de verificar a existência de LESÃO DE DIREITO METAINDIVIDUAL. Ao término 
do inquérito civil, o MP poderá optar por: 
1) Intentar a ação civil pública, ou 
2) Realizar o termo de ajustamento de conduta ou 
3) Promover o seu arquivamento. 
 A promoção desse arquivamento, segundo os moldes do § 1º do art. 223, deverá 
ser FUNDAMENTADA com a exposição dos fatos e os motivos que levaram ao seu 
entendimento. 
 Controle desse arquivamento (§ 2º do art. 223): Feito pelo Conselho Superior do 
Ministério Público, devendo o MP que promoveu o arquivamento remeter os 
autos ao Conselho para homologação, no prazo de 3 dias, sob pena de falta 
funcional. 
 Previu ainda o legislador que, enquanto o Conselho Superior não se manifestar, 
qualquer dos legitimados para a propositura da ação civil pública poderá se 
manifestar nos autos e, inclusive, acrescentar peças (art. 223, § 3º). 
 Finalmente, estabelece a lei que, após o arquivamento, o inquérito somente será 
reaberto com FATOS NOVOS. 
 
TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA (TAC) 
- Instrumento que permite ao CAUSADOR DA LESÃO fazer uma COMPOSIÇÃO 
EXTRAJUDICIAL DO CONFLITO EM QUESTÃO, de forma a se buscar a execução 
específica da obrigação. 
- Legitimidade para negociar o TAC: 
1) MP 
2) Todos aqueles que têm legitimidade para propor a ação civil pública 
 (art. 211). 
- A lei atribuiu ao TAC a NATUREZA DE TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL e, como 
conseqüência, poderá ser executado diretamente em caso de descumprimento (§ 5º do 
art. 211). 
 
 
 
 
OUTRAS AÇÕES PREVISTASNO ECA 
- Ainda dentro do capítulo da proteção dos direitos metaindividuais, o legislador estatutário 
cuidou dos DIREITOS INDIVIDUAIS, instrumentalizados através de outras ações como a 
ação mandamental e a ação para cumprimento de obrigação de fazer (art. 212). 
- O MP somente terá legitimidade para propor ação que vise à defesa dos direitos 
individuais do menor quando: 
1) Não possua representante legal 
2) Mostre-se omisso ou 
3) Não cumpra com a sua obrigação legal. 
- Diante do texto do art. 212, a conclusão que se chega é que NÃO É CABÍVEL A 
UTILIZAÇÃO DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA PARA A DEFESA DE DIREITOS 
INDIVIDUAIS. 
 
1. AÇÃO MANDAMENTAL (§ 2º do art. 212) 
- Cabimento: Contra ATOS ILEGAIS OU ABUSIVOS de (1) autoridade pública ou (2) agente 
de pessoa jurídica no exercício de atribuições do poder público, que lesem DIREITO 
LÍQUIDO e certo previsto no ECA. Rege-se pelas normas da lei do MS (Lei 1.533/51). 
- Aspectos importantes nessa ação: 
a) Autoridade - é aquela pessoa que desempenha uma FUNÇÃO PÚBLICA COM PODER 
DE DECISÃO. 
b) Direito líquido e certo - é aquele que pode ser exercido e, por conta disso, pode ser 
comprovado plenamente no ato da impetração da ação. 
c) Juiz competente - será o Juízo da Infância do local onde estiver ocorrendo a 
violação do direito (art. 209). Ex: Decorrem das situações ligadas à educação, 
como obtenção do histórico escolar para transferência do aluno que se encontra com 
a mensalidade atrasada, ou pedido para fazer prova na hipótese de o aluno se 
encontrar suspenso. 
 
2. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER OU NÃO FAZER 
- Como toda modalidade obrigacional, estas ações decorrem de duas fontes: 
a) A LEI 
b) A CONVENÇÃO DAS PARTES 
- No âmbito da Vara da Infância, estas ações decorrem mais da OBRIGAÇÃO LEGAL do que 
do contrato. 
- A Vara da Infância somente terá competência para conhecer dessas ações quando um 
direito fundamental estiver sendo violado (art. 209). 
 Ex: Escola pública que possua sala de aula em péssimo estado de conservação; falta 
de docente em determinada escola; entrega de medicamentos; tratamento 
especializado etc.

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