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CCJ0022-WL-B-LC-ECA - Aula 13 - Ato Infracional

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AULA 13 
 
DA APURAÇÃO DO ATO INFRACIONAL 
 
Antes de dar início ao presente estudo, é bom relembrar que esta matéria está 
intimamente ligada às regras traçadas nos art. 103 ao 111, mais precisamente com o 
conceito de ato infracional, com a inimputabilidade infanto-juvenil, com os direitos 
individuais e com as garantias processuais do adolescente infrator. Por se tratar de um 
procedimento novo, além de esmiuçá-lo o legislador ainda descreveu as providências a 
serem adotadas por autoridades e o tempo, de modo a garantir os princípios da celeridade e 
da prioridade absoluta que regem esse 
procedimento. Assim, dividiu-o em três fases distintas: 
i. Fase policial 
ii. Fase de atuação do Ministério Público 
iii. Fase judicial 
 
 
I. FASE POLICIAL 
1) Inicia-se com a APREENSÃO EM FLAGRANTE do adolescente 
2) Encaminhamento do adolescente à delegacia de polícia, especializada se houver (art. 
172), a fim de ser lavrado, conforme a natureza do ato infracional praticado (art. 173): 
a) Auto de prisão em flagrante - Se o ato foi praticado com violência ou grave 
ameaça à pessoa. 
b) Boletim de ocorrência - Se o ato NÃO foi praticado com violência ou grave 
ameaça à pessoa. 
- Art. 173: Além de apontar o procedimento a ser adotado em sede policial, o legislador 
ainda apontou as providências a serem tomadas, a fim de se comprovar a autoria e a 
materialidade, bem como a garantia de direito contida no artigo 107. 
- Art. 174: POSSIBILIDADE DE LIBERAÇÃO OU NÃO DO INFRATOR PELA 
AUTORIDADE POLICIAL. Para tanto, o delegado e as demais autoridades terão que se 
pautar pelas regras do art. 122 do ECA, que admite a INTERNAÇÃO quando o ato 
infracional for cometido mediante VIOLÊNCIA OU GRAVE AMEAÇA À PESSOA. 
 Como o Estatuto não definiu o significado de ato infracional de natureza grave, por conta 
dessa omissão a doutrina majoritária adotou um critério com base na lei penal para defini-
lo, entendendo por ATO INFRACIONAL DE NATUREZA GRAVE como sendo o ATO 
ANÁLOGO AO CRIME APENADO COM PENA DE RECLUSÃO. Com base nessa premissa, 
entendem ser possível a INTERNAÇÃO PROVISÓRIA (com base no art. 174 parte final 
do ECA) do adolescente envolvido com o tráfico de drogas, já que este crime é apenado 
com pena de reclusão. 
- No art. 174, o legislador ainda prevê que não sendo o adolescente liberado e não podendo 
ser apresentado no prazo de 24 horas ao Promotor de Justiça, ele deverá ser 
encaminhado a uma entidade adequada ou, na sua falta, deverá ser mantido em cela 
separada dos adultos (art. 175). 
- No caso de suspeita de participação de adolescente em prática de ato infracional, previu o 
legislador a possibilidade de investigação, que se dará com da instauração de inquérito 
policial que culmina com a elaboração de um relatório, o qual deverá ser encaminhado ao 
MP (arts. 176 e 177). 
- Assim, podemos concluir que: 
a) Estando o adolescente em ESTADO DE FLAGRÂNCIA - dependendo da natureza 
do ato infracional praticado, o delegado poderá lavrar um auto de apreensão em 
flagrante (art. 173 caput e incisos do ECA) ou um boletim circunstanciado (art. 
173,§ único do ECA). 
b) Se não houver flagrante, mas HAVENDO INDÍCIOS DE ENVOLVIMENTO DO 
ADOLESCENTE COM PRÁTICA DE ATO INFRACIONAL - nesse caso, o delegado 
poderá INVESTIGAR E LAVRAR UM RELATÓRIO (art. 177 do ECA). 
- Finalmente, objetivando dar maior visibilidade no transporte do adolescente infrator, nessa 
fase o legislador não permitiu que ele fosse transportado em veículo fechado ou na 
caçamba do camburão (art. 178 do ECA) (V. ORGANOGRAMA I). 
 
II. FASE DE ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO 
1) Ultimadas as diligências policiais, se não for caso de liberação imediata do 
adolescente, este deverá ser encaminhado pelo delegado ao MP, juntamente com a 
providência adotada na DP, no prazo de 24 horas. 
2) Chegando os autos ao cartório da Vara da Infância, este deverá exarar certidão 
acerca dos antecedentes do adolescente, dando início à segunda fase para 
apuração do ato infracional, cabendo ao MP, na forma do art. 179, ouvir 
informalmente o adolescente acerca dos fatos que lhe são imputados, bem como seus 
pais e as testemunhas, se for possível. 
 Se o adolescente for liberado e não se apresentar espontaneamente, conforme data 
constante do termo de compromisso firmado na DP (174), o MP deverá notificar 
seus pais para apresentá-lo, podendo inclusive requisitar força policial (art. 179,§ 
único c/c art. 201, VI, e ambos do ECA). 
3) Após ouvir o adolescente infrator, o MP poderá optar por três alternativas (art. 180): 
a) Promover o ARQUIVAMENTO DOS AUTOS (art. 181 do ECA). 
b) Conceder REMISSÃO como forma de exclusão do processo (art. 126, 1ª parte do 
ECA). 
c) REPRESENTAR (art. 182 do ECA). 
 
Para uma melhor compreensão dessas opções, elas serão objeto de análise em 
separado. 
 
a) DO ARQUIVAMENTO: 
- Verificando o MP que: 
1) O fato é inexistente, ou 
2) O fato não está provado, ou 
3) O fato não constitui ato infracional, ou 
4) Não há comprovação acerca do envolvimento do adolescente 
deverá promover o arquivamento dos autos, através de MANIFESTAÇÃO 
FUNDAMENTADA, e nos moldes do art. 180, I, c/c arts. 189 e 205 do ECA, REMETÊ-LO À 
HOMOLOGAÇÃO JUDICIAL. 
- Caso o Juiz da Infância discorde do arquivamento, fará remessa dos autos ao Procurador-
Geral de Justiça, tal como ocorre no inquérito policial (art. 181 e seus parágrafos). 
 
b) DA REMISSÃO: 
- Natureza de perdão 
- Sua concessão está vinculada à prática de um ato infracional por um adolescente 
- A remissão faz parte do elenco de providências que o MP poderá optar, com certa 
DISCRICIONARIEDADE, por isso, a lei apontou alguns aspectos a serem observadas no 
caso concreto, a fim de facilitar a formação desse juízo de valor, tais como (art. 126): 
- circunstâncias e conseqüências da infração 
- personalidade do infrator e 
- sua maior ou menor participação no ato infracional. 
* É interessante ressaltar que o legislador, em nenhum momento, se reportou à 
GRAVIDADE DA INFRAÇÃO. 
 
- Tal como o arquivamento, a concessão da remissão depende de MANIFESTAÇÃO 
FUNDAMENTADA E DE HOMOLOGAÇÃO JUDICIAL para produção de seus efeitos (art. 
180). 
- Divergência existente na doutrina quanto à possibilidade do MP incluir na remissão, como 
forma de exclusão do processo, medida sócioeducativa, exceto a de semiliberdade e 
internação. 
 
ANTES do início do procedimento judicial  Conseqüência: Exclusão do processo 
MP concede a remissão 
 
DEPOIS do início do procedimento judicial  Conseqüência: Extinção ou suspensão 
MP concede a remissão do processo 
 
c) DA REPRESENTAÇÃO: 
- A AÇÃO SOCIOEDUCATIVA tem início com o recebimento da peça técnica denominada de 
REPRESENTAÇÃO pelo legislador estatutário. 
- As características da ação socioeducativa são as seguintes: 
1. NATUREZA PÚBLICA INCONDICIONADA, independentemente do tipo do ato 
infracional praticado. 
 Ex: Se de dano, de lesão corporal ou homicídio, a ação é a mesma. 
2. LEGITIMIDADE É EXCLUSIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO, assim não há que se 
falar em ação socioeducativa de natureza privada. 
3. A ação socioeducativa é regida pelo PRINCÍPIO DA DISPONIBILIDADE (e não o da 
obrigatoriedade, tal como ocorre com a ação penal pública!!!). Essa conclusão 
decorre da análise do art. 182 que, pela sistemática procedimental adotada pela lei 
em comento, a ação socioeducativa somente deve ser instaurada se não for 
caso de arquivamento ou de remissão. 
- Quanto ao aspecto formal: A representação poderá ser oferecida por escrito ou 
oralmente (art. 182, § 1º). Independentemente da forma escolhida, a representação 
deverá conter um breve resumo dos fatos, classificação do ato infracional, rol de 
testemunhas e o requerimento de internação provisória ou o pedido de liberação do 
mesmo dependendo das condições apresentadas ou ainda nadase o MP estiver de acordo 
com a liberação do adolescente pela Autoridade Policial. Há que se ressaltar que como o 
ECA não limitou o número de testemunhas por força do art 152 do ECA, aplica-se 
subsidiariamente o disposto no art. 398 do CPP, admitindo-se que sejam arroladas até oito 
testemunhas. 
- A representação será DIRIGIDA SEMPRE AO JUIZ DA VARA DA INFÂNCIA, mesmo 
que o ato infracional seja análogo a delito criminal da competência da Vara 
Federal. Face aos princípios da prioridade absoluta e a competência exclusiva (art. 148, I 
do ECA) (V. ORGANOGRAMA II). 
 
 
III. FASE JUDICIAL 
- Ultrapassada a fase ministerial, inaugura-se a fase judicial com o recebimento dos autos 
em juízo. 
- Casos de remissão ou arquivamento: Caberá ao juiz apreciar a possibilidade de 
homologação ou não. Se discordar da concessão da remissão ou do arquivamento, o juiz 
deverá remeter os autos ao Procurador Geral de Justiça, na forma do art. 181 e seus 
parágrafos. 
- Caso de oferecimento de representação: Caberá ao juiz a análise acerca do juízo de 
admissibilidade da peça. Recebida a representação, a lei indica as MEDIDAS A SEREM 
ADOTADAS PELO JUIZ, ou seja, deverá designar data para audiência de apresentação, 
examinar se é caso para manutenção ou decretação de medida provisória de internação 
(ou de liberação do adolescente) e expedir notificação para dar ciência aos pais ou 
responsáveis acerca da data da audiência (art. 184 c/c 108 e § único do ECA). 
- Ainda nesse primeiro momento, se restar constatada (1) a não localização dos pais ou 
responsáveis, ou (2) a existência de conflito de interesses destes com o filho, deverá 
NOMEAR UM CURADOR ESPECIAL (art. 184 c/c art. 142). 
- Se também restar constatado que o adolescente liberado se encontra em local 
incerto e não sabido, e por conta disto não comparecerá a audiência de apresentação, o 
juiz deverá determinar o SOBRESTAMENTO DO FEITO E EXPEDIR MANDADO DE 
BUSCA E APREENSÃO em desfavor do representado (art. 184, § 3º). 
- Art. 185: A lei limitou o prazo de 5 dias para a transferência do adolescente 
infrator internado provisoriamente até a ENTIDADE ADEQUADA. Esse prazo não 
colide com o prazo das 24 horas, porque: 
a) o prazo de 24 horas é para o delegado apresentar ao promotor de justiça o 
adolescente infrator não liberado na DP; 
b) o prazo dos cinco dias é para transferir o adolescente internado provisoriamente 
decorrente de decisão judicial até a entidade adequada. 
 
1) AUDIÊNCIA DE APRESENTAÇÃO: Se assemelha à audiência destinada ao interrogatório 
do réu. Assim, também é imprescindível a presença do infrator, do Ministério Público e do 
Advogado, sendo permitido a formulação de perguntas às partes. 
 Ouvido o adolescente, na audiência de apresentação O JUIZ PODERÁ CONCEDER 
REMISSÃO como forma de suspensão ou extinção do processo, com APLICAÇÃO OU 
NÃO DE MEDIDA SOCIOEDUCATIVA (art. 186, § 1º, e art. 188 c/c art. 126, § único) 
OU EXAMINAR PEDIDO DE LIBERAÇÃO. 
 CASO O FATO NÃO SEJA DE NATUREZA GRAVE - e, portanto, nos cabe a aplicação de 
medidas socioeducativas de semiliberdade ou internação: poderá o Juiz FINDAR O 
PROCESSO nesse momento, julgando procedente a representação aplicando 
qualquer outra MEDIDA SÓCIOEDUCATIVA E/OU PROTETIVA (Art.112 e 113 
ambos do ECA) menos as de restrição ou privação da liberdade. 
 O juiz também poderá julgar IMPROCEDENTE a representação (com base no conteúdo dão 
art. 189 do ECA). 
 
2) Terminada a audiência de apresentação, o juiz na própria assentada designará data para 
AUDIÊNCIA DE CONTINUAÇÃO, saindo todos intimados, bem como ABRIRÁ O PRAZO 
DE TRÊS DIAS DE OFERECIMENTO DE DEFESA PRÉVIA para a defesa. Tratando-se de 
procedimento regido pelo princípio da oralidade, é através da defesa prévia que o Advogado 
indicará as provas que deseja produzir em defesa de seu cliente e, ainda caso queira é o 
momento para tecer um esboço da defesa a qual poderá ser mais elaborada com doutrina e 
jurisprudência, não esquecendo, é claro, de argüir as nulidades existentes e diligências que 
sejam indispensáveis à defesa. 
 A audiência de continuação, diferentemente da audiência de apresentação, PODERÁ 
SER REALIZADA COM A PRESENÇA OU NÃO DO REPRESENTADO, apenas 
exigindo-se a presença de seu defensor. 
 1º será feita a prova de acusação e em seguida a de defesa; logo após, as partes 
apresentarão suas alegações finais em forma oral; por fim, o juiz proferirá a sentença. 
 O juiz somente irá julgar procedente a representação e aplicar a medida 
socioeducativa que se mostrar mais adequada se restar COMPROVADO A AUTORIA 
E A MATERIALIDADE do ato infracional. 
 Se o juiz vislumbrar qualquer HIPÓTESE DO ART. 181 do ECA: Terá que JULGAR 
IMPROCEDENTE A REPRESENTAÇÃO em face do adolescente, bem como 
determinar a LIBERAÇÃO IMEDIATA DO MENOR caso esteja internado 
provisoriamente (art. 234 do ECA c/c art. 5º, LXV da CRFB) (V. ORGANOGRAMA III). 
 
- No Rio de Janeiro, há apenas duas entidades de internação provisória: Instituto Padre 
Severino (IPS), para rapazes, e Educandário Santos Dumont, para moças. Ambas se 
localizam no bairro da Ilha do Governador. 
 
Este instituto, segundo as regras da lei, possui natureza transacional com o propósito 
de permitir a exclusão, a extinção ou a suspensão do processo após a valoração das 
circunstâncias e conseqüências da infração, do contexto social, bem como da personalidade 
do adolescente e sua maior ou menor participação no ato infracional. 
Não importa no reconhecimento ou comprovação da responsabilidade, nem prevalece 
para efeitos da reincidência. 
A sua aplicação prescinde de provas de autoria e materialidade. Estas podem ser 
concedidas tanto pelo Ministério Público até o oferecimento da representação quanto pelo 
juiz até a prolação da sentença (art. 188). Como o legislador autorizou ao Ministério Público 
a inclusão de medida socioeducativa, exceto as medidas de internação e de semiliberdade, 
esta matéria se tornou alvo de divergência tanto na doutrina quanto na jurisprudência por 
entender-se que se teria conferido poder decisório a órgão diverso do Poder Judiciário. 
Dessa controvérsia resultou a edição da Súmula 108 do STJ, em que se reafirma 
que "A aplicação de medidas sócioeducativas ao adolescente, pela prática de ato infracional, 
é da competência exclusiva do juiz". 
Não obstante a edição da Súmula 108, este pensamento é equivocado, na medida 
em que a remissão concedida pelo Ministério Público constitui um ato jurídico bilateral 
complexo. Trata-se de um ato jurídico bilateral por envolver uma transação e complexo 
porque decorre de dois atos, ou seja, a concessão do MP e a homologação judicial. Neste 
prisma, a lei possibilita ao juiz, em caso de discordância, remeter o processo ao Procurador-
Geral (§ 2º do art. 181).

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