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180 REVISÃO Investigação - Revista Científica da Universidade de Franca Franca (SP) v. 5 n. 1/6 jan. 2003 / dez. 2005 RESUMO: o presente trabalho tem por objetivo descrever, através de revisão da literatura, as principais técnicas radiográficas extra-bucais convencionais utilizadas em traumatologia buco-maxilo-facial, assim como abordar as suas principais indicações e as estruturas anatômicas que podem ser avaliadas em cada tomada. Palavras-chave: radiografia extra-bucal; traumatologia buco-maxilo-facial; técnica radiográfica. ABSTRACT: this study aimed at carrying out a literature review concerning the major conventional extra-oral radiography techniques used in oral and maxillofacial trauma, their main indications and the anatomical structures that can be evaluated in each radiograph. Key words: extra-oral radiography; oral and maxillofacial trauma; radiography techniques. TÉCNICAS R ADIOGRÁFICAS EXTR A- BUCAIS CONVENCIONAIS UTILIZADAS EM TRAUMATOLOGIA BUCO-MAXILO-FACIAL CONVENTIONAL EXTRA-ORAL RADIOGRAPHY TECHNIQUES USED IN ORAL AND MAXILLOFACIAL TRAUMATOLOGY 1Estagiário do Hospital Governador João Alves Filho e Estudante do 8º pe- ríodo de Odontologia da Universidade Federal de Sergipe (UFS). 2Estagiário do Hospital Governador João Alves Filho e Estudante do 9º pe- ríodo de Odontologia da Universidade Federal de Sergipe (UFS). 3Estagiária do Hospital Governador João Alves Filho e Estudante do 8º pe- ríodo de Odontologia da Universidade Federal de Sergipe (UFS). 4Cirurgião Buço-maxilo-facial e Mestrando em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial da Faculdade de Odon- tologia de Araçatuba/UNESP. Paulo Ricardo Saquete Martins Filho1 Thiago de Santana Santos2 Daniele Machado Reinheimer3 Paulo Almeida Júnior4 p. 180-187 181 Investigação - Revista Científica da Universidade de Franca Franca (SP) v. 5 n. 1/6 jan. 2003 / dez. 2005 INTRODUÇÃO Mais de 100 anos após a descoberta do raio-x pelo físico alemão William Conrad Roentgen, o exame radiográfico ainda representa um dos exa- mes complementares mais importantes na traumatologia buco-maxilo-facial. A radiologia foi aprimorada nos últimos anos, desenvolvendo equi- pamentos que utilizam tecnologia digital para a melhora da qualidade das imagens, dando apoio inestimável ao diagnóstico anatômico, funcional, prognóstico e decisão terapêutica. Entretanto, este fato tornou a medicina e a odontologia ciências extremamente onerosas e é um fator que contri- bui sobremaneira para o uso demasiado e muitas vezes indevido de exames caros e sofisticados (GALVÃO, 2000). Dessa forma, as técnicas radiográficas extra-orais convencionais ainda são utilizadas rotineiramente em serviços públicos de saúde, e são aliadas inseparáveis do cirurgião buco- maxilo-facial na abordagem de pacientes politraumatizados (FREITAS, 2000). O objetivo desse trabalho é descrever as principais técnicas radiográficas extra-bucais convencionais utilizadas em traumatologia buco-maxilo-facial, assim como abordar as suas principais indicações e as estrutu- ras anatômicas que podem ser avaliadas em cada tomada. REVISÃO DA LITERATURA Importância do exame radiográfico em paci- entes traumatizados de face Segundo Furtado (1995) e Peterson et al. (2000), no paciente traumatizado de face, os exa- mes radiográficos devem ser solicitados quando se deseja confirmar as suspeitas levantadas durante o exame clínico e para determinação, com maior grau de precisão, da extensão das injúrias. O exame radiográfico também permite avaliar a direção dos desvios dos fragmentos fraturados, a presença e localização de corpos estranhos e a relação das unidades dentárias com o traço de fratura (GRAZIANI, 1984). É de fundamental importância o estudo radiográfico pré-operatório de pacientes com fra- turas faciais, pois, dessa forma, o cirurgião conse- gue definir com maior precisão se a operação é indicada ou contra-indicada, e ainda consegue elucidar todos os passos a serem dados e as dificul- dades que serão encontradas (GRAZIANI, 1953). Em certos casos, entretanto, a interpretação das radiografias convencionais da cabeça e pescoço é dificultada pela grande sobreposição de estruturas, e por isso, o conhecimento anatômico destas regi- ões, pelo radiologista e pelo traumatologista, deve ser continuamente aprimorado (MOREIRA, 2000). Por essas e outras razões, é que às vezes se torna importante a solicitação de tomografias para elucidação de certas condições clínicas (GRAZIANI, 1984). Para Laine (1993), a região maxilofacial é uma das mais complexas áreas do corpo humano, e as imagens radiográficas desta região tornam-se dificultadas ainda mais pela con- dição clínica dos pacientes traumatizados e pela sua inabilidade de cooperação na realização do exame. Nomenclatura das técnicas extra-bucais As técnicas extra-bucais oferecem registros radiográficos em três planos ou normas diferentes, devendo o profissional conhecê-los, para que soli- cite adequadamente as tomadas referentes a cada caso. A norma lateral proporciona o registro radiográfico em um plano paralelo ao plano sagital mediano. Nesta norma estão incluídas a projeção lateral ou perfil de crânio, a projeção lateral oblí- qua da mandíbula e a projeção lateral dos ossos nasais. Na norma frontal, o plano sagital mediano encontra-se perpendicular ao plano do chassi, es- tando incluídas as projeções póstero-anteriores (PA fronto-naso e PA mento-naso) e a projeção ântero- posterior das apófises condilares. A terceira norma é a axial, onde o registro cranial é perpendicular ao plano sagital mediano, semelhante às radiogra- fias oclusais intra-bucais. Esta norma é representa- da pela projeção submentoniana-vertical dos ar- cos zigomáticos, também conhecida como axial de Hirtz (FREITAS, 2000). 1. PA fronto-naso e perfil de crânio (Figuras 1 e 2) O trauma, principalmente aquele que afeta a cabeça, é uma das maiores causas de morbidade e p. 180-187 182 Investigação - Revista Científica da Universidade de Franca Franca (SP) v. 5 n. 1/6 jan. 2003 / dez. 2005 mortalidade em todo o mundo (FARAGE et al., 2002). Na cinemática do trauma, um paciente traumatizado de face é potencialmente um traumatizado de crânio, devido ao grande risco que esses pacientes têm de produzir traumatismos crânioencefálicos (TCEs). O TCE é definido como todo tipo de agravo que acarrete lesão anatômica, comprometimento funcional, ou ambos, envolvendo estruturas ósse- as cranianas e encefálicas. Ele se divide em leve, moderado e grave, de acordo com a escala de coma de Glasgow (FARAGE et al., 2002). Do total de 1970 internações por TCE, no Município de São Paulo, 27,7% foram em decorrência de acidentes de transporte, havendo predomínio do traumatismo intracraniano em relação à fratura de crânio e face. Em relação às agressões (tentativas de homicídio), terceira em freqüência de internação, o diagnóstico principal recaiu na fratu- ra de crânio e face (KOIZUMI et al., 2000). É im- portante lembrar que o traumatismo craniano fe- chado caracteriza-se geralmente por ausência de ferimentos no crânio ou quando muito, há fratura linear. Quando não há lesão estrutural macroscópica do encéfalo, o traumatismo craniano fechado é chamado de concussão, muitas vezes causado pelos movimentos bruscos de aceleração e desaceleração de automóveis nos acidentes de trânsito. Segundo Andade et al. (2001), o Raio-x simples de crânio, associado à análise da história clínica, exame físico e avaliação neurológica, for- nece informações básicas para estratificação do ris- co de um paciente ter ou desenvolver lesão neurocirúrgica. Dessa forma, é importante que o cirurgião buco-maxilo-facial solicite sempre as ra- diografias PA fronto-nasoe perfil de crânio para pacientes traumatizados de face, de forma que es- sas projeções façam parte da avaliação craniana desses pacientes. Na PA fronto-naso, o paciente é colocado em decúbito ventral com a região frontal e o ápice nasal apoiados no chassi. O feixe central de raios-X incide na nuca do paciente, formando ângulo reto com a mesa radiográfica (FREITAS, 2000). Neste tipo de projeção, é possível avaliar as corticais externa e interna do crânio, os rebordos orbitários superior e inferior, o ramo ascendente e parte do corpo da mandíbula e, em alguns casos, a lâmina perpendi- cular do etmóide e cartilagem do septo nasal. A sobreposição de coluna cervical dificulta a avalia- ção da região mental da mandíbula, enquanto que a porção média da face fica sobreposta pela por- ção petrosa do temporal, que pode ser visualizada, em alguns casos, no interior da região orbitária. Os espaços intervertebrais sobrepostos na região sinfisária da mandíbula e região maxilar podem simular fraturas do processo alveolar e sínfise da mandíbula, ou uma fratura Le Fort I da maxila (STAFNE; GIBILISCO, 1982). Nos casos de pa- cientes em estado grave, onde não é possível colocá-los em decúbito ventral, esta radiografia pode ser obtida na projeção ântero-posterior, com o paciente repousando a cabeça sobre o chassi (GRAZIANI, 1984). Figura 1 – Projeção póstero-anterior (fronto-naso) Figura 2 – Projeção lateral do crânio p. 180-187 183 Investigação - Revista Científica da Universidade de Franca Franca (SP) v. 5 n. 1/6 jan. 2003 / dez. 2005 Na projeção lateral de crânio, o paciente toma a posição em decúbito lateral, com a cabeça em contato com a mesa. O feixe central de raios-x, orientado perpedicularmente ao filme, incide na região de trágus. Esta incidência é útil para a avali- ação das corticais externa e interna do crânio, seio frontal e sela túrcica, além de poder revelar corpos estranhos localizados na orofaringe (DINGMAN; NATVIG, 1983). Segundo Stafne e Gibilisco (1982), as fraturas oblíquas da mandíbula mere- cem atenção especial quando visualizadas neste tipo de projeção lateral. Este tipo de fratura pode produzir duas linhas radiolúcidas, que podem ser interpretadas erroneamente como duas fraturas distintas. 2. Projeção lateral oblíqua da mandíbula (Figura 3) Segundo Graziani (1984), esta projeção é o mais importante recurso radiológico para o diag- nóstico de fraturas da mandíbula, pois oferece uma visão muito nítida do corpo da mandíbula, do ân- gulo, ramo ascendente e até mesmo do côndilo e da coronóide, além de ser facilmente realizada. Para a realização desta tomada radiográfica, o pa- ciente pode ser colocado em decúbito lateral, com a parte média do zigoma sobre o filme e o plano oclusal em ângulo reto com o chassi. O raio cen- tral é dirigido num ângulo de 20 graus com o pla- no oclusal (DINGMAN; NATVIG, 1983). O ci- rurgião deverá sempre solicitar tomadas dos lados direito e esquerdo da mandíbula. 3. Projeção lateral dos ossos nasais (Figura 4) O paciente é colocado em decúbito lateral. O raio central incide pela base do nariz em ângulo reto com o plano do filme (DINGMAN; NATVIG, 1983). Esta perspectiva mostra fraturas dos ossos nasais, da espinha nasal anterior e da apófise frontal da maxila, devendo sempre ser so- licitada juntamente com a PA mento-naso. Devem ser solicitadas radiografias tanto do lado esquerdo quanto do lado direito do paciente. 4. Projeção ântero-posterior das apófises condilares (Figura 5) Apesar da mandíbula ser um dos locais mais atingidos por traumas na região facial, as fraturas do processo condilar muitas vezes não são diagnosticadas, em especial quando são atingidos o colo e a cabeça mandibular (ANDRADE FILHO et al., 2003). As fraturas nesta região geralmente ocorrem na base do colo do côndilo, com freqüente deslocamento ântero-medial, devido à ação do músculo pterigóideo lateral (BARRON et al., 2002; MANGANELLO; SILVA, 2002). Segundo Stafne e Gibilisco (1982) e Banks (1994), a avaliação do processo condilar, colo e ramo da mandíbula de- Figura 3 – Projeção lateral oblíqua de mandíbula. Figura 4 – Projeção lateral dos ossos nasais. Figura 5 – Projeção AP das apófises condilares. p. 180-187 184 Investigação - Revista Científica da Universidade de Franca Franca (SP) v. 5 n. 1/6 jan. 2003 / dez. 2005 vem ser realizadas através da projeção ântero-pos- terior das apófises condilares, também conhecida como projeção de Towne modificada. Em proje- ções póstero-anteriores, a cabeça da mandíbula fica obscurecida pela superposição do processo mastóide e do zigoma. Para a realização desta to- mada, o paciente é colocado em decúbito dorsal, com a linha basal de Reid (canto-meatal) perpen- dicular à mesa. O raio central é dirigido a 30 graus em direção caudal, passando pelo frontal e forame magno, no meio das ATMs (DINGMAN; NATVIG, 1983). 5. Projeção póstero-anterior dos seios maxi- lares (Figura 6) Para a realização desta projeção, também de- nominada de projeção póstero-anterior oblíqua da face, PA mento-naso ou projeção de Waters, o pa- ciente é colocado em decúbito ventral apoiando o mento na mesa radiográfica e afastando o ápice nasal aproximadamente 4 cm da mesma. O raio central incide na protuberância occipital externa, devendo emergir ao nível do rebordo orbitário in- ferior (FREITAS, 2000), para desviar a porção petrosa do osso temporal para baixo (STAFNE; GIBILISCO, 1982). A projeção de Waters é solicitada para análise do andar médio da face e demonstra os rebordos orbitários superior e inferior, os limites do seio fron- tal, a apófise frontal da maxila, o forame infra- orbitário, limites posterior e lateral do seio maxi- lar, o septo nasal, os zigomas e as suturas zigomático-frontal, zigomático-temporal e zigomático-maxilar. Dessa forma, devido à quantidade de infor- mações disponíveis fornecidas por esta incidência e a quantidade de estruturas anatômicas nela vis- ta, uma ênfase deve ser dada sistematicamente ao exame das margens ósseas. É importante salientar que o sombreamento causado pela sutura zigomático-frontal não deve ser confundido com traço de fratura na região. A análise radiográfica das fraturas maxilares e de terço médio da face é muito mais difícil do que a da mandíbula. Esta dificuldade é atribuída às limitações inerentes em revelar-se radiograficamente as estruturas ósseas e seus desvios do normal nesta região (STAFNE; GIBILISCO, 1982). Por esse motivo, é de funda- mental importância que o exame clínico desta re- gião seja realizado de forma mais precisa possível (LUZ; PROCÓPIO; CRIVELLO JUNIOR, 1984). Segundo Dingman e Natvig (1983), a opacificação ou turvação do seio maxilar são vistas em quase todas as fraturas zigomaticomaxilares. Tal achado é conseqüência de fratura das paredes do seio, com hemorragia subseqüente na cavida- de sinusal (hematossinus) (LUZ; PROCÓPIO; CRIVELLO JUNIOR, 1984; TOPAZIAN; GOLBERG, 1997). Nesta situação, geralmente há uma “deformidade em degrau” no rebordo infra- orbitário ipsilateral ao seio afetado. Em alguns casos, pode haver fratura do assoalho da órbita, com ou sem herniação do con- teúdo orbitário para dentro do seio maxilar. Este tipo de lesão também pode ser observado na pro- jeção de Waters (ROTHMAN et al., 1998; LIEDTKE et al., 2003). Entretanto, Moreira (2000) acredita que o assoalho da órbita não é visí- vel nesta incidência, devendo-se solicitar a tomografia computadorizada, com cortes axiais e coronais da órbita, em casos de suspeita de fratura na região. Em pacientes com fratura de clavícula ou gra- vemente ferido, impossibilitado de ficar em decúbito ventral, pode-se realizar a projeção de Waters reversa (DINGMAN; NATVIG, 1983).Figura 6 – Projeção de Waters. p. 180-187 185 Investigação- Revista Científica da Universidade de Franca Franca (SP) v. 5 n. 1/6 jan. 2003 / dez. 2005 6. Projeção submentoniana-vertical dos ar- cos zigomáticos Nesta incidência, também conhecida como axial de Hirtz, o paciente é colocado em decúbito dorsal e com o pescoço hiperextendido. O raio central é dirigido entre os ângulos da mandíbula e perpendicular à linha basal do crânio (linha de Reid). Perspectiva excelente para demonstrar os arcos zigomáticos e deslocamentos mediais ou la- terais dos segmentos fraturados (DINGMAN; NATVIG, 1983). Esta tomada sempre deve ser solicitada acompanhada da PA mento-naso. Radiografia Panorâmica A radiografia panorâmica é um método radiográfico extra-bucal muito útil no estudo das patologias dos dentes e ossos (CARVALHO, 2000). Em uma só tomada registra-se a imagem total da mandíbula, maxila e todos os dentes. Porém, se- gundo Moreira (2000), ela apresenta vantagens e desvantagens. Vantagens: • útil no diagnóstico e planejamento de trata- mento ortodôntico e fraturas mandibulares; • permite a comparação entre os lados direito e esquerdo; • pode ser realizada em pacientes com trismo; • necessita de pouco tempo para sua execu- ção; • possui ampla cobertura da área examinada; • apenas uma película e uma baixa dose de radiação comparada à técnica periapical onde é ne- cessária uma quantidade maior de radiação e de películas. Desvantagens: • perda de detalhes de certas estruturas; • ligeira distorção e ampliação; • alto custo do aparelho que requer, também, maior espaço físico para sua instalação. Segundo Magalhães et al. (1995), devido às vantagens superarem, em muito, as desvantagens, esta técnica é recomendada a todo serviço de aten- dimento a pacientes traumatizados de face. É utilizada como um dos exames complemen- tares da Articulação Temporomandibular (ATM), uma vez que possibilita excelente visão da mandí- bula. Mas, ela é limitada para verificação de mai- ores detalhes da articulação. Sendo assim, deve ser solicitada para avaliação inicial das condições dentárias e ósseas da mandíbula e fossa temporal, pois, comparadas às outras técnicas de exames com- plementares da ATM, a radiografia panorâmica tem um menor custo. São muito usadas em pato- logias envolvendo côndilo, anquiloses e nos casos de suspeitas de fraturas de côndilo e corpo da man- díbula (MOREIRA, 2000). A radiografia panorâmica, muitas vezes, é a única responsável pela detecção de fraturas de mandíbula, levando a uma diminuição dos custos e da exposição aos raios X (MAGALHÃES et al., 1995). E, segundo Dingman e Natvig (1983), este método é indispensável na detecção de fraturas não perceptíveis ao exame clínico. Segundo Freitas (2000), a radiografia panorâ- mica ou ortopantomografia, é uma técnica que envolve movimentos sincrônicos do tubo do apa- relho de raios X e do filme, em sentidos opostos, e de forma que o fulcro desse movimento incida sobre a estrutura que se deseja visualizar. Logo, somente aquelas estruturas contidas no fulcro se- rão projetadas no filme, com grau de detalhe ne- cessário para uma correta interpretação, enquanto aquelas localizadas aquém ou além da faixa cor- respondente ao fulcro sofrerão distorção, devido ao movimento, e não aparecerão no filme. Os acidentes anatômicos observados em uma radiografia panorâmica são: na maxila, cavidades nasais, cornetos inferiores, seios maxilares e túber da maxila; na mandíbula, ângulo, ramo, incisura sigmóide, côndilo, processo estilóide, linha oblí- qua interna, externa e canal dentário inferior (STAFNE; GIBILISCO, 1982). Porém, alguns re- paros anatômicos aparecem com perda de quali- dade. São eles: arco zigomático e forame mental (FREITAS, 2000). CONCLUSÃO A imagem radiográfica é vista bidimensionalmente, porém, as estruturas anatômicas são tridimensionais, fato este, que exi- ge a solicitação de mais de uma tomada p. 180-187 186 Investigação - Revista Científica da Universidade de Franca Franca (SP) v. 5 n. 1/6 jan. 2003 / dez. 2005 radiográfica para obter um diagnóstico radiográfico mais preciso. Em alguns casos, as radiografias convencionais não permitem a visualização correta da posição da fratura. Nestes casos, recomenda-se o uso de téc- nicas mais sofisticadas, como a tomografia computadorizada, pois permite a visualização das estruturas anatômicas sem superposição, oferecen- do visão tridimensional. Apesar do avanço tecnológico, as radiografias extra-bucais convencionais ainda se constituem em um dos exames complementares mais solicitados e viáveis no atendimento ao traumatizado de face. REFERÊNCIAS ANDRADE, A. F.; MARINO JUNIOR, R.; MIURA, F. K.; CARVALHAES, C. C.; TARICO, M. A.; LÁZARO, R. S.; RODRIGUES JUNIOR, J. C. Diagnóstico e conduta no paciente com traumatismo craniencefálico leve – Sociedade Brasi- leira de Neurocirurgia. 31 de Agosto de 2001. Disponível em: <http://www.amb.org.br/projeto_diretrizes/100_di- retrizes/CRANIENC.PDF. >, acessado em 20 de ju- nho de 2004. ANDRADE FILHO, E. F.; MARTINS, D. M. F. S.; SABINO NETO, M.; et al. Fraturas do côndilo mandibular: análise clínica retrospectiva das indi- cações e do tratamento. Rev. Assoc. Med. 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