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148 Ecologia cos, muito embora esta concentra^ao possa ser toxica. Principalmente por causa das atividades humanas, o ecologista agora tern que se preo- cupar com a ciclagem de muitos dos elementos nao essenciais, e todos nos devemos nos preo- cupar com o aumento do volume de lixo toxico que esta sendo despejado ou que, por descuido, escapa para o ambiente, contaminando os ciclos basicos dos elementos vitais. • Expllcafio A maioria dos elementos nao essenciais apresenta pouco efeito nas concentra(;6es nor- malmente encontradas na maioria dos ecos- sistemas naturals, provavelmente porque os organismos adaptaram-se a presen^a deles. Portanto, o seu movimento seria de pouco inte- resse, nao fossem os subprodutos da minera^ao, das fabricas e das indiistrias quimicas e agrico- las, que contem altas concentra<;6es de metais pesados, compostos organicos toxicos e outros materials potencialmente perigosos, os quais, com demasiada frequencia, chegam a entrar no ambiente. Consequentemente, a ciclagem de quase tudo e importante. Mesmo u m elemento muito raro, se estiver como composto metalico altamente toxico, ou u m isotopo radioativo, pode tornar-se u m problema biologico, porque uma quantidade muito pequena de material (do ponto de vista biogeoquimico) pode produzir u m efeito biologico muito marcante. - Eiemptos O estroncio e u m bom exemplo de u m ele- mento anteriormente quase desconhecido que agora deve receber aten^ao especial, porque o estroncio radioativo e particularmente perigoso aos seres humanos e aos outros vertebrados. O estroncio comporta-se como o calcio, resultando que o estroncio radioativo entra em contato intimo com o tecido dos nossos ossos que gera o sangue. Cerca de 7% do total de material sedi- mentar levado pelos rios e de calcio. Para cada 1.000 atomos de calcio, 2,4 atomos de estroncio movimentam-se junto com o calcio ate o mar. Quando o uranio e fissionado na prepara^ao e teste de armas nucleares e nas usinas atomicas, o estr6ncio-90 radioativo e produzido como resi- duo, sendo u m dos varies produtos de fissao que se decompoem muito lentamente. O estr6ncio-90 e um material novo que foi acrescentado a bios- fera; ele nao existia na natureza antes da fissao do atomo. Quantidades minimas de estr6ncio-90, liberadas em chuva radioativa nos testes de armas e escapando dos reatores nucleares, agora seguem o calcio no caminho que parte do solo e da agua, entrando na vegeta^ao, nos animals, no alimento humano e nos ossos humanos. E m 1970, existia uma quantidade suficiente de estroncio nos ossos das pessoas capaz de apresentar efeitos carcino- genicos, segundo alguns cientistas medicos. C o m a proibi(;ao internacional sobre o teste de armas nucleares na atmosfera, a amea^a foi reduzida, pelo menos durante algum tempo. Cesio-137 radioativo, outro produto perigoso da fissao, comporta-se como o potassio, e portanto cicla rapidamente ao longo das cadeias alimentares. Grandes quantidades de produtos radioativos de fissao estao agora armazenadas em tanques nas instala^oes de energia atomica. O problema sobre a destina9ao desses residuos tem limitado, como ja foi assinalado, os usos pacificos da energia ato- mica. O problema dos residuos perigosos sera considerado em mais detalhes no Capitulo 5. O mercurio e mais u m exemplo de u m ele- mento natural que havia apresentado pouco impacto na vida antes da idade industrial, por causa da sua baixa concentra^ao e baixa mobiU- dade. A minera(;ao e a indiistria mudaram isso, e o mercurio e outros metais pesados (tais como cadmio, cobre, zinco) agora constituem u m pro- blema. A Figura 4.13 compara a ciclagem atual do mercurio com a situa^ao que supostamente existiu antes dos seres humanos. A s atividades industrials introduziram dois fluxos novos, a minera^ao e as emissoes para a atmosfera (tracejado na Figura 4.13). Eles aumentaram a quantidade de mercurio que entra nos solos e nos rios, aumentando assim o contato potencial com OS organismos vivos. Como ocorre com tantas substancias, os microrganismos desem- penham u m papel importante. Neste caso, as formas insoluveis do mercurio sao transforma- das em mercurio metihco soluvel muito vene- noso, o qual e bastante movel. • Ciclagem de nut r ientes^ nostropicos ^ « Enundado J > / H f O padrao de ciclagem de nutrientes nos tropicos, em especial nos tropicos l imidos, e Capftulo 4 I Ciclos Biogeoquimicos 149 A t m o s f e r a 1 4 0 (40) F l u x o to ta l p a r a a a t m o s f e r a 4 0 8 ( 2 5 0 ) V a p o r / C h u v a 8 3 / 136 ( 8 3 ) / (83) T e r r a g a n h o d e 2 3 ( 1 0 0 . 0 0 0 ) R i o s M i n e r a ? a o 9 0 O c e a n o g a n h o d e 8 4 ( 4 1 5 . 0 0 0 ) 7 D e p o s i g a o / 3 5 (13) S e d i m e n t o s p e r d a d e 8 7 ( 3 . 3 0 0 . 0 0 0 . 0 0 0 ) Figura 4.13 Cicio atual do mercurio comparado com o cicio do mercurio de antes do homem. As quant ida- des indicadas em cada reservatorio (compart imento) sao medidas em unidades de 10^ g; os fluxos (setas), em 10^ g/ano. As estimativas sobre quantidades e fluxos da fase pre-humana estao colocados entre parenteses. As atividades humanas estabeleceram dois novos fluxos (mineragao e emissoes), expresses por linhas pontilhadas, bem como aumentaram o fluxo para a atmosfera em 60%, com um aumento correspondente na quantidade dissolvida na chuva (adaptada Wollast, Billen e Mackenzie, 1975). diferente, de varias maneiras importantes, do padrao da zona temperada setentrional. Nas regioes frias, uma grande parcela da materia organica e dos nutrientes disponiveis perma- nece o tempo todo no solo ou no sedimento; nos tropicos, uma porcentagem muito maior esta na biomassa, sendo reciclada dentro da estrutura organica do sistema, com o auxilio de varias adapta^oes biologicas que conservam nutrientes, inclusive simbioses mutualisticas entre microrganismos e plantas. A o remover-se esta estrutura biotica evoluida e bem organi- zada, OS nutrientes perdem-se rapidamente por l ixivia^ao sob condi^oes de altas tempe- raturas e chuvas intensas, principalmente em locals que em principio sao pobres em nutrien- tes. Por esta razao, as estrategias agricolas da zona temperada, que envolvem a monocultura de plantas anuais de vida curta, sao totalmente inapropriadas para as regioes tropicals. E urgente uma reavalia<;ao ecologica da agricul- tura tropical em particular e do gerenciamento ambiental em geral, se quisermos corrigir os erros passados e evitar desastres ecologicos no futuro. Ao mesmo tempo, a r ica diversidade de especies nos tropicos de alguma maneira tem que ser preservada. « Expflcafao A Figura 4.14 compara a distribui^ao da materia organica em uma floresta temperada e em uma tropical. Cabe salientar que, nesta compara^ao, todos os dois ecossistemas con- tem aproximadamente a mesma quantidade de carbono organico; porem, na floresta do norte, mais que a metade esta na serrapilheira e no solo, enquanto na floresta tropical mais que tres quartos estao na vegeta^ao. A compara^ao entre as florestas temperadas e tropicals continua no Quadro 4.3. Cerca de 58% do nitrogenio total esta na biomassa de uma floresta tropical - 44% estando acima do solo - em compara^ao com os 6% e 3%, respectivamente, em uma floresta de pinheiros na Gra-Bretanha. Ao se remover uma floresta na zona tem- perada, o solo retem os nutrientes e sua estru- tura e pode ser lavrado durante muitos anos da maneira "convencional", o que significa arar uma ou mais vezes por ano, plantar especies anuais e aplicar fertilizantes inorganicos. Durante o inverno, as temperaturas abaixo de zero ajudam a segurar os nutrientes e a controlar as pragas e OS parasitos. Nos tropicos umidos, porem, a retirada da floresta remove a capacidade da 150 Ecologia Dis t r i bu igao d o c a r b o n o o r g a n i c o ( C 2 5 0 t /ha) ^ F o l h a s ( h o r i z o n t e A J F l o r e s t a t e m p e r a d a d e c o n f f e r a s F l o r e s t a t rop i ca l umidei Figura 4.14 Distribuigao de carbono organico acumulado nos compart imentos abioticos (solo, serrapilheira) e bioticos (madeira, folhas) de ecossistemas florestais setentrional e tropical. Uma porcentagem bem maior da materia organica total esta na biomassa da floresta tropical (adaptada de u m trabaiho de Kira e Shidei, 1967). terra de segurar e reciclar os nutrientes (e de combater as pragas), na presen^a de tempera- turas altas durante o ano todo e de periodos de chuvas lixiviantes. E muito frequente que a pro- dutividade das culturas diminua rapidamente e a terra seja abandonada, criando o padrao da "agricultura itinerante", sobre a qual tanto ja foi escrito. A ciclagem de nutrientes, em especial, e o controle da comunidade, em geral, entao, ten- dem a ser mais fisicos no norte e mais biologicos no sul. Esta breve rela^ao e, evidentemente, uma simplifica^ao de situa^oes complexas, mas este contraste fundamenta o que atualmente parece ser a razao ecologica basica por que localidades subtropicais ou tropicals, que sustentam flores- tas ou outras formas de vegeta^ao vi(;osas e alta- mente produtivas, produzem tao pouco sob u m metodo setentrional de manejo agricola. Jordan e Herrera (1981) assinalaram que o grau em que as florestas tropicals "investem", por assim dizer, em mecanismos de reciclagem conservadores de nutrientes depende da geo- logia e da fertilidade basica do local. Grandes areas de florestas tropicals, como ocorrem na maior parte da Bacia Amazonica oriental e central, situam-se em solos antigos pre-cam- brianos, altamente lixiviados, ou sobre deposi- tos arenosos pobres em nutrientes. Estes locals oligotroficos sustentam florestas tao vi^osas e produtivas como aquelas dos locals mais eutro- ficos (/. e., ferteis) das montanhas de Porto Rico, Costa Rica e dos contrafortes dos Andes. A s flo- Quadro 4.3 Distribuigao de nitrogenio, em g/m^ em ecossistemas florestais temperado e tropical.* Floresta de pinheiros com 55 anos na Gra-Bretanlia Floresta tropical de galeria Folhas 12,4 52,6 Madei ra ac ima d o s o l o t 18,5 41,2 Raizes 18,4 28,2 Serrapi lheira 40,9 3,9 Solo 730,8 85,3 % N ac ima d o solo 3,0 44,0 % N na biomassa 6,0 57,8 Indice rai'zes/partes aereas+ 0,60 0,30 Indice fo lhas /made i ra 0,34 , 0,76 *Segundo Ovington, 1962. "Nao inclui folhas. "Inclui folhas. Capitulo 4 I Ciclos Biogeoquimicos 151 restas tropicals limidas em locals oligotroficos sao ecologicamente semelhantes aos luxuriantes recifes coralinos nas aguas pobres em nutrientes do Pacifico central (veja Capitulo 1). A chave do sucesso dos dois tipos de ecossistema e a com- plexa simbiose entre autotrofos e heterotrofos, envolvendo microrganismos intermediarios especiais. Entre os mecanismos que sao particular- mente bem desenvolvidos nos ecossistemas de floresta pluvial em locals oligotroficos, Jordan e Herrera listam os seguintes: • Emaranhados de raizes, que consistem em muitas raizes finas absorventes, penetrando na serrapilheira superficial, recuperam rapidamente os nutrientes das folhas caidas e da chuva antes que possam ser lixiviados. Estes emaranhados de raizes aparentemente inibem, tambem, as ativi- dades das bacterias desnitrificantes, dessa forma impedindo a perda de nitrogenio para o ar • Micorrizas (veja Capitulo 3) associa- das a sistemas radiculares agem aprisio- nando nutrientes, facilitando em muito a recupera^ao de nutrientes e a sua reten- ^ao dentro da biomassa. (Essa simbiose para beneficio mutuo ocorre largamente em locals oligotroficos da zona tempe- rada, tambem) • Folhas perenes com cuticula grossa e cerosa retardam a perda de agua e de nutrientes pelas arvores e tambem resis- tem a herbivoros e parasitos • Pontas foliares longas e pontudas drenam a agua da chuva, reduzindo desse modo a lixivia(;ao dos nutrientes foliares • As algas e os liquens que cobrem a super- ficie de muitas folhas utilizam nutrientes da chuva, alguns dos quais se tornam ime- diatamente disponiveis para a absor^ao pelas folhas; os liquens tambem podem fixar o nitrogenio • A corti^a grossa inibe a difusao de nutrien- tes do floema para a superficie e a sua perda subsequente por fluxo caulinar (/. e., pela chuva escoando pelos troncos). E m resumo, o ecossistema tropical pobre em nutrientes e capaz de manter uma alta produ- tividade sob condi<;6es naturals por meio de uma variedade de mecanismos conservado- res de nutrientes que, nas palavras de Went e Stark (1968), produzem uma "ciclagem direta" de planta em planta, mais ou menos sem pas- sar pelo solo. Sendo tais florestas derrubadas para a agricultura ou para o reflorestamento comercial, estes mecanismos sao destruidos, e a produtividade diminui muito rapidamente, da mesma maneira que as colheitas. Quando o local e abandonado, a floresta recupera-se len- tamente, se tanto. E m contraste, as florestas em locals eutroficos apresentam maior elasticidade. O cultivo itinerante nestes locals pode nao ser uma ma ideia, afinal. O desenvolvimento e o ensaio de plantas agricolas que apresentem sistemas radiculares com micorrizas bem desenvolvidas e capazes de fixarem o nitrogenio, alem de uma utiliza- 9ao maior de plantas perenes, sao objetivos ecologicamente sensatos para locals de clima subtropical (como o sudeste dos E U A ) e tro- pical. A rizicultura inundada e bem-sucedida nos tropicos por causa das caracteristicas espe- ciais aprisionadoras de nutrientes desse antigo tipo de agricultura. Os arrozais sao cultivados no mesmo local ja ha mais de 1.000 anos nas Filipinas (Sears, 1957), u m sucesso rivalizado por poucos sistemas agricolas atualmente em uso. Estes terra^os de rizicultura entremeiam-se com manchas de florestas que originalmente eram preservadas por tabus religiosos. Para evitar o que Hutchinson (1967a) chamou de "o conserto rapido tecnologico com u m coice eco- logico", deve-se primeiro descobrir se a mistura de floresta e arrozais tem alguma rela^ao com a longevidade do sistema produtor de alimen- tos antes de nos apressarmos a recomendar que as florestas sejam destruidas para que se cultive mais arroz. Disto nao ha diivida: a agrotecnologia indus- trializada da zona temperada nao pode ser trans- ferida sem modificagoes para as regioes tropicais. • Vias de reciclagem Indice de reciclagem " Enundado E instrutivo rever o assunto da biogeoqui- mica em termos de vias de reciclagem, pois a reciclagem da agua e dos nutrientes e u m pro- cesso vital dos ecossistemas e esta se tornando uma preocupa^ao importante para a huma-
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