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Autores: Profa. Divane Alves da Silva Prof. Alexandre Saramelli Colaborador: Prof. Maurício Felippe Manzalli Contabilidade Empresarial Professores conteudistas: Divane Alves da Silva / Alexandre Saramelli Prof. Me. Alexandre Saramelli Nascido na cidade de São Paulo, é contador formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo e mestre profissional em Controladoria pela mesma universidade. Atuou em empresas nacionais e internacionais de médio e grande porte como contador em áreas de custos e orçamentos, além de consultor em sistemas de controladoria da desenvolvedora alemã SAP. Atualmente, é professor adjunto na Universidade Paulista, onde é coordenador do curso Tecnológico de Gestão em Finanças na UNIP Interativa, além de consultor empresarial. Como entusiasta de tecnologia da informação e ambientes altamente informatizados, é um incentivador da pesquisa, difusão e uso eficiente e intensivo das modernas ferramentas de gestão, “transferência de conhecimento” e ensino a distância por telecomunicações. Profa. Ma. Divane Alves da Silva É mestre em Contabilidade pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (1998), especialista em Controladoria e Contabilidade Gerencial pela Faculdade Santana São Paulo (1992), especialista em Didática do Ensino Superior pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (1996) e especialista em Ensino a Distância – EaD (em curso, 2011). Graduada em Ciências Contábeis pela Faculdade de Administração e Ciências Contábeis Tibiriçá (1990) e em Filosofia – bacharelado e licenciatura – pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2009). Funções empresariais na área técnica: controller, contadora, auditora e consultora; na área acadêmica: atualmente coordenadora de curso de Ciências Contábeis nas modalidades presencial e a distância na Universidade Paulista – UNIP, professora de pós-graduação lato sensu em Instituições de Ensino Superior (IES): Universidade Presbiteriana Mackenzie, Universidade Paulista (UNIP), Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU) e em diversos cursos e disciplinas correlatas à formação. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) S243c Saramelli, Alexandre Contabilidade empresarial / Alexandre Saramelli; Divane Alves da Silva. – São Paulo, 2012. 112 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XVII, n. 2-040/12, ISSN 1517-9230 1. Contabilidade. 2. Contabilidade Empresarial. 3. Finanças I. Título. CDU 657 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Janandréa do Espírito Santo Sumário Contabilidade Empresarial APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8 Unidade I 1 ESTIMATIVA PARA CRÉDITO DE LIQUIDAÇÃO DUVIDOSA (ECLD) ................................................ 13 1.1 Introduzindo o assunto ...................................................................................................................... 13 1.2 Conceituação ......................................................................................................................................... 14 1.3 A influência da perda sobre o lucro .............................................................................................. 17 1.3.1 Exemplo de cálculo ................................................................................................................................ 21 2 ESTIMATIVAS ..................................................................................................................................................... 22 2.1 Constituição de estimativa ............................................................................................................... 22 2.1.1 Exemplo de cálculo ................................................................................................................................ 22 2.2 Utilização ................................................................................................................................................. 24 2.2.1 Exemplo de cálculo ................................................................................................................................ 24 2.3 Reversão ................................................................................................................................................... 26 2.4 Complementação ................................................................................................................................. 27 2.4.1 Exemplo de cálculo ............................................................................................................................... 28 3 BAIXA DE CRÉDITOS NÃO LIQUIDADOS NAS EMPRESAS ................................................................ 29 3.1 Créditos que podem ser baixados como perdas ...................................................................... 30 3.1.1 Sem garantia de valor ........................................................................................................................... 30 3.1.2 Com garantia de valor .......................................................................................................................... 31 3.1.3 Contra devedor declarado falido ...................................................................................................... 31 3.1.4 Exemplo de cálculo ................................................................................................................................ 32 4 OPERAÇÕES FINANCEIRAS .......................................................................................................................... 34 4.1 Duplicatas ................................................................................................................................................ 34 4.1.1 Cobrança simples .................................................................................................................................... 35 4.1.2 Exemplo de cálculo ................................................................................................................................ 36 4.1.3 Exercício nº 1 ............................................................................................................................................ 38 4.1.4 Exercício nº 2 ............................................................................................................................................ 39 4.2 Desconto de duplicatas......................................................................................................................41 4.2.1 Tratamento contábil .............................................................................................................................. 42 4.2.2 Exemplo de cálculo ................................................................................................................................ 42 4.2.3 Exercício resolvido .................................................................................................................................. 48 4.3 CPC 12 – Ajuste a Valor Presente .................................................................................................. 50 Unidade II 5 EMPRÉSTIMOS/FINANCIAMENTOS – OPERAÇÕES PREFIXADAS ................................................. 57 5.1 Empréstimos e financiamentos ...................................................................................................... 57 5.2 Empréstimos/financiamentos – operação prefixada ............................................................. 58 5.2.1 Exemplo de cálculo ................................................................................................................................ 59 5.2.2 Exercício resolvido .................................................................................................................................. 63 6 EMPRÉSTIMOS/FINANCIAMENTOS – OPERAÇÕES PÓS-FIXADAS ................................................ 67 6.1 Diferenças entre os principais indicadores econômicos ....................................................... 67 6.1.1 IPC-Fipe ....................................................................................................................................................... 67 6.1.2 IPCA ............................................................................................................................................................. 67 6.1.3 IGP ................................................................................................................................................................. 68 6.1.4 INPC ............................................................................................................................................................ 68 6.1.5 ICV ................................................................................................................................................................ 68 6.1.6 Exemplo de cálculo ................................................................................................................................ 69 6.1.7 Exercício resolvido .................................................................................................................................. 72 7 APLICAÇÕES FINANCEIRAS – OPERAÇÕES PREFIXADAS ................................................................. 76 7.1 Operações prefixadas .......................................................................................................................... 77 7.1.1 Exemplo de cálculo ................................................................................................................................ 77 7.1.2 Exercício resolvido .................................................................................................................................. 82 8 APLICAÇÕES FINANCEIRAS – OPERAÇÕES PÓS-FIXADAS .............................................................. 90 8.1 Operações pós-fixadas ....................................................................................................................... 90 8.1.1 Exemplo de cálculo ................................................................................................................................ 91 8.1.2 Exercício resolvido ................................................................................................................................. 94 7 APRESENTAÇÃO Expõe-se a seguir os objetivos da disciplina, que são as expectativas da Universidade Paulista e dos coordenadores pedagógicos quanto ao que o professor deve proporcionar aos alunos. De acordo com o Plano Pedagógico do Curso de Ciências Contábeis da Universidade Paulista – UNIP, a intenção da disciplina Contabilidade Empresarial é: A disciplina de Contabilidade Empresarial foca os estudos em problemas contábeis específicos das atividades empresariais, como os Devedores Duvidosos e Devedores Insolváveis, para isso utilizando a conta de Perdas Esperadas com Créditos de Liquidação Duvidosa, seu cálculo e tratamento contábil. Além disso, a disciplina trata das Operações Financeiras comumente realizadas pelas empresas, tais como, Desconto de Duplicatas, Aplicações Financeiras e Financiamentos de curto e longo prazo, com taxas pré e pós- fixadas e em moeda estrangeira, identificando e contabilizando os efeitos financeiros no patrimônio e seu resultado. (UNIP, 2012). Para esse objetivo, formaram-se os seguintes objetivos gerais: • Reunir conhecimentos teóricos e práticos para utilização e aplicação da contabilidade de modo a gerar informações com a qualidade necessária para atingir os requisitos dos diversos usuários. • Enfatizar a consciência ética e a responsabilidade social da contabilidade. • Conceituar, classificar e contabilizar problemas contábeis diversos desenvolvidos nas organizações. • Introduzir o conhecimento dos principais aspectos do Balanço Patrimonial e da Demonstração de Resultados do Exercício. Na elaboração deste livro-texto, também se seguiu as orientações da Organização das Nações Unidas (ONU), Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD); do Conselho Federal de Contabilidade e da Fundação Brasileira de Contabilidade (proposta nacional de conteúdo para os cursos de graduação em Ciências Contábeis), do Ministério da Educação (Resolução CNE/CES 10/2004 e Parecer CNE/CES 269/2004) e, evidentemente, das boas práticas no ensino a distância e nossa experiência com interação entre alunos e professores. Sendo assim, mais do que simplesmente proporcionar uma introdução às práticas específicas e às novidades das normas contábeis internacionais, é necessário um estudo muito mais amplo, proporcionando a você, aluno(a), condições para estudar e aplicar teorias contábeis no trabalho cotidiano. Nos próximos anos, você, aluno(a), já estará acostumado(a) com hábitos e procedimentos enraizados nos ambientes de trabalho e que já vem desenvolvendo no próprio ambiente universitário. Isso torna o estudo da contabilidade mais difícil do que poderia ser porque não se trata apenas de conhecer técnicas, 8 mas de estar preparado para quebrar hábitos. Sabe-se que muitos contadores estranharam a proposta que as normas internacionais trazem e não são muito receptivos a mudanças. Então, certamente, você lidará com esses hábitos e sentimentos presentes nos contadores com quem estará trabalhando e atuará não apenas como um aprendiz, limitando-se a receber informações. Sabemos que você atuará como um agente de mudança, atualizando os contadores que já não estão mais nos bancos escolares. Para atingir a todos esses objetivos, os professores autores deste livro-texto escolheram expor as novas teorias de forma ampla, tratando as novidades não como algo novo, mas algo que já faz parte da nossa realidade profissional. INTRODUÇÃO Olá, aluno! É com alegria que introduzimos a disciplina Contabilidade Empresarial, uma disciplina na qual se estuda problemas específicos da atividade empresarial e como o contador deve tratar esses problemas. Após meses de estudo da contabilidade básica, com esta disciplina você passa a ser preparado para lidar com os problemas que ocorrem com maior frequência na maioria das empresas, ou seja, aqui você formará habilidades para não apenas conhecer as consequências das decisões dos gestores, mas como agir na contabilidade para bem tratar e relatar esses problemas. Umcomportamento muito comum entre estudantes de ciências contábeis é mostrar uma ansiedade muito grande em “como fazer”, ou seja, como fazer lançamentos contábeis, como “consertar” uma situação, como fazer as coisas certas. Recomendamos a você, aluno (a), que controle sua ansiedade no “como fazer”, motivando-se a analisar as questões do “por que fazer”. Sabendo por que os problemas são gerados (o que nesta disciplina inclui conhecer muito bem as normas internacionais de contabilidade), você certamente estará mais bem preparado para agir. O livro-texto traz os seguintes assuntos: • Na Unidade I: Estimativa para Crédito de Liquidação Duvidosa – ECLD e operações financeiras. • Na Unidade II: Empréstimos/Financiamento e Aplicações Financeiras. Na Unidade I, estudaremos a Estimativa para Crédito de Liquidação Duvidosa, que lida com o conhecido problema da inadimplência empresarial. É necessário que o contador, ao lado dos aspectos puramente técnicos da profissão, também conheça a operação da empresa em que está trabalhando ou prestando serviço para que bem possa constituir a ECLD. Outro assunto contemplado na Unidade I são as operações financeiras na forma de cobrança de duplicatas, por cobrança simples ou por desconto. Trata-se de uma operação que, se não for bem planejada e conduzida, “drena” os lucros da empresa para os agentes financeiros. O contador é um profissional que tem grande responsabilidade em orientar, acompanhar e alertar a administração da empresa quanto ao bom uso (ou não) das duplicatas como operações financeiras. 9 Para a Unidade II – Empréstimos/Financiamentos e Aplicações Financeiras – estudaremos os cálculos, registros e suas consequências sobre o resultado do período, considerando-se os encargos financeiros oriundos das operações de empréstimos/financiamentos e os rendimentos decorrentes das aplicações financeiras. Basicamente, o que estaremos estudando nesta disciplina diz respeito a vários problemas que as empresas enfrentam em suas operações reais. Estudá-los será, então, fundamental para o sucesso de nossas carreiras como contadores! Desejamos a você, aluno(a), bom estudo! Sempre à disposição! Professor Mestre Alexandre Saramelli. Professora Mestra Divane A. Silva. Sugestão de estudo Cada um de nós têm nossas individualidades e manias. Há pessoas que conseguem absorver bem o assunto a partir de uma simples leitura, mas não gostam de fazer exercícios. Outros não têm muita paciência para ler, preferem fazer vários exercícios. Há os alunos que preferem um livro colorido, preenchido com gráficos e elementos visuais e resumos. Sabe-se, ainda, que há alunos que não gostam de teorias acadêmicas, dão preferência a livros que mostrem exemplos práticos, que retratem a prática empresarial. Então, quando este livro foi elaborado, pensou-se em trazer uma mescla de estratégias de ensino para que o livro torne-se interessante. Mas isso também não significa que o livro será agradável em todos os sentidos. Por exemplo, para quem não gosta de estudar normas e regulamentos, eles estão aqui! E não são poucos! Estudar não significa fazer apenas o que nós gostamos, mas também ter contato com coisas que (a priori) não gostamos lá muito, mas que no futuro vamos nos lembrar disso e dizer com orgulho e satisfação: “Ainda bem que eu estudei esse assunto! Outros não estudaram... e não estão no mesmo lugar que eu estou!” Por maior que seja o esforço de um professor em tornar um livro mais agradável, classificar um conteúdo chato ou um conteúdo muito gostoso depende também de sua postura como aluno(a). Por isso, a recomendação é: aproveite o livro-texto com olhos interessados. É claro que você é livre para estudar da maneira que achar melhor, que acredita ser mais eficiente. Mas, nesse sentido, sugerem-se alguns passos. Antes de qualquer atitude, comece o seu estudo pela bibliografia! Verifique livros, artigos e referências que foram utilizados na elaboração deste livro-texto. Depois, percorra as unidades perguntado-se: “Por que os professores querem que eu estude isto? Ou por que os professores escolheram tal conteúdo?” A análise da bibliografia estudada lhe ajudará a responder essas dúvidas! 10 Observação Interaja sempre com os tutores, os seus colegas e com o professor nos fóruns. Contribua com pesquisas, curiosidades e observações. No momento em que, por exemplo, você leva uma pergunta aos professores – o que por si só já é uma forma muito eficaz de estudar – você está contribuindo também para que seus colegas observem pontos de vista que talvez não tenham se atentado. Conversar e tornar “vivo” os conceitos faz com que o conteúdo deste livro-texto se expanda, melhorando o processo de aprendizagem. É muito importante comentar que o livro-texto não esgota todas as possibilidades de estudo. Ao contrário, o livro-texto é um dos instrumentos de estudo e não deve ser visto jamais como fonte única. Em cada uma das unidades, leia sempre os resumos, faça as atividades propostas nas áreas de “Saiba Mais”. E ao final de cada unidade, faça os exercícios e as tarefas propostas. O fundamental é ativar a sua curiosidade pelo tema. Ao final de cada unidade, estuda-se o jargão específico da área, discutindo-se o significado de termos. Isso é importante para que você não se limite a conhecer o sentido literal das palavras na língua portuguesa, mas o que a palavra (ou frase) significa no contexto estudado. Em especial, há muitos termos novos que foram introduzidos com a harmonização internacional. Procure entender esses termos. Há também uma preocupação com que você não apenas absorva o conteúdo, mas que saiba conversar, explicar esse conteúdo a outros profissionais. Nesse sentido, criou-se a atividade “E se me perguntassem?” na qual será realizada uma pergunta. Tente desenvolver uma resposta a essa pergunta. A intenção é que ao final do seu estudo você se sinta confiante, mas insatisfeito. Exatamente, insatisfeito! Uma aula nunca acaba, assim, é saudável que ao final do estudo você substitua dúvidas simples por dúvidas mais... sofisticadas! Conforme comentado na sugestão de estudo, este livro-texto não deve ser visto como fonte única de estudos. Assim, consulte os livros que constam da bibliografia básica da disciplina. Esquentando os motores Marcelo Gusmão devora um apetitoso pacote de salgadinhos e toma um refrigerante gelado enquanto espera pacientemente o seu voo no frio e movimentado saguão do aeroporto John F. Kennedy. Rejeitava controlar o colesterol e não tinha medo de pegar uma pneumonia. O ano é 2009, é inverno, e o seu avião atrasou por motivos que não se interessava em saber. O fato é que Gusmão precisaria esperar muitas horas pelo voo. Com certeza, não iria viajar naquela noite. Mas não estava disposto a ir a um hotel e descansar. A última coisa que queria era dormir. 11 Estava particularmente furioso e, nessas horas, preferia sentar-se e ver o movimento das pessoas caminhando. Apesar de estar ansioso para voltar para casa e rever sua mulher, Gusmão não estava particularmente furioso por conta do atraso do avião. Ao contrário, de certa forma, ainda bem que esse avião havia atrasado. Como diretor de vendas de uma grande indústria alemã, foi obrigado a viajar para Nova Iorque poucos dias após voltar de sua lua de mel, onde teve a oportunidade rara de conhecer os paradisíacos Lençóis Maranhenses. A empresa que representava, localizada em um modesto edifício em São Paulo e com sede em Hannover, produzia lentes para câmeras fotográficas e era uma das melhores marcas desse mercado. Após muitos anos de trabalho, conseguiu finalmente conquistar a conta de uma grande loja de distribuição, que está fazendo muito sucesso na internet com as chamadas vendas on-line. Como se trata de uma organização multinacional, Gusmão teve o cuidado de visitar o presidente dessaempresa em Nova Iorque. Após todos os acertos realizados e um caloroso aperto de mãos, recebeu um telefonema de Hannover, dizendo que teria que abortar toda a operação! O diretor financeiro internacional havia analisado as contas desse potencial cliente (o que não havia encontrado tempo para fazer nos últimos seis anos) e julgou que seria um provável mau pagador, que serviria apenas para aumentar as taxas de inadimplência! Cliente rejeitado! Esse fato levou o humor de Gusmão para o subsolo. Melhor ver o movimento das pessoas, para se acalmar. Acabou o pacote de salgadinhos. Mas não iria comprar o oitavo saco. Muito menos iria comprar a décima quarta latinha de refrigerante. Queria apenas olhar o movimento das pessoas, até que o chamem para voltar para casa. Nova Iorque não o recebeu bem! Pergunta-se: O diretor financeiro está correto ao rejeitar o negócio proposto por Marcelo Gusmão? Algo poderia ter sido feito para evitar essa situação? O caso acima é fictício e foi redigido pelo Prof. Me. Alexandre Saramelli exclusivamente para uso universitário. Qualquer semelhança com fatos e/ou pessoas reais terá sido mera coincidência. 13 Re vi sã o: J an an dr ea - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 4/ 05 /1 2 CONTABILIDADE EMPRESARIAL Unidade I 1 ESTIMATIVA PARA CRÉDITO DE LIQUIDAÇÃO DUVIDOSA (ECLD) 1.1 Introduzindo o assunto Estudaremos, na Unidade I, a Estimativa para Crédito de Liquidação Duvidosa (ECLD) que, no passado, antes da introdução das normas internacionais no Brasil, era conhecida como Provisão para Devedores Duvidosos (PDD). Essa expectativa é necessária porque se sabe (pelo menos é o que se observa nos hábitos de consumo) que nem todos os devedores honram seus compromissos nas vendas a prazo. Sendo assim, as contas a receber devem ser avaliadas por seu valor líquido de realização, ou seja, pelo produto final em dinheiro ou equivalente que se espera obter. A empresa, para estimar o valor de perda provável na realização de suas “contas a receber”, “duplicatas a receber” ou “clientes” considera, por exemplo, aspectos peculiares de sua clientela, a conjuntura econômica do momento em que se está estimando o risco e o ramo de negócios em que atua, entre outras variáveis. Há que se adotar um mecanismo de cálculo para a estimativa que melhor reflita o que realmente pode vir a ocorrer em termos de perdas no recebimento, considerando a experiência anterior da empresa com relação a prejuízos no recebimento de seus créditos. O critério adotado pode ser, portanto, diferente para cada empresa. Lembrete O critério adotado deve ser diferente para cada empresa e formado a partir de julgamento profissional do profissional da contabilidade. Ainda sobre a ECLD, é relevante informar que o esperado por toda e qualquer empresa que efetua vendas a prazo é o recebimento total de suas vendas. Assim, serão necessários ajustes contábeis a fim de suprir uma provisão não utilizada. Outro assunto contemplado na Unidade I está relacionado com operações financeiras. A abordagem está na forma de cobrança de duplicatas, por cobrança simples ou por desconto. Tanto uma quanto a outra mostram a forma de contabilização como gastos oriundos de tais operações, considerando, inclusive, os possíveis efeitos na escolha de uma ou de outra maneira de cobrança – embora o desconto de duplicatas seja visto por muitos autores e/ou profissionais de finanças como um tipo de “empréstimo bancário”. 14 Unidade I Re vi sã o: J an an dr ea - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 4/ 05 /1 2 Observação O fato de muitos autores e/ou profissionais de finanças observarem o desconto de duplicatas como um exercício de “empréstimo bancário” nos remete aos conceitos de “Valor Justo” ou “Fair Value” introduzidos pelas normas internacionais de contabilidade. Após esse estudo, a intenção é que seja possível formar uma opinião sobre os principais problemas que envolvem as operações de vendas a prazo. Fundamentalmente, os executivos, na ânsia para conquistar clientes e cumprir metas, tendem a expor as empresas a um menor risco. Certamente, como contador (talvez, controller, o contador gerencial), você será convidado a opinar sobre se a empresa deve ou não realizar determinado negócio. Sua voz então será recebida como a de um profissional preparado para diminuir riscos. Está preparado(a)? Bom (e entusiasmado) estudo! 1.2 Conceituação A ECLD (Estimativa para Créditos de Liquidação Duvidosa) é um termo novo, que surge com as novidades das normas internacionais de contabilidade. Denominava-se PCLD (Provisão para Crédito de Liquidação Duvidosa) e anteriormente (termo que foi conhecido por muito tempo) PDD (Provisão para Devedores Duvidosos). Da mesma forma como muitos autores e profissionais continuam a usar o termo “Lucros e Perdas” para designar a “Demonstração do Resultado do Exercício”, o termo PDD certamente continuará a ser usado por um bom tempo. Você deve entender que se trata do procedimento de ECLD. Ela é uma estimativa de perdas que as empresas fazem sobre os valores a receber provenientes de vendas a prazo de mercadorias, produtos ou serviços. No sistema econômico atual, normalmente os clientes possuem pouca poupança ou sobra de dinheiro. Sendo assim, tendem a não comprar à vista bens e serviços, principalmente se forem caros. As empresas, então, veem-se obrigadas a oferecer uma venda a prazo, parcelada, que possibilita a esses clientes comprarem o bem que desejam. É o que se diz: “O sujeito pode não ter dinheiro para comprar um carro de luxo, mas se esse mesmo carro for parcelado em leves e suaves prestações, ele se aventurará a comprar esse carro”. Não raramente, os clientes que se aventuraram a comprar bens e serviços parcelados podem vir a enfrentar dificuldades financeiras que os impeçam temporária ou definitivamente de pagar suas dívidas (isso sem contar que, infelizmente, há pessoas que por má vontade deixam de pagar suas dívidas). As empresas sabem que estão sujeitas a esse risco e, por isso, constituem estimativas de acordo com sua experiência no mercado. 15 Re vi sã o: J an an dr ea - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 4/ 05 /1 2 CONTABILIDADE EMPRESARIAL Saiba mais O jornalista brasileiro Joelmir Beting é muito famoso por criar frases interessantes para expor problemas econômicos. Uma dessas frases é: “Quem não deve, não tem.” Você pode conhecer outras frases no seguinte endereço: <http://www.joelmirbeting.com.br/>. A estimativa de perdas sobre as operações dos valores a receber de suas vendas a prazo busca informar a empresa, que talvez (ou muito provavelmente) alguns dos seus clientes não honrarão com o compromisso assumido, ou seja, não quitarão suas dívidas. Em outras palavras, do total de vendas a prazo de mercadorias a diversos clientes que soma R$ 9.500,00, talvez a empresa só receba R$ 8.900,00, gerando, portanto, uma perda de R$ 600,00. Devemos entender, portanto, que a empresa poderá contar com uma entrada de numerários somente de R$ 8.900,00. Logo, seus investimentos, que dependiam de R$ 9.500,00 (total das vendas a prazo), deverão ser reformulados, uma vez que agora terá um valor disponível menor. A elaboração das demonstrações contábeis anuais (e aqui vale lembrar que a legislação contábil, Lei nº 6.404/76, foi alterada pelas Leis nº 11.938/07 e nº 11.941/09) determina que, ao final de cada exercício social, devem se encerrar as demonstrações financeiras, ou seja, ao final de doze meses consecutivos, as empresas devem encerrar suas despesas e receitas a fim de apurar o seu resultado: lucro ou prejuízo. Porém, não há impedimento legal para que as empresas, a qualquer momento, venham a conhecer o resultadode suas operações, podendo ser mensal, trimestral ou até mesmo semestral e, assim, torna-se imprescindível a elaboração de tais demonstrações. O pronunciamento CPC 23 (Políticas Contábeis, Mudança de Estimativa e Retificação de Erro) comenta que existem várias situações que podem gerar a necessidade de reconhecer uma estimativa nas demonstrações contábeis de uma empresa: a obsolescência dos estoques, obrigações decorrentes de garantias, vida útil dos ativos depreciáveis ou sua expectativa de futuros benefícios incorporados, valor justo de ativos e/ou passivos e, justamente, os créditos de liquidação duvidosa. Para o nosso estudo, partiremos das demonstrações anuais para cálculo e registro contábil da estimativa de perdas, devendo ressaltar que tal estimativa refere-se às vendas já efetuadas, mas a serem recebidas (ou pelo menos essa é a expectativa da empresa que efetuou as vendas a prazo) no exercício seguinte. Por tratar-se de uma provisão ou estimativa, a perda deverá ser apurada pela empresa que procedeu as vendas a prazo a partir de um percentual sobre os direitos existentes na época do levantamento do balanço. 16 Unidade I Re vi sã o: J an an dr ea - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 4/ 05 /1 2 Lembrete Não é possível saber de antemão quais os devedores que não pagarão suas obrigações. Sendo assim, toda e qualquer estimativa tem um efeito preventivo e é sempre formado com alguma margem de erro. As contas que devem servir de base para o cálculo dessa estimativa são as que registram direitos provenientes de vendas a prazo de mercadorias, produtos ou de serviços. Essas contas são normalmente denominadas “duplicatas a receber” ou “clientes”. Você deve estar se perguntando: “Mas de quanto será o percentual a ser aplicado para o cálculo dessa estimativa?” Não haverá uma resposta pronta, entende-se que cada empresa deverá formar seu percentual por meio de estudos realizados sobre as inadimplências sofridas pela empresa. Observação Uma concessionária de veículos, normalmente, terá uma inadimplência muito maior do que um feirante, que vende praticamente tudo a vista. No entanto, isso pode não ser verdade. É necessário apurar com muito critério qual o comportamento dos clientes do negócio em específico. Divane Alves da Silva Nagatsuka e Egberto Lucena Teles apontam que: o montante da provisão é estabelecido, normalmente, com fundamento na experiência acumulada pela empresa em suas vendas a prazo (estatísticas de não recebimento) e análise de tendências no mercado (inadimplência no setor econômico). O ideal talvez fosse analisar duplicata por duplicata, ou seja, cliente a cliente, e aí efetuar a provisão, mas sabemos que nem sempre isso é possível, por isso, a sistemática mais utilizada é o estabelecimento de uma média estatística de inadimplência dos últimos três ou cinco anos (NAGATSUKA; TELES, 2002, p. 125). É sempre muito indicado que o contador tenha um ótimo relacionamento interpessoal com os executivos de outras áreas da empresa. Por exemplo, uma consulta ao diretor de vendas e aos vendedores em geral pode ajudar e muito no estabelecimento de uma estimativa mais exata. Esse relacionamento também pode ser favorecido se a empresa dispor de modernas ferramentas de tecnologia da informação, pelas quais os clientes podem ser estudados tendo como base 17 Re vi sã o: J an an dr ea - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 4/ 05 /1 2 CONTABILIDADE EMPRESARIAL um banco dados de um sistema CRM (Customer relationship management – Administração de relacionamento com o cliente), por exemplo. 1.3 A influência da perda sobre o lucro Antes de apresentar um exemplo sobre como se apurar um percentual que será utilizado para estimar uma possível perda com valores a receber sobre vendas a prazo, é importante fazer uma pausa para refletir (e/ou entender) sobre a influência da perda sobre o resultado (lucro ou prejuízo) a ser apurado no período. Menciona-se até o momento a palavra “perda” e não “despesa”. Aqui já vale uma explicação sobre o uso do termo e sua implicância na formação do resultado do período, bem como a tributação. Seguem as definições apontadas por diversos autores e segregadas por Eliseu Martins, Ernesto Rubens Gelbcke e Sérgio de Iudícibus de forma simples e objetiva. • Despesas: são os gastos necessários para vender e enviar os produtos. De modo geral, são os gastos ligados às áreas administrativas e comerciais. O custo dos produtos, quando vendidos, transforma-se em despesas. • Perdas: são fatos ocorridos em situações excepcionais que fogem à normalidade das operações da empresa. São eventos econômicos negativos ao patrimônio empresarial, não habituais, tais como deterioração anormal de ativos, perdas de créditos excepcionais, capacidade ociosa anormal etc. (MARTINS; GELBCKE; IUDÍCIBUS, 2003, p. 24-26). Assim, pode-se entender que as despesas são inevitáveis para quaisquer atividades empresariais, enquanto as perdas, de alguma maneira, poderiam ser evitadas. E ainda, tanto as despesas quanto as perdas, pela sua própria natureza, reduzem o resultado do período, ou seja, são registradas como contas dedutivas do resultado na Demonstração de Resultado do Exercício (DRE). Porém, deve-se, desde já, entender que nem todas as despesas e/ou perdas são aceitas pelo Regulamento do Imposto de Renda (RIR) 3.000/99 para formação da base de cálculo dos tributos sobre o resultado apurado na DRE. Lembrete Conforme determina o Código Tributário Nacional, os tributos são compostos por impostos, taxas e contribuições de melhoria. Os tributos devidos pelas empresas sobre o seu resultado são: o imposto de renda pessoa jurídica e a contribuição social sobre o lucro líquido. Você deve estar confuso e se perguntando: “Então temos dois resultados: um apurado na DRE e outro que deve ser apurado para cálculo dos tributos?” 18 Unidade I Re vi sã o: J an an dr ea - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 4/ 05 /1 2 A resposta é sim, ou seja, temos o resultado1 contábil apurado na DRE e o resultado fiscal,2 que será base para apurar os tributos. Pode-se, nesse momento, mencionar que temos despesas dedutíveis e indedutíveis. Em outras palavras, as dedutíveis são as aceitas para formar a base de cálculo dos tributos; as indedutíveis são aquelas que contabilmente são registradas na DRE e fiscalmente não são levadas em consideração. Nessa classificação, encontram-se as perdas vindas da provisão para liquidação duvidosa. Agora, acredito (e espero) que você consiga compreender que a estimativa de perda sobre valores a receber provenientes de vendas a prazo para fins fiscais não serão dedutíveis,3 ou seja, mesmo registrado o valor na DRE, teremos uma redução do resultado contábil, mas não do resultado fiscal. Você terá razão em pensar que, além da empresa ter a possibilidade de não receber toda a venda efetuada a prazo, ainda não poderá registrar tal situação para reduzir a base de sua tributação. Isso é verdade, mas há exceções e vamos tratá-las no item “3 Baixa de créditos não liquidados nas empresas”. Conforme mencionado no início deste item, a ECLD (Estimativa para Crédito de Liquidação Duvidosa) substituiu a PCLD (Provisão para Crédito de Liquidação Duvidosa) e a PDD (Provisão para Devedores Duvidosos). Essa substituição justifica-se, principalmente, pela mudança do cenário econômico que pediu uma alteração na legislação sobre o assunto. Saímos de um período altamente inflacionário, o qual pedia uma legislação pertinente. Em outras palavras, a legislação sobre a Provisão de Devedores Duvidosos existia antes do Plano Real (plano de estabilização da economia em 1994), ou seja, existia em outro momento da economia; naquelemomento, o próprio Ministério da Receita Federal determinava o percentual que as empresas poderiam estimar para registrar as possíveis perdas sobre os valores a receber de suas vendas a prazo, que eram todas consideradas dedutíveis. Sem contar que não havia, naquele momento, uma preocupação com a convergência internacional das normas contábeis. As perdas dedutíveis legalmente eram de até 3% sobre o saldo das duplicatas a receber para as empresas em geral e de 1,5% para as empresas financeiras. Elas ficaram em vigor até 31/12/1992, sendo alterada a partir de 01/01/1993 para 1,5% para as empresas em geral e 0,5% para as empresas financeiras. A Lei nº 8.981/95 trouxe diversas mudanças, tais como suprir os percentuais para apurar as perdas sobre os valores a receber advindos de vendas a prazo, estabelecendo outras maneiras de apurar e registrar as possíveis perdas. Segue, na íntegra, o Art. 43 dessa lei, que contempla tal assunto: Art. 43. Poderão ser registradas, como custo ou despesa operacional, as importâncias necessárias à formação de provisão para créditos de liquidação duvidosa (Vide Lei nº 9.430, de 1996). 1 É importante ressaltar que a palavra “resultado” tanto pode expressar um lucro quanto um prejuízo, a diferença está no uso dos parênteses. 2 Sobre resultado fiscal, voltaremos ao assunto na disciplina Planejamento Contábil Tributário, na qual serão estudadas as diversas formas de tributação sobre o resultado apurado na empresa. 3 O RIR/99 aponta que todas as perdas são indedutíveis, uma vez que, pela sua própria natureza, não foram necessárias para o desenvolvimento da atividade empresarial. O próprio RIR/99 classifica algumas despesas também como indedutíveis. 19 Re vi sã o: J an an dr ea - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 4/ 05 /1 2 CONTABILIDADE EMPRESARIAL § 1º A importância dedutível como provisão para créditos de liquidação duvidosa será a necessária a tornar a provisão suficiente para absorver as perdas que provavelmente ocorrerão no recebimento dos créditos existentes ao fim de cada período de apuração do lucro real. (Vide Lei nº 9.430, de 1996). § 2º O montante dos créditos referidos no parágrafo anterior abrange exclusivamente os créditos oriundos da exploração da atividade econômica da pessoa jurídica, decorrentes da venda de bens nas operações de conta própria, dos serviços prestados e das operações de conta alheia. (Vide Lei nº 9.430, de 1996). § 3º Do montante dos créditos referidos no parágrafo anterior deverão ser excluídos: (Vide Lei nº 9.430, de 1996) os provenientes de vendas com reserva de domínio, de alienação fiduciária em garantia, ou de operações com garantia real; (Vide Lei nº 9.430, de 1996). b) os créditos com pessoa jurídica de direito público ou empresa sob seu controle, empresa pública, sociedade de economia mista ou sua subsidiária; (Vide Lei nº 9.065, de 1995) (Vide Lei nº 9.430, de 1996). c) os créditos com pessoas jurídicas coligadas, interligadas, controladoras e controladas ou associadas por qualquer forma; (Vide Lei nº 9.430, de 1996). d) os créditos com administrador, sócio ou acionista, titular ou com seu cônjuge ou parente até o terceiro grau, inclusive os afins; (Vide Lei nº 9.430, de 1996). e) a parcela dos créditos correspondentes às receitas que não tenham transitado por conta de resultado; (Vide Lei nº 9.430, de 1996). f) o valor dos créditos adquiridos com coobrigação; (Vide Lei nº 9.430, de 1996). g) o valor dos créditos cedidos sem coobrigação; (Vide Lei nº 9.430, de 1996). h) o valor correspondente ao bem arrendado, no caso de pessoas jurídicas que operam com arrendamento mercantil; (Vide Lei nº 9.430, de 1996). i) o valor dos créditos e direitos junto a instituições financeiras, demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil e a sociedades e fundos de investimentos. (Vide Lei nº 9.430, de 1996). § 4º Para efeito de determinação do saldo adequado da provisão, aplicar- se-á, sobre o montante dos créditos a que se refere este artigo, o percentual 20 Unidade I Re vi sã o: J an an dr ea - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 4/ 05 /1 2 obtido pela relação entre a soma das perdas efetivamente ocorridas nos últimos três anos-calendário, relativas aos créditos decorrentes do exercício da atividade econômica, e a soma dos créditos da mesma espécie existentes no início dos anos-calendário correspondentes, observando-se que: (Vide Lei nº 9.430, de 1996). a) para efeito da relação estabelecida neste parágrafo, não poderão ser computadas as perdas relativas a créditos constituídos no próprio ano- calendário; (Vide Lei nº 9.430, de 1996). b) o valor das perdas, relativas a créditos sujeitos à atualização monetária, será o constante do saldo no início do ano-calendário considerado. (Vide Lei nº 9.430, de 1996). § 5º Além da percentagem a que se refere o § 4º, a provisão poderá ser acrescida: (Vide Lei nº 9.430, de 1996). a) da diferença entre o montante do crédito habilitado e a proposta de liquidação pelo concordatário, nos casos de concordata, desde o momento em que esta for requerida; (Vide Lei nº 9.430, de 1996). b) de até cinquenta por cento do crédito habilitado, nos casos de falência do devedor, desde o momento de sua decretação. (Vide Lei nº 9.430, de 1996). § 6º Nos casos de concordata ou falência do devedor, não serão admitidos como perdas os créditos que não forem habilitados, ou que tiverem a sua habilitação denegada. (Vide Lei nº 9.430, de 1996). § 7º Os prejuízos realizados no recebimento de créditos serão obrigatoriamente debitados à provisão referida neste artigo e o eventual excesso verificado será debitado a despesas operacionais. (Vide Lei nº 9.430, de 1996). § 8º O débito dos prejuízos a que se refere o parágrafo anterior poderá ser efetuado, independentemente de se terem esgotados os recursos para sua cobrança, após o decurso de: (Redação dada pela Lei nº 9.065, de 1995) (Vide Lei nº 9.430, de 1996). a) um ano de seu vencimento, se em valor inferior a 5.000 UFIR, por devedor; (Incluído pela Lei nº 9.065, de 1995) (Vide Lei nº 9.430, de 1996). b) dois anos de seu vencimento, se superior ao limite referido na alínea a, não podendo exceder a vinte e cinco por cento do lucro real, antes de computada essa dedução. (Incluído pela Lei nº 9.065, de 1995) (Vide Lei nº 9.430, de 1996). 21 Re vi sã o: J an an dr ea - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 4/ 05 /1 2 CONTABILIDADE EMPRESARIAL § 9º Os prejuízos debitados em prazos inferiores, conforme o caso, aos estabelecidos no parágrafo anterior, somente serão dedutíveis quando houverem sido esgotados os recursos para sua cobrança. (Redação dada pela Lei nº 9.065, de 1995) (Vide Lei nº 9.430, de 1996). § 10. Consideram-se esgotados os recursos de cobrança quando o credor valer-se de todos os meios legais à sua disposição (Vide Lei nº 9.430, de 1996). § 11. Os débitos a que se refere a alínea b do § 8º não alcançam os créditos referidos nas alíneas a, b, c, d, e e h do § 3º. (Incluído pela Lei nº 9.065, de 1995) (Vide Lei nº 9.430, de 1996). (BRASIL, 1995a). Ao ler o Art. 43 da Lei 8.981/95, acredito que tenha chamado a sua atenção para outra lei, a Lei nº 9.430/96. Sim, tem razão, mas essa, devido às mudanças, será abordada no item “3 Baixa de créditos não liquidados nas empresas”. O que se pode adiantar no momento é que as perdas apuradas sobre possíveis inadimplências, para fins fiscais, são indedutíveis. Assim, conforme determina a Lei nº 8.981/95 – Art. 43, § 4º, a partir de 01/01/1995, o percentual passou a ser a média efetivamente apurada nos três últimos exercícios, sendo calculada conforme o que será demonstrado a seguir. 1.3.1 Exemplo de cálculoVamos supor que determinada empresa, no exercício 20X1, tenha deixado de receber 4% do valor das duplicatas que tinha para receber na data do balanço; no exercício 20X2, essa perda correspondeu a 5%; no exercício de 20X3, a 3%. Então, temos: • 4% – perda em 20X1; • 5% – perda em 20X2; • 3% – perda em 20X3. Média: 4 5 3 3 12 1 4 % % % % % + + = Assim, em 31 de dezembro de 20X4, o percentual a ser aplicado sobre os valores a receber das vendas a prazo seria de 4%, ou seja, do montante a receber, talvez a empresa não receba uma parte desse valor. 22 Unidade I Re vi sã o: J an an dr ea - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 4/ 05 /1 2 Logo, pode-se concordar com Divane Alves da Silva Nagatsuka e Egberto Lucena Teles, que afirmam que: o percentual relativo da provisão em relação ao montante de duplicatas a receber poderia variar de empresa para empresa, dependendo do setor econômico no qual ela se insere, o controle de risco de crédito que utiliza, a qualidade de sua carteira de clientes e até mesmo as condições conjunturais da economia (NAGATSUKA; TELES, 2002, p. 125). Vale ressaltar que: 1. A empresa deseja receber todo o valor das vendas a prazo, caso contrário, não teria o motivo de vender seus bens. 2. Vender a prazo é sempre um risco, mesmo que a empresa venha utilizar-se de mecanismos de análise de crédito, nada garantirá o recebimento do valor proposto. 3. Não recebendo o valor das vendas, dificilmente terá as mercadorias, os produtos e/ou serviços de volta. 4. Poderá deixar de receber valores acima da estimativa, o que prejudicará mais seu planejamento financeiro. 5. Poderá não utilizar a estimativa de perda, caso venha receber todas as suas vendas, o que seria o ideal. Nos itens a seguir, será possível responder as situações mencionadas no parágrafo anterior. Deixaremos para o item “3 Baixa de créditos não liquidados nas empresas” a finalização do assunto sobre Provisão para Crédito de Liquidação Duvidosa, proposta para esta disciplina Contabilidade Empresarial. 2 ESTIMATIVAS 2.1 Constituição de estimativa De acordo com a explanação do primeiro item deste livro-texto, pode-se compreender que a Estimativa para Crédito de Liquidação Duvidosa (ECLD) ocorre a partir de uma estimativa de não recebimento e sempre de acordo com o histórico do cliente em cada empresa, ou seja, quais foram suas compras, prazo de pagamento, período de atraso e assim por diante. 2.1.1 Exemplo de cálculo Vamos supor que, em 31 de dezembro de 20X4, determinada empresa possua em seu ativo a conta “duplicatas a receber”, com saldo de R$ 800.000,00, composto por diversos clientes e vencimentos. 23 Re vi sã o: J an an dr ea - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 4/ 05 /1 2 CONTABILIDADE EMPRESARIAL Sabe-se que o percentual obtido para cálculo da provisão é de 4%. A constituição da provisão será assim efetuada: ECLD = saldo de duplicatas a receber x percentual de estimativa de perda R$ 800.000,00 x 4% = R$ 32.000,00 → PCLD O lançamento contábil para registro da provisão: D – Despesas para créditos de liquidação duvidosa (DRE) 32.000 C – Estimativa para créditos de liquidação duvidosa (AC) 32.000 Razonetes Duplicatas a receber Despesas para crédito de liquidação duvidosa Saldo 800.000,00 1 32.000,00 Estimativa para crédito de liquidação duvidosa 32.000,00 1 Quadro 1 – Representação no balanço patrimonial de 31 de dezembro de 20X4 Ativo Passivo Circulante ... ... Duplicatas a receber 800.000 (-) ECLD (32.000) ... Não circulante Circulante Não circulante Patrimônio líquido Total Total Importante: de acordo com a representação no balanço patrimonial sobre a operação da Estimativa para Crédito de Liquidação Duvidosa (ECLD), entende-se que, do total de vendas a prazo equivalente a 24 Unidade I Re vi sã o: J an an dr ea - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 4/ 05 /1 2 R$ 800.000,00, uma parte provavelmente não será recebida, ou seja, R$ 32.000,00. Assim, por cautela, a empresa deverá contar somente com R$ 768.000,00 para gerenciar seus gastos e/ou investimentos. Observação Neste livro estamos utilizando a conta contábil com a expressão “duplicatas a pagar”. Há alguns anos (e mesmo atualmente), quando se emitia uma nota fiscal ou “fatura”, emitia-se conjuntamente outro documento semelhante, conhecido como “duplicata” (daí o nome, a duplicata é uma cópia da nota fiscal ou fatura). De posse dessa duplicata, o devedor poderia ir ao banco ou na sede da empresa, apresentar a duplicata e pagar sua dívida. Atualmente, muitas empresas não costumam mais emitir duplicatas. Emite-se um “boleto bancário” ou utilizam-se formas de cobrança automática, via internet, o e-banking. Assim, muitos contadores preferem utilizar a expressão “clientes” nas contas contábeis em vez de “duplicatas a pagar”. Porém, independente da tecnologia utilizada ou da denominação que a conta contábil recebe, o tratamento contábil é o que estamos estudando neste livro. 2.2 Utilização A utilização da Estimativa para Crédito de Liquidação Duvidosa (ECLD) acontece quando, de fato, alguns dos valores previstos a receber realmente não sejam recebidos ocorrendo a inadimplência, ou seja, o cliente não honrou com o compromisso assumido. Para fins de melhor entendimento, serão utilizados os mesmos dados do exemplo contemplado no item anterior, no qual, por meio de análise sobre o histórico de inadimplência da empresa, foi estabelecida uma ECLD na ordem de 4% sobre as vendas a prazo de R$ 800.000,00, chegando-se à ECLD no valor de R$ 32.000,00. 2.2.1 Exemplo de cálculo Sabendo-se que, dos valores a receber em 20X5, de R$ 800.000,00, somente R$ 12.000,00 não foram recebidos, a empresa pode contar somente com R$ 788.000,00, assim ilustrados: 1) D – Bancos conta movimento (AC) 788.000 C – Duplicatas a receber (AC) 788.000 25 Re vi sã o: J an an dr ea - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 4/ 05 /1 2 CONTABILIDADE EMPRESARIAL Após várias tentativas de cobrança, o montante de R$ 12.000,00 de duplicatas a receber foram consideradas incobráveis. A baixa dessas duplicatas será efetuada por meio do lançamento a seguir. Lembrete Incobráveis: situação em que foram esgotados todos os meios disponíveis de cobrança da duplicata. 2) D – Estimativa para créditos de liquidação duvidosa (AC) 12.000 C – Duplicatas a receber (AC) 12.000 Razonetes Duplicatas a receber Despesas para crédito de liquidação duvidosa Saldo 800.000,00 Saldo 32.000,00 788.000,00 1 12.000,00 2 Estimativa para crédito de liquidação duvidosa Banco conta movimento 32.000,00 Saldo 1 788.000,00 2 12.000,00 Quadro 2 – Representação no balanço patrimonial de 31 de dezembro de 20X5 Ativo Passivo Circulante ... ... (-) ECLD (20.000,00) ... Não circulante Circulante Não circulante Patrimônio líquido Total Total 26 Unidade I Re vi sã o: J an an dr ea - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 4/ 05 /1 2 Importante: conforme demonstra a representação do balanço patrimonial, restou um valor de R$ 20.000,00 na conta de Estimativa para Crédito de Liquidação Duvidosa, informando que o total de R$ 32.000,00 provisionado para um possível não recebimento das vendas a prazo efetuadas foi maior. Aliás, uma excelente situação para a empresa, uma vez que a inadimplência foi menor do que a esperada. Porém, o saldo de R$ 20.000,00 na conta de ECLD deveráter um destino, veja no item a seguir. 2.3 Reversão No último dia do exercício de 20X5, a empresa deverá constituir nova estimativa com base no novo saldo da conta “duplicatas a receber”. Como há saldo remanescente da estimativa constituída no exercício anterior no valor de R$ 20.000,00, esse deve ser revertido para receita por meio do seguinte lançamento contábil: 3) D – Estimativa para crédito de liquidação duvidosa (AC) 20.000 C – Reversão de estimativa para crédito de liquidação duvidosa (DRE) 20.000 Razonetes Duplicatas a receber Despesas para crédito de liquidação duvidosa Saldo 800.000,00 Saldo 32.000,00 788.000,00 1 12.000,00 2 Estimativa para crédito de liquidação duvidosa Banco conta movimento 32.000,00 Saldo 1 788.000,00 2 12.000,00 3 20.000,00 Reversão para crédito de liquidação duvidosa 20.000,00 3 Depois de efetuada a reversão, faz-se o novo cálculo para constituição da estimativa para 20X5. A nova estimativa poderá ser constituída da forma já exposta, ou pelo método da compensação ou complementação, ou seja, o valor a ser contabilizado será obtido pela diferença entre o valor da nova estimativa e o saldo remanescente na conta de estimativa, conforme demonstra o item a seguir. 27 Re vi sã o: J an an dr ea - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 4/ 05 /1 2 CONTABILIDADE EMPRESARIAL 2.4 Complementação Assim, imaginemos que a empresa não tenha feito o lançamento de reversão (2.3). O saldo da conta “estimativa para crédito de liquidação duvidosa” seria de R$ 20.000. Razonetes Duplicatas a receber Despesas para crédito de liquidação duvidosa 800.000,00 Saldo 32.000,00 788.000,00 1 12.000,00 2 Saldo Estimativa para crédito de liquidação duvidosa Banco conta movimento 32.000,00 Saldo 1 788.000,00 2 12.000,00 Saldo 20.000,00 Sendo o saldo da conta “duplicatas a receber” em 20X5 de R$ 1.000.000,00 e o percentual, agora, de 5%, teremos uma estimativa de: R$ 1.000.000,00 x 5% = R$ 50.000,00 Tabela 1 Saldo da ECLD ao final do exercício 20.000,00 Estimativa necessária 50.000,00 Valor a ser ajustado 30.000,00 3) D – Despesas para crédito de liquidação duvidosa (DRE) 30.000 C – Estimativa para crédito de liquidação duvidosa (AC) 30.000 Razonetes Duplicatas a receber Despesas para crédito de liquidação duvidosa Saldo 1.000.000,00 3 30.000,00 28 Unidade I Re vi sã o: J an an dr ea - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 4/ 05 /1 2 Estimativa para crédito de liquidação duvidosa 20.000,00 Saldo 30.000,00 3 50.000,00 Novo Saldo Quadro 3 – Representação no balanço patrimonial de 31 de dezembro de 20X5 Ativo Passivo Circulante ... ... Duplicatas a receber 1.000.000 (-) ECLD (50.000,00) ... Não circulante Circulante Não circulante Patrimônio líquido Total Total Importante: pelo método da complementação, conforme exposto, não há versão do saldo remanescente, tratado no item 2.2. Haverá, portanto, a complementação do valor estimado como Estimativa para Crédito de Liquidação Duvidosa (PCLD). Uma curiosidade: algumas empresas, alternativamente, fazem a estimativa para crédito de liquidação duvidosa aplicando um percentual sobre o valor total das vendas a prazo, ao invés do saldo de duplicatas a receber. 2.4.1 Exemplo de cálculo A empresa Comercial Diferente Ltda. apresentou em sua conta de vendas o valor de R$ 6.000.000,00 e tem a prática de aplicar o percentual de 1% para estimar suas perdas no exercício seguinte. Dessa forma, tem-se: R$ 6.000.000,00 x 1% = R$ 60.000,00 Lançamento de constituição: D – Despesas para crédito de liquidação duvidosa (DRE) 60.000 C – Estimativa para crédito de liquidação duvidosa (AC) 60.000 29 Re vi sã o: J an an dr ea - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 4/ 05 /1 2 CONTABILIDADE EMPRESARIAL Estimativa para crédito de liquidação duvidosa Despesas para crédito de liquidação duvidosa 60.000,00 1 1 60.000,00 Observação: as contas contábeis são as mesmas utilizadas quando a ECLD é formada por meio do saldo de duplicatas a receber, assim como a reversão e/ou complementação. 3 BAIXA DE CRÉDITOS NÃO LIQUIDADOS NAS EMPRESAS Do item 2.1 ao 2.4, foram contempladas tanto a formação da Estimativa para Crédito de Liquidação Duvidosa (ECLD), quanto sua baixa, incluindo o estudo sobre a não utilização da provisão e/ou sua complementação, quando for o caso. Isso sempre entendendo que tanto a despesa quanto a receita oriunda de tal provisão atende a dois aspectos: o contábil e o fiscal. Em termos contábeis, a despesa ou a receita estará sempre compondo o resultado (lucro ou prejuízo) contábil. Sob o aspecto fiscal, mais precisamente para a formação da base de cálculo para tributação, a despesa de devedores duvidosos ou até mesmo a receita, quando tratar-se da reversão da estimativa, passa a ser analisada de acordo com a legislação do imposto de renda. Em outras palavras, as despesas (constituição) devem ser oferecidas à tributação, assim como as receitas (reversão) devem ser excluídas, quando da formação da base tributária. Conforme determina a Lei nº 9.430/96 (In SRF 93/97), a despesa oriunda da constituição da Provisão para Créditos de Liquidação Duvidosa não é dedutível para fins de apuração da base tributável em imposto de renda e contribuição social, devendo ser adicionada no Livro de Apuração do Lucro Real – Lalur. Entretanto, quando as perdas forem efetivadas, de acordo com a legislação fiscal, as perdas de créditos poderão ser registradas como dedutíveis (Regulamento do Imposto de Renda/1999, art. 340, § 1º). Assim, a Lei 9.430/96, art. 9º, estabelece que créditos: III. Com garantia, vencidos há mais de dois anos, desde que iniciados e mantidos os procedimentos judiciais para o seu recebimento ou o arresto das garantias (BRASIL, 1996). Para efeito da legislação fiscal, entende-se por créditos com garantia aqueles provenientes de vendas com reserva de domínio, alienação fiduciária em garantia ou de operações com outras garantias reais, conforme dispõe o art. 340, § 3º do Regulamento do Imposto de Renda de 1999 (RIR/99). Assim, sob o ponto de vista fiscal (legislação do imposto de renda), há situações em que as despesas, para efetivar as baixas dos créditos decorrentes da atividade da empresa, passam a ser consideradas dedutíveis, conforme demonstra-se no próximo item. 30 Unidade I Re vi sã o: J an an dr ea - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 4/ 05 /1 2 3.1 Créditos que podem ser baixados como perdas De acordo com a letra “b”, Inciso II, § 1º do Artigo 9º da Lei 9.430/96, cuja parte que interessa transcreve-se abaixo: Art. 9º As perdas no recebimento de créditos decorrentes das atividades da pessoa jurídica poderão ser deduzidas como despesas, para determinação do lucro real, observado o disposto neste artigo. § 1º Poderão ser registrados como perda os créditos: (...) II - sem garantia, de valor: a) até R$ 5.000,00 (cinco mil reais), por operação, vencidos há mais de seis meses, independentemente de iniciados os procedimentos judiciais para o seu recebimento; b) acima de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) até R$ 30.000,00 (trinta mil reais), por operação, vencidos há mais de um ano, independentemente de iniciados os procedimentos judiciais para o seu recebimento, porém, mantida a cobrança administrativa; c) superior a R$ 30.000,00 (trinta mil reais), vencidos há mais de um ano, desde que iniciados e mantidos os procedimentos judiciais para o seu recebimento (BRASIL, 1996). Pelo exposto, o créditoem questão se enquadra na letra “b”, uma vez que o valor é maior do que R$ 5.000,00 e menor do que R$ 30.000,00 e encontra-se vencido há mais de um ano. Nesse caso, não há a necessidade de se esgotarem os recursos de cobrança desde que mantida a cobrança administrativa. Nesses termos, pode-se considerar como perda dedutível, levando-se a débito da conta de “perdas no recebimento de créditos” na conta de resultado e a crédito da conta “clientes ou duplicatas a receber” no ativo circulante. Ou mesmo em relação que tenha havido a declaração de insolvência4 do devedor, em sentença emanada do Poder Judiciário, conforme item I da mesma lei. 3.1.1 Sem garantia de valor Para melhor entendimento, procede-se uma análise mais detalhada sobre o art. 9º da Lei 9.430/96, em relação ao termo “garantia”. 4 Insolvência: dá-se a insolvência toda vez que as dívidas excederem à importância dos bens do devedor. 31 Re vi sã o: J an an dr ea - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 4/ 05 /1 2 CONTABILIDADE EMPRESARIAL Lembrete Garantia: meio pelo qual o credor se previne contra os riscos de uma transação. 3.1.2 Com garantia de valor Com garantia, vencidos há mais de dois anos, desde que iniciados e mantidos os procedimentos judiciais para o seu recebimento ou arresto5 das garantias. Para esse fim, considera-se crédito garantido o proveniente de vendas com reserva de domínio,6 de alienação fiduciária7 em garantia ou de operações com outras garantias reais. 3.1.3 Contra devedor declarado falido Contra devedor declarado falido ou pessoa jurídica declarada concordatária,8 relativamente à parcela que exceder o valor que esta tenha se comprometido a pagar, observado o seguinte: a) A dedução da perda será admitida a partir da data de decretação da falência9 ou da concessão da concordata,10 desde que a credora tenha adotado os procedimentos judiciais necessários para o recebimento do crédito. b) A parcela do crédito, cujo compromisso de pagar não houver sido honrado pela empresa concordatária, poderá também ser deduzido como perda nas condições tratadas neste item. Observação Importante: a Lei nº 9.430/96 mantém em sua redação, até o momento, o termo “concordatária”, mesmo sendo extinto pela Lei da Falência, nº 11.101/2005. 5 Arresto: apreensão de bens ou objetos por decisão judicial. 6 Reserva de domínio: manutenção, pelo vendedor, da propriedade de certo bem vendido a prazo. Enquanto a dívida não estiver inteiramente quitada, o comprador detém apenas a posse desse bem. 7 Alienação fiduciária: é a transferência da propriedade de um bem móvel ao credor, em garantia de pagamento de uma dívida, sendo que o devedor continuará utilizando o bem, mesmo estando alienado. A propriedade do bem é devolvida ao seu dono depois que ele pagou a dívida. 8 Pessoa jurídica declarada concordatária: devedor a quem foi concedida concordata. 9 Falência: a empresa será considerada falida se for constatada a sua incapacidade de pagar seus débitos nos prazos contratuais. 10 Concordata: é um recurso jurídico que permite a continuação da atividade da empresa que está incapacitada de saldar seus débitos nos prazos contratuais (extinto pela Lei da Falência nº 11.101/2005). 32 Unidade I Re vi sã o: J an an dr ea - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 4/ 05 /1 2 3.1.4 Exemplo de cálculo O saldo em 1º/01/20X6 da conta Estimativa para Crédito de Liquidação Duvidosa (ECLD) da Cia. Paulista era de R$ 15.300,00. Durante o ano, aconteceram os seguintes eventos: 1. O cliente “A”, considerado incobrável há dois anos, pagou sua dívida de R$ 5.000,00. 2. As vendas no valor de R$ 6.000,00 para o cliente “B” ocorreram em 10/11/20X5 com vencimento para 10/01/20X6. Em 10/04/20X6, esse cliente foi considerado incobrável pela Cia. Paulista. 3. As vendas no valor de R$ 7.000,00 para o cliente “C” ocorreram em 12/08/20X5 com vencimento para 12/09/20X5. Em 12/05/20X6, esse cliente foi considerado incobrável pela Cia. Paulista. 4. O cliente “B”, em 10/07/20X6, apareceu e pagou R$ 5.000,00 de sua dívida, alegando que não poderia pagar nada mais. 5. As vendas no valor de R$ 10.000,00 para o cliente “D” ocorreram em 05/07/20X5 com vencimento para 05/08/20X5. Em 05/08/20X6, esse cliente foi considerado incobrável pela Cia. Paulista. 6. As vendas no valor de R$ 2.000,00 para o cliente “E” ocorreram em 15/12/20X5 com vencimento para 15/02/20X6. Em 15/09/20X6, esse cliente foi considerado incobrável pela Cia. Paulista. 7. Em 30/11/20X6, o cliente “E” entrou na empresa e pagou sua dívida de R$ 2.000,00. 8. O saldo da conta “duplicatas a receber”, em 31/12/20X6, é de R$ 2.300.000,00 e a base para constituir nova provisão é de 3% sobre esse saldo. Pede-se: Efetuar os registros contábeis necessários no diário e razonetes, considerando-se 31/12/20X6 como encerramento do exercício social. Resolução 1. O cliente “A”, considerado incobrável há dois anos, pagou sua dívida de R$ 5.000,00. D – Caixa 5.000 C – Receitas eventuais 5.000 2. As vendas no valor de R$ 6.000,00 para o cliente “B” ocorreram em 10/11/20X5 com vencimento para 10/01/20X6. Em 10/04/20X6, esse cliente foi considerado incobrável pela Cia. Paulista. D – Estimativa para crédito de liquidação duvidosa 6.000 C – Duplicatas a receber 6.000 33 Re vi sã o: J an an dr ea - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 4/ 05 /1 2 CONTABILIDADE EMPRESARIAL 3. As vendas no valor de R$ 7.000,00 para o cliente “C” ocorreram em 12/08/20X5 com vencimento para 12/09/20X5. Em 12/05/20X6, esse cliente foi considerado incobrável pela Cia. Paulista. D – Estimativa para crédito de liquidação duvidosa 7.000 C – Duplicatas a receber 7.000 4. O cliente “B”, em 10/07/20X6, apareceu e pagou R$ 5.000,00 de sua dívida, alegando que não poderia pagar nada mais. D – Caixa 5.000 C – Receitas eventuais 5.000 5. As vendas no valor de R$ 10.000,00 para o cliente “D” ocorreram em 05/07/20X5 com vencimento para 05/08/20X5. Em 05/08/20X6, esse cliente foi considerado incobrável pela Cia. Paulista. D – Estimativa para crédito de liquidação duvidosa 2.300 D– Perdas com créditos (*) 7.700 C – Duplicatas a receber 10.000 (*) Perdas dedutíveis para fins tributários, o valor acima de R$ 5.000,00 e o prazo do vencimento até ser considerado pela empresa como título incobrável foi superior a seis meses. 6. As vendas no valor de R$ 2.000,00 para o cliente “E” ocorreram em 15/12/20X5 com vencimento para 15/02/20X6. Em 15/09/20X6, esse cliente foi considerado incobrável pela Cia. Paulista. D– Perdas com créditos (**) 2.000 C – Duplicatas a receber 2.000 (**) Perdas dedutíveis para fins tributários, o valor de R$ 2.000,00 está dentro do limite de R$ 5.000,00 e o prazo do vencimento até ser considerado pela empresa como título incobrável está acima de seis meses. 7. Em 30/11/20X6, o cliente “E” entrou na empresa e pagou sua dívida de R$ 2.000,00. D – Caixa 2.000 C – Receitas eventuais 2.000 8. O saldo da conta “duplicatas a receber”, em 30/12/20X6, é de R$ 2.300.000,00 e a base para constituir nova provisão é de 3% sobre aquele saldo. D – Despesas para crédito de liquidação duvidosa 69.000 C – Estimativa para crédito de liquidação duvidosa 69.000 34 Unidade I Re vi sã o: J an an dr ea - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 4/ 05 /1 2 4 OPERAÇÕES FINANCEIRAS Durante sua existência, as empresas fazem operações que envolvem a aplicação de seus recursos financeiros. Caso esses recursos sejam excedentes e a empresa não tenha interesse em investir em sua atividade principal para protegê-los, ela pode investi-los no mercado financeiro(bancos, financeiras etc.). Essas operações são conhecidas como aplicações financeiras. As aplicações podem ser feitas na rede bancária em Certificados de Depósitos Bancários (CDBs), fundos de renda fixa, fundos de renda variável etc. O inverso também nos remete ao mercado financeiro. Caso os negócios não vão bem e a empresa necessite recorrer a empréstimos para a manutenção de sua atividade ou precise financiar algum projeto de longo prazo ou ainda aumentar seus bens de capital, ela obterá o que precisa mediante a captação de recursos no mercado financeiro (bancos, financeiras, capitalistas particulares etc.). Essas operações são conhecidas como captação de recursos ou empréstimos. Esse conjunto de movimentações financeiras é conhecido no mundo dos negócios como operações financeiras. Vejamos como se deu o surgimento dessas operações: Compra Venda Figura 1 – Atividade comercial A atividade comercial liga a produção ao consumo. Ela é o meio pelo qual se viabiliza todo o fluxo de mercadorias entre produtores e consumidores. Entre as atividades comerciais, podemos citar: supermercados, farmácias, revendedoras de veículos, lojas de materiais de construção, de equipamentos de informática etc. 4.1 Duplicatas A duplicata é um título de crédito formal nominativo, emitido pela empresa com a mesma data, valor global e vencimento da fatura, é representativo e comprobatório de crédito preexistente (venda de mercadoria a prazo) e destinado a aceite11 e pagamento por parte do comprador. Segundo Ribeiro (1999), as empresas industriais, comerciais e prestadoras de serviços frequentemente vendem a prazo, respectivamente, produtos, mercadorias, serviços. Quando as vendas são efetuadas mediante a emissão e o aceite de duplicatas, estas poderão ser negociadas pelas empresas. Com esses títulos, as empresas efetuam transações nos bancos. Os mais comuns são a cobrança simples de duplicatas e os descontos de duplicatas. 11 Aceite: ato de aceitar uma duplicata, declarando-se o devedor responsável pelo pagamento do débito na data marcada. 35 Re vi sã o: J an an dr ea - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 4/ 05 /1 2 CONTABILIDADE EMPRESARIAL 4.1.1 Cobrança simples As empresas, ao venderem seus produtos a prazo, assumem o direito de receber os valores referentes à compra no vencimento previamente estipulado pelas partes – vendedor/comprador –, estipulando também a decisão sobre como receberão esses valores, se diretamente na empresa ou se por meio de terceiros. Quando a decisão da empresa recai na primeira opção, ou seja, receber os valores das vendas a prazo diretamente na empresa, essa operação é chamada de “cobrança em carteira”. Se escolher a segunda opção, aquela que utiliza terceiros (instituições financeiras, empresas de cobrança ou até mesmo cobradores particulares), a operação é denominada “cobrança simples”. Para a cobrança em carteira, basta a empresa vendedora manter em seu departamento financeiro as duplicatas a serem recebidas com a data do vencimento estipulado. Recebendo os valores, a empresa tanto poderá mantê-los em seu “caixa” quanto depositá-los em sua conta corrente bancária. Vale ressaltar que numerários em “caixa” podem contribuir em situações de fraudes e, ao mesmo tempo, com pagamentos de gastos efetuados pela empresa. Trata-se de uma decisão que deve ser analisada sob diversos aspectos, levando-se sempre em consideração a segurança de todos que, direta ou indiretamente, fazem parte do dia a dia da empresa. Para Ribeiro (1999, p. 197-199), a cobrança simples consiste na remessa de títulos aos cobradores que prestam serviços à empresa, incluídas aí as instituições financeiras, que, por sua vez, cobrarão os respectivos devedores. Para efetuarem as cobranças de suas duplicatas, as empresas poderão utilizar os serviços de empresas especializadas ou até mesmo de cobradores particulares. Nesse tipo de operação, a empresa transfere a posse12 dos títulos ao banco, mas a propriedade13 continua sendo da empresa. Para remeter os títulos ao banco, a empresa os relaciona, de forma minuciosa, em um borderô14 , anexando os respectivos títulos. A operação de cobrança se resume às seguintes fases: 1ª Pela remessa dos títulos ao banco: • registro da operação, por meio das contas de compensação15; • registro das despesas cobradas pelo banco com a cobrança dos títulos. 12 Posse: situação em que temos um bem ou usufruímos dele, porém, não temos o domínio, ou seja, não podemos vendê-lo. 13 Propriedade: situação em que temos o domínio, ou seja, direito pleno de usufruir e de dispor do bem. 14 Borderô: relação das duplicatas que o cliente leva ao banco para realizar operações de desconto, cobrança etc. 15 Compensação: grupo de contas nas quais são registradas operações que, no momento em que é feito esse procedimento, não alteram o patrimônio da empresa, mas que indicam riscos ou responsabilidades futuras. 36 Unidade I Re vi sã o: J an an dr ea - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 4/ 05 /1 2 2ª Pelo recebimento das importâncias referentes aos títulos: • o banco comunica que os títulos foram quitados; • baixa da responsabilidade por meio do lançamento de compensação; • baixa dos direitos por meio do débito da conta bancos conta movimento, pelo recebimento das importâncias referentes aos títulos e créditos da conta de duplicatas a receber para baixa dos respectivos direitos sobre o cliente. 4.1.2 Exemplo de cálculo Remessa de duplicatas ao Banco Maracatu S/A, para cobrança simples, conforme borderô no valor de R$ 5.000,00. O banco cobrou R$ 80,00 de comissões e taxas. Contabilização Pela remessa dos títulos ao banco, têm-se dois lançamentos contábeis, um para registrar a remessa e outro para as despesas cobradas pelo banco. 1) Lançamento de compensação D – Títulos em cobrança 5.000 C – Endossos para cobrança 5.000 1a) Registro da despesa D – Despesas de cobrança 80 C – Bancos conta movimento 80 Após os vencimentos dos títulos, quando o banco comunicar que os mesmos foram quitados: 2) Baixa das contas de compensação D – Endossos para cobrança 5.000 C – Títulos em cobrança 5.000 2a) Pelo recebimento das duplicatas D – Bancos conta movimento 5.000 C – Duplicatas a receber 5.000 37 Re vi sã o: J an an dr ea - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 4/ 05 /1 2 CONTABILIDADE EMPRESARIAL Razonetes Títulos em cobrança Endossos para cobrança 1 5.000,00 5.000,00 1 5.000,00 2 2 5.000,00 Despesas de cobrança Banco conta movimento 1a 80, 00 80,00 1a 3 5.000,00 Duplicatas a receber Saldo XXXX 5.000,00 3 No caso de o pagamento não ser efetuado pelo cliente, o banco procederá normalmente a baixa da compensação, mas comunicará a empresa detentora das duplicatas (ou seja, a empresa que tem o direito a receber) a vir retirar a duplicata vencida para as devidas providências de cobrança, inclusive o protesto delas. Vale lembrar que o banco poderá executar o protesto de uma duplicata vencida, desde que receba essa ordem do detentor dela, cobrando uma taxa por esse serviço. Supondo que o cliente não tenha quitado a duplicata no vencimento e que a empresa vendedora informe ao banco que a duplicata deverá ser protestada, sabendo-se que o banco cobrará R$ 45,00 pela operação, teríamos os seguintes lançamentos contábeis: 3) Baixa das contas de compensação D – Endossos para cobrança 5.000 C – Títulos em cobrança 5.000 3a) Registro da despesa D – Despesas de protestos 45 C – Bancos conta movimento 45 Importante: nota-se que o cliente quitando ou não a duplicata, o lançamento contábil sobre a baixa da compensação ocorrerá, uma vez que a duplicata, por estar vencida,
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