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Curso de Direito do Trabalho - Livro III - DELGADO, Maurício Godinho

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ILThi 
EDITORA l TDA. 
Rua Jaguaribe, 571 
CEP 01224-ll01 
São Paulo, SP - Brasil 
Fone (Jl) 2167-1101 
www.ltr.com.br 
Produção Gráfica e Editoração Eletrônica: RLUX 
Projeto de Capa' FÁBIO GIGUO 
Impressão: ESCOLAS PROFISSIONAIS SALESIANAS 
Versão impressa - 4577.5 - 978-85-361-2001-0 
Versão digital - 7266.7 - 978-85-361-2008-9 
Fevereiro, 2012 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
(Câmara Brasileira do Uvro, SP, Brasil) 
Delgado, Mauricio Godinho 
Curso de direito do llabalho I Mauricio Godinho 
Delgado. - 11. ed. - São Paulo : LTr, 2012. 
Bibliografia. 
], Diieito do trabalho 2. Direito do trabalho -
Brasil L Título. 
12·00597 CDU-34,331(81) 
Índices para catálogo sistemático: -~ 
1. Brasil : Direito do trabalho 34:331(81) 
2. Direito do trabalho : Brasil 34:331(81) 
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Para Luci/ia, Gabrie/a e Matina. 
Aos que acreditam, contribuindo para sua realizaçã'o, 
nas ideias de Justiça e Direito, ÍfiC[usive em sua particularização 
socialniente indispensável, o Direito do Trabalho. 
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LIVROIII 
DIREITO COLETIVO DO TRABALHO 
CAPÍTULO XXXIII 
DIREITO COLETIVO: ASPECTOS GERAIS 
1. INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 1303 
II.DENOMINAÇÃO .......................................................................................................... 1304 
1. Denominações Arcaicas ...................................................................................... 1304 
42 MAURICIO GODINHO DELGADO 
2. Denominações Atuais ·································································'····'··················· t 305 
A) Direito Coletivo do Trabalho............................................................................ t 305 
B) Direito Sindical................................................................................................. t 306 
C) Direito Social ........................................................................................ ........... 1306 
111. DEFINIÇÃO................................................................................................................. 1307 
IV. CONTEÚDO............................................................................................................... 1308 
V. FUNÇÃO ..................................................................................................................... 1309 
1. Funções Justrabalhistas Gerais......................................................................... 1310 
Extensão ao Direito Colefivo ............................................................................... 1312 
2. Funções Juscoletivas Especificas...................................................................... 1314 
VI. CONFliTOS COLETIVOS DE TRABALHO E SUA RESOLUÇÃO........................... 1315 
1. Modalidades de Conflitos Coletivos ................................................................... . 
2. Modalidades de Resolução de Conflitos Coletivos .......................................... . 
1316 
1316 
Uma Fórmula Controvertida: dissldio coletivo................................................... 1317 
VIl. O PROBLEMA DA AUTONOMIA DO DIREITO COLETIVO DO TRABALHO .......... 1320 
CAPITuLO XXXIV 
PRINC[PIOS ESPECIAIS DO DIREITO COLETIVO DO TRABALHO 
I. INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 1323 
11. PRINCfPIOS ESPECIAIS DO DIREITO COLETIVO-TIPOLOGIA ......................... 1324 
Tipologia de Principies ............................................................................................. 1325 
111. PRINCÍPIOS ASSECURATÓRIOS DA EXISTÊNCIA DO SER COLETIVO OBREIRO .. 1326 
1. Principio da Liberdade Associativa e Sindical ................................................... 1327 
A) Cláusulas de Sindicalização Forçada ........................................................... 1328 
B) Práticas Antissindicais ....................................................................... : ........... . 
C) Garantias à Atuação Sindical ........................................................................ . 
2. Princfpio da Autonomia Sindical ......................................................................... . 
IV. PRINCÍPIOS REGENTES DAS RELAÇÕES ENTRE OS SERES COLETIVOS TRA-
BALHISTAS ............................................................................................................... . 
1. Princfpio da lnterveniência Sindical na Normatização Coletiva ....................... . 
2. Princfpio da Equivalência dos Contratantes Coletivos ..................................... : 
3. Principio da Lealdade e Transparência na Negociação Coletiva ................... . 
V. PRINCIPIOS REGENTES DAS RELAÇÕES ENTRE NORMAS COLETIVAS NE-
GOCIADAS E NORMAS ESTATAIS 
1. Princfpio da Criatividade Jurfdica da Negociação Coletiva .............................. . 
2. Principio da Adequação Setorial Negociada ........................................ : ............ . 
1329 
1330 
1332 
1334 
1335 
1336 
1338 
1339 
1340 
1341 
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CURSO DE DIREITO DO TRABALHO 43 
CAPITULO XXXV 
DIREITO COLETIVO E SINDICATO. 
I. INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 1344· 
11. DEFINIÇÃO········································································································'········· 1345 
III.SISTEMASSINDICAIS ............................................................................................... 1346 
1. Critérios de Agregação dos Trabalhadores no Sindicato ................................ . 
2. Unicidade versus Pluralidade. A Unidade Sindical. ...... : ................................... . 
A) Unicidade no Brasil: modelo tradicional ....................................................... . 
B). A Posição da Constituição de 1988 .............................................................. . 
C) Liberdade Sindical no Brasil: requisitos ...................................................... . 
Garantias à Atuação Sindical ................................................................ : ....... . 
IV. ORGANIZAÇÃO SINDICAL BRASILEIRA ATUAL .................................................... . 
1. Estrutura Sindical ................. : ............................................................................... . 
A) Estrutura Externa ............................................................................................. . 
Centrais Sindicais ........................................................................................... . 
B) Estrutura e Funcionamento Internos ............................................................ . 
2. Registro Sindical .................................................................................................. . 
3. Funções, Prerrogativas e Receitas Sindicais ................................................... .. 
A) Funções e Prerrogativas ................................................................................ . 
1347 
1350 
1351 
1352 
1352 
1352 
1354 
1355 
1355 
1356 
1357 
1358 
1359 
1360 
B) Receitas Sindicais........................................................................................... 1362 
V. GARANTIAS SINDICAIS ............................................................................................. 1363 
1. Garantia Provisória de Emprego .................................................................... ,,. ... 1364 
2. Inamovibilidadedo Dirigente Sindical.................................................................. 1366 
3. Garantias Oriundas de Nonmas da OIT ............................................................. . 
VI. NATUREZAJURIDICA DO SINDICATO .................................................................. . 
VIl. SINDICATO: RETROSPECTIVA HISTÓRICA ......................................................... . 
1. Evolução Sindical nos Pafses de Capitalismo Central .................................... . 
Autoritarismo e Refluxo Sindical ............................................................. :··········· 
2. Evolução Sindical no Brasil ................................................................................. . 
A) Perlodo Inicial do Sindicalismo Brasileiro .................................................... . 
B) 1930: implantação e .reprodução de modelo sindical. ................................ . 
Continuidade do Modelo nas Décadas Subsequentes .............................. . 
C) Constituição de 1988: mudança e continuidade .......................... , ............. .. 
a) Avanços Democráticos .............................................................................. . 
Carta de Direitos ....................................................................................... . 
b) Contradições Antidemocráticas ................................................................ . 
D) Novo Modelo Sindical: democratização com garantias legais ................... . 
VIII. SINDICATO E DIREITO DO TRABALHO-AVALIAÇÃO ...................................... . 
1367 
1368 
1370 
1371 
1375 
1375 
1375 
1377 
1380 
1381 
1381 
1382 
1383 
1384 
1385 
44 MAURICIO GODINHO DELGADO 
CAPÍTULO XXXVI 
NEGOCIAÇÃO COLETIVA TRABALHISTA 
I.INTRODUÇÃO ............................................................................................................. . 
11. IMPORTÂNCIA DA NEGOCIAÇÃO COLETIVA ......................................................... . 
1. Parâmetros dos Modelos Justrabalhistas Democráticos ................................ . 
A) Normatização Autônoma e Privatrstica ......................................................... . 
B) Normatização Privatfstica Subordinada ........................................................ . 
2. Parâmetros do Modelo Justrabalhista Autoritário ........................................ . 
3. Democracia e Normatização Estatal: reflexões complementares .................. . 
111. DIPLOMAS NEGOCIAIS COLETIVOS- CONVENÇÃO E ACORDO COLETIVOS 
DE TRABALHO ......................................................................................................... . 
1. Convenção e Acordo Coletivos de Trabalho: definição .................................... . 
2. Convenção e Acordo Coletivos de Trabalho: distinções .................................. . 
IV. CONVENÇÃO E ACORDO COLETIVOS DE TRABALHO- ASPECTOS CARAC-
TERÍSTICOS ............................................................................................................. . 
1. CCT e ACT: normatização aplicável. ................................................................... . 
2. CCT e ACT: caracterização .................................................................................. . 
A) Legitimação ..................................................................................................... . 
a) Centrais sindicais ...................................................................................... . 
b) Entes estatais ............................................................................................ . 
B) Conteúdo ......................................................................................................... . 
C) Forma .............................................................................................................. . 
D) Vigência ........................................................................................................... . 
E) Duração ........................................................................................................... . 
F) Prorrogação, Revisão, Denúncia, Revogação, Extensão ........................... .. 
V. DIPLOMAS NEGOCIAIS COLETIVOS- CONTRATO COLETIVO DE TRABALHO .. 
1. Denominação: dubiedades ................................................................................. . 
2. Caracterização ..................................................................................................... . 
VI. DIPLOMAS NEGOCIAIS COLETIVOS: EFEITOS JURÍDICOS .............................. .. 
1. Regras Coletivas Negociadas e Regras Estatais: hierarquia ......................... . 
A) Hierarquia Normativa: teoria geral ............................................................... .. 
B) Hierarquia Normativa: especificidade justrabalhista ................................. .. 
Acumulação Versus Conglobamento .......................................................... .. 
2. Regras de Convenção e Acordo Coletivos: hierarquia .................................... .. 
3. Regras Negociais Coletivas e Contrato de Trabalho: relações ..................... .. 
Vil. NEGOCIAÇÃO COLETIVA- POSSIBILIDADES E LIMITES 
VIII. DIPLOMAS COLETIVOS NEGOCIADOS: NATUREZA JURÍDICA ...................... . 
1. Teorias Explicativas Tradicionais ................................................................... .. 
2. Contrato Social Normativo .............. .. 
1387 
1389 
1390 
1390 
1390 
1391 
1392 
1393 
1394 
1396 
1396 
1397 
1399 
1400 
1400 
1400 
1401 
1402 
1403 
1404 
1404 
1405 
1405 
1406 
1407 
1407 
1408 
1408 
1410 
1412 
1413 
1415 
1417 
1418 
1419 
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CuRso DE DIREITO oo TRABALHO 45 
CAPÍTULO XXXVII 
A GREVE NO DIREITO COLEilVO 
1. INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 1420 
11. LOCAUTE .................................................................................................................... 1421 
1. Caracterização ........................................ ................................ .............................. 1421 
2. Distinções.............................................................................................................. 1422 
3. Regência Jurldica ................................................................................................. 1423 
4. Efeitos Jurldicos .................................................................................................... 1425 
UI. O INSTITUTO DA GREVE .......................................................................................... 1426 
1. Caracterização .................................................................................. .................... 1426 
A) Caráter Coletivo do Movimento....................................................................... 1426 
B) Sustação de Atividades Contratuais .............................................................. 1427 
C) Exercfcio Coercitivo Coletivo e Direto ·-~.......................................................... 1428 
D) Objetivos da Greve .......................................................................................... 1429 
E) Enquadramento Variável de seu Prazo de Duração .................................... 1430 
2. Distinções .......................................... ......................................... ...... ............. ........ 1431 
A) Figuras Próximas ou Associadas.................................................................. 1431 
B) Formas de Pressão Social ............................................................................. 1432 
C) Condutas lllciias de Pressão......................................................................... 14333. Extensão e Limites ............................................................................................... 1433 
A) Extensão do Direito ................................................................................. ::....... 1433 
B) Limitações ao Direito ...................................................................................... 1435 
4. Requisitos.............................................................................................................. 1437 
5. Direitos e Deveres dos Grevistas ........................................................................ 1437 
A) Direitos dos Grevistas ..................................................................................... 1438 
B) Deveres dos Grevistas ................... ..... ................................... ...... .... .... ........... 1438 
6. Uma Especificidade: greve e serviço público..................................................... 1439 
Eficácia de Regra Constitucional: permanência de um debate....................... 1440 
a) Vertente Tradicional.................................................................................... 1441 
b) Vertente Moderna ........................................................................................ 1442 
7. Greve: natureza jurfdica e fundamentos............................................................. 1445 
A) Natureza Jurldica ............................................................................................. 1445 
Outras Concepções ........ ..... ............... .. ......... ....... .... ................ .......... ...... ...... 144 7 
B) Fundamentos................................................................................................... 1449 
8. Greve: retrospectiva histórico-jurfdica ................................................................. 1449 
9. Greve: competência judicial................................................................................. 1451 
CAPÍTULO XXXVIII 
ARBITRAGEM E MEDIAÇÃO NO DIREITO COLETIVO 
I. INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 1453 
11. MEIOS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS: AUTOTUTELA, AUTOCOMPOSIÇÃO, 
HETEROCOMPOSIÇÃO ......................................................................................... ... 1453 
1. Au1o1utela .............. ............................... ...................................... ............................ 1454 
2. Autocomposição ................................................................................................... 1455 
3. Heterocomposição ............................................................................................... 1455 
A) Enquadramento Jurldico: controvérsias........................................................ 1456 
B) Métodos Existentes ..................................... -................................................. 1457 
111. ARBITRAGEM NO DIREITO COLETIVO DO TRABALHO ........................................ 1459 
1. Distinções Relevantes.......................................................................................... 1459 
2. Tipos de Arbitragem.............................................................................................. 1460 
3. Arbitragem no Direito Individual do Trabalho...................................................... 1462 
4. Arbitragem no Direito Coletivo do Trabalho ............................................ ............ 1464 
IV. MEDIAÇÃO NO DIREITO COLETIVO DO TRABALHO............................................. 1466 
Conflitos Coletivos do Trabalho: tipos de mediação............................................. 1466 
V. COMISSÕES DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA................................................................. 1467 
1. Enquadramento Jurldico ...................................................................................... 1468 
2. Dinâmica das Comissões de Conciliação Prévia ............................................. 1468 
BtBUOGRAFIA ............................................................ .. . ........ .......................................... 14 73 
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' 
1300 MAuArcro GoorNHO DeLGADO 
empregado e empregador, pela qual este é obrigado a efetuar os recolhi-
mentos mensais e, às vezes, também obrigado com respeito ao acréscimo 
pecuniário da rescisão. Em contrapartida, desponta nessa relação, como 
credor, o empregado<"'· 
Há, por outro lado, o vinculo jurfdieo entre empregador e Estado, em que 
o primeiro tem o dever de realizar os recolhimentos, ao passo que o segun-
do, o direito de os ver adimplidos, sob pena de, compulsoriamente, cobrá-los, 
com as apenações legais. 
Existe, ainda, a relação jurfdica entre o Estado, como gestor e aplicador 
dos recursos oriundos do fundo social constitufdo pela totalidade dos recur-
sos do FGTS, e a comunidade, que deve ser beneficiária da destinação social 
do instituto, por meio do financiamento às áreas de habitação popular, sanea-
mento básico e infraestrutura urbana. 
Nesse caráter multidimensional do instituto é que se revela sua precisa 
natureza jurídica<soJ. 
(49) Algumas vezes não se trata, tecnicamente, de relação empregatlcia, como ocorre lia 
caso do trabalhador avulso e do diretor que labora ·sem st.Jbordlnação. 
(50) Para análise da prescrição relativa ao FGTS, deve o leitor reportar-se ao Capftulo VIII, 
item V11.1.D do presente Curso ("Prescrição do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço"). 
LIVROIII 
DIREITO COLETIVO DO TRABALHO 
1304 MAuArcro GoorNHO DELGADO 
trumentos, dos sujeitos coletivos trabalhistas, especialmente os sindicatos, 
da greve, da mediação e da arbitragem coletivas, do dissídio coletivo. Além 
da necessidade desse estudo técnico, é preciso que se aprofundem as refle-
xões sobre o Direito Coletivo no Brasil, em face de seu reiterado ofuscamen-
to ao longo da evolução justrabalhis,ta no pais, desde o século XX. 
ft. DENOMINAÇÃO 
Este segmento justrabalhista tem recebido distintas denominações desde 
seu surgimento no século XIX. Hoje, disputam hegemonia dois epítetos, Di-
reito Coletivo do Trabalho e Direito Sindical, com certa concorrência, ainda, 
da expressão Direito Social. 
1. Denominações Arcaicas 
Há que se registrar, no estudo, a presença de certas denominações 
hoje consideradas arcaicas. Trata-se de epítetos que designaram, em épo-
cas mais remotas, o Direito do Trabalho em geral, embora também se refe-
rindo ao Direito Coletivo. São: Direito Industrial, Direito Operário e Direito 
Corporativo. Nenhuma delas, entretanto, mereceu permanecer no tempo, em 
face de suas próprias debilidades. 
O designativo Direito Industrial é, de fato, claramente inadequado para 
espelhar o objeto a que se pretende referir, seja todo o Direito do Trabalho, 
seja apenas seu segmento, Direito Coletivo. 
O epíteto foi influenciado pela circunstância de que o ramo justrabalhista 
surgiu, na Europa de século e meio atrás, efetivamente vinculado à dinâmica da 
crescente industrialização. Mas esse ponto de referência mostrava-se ina-
dequado para justificar a denominação escolhida, uma vez que ela era, sob 
certa ótica, rriuito mais ampla do que o fenômeno justrabalhista a que se 
queria reportar." De fato, na expressão Direito Industrial está sugerida a 
presença de regras, institutos e princfpios que não se circunscrevem 
propriamente à área justrabalhista, interessando também ao Direito Comer-
cial/Empresarial 'e Direito Econômico (por exemplo, invenções, patentes, re-
lações tecnológicas, etc.). É inadequado para designar, portanto, não só o 
Direito do Trabalho como seu segmento juscoletivo. 
Há uma segunda inadequação neste superado epfteto: ao mesmo tem-
po em que se mostra excessivamente amplo (sugerindo relações de Direito 
Econômico Óu Comercial/Empresarial), ele também se mostra,por outro lado, 
inábil a captar todó o universo de relações justrabalhistas, que se estabelecem, 
e se desenvolvem por muito além do estrito segmento industrial (ilustrativa-
mente, setores' de serviços e agropecuário). Ao fixar, desse modo, em um 
CURSO DE DIREITO DO TRABALHO 1305 
setor econômico (a indústria) o critério de escolha de sua denominação, o 
epfteto Direito Industrial lançou uma enganosa pista acerca do ramo jurfdico 
que pretendia identificar, comprometendo de modo definitivo a validade de 
sua própria existência, enquanto denominação desse universo jurfdico. 
A expressão Direito Operário tem história e destino semelhantes aos do 
epfteto anterior. Também influenciada pela circunstância de que o Direito 
do Trabalho, de fato, originalmente surgiu no segmento industrial, envolvendo, 
portanto, as relações entre operários e empregadores, este epfteto elegeu 
como critério para identificação do novo ramo jurfdico o tipo especffico de 
empregado da indústria, o operário. 
Ao Incorporar tal critério, esta segunda denominação também iria se 
mostrar inadequada à identificação do objeto a que pretendia se referir: de 
um lado, reduzia o fenômeno amplo e expansionista do Direito do Trabalho a 
seu exclusivo segmento original, o operariado (e logo, à indústria); de outro 
lado, enfocava preferentemente o novo ramo jurfdico a partir somente de um 
de seus sujeitos (o empregado operário), em vez de enfatizar a sua categoria 
nuclear, a relação jurfdica empregatícia. Por fim, a designação era incapaz de 
sugerir quase nada no tocante ao Direito Coletivo, propriamente. 
A expressão Direito Corporativo é também flagrantemente inadequada. 
Torno1.1-se corrente durante as experiências juspolfticas caracterfsticas dos 
modelos de normatização estatal e subordinada, em especial o fascismo 
italiano do entreguerras do século XX. Este epfleto, entretanto, construiu-se 
mais como instrumento de elogio ao tipo de modelo de gestão sociopolflica a 
que se afiliava do que, na verdade, subordinado a uma preocupação cientffica 
de identificar com precisão um objeto determinado. De todo modo, a ideia de 
corporação apenas dissimulava a relação sociojurfdica nuclear desenvolvida 
no estabelecimentp e na empresa (a re,lação de emprego), não traduzindo, 
portanto, com adequação, o aspecto cardeal do ramo jurídico especializado 
do Direito do Trabalho. Comprometido com o ideário e práticas autoritá-
rias do regime político a que servia, este epfteto eclipsou-se na cultura justra-
balhista tão logo expurgada a experiência autocrática fascista no findar da 
Segunda Guerra Mundial. 
_2. Denominações Atuais 
Conforme já exposto, as expressões Direito Coletivo do Trabalho e Di-
reito Sindical disputam, atualmente, hegemonia quantó à designação do seg-
mento juscoletivo trabalhista. A seu lado, insistindo na concorrência, existe 
também a expressão Direito Social. 
A) Direito Coletivo do Trabalho -Trata-se de denominação de caráter 
objetivista, realçando o conteúdo do segmento jurídico identificado: relações 
sciciojurfdicas grupais, coletivas, de labor. 
1306 MAURICIO GODINHO DELGADO 
As denominações objetivistas tendem a ser superiores, tecnicamente, 
às subjetivistas, por enfocarem a estrutura e as relações do ramo jurfdico a 
que se reportam, em vez de apenas indicar um de seus sujeitos atuantes. E 
é o que se passa no presente caso. O caráter objetivista do epfteto adotado já 
chama atenção para as relações cole~vas tratadas nesse segmento do Di-
reito, seja através da atuação sindical, seja através de outras modalidades de 
ação coletiva de relevância. 
B) Direito Sindical - A presente denominação tem caráter subjetivista, 
enfatizando um dos sujeitos do Direito Coletivo do Trabalho: o sindicato. 
Efetivamente, a presença das entidades sindicais, especialmente as 
obreiras, é determinante no cenário coletivo trabalhista, uma vez que tendem 
a consubstanciar a efetividade do ser coletivo obreiro no cenário social. Há 
sistemas jurídicos -como o brasileiro, a propósito- que até mesmo subor-
dinam a validade da negociação coletiva trabalhista à real participação no 
processo da entidade !;indicai dos trabalhadores. Esta circunstância, sem 
dúvida, reforça o apelo da denominação referida no sistema jurídico do pais. 
Contudo, do ponto de vista técnico, ela é menos abrangente do que a 
anterior, já que parece sugerir que o objeto do Direito Coletivo do Trabalho 
está inteiramente ligado às entidades sindicais- o que não é verdade. Há, 
por exemplo, sistemas jurfdicos que reconhecem a entidades coletivas não 
sindicais aptidão jurfdica para atos juscoletivos, sem desprezo da hegemo-
nia sindical!11. Além disso, há atos ou institutos coletivos trabalhistas que 
não passam, necessariamente, pelo sindicato: ilustrativamente, as gre-
ves selvagens, feitas contra ou sem a direção sindical; ou as entidades 
representativas internas a empresas, sem a participação sindical. 
De todo modo, pode-se encontrar na doutrina denominação mista, de-
corrente da reunião das duas expressões prevalecentes: Direito Sindical e 
Coletivo do Trabalho. Embora haja certa tautologia no epfteto misto, ele re-
preserta uma tentativa de superar o presente debate. 
C) Direito Social - A expressão Direito Social marca-se pela dubieda-
de. Designa, às vezes, não somente todo o Direito do Trabalho (individual e 
coletivo), como também seu ramo associado, ,Direito Previdenciário e AGi-
dentário do Trabalho. Pode ser utilizada também para se referir ao ramo jus-
coletivo trabalhista. 
Além disso, é epíteto que se usa, ainda, para designar ampla área jurfdica, 
formada por ramos autônomos, de forte conteúdo e impacto· comunitários, 
tais como Direito do Trabalho, Direito Ambiental e Direito do Consumidor. 
(1) Há entidades não necessariamente sindicais que podem. participar .de aspectos do 
processo negociai coletivo na Itália e Espanha. por exemplo. A respeito, consultar NAS· 
CIMENTO, Amauri Mascaro. Compêndio de Direito Sindical, 2. ed. São Paulo: LTr, jJ. 291-
292. Do mesmo autor, Iniciação ao Direito do Trabalho, 27. ed. São Paulo: LTr, 2001. p. 
506. 
CURSO DE DIREITO DO TRABALHO 
1307 
Há outra dubiedade apontada nesse epfteto: a circunstância de a ex-
pressão social, na essência, traduzir caracterfstica atávica a qualquer ramo 
jurfdico, não podendo, desse modo, identificar com singularidade apenas um 
deles. Ainda que se argumentasse que certos ramos têm um conteúdo social 
maior do que outros (o Direito do Trabalho em contraposição ao civilista 
Direito das Obrigações, por exemplo), não se poderia, em contrapartida, ne-
gar que tal característica não é exclusiva do ramo juslaboral, hoje. Observe-se 
que o conteúdo social do Direito do Consumidor ou do Direito Ambiental não 
é seguramente inferior àquele inerente ao Direito do Trabalho. 
Toda essa dubiedade compromete o próprio uso e funcionalidade da 
presente expressão. 
111. DEFINIÇÃO 
Definir um fenômeno consiste na atividade intelectual de apreender e 
desvelar seus elementos componentes e o nexo lógico que os mantém inte-
grados. 
Na busca da essência e elementos componentes dos distintos ramos 
do Direito, os juristas tendem a adotar enfoques diferenéiados: subjetivistas, 
objetivistas e mistos. · 
Nessa linha, as definições subjetivistas firmam seu enfoque nos sujeitos 
das relações jurídicas centrais do ramo definido. As definições objetivistas, por 
sua vez, enfatizam o conteúdo objetivo das relações jurfdicas tratadas por esse 
mesmo ramo do Direito. Finalmente, as definições mistas procuram combi-
nar os dois enfoques acima especificados. 
O jurista Cesarino Júnior oferta exemplo de definição subjetivista do 
Direito Coletivo do Trabalho: conjunto de leis sociais que consideram os 
empregados e empregadores coletivamente reunidos, principalmentena 
forma de entidades sindicaitf.'l. 
Esclareça-se que, à semelhança das denominações subjetivistas, que 
se referem à entidade sindical, também, aqui, a referência básica das defini-
ções subjetivistas será a essa entidade. 
{definição objetivista a· ofertada pelo jurista Amauri Mascaro Nasci-
mento: ramo do direito do trabalho que tem por objeto o estudo das normas e 
das relações jurfdicas que dão forma ao modelo sindical''. 
(2) Citado por NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Compêndio de Direito Sindical. São Paulo: LTr, 2000. p. 18. 
(3) NASCIMENTO, A. M., ob. cit., p. 19. 
1308 MAURICIO GOOINHO DELGADO 
A partir do critério misto, podemos, finalmente, definir Direito Coletivo do 
Trabalho como o complexo de institutos, princípios e regras jurídicas que 
regulam as relações laborais de empregados e empregadores e outros gru-
pos jurídicos normativamente especificados, considerada sua ação coletiva, 
realizada autonomamente ou através, das respectivas entidades sindicais. 
IV. CONTEÚDO 
Todo sistema consiste em um conjunto de partes coordenadas, que se 
articulam organicamente formando um todo unitário!•>. Não obstante formado 
por um complexo de partes componentes, qualifica-se todo sistema por ter 
uma categoria básica, que lança sua marca específica e distintiva ao conjun-
to do sistema correspondente. 
O Direito Individual do Trabalho tem na relação empregatícia, individual-
mente considerada (empregado e empregador), sua categoria básica. A partir 
dela constroem-se os ·institutos, princípios e regras essenciais desse ramo 
jurídico especializado, demarcando suas características próprias perante os 
demais ramos jurídicos correlatos. 
Já o Direito Coletivo Laboral tem nas relações grupais, coletivas, entre 
empregados e Eilmpregadores, sua categoria básica, seu ponto diferenciador. 
Tais relações formaram-se ·na história do capitalismo a partir do 
associacionismo sindical obreiro, desde o século XIX. Passando a agir através 
de entidades associativas, grupais, os empregados ganharam caráter de ser 
coletivo, podendo se contrapor com maior força e eficiência político-
-profissionais ao ser coletivo empresarial. A ideia de sujeito coletivo, ser 
coletivo, derivada das relações grupais estabelecidas nesse segmento 
justrabalhista, integra-se à categoria básica acima especificada. 
Conforme já exposto na obra Introdução ao Direito do Trabalhoi5>, no 
transcorrer do s.éculo XIX, perceberam os trabalhadores que um dos sujei-
tos da relação de emprego (o empregador) sempre foi um ser coletivo, 
isto é, ser cuja vontade era hábil a deflagrar ações e repercussões de 
impacto social, seja certamente no âmbito da comunidade do trabalho, seja 
eventualmente até mesmo no âmbito comunitário mais amplo. Isso porque 
a vontade empresarial, ao se concretizar em ação, atinge um universo 
bastante amplo de pessoas no conjunto social em que atua. Em compa-
ração a ela, a vontade obreira, enquanto manif~~tação meramente individual, 
não tem a natural aptidão para produzir efeitos além do âmbito restrito da 
própria relação bilateral pactuada entre empregador e empregado. Ralem-
(4) Caldas Aulete conceitua sistema como um conjunto de partes coordenadas entre si. Dicio-
nário Contemporilneo de Lfngua Portuguesa, 5. ed. Rio de Janeiro: De~a. 1986. p. 1793. 
(5} DELGADO, M. G. Introdução ao Direito do Trabalho, 3. ed. São Paulo: LTr, 2001, em seu 
Capitulo l, item 1.3. 
CURSO DE DIREITO DO TRABALHO 1309 
bre-se que o Direito Civil, à época, antes do advento do ramo justrabalhis-
ta, tratava os dois sujeitos da relação de emprego como seres individuais, 
ocultando, em sua equação formalística, a essencial qualificação de ser 
coletivo detida naturalmente pelo empregador. 
O movimento sindical, desse modo, desvelou como equívoca a equa-
ção do liberalismo individualista, que conferia validade social à ação do ser 
coletivo empresarial, mas negava impacto maior à ação do trabalhador indivi-
dualmente considerado. Nessa linha, contrapôs ao ser coletivo empresarial 
também a ação do ser coletivo obreiro. Os trabalhadores passaram a agir 
coletivamente, emergindo na arena polltica e jurídica como vontade coletiva 
(e não mera vontade individual)l•>. A dinâmica de atuação grupal, caracterizada 
por embates envolvendo grupos sociais, que marca o Direito Coletivo do 
Trabalho, surgiu, portanto, em torno do ser coletivo obreiro, do sindicato. 
O conteúdo do Direito Coletivo do Trabalho molda-se, é claro, a partir 
dessa sua característica sistemática específica, guardada sempre sua 
relação fundamental com o Direito Individual do Trabalho (afinal, os seres 
coletivos envolvidos são trabalhistas, e a matéria por eles tratada, da mesma 
natureza). Assim, será na regência jurídica das relações coletivas trabalhistas, 
assim como na produção jurídica por elas construída - produção oriunda, 
em geral, da negociação coletiva-, que se estruturará o conteúdo do ramo 
juscoletivo. 
O conteúdo do Direito Coletivo do Trabalho é, pois, dado pelos princfpios, 
regras e institutos que regem a existência e desenvolvimento das entidades 
coletivas trabalhistas, inclusive suas inter-relações, além das regras jurfdicas tra-
balhistas criadas em decorrência de tais vfnculos. São os princípios e nor-
mas regulatórios dos sindicatos, da negociação coletiva, da greve, do dissídio 
coletivo, da mediação e arbitragem coletivas, ao lado dos dispositivos criados 
pela negociação coletiva e dissídios coletivos, por exemplo. 
É claro que estas últimas regras, criadas pela própria dinâmica juscoletiva 
(negociação coletiva e sentença normativa, principalmente), irão se dirigir à 
regulação dos contratos individuais de trabalho submetidos à representação 
das respectivas entidades associativas; nessa medida, passarão a se integrar, 
sem dúvida, ao Direito Individual do Trabalho. Por tal razão é que se mostra 
tênue, efetivamente, a linha separatória entre os dois segmentos 
justrabalhistas, individual e coletivo. 
V. FUNÇÃO 
As funções do Direito Coletivo do Trabalho podem ser divididas em dois 
grandes grupos: gerais e específicas. As primeiras envolvem os objetivos 
(6) DELGADO, M. G., loc. cit. 
1310 
MAURICIO GODINHO DELGADO 
inerentes a todo o Direito do Trabalho (Individual e Coletivo), ao passo que as 
segundas dizem respeito àquelas funções que despontam no segmento jus-
coletivo de modo particularizado. 
1. Funções Justrabalhistas Gerais 
O Direito Coletivo do Trabalho cumpre as mesmas funções gerais típi-
cas a todo o ramo justrabalhista. Neste aspecto, enquadra-se, plenamente, 
no estuário próprio ao Direito do Trabalho. 
O Direito, como se sabe, é necessariamente .finalístico, teleológico, 
atendendo a fins preestabelecidos em determinado contexto histórico. 
O Direito do Trabalho e seu segmento juscoletivo não escapam a isso; 
ao contrário, levam a certo clfmax esse caráter teleológico que caracteriza o 
fenômeno do Direito. Conforme já dissertado na obra Introdução ao Direito do 
TrabalhofJJ, o ramo justrabalhista incorpora, no conjunto de suas regras, prin-
cípios e institutos, um valor finalístico essencial, que marca a direção de todo 
o sistema jurídico que compõe. Este valor - e a consequente direção tele-
ológica imprimida a este ramo jurídico especializado- consiste na melhoria das 
condições de pactuação da força de trabalho na ordem socioeconômica. Sem 
tal valor e direção finalística, o Direito do Trabalho sequer se compreenderia, 
historicamente, e sequer se justificaria, socialmente, deixando, pois, de cum-
prir sua função principal na sociedade contemporânea. 
A força desse valor e direção finalísticos está clara no núcleo basilar de 
princípios especfficos do Direito do Trabalho, tornando excetivas normas "jus-
trabalhistas vocacionadas a imprimir padrão restritivo de pactuação das rela-ções empregatíciasl81. 
Essa função central do Direito do Trabalho .(melhoria das condições de 
pactuação da força de trabalho na ordem socioeconômica) não pode ser 
apreendida sob uma ótica meramente individualista, enfocando o trabalha-
dor isolado. Como é próprio ao Direito - e fundamentalmente ao Direito do 
Trabalho, em que o ser coletivo prepondera sobre o ser individual-, a lógica 
básica do sistema jurídico deve ser captada tomando-se o conjunto de situa-
ções envolvidas, jamais uma fração isolada. Assim, deve-se considerar, no 
exame do cumprimento da função justrabalhista, o ser coletivo obreiro, a 
(7) DELGADO, M. G. Introdução ao Direito do Trabalho, 3. ed. São Paulo: L Tr, 2001, em seu 
Capftulo 111, item 11.4. As presentes reflexões, antes do ingresso no debate sobre o Direito 
Coletivo do Trabalho, reportam-se à referida obra, dispensadas repetidas citações. 
(8) Sobre o núcleo basilar de princípios especiais justrabalhistas, consultar o Capftulo 11 
da obra deste autor, Princfpios de Direito Individual e Coletivo do Trabalho. São Paulo: L Tr, 
2001 (na 3' ed., de 2010, consultar Capítulo 111). Neste Curso, reportar-se a seu Capitulo VI. 
CURSO DE DIREITO DO TRABALHO 1311 
categoria, o universo mais global de trabalhadores, independentemente dos 
estritos efeitos sobre o ser inqividual destacado. 
Uma segunda função notável do Direito do Trabalho é seu caráter moder-
nizante e progressista, do ponto de vista econômico e social. Nas formações 
socioeconômicas centrais, a legislação trabalhista, desde seu nascimento, 
cumpriu o relevante papel de generalizar ao conjunto do mercado de trabalho 
aquelas condutas e direitos alcançados pelos trabalhadores nos segmentos 
mais avançados da economia, impondo, desse modo, a partir do setor mais 
moderno e dinâmico da economia, condições mais modernas, ágeis e civiliza-
das de gestão da força de trabalhoi91. É verdade que esse caráter progressista 
não se percebe com tanta clareza no caso brasileiro, em face da conformação 
retrógrada e contraditória do modelo trabalhista brasileiro, notadamente seu 
Direito Coletivo do Trabalhoi101. Não obstante, tal caráter progressista e moder-
nizante mantém-se como luminar para o aperfeiçoamento legislàtivo no país 
(dirigido> pois, ao legislador) e como luminar para o próprio processo de inter-
pretação das normas justrabalhistas existentes, adequando-as à evolução so-
cial ocorrida (dirigido, pois, ao intérprete e aplicador do Direito). 
Pondere-se, contudo, que, mesmo no caso brasileiro - ao menos no 
plano do Direito Individual do Trabalho, regulatório do contrato de emprego-, a 
ordem justrabalhista e_merge como importante instrumento civilizatório no que 
tange à utilização da força de trabalho no mercado laborativo do pafs. Em 
conformidade com diagnóstico exposto por uma das maiores autoridades 
brasileiras acerca da equação emprego/desemprego e demais aspectos 
econômicos do mercade de trabalho, o economista Mareio Pochmann, no 
contexto de abrangente análise sobre a estrutura e funcionamento do mundo 
laborativo no Brasil, cabe "se reconhecer que o emprego assalariado formal 
representa o que de melhor o capitalismo brasileiro tem constituído para a 
sua classe trabalhadora, pois vem acompanhado de um conjunto de normas 
de proteção social e trabalhista ... "!11 1. 
(9) Sobre o caráter modernizante e progressista do Direito do Trabalho, quer do ponto de 
vista econômico, quer do ponto de vista social, e mesmo sob a ótica polftica, ver DELGA~ 
DO, Mauricio Godinho. Democracia e Justiça. São Paulo: LTr, 1993, especialmente o capi-
tulo Direito do Trabalho e Progresso Social: contradições da ordem jurídica brasileira. 
(10) Sobre a crítica do modelo trabalhista brasileiro, consultar o Capitulo 11 da obra deste autor, 
lntrodução.ao Direflo do Trabalho, 3. ed. São Paulo: LTr, 2001. Neste Curso, consultar o Capitulo 
IV. Ver ainda deste mesmo autor o livro uCapitalismo, Trabalho e Emprego- entre o paradigma 
da destruição e os caminhos de reconstrução". São Paulo: LTr, 2006. 
(11) POCHMANN, Mareio. O Emprego na Globalização- a nova divisão internacional do 
trabalho e os caminhos que o Brasil escolheu. 1. ed./1. reimpr., São Paulo: Boitempo, 2002. 
p. 98. Para maior exame a respeito das dificuldades relacionadas à efetividade do Direito 
Individual do Trabalho no país, consultar o final do nem "V- FUNÇÕES" do Capitulo I deste Curso. 
, 
1312 MAuRrcro GoorNHO DELGADO 
Retomando-se as funções do Direito do Trabalho, seria ingenuidade 
negar-se não tenha esse ramo jurldico, também e concomitantemente, uma 
função conservadora, à medida que confere legitimidade política e cultural à 
relação de produção básica da sociedade contemporânea. O reconhecimento 
dessa função, entretanto, não invalid<l[o diagnóstico de que a normatividade 
auttinoma e heterônoma justrabalhista é que assegurou, ao longo dos dois 
últimos séculos, a elevação do padrão de gestão das relações empregatfcias 
existentes e do próprio nível econômico conferido à retribuição paga aos 
trabalhadores por sua inserção no processo produtivo. 
Extensão ao Direito Coletivo -Tais funções próprias ao Direito do Tra· 
balho, em geral, aplicam-se ao segmento juscolelivo? Seguramente, sim. 
A função justrabalhista central, consistente na melhoria das condições 
de pactuaçãó da torça de trabalho na ordem socioeconômica, comparece, 
indubitavelmente, ao Direito Coletivo. Insista-se que a desatenção, como 
um todo, a essa função primeira suprime a própria justificativa histórica de 
existência e vida de todo o segmento jurídico trabalhista., 
Não existe, desse modo, particularidade tamanha no ramo juscoletivo 
que lhe permita, ainda que através da negociação coletiva, romper, drastica· 
mente, com o núcleo basilar de princfpios do Direito do Trabalho e com o 
patamar civilizatório mfnimo fixado pela ordem jurldica heterôn<ima estatal. 
É claro que ao Direito Coletivo cabe certa função de adequação setorial 
da generalidade de determinadas regras justrabalhistas. Cabe-lhe, inclusive, 
a função de pacificação de controvérsias reais de caráter comunitário, atas· 
!ando a res dubia existente, através de efetiva transação coletiva, em que se 
concedem, reciprocamente, vantagens às partes coletivamente representadas. 
Mas isso não transforma o ramo juscoletivo em um perverso instrumentei 
de destruição dos princípios, regras e institutos fundamentais do Diteito do 
Trabalho, em conjuntura de refluxo e debilitação do movimento sindical. 
Há limites, portanto, é óbvio, à adequação efetivada pela negociação 
coletiva. Apenas o respeito a esses limites é que· permite preservar a harmo· 
nia entre os planos juscoletivos e jusindividuais do Direito do Trabalho. 
Taisliriiiies têm balizas naquilo que denominamos princípio da adequa· 
ção setorial negociada!••>. 
(12) Princfpio examinado nas obras deste autor, já citadas, Introdução ao Direito do Traba-
lho, em seu Capftulo V, e Principias de Direito Individual e Coletivo db Trabalho, em seu 
Capflulo IV (na 2' edição desta obra, Capitulo V). Será retomado seu estudo também neste 
Curso, no Caprtu/o XXXIV, que trata dos princ(pios do Direito Coletivo do Trabalho. O texto 
ora exposto reporta-se a tais fontes mencionadas. 
CURSO DE DIREITO DO TRABALHO 1313 
Por esse principio, as regras autônomas juscoletivas podem prevalecer 
sobre o padrão geral heterônomo justrabalhista, quanto à comunidade profis· 
sional e econômica envolvida, desde que implementem padrão setorial de 
direitos superior ao padrão geral oriundo da legislação heterônoma aplicável, 
ou desde que transacionem setorialmente parcelas justrabalhistas de indis-
ponibilidade apenas relativa (e não de indisponibilidade absoluta). 
No primeiro caso, as regras autônomas elevam o patamar setorial de 
direitos trabalhistas, em comparação como padrão geral imperativo existen-
te, não afrontando sequer, desse modo, o principio da indisponibilidade de 
direitos, que é inerente ao Direito Individual do Trabalho. 
No segundo caso, o princípio da indisponibilidade de direitos é afrontado, 
mas de modo a atingir somente parcelas de indisponibilidade relativa. Estas 
assim se qualificam, quer pela natureza própria à parcela (ilustrativamente, 
modalidade de pagamento salarial, tipo de jornada pactuada, fornecimento ou 
não de utilidades e suas repercussões no contrato, etc.), quer pela existência de 
expresso permissivo jurídico heterônomo a seu respeito (por exemplo, montante 
salarial: art. 7º, VI, CF/88; ou montante de jornada: art. 7º, XIII e XIV, CF/88). 
Isso quer dizer que não prevalece a adequação setorial negociada se 
concernente a direitos revestidos de indisponibilidade absoluta, os quais não 
podem ser transacionados nem mesmo por negociação sindical coletiva. Tais 
parcelas são aquelas imantadas por uma tutela de interesse público, por se 
constituírem em um patamar civilizatório mínimo que a sociedade democrática 
não concebe ver reduzido !lm qualquer segmento econômico-profissional, sob 
pena de se afrontarem a própria dignidade da pessoa humana e a valorização 
mínima deferível ao trabalho (arts. 12, 111 e 170, caput, CF/88). Expressam, ilus· 
trativamente, essas parcelas de indisponibilidade absoluta a anotação de CTPS, 
o pagamento do salário mínimo, as normas de saúde e segurança do trabalho. 
Conforme já reiteradamente exposto, no caso brasileiro, esse patamar 
civilizatório mfnimo está dado, essencialmente, por três grupos convergen· 
tes de normas trabalhistas heterônotnas: as normas constitucionais em 
geral (respeitadas, é claro, as ressalvas parciais expressamente feitas 
pela própria Constituição: art. 7°, VI, XIII e XIV, por exemplo); as normas 
de tratados e convenções internacionais vigorantes no plano interno bra-
sileiro (referidas pelo art. 52, §§ 2º e 3º, CF/88, já expressando um patamar 
civilizatório no próprio mundo ocidental em que se integra o Brasil); as 
normas legais infraconstitucionais que asseguram patamares de cida-
dania ao indivíduo que labora (preceitos relativos à saúde e segurança 
no trabalho, normas concernentes a bases salariais mínimas, normas de 
identificação profissional, dispositivos antidiscriminatórios, etc.).l"i 
(13) Para mais largo exame do tema, consultar o Caprtulo XXXIV, que analisa os princrplos 
do Direito Coletivo do Trabalho, constante deste Curso de Direito do Trabalho. 
1314 MAURICIO GODINHO DELGADO 
2. Funções Juscoletlvas Especfflcas 
O Direito Coletivo do Trabalho cumpre, também, certas funções que lhe 
são específicas, oriundas de suas características distintivas e próprias. 
Podem ser elas arroladas no seiJuinte grupo de funções: geração de 
normas jurídicas; pacificação de conflitos de natureza sociocoletiva; função 
sociopolftica; função econômica. 
A geração de normas Jurídicas é o marco distintivo do Direito Coletivo do 
Trabalho em todo o universo jurídico. Trata-se de um dos poucos segmentos 
do Direito que possuem, em seu interior, essa aptidão, esse poder, que desde 
a Idade Moderna tende a se concentrar no Estado. A geração de regras 
jurídicas, que se distanciam em qualidades e poderes das meras cláusulas 
obrigacionais, dirigindo-se a normatizar os contratos de trabalho das res-
pectivas bases representadas na negociação coletiva, é um marco de afirmação 
do segmento juscoletivd, que confere a ele papel econômico~social e político 
muito relevante na sociedade democrática. 
Ao lado da criação de normas, também gera o Direito Coletivo, através 
da negociação coletiva, cláusulas obrigacionais, que irão dirigir-se essencialment~ 
aos sujettos da própria negociação efetivada e não ao universo de trabalhadores 
geridos pelos instrumentos coletivos. Contudo, a criação de cláusulas obriga-
cionais não é particularidade do segmento juscoletivo; ao revés, quase todos 
os ramos do Direito têm essa mesma característica: viabilizar a origem de 
contratos entre sujeitos específicos, com seus correspondenies dispositivos 
obrigacionais, regulando, em alguma medida, tais contratos. 
Outra função específica notável é a pacificação de conflitos de natureza 
sociocoletiva. Os diversos instrumentos do Direito Coletivo do Trabalho são 
meios de solução de importantes conflitos sociais, que são aqueles que sur-
gem em tomo da relação de emprego, ganhando projeção grupal, coletiva. 
É evidente que a negociação coletiva, enquanto instrumento de autocom-
posição, constitui-se no mais relevante desses instrumentos pacificatórios. 
Entretanto, o Direito Coletivo apresenta outros meios de solução de conflitos, 
de significação diferenciada, é claro, mas que, em seu conjunto, cumprem a 
função pacificatória referida. Trata-se, por exemplo, da arbitragem e da media-
ção trabalhistas, do dissídio coletivo e sua sentença normativa, das comissões 
ou delegados intraempresariais de solução de conflitos (que não são comuns, 
é verdade, na tradição brasileira, mas célebres em outras experiências mais 
democráticas, como Itália, Inglaterra, Alemanha etc.). 
O Direito Coletivo do Trabalho cumpre função social e polftica de grande 
importância. Ele é um dos mais relevantes instrumentos de democratização de 
poder, no âmbtto social, existente nas modernas sociedades democráticas -
desde que estruturado de modo também democrático, é claro. Assim como 
CURSO DE DIREITO DO TRABALHO 1315 
o Direito Individual do Trabalho é um dos mais clássicos e eficazes 
instrumentos de distribuição de riqueza, no plano da sociedade, criados no 
sistema capitalista, o Direito Coletivo do Trabalho é um dos mais significativos 
instrumentos de democratização social gerados na história desse mesmo 
sistema socioeconômico. 
Conforme exposto mais à frente, no Capitulo XXXVI deste Curso, em 
seu item 11, Importância da Negociação Coletiva, a estruturação eficaz, dinâ-
mica, forte, participativa, do Diretto Coletivo do Trabalho tende a Influir na própria 
caracterização democrática do conjunto societário. Ao reverso, a estrutura-
ção corporativista e autoritária do segmento juscoletivo tende a coincidir com 
regimes autoritários em todo o âmbito sociopolítico (nazismo, fascismo, 
autoritarismos espanhóis, portugueses e brasileiros do século XX, etc.). 
Mesmo quando instauradas as liberdades democráticas formais, caso não 
sejam acompanhadas de um Direito Coletivo igualmente democrático, cria-se 
uma contradição político-cultural insustentável no plano da sociedade, que 
restringe, de modo significativo, a própria consolidação da Democracia na-
quela experiência social (note-se o caso brasileiro, que insistiu com o modelo 
corporativista autoritário de Direito Coletivo, mesmo após derrubada a dita-
dura estadonovista em 1945). 
O Direito Coletivo cumpre, ainda, importante papel econômico, consisten-
te em sua aptidão para produzir a adequação às particularidades regionais ou 
históricas de regras de indisponibilidade apenas relativa características do 
Direito Individual do Trabalho. Com a negociação coletiva, esse segmento 
ajusta vários aspectos próprios à generalidade das leis trabalhistas a setores 
ou momentos específicos vivenciados no mercado laborativo. Nesse quadro, 
ele confere dinamismo econômico ao próprio Direito do Trabalhol14>. 
VI. CONFLITOS COLETIVOS DE TRABALHO E SUA RESOLUÇÃO 
O Direito Coletivo do Trabalho estrutura-se em torno dos seres coletivos 
trabalhistas, atuando na resolução dos conflitos coletivos no âmbito das rela-
ções laborais. 
Esses conflitos podem ser, basicamente, de caráter jurídico ou de 
caráter econômico. 
Os tipos de mecanismos para sua resolução concentram-se, essenci-
almente, em fórmulas de autocomposição e heterocomposição, em meio às 
quais, eventualmente,podem ser utilizadas técnicas de autotutela, comÇ>Jl 
greve, por exemplo. 
(14) O jurista Amauri Mascaro Nascimento prefere arrolar várias dessas caracterrsticas 
que consideramos especfficas ao Direito Coletivo do Trabalho como Inerentes a um ·único 
instituto seu, a negociação coletiva trabalhista. Compêndio de Direito do TrabalhO, 2. ed. 
São Paulo: LTr. p. 308·310. 
1316 
MAURICIO GODINHO DELGADO 
1. Modalidades de Conflitos Coletivos 
São conflitos coletivos trabalhistas aqueles que atingem comunidades 
específicas de trabalhadores e empregadores ou tomadores de serviços. quer 
no âmbito restrito do estabelecimento ou empresa, quer em âmbito mais largo, 
envolvendo a categoria ou, até mesmo, éomunidade obreira mais amplal"l. 
São distintos dos conflitos meramente interindividuais, que colocam 
em confronto as partes contratuais trabalhistas isoladamente considera-
das (empregado e empregador). Os conflitos interindividuais tendem a 
abranger aspectos específicos do contrato bilateral entre as partes ou 
condições específicas da prestação de serviços pelo obreiro, sem que 
alcancem, regra geral, projeção no seio da comunidade c~cundante, em-
presarial e de trabalhadores. É claro que a repetição constante de idênticos 
ou semelhantes problemas individuais pode assumir dimensão grupal, 
dando origem, às vezes, a um conflito coletivo trabalhista. 
Os conflitos coletivos trabalhistas comportam dois grandes tipos, como 
visto: os de caráter jurídico e os de caráter econômico. 
Os conflitos de natureza jurídica dizem respeito a divergência de inter-
pretação sobre regras ou princípios jurídicos já existentes, quer incrustados, 
ou não em diplomas coletivos negociados. A interpretação divergente, é cla-
ro, repercute de modo diferenciado nas relações grupais entre trabalhadores 
e empregadores. 
No caso dos conflitos de natureza econômica, trata-se de divergência 
acerca de condições objetivas que envolvem o ambiente laborativo e contra-
tos de trabalho, com repercussões de evidente fundo material. Aqui, a diver-
gência abrange reivindicações econômico-profissionais dos trabalhadores, 
ou pleitos empresariais perante aqueles, visando alterar condições existen-
tes na respectiva empresa ou categoria. São também chamados de conflitos . 
de interesse, uma vez que os trabalhadores reivindicam novas e melhores 
condições de trabalhd"l. 
2. Modalidades de Resolução de Conflitos Coletivos 
Os conflitos coletivos trabalhistas solucionam-se, regra geral, segundo 
dois grandes tipos de fórmulas: as autocompositivas e as heterocompositivas. 
A autocomposição ocorre quando as partes coletivas contrapostas 
ajustam suas divergências de modo autônomo, diretamente, por força e 
atuação próprias, celebrando documento pacificatório, que é o diploma 
coletivo negociado. Trata-se, pois, da negociação coletiva trabalhista. 
(15) No sistema jurfdico brasileiro, contudo, a categoria tende a ser a unidade mais ampla 
de agregação cte trabalhadores, para os fins dos conflitos coletivos laborais. 
(16) NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Compéndio de Direito Sindical, 2. ed. São Paulo: LTr, 
2000. p. 254. . 
CURSO DE DIREITO DO T RASA LHO 1317 
A fórmula autocompositiva da negociação trabalhista pode receber 
certos impulsos ou estímulos, caracterizados por mecanismos de autotu-
tela, como a greve, ou próximos à heterocomposição, como a mediação. 
Entretanto, a presença desses diferentes mecanismos não desnatura a 
autocomposição realizada, que se celebra autonomamente pelas partes, ainda 
que sob certa pressão social verificada ao longo da dinâmica negociai. 
A heterocomposição ocorre quando as partes coletivas contrapostas, 
não conseguindo ajustar, autonomamente, suas divergências, entregam a 
um terceiro o encargo da resolução do conflito; ocorre também a hetero-
composição quando as partes não conseguem impedir, com seu impasse, 
que o terceiro intervenha (casos próprios a dissídios coletivos). São 
fórmulas heterocompositivas a arbitragem e o processo judicial próprio 
ao sistema trabalhista brasileiro, chamado dissídio coletivo. 
Também aqui é comum surgir a presença de técnicas de autotutela (gre-
ve) ou próximas à heterocomposição (mediação), no contexto da resolução 
conflitual via arbitragem ou dissídio coletivo. Anote-se, ainda, que tem sido muito 
comum a composição das partes no desenrolar do processo heterocompositi-
vo, celebrando, antes de seu final, a negociação coletiva trabalhista. 
Registre-se que seria possível indicar-se neste estudo, é claro, a pre-
sença de um terceiro grupo de fórmulas de resolução de conflitos coletivos 
trabalhistas: a autotutela. Seriam seus exemplos a greve e o locaute (este, 
em geral, proibido pelo Direito). 
Contudo, do ponto de vista prático, este terceiro grupo (principalmente 
a greve, uma vez que o locaute tende a ser vedado) atua mais comumente como 
instrumento para pressionar o encontro de uma solução favorável para o 
conflito através de algumas das duas fórmulas dominantes, e não como 
meio próprio de resolução desse conflito coletivo. 
No presente Curso serão estudados diversos desses mecanismos de 
solução de conflitos coletivos e técnicas correlatas: negociação coletiva 
trabalhista e seus diplomas característicos (Capítulo XXXVI); arbitragem e 
mediação (Capítulo XXXVIII); greve e Jocaute (Capítulo XXXVII). Apenas não 
será objeto de estudo particularizado, em capítulo próprio, a fórmula hetero-
compositiva de natureza eminentemente processual, que consiste no pro-
cesso judicial de dissídio coletivo e sua sentença normativa. 
Uma Fórmula Controvertida: dissídio coletivo - A presente fórmula 
de resolução de conflitos coletivos trabalhistas corresponde a figura qyase 
singular ao Direito do Trabalho brasileiro, nos dias atuais. 
Este instituto, regra geral, mostrou-se restrito a países cujas ordens justra-
balhistas tiveram formação doutrinária e legal autoritárias, de inspiração organi-
cista ou corporativista, como próprio às experiências autocráticas de na\Í.Jreza 
fascista de primeira metade do sécuio XX, na Europa. Suplantadas. aquelas ex-
periências no continente europeu, a fórmula judicial de solução de conflitos .co!e-
tivos trabalhistas tendeu a ser extirpada das respectivas ordensju[ídicas. 
"'1. ,,I 
1318 MAURICIO GODINHO DELGADO 
Naturalmente que há referências à presença de semelhante poder nor-
mativo em experiências longínquas da Oceania (Austrália e Nova Zelândia), 
desde fins do século XIX até o desenrolar do século XX. Contudo, essa peculiar 
e distante circunstância não é hábil a desfazer a singularidade do instituto no 
próprio Direito Comparado. 
I 
No Brasil, porém, embora criada no autoritarismo das décadas de 1930 
e 1940, a fórmula do dissfdio coletivo permaneceu durante todo o perfodo 
posterior, inclusive com a Constituição de 1988. 
Note-se que a atribuição constitucional deferida ao Poder Judiciário de 
fixar regras jurfdicas, no âmbito das relações laborais - como ocorre nos 
processos de dissfdios coletivos e respectivas sentenças normativas-, não 
se contunde com a clássica atuação jurisprudencial. Nesta última atuação, o 
que se passa é uma dinâmica de reiteração, pelos tribunais, de julgados 
individuais em semelhante ou idêntica direção, no exercício de função típica 
e tradicional ao Judiciário. Já a sentença normativa, resultante do dissídio 
coletivo, insculpe um conjunto de regras gerais, abstratas, impessoais, obri-
gatórias, como resultado de um único e especifico processo posto a exame 
do tribunal trabalhista para aquele preciso e especificado fim, no exercício de 
função típica e tradicional do Poder Legislativo (e não do Judiciário). 
Tecnicamente, sentença é o ato pelo qual o juiz põe termo ao processo, 
decidindo ou não o mérito da causa (antiga redação do art. 162, § 22 , CPC). 
É,pois, decisão proferida pelo Poder Judiciário, no exercício da jurisdição, 
em face de questões concretas submetidas a seu julgamento. Prolatada em 
segunda instância, pelos tribunais, assume a denominação de acórdão. Se 
cotejada a esse parâmetro teórico, a sentença normativa aproximar-se-ia da 
sentença clássica, à medida que é proferida pelo Poder Judiciário trabalhista 
(Tribunais Regionais e Tribunal Superior do Trabalho), em processos de dissí-
dio coletivo, traduzindo exercício de poder decisório atribuído ao Estado. Dessa 
maneira, do ponto de vista formal (isto é, pelo modo de sua formação e exteriori-
zação), a sentença normativa classificar-se-ia como sentença. 
Distingue-se, entretanto, a sentença norm;:ttiva da sentença clássica, 
no que tange à sua substância, seu conteúdo. E que ela não traduz a apli-
cação de norma jurídica existente sobre relação Íático-juridica configurada 
(como verificado nas sentenças clássicas); não é, por isso, rigorosamente, 
exercício de poder jurisdicional. Ela, na verdade, expressa, ao contrário, a 
própria criação de regras jurfdicas gerais, abstratas, impessoais, obrigatórias, 
para incidência sobre relações ad futurum. Por essa razão, a sentença nor-
mativa, do ponto de vista material (isto é, substantivamente, sob a ótica de 
seu conteúdo), equipara-se à lei em sentido material. 
A sentença normativa, portanto, é ato-regra (Duguit), comando abstrato 
(Cameluttl), constituindo-se em ato judicial (aspecto formal) criador de regras 
gerais, impessoais, obrigatórias e abstratas (aspecto material). É lei em senti-
do material, embora se preserve como ato judicial, do ponto de vista de sua 
forma de produção e exteriorização. 
CURSO DE DIREITO DO TRABALHO 1319 
A lei brasileira determina que o tribunal prolator da sentença normativa 
fixe o prazo de sua vigência, o qual não poderá, entretanto, ser superior 
a quatro anos (art. 868, parágrafo único, CLT). A jurisprudência, por sua 
vez, tem definido que as condições de trabalho alcançadas por força de 
sentença normativa vigoram no prazo assinado, não integrando, de for-
ma definitiva, os contratos (Redação original da Súmula 277, TST).P'l 
A Constituição tem determinado a observância, nas sentenças normativas, 
do critério de incorporação das vantagens precedentes (" ... respeitadas as 
disposições convencionais e legais mfnimas de proteção ao trabalho" -
estipulava o texto original do art. 114, § 22, in fine, CF/88). Tal critério foi enfa-
tizado pela EC n. 45/2004 ("reforma do Judiciárid'), ao fazer constar no texto 
do § 22 do art. 114 do Texto Máximo o poder de a " ... Justiça do Trabalho 
decidir o conflito, respeitadas as disposições mínimas legais de proteção ao 
trabalho, bem como as convencionadas anteriormentE~' (grilos acrescidos). 
A figura da sentença normativa tem sido muito criticada, contemporanea-
mente, por traduzir fórmula de desmesurada intervenção do Estado na gestão 
coletiva dos conflitos trabalhistas. 
Incorporando, de certo modo, parcialmente, tais criticas, a Constituição 
de 1988, em sua origem, passou a viabilizar a propositura do dissídio coletivo 
somente após a recusa " ... de qualquer das partes à negociação ou à arbitra-
gem .. ." (art. 114, § 22, ab initio, CF/88). 
A EC n. 45/2004 aprofundou a incorporação de tais criticas ao singular 
instituto, criando restrição nova ao ajuizamento do dissídio coletivo de natureza 
econômica: havendo recusa de qualquer das partes à negociação coletiva ou 
à arbitragem, é-lhes facultado, de comum acordo, ajuizar a referida ação 
coletiva (art. 114, § 22 , ab initio, CF/88, conforme EC n. 45/2004). Com essa 
nova exigência à instauração da instância pelas partes - de dilicflimo cum-
(17) A partir de abril de 2008, a Seção de Dissfdios Coletivos do TST (SDC), especializada na 
análise de sentenças normativas, passou a decidir, relativamente a este prazo de vigência, 
que, no direito brastleiro, a sentença normatWa pode vigorar, desde seu termo inicial, até que 
novo diploma coletivo, judicial ou privado (sentença normativa, convenção coletiva de trabalho 
ou acordo coletivo de trabalho), produza sua revogação expressa ou tácita, respeftado, porém, 
o prazo máximo legal de quatro anos de vigência. Com isso admitiu certa uttratividade (relativa, 
evidentemente), respeitado o prazo máximo fixado no parágrafo único do art. 868 da CLT 
(nesta J[nha o acórdão n. TST-RODC-1439/2004-00Q-04-00.0. Sessão de 10.4.2008. DOU/DJ 
de 9.5.2008. Relator. Ministro Mauricio Godinho Delgado. Ao longo de 2008 e perrodo 
subsequente. diversos outros processos julgados na soe passaram a incorporar esse novo 
entendimento da Seção Especializada). Em maio de 2011, foi editado o Precedente Normativo 
120 da SDC, na mesma direção. Não obstante esse significativo ajuste herrnenêutico oriundo 
da SDC!TST, é preciso que fique claro ao leitor que o critério estrito lançado no texto da Súmula 
2n, em seu rigor original, ainda preserva sua notória influência interpretativa nos· tribunais 
brasileiros, inclusive no conjunto do Tribunal Superior (a propósitO, o novo critério he~enêutico 
adotado pela Seção de Dissfdios Coletivos ainda não foi absorvido no texto da citada súmula). 
A propósito do tema, ver nova redàção da Súmula 2n, em seu item I, que estende o critério 
original do verbete sumu/ar também aos instrumentos da negociação coletiva trabalhl.sta. 
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1320 MAURICIO GODINHO DELGADO 
primento, na prática-, diminuiu signHicativamente o papel do dissídio coletivo 
na ordem jurídica, social e econômica do país. Desse modo, a Constituição 
da República, dezesseis anos após 5 de outubro de 1988, pela EC n. 45/2004, 
remeteu, decididamente, à negociação coletiva o papel de geração de normas 
jurídicas coletivas trabalhistas no Brasil. 
VIl. O PROBLEMA DA AUTONOMIA DO DIREITO 
COLETIVO DO TRABALHO 
Um determinado conjunto de regras, princípios e institutos jurídicos 
assume caráter de ramo jurídico específico e próprio quando alcança autonomia 
perante os demais ramos do Direito que lhe sejam próximos ou contrapostos. 
Um determinado conjunto de proposições, métodos e enfoques de pesquisa 
sobre um universo de problemas assume o caráter de ramo de conhecimento 
específico e próprio quando também alcança autonomia perante os demais 
ramos de pesquisa e saber que lhe sejam correlatos ou contrapostos. 
Autonomia (do grego auto, próprio, e nomé, regra), no Direito, traduz a 
qualidade atingida por determinado ramo jurídico de ter enfoques, regras, te-
orias e condutas metodológicas próprias de estruturação e dinâmica. A con-
quista da autonomia confirma a maturidade alcançada pelo ramo jurídico, 
que se desgarra dos laços mais rígidos que o prendiam a ramo ou ramos 
próximos, sedimentando uma via própria de construção e desenvolvimento 
de seus componentes específicos. 
O debate sobre a autonomia do Direito Coletivo do Trabalho em contra-
ponto ao Direito Individual do Trabalho não cessou, embora claramente pre-
valeça o entendimento relativo à falta dessa autonomia. 
O jurista Amauri Mascaro Nascimento, por exemplo, nega a autonomia, 
considerado o quadro jurídico corrente. Mas menciona a possibilidade even-
tual de, no futuro, o ramo juscoletivo destacar-se do Direito do Trabalho, como 
ocorrido com o Direito Previdenciário<101. 
A posição negativista, em geral, arrola distintos argumentos: falta de identi-
dade legislativa (corpo normativo do Diretto Coletivo seria o mesmo do restante 
do Direito do Trabalho- vide CLT); falta de identidade doutrinária (o seg-
mento juscoletivo estaria inserido no conjunto doutrinário do Direito do Trabalho); 
ausência de identidade jurisdicional (não há ramo judiciáriopróprio a tratar das 
relações juscoletivas, senão o trabalhista); falta de autonomia didática (não cor-
responderia a disciplina cunricular própria nas Faculdades de Diretto); carência 
(1 B) NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Comp~ndio de Direito Sindical, 2. ed. São Paulo: L Tr, 
2000. p. 27. 
CURSO DE DIREITO DO TRABALHO 1321 
de instituições próprias, que sejam distintas das clássicas trabalhistas; por fim, 
carência de princípios próprios, distintos dos trabalhistas clássicos<191. 
Embora tais argumentos tenham certa consistência, são, indubitavel-
mente, passíveis de críticas. É que eles supõem uma concepção ex1remada 
de autonomia, como se se tratasse de ramo jurídico desgarrado e incomuni-
cável com o restante do Direito do Trabalho. Em vez disso, o que cabe aqui 
falar é em autonomia relativa, já que ambos os segmentos (Direito Individual e 
Direito Coletivo) lidam com idêntica matéria social, fulcrada essencialmente 
na relação de emprego. 
No que diz respetto à falta de identidade legislativa, não é relevante, dado 
que a CLT engloba distintos segmentos vinculados à área trabalhista, alguns 
claramente autônomos entre si: veja-se, a propósito, a presença naquele di-
ploma não só do Direito do Trabalho (em suas áreas individual e coletiva), 
mas também do Direito Processual do Trabalho. 
No que tange à falta de identidade doutrinária, ver-se-á, a seguir, que o 
segmento juscoletivo tem, ao contrário, razoável complexo de matérias es-
pecíficas, com teorias e métodos próprios, além de princípios próprios - o 
que lhe garante inegável identidade nesse campo. 
Quanto à falta de identidade jurisdicional, também não é relevante. Afinal, 
a Justiça Comum examina matérias dos mais diversos ramos do Direito, sem 
que isso comprometa a autonomia de cada um deles. Além disso, é conveni-
ente que a Justiça Especializada do Trabalho absorva a cognição e julgamento 
de todas as lides que envolvam matéria trabalhista (individual, coletiva ou até · 
mesmo conexa), em face das vantagens da especialização do conhecimento. 
A esse propósito, o argumento negativista é até mesmo incorreto, já que, 
lamentavelmente, no Brasil, lides intersindicais (próprias ao Direito Coletivo) 
tradicionalmente sempre foram examinadas pela Justiça Comum e não pela 
Trabalhista (este equívoco político, institucional e técnico-jurídico foi, por fim, 
corrigido pela EC n. 45/2004: novo art. 114, I, 11 e 111, CF/88). 
No que é concernente à falta de autonomia didática, o argumento está 
ultrapassado. Há, sim, na estrutura curricular das Faculdades de Direito mais 
modernas e bem organizadas, disciplinas específicas ao Direito Coletivo do 
Trabalho, tanto na graduação como, principalmente, na pós-graduação. O 
que ocorre, muitas vezes, no âmbito restrito da graduação é apenas a inser-
ção da matéria Direito Coletivo na segunda parte da disciplina Direito do Tra-
balho ll, .. em face do maior volume de temas do Direito Individual do Trabalho 
-sem prejuízo da inegável diferenciação entre os campos de estudo. 
(19) Amauri Mascaro Nascimento aponta quatro dimensões para o exame da autonomia 
de um ramo do Direito: legislativa, doutrinária, didática e jurisdicional. In Comp~ndio de 
Direito Sindical, 2. ed., cit., p. 30. 
1 
1322 MAURICIO GoDJNHO DELGADO 
Quanto à alegada carência de instituições próprias, o argumento é frágil. O 
Direito Coletivo apresenta instituições eminentemente especificas, como, por 
exemplo, sindicatos e comissões internas de atuação coletiva (menos comuns 
no Brasil, é verdade, em contraponto aos paises europeus ocidentais). E tem, 
ainda, institutos muito caracteristicos, como a greve e a sentença normativa. 
I 
Por fim, no que toca à ausência de princfpios próprios, a proposição é 
simplesmente incorreta. Conforme será estudado neste Curso, mais à fren-
te, o Direito Coletivo do Trabalho tem rol significativo de princípios especifi-
cas (Capítulo XXXIV). 
O Direito Coletivo atende, também, aos principais requisitos que o juris-
ta italiano Alfredo Rocco sintetizou, com rara felicidade, como inevitáveis su-
postos do alcance da autonomia de qualquer ramo examinado: a existência 
de um campo temático vasto e especffico; a elaboração de teorias próprias 
ao mesmo ramo; a observância de uma metodologia própria de construção e 
reprodução de sua estrutura e dinãmical20l. 
O campo temático do Direito Coletivo do Trabalho é, inegavelmente, vasto 
e especifico. Citem-se, para ilustração, os seguintes temas: sindicalismo, 
greve, negociação coletiva e seus institutos, representação obreira na em-
presa, sentença normativa. 
O Direito Coletivo tem teorias próprias, conforme bem demonstram os 
debates envolvendo as possibilidades e limites jurídicos da negociação cole-
tiva trabalhista. Ao lado disso, seus princípios específicos, enquanto proposi-
ções ideais conformadoras do Direito, são afirmações de elaboração teórica 
própria, no contexto do universo juridico. 
É inegável a presença de uma metodologia própria de construção e re-
produção da estrutura e dinâmica do Direito Coletivo. A negociação coletiva o 
evidencia, uma vez que se trata de excepcional metodologia de construção 
do próprio Direito do Trabalho. A seu lado, o instituto da greve, essencial ao 
Direito Coletivo, que traduz relevante instrumento de autocomposição de con-
flitos de interesses. 
Insista-se que não se está falando de uma autonomia que conduza ao 
isolamento do ramo juscoletivo em face do restante do Direito do Trabalho. 
Este, sem dúvida, forma um complexo especializado do Direito, composto 
de partes que têm regras e princípios próprios, mas que se interagem perma-
nentemente. A autonomia propugnada é relativa, portanto. Não há como se 
pensar o Direito Coletivo sem seu ramo associado, o Direito Individual, am' 
bos formando o complexo jurídico conhecido pelo epiteto simples de Direito 
do Trabalho. 
(20) ROCCO. Alfredo. Corso di Diritto Commerciale - parte generale. Padova: Utotipo-
-Editrice Universitaria, 1921. p. 76. A proposição de Rocco, como se sabe, é largamente 
difundida entre inúmeros autores de Direito. 
CAPITULO XXXIV 
PRINCÍPIOS ESPECIAIS DO DIREITO 
COLETIVO DO TRABALHO 
I. INTRODUÇÃO 
O Direito do Trabalho, como já exposto, engloba dois segmentos, um 
individual e um coletivo, cada um deles contando com regras, institutos e 
princfpios própriosi'l .. 
Conforme visto, toda a estrutura normativa do Direito Individual do Tra-
balho constrói-se a partir da constatação fática da diferenciação social, eco-
nômica e politica básica entre os dois sujeitos da relação juridica central 
desse ramo jurídico específico -a relação de emprego. 
De fato, em tal relação o sujeito empregador age naturalmente como um 
ser coletivo, isto é, um agente socioeconômico e político cujas ações, ainda 
que intraempresariais, têm a natural aptidão de produzir impacto na comuni-
dade mais ampla. Em contrapartida, no outro polo da relação inscreve-se um 
ser individual, consubstanciado no trabalhador que, enquanto sujeito desse 
vinculo sociojurfdico, não é capaz, isoladamente, de produzir, como regra, 
ações de impacto comunitário. Essa disparidade de posições na rea-
lidade concreta fez despontar um Direito Individual do Trabalho largamente 
protetivo, caracterizado por métodos, princípios e regras que buscam reequi-
librar, juridicamente, a relação desigual vivenciada na prática cotidiana da re-
lação de emprego. 
O Direito Coletivo, ao contrário, é ramo jurídico construído a partir de 
uma relação entre seres teoricamente equivalentes: seres coletivos ambos, 
o empregador de um lado e, de outro, o ser coletivo obreiro, mediante as 
organizações sindicais. E:m correspondência a esse quadro fático distinto, 
emergem, obviamente, no Direito Coletivo, categorias teóricas, processos e 
princípios também distintos.

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