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EXPERIMENTAÇÃO ZOOTÉCNICA Profa. Dra. Amanda Liz Pacífico Manfrim Perticarrari amanda@fcav.unesp.br � O estudo simultâneo de mais de um fator em um mesmo ensaio é uma prática muito comum na experimentação animal. � Um ensaio visando melhor desempenho produtivo de coelhos, por exemplo, pode testar o teor de fibra e o teor de proteína ao mesmo tempo. � A definição dos tratamentos a serem utilizados dependerá dos níveis de fibra e de proteína que desejamos fixar e da necessidade de se averiguar se existe � Para que isto seja possível, as definições dos grupos experimentais deve corresponder a combinação de todos os níveis dos dois fatores. � Se decidirmos testar três níveis de proteínas e dois níveis de fibra, o número de grupos gerados será: 3 × 2 = 6: ���� ���� ���� ���� ���� ���� Diz-se dos tratamentos assim formados que estão em esquema fatorial 2 × 3 (2 níveis de fibra × 3 níveis de proteína) � Os seis grupos requerem na análise de variância 6 − 1 = 5 �. �. para sua avaliação. Entretanto, pelo que já sabemos sobre as fontes de variação, podemos dizer que dentro desses 6 grupos existirá: � um efeito de níveis de fibra 2 − 1 = 1 �. �. . � outro efeito de níveis de proteína 3 − 1 = 2 �. �. . E, portanto, estariam faltando mais 2 �. �. Para completar o total de 5 �. �. (Esses 2 �. �. correspondem ao efeito de interação entre os dois fatores) � Se um fator apresentar � níveis e outro � níveis, a interação entre eles terá � − 1 � − 1 �. �. � Para o entendimento pleno da interação, vamos supor que os resultados obtidos para peso ao abate de coelhos testados em um esquema fatorial 2 × 3 como o citado anteriormente, esteja representados na tabela abaixo. dms para comparar as médias acima: 250g bMédias na mesma linha com pelo menos uma letra minúscula igual são equivalentes. AMédias na coluna com letras maiúsculas iguais são equivalentes. Fibra bruta % Proteína bruta % 14 16 18 12 1420bA 1580abA 1800aA 15 1100bB 1310bB 1600aA Quando utilizamos o valor da dms = 250g para comparar médias da tabela verificamos que: a) O efeito da fibra se manifestou apenas nos dois níveis inferiores de proteína, observando-se coelhos menos pesados quando o teor de fibras era maior. No nível de proteína mais elevado não houve efeito significativo do teor de fibra, como se naquele nível proteico, a elevação do teor de fibra não interferisse no desempenho animal. Logo, existe uma interação entre os dois fatores, pois o efeito de um deles depende do nível em que o outro está. Assim, os efeitos de fibra e de proteína não se manifestam independentemente. Quando utilizamos o valor da dms = 250g para comparar médias da tabela verificamos que: b) O efeito da proteína parece melhorar a medida que seu nível sobe. Entretanto observe que para o nível menor de fibra não há diferença entre os dois níveis de proteína, ao passo que para o maior nível de fibra, apenas o maior nível de proteína consegue elevar significativamente a produção. Os níveis recomendados de proteína dependem do nível de fibra na ração. Novamente fica comprovada a existência da interação. � A interação entre dois fatores pode ser mais rapidamente identificada pela representação gráfica dos resultados, como podemos observar abaixo. Peso médio de coelhos ao abate em gramas, segundo o nível proteico da ração, para cada nível de fibra. � Note também que se o último nível de proteína fosse omitido do ensaio, não haveria interação entre fibra e proteína, na nova faixa de variação proteica de 14 a 16%. � Isso se observa tanto na tabela, onde não há diferença significativa entre os dois níveis de proteína, independente do nível de fibra - e o nível 12% de fibra seria sempre superior ao de 15%, independente do teor proteico Quanto no gráfico onde as duas retas traçadas estariam praticamente paralelas, denunciando aquela independência e, consequentemente, a ausência de interação. � Portanto, quando os intervalos estudados para cada fator são muito restritos, a interação entre eles pode não se manifestar. � É possível estudarmos mais de dois fatores, � mas a medida que aumentamos o seu número, mais animais e maior infraestrutura serão necessários para a instalação do experimento. � além disso é necessário interpretar todas as interações advindas de tantos fatores. � Se, em um ensaio com suínos em fase de terminação, desejássemos testar dois níveis de fibra, três de proteína e três de energia, estaríamos definindo 2 × 3 × 3 = 18 grupos. � Com apenas 4 animais por grupo, precisaríamos de 72 animais ao todo, de mesmo sexo e pesos pouco variados. � Estariam então ocorrendo várias interações: � três interações simples ou de 2ª ordem: � fibra x proteína, � fibra x energia, � proteína x energia � e uma interação de 3ª ordem: � fibra x proteína x energia � Da mesma forma que a confirmação de uma interação entre dois fatores desabona a comparação de médias de um fator apenas, ignorando-se o outro, a constatação de uma tríplice impede a apreciação das interações de ordem inferior por ignorarmos o terceiro fator. � EXEMPLO: Considere a apreciação dos resultados a seguir, representando pesos médios de aves de corte, em kg, segundo a ração e o sexo. dms para comparar as médias acima: 0,3 � Existe, visivelmente, uma forte interação �Pois a diferença entre os sexos é exacerbada na ração A, enquanto na B os sexos apresentam desempenho equivalentes. �A ração ideal para os machos é a �, enquanto para as fêmeas é a ração �. Ração Sexo Médias por raçãoMachos Fêmeas A 2,8 2,2 2,5 B 2,4 2,6 2,5 Média por sexo 2,6 2,4 dms para comparar as médias acima: 0,3 � Existindo interação, não faz sentido comparar as médias gerais por ração (ignorando-se sexo) e por sexo (ignorando-se rações). � Isto porque nos levaria a uma falsa conclusão de equivalência das rações – A e B tiveram a mesma média 2,5 kg. � O que contraria a informação real provinda pelo estudo da interação: isto não foi verdade para o estudo de fêmeas, nem para os machos, pois uma recomendação específica para cada sexo. Ração Sexo Médias por raçãoMachos Fêmeas A 2,8 2,2 2,5 B 2,4 2,6 2,5 Média por sexo 2,6 2,4 � Considerando que cada grupo experimental tem � repetições, a diferença mínima significativa para as médias marginais é dada por: ��� = �� 2�� � � + � sendo: � ��: valor de t tabelado com os graus de liberdade do erro � �� �: valor da variância do erro � � + � ⇒ cada média marginal foi obtida de + observações. � A qualidade de alimentos de origem animal sofre efeitos diversos, alguns deles controláveis por técnicas de conservação. � Em um estudo de preservação de qualidade de ovo (medida em unidade Haugh, uma relação entre o peso do ovo e a altura do albúmen a pós a liberação do conteúdo em um prato plano). � Foram estudadas duas linhagens � A: geneticamente selecionada para ovos de longa duração e � B: linhagem ordinária comercial � Três embalagens � Controle (��), � Saco plástico (�) e � Película de cera (��). � Quatro tempos de estocagem a 25ºC � 7 dias, � 14 dias, � 21 dias e � 28 dias. QUALIDADE DO OVO, EM UNIDADES HAUGH SEGUNDO A LINHAGEM, A EMBALAGEM E O TEMPO DE ESTOCAGEM, NAS CINCO REPETIÇÕES DO ENSAIO. Quadro da análise de variância � Como ��� = 9,25 , calcularemos, por meio dessa estimativa, � o coeficiente de variação desse ensaio �� = �� � �� �� = �� � �� = �,�� ���� ��� = 3,74% ⇒ instabilidade reduzida coerente com a unidade experimental (o ovo e as condições controladas dos ensaio.)Fonte de Variação �. �. �.�. Variância Total 119 11.397,1667 Tratamento 23 10.509,1667 Erro 96 888,0000 9,25 Quadro da análise de variância � Como ��� = 9,25 , calcularemos, por meio dessa estimativa, � a diferença mínima significativa (� ) para a comparação de médias (com 5 repetições). � = � �. . 2 � � � = ,��� 2 × 9,25 � = 3,82 Fonte de Variação �. �. �.�. Variância Total 119 11.397,1667 Tratamento 23 10.509,1667 Erro �� 888,0000 9,25 � O estudo das interações será feito a partir do quadro de médias. � Como existem 3 fatores, podemos construir dois quadros: �Um para cada linhagem, segundo a embalagem e o tempo de estocagem. � embora outras combinações pudessem ser estudadas como três quadros, um para cada embalagem, segundo a linhagem e o tempo de estocagem. Qualidade média dos ovos (Unidade Haugh) da linhagem A, estocados à temperatura de 25ºC , segundo a embalagem e o tempo de estocagem. a Nas linhas, médias com pelo menos uma letra minúscula comum são equivalentes. B Nas colunas, médias com letras maiúsculas comuns são equivalentes. � Percebemos que na linhagem A há interação entre a embalagem e tempo. � A queda de qualidade no tempo é maior para ovos sem embalagem. � Com 7 dias a qualidade dos ovos em plástico ou sem embalagem tinham qualidades equivalentes, o que já não aconteceu em tempos mais longos. Tempo em dias Embalagem 7 14 21 28 Sem embalagem 89aB 85bC 80cC 74dC Saco plástico 92aB 89aB 85bB 81cB Película de cera 96aA 93abA 92bA 90bA Qualidade média dos ovos (Unidade Haugh) da linhagem B, estocados à temperatura de 25ºC , segundo a embalagem e o tempo de estocagem. a Nas linhas, médias com pelo menos uma letra minúscula comum são equivalentes. B Nas colunas, médias com letras maiúsculas comuns são equivalentes. � Percebemos que na linhagem B há interação entre a embalagem e tempo. � A queda de qualidade no tempo também é maior para ovos sem embalagem. Existe uma ameaça também nos ovos conservados em sacos plásticos. � Houve diferença significativa entre as três alternativas de embalagem nos 4 tempos observados. Tempo em dias Embalagem 7 14 21 28 Sem embalagem 78aC 72bC 66cC 58dC Saco plástico 82aB 78bB 73cB 67dB Película de cera 89aA 85bA 82bA 78cA � Como os resultados para as duas linhagens foram distintos no que diz respeito à interação embalagem x tempo, � existiu uma tríplice interação embalagem x tempo x linhagem pois uma recomendação de tipo de embalagem irá depender da linhagem e do tempo de estocagem. � Graficamente as interações também podem ser percebidas: Variação da qualidade de ovos da linhagem A mantidos a 25ºC segundo o tempo de estocagem e a embalagem dos mesmos. � A diferença entre as embalagens se exacerbam com o tempo de estocagem e sob o efeito das linhagens. � Na prática, recomendaríamos sempre a linhagem A em qualquer embalagem até 28 dias, pois sob 25ºC a qualidade do ovo sempre foi mantida. � Graficamente as interações também podem ser percebidas: Variação da qualidade de ovos da linhagem A mantidos a 25ºC segundo o tempo de estocagem e a embalagem dos mesmos. � A embalagem película de cera foi sempre a mais eficiente impedindo a rápida degradação da qualidade do ovo, mais intensa na linhagem B. � Alternativamente, a utilização do saco plástico controla essa degradação em relação aos ovos sem embalagem, exceto quando a linhagem for A. � Note que as conclusões práticas são concisas e claras, apesar que uma forte interação que não as afeta continua a ser representada pelas diferenças cada vez maiores entre as embalagens com o aumento do tempo de estocagem, em ambas linhagens. � Vamos decompor a SQ tratamentos, correspondente a 23 �. �., em frações menores, para corresponder a cada efeito simples estudado e suas interações. � A soma de quadrados devido à linhagem será: ���� �� � = ∑��������� � �������� � + ∑��������� � �������� � − ∑�� � ��������� = 5.230 � 60 + ∑ 4.540 � 60 − 9.770 � 120 = 3.967,50 com 2 − 1 = 1 graus de liberdade. � A soma de quadrados devido à embalagem será: ����������� = ∑���������� � ���������� � + ∑���������� ���������� + ∑���������� ���������� − ∑�� � ���������� = ∑ ��� � ��� + ∑ �� � �� + ∑ ��� � ��� − ∑ �� � � ���������� = �. ! � " + �.��# � " + �.#�# � " − $.%% � !� = 3.332,9167 com 3 − 1 = 2 graus de liberdade. � A soma de quadrados devido ao tempo será: ������� = ∑������ � � ������ � + ∑������ � � ������ � + ∑������ � ������ + ∑������ � ������ − ∑�� � � ��� ��� = ∑ � ���� � � ���� + ∑ �� ���� � �� ���� + ∑ �� ���� � �� ���� + ∑ �� ���� � �� ���� − ∑ � � � ������� = 2.630 � 30 + 2.510 � 30 + 2.390 � 30 + 2.240 � 30 − 9.770 � 120 = 2.782.50 com 4 − 1 = 3 graus de liberdade. � Dos 23 �. �. , já identificamos 1 + 2 + 3 = 6 �. �. , restando então 17 �. �. que estarão distribuídos pelas interações: � Linhagem x embalagem: com (2 − 1) × (3 − 1) = 2�. . � Linhagem x tempo de estocagem: com (2 − 1) × (4 − 1) = 3�. . � Embalagem x tempo de estocagem: com (3 − 1) × (4 − 1) = 6�. . � Linhagem x embalagem x tempo: com (2 − 1) × (3 − 1) × (4 − 1) = 6�. . � A soma de quadrados de cada uma dessas interações exigirá a contabilização dos quadrados de totais em cada delas. � Então, para os dois primeiros fatores teremos: Quadro de totais para qualidade do ovo (uH) segundo a linhagem das aves e tipo de embalagem. Embalagem Linhagem Controle Saco Plástico Película de cera A 1.640 1.735 1.855 B 1.370 1.500 1.670 � A soma dos totais deverá ser 9.770, correspondendo ao total das 120 observações. � Note que cada total apresentado no quadro contem a soma de 20 observações (120/6=20); � A soma de quadrados desses totais engloba o efeito de linhagem, de embalagem e da interação entre elas. � Então será preciso subtrair dela as SQ já calculadas de linhagem e de embalagem. Embalagem Linhagem Controle Saco Plástico Película de cera A 1.640 1.735 1.855 B 1.370 1.500 1.670 � Então será preciso subtrair dela as SQ já calculadas de linhagem e de embalagem. ���������� ×�� ������ = 1640 � + 1370 � + 1735 � + ����� + 1855� + 1670� 120 6 − ∑�� � − �������� − ��������� ���������� ×�� ������ = 1640� + 1370� + 1735� + ����� + 1855� + 1670� 20 − ���� � ��� − 3.967,50 − . �,�� � ��������� ×�� ������ = 91,2500 Embalagem Linhagem Controle Saco Plástico Película de cera A 1.640 1.735 1.855 B 1.370 1.500 1.670 � Procedimento análogo deve ser feito para a interação linhagem x tempo: Quadro de totais para qualidade do ovo (uH) segundo a linhagem das aves e o tempo de estocagem. � Note que cada total apresentado no quadro apresenta 15 observações (120/8=15); ���������� × ���� = 1385� + 1245� +⋯+ 1225� + 1015� 120 8 − ∑�� � − ���������� − ������� = ��,� � Tempo em dias Linhagem 7 14 21 28 A 1.385 1.335 1.285 1.225 B 1.245 1.175 1.105 1.015 � Procedimento análogo deve ser feito para a interação embalagem x tempo: Quadro de totais para qualidade do ovo (uH) segundo a embalagem utilizada e o tempo de estocagem. � Note que cada total apresentado no quadro apresenta 10 observações (120/12=10); ���� ������ × ���� = 835� + 870� +⋯+ 740� + 840� 120 12 − ∑�� � − ����������� − ������� = �� ,���� Tempo em dias Embalagem 7 14 21 28 Controle 835785 730 660 Saco Plástico 870 835 790 740 Película de Cera 925 890 870 840 � Finalmente, a ���������×�� ������×���� será obtida pela diferença entre a ���������� , com 23 �. �., e as � de todos os efeitos calculados anteriormente (correspondendo a 17 �. �. ), o que pode ser feito em uma análise de variância detalhada. � esta análise nos permite chegar ao mesmo valor da variância do erro de forma simplificada, ao considerarmos 23 g.l. conjuntamente. � a vantagem da decomposição aqui feita é que se pode perceber mais claramente quais foram os fatores que mais contribuíram na variação causada pelos grupos experimentais. Análise de variância detalhada Fonte de Variação �. �. �.�. Variância Total 119 11.397,1667 Linhagem 1 �.���,���� Embalagem 2 3.332,9167 Tempo 3 2.782,5000 Linhagem x Embalagem 2 91,2500 Linhagem x Tempo 3 89,1667 Embalagem x Tempo 6 243,7500 Linhagem x Embalagem x Tempo 6 2,0833 Erro 96 888,0000 9,25
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