Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Prof. Adilson Schultz Budismo é religião ou sabedoria/filosofia de vida? O Budismo não é rigorosamente uma religião. Pode-se dizer que é uma doutrina, uma filosofia de vida, que congrega concepções religiosas e filosóficas. A rigor, não há Deus no Budismo. A mensagem do budismo é de um radical humanismo: só os seres humanos podem atingir a iluminação. Buda não é Deus; é um mestre; um sábio; o fundador do budismo. Budismo é um termo ocidental que designa um conjunto de ditos, testemunhos de vida e práticas dos ensinamentos de Siddharta Gautama, o Buda, que nasceu e viveu no Nepal (então Índia), no século VI a.C. O Budismo nasce e se inspira no Hinduísmo, uma religião antiga da índia, com registros que remontam ao século X a.C.. O Budismo conserva os fundamentos do Hinduísmo (reencarnação, importância da meditação, necessidade de libertar-se das aparências e do mundo), e ao mesmo tempo funda-se como uma reação a ele, principalmente ao seu ritualismo excessivo. É um Hinduísmo reformado. Quantas são budistas? É difícil precisar. Por um lado, o Budismo está imbricado com outras grandes religiões orientais, de acordo com o país e cultura, como o Confucionismo (doutrina do sábio Confúcio, 551-479 a.C.), o Taoísmo (doutrina atribuída a Lao-Tse, século III a.C. – princípio do Tao, unidade primordial do ser; unificando princípios opostos do yang e yin, ativo e passivo) e com o Tantrismo (ramo do Hinduísmo, o culto da energia feminina). Nesse sentido, é difícil definir qual religião professam as populações da China, Tibete e Vietnã, por exemplo. Por outro lado, o Budismo não está estruturado e demarcado por uma instituição; não é uma igreja, com dogmas, hierarquia, credo e centro religioso. As comunidades estão espalhadas em todo o mundo, com ritos próprios. Por último, existem inúmeras correntes budistas. Não obstante, há estatísticas, oscilando entre 250 e 550 milhões de pessoas. Um dado intermediário fala de 350 milhões. Quem é Buda? É difícil separar o Buda histórico das lendas construídas ao seu redor. De qualquer forma, lendas e história são aceitos pelos budistas como verdadeiro ensinamento. Ademais, a história de Buda não tem exatamente um início, dado a crença no eterno renascimento: a vida de Gautama foi a última encarnação do Buda antes do Nirvana. Antes disso foram 500 encarnações. O lugar histórico do Budismo está marcado pelas culturas urbanas do vale do rio Ganges, na Índia. No século VI a.C., o país passava por um amplo desenvolvimento no campo das idéias, artes e ciências. A decadência das culturas tribais e a rápida transformação social criaram um clima de profundo pessimismo entre a população. A crença no perpétuo renascimento e na infinita morte, que aparece de forma residual no Vedas e nos Upanixades (povos que habitavam a região) como doutrina de mistérios, tornara-se patrimônio espiritual comum do povo. Ao anseio humano de encontrar um sentido último para a vida não bastavam os rituais sacrificiais brâmanes/hinduístas. Ä salvação definitiva era buscada. Nesse contexto surgem religiões como jainismo, ajivikas e budismo. Buda nasceu em 560 a.C., em Kapilavastu, no Nepal (à época Índia), cidade onde reinava seu pai, Shuddhodana. Sua mãe era Maha Maya. Seu nome era Siddharta Gautama (Siddharta - aquele que cumpriu sua tarefa/seu objetivo; Gautama - o nome do seu clã). Foi gerado no seio de sua mãe na forma de um pequeno elefante; nasceu pelo lado do ventre da mãe, estando ela de pé, escorada num ramo de figueira. Siddharta foi aparado por um deus em um pano. Sua mãe morreu logo depois do nascimento. O menino cresceu sob os cuidados de seu pai e de uma tia, Mahaprajapati. Logo 2 cedo seu pai ficou sabendo que seu filho tinha vários sinais que o indicavam como um possível Buda, mas ignorou (protuberância na cabeça, lóbulo das orelhas grande, solas dos pés marcadas e sinais). Foi educado como um príncipe, protegido do contato com a miséria e os perigos do mundo. Aos dezesseis anos casou-se com sua prima, Yashodara, tendo três filhas e um filho. Viveu entre riquezas e prazeres até aos 29 anos. Então, movido por divindades, fez 4 passeios pela cidade, tendo se deparado com o onipresente sofrimento, em 4 encontros: com um idoso, um doente, um cadáver e um monge mendicante. Isto o levou a refletir sobre a doença, a velhice e a morte, sobre a vida e seus sofrimentos. No dia do nascimento de seu filho, Gautama abandona o palácio e passa a dedicar-se ao ascetismo. Integra-se a um grupo de monges mendicantes, refugiando-se nas profundezas de uma floresta. Muda suas vestes de seda por vestes de cascas de árvores. Abandona riqueza e poder, decidido a buscar para si e para todas as criaturas uma saída do ciclo infindável e doloroso de renascimentos e sofrimentos. Buda viveu por 7 anos em meditação e dura ascese, que quase o levou à auto-destruição. A lenda o descreve sentado sobre os calcanhares, contentando-se com um grão de arroz por dia e imitando a rigidez dos cadáveres. Então acontece sua iluminação: numa noite de lua cheia de maio, em 537, sob a sagrada árvore de Pipal (um tipo de ficus), junto ao rio Nairanjana, próximo à aldeia de Uruvilva, ele alcança a iluminação suprema. Ele teria recebido oferta de arroz de uma jovem. Tendo atirado o prato no rio, ele o viu subir a corrente. Assim como o prato, ele iria subir à fonte de verdade. Agora Gautama é o Buda, o despertado, o desperto: "Não acendo fogo do altar, acendo uma chama em mim. A lareira é meu coração", disse ele. A iluminação rendeu-lhe um conhecimento triplo: suas próprias formas de vida passadas, a verdade sobre o nascimento e a morte de todos os seres vivos, e a vitória sobre a ignorância e a paixão, levando-o a escapar da roda de renascimentos dolorosos. Gautama, agora Buda, abandona a vida de mortificações. Descobre que o conhecimento e a verdade não estão nem na ascese e nem nos prazeres da vida. A perfeição não está nos extremos, mas na 'via média', o caminho do meio. Gautama permanece aí por um período, duvidando de sua iluminação. É atacado por demônios. Os deuses o abandonam sozinho. Ao final do período de tentação, ele vence o mundo e passa a proclamar sua iluminação. Inicia sua pregação para um grupo de 5 monges no Bosque de Benares. Seu primeiro sermão anuncia as quatro verdades santas. Pregou durante 44 anos percorrendo o país, atraindo discípulos, principalmente pobres. Morreu em 480 a.C., num bosque em Kusianara, aos 80 anos, após violentas crises intestinais. No momento da morte, exorta seus seguidores a não chorá-lo, mas que permaneçam fiéis aos seus ensinamentos. Sua morte é a libertação definitiva, é o Nirvana total. Cercado por discípulos, sentado na posição de lótus, suas últimas palavras foram: Tudo o que se reúne não escapa à separação.... ainda que eu permanecesse vivo, nada mais teria que fazer.... Esforçai-vos sem cessar na prática que leva à libertação. Todas as leis imutáveis e mutáveis deste mundo são isentas de garantia de estabilidade. Permanecei em silêncio. O tempo passa e é chegada a hora de eu me extinguir. Este foi meu último ensinamento. A doutrina budista O que foi, afinal, que Buda descobriu de tão importante que moveu e move multidões? Basicamente, que o conhecimento está dentro da pessoa. Que tudo é transitório. Que para alcançar o conhecimento é fundamental a concentração, a disciplina e a meditação. A verdadeira doutrina de Buda tem o nome de Darma; coleção de livros que constitui a lei fundamental do universo. Há três tipos de cânones no Darma: As Sutras (ensinamentos de Buda); os Vinayaias (código de disciplina dos monges transmitido por Buda); e Abidarmas (comentários e discussões sobre os as Sutras e os Vinauyaias feitos pelos sábios de épocas posteriores). Buda não é Deus. Não obstante, ele é chamado por vários nomes divinos:O Excelso, o Venerável, o conhecedor dos mundos, Mestre dos deuses e dos seres humanos., o Glorificado, Deus dos deuses... Ainda que contra a sua vontade, ele era e é considerado mais do que um simples mestre. Budistas dizem que ele não é um simples Deus, nem o Deus dos deuses; também não é um simples ser humano. Ele é simplesmente Buda, um ser infinitamente superior a todos os deuses e seres, o único ser de sua espécie. Há vários acontecimentos divinos na vida de Buda: concepção e nascimento milagrosos, um sábio vindo de longe adora a criança; na 1a visita ao templo os deuses retratados nas imagens aparecem em pessoa e prestam a reverencia à criança; mestres se surpreendem com a sabedoria do menino; antes de ser despertado, o demônio Mara o tenta e este é repelido; é iluminado; sua morte lhe propicia o Nirvana; um traidor entre seus discípulos manda assassinos profissionais o matarem; Buda tinha um discípulo preferido, Annanda. 3 O principal fundamento do Darma proclama que tudo é sofrimento, e temos que nos libertar dele. A causa do sofrimento e do fluxo transmigratório é a ignorância, a ilusão. Mas o sofrimento pode ser ultrapassado por toda e qualquer pessoa, pois todas são iguais: o segredo é mudar o coração; esvaziá-lo de todo desejo, ilusão. Reagindo à religião da sua época, Buda aconselha menos ritos e mais coração. O Budismo ensina que seguir os ensinamentos do Darma é o caminho para libertar-se das coisas transitórias, do eterno sofrimento e da eterna transmigração das almas. No budismo não existe a idéia de um Deus absoluto. Ao contrário, pode-se dizer que o Budismo é uma religião atéia, ou agnóstica (se Deus existe, é inacessível). Buda não anuncia Deus; não é profeta. A revelação que Gautama teve não foi uma revelação de Deus ou dos céus. Não há uma bíblia, um evangelho ou um Corão no Budismo. Ele não prega salvação das almas. O fundamento da doutrina diz justamente o contrário: tudo passa; tudo é aparência; não há uma alma; o mundo não teve começo; não há criador; tudo é ilusão, inclusive Deus. Buda revela justamente que não há verdade revelada. Ele prega a possibilidade da libertação de cada pessoa pela adesão e seguimento das verdades humanas que ele descobriu. A única realidade é a dor e o sofrimento. Não importa descobrir a causa do sofrimento. No seu início está sempre a ignorância, as paixões culposas, a sede de felicidade, e as ações da vida anterior (carma). A paixão, o desejo, leva a ações, que produzem frutos bons ou ruins. Esse desejo leva ao sofrimento. Assim, a nossa vida deve evitar tudo o que pode trazer o mal a uma criatura. Devemos ser sereno e benevolente. Não se trata de uma moral, mas de uma atitude de vida. As quatro verdades O símbolo budista é uma roda com oito raios ou quatro diâmetros. É a roda da lei, ou roda do Darma. Os 4 diâmetros são as 4 nobres verdades, que culminam nos oito raios – a senda óctupla budista. O 1o sermão de Buda, o Sermão de Benares, contêm o cerne da doutrina, as quatro verdades santas: toda a vida é sofrimento: "o nascimento é dor, a velhice é dor, a doença é dor, a morte é dor, a união com o que não se ama é dor, a separação do que se ama é dor, não obter o que se deseja é dor." O apego e a preocupação do ser com estas coisas é que causa sofrimento. A realidade é ilusão. A realidade não é exatamente negada, mas não é condição para a felicidade. A partir disso Buda faz interrogações ontológicas e éticas: O que é o ser? De onde vem o sofrimento? Como escapar dele? As quatro verdades do sermão versam justamente sobre a verdade do sofrimento, sua origem, sua superação, e o caminho para sua superação. • 1a verdade: Tudo é sofrimento: Toda a vida é sofrimento: "o nascimento é dor, a velhice é dor, a doença é dor, a morte é dor, a união com o que não se ama é dor, a separação do que se ama é dor, não obter o que se deseja é dor." • 2a verdade: todo apego/ou desejo é sofrimento: Sofremos porque queremos reter o ser, temos vontade de viver, existir, ser felizes e perpetuar-nos; tememos perder o que somos e temos. Mas nós morremos! Queríamos ser felizes sempre: aí está a origem da nossa infelicidade. Sofremos porque desejamos reter os prazeres de uma vida que não é nada. Apegando-se a essa aparência, nos decepcionamos e sofremos. • 3a verdade: desapegar-se de tudo/acabar com o sofrimento: A solução é o desapego universal. É a 1a condição para a salvação. Temos que matar o desejo; até a vontade de viver. O que nos prende é a ignorância. Para nos libertar temos que conhecer nossas existências - a presente, a anterior e a renascente. O primeiro passo para a salvação é conhecer estas 4 verdades santas. Tudo começa com a renúncia a tudo, como fez Buda: ao amor, à segurança, conforto, família, ofício, amizade. Esse desapego não causa real sofrimento: o mundo deve não apenas ser abandonado, mas ignorado. Mas a renúncia ao mundo não é tudo: devemos desapegar-nos principalmente da satisfação causada pelo desapego. Desapegar-se da sede de conhecer, do prazer de debater ou de convencer. Eliminar até a auto-estima e o desejo de fazer bem as coisas. Veja bem: não se trata exatamente de negar o desejo, mas compreendê-lo; algo como dominá-lo; aprender a viver com eles. • 4a verdade: praticar a meditação pura: Fazendo isto, estamos preparados para a verdade suprema, esta 4a verdade, que leva ao fim do sofrimento. É a nobre via das oito virtudes: fé pura, vontade pura, linguagem pura, ação pura, aplicação pura, meios de existência puros, memória pura, meditação pura. É uma purificação, do ser inteiro, uma abstração progressiva de tudo, que ser realizam simultaneamente e reciprocamente. A culminação é a dhyana, a meditação pura. A pessoa deve abster-se de tudo, inclusive de si próprio, e testemunhar aos outros uma compreensão universal. Então a pessoa é sábia, e contempla o vazio absoluto, adquirindo a serenidade da libertação de tudo. Só algumas pessoas atingem essa libertação total/iluminação. Para isso existem numerosos exercícios. A ioga é o principal deles: trata-se de 4 uma disciplina progressiva para controlar os sentidos, a imaginação e a sensibilidade, através da respiração e do olhar, rumo à concentração espiritual. Acoplados às 4 nobres verdades e à senda óctupla, estão os cinco agregados, skandas, a base do se humano. Dar-se conta do conjunto deles e controlá-los é o segredo para evitar sofrimento. A base do ser está no Anatman, que na verdade explica a 1a grande verdade: o eu não existe: não há nada de absoluto no mundo, tudo é condicionado e relativo, e interdependente. Para o budismo, não há o eu como se imprimiu na compreensão ocidental (penso, logo existo – Descartes). O ser é um agregado momentâneo e fugaz de cinco elementos efêmeros: o corpo, as sensações, as representações, as formações e o conhecimento. Eu/o ser é o nome que damos à união provisória desses elementos. Trata-se apenas de uma designação. Fora disso não há realidade. O ser existe apenas pelo apego a essa aparência de ser. Assim, são 5 os agregados: a) matéria/corpo: sólido, líquidos, calor, movimento..., b) Sensações (agradáveis, desagradáveis e neutras, experimentas nos cinco sentidos, e por um sexto, a mente); c) Percepções/representações vinculadas aos 6 sentidos; d) Formações mentais (o carma); e) A consciência/conhecimento, resposta às faculdades, interação da pessoa com o mundo. O que é o nirvana? O termo é oriundo do Hinduísmo. Expressa a união da alma individual (o atmã) com a alma universal (o bramã). Na língua de Buda, significa extinção: “como uma lâmpada se apaga, quando falta óleo, [quem] que já não alimenta o fogo de seus desejos se apaga definitivamente.” Deriva nirbhana: nir = não; vã = soprar. Nirvati significa dissipar, apagar. Bhana significa grilhões, amarras. Nibbana designa o apagamentoabsoluto. O Nirvana tem várias designações no Budismo. Trata-se de um estado incriado, absoluto, para além da percepção e expressão humana. Eliminando-se o sofrimento, se atinge o nirvana Pode ser alcançado na terra, mas o grande nirvana se alcança com a morte, quando não há mais nenhum resquício de condicionalidade. Assim foi com Buda. Nirvana é a perfeita tranqüilidade, grau supremo de felicidade, um paraíso, a volta ao nada, abolição de toda vontade, desejo, sensação, mudança, fim das reencarnações, um não-ser. É um lugar de beatitude, de iluminação. No meio popular, o nirvana é um estado quase inacessível. É um lugar imaginário, uma espécie de morada imutável, próxima do paraíso. Aí o ser se liberta de todos os tormentos da vida. É alcançado após um longo caminho, que pode tomar várias vidas. Só com constantes renascimentos a pessoa merece o nirvana. O budismo é uma disciplina, uma filosofia de vida para atingir a serenidade suprema e a libertação das reencarnações, o Nirvana. Buda falou pouco do nirvana. Era contra especulações. Mais valia o caminho para o nirvana do que ele em si. Para ele o Nirvana era tudo, e ao mesmo tempo nada. Falou de um lugar onde não há nada, nem terra, nem água, nem fogo, ar, onde ninguém nasce, parte ou fica, não há sofrimento, nada é feito; o fim do vir-a-ser. Numa ocasião perguntaram a ele o que acontecia a um Buda falecido; se permanecia vivo ou não. Buda disse que nem um, nem outro. Então ele se tornava inconcebível, pois nada no Nirvana corresponde às concepções terrenas. Os seguidores de Buda Por muito tempo o Budismo constituía-se de grupos de monges mendicantes seguindo e ouvindo um mestre. Posteriormente surgem os monastérios. O cumprimento das 4 verdades exigia o estado monacal. Os monges não sacerdotes, mas discípulos e modelos: é pelo seu exemplo de vida que ensinam a sua filosofia/religião. Mulheres são admitidas, mas com sérias restrições, e estão sempre num grau abaixo dos monges. Pode-se ingressar nos monastérios aos 10 anos. Apenas aos 20 anos os monges podem consagrar-se plenamente ao monastério. Para se tornar um monge são necessários dois rituais: aos 16 anos de idade se dá a pravrajya, o sair do mundo. O noviço se compromete a confiar nos três refúgios ("Eu ponho minha confiança em Buda. Eu ponho minha confiança na lei. Eu ponho minha confiança na comunidade") e nos dez preceitos (Abster-se de destruir a vida, de roubar, de fornicar e de outras impurezas, de mentir, de licores fermentados, do álcool e de bebidas fortes, de comer nas horas proibidas, de danças, de cânticos e de todos os espetáculos, de enfeitar-se e embelezar-se com grinaldas, perfumes e ungüentos, de fazer uso de um leito ou de uma cadeira elevados ou espaçosos, de receber ouro e prata). Após 4 anos na ordem, vem o 2o ritual, o upasampada, a entrada. Trata-se de um exame de provas de saúde e liberdade plena. Após isso, ele é um monge. Ele pode abandonar o monastério a qualquer momento ou ser expulso. Os ritos monásticos desenrolam-se entre cerimônias de confissões de pecados, penitências e absolvições, e cumprimento das 227 regras diárias da ordem. Há um longo período de reclusão individual durante as chuvas. As principais atividades monásticas, no entanto, são as celebrações das 5 festas que marcam as estações do ano e os acontecimentos da vida de Buda (nascimento, vitória sobre o demônio, e nirvana). Além dos monges budistas, há os fiéis leigos. Inicialmente os leigos viviam para sustentar os monastérios. Assim como hoje, os fiéis não renunciavam aos bens materiais, nem adotavam vida errante, mas deviam se esforçar para distanciar-se do mundo interiormente. Cumprem obrigações, cultos, rituais e festas, desistem de matar outros seres vivos, de roubar, ser incastos, mentir, consumir álcool e outras substância embriagantes. Inicialmente, sem condições de alcançar o Nirvana, viviam na esperança de nascer monge na próxima reencarnação. Para ajudá-los nessa tarefa é que foi instituído um culto popular: Como hoje há inúmeras correntes budistas, a maioria credita maior valor aos leigos. Todas as pessoas podem alcançar o Nirvana. Todos os budistas almejam este despertar. Há um culto budista? Ainda que contra a vontade de Buda, imediatamente após sua morte seus discípulos deram início ao culto budista. Existem as Stupas, templos sagrados que guardam as relíquias/restos do corpo cremado de Buda (cabelos, ossos e dentes). No Ceilão e no Nepal estão as stupas/os santuários/sepultura de Buda com as relíquias mais famosas, e são destino de muitas peregrinações dos fiéis. Também se veneram as estátuas de Buda em inúmeros templos (inicialmente não havia representações de Buda; apenas símbolos, como a árvore da iluminação e a roda da lei. A figuração apresenta Buda com fisionomia oriental, quase sempre gordo, com um sorriso sempre enigmático, benevolente e sereno.). Se fazem peregrinações aos lugares sagrados da vida de Buda (cidade natal de Buda, Kapilavastu; a Bodh Gaya, onde recebeu a iluminação; Sarnath, onde pregou pela 1a vez; Kusnara, onde morreu e entrou no nirvana). Há inúmeros templos budistas. Só no Japão há 100 mil templos. Eles deveriam ser apenas local de meditação, mas os fiéis, em procissão, depositam oferendas, cantam hinos e fórmulas sagradas, a fim de alcançar graças. As imagens e estátuas de Buda são honradas com hinos, danças, recitações, oferendas de alimentos, flores e incenso. Inclusive orações são dirigidas a ele. As correntes do budismo Buda já alertara seus discípulos de que seu ensinamento seria deturpado. Depois de 5 mil anos se tornaria irreconhecível. Então haveria um novo Buda, Maitreya, que voltaria a propagar o conhecimento de forma pura e clara. 400 anos após a morte de Buda, há o grande racha do Budismo. Reunidos em concílio, monges decidem colocar os ensinamentos no papel. Uma corrente se chama Hinayana – o pequeno veículo, a que tentou ser fiel aos ensinamentos de Buda. Os que discordavam dos ortodoxos autodenominaram-se Mahayana – o grande veículo. Posteriormente, o Mahayana subdividiu-se em Vajrayana, lamaísmo, zen, etc... Três séculos a.C. já havia 18 ramificações. Hoje há inúmeras correntes budistas. Quatro grandes correntes predominam, chamadas de o pequeno veículo, o grande veículo, o veículo tântrico, o budismo tibetamo ou lamaismo, e o zen budismo. O pequeno veículo - Hinayana (de iana, o veículo que permite atravessar o rio das reencarnações para chegar à margem do nirvana): é o budismo ortodoxo, que pretende ser fiel aos ensinamentos de Buda. Segue as regras fixadas por Ananda, o discípulo preferido de Buda. Criado num concílio em 245 a.C., estabeleceu um cânone budista, o Theravada, a doutrina dos antigos, dos anciãos. Os escritos são compostos pela Vináia = a disciplina, uma espécie de catecismo prescrito para os monges; as Sutras = pregação, uma coleção dos sermões de Buda; e a Abidama = doutrina, conjunto de sete obras contendo a visão de mundo budista. Há também obras escritas posteriormente, por monges iluminados. Esta corrente predomina no Ceilão, Birmânia, Tailândia, Camboja e Laos. São fiéis fervorosos, buscando a purificação interior. Destacam-se como arquitetos de templos enormes e bonitos. O grande veículo - Mahayana. Estabeleceram-se no século III a.C. Inicialmente caracterizaram-se por uma interpretação menos legalista da ordem monástica, pela celebração de cultos nas Stupas, e por movimentos eremitas nas florestas, com ascetismo e meditação rigorosas. Foram responsáveis pela expansão do Budismo na Índia. Defendiam a necessidade do Budismo adaptar-se ao grande número de novos adeptos. Pretendia-se um budismo popular, opondo-se ao budismo elitizado do pequeno veículo. Os Mahayana acrescentam aos escritos de Buda, a tradição oral. Ao contrário do pequeno veículo, pregam que a libertação/nirvana estáao alcance de todos. Os Mahayana relativizam o indivíduo privilegiando a coletividade. A aspiração não é escapar às reencarnações, mas ajudar os outros a livrar-se delas. "É abrindo-se à libertação de seus semelhantes que podemos libertar-nos". Apenas após longa peregrinação ao lado dos que estão sob o domínio de Mara, o demônio, é que podemos entrar o nirvana. O sofrimento pelos outros é condição para avançar no caminho da iluminação. A negação do eu persiste, mas chega à fusão com o outro. Nós participamos do carma e da salvação da outra pessoa. Todas as pessoas carregam dentro de si a semente de Buda, a essência de Buda em potencial, e podem concretizar os seu 6 espirito de Buda. Isso só acontece com o despertamento. Muitos despertam sozinho, mas o amor motiva a todos auxiliarem no despertamento dos outros. Ao contrário dos ensinamentos de Buda, que por ter alcançado o nirvana ficou inalcançável, aqui Buda torna-se um Deus, e deus trinitário: há um Buda histórico, humano; um Buda divino, que deixou a terra e entrou no Nirvana; e o Buda cósmico, o absoluto, lei e verdade do universo. Este Buda eterno é misericordioso como um pai e carinhoso como uma mãe, e socorre as pessoas aflitas. Introduziram a figura do Bodhisattvas = santos: raros são as pessoas que podem chegar ao nirvana, mas através das transmigrações, alguns fiéis podem tornar-se santos. A esses santos os fiéis dirigem culto, pedindo proteção, cura e salvação. O Bodhissattva busca sua libertação e de outros. Jura não ingressar no nirvana até que todos os seres vivos estejam libertados. Assemelham-se a deuses. Grande número de imagens de Budas e Bodhisattvas povoam templos em forma de pavão, dragão, etc... Um dia o Buda há de retornar. Vai nascer um novo Buda. Neste interregno, outros Budas glorificados atuam – os Bodhissattva. Assim, quando japoneses budistas adoecem, suplicam ao Buda Yakushi, senhor do paraíso oriental. "Aquele que quer salvar rapidamente a si mesmo e outrem deve praticar o grande segredo: a inversão do eu e do outro... aquele que a outro impõe a tarefa de trabalhar para ele terá como retribuição a escravidão; aquele que se impõe a si a tarefa de trabalhar pelo outro terá por recompensa o poder." Sanditeva, poeta do século VII. O veículo tântrico (ou tantrismo) = tantra = livro: Surge no século VI d.C, mesclando budismo com antigas práticas hinduístas. A corrente enfatiza muito os ritos. Tem pouco a ver com os ensinamentos de Buda. Pretende ligar os diversos fenômenos do mundo com todo único. É influenciado pela crença hinduísta em deusas e sua energia, que visam a bem–aventurança, a união dos princípio masculino e feminino. Tantra é uma coleção de escritos em forma de poemas rituais, os mantras, que devem ser recitados pelos fiéis. São fórmulas mágicas capazes de ativar o absoluto e salvar quem as pronuncia.. Adota a Yoga, conjunto de exercícios respiratórios e físicos. Lidam também com erotismo sagrado, ensinado que posturas sexuais são as melhore para entrar na perfeição divina. Budismo tibetano – lamanismo Uma das correntes do tantrismo, adota também os mantras. O estudo do tantra deve preceder o estudo da sutra. Pretende criar uma consciência holística, através da meditação contemplativa, que possibilite adquirir o budato pelo caminho curto, já nesta vida. Integra elementos do budismo primitivo com esoterismo, incorporando também práticas xamânicas, como o transe. Há quem diga que esse Budismo se tornou Lamaísmo, outra religião. Prega que o corpo transcendental do Buda pode apresentar-se em inúmeras incorporações materiais específicas. Os Dalai Lamas = mestre de sabedoria grande como o oceano, são reencarnações de Buda. Escolhem encarnar em pessoas onde podem ser o mais útil possíveis. A reencarnação está no cerne do Lamismo. Os Budas e os sábios reencarnam nos Lamas, e os lamas podem reencarnar-se. Quando morre um Lama, procura-se o menino no qual sua alma se reencarnou. Depois de um exame rigoroso, a assembléia dos Lamas o escolhe como novo Dalai-Lama. A corrente é forte no Tibete, onde os lamas têm grande importância espiritual e política. Trata-se de um sistema religioso e político fundado na hierarquia dos monges. No alto está o Dalai-Lama (igual ao oceano) e depois o Panchen-Lama (a jóia). O 1o é o líder temporal; o 2o, o espiritual. Depois vem os Hutukus, encarnações de deuses e sábios Bodhisattvas. No final da hierarquia estão os sacerdotes/monges budistas. O Zen Budismo Uma das correntes do budismo mais difundidas no mundo ocidental é o zen budismo japonês. A corrente surgiu na Índia. Foi levada para a China no século VI d.C, por um monge indiano. Pode-se dizer que o Zen é uma formulação budista chinesa, um fruto chinês da semente indiana. É introduzido no Japão em 1.200, tendo vasta aceitação entre a população. O impulso decisivo veio a partir de 1683: com a perseguição ao cristianismo, todas as famílias tinham que se declarar membros de um templo budista. O budismo ganhou então status de religião oficial. Os templos se multiplicaram, houve uma hierarquização, surgindo uma espécie de religião budista sob controle estatal. Em 1868, com a modernização do Japão, o budismo perdeu privilégios estatais e foi restaurado o Xintoísmo (religião primitiva do Japão, que mistura culto à natureza e culto aos antepassados). Mas houve um sincretismo, sendo o budismo misturado com o Xintoísmo. Assim, hoje, muitos japoneses são ao mesmo tempo budistas, fundamentados em idéias confucionistas (sobretudo na questão do sentido da vida e da morte) e xintoístas (sobretudo em relações práticas, como rituais de nascimento e No século XVII, com o consentimento do imperador da China, o Dalai-Lama tomou o poder político no Tibete. Em 1959, o 14o Dalai- Lama se refugiou na Índia, depois da derrota de um levante anticomunista. Convidado a voltar para o Tibete, vive sempre no exílio. O Panchen-Lama local é aliado da China. 7 casamento). O país tem 100 mil templos budistas, e 40 milhões de budistas. É um budismo tolerante à ciência, ao mundo moderno e aberto a diversas doutrinas. Zen é a tradução chinesa do sânscrito dhyana - processo destinado a levar o monge a um estado psicológico de calma que o capacitaria a atingir um estado superior e inefável de iluminação identificado ao Nirvana. O zen budismo enfatiza que os rituais mais complexos não são necessários, e além de ritos xintoístas e confucionistas, incorpora vários ritos do budismo popular nos cultos. Zen é um tipo de meditação que consiste em sentar-se num lugar calmo e consagrar-se exclusivamente a meditar sobre uma verdade religiosa ou filosófica, até compreendê-la a fundo e gravá-la na consciência interior. Busca a união com o absoluto e o equilíbrio do ser. Uma das formas de meditação é a Yoga = integração, união (concentrar o espírito, desviar do acessório), que abrange o corpo, o conhecimento e a devoção. Yoga é técnica e ao mesmo tempo filosofia. Enquanto técnica, ajuda o corpo integralmente, favorecendo a saúde física e psíquica. As pessoas raciocinam melhor e expressam melhor seus afetos. Enquanto filosofia ou religião, representa a união com Deus, por meio da contemplação e austeridade. PROPOSTAS DE MEDITAÇÃO = concentração: Sentar com coluna reta, mas não tensa ou rígida. Se preferir, adote a posição de lótus - pé direito sobre coxa esquerda e (se conseguir!) pé esquerdo sobre coxa direita (também pode ser a meio-lótus). Deixe os olhos semi-abertos. “Anote” mentalmente o que sente no corpo. Observe a saída e a entrada do ar. Concentre-se numa pessoa ou grupo de pessoa que precisa de você. Pense em tudo de bom pra ela. Pense como ela quer ser feliz. Se você desviar o pensamento, volte para ela. Fique assim uns 5 minutos. Depois (só ao final!) pense que tudo isso de bom para ela vem paravocê. Comer concentrado: Quando comer, só comer, observando os alimentos. Busque contato com a natureza – foi aí, fora de casa, que Buda alcançou a iluminação. Você vai ser invadido por felicidade. BIBLIOGRAFIA BÁSICA DE REFERÊNCIA: FILORAMO, Giovanni, PRANDI, Carlo. As ciências as religiões. São Paulo : Paulus, 1999. ROCHA, Antônio Carlos. O que é Budismo. São Paulo : Brasiliense, 1884. SAMUEL, Albert. As religiões hoje. São Paulo : Paulus, 1997. SCHLESINGER, Hugo, PORTO, Humberto. Dicionário Enciclopédico das religiões. Petrópolis : Vozes, 1995. VVAA. As religiões do mundo – do primitivismo ao século XX. São Paulo : Melhoramentos, 1996 WALDENFELS, Hans (ed.). Léxico das religiões. Petrópolis : Vozes, 1998. O budismo quase desapareceu da Índia, seu país natal. Apenas 0,5% da população é budista.
Compartilhar