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Deduc¸a˜o Natural Universidade Federal da Bahia MATA47 - Prof. Paul Regnier - 11 de agosto de 2016 A deduc¸a˜o natural e´ um sistema formal que permite escrever demostrac¸a˜o de resultados usando regras de infereˆncia associadas aos conectivos da linguagem da lo´gica proposicional e da lo´gica de primeira ordem. Ao contra´rio dos sistemas axioma´ticos, a deduc¸a˜o natural tem mais semelhanc¸as com os racioc´ınios usuais utilizado para escrever provas informais em Matema´tica. Portanto, este sistema formal e´ mais adequado para a formalizac¸a˜o das provas do domı´nio das Matema´ticas. Definic¸a˜o 1 (Conectivo principal). O conectivo (ou operador) principal de uma fo´rmula e´ definido por: Se A e´ atoˆmica, enta˜o A na˜o tem conectivo principal; Se A = ¬B, enta˜o ¬ e´ o operador principal de A; Se A = B ⊕C onde ⊕ ∈ {∨,∧,→}, enta˜o ⊕ e´ o operador principal de A. 1 Deduc¸a˜o natural com Sequente Apresentamos primeiro a notac¸a˜o da deduc¸a˜o natural com sequente. Nesta notac¸a˜o, o conjunto das hipo´teses, chamado de contexto, necessa´rio para aplicar uma regra de infereˆncia aparece explicitamente. A aplicac¸a˜o de certas regras modifica o contexto. Outras o deixam invariante. Como o contexto e´ reescrito a cada linha da prova, as mudanc¸as no conjunto de hipo´teses ao longo da prova aparece claramente. Desta forma, o conjunto das hipo´teses “correntes”, dispon´ıveis a cada etapa da demonstrac¸a˜o para aplicac¸a˜o de uma regra de infereˆncia, aparece explicitamente. Definic¸a˜o 2 (Sequente). Um sequente e´ uma tupla denotada Γ ⊢ A na qual: Γ e´ um conjunto finito de fo´rmulas que representa as hipo´teses que podem ser utilizadas na demonstrac¸a˜o (para demostrar A). A e´ uma fo´rmula que representa o resultado a ser demonstrado. Γ e´ chamado de contexto do sequente A de conclusa˜o do sequente. Regras sem Conectivos Axioma: axΓ,A ⊢ A Enfraquecimento: Γ ⊢ A enfΓ,B ⊢ A O axioma estabelece que se A e´ hipo´tese, enta˜o A pode ser demostrada. Ou seja, se A enta˜o A. A regra de enfraquecimento afirma que se um resultado e´ derivado de um contexto, enta˜o este mesmo resultado pode ser derivado de um contexto maior. Ou seja, o aumento do nu´mero de hipo´teses na˜o pode invalidar uma prova. Regras de Infereˆncia dos Conectivos Para cada conectivo, existem duas regras: Uma regra de introduc¸a˜o do conectivo, a qual permite provar uma fo´rmula tendo este conectivo como conectivo principal da fo´rmula; Uma regra de eliminac¸a˜o do conectivo, a qual permite utilizar uma fo´rmula tendo este conectivo como conectivo principal. Regra de introduc¸a˜o da implicac¸a˜o Γ,A ⊢ B →i Γ ⊢ A→ B De baixo para cima, esta regra significa que para mostrar A → B, basta supor A (ou seja, adicionar A as hipo´teses) e demostrar B. Segue treˆs exemplos simples de utilizac¸a˜o desta regra: ax A,¬A ⊢ A →i A ⊢ ¬A→ A →i⊢ A→ (¬A→ A) ax A,¬A ⊢ A →i¬A ⊢ A→ A →i⊢ ¬A→ (A→ A) ax A ⊢ A enf A,B ⊢ A →i A ⊢ B → A Observe como esta regra modifica o contexto, fazendo uso de uma hipo´tese para a inserir na conclusa˜o, e provar assim uma fo´rmula de conectivo principal →. Regra de eliminac¸a˜o da implicac¸a˜o Γ ⊢ A→ B Γ ⊢ A →e Γ ⊢ B De baixo para cima: para demonstrar B, desde que temos um teorema afirmando A → B (ou uma prova de A→ B), e´ suficiente provar A. Esta regra, conhecida como Modus Ponens, e´ comum ao sistema axioma´tico. Ela na˜o altera o contexto e permite provar a conclusa˜o, usando uma fo´rmula com conectivo principal →. Regra de introduc¸a˜o da conjunc¸a˜o Γ ⊢ A Γ ⊢ B ∧i Γ ⊢ A ∧B De baixo para cima, para mostrar A ∧B, e´ suficiente mostrar A e mostrar B. Regra de eliminac¸a˜o da conjunc¸a˜o Γ ⊢ A ∧B ∧ee Γ ⊢ A Γ ⊢ A ∧B ∧deΓ ⊢ B De cima para baixo: De A ∧ B, pode se deduzir A (eliminac¸a˜o a esquerda) quanto B (eliminac¸a˜o a direita). 2 Regra de introduc¸a˜o da disjunc¸a˜o Γ ⊢ A ∨riΓ ⊢ A ∨B Γ ⊢ B ∨liΓ ⊢ A ∨B De baixo para cima: para demonstrar A ∨B, e´ suficiente demostrar A ou demostrar B. Regra de eliminac¸a˜o da disjunc¸a˜o Γ ⊢ A ∨B Γ,A ⊢ C Γ,B ⊢ C ∨e Γ ⊢ C De baixo para cima: para demostrar C, tendo uma prova de A ∨B, e´ suficiente demostrar C, por um lado, supondo A e, por outro lado, supondo B. Isto e´ um racioc´ınio por casos. Por exemplo, tendo uma propriedade sobre um inteiro n, podera´ se distinguir os casos n par ou n ı´mpar. Regra de introduc¸a˜o da negac¸a˜o Γ,A ⊢ ¬i Γ ⊢ ¬A De baixo para cima: para demostrar ¬A, suponha-se A e deduz-se o absurdo. Regra de eliminac¸a˜o da negac¸a˜o (Absurdo cla´ssico) Γ,¬A ⊢ ¬e Γ ⊢ A Esta regra (tambe´m denominada de “absurdo cla´ssico”) corresponde ao racioc´ınio por con- tradic¸a˜o ou pelo absurdo. Para demostrar A, suponha-se ¬A e deduz-se o absurdo. Esta regra pode se aplicar a qualquer momento, pois e´ sempre poss´ıvel supor ¬A e buscar uma contradic¸a˜o. Regra de introduc¸a˜o do absurdo Γ ⊢ A Γ ⊢ ¬A i Γ ⊢ Se demostramos A e ¬A, enta˜o demostramos o absurdo. Regra de eliminac¸a˜o do absurdo Γ ⊢ e Γ ⊢ A De cima para baixo: do absurdo, tudo se deduz. Se conseguimos demonstrar o absurdo, enta˜o podemos demonstrar qualquer coisa. 3 Lema 1. ¬A↔ (A→ ) ax¬A,A ⊢ A ax¬A,A ⊢ ¬A ¬e¬A,A ⊢ →i¬A ⊢ A→ →i⊢ ¬A→ (A→ ) ax A→ ,A ⊢ A axA→ ,A ⊢ A→ →e A→ ,A ⊢ ¬i A→ ⊢ ¬A →i⊢ (A→ )→ ¬A ∧i⊢ (A→ )↔ ¬A 2 Deduc¸a˜o natural sem Sequente Apresentamos agora uma notac¸a˜o mais leve, sem sequente. Esta notac¸a˜o e´ equivalente a an- terior, pore´m o conjunto das hipo´teses e´ escrito apenas uma vez e as regras de infereˆncias sa˜o aplicadas fazendo refereˆncia, quando necessa´rio, as hipo´teses utilizadas. Uma derivac¸a˜o de A sob as hipo´teses A1,A2,⋯,An sera´ representada por: A1 ⋯ An ... A Uma derivac¸a˜o e´ uma a´rvore finita, onde cada no´ e´ rotulado por uma fo´rmula. A a´rvore e´ constru´ıda saindo das folhas (no´s iniciais, em cima da a´rvore) dos ramos e descendo para a raiz (no´ terminal), a fo´rmula a ser derivada. Regras sem Conectivos Os no´s iniciais sa˜o derivados do axioma que e´ interpretado aqui da seguinte forma: a fo´rmula A pode ser derivada da hipo´tese A, o que e´ escrito simplesmente A. A regra de enfraquecimento permite inserir hipo´teses quando for necessa´rio. Axioma: A ax A Enfraquecimento: ... A B enf A Regras de Infereˆncia dos Conectivos Regra de eliminac¸a˜o da implicac¸a˜o ... A→ B ...A →e B Esta regra significa que podemos derivar B a partir das derivac¸o˜es de A→ B e A (regra do Modus Ponens). O contexto (conjunto de hipo´teses) do consequente (B) sa˜o as mesmas que as hipo´teses das derivac¸o˜es iniciais (A→ B e A). Na aplicac¸a˜o desta regra, o contexto na˜o muda. Portanto, na˜o e´ preciso referenciar explicitamente as hipo´teses utilizadas. 4 Regra de introduc¸a˜o da implicac¸a˜o [A] ... B →i A→ B Esta regra significa que podemos derivar A→ B, desde que temos uma derivac¸a˜o da fo´rmula B sob a hipo´tese A. Ao aplicar esta regra, o contexto do consequente (A→ B) e´ alterado. Ele conte´m todas as hipo´teses das derivac¸a˜o inicial de B menos todas as ocorreˆncias da hipo´tese A. Neste caso, diga-se que a hipo´tese A foi descarregada. Formalmente, troca-se todas as ocorreˆncias de A por [A]. Depois desta derivac¸a˜o, a hipo´tese A torna-se parte da conclusa˜o e na˜o pode ser mais utilizada no resto da demonstrac¸a˜o. As hipo´teses se dividem portanto em duas partes: as hipo´teses principais: sa˜o conservadas ate´ o fim da derivac¸a˜o; as hipo´tese auxiliares: sa˜o utilizadas para construir certas derivac¸o˜es e descarregas de acordo. Em deduc¸a˜o natural, uma derivac¸a˜o do consequente A sob as hipo´teses Γ e´ uma a´rvore cuja conclusa˜o (raiz) e´ A e cujas hipo´teses principais esta˜o todas em Γ. O conjunto das regras lo´gicas de infereˆncia e´ dado na Figura 1. 5 ... A ax A ... A B enfA ... A→ B ...A →e B [A] ... B →i A→ B ... A ... B ∧i A ∧B ... A ∧B ∧re A ... A ∧B ∧le B ... A ∨riA ∨B ... B ∨liA ∨B ... A ∨B [A] ... C [B] ... C ∨e C [A] ... ¬i¬A [¬A] ... ¬e A ... A ...¬A i ... e A Figura 1: Regras de introduc¸a˜o e eliminac¸a˜o dos conectivos em deduc¸a˜o natural. Lema 2 (Idem lema 1.). ¬A↔ (A→ )[A](1) [¬A](2) i →(1)iA→ →(2)i¬A→ (A→ ) [A→ ](3) [A](4) →e ¬(4)i¬A →(3)i(A→ )→ ¬A ∧i(A→ )↔ ¬A Para efeito de comparac¸a˜o, segue a prova com a notac¸a˜o de sequente: ax¬A,A ⊢ A ax¬A,A ⊢ ¬A ¬e¬A,A ⊢ →i¬A ⊢ A→ →i⊢ ¬A→ (A→ ) ax A→ ,A ⊢ A axA→ ,A ⊢ A→ →e A→ ,A ⊢ ¬i A→ ⊢ ¬A →i⊢ (A→ )→ ¬A ∧i⊢ (A→ )↔ ¬A 6 Lema 3. ⊢ ¬(A ∨B)↔ (¬A ∧ ¬B) Prova do →: [¬(A ∨B)](3) [A](1) ∨liA ∨B i ¬(1)i¬A [¬(A ∨B)](3) [B](2) ∨riA ∨B i (2)i¬B ∧i¬A ∧ ¬B →(3)i¬(A ∨B)→ (¬A ∧ ¬B) Prova do ←: [A ∨B](3) [A](1) [¬A ∧ ¬B](4) ∧re¬A i [B](2) [¬A ∧ ¬B](4) ∧le¬B i ∨(1,2)e ¬(3)i¬(A ∨B) →(4)i(¬A ∧ ¬B)→ ¬(A ∨B) Lema 4. ⊢ A→ ¬¬A [A](1) [¬A](2) i ¬(2)i¬¬A →(1)iA→ ¬¬A Lema 5. ⊢ A ∨ ¬A [A](1) ∨i A ∨ ¬A [¬(A ∨ ¬A)](2) i ¬(1)i¬A ∨i A ∨ ¬A [¬(A ∨ ¬A)](2) i ¬(2)e A ∨ ¬A 7
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