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Apostila de Psicopatologia 1º Bimestre ainda em construção

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Apostila de Psicopatologia 1º Bimestre (((Lourdes)))
Delimitação do campo da Psicopatologia – Texto introdutório
Slides:
Dificuldade de delimitação do campo da Psicopatologia:
A história da Psicopatologia e da Psiquiatria se confundem.
Boa parte das raízes da psicopatologia encontram-se na tradição médica, nos grandes tratados de psiquiatria do séc. XIX, sobre o que historicamente foi denominado doença mental (Foucault, 2000; Holanda, 2001).
Tratado médico-filosófico da alienação da alma ou mania, 1801
A construção do conhecimento no campo da psicopatologia se deu a partir de observações prolongadas e cuidadosas de um grande número de doentes mentais (Dalgalarrondo, 2008).
- Dessa preocupação com a descrição das significações dos fenômenos psicopatológicos surgiu a psicopatologia fenomenológica (Holanda, 2001). 
Comentários na cor lilás: 
Em função das raízes da psicologia e psiquiatria se confundirem.
Para essa diferenciação, precisamos pensar no momento histórico que estas surgem. Entre o século XVII e século XVIII, ocorre uma grande transformação no campo da loucura, na forma como a experiência da loucura passou a ser tratada. Nessa época a vida social estava sendo organizada com a saída da idade média e início da idade moderna (contemporânea). Essa mudança no arranjo social veio acompanhada de uma série de mudanças. No âmbito da saúde mental/loucura, o louco até então não era tratado como um doente, que Foucault chama de “doente ignorado”. Se ele não era visto como doente, ele não era objeto de estudo da medicina, que até então não se apresentava como “ciência”, mas se apresentava como um estado de arte (magos, feiticeiros, curandeiro...). Nesse momento predomina o pensamento pré-científico, assim como na psicologia. 
	O louco vivia disperso no cenário social, porém sendo notado em sua diferença, principalmente em suas crises, onde eram contidos (amarrados, enjaulados...). O louco também era visto como alguém que tinha poderes especiais, místicos, contato com divindades. Essas múltiplas visões sobre a loucura, prevaleceram até o século XVII/XVIII.
	As primeiras internações deram origem a alguns locais específicos para o encarceramento da loucura (que ainda não é o asilo e o hospital psiquiátrico), locais que eram usados para isolar o louco das outras pessoas assim como quem tinha outras doenças infectocontagiosas, a fim de que exterminassem esses males “higienizando” os grandes centros, o que era de interesse do estado. 
	Foi a partir daí (surgimento dos “hospitais”/hospedarias) que no séc. XVIII que vão surgir os asilos, que são específicos para o tratamento da loucura. É no asilo que surge a psicopatologia como ciência que estuda os fenômenos relacionados aos transtornos mentais e a anormalidade da vida psíquica, e a psiquiatria enquanto disciplina médica que trata da loucura usando um tratamento visando a cura. É aí que começa a maior mudança da visão de loucura.
	A medida que a vida social vai se organizando de outra maneira no campo da política, da economia e da cultura a experiência da loucura no âmbito da ciência também muda em seu modo de ser vista e de ser tratada. Mas no campo da experiência, continua a mesma, o louco continua sendo visto como rompendo com a racionalidade que é inaugurada com o pensamento científico. 
	O pensamento de Descartes vem nessa época como um divisor de águas, pois com a filosofia cartesiana, a ciência vai deixando de ser pré-científica e vai se afastando da religião (com isso a forma do mundo se organizar vai deixando de ser ligada somente ao mágico religioso) e vai gradativamente se aproximando do pensamento científico, até chegar ao séc. XIX que temos com o positivismo a consolidação desse pensamento que nasceu no séc. XVI/XVII com a filosofia cartesiana. 
	Boa parte das raízes da psicopatologia encontram-se na tradição médica, nos grandes tratados de psiquiatria (tratado com todas as classificações) que surgiram a partir do aprisionamento da loucura no final do séc18 e início do século 19. Quando a loucura vem para o asilo/manicômio (que é a mesma coisa que hospital psiquiátrico) a loucura pôde ser observada de perto e assim classificada. 
	A medicina ainda estava muito atrelada a filosofia, ainda não é uma disciplina puramente científica. 
	Sobre o termo alienação mental, foi forjado por Pinel. O louco era um alienado porque perdeu a razão, ou seja, a razão dele degenerou. Com essa ideia Pinel rompe com ideias anteriores, se afastando ainda mais da perspectiva mágico-religiosa do pensamento sobre a loucura como um espírito ruim que apossa do corpo e para retira-lo as pessoas faziam um buraco na cabeça dos loucos para que esse espirito saísse. 
O Freud diz que o homem tem a loucura e a morte como seus grandes medos, e ao longo da história, os grandes projetos giraram em torno dessa preocupação. O ritual mágico religioso que trata da loucura com técnicas como a trepanação (Trepanação - consiste na abertura de um ou mais buracos no crânio, através de uma broca neurocirúrgica.
Na antiguidade a trepanação era muito utilizada em hospícios ou clinicas para doentes mentais. A técnica era feita por cirurgiões os quais acreditavam que com a trepanação os demônios e espíritos malignos iriam sair do corpo, mesmo que causando morte muitas vezes) deixa de existir, mas não completamente. 
	Com Pinel surge o tratamento moral no séc. XVIII. Porem as práticas não deixaram de existir, nesse cenário e até os dias de hoje estas coexistem, porém, esse novo conhecimento e conjunto de práticas trazido por Pinel terá um foco maior, mudando completamente a história da loucura. 
	A partir desse aprisionamento da loucura no asilo, o conhecimento no campo da psicopatologia foi sendo construído pela observação prolongada e cuidadosa para levar a classificação/tipologia. Então surge a psicopatologia fenomenológica, com a preocupação de descrever e dar significações aos fenômenos psíquicos. A psicopatologia clássica (do início de seu surgimento) é essencialmente fenomenológica descritiva.
	Fenomenológica- O conhecimento com o contato com o outro passa a ser descrito. É uma corrente filosófica cujo conhecimento decorre desse contato com seu objeto de estudo. 
DEFINIÇÃO: conjunto ordenado de conhecimentos relativos às anormalidades da vida psíquica em todos os seus aspectos, inclusive as suas causas e consequências, assim como os métodos empregados para obtenção deste conhecimento (Sonenreich e Bassit, sem data).
A psicopatologia não está preocupada com tratamento e sim com a anormalidade e seus aspectos, quem se preocupa com o tratamento é a psiquiatria, e para isso precisa da psicopatologia como ferramenta de trabalho.
Em acepção mais ampla, pode ser definida como o conjunto de conhecimentos ao adoecimento mental do ser humano (Dalgalarrondo, 2008)
Psicopatologia significa o estudo do homem mentalmente doente e, sendo assim, engloba o estudo mórbido dos fenômenos mentais, o estudo das doenças e anormalidades mentais, o estudo e o estabelecimento de conceitos e leis sobre as manifestações mórbidas mentais, ou ainda, o estudo das condições e leis a que estão submetidos os fenômenos psíquicos patológicos ou anormais (Silvares, Assumpção Jr & Priszkulnik, 2009).
O termo psicopatologia é de origem grega – psyché, alma e patologia, doença, sofrimento (pathos). Traduzido no sentido literal significa patologia do espírito (Paim, 1993)
Foi proposto pelo jurista e filósofo iluminista criador do utilitarismo Jeremy Bentham em 1817 (Cheniaux, 2015; Henriques, 2012)
Como ciência: objetiva o conhecimento da experiência e da conduta dos “mentalmente enfermos”, a formulação de conceitos e princípios gerais.
Como ciência: objetiva o conhecimento da experiência e da conduta dos “mentalmente enfermos”, a formulação de conceitos e princípios gerais. A ciência da época tinha uma preocupação exclusiva com a produção de conhecimento. 
Apesar dessa preocupação científica da época, os asilos tinham um objetivo político também. Serviam como ferramenta de exclusão/separaçãosocial, uma vez que os loucos estando andarilhos não davam lucro ao estado, e já nos asilos, os loucos em melhores estados produziam e “bancavam-se” (teatro, artes, artesanato...) 
A época entre o séc. XVIII e início do sec. XIX que demarca o surgimento do asilo, foi um divisor de águas na história da loucura, pois a partir daí, surge o termo doença mental. A loucura, agora dita doença mental deixa de ser vista como forma predominante e hegemônica como possessão ou alienação mental como Pinel queria. Ela foi apropriada pela medicina. 
Como disciplina aplicada: aproxima-se da psiquiatria, cujo o objetivo é o tratamento das enfermidades mentais.
A psicopatologia é uma disciplina científica e prática que investiga as anormalidades psíquicas, dando maior destaque aos sinais que as caracterizam sem entrar nos temas maiores da psiquiatria - tratamento, cura, valor do tratamento, eficácia (Sonenreich e Bassit, sem data).
O surgimento da psicopatologia como ciência distinta da psiquiatria só vai ocorrer segunda alguns historiadores, pois alguns afirmam que estas são indissociáveis. 
Surgimento da psicopatologia como ciência: livro Psicopatologia Geral, de 1911, cujo autor é o filósofo e psicólogo alemão Karl Jaspers – 1883-1969 (Holanda, 2001).
Importância da obra de Jaspers
Considera a psicopatologia uma ciência autônoma, independente da Psiquiatria. Destaca que “a psiquiatria é a profissão prática e a psicopatologia a ciência”. (Jaspers, 2000)
A prática da profissão psiquiátrica se ocupa sempre do indivíduo humano como um todo. É um indivíduo humano todo que o psiquiatra tem sob sua assistência, seus cuidados e tratamento ou que ele recebe para consultas. (...) o psiquiatra lança mão, como psicopatologista, de conceitos e princípios gerais. (...) para ele a ciência é apenas um dos meios de auxílio. Enquanto para o psicopatologista a ciência é um fim em si mesma. Ele quer apenas conhecer e reconhecer, caracterizar e analisar o homem. (...) pretende o que se pode exprimir em conceitos, o que se pode comunicar, o que é susceptível de transformar-se em princípio e se pode reconhecer em quaisquer circunstâncias. ” (Jaspers, 2000, p. 11)
Karl Jaspers considera a psicopatologia uma ciência autônoma, independente da Psiquiatria. Destaca que “a psiquiatria é a profissão prática e a psicopatologia a ciência”. Ou seja, a psicopatologia se preocupa só com a produção do conhecimento e investigação e já a psiquiatria produção prática e aplicação desse conhecimento ao tratamento da loucura. 
Jaspers quer dizer que a loucura é loucura em qualquer ambiente. Mas sabemos que não é pois vemos como o asilo potencializou ao longo da história o agravamento da loucura. 
Objeto e método da psicopatologia
Estudo dos fenômenos psíquicos conscientes, (anormais, o objeto de estudo é doença centrado na observação; descrição; classificação) pretendendo conhecer “a envergadura das realidades psíquicas” (Jaspers, 2000, p. 13). Porém, não são todos os fenômenos psíquicos, apenas os patológicos, os anormais, sendo esses o objeto da ciência psicopatológica.
 Por isso, aproxima-se da psiquiatria, ramo da medicina que tem como objeto de investigação as “doenças mentais”.
5.1 Método objetivo:
 Observação e descrição dos fenômenos psicopatológicos.
 Classificação segundo a forma/estrutura do sintoma (alucinatório, delirante, persecutório (perseguição), obsessivo, ansiedade, depressivo, maníaco, (HUMOR) ...). É o conteúdo da alteração que vai dar forma/estrutura ao sintoma.
Só observar e classificar não era suficiente para entender o que realmente essas pessoas sentiam quando ideias (de perseguição, místico religiosa) dominava o pensamento delas. Então a psicopatologia vai se aproximar novamente da fenomenologia para poder entender como é essa vivencia do paciente.
O método chamado de penetração empática, é um método que a pessoa permite que o profissional converse com ela no sentido de ela se sentir à vontade para poder comunicar o que de fato a incomoda. É a partir dessa relação empática que o paciente vai poder comunicar essa vivencia do que é a experiência da loucura para ele, o que ele sente quando acha que está sendo perseguido...
Método subjetivo:
- Método fenomenológico para acessar o conteúdo dos sintomas (vivências pessoais).
- A fenomenologia, com base nas vivências juntos aos pacientes, possibilita a compreensão do significado do fenômeno patológico tal como o considera o paciente (“penetração empática” no mundo subjetivo dos enfermos, “sentir-se como”). Não é apenas um “interrogatório” (Paim,1993).
Principais abordagens em psicopatologia
Pode-se dividir a psicopatologia em duas abordagens principais (Sims, 2001):
6.1 Explicativa (orientação psicodinâmica): as investigações são voltadas para a psicogênese (causa) dos transtornos mentais. Sofre influências da teoria psicanalítica e da psiquiatria. Vai entender não como um conjunto de sinais e sintomas, mas a partir de uma estrutura psíquica que se desenvolve desde o início da vida de cada sujeito. 
6.2. Descritiva (orientação fenomenológica): descrição e estudo dos transtornos mentais Elaboração da lista de classificações.
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A constituição histórica da doença mental – Texto 1
Slides:
A ideia da loucura como doença é uma produção histórica que surge em um determinado momento no ocidente, atendendo também a interesses específicos e não apenas o da medicina. 
Até o advento de uma medicina positiva (científica) o louco era um “possuído”. (Essa medicina cientifica positivista é a do século XIX)
Loucura = possessão (pré-história e antiguidade) (a loucura é tida como possessão demoníaca na antiguidade em várias sociedades)
Os gregos tinham uma concepção mais aprofundada sobre o funcionamento do corpo, influenciando os romanos a um entendimento mais aprofundado sobre o funcionamento do corpo, por exemplo de como as doenças surgiam. A filosofia grega contribuiu para o avanço da medicina pois eles observavam, faziam experimentos permitindo um afastamento da ideia de possessão demoníaca para pessoas com problemas mentais. 
“Doente ignorado”, preso a uma rede de significações mágico-religiosas. (o louco era uma pessoa possuída que cometia uma serie de comportamentos inadequados em função do espírito que a possuía, ou em favor de uma maldição, ou foi decorrente de um castigo, dentre outros) (a loucura era explicada por meio de significados mágicos religiosos) 
Loucura = doença mental (séc. XIX), objetividade de um olhar médico científico.
 (A loucura só vai passar a ser estudada como doença a partir do século XIX, tendo uma causa definida para cada um dos tipos, uma terapêutica, sintomas, tudo isso descritos nos manuais de psiquiatria). 
Pré-história: estima-se que desde o Neolítico (+ ou – há 500 mil anos, na era do homo erectus, que viveu entre 6 milhões e 150 mil anos atrás) o comportamento anormal era visto como uma vitória dos maus espíritos. A cura era obtida com a expulsão destes do corpo da vítima (o possuído).
A figura mostra um crânio submetido à trepanação, tratamento que consistia na remoção de secções circulares do crânio do louco, como um trépano, para libertar os maus espíritos.
 
Antiguidade: escritos egípcios, chineses e hebraicos comprovam que a compreensão da loucura baseada na possessão demoníaca manteve-se entre as sociedades antigas. 
O exorcismo era conduzido por um xamã (curandeiro) ou sacerdote, que entoava preces e cânticos, insultos ao mau espírito, ruídos e administrava poções amargas ao possuído. Casos extremos eram tratados com flagelação e torturas, como por exemplo a privação de alimentos. Na figura dois sacerdotes assírios em traje de peixe realizam um exorcismo
Grécia e Roma: embora as explicações demonológicas para um conjunto de doenças físicas e mentais ainda estivessem muito difundidas entre os gregos e romanos no período entre 500 a.C. e 500 d.C., filósofos e médicos começaram a explicar tais fenômenos com baseem causas naturais. 
Hipócrates (460 – 377 a.C.), considerado o pai da medicina moderna, foi o precursor dessa perspectiva ao enfatizar que o desequilíbrio dos quatro fluidos fundamentais do organismo, ou humores (bílis amarela, bílis negra, sangue e fleuma), era o responsável pelo aparecimento das doenças, inclusive as mentais.
Essa explicação foi também incorporada por Platão e Aristóteles e mais tarde por médicos romanos.
Antes de tratamentos que incluíam sangrias e contenções físicas, eram prescritos um ambiente cálido e de apoio, música, massagens, banhos para acalmar e confortar os pacientes.
Idade Média: retorno à demonologia. Descrença na ciência e hegemonia do poder da Igreja Católica. O comportamento anormal, a loucura, era habitualmente vista a partir de um conflito entre o bem e o mal, Deus e o diabo.
Nesse período de muitas guerras, pestes e mortes as pessoas culpavam o demônio por essas perturbações e temiam serem possuídas. Haviam verdadeiras explosões de loucura coletiva em grande número de pessoas partilhavam de delírios e alucinações.
Além dos exorcismos e condenações, surgiram os primeiros estabelecimentos encarregados do tratamento da loucura e de outras doenças, um grande contingente de excluídos da sociedade.
2. Antes do séc. XIX – A Experiência da loucura no mundo ocidental era bastante polimorfa (várias formas)
Antes do século XIX, período este que a loucura passa a ser vista como doença mental, entre a idade média e o século XIX essa concepção de loucura como possessão, dentre esses períodos ocorre o surgimento dos hospitais, mostrando que a experiência da loucura no ocidente tinha vários sentidos. 
Nos hospitais gerais que surgiram no final da idade média, que continuaram a existir no início da idade moderna, haviam leitos reservados aos loucos (leitos fechados, espécie de jaulas para manter os furiosos) – apenas para as formas de loucura julgadas curáveis. (Quem cuidava dos doentes eram os religiosos, o tratamento era de cunho religioso) 
(Os casos mais graves ficavam nos asilos, instituições manicomiais, já os considerados curáveis eram mantidos nos hospitais gerais até a melhora e retorno para casa) 
Práticas localizadas. (Nessa época a loucura não era tratada da mesma maneira que no restante do mundo, cada região tinha uma maneira de lidar com a loucura) 
BOSCH, H. (1494): A extração da pedra da loucura. Museu do Prado, Madrid.
2. Séc. XV e XVI (início do Renascimento):
A loucura tinha grande extensão, mas sem suporte médico.
Integrada à paisagem sócio-cultural.
Presente nas artes (pinturas, textos, rituais,...)
visão romântica da loucura, a loucura tinha um certo prestígio.
A Experiência da loucura no mundo ocidental era bastante polimorfa.
Nos hospitais gerais da idade média haviam leitos reservados aos loucos (leitos fechados, espécie de jaulas para manter os furiosos) – apenas para as formas de loucura julgadas curáveis.
Práticas localizadas.
 BOSCH, H. (1490-1500): A nave dos loucos. Museu do Louvre, Paris.
Não havia o médico cientista, positivista. A loucura ainda era integrada ao contexto sociocultural, era retratada nas artes, nas pinturas, textos, rituais, faziam parte das festas, uma visão romântica da loucura sem o preconceito atual. Anteriormente o louco tinha um certo prestigio, era alguém que tinha poderes místicos, mágicos, que poderia prever o futuro e em certas situações era exaltado. 
A partir do surgimento dos leitos hospitalares para pessoas com doença mental e da mudança gradativa do tratamento da loucura, através de uma necessidade que foi crescendo de excluir a loucura da paisagem social, primeiro em função dos furiosos e depois sendo estendido em função das pessoas loucas trazendo assim o surgimento do asilo. 
Séc. XVII – O mundo da loucura torna-se gradativamente o mundo da exclusão: (na Europa os rios eram navegáveis e por isso criaram na época navios, naves apenas para transportar os loucos, retirando os mesmos do convívio social)
Internação de todos àqueles que em relação à ordem da razão, da moral e da sociedade, dão mostras de “alteração”.
Expansão em toda a Europa do número de instituições de internação (“esboço de um hospital”, “não tinham vocação médica”, apenas abrigavam quem não podia fazer parte da sociedade).
Internação (assistência à sociedade) ≠ tratamento (assistência ao doente).
Obrigados a trabalhar para manter os hospitais
Trabalho = sanção, controle moral, disciplina.
A exclusão acontece principalmente com o surgimento dos asilos que são instituições de internação, privava a pessoa de sua liberdade na qual os loucos são internados e obrigados a trabalhar para que seu corpo fosse disciplinado. Uma disciplina que incide no corpo do paciente e faz com que ele se acalme. 
O auge da exclusão é o asilo. 
Internação de todos àqueles que em relação à ordem da razão, da moral e da sociedade, dão mostras de “alteração”. 
A psiquiatria e psicopatologia vão se basear nas ideias de Descartes, o qual afirmava que o louco estava despossuído de razão, para poder justificar a necessidade de internação dessas pessoas ditas loucas da época. 
Expansão em toda a Europa do número de instituições de internação (“esboço de um hospital”, “não tinham vocação médica”, apenas abrigavam quem não podia fazer parte da sociedade). (Nesses espaços a verdade sobre a loucura começam a ser produzidos) (na medida em que o estado vai precisando de mão de obra as pessoas vão saindo do hospital - que se torna asilo - para trabalhar). 
Internação (assistência à sociedade) ≠ tratamento (assistência ao doente). (O objetivo era organizar o espaço social, separando as pessoas que tinham condição de produzir, quem tinha condição de fazer parte da mãe de obra trabalhadora separando de quem não tinha, o trabalho exercia uma função de controle moral e de disciplina) 
Séc. XVIII – O asilamento da loucura e o surgimento da psiquiatria clássica: A loucura faz sua reaparição no cenário social. (A loucura foi objeto de discussão da época. No século XVIII o louco estava integrado na cena social, presente nas festas, rituais, tinha um prestigio, já nessa época a loucura perdeu o prestigio sendo vista como ameaça, mas o estado discute e vai procurar argumentos na medicina, na filosofia para que o louco fique preso)
Revolução francesa (abolição da internação dos degenerados, reforma da assistência); (ocorreu uma reforma da assistência onde só os loucos de verdade ficavam internados, pois custava caro para o estado manter as instituições, apesar de alguns trabalharem para ajudar a custear as despesas do hospital)
Philippe Pinel (1745-1828; fundador da psiquiatria. Tratado médico-filosófico da alienação da alma ou da mania, 1801);
Instituir a liberdade aos loucos pode ser perigoso; (Pinel traz a ideia de que os loucos tinham que ser retirados dos ambientes perniciosos, que levam a alienação mental, que levam a perda da razão, deveria ser retida a liberdade deles, deveriam ser levados para um ambiente purificador, onde estariam isolados da realidade externa que promoveu o adoecimento. Longe da realidade externa receberiam um tratamento moral que os ajudariam a recuperar a razão) 
Internação apenas aos loucos, incapazes de produzir segundo a ordem burguesa vigente;
Internação = medida de caráter médico; (Não é mais um ritual de trepanação)
O tratamento não representa ainda a medicalização da loucura. O tratamento é moral, disciplinar; (A técnica criada por Pinel para tratamento da loucura é conhecida como tratamento moral) 
Nessa época não existia medicação, remédio só passa a existir depois da primeira guerra mundial como medida de tratamento em massa, o tratamento da loucura naquela época era moral, disciplinar. 
Questão de prova: falar da mudança de paradigma, quando a loucura deixa de ser tratada como possessão e passa a ser tratada como alienação, em que contexto isso acontece, qual o tipo de tratamento que Pinel propõe. 
Loucura = infatilização e erro (deve manter-se enclausurada) (a internação é voltadaapenas para os loucos que são incapazes de produzir segundo a burguesia. A internação é algo de caráter médico. Nessa época a psiquiatria e a psicopatologia já conseguiram organizar um pouco de conhecimento ainda que estivessem ligados ao conhecimento filosófico, conhecimento da razão, mas a medicina começa gradativamente a se distanciar da filosofia e se aproxima da ciência)
O louco é visto numa perspectiva infantil, há uma infantilização e o erro do louco decorrente da perca da razão deveria ser corrigido e por isso ele deveria ser educado, disciplinado. 
Essa disciplina que nasceu nessas instituições é a mesma seguida até os dias atuais nas escolas, instituições militares dentre outros que esquadrinha os comportamentos aceitáveis e os que devem ser punidos. 
O louco deveria ser enclausurado para corrigir o erro, isso acontecia no asilo onde se empregava o tratamento moral. Os asilos que não empregavam o tratamento moral não conseguiam recuperar a razão da pessoa. Se o tratamento moral for aplicado fora do espaço do asilo ele também não funciona, pois, para dar certo é necessário a privação da liberdade, a repetição, o ritmo constante e assim o corpo vai sendo disciplinado tornando mais fácil regular a mente. 
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Texto 3: A história da loucura 
Sociedade pré-históricas e antigas
Loucura = Possessão = maus espíritos (explicação sobrenatural). Tratamento = exorcismo feitos por sacerdotes e Xamãs
Grécia e Roma antiga (500 a C a 500 DC)
Loucura = mescla de visões naturais e explicações sobrenaturais. Tratamento = pela restituição dos fluidos corporais, através de uma vida mais tranquila e boa alimentação, por exemplo. Tratamentos realizados por médicos e ainda por religiosos em uma visão sobrenatural.
 Idade Média (500 até 1350 DC)
Loucura = possessão. Explicação sobrenatural, demoníaca. Tratamento = exorcismo realizados por clérigos católicos. 
 Renascimento (séc. XV a XI)
Loucura = visão medica Greco-romana (hipocrático-galênica). Loucura experimentada em estado livre. Tratamento = pela restituição dos fluidos corporais
Idade Clássica (Séc. XVII e XVIII)
Loucura = doença mental = mundo da exclusão. Visão médica, tratamento = moral (pinel).
Sociedades Pré-Históricas e Antigas
A história da loucura não se resume à história da “doença mental”. Enquanto a doença mental, por se tratar de uma concepção médico-positivista acerca da loucura, possui pouco mais de 200 anos de história, a loucura, entendida como a experiência da desrazão, acompanha a humanidade desde seu surgimento. Foi, portanto, relativamente recente, na virada do século XVIII para o XIX, que a loucura ganhou status de patologia mental, tendo sido apropriada pela medicina positiva. Retraçaremos a seguir um panorama das diversas e divergentes concepções históricas da loucura no mundo ocidental, até sua conceitualização pelo saber médico positivista como “doença mental”.
Sociedades Pré-Históricas e Antigas
	Nem sempre a loucura foi vista como doença mental. As sociedades pré-históricas e antigas possuíam uma concepção sobrenatural da loucura; consideravam-na obra de maus espíritos, atribuindo sua causalidade à possessão. Fósseis de crânios humanos perfurados do período Neolítico foram encontrados, fornecendo indícios de que tais perfurações decorriam de psicocirurgias primitivas, chamadas trepanações, que visavam a exorcizar os maus espíritos do corpo do possuído. Os antigos escritos hebraicos, chineses e egípcios também atribuíam a loucura à possessão. 
De acordo com essa concepção, o tratamento freqüente proposto para a loucura era o exorcismo, realizado por um xamã ou sacerdote, que podia recitar preces, dialogar com os maus espíritos, insultá-los, executar magias, produzir ruídos altos, fazer a pessoa beber poções amargas e, até mesmo, flagelar ou deixar a pessoa passar fome.
1.2. Grécia e Roma Antigas 
Na Grécia e Roma Antigas (500 a. C. a 500 d. C.), essas concepções sofreram mudanças. Explicações naturais da loucura, fornecidas por filósofos e médicos gregos, passaram a mesclar-se às explicações sobrenaturais tradicionais.
Hipócrates de Cós (460-377 a. C.), considerado o pai da medicina, compreendia a loucura como uma doença natural, sem maiores implicações religiosas; considerava o cérebro como o verdadeiro centro da atividade mental. Segundo sua teoria dos humores, as doenças resultavam de um desequilíbrio dos quatro fluidos (ou humores básicos) que circulavam pelo corpo: bílis amarela, bílis negra, sangue e fleuma. Acreditava que o excesso corporal de bílis negra causasse a melancolia, forma discreta e retraída de loucura; da mesma forma, a mania, forma exuberante e furiosa de loucura, seria o resultado do excesso de bílis amarela circulante; e assim por diante. Hipócrates acreditava que o tratamento das formas de loucura passava necessariamente pelo tratamento das patologias físicas subjacentes. Propunha, por conseguinte, a restituição do equilíbrio dos fluidos corporais; por exemplo, o excesso de bílis negra poderia ser reduzido através de uma vida tranqüila, dieta vegetariana, temperança, exercícios, celibato e, até mesmo, sangrias. 
Tal visão foi compartilhada pelos filósofos gregos Platão (427-347 a. C.) e Aristóteles (384-322 a. C.), sendo mais tarde aprimorada por influentes médicos gregos e romanos, cujo mais importante foi Galeno (131-200 d. C.). Daí esta escola ter ficado conhecida como “hipocrático-galênica”. Galeno distinguia três faculdades diretivas da mente: a imaginativa, a racional e a mnemônica. Acreditava que alterações ou a perda dessas faculdades dariam origem às diferentes formas de loucura: frenitis (loucura febril), letargia, melancolia, mania, moria (perda do senso crítico) e delírio.
1.3. Idade Média 
Com o declínio do antigo Império Romano, a demonologia sofreu um paulatino ressurgimento, à medida que o poder do clero aumentava na Europa. Na chamada Idade Média (500-1350 d. C.), o louco era a personificação viva do mal, que comprovava a influência de Satã. Embora alguns cientistas e médicos ainda insistissem em explicações e tratamentos naturais, sua visão tinha pouco peso na atmosfera demonológica reinante naquela época.
A Idade Média foi um período conturbado de guerras, insurreições urbanas e pestes. As pessoas culpavam o demônio por tais perturbações e temiam ser possuídas por ele. Conseqüentemente, a incidência da loucura aumentou vertiginosamente. Havia explosões de loucura coletiva em que grande número de pessoas partilhava delírios e alucinações. Surgiu naquela época, na Itália, a música/dança “tarantela” como antídoto ao “tarantismo” – possessão por um tipo de aranha chamada tarântula. Data também daquela época a “licantropia”, crença na possessão de homens por lobos, chamados “lobisomens”. 
Durante esse período, há o ressurgimento das técnicas de exorcismo, a cargo dos clérigos, que podiam suplicar, entoar cânticos, rezar, administrar água benta ou bebidas amargas; caso tais técnicas não funcionassem, podiam, ainda, insultar o demônio e atacar o seu orgulho ou, em casos mais extremos, fazer o indivíduo passar fome, flagelá-lo, escaldá-lo ou estirá-lo.
Vale ressaltar que a maioria dos hospitais ocidentais do Medievo comportava leitos reservados aos loucos (de fato, não passavam de jaulas). Ou seja, mesmo na Idade Média havia espaço para as curas médicas da loucura. Todavia, isso se limitava às formas de loucura tidas como curáveis (frenesis, episódios de violência ou acessos melancólicos). No geral, a loucura possuía uma grande extensão, sem suporte médico.
1.4. Renascimento 
Durante a fase inicial do Renascimento (séculos XV e XVI), período de florescimento cultural e intensa atividade científica na Europa, a visão demonológica da loucura vai sendo paulatinamente substituída pela visão médica greco-romana (escola hipocrático-galênica), preservada para aposteridade e aprimorada pela medicina árabe, cujos principais representantes foram Avicena (séc. XI) e Averróis (séc. XII).
	O século XV testemunhou a abertura dos primeiros estabelecimentos reservados aos loucos no ocidente, primeiramente, na Espanha muçulmana (Saragossa), em 1409, e posteriormente na Itália. No século seguinte, tais estabelecimentos se expandiriam para a Inglaterra, Áustria, França etc. Contudo, as práticas asilares são pontuais; a loucura é experimentada em estado livre, isto é, ela circula, faz parte do cenário e da linguagem comuns; é, para cada um, uma experiência cotidiana que se procura mais exaltar do que dominar, como o ilustram os loucos célebres na França, no início do século XVII.
	Vale ressaltar que, naquele período, a demonologia continuava em alta, como o comprova o manual de caça às bruxas Malleus Maleficarum, escrito em 1484 por dois padres inquisidores, espécie de protótipo dos modernos manuais psiquiátricos.[1: ]
1.5. Idade Clássica (séculos XVII e XVIII)
	Em meados do século XVII, uma brusca mudança acontece; o mundo da loucura vai se tornar o mundo da exclusão. Criam-se em toda a Europa estabelecimentos para internação não somente dos loucos, mas de todos os indivíduos desviantes com relação à moral burguesa em ascensão: inválidos pobres, mendigos, desempregados, portadores de doenças venéreas, libertinos etc. Na França, criam-se os Hospitais Gerais (Bicêtre e La Salpetrière) com este propósito, cujo correspondente na Inglaterra eram as Workhouses. Também os antigos estabelecimentos para loucos, que haviam surgido no Renascimento, alinharam-se à proposta da chamada “Grande Internação”.
	Tais novos estabelecimentos não têm vocação médica alguma; trata-se apenas de depósitos humanos que visavam a separar os que podem ou não fazer parte da ascendente sociedade capitalista. No mundo burguês em processo de constituição, o pecado maior passa a ser a ociosidade, e não mais o orgulho e a avidez, como na Idade Média. O critério de exclusão (dos residentes nas casas de internamento) é a incapacidade de tomar parte na produção, na circulação ou no acúmulo de riquezas. Tanto que, nesses estabelecimentos, reina o trabalho forçado – conforme o sugestivo nome dado a eles na Inglaterra (Workhouses) o atesta - como forma de expiação moral.
	A loucura, durante tanto tempo manifesta e loquaz, entra num tempo de silêncio no qual permanecerá por um longo período, ao menos até Freud, que reconheceu na desrazão uma linguagem comum capaz de comunicar algo. Durante seu período de silêncio, a loucura é despojada de sua linguagem e, se se pôde continuar a falar algo dela, ser-lhe-á impossível falar acerca de si mesma.
	A chamada Grande Internação não duraria mais que um século. Na metade do século XVIII, dentro do ideário revolucionário francês pautado nos princípios de liberdade e igualdade, surgem denúncias políticas dos seqüestros arbitrários e críticas dirigidas à forma tradicional de assistência, que geram um pavor popular pelas casas de internamento, consideradas focos do mal. 
	No fim do século XVIII, os reformadores quiseram suprimir o internamento como símbolo da opressão do Antigo Regime. Como à loucura, por tanto tempo ausente do cenário social, já se associara o estigma da periculosidade, as antigas casas de internamento passaram a ser reservadas somente aos loucos. O internamento tomou, então, uma nova significação: tornou-se medida de caráter médico, justificando-se como uma prática de tratamento; da mesma forma, a loucura ganhou uma nova concepção, tornando-se objeto do saber médico a partir de sua conceitualização como doença mental. A possibilidade de aglutinar os loucos em um mesmo espaço para conhecer e tratar suas loucuras permite o nascimento da psiquiatria. Pinel, na França, Tuke, na Inglaterra, Chiarugi, na Itália, Wagnitz e Riel, na Alemanha, todos médicos reformadores do hospício que humanizaram o tratamento dispensado aos loucos (é bem conhecido o gesto romântico de Pinel de libertar os loucos de suas antigas contenções físicas), inserindo suas loucuras numa nosografia médica.[2: A nosografia é uma nomenclatura decorrente de uma classificação, ou seja, um conjunto de termos particulares para a descrição de doenças em medicina; associa-se à “nosologia”, que é o estudo sistemático e elucidativo dessas doenças. ]
Descreva como a experiência da loucura era concebida na antiguidade, nas sociedades grega e romana e na idade média. 
R- Na idade antiga a loucura era concebida como algo sobrenatural, ou seja, era algo considerado como obra de maus espíritos, atribuindo sua causalidade á possessão. Pensava-se que o espírito se apossava do sujeito e este passava a se comportar de forma incomum. Dentro dessa lógica foi desenvolvida alguns rituais como as trepanações (furar o crânio), que visava exorcizar (liberar) os maus espíritos. Nesta época o louco não era excluído (no sentido de uma categorização social) ou enviado para um lugar específico, ele era “curado” ou permanecia integrado a sociedade (quando não oferecia perigo a outros). Neste momento a loucura não era vista como uma doença, não é algo a ser tratado, assim a perda da razão só pode se restituída por um ritual. 
Obs.: Os antigos escritos hebraico, chineses e egípcios também atribuíam a loucura a possessão. 
Na sociedade grega e romana não existe uma ideia dominante sobre a loucura, pois nesta época as concepções sofreram mudanças e explicações naturais da loucura, fornecidas por filósofos e médicos gregos passam a mesclar-se das explicações sobrenaturais (religiosas)
Hipócrates, considerado pai da medicina, entendia a loucura como uma doença natural, sem maiores implicações religiosas, para ele o conhecimento nesta área é baseado na observação, mas sem deixar de lado a crença religiosa, pois ele não se colocava contra o conhecimento religioso. Segundo a teoria desse pesquisador as doenças resultavam de um desequilíbrio dos quatro fluidos (ou humores básicos) que circulavam pelo corpo: bílis amarela, bílis negra, sangue e fleuma. Ele acreditava que o excesso corporal de bílis negra causasse a melancolia, forma discreta da loucura, já a bílis amarela causava agitação, uma forma exuberante da loucura. Hipócrates acreditava que o tratamento das formas de loucura passava necessariamente pelo tratamento das patologias físicas subjacentes (ocultas). Ele propunha a restituição do equilíbrio dos fluidos corporais da seguinte maneira: o excesso de bílis negra poderia ser reduzido através de uma vida tranquila, dieta vegetariana, temperanças, exercícios, celibato e, até mesmo, sangrias. Essa visão do pai da medicina foi compartilhada pelos filósofos gregos Platão e Aristóteles, sendo mais tarde aprimorada por influentes médicos gregos e romanos, sendo o mais importante Galeno. Este distinguia três faculdades diretivas da mente: a imaginativa, a racional e a mnemônica. Ainda acreditava que a perda dessas faculdades daria origem a diferentes formas de loucura como: Frenitis (loucura febril), letargia, melancolia, mania (agitação), moria (perda do senso crítica) e delírio. Essa classificação é primitiva, mais importante, pois é decorrente da observação (método posteriormente utilizado pela ciência).
Na idade média com o declínio do antigo império romano a demonologia ressurgiu a medida que o poder do clero aumentava. O louco era a personificação viva do mal, que comprovava a influência de satã. A idade média foi um período conturbado de guerras, insurreições urbanas e pestes, as pessoas culpavam o demônio por tais perturbações e temiam ser possuídas por ele, consequentemente a incidência da loura aumentou vertiginosamente. Havia explosões de loucura coletiva com delírios e alucinações. É nesta época que surge a licantropia que é uma crença na possessão de homens por lobos, chamados lobisomens, assim como a tarantismo que é a possessão por um tipo de aranha chamada tarântula. 
Nesta época há o ressurgimento das técnicas de exorcismo, como forma de tratamento a cargo dos clérigos. No final da idademédia surgem os hospitais ocidentais que tinham leitos reservados aos loucos (de fato, não passavam de jaulas), mas que se limitavam as formas de loucuras tidas como curáveis. Mesmo na idade média havia espaço para curas (Baseados nos rituais) médicas (que estava entre a medicina e a religião). 
Nesta época o que não era comum, ou seja, não fazia parte da normalidade era banido. Os rituais visavam retirar os maus espíritos das pessoas, mas essas práticas estavam mais no campo da religiosidade. Esse louco não era excluído, no sentido de ser levado a outro espaço e também não era considerado como um doente mental.
Apresente as mudanças ocorridas na história da loucura a partir do renascimento e idade clássica.
R- No renascimento a visão demonológica da loucura vai sendo paulatinamente substituída para visão medica Greco-romana (hipocrático-galênica). Nesta época a loucura está mais próxima da visão de doença do que da visão de possessão. 
Foi o século XV que aconteceu a abertura dos primeiros estabelecimentos reservados aos loucos no ocidente, contudo as práticas asilares são pontuais. A loucura é experimentada em estado livre, isto é, ela circula, faz parte do cenário e da linguagem comum. Vale ressaltar que, naquele período, a demonologia continuava em alta, como comprova o manual de caça às bruxas. 
Na idade clássica acontece uma mudança brusca, pois o mundo da loucura vai se tornar o mundo da exclusão. Cria-se em toda Europa estabelecimentos para internação não somente dos loucos, mas de todos os indivíduos desviantes com relação à moral burguesa em ascensão, como: inválidos pobres, mendigos, desempregados, portadores de doenças venéreas, libertinos e etc.). Tais novos estabelecimentos não tem vocação médica alguma, trata-se apenas de depósitos humanos que visavam a separar os que podem ou não fazer parte da ascendente sociedade capitalista. No mundo burguês em processo de constituição, o pecado maior passa a ser a ociosidade e não mais o orgulho e avidez como na idade média. Portanto o critério da exclusão seria a incapacidade de tomar parte na produção na circulação ou no acumulo da riqueza, reinando nos asilos o trabalho forçado como forma de expiação moral. 
No fim do século XVIII, os reformadores quiseram suprimir o internamento como símbolo da opressão do antigo regime. Com à loucura, por tanto tempo ausente do cenário social já se associara o estigma da periculosidade, as antigas casas de internamento passaram a ser reservadas somente aos loucos. A partir disso o internamento tornou-se uma medida de caráter médico, justificando-se como uma prática de tratamento, da mesma forma, a loucura ganhou uma nova concepção, tornando-se objeto do saber médico a partir de sua conceitualização como doença mental. A possibilidade de aglutinar os loucos em um mesmo espaço para conhecer e tratar suas loucuras permite o nascimento da psiquiatria através de uma nosografia (classificar a doença) médica, feita a partir da observação.
Qual a importância de Pinel para a história da loucura? 
R- É a partir de pinel que quem sabe da loucura é o médico. Esse é o único capaz de tratar essa loucura. Pinel tornou-se diretor de um asilo parisiense para homens e lá ele mandou desacorrentar os loucos e iniciou um processo observação. Se por um lado ele devolveu a humanidade aos loucos, tratados então como bichos, por outros, teria sido um carcereiro, ao inscrever suas loucuras numa nosografia, aprisionando-os ao saber médico. Como ideólogo da revolução, Pinel justifica a privação da liberdade dos loucos nos hospícios como um gesto libertário, na verdade, a alienação mental nada mais é que o estado de privação da liberdade individual, da perda do livre-arbítrio, sendo o alienista, por intermédio do tratamento moral, o único que poderia restituir aos loucos sua liberdade subtraída pela alienação. Conhecer a loucura, ou seja, o que desvia do normal, era observar, descrever e classificar aquilo que as vistas do alienista eram estranhas ao padrão moral, colocando-se no lugar do cientista imune as influências socioculturais, era ele quem determinava o que é normal e o que é patológico (visão subjetiva). 
Pinel concebia a loucura como “alienação mental”. Ele considerava o louco como um alienado de sua própria razão. Se, por um lado, Pinel definiu um estatuto patológico para a loucura, permitindo sua apropriação pela medicina, por outro, abriu um campo de possibilidades terapêuticas para ela, instituindo a possibilidade de tratamento e cura da loucura. Ele propôs o tratamento moral da loucura, espécie de método de reeducação pedagógica centrado na autoridade do médico, que tinha como premissa básica o isolamento terapêutico dos loucos nos hospícios.
Pinel atribuía a loucura as causas de ordem moral (psicológicas ou sociais) tais como: as paixões intensas, os excessos de todos os tipos, as irregularidades dos costumes e dos hábitos de vida, assim como a educação perniciosa. Resgatando a tradição hipocrático-galênica, este autor concebe a loucura como um desequilíbrio do organismo, um distúrbio de suas paixões, entendendo estas como modificações desconhecidas da sensibilidade física e moral. Para Pinel a causa da loucura não era física, mais sim moral. 
Qual a influência dos trabalhos de Pinel no surgimento da psiquiatria moderna?
R- É a partir do método inaugurado por Pinel da observação, classificação e descrição que o Kraepelin (psiquiatria moderna) vai expandir esse conhecimento, pois ele vai falar da origem, da evolução (ao longo dos anos) e da possibilidade de cura (se o paciente teve alguma melhora ou não), ou seja, este autor vai agregar a partir do conhecimento baseado na observação essas outras questões e também começa a fazer a utilização da entrevista. 
A contribuição de Kraepelin para a nosografia foi a divisão clássicas das chamadas “psicoses endógenas”: esquizofrenias (catatônica, hebefrênica e paranoide), paranoia e psicose maníaco depressiva, esse autor cria essas categorias para distinguir as diversas formas de loucura. Apesar das constantes mudanças de nomenclatura, essa sistematização monográfica Kraepeliniana das psicoses permanece atual, como comprovam os manuais contemporâneos.

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