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Teoria Geral do Processo

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PROFESSORA – MS. ÁGATHA GONÇALVES SANTANA
DIREITO PROCESSUAL
TEORIA GERAL DO PROCESSO
Após falar acerca da importância da Teoria Geral do Direito, que origina todas as teorias gerais, como a Teoria Geral do Processo, e alertar que a mesma é a base para todos os ramos do direito processual:
Processo Civil
Processo Penal
Processo do Trabalho
E demais ramos derivados como
processo comercial
processo constitucional
processo administrativo
processo comercial
processo eleitoral
etc
Melhor eu para antes que vocês pensem que é complicado - gostaria de salientar que a matéria não é complicada. Depende da visão que você tem do processo, você saber estudar e saber superar alguns pequenos obstáculos que aparecem no caminho como tudo na vida.
Tudo parte de um tronco comum que é o início do estudo do direito processual, que é genérico.
Bem, mãos a obra e bom semestre.
TEORIA GERAL DO PROCESSO
I – DOS CONCEITOS INICIAIS
Conceito de Direito Processual
(Hernando Devis (jurista colombiano) – “É o conjunto de normas e princípios que regulam a função jurisdicional do Estado em todos os seus aspectos e que, portanto, fixam o procedimento que se há de seguir para obter a atuação do direito positivo nos casos concretos, e que determinam as pessoas que devem submeter-se à Jurisdição do Estado e os funcionários encarregados de exercê-lo”.
(José Becerra Bautista (jurista mexicano, com base em Paolo Onofro) – “conjunto de normas que têm por objeto e fim a realização do direito objetivo através da tutela do direito subjetivo, mediante o exercício da função jurisdicional”.
(Enrico Tulio Liebman (jurista italiano) – É o ramo do direito para garantir a eficácia da função jurisdicional, é o “ramo do direito para garantir a eficácia e prática efetiva do ordenamento jurídico”.
Destaque para as palavras e expressões:
-Normas (Que de acordo com Ronald Dworkin se dividem em regras e princípios)*
-Princípios
-Procedimento
-Função do Estado /função jurisdicional – Lembrem-se que pela teoria clássica de poder, o homem, no estado de natureza, vivia em conflitos desproporcionais, sob a lei de Talião**. Ao transferir poder ao Estado, transferiu poder ao mesmo estabelecer as normas a serem seguidas pelos seus subordinados. O Estado seria a figura do monstro de Leviatã, relatado por Thomas Hobbes, representado por eleitos da sociedade. Para manter a ordem e sua soberania, o Estado aplicaria as suas normas. Este poder de aplicação de normas e solução de conflitos, vem com uma palavra latina “jurisditionis”, que dá origem ao termo “jurisdição”, que será estudada mais adiante.
- Realização do direito
-Eficácia (Efetividade do ordenamento jurídico – De que adianta o Direito material se algumas pessoas não cumprirem (Se ocorrer desobediência civil, por exemplo) e o Estado não tiver como fazer valer, de uma maneira segura, o que está previsto em seu conteúdo?)
OBS: Não confunda o conceito de “direito processual” com o conceito de “processo”. Processo é um instituto abstrato, no qual se irá estudar mais tarde, diferenciando-o de procedimento.
*A doutrina atual da Teoria Geral do Direito divide as normas de um ordenamento jurídico em regras e princípios, na diferenciação clássica de Ronald Dworkin – Autor dos livros: “Uma questão de princípio”, “A virtude soberana”, “O Direito Levado a sério (outra tradução é “levando os direitos a sério” e “O império do Direito”.
Basicamente, regras é fato da realidade que se amolda a previsão de uma lei. Não há conflito de regras, pois apenas uma irá prevalecer sobre outra. Desta forma, a atividade interpretativa em relação as regras é menos intensa. Existe, mas é menos intensa.
OBS: O antigo postulado de que na claridade da lei cessaria a interpretação está superado (in clarit non fit interpretatio, interpretatio cessat in claris), pois conforme o próprio autor Dworkin, há sempre uma fase pré interpretativa, de cognição, uma fase interpretativa propriamente dito, do processamento do que compreendido, e uma fase pós interpretativa, que seria o resultado do conhecimento.
Já em relação aos princípios, estes seriam Standards do ordenamento jurídico, exigindo uma atividade interpretativa intensa, sendo que nunca haveria conflito de princípios, aos quais deveriam ser atribuídos “peso de importância”, como por exemplo: “princípio a vida” x “princípio da liberdade” – Não se pode suprimir nenhum deles, apenas pondera-los (Nas palavras de Robert Alexy, “relativiza-los” – mas isso é matéria de Teoria Geral do Direito / Filosofia do Direito – Não pensem que isso não vai ser útil para vocês, ok?).
** Lei de TALIÃO – Já vi em provas curiosidades como “Lei de Damião” e “Lei do Tabelião” – Por favor, não cometam o mesmo erro (. Para curiosidade, A lei de talião(do latim lex talionis: lex: lei e talis: tal, aparelho que reflete tudo), também dita pena de talião, consiste na rigorosa reciprocidade do crime e da pena — apropriadamente chamada retaliação. Estava presente no Código de Hamurabi, uma das mais antigas leis conhecidas existentes (1780 A.C.), e configurava uma espécie de “castigo-espelho”. Se alguém matasse seu filho, você teria o direito de lhe matar um filho também, se não o tivesse, teria a possibildiade de lhe tirar a própria vida.
2. Evolução
DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO DO DIREITO PROCESSUAL: REVISÃO CIENTÍFICA, AUTONOMIA E PUBLICAÇÃO.
Para a doutrina clássica, o direito processual possui três fases básicas�:
Imanentista (Também chamada de Sincretista) – Esta fase tem início do direito romano, em sua “actio” e vai até meados do século XIX, tendo sido muito defendida pelos praxistas, como o jurista Savigny*. Para esta fase, o processo era mero apêndice do direito material, com ele sendo absolutamente misturado. Nesta fase, o direito não possuía qualquer autonomia em relação ao direito material. Assim, 
Nota – A formação do direito romano era a seguinte:
			2 cônsules
			Pretores
			Jurisconsultos
Consul – Era o magistrado supremo no direito romano. Era o equivalente ao STF no Brasil, mas no período da República romana eram em número de dois e acumulavam funções políticas e jurídicas.
Pretores – Eram magistrados subordinados aos cônsules, e equivalia a primeira instância de um juiz moderno.
Jurisconsultos – Eram os que possuíam notável saber jurídico. Davam origem a jurisprudência interpretando a legislação. Eram consultados e solucionavam casos que não iriam para as mãos dos pretores.
*Curiosidade – As histórias do personagem “Asterix” sempre fazem menções reais dos centuriões, das legiões e principalmente acerca das funções no direito romano.
*Curiosidade - Friedrich Carl von Savigny (Frankfurt am Main, 21 de fevereiro de 1779 – Berlim, 25 de outubro de 1861) foi um dos mais respeitados e influentes juristas do século XIX, tendo consagrado-se grande autor no âmbito do direito privado, como vocês vão ler ainda muito a respeito dele. Dentre seus alunos, teve os irmãos Grimm, autores da coletânea com histórias infantis como a bela adormecida, branca de neve, etc�. Então a relação entre conto de fadas e o direito não é tão distante assim.
Cientificista (Também chamada de autonomista) – Inaugurada em 1868, com a publicação da obra “A teoria das Exceções Processuais e os Pressupostos processuais”, essa fase se caracteriza por dar autonomia ao direito processual, que passa a ter institutos próprios e ser um ramo do direito independente. Também passa a ser ramos do direito público, e não privado, como quando em simbiose e interdependente do direito privado. Nesta fase, portanto, passa-se a voltar os estudos para os conceitos essenciais que compõem a ciência processual. Pode-se dizer, portanto, que o processo, em quaisquer de suas modalidades, é um ramo do direito extremamente recente, e por isso mesmo, ainda muito rico em assuntos relevantes, mas ao mesmo tempo com muitas discussões ao seu respeito.
Destacam-se os seguintes juristas desta fase, que até hoje são mencionados em todos os bons manuaisde direito processual:
Da Itália:
-Giuseppe Chiovenda
-Francesco Carnellutti
-Piero Calamandrei
-Enrico Tullio Liebman*
Da Alemanha:
-Adolf Wach
-James Goldschmidt
Do Brasil:
-Alfredo Buzaid*
-Moacyr Amaral Costa.
*Curiosidade – Enrico Tullio Liebman foi aluno de Chiovenda na Itália. Vindo para o Brasil em 39, fugindo do fascismo italiano instalado em função da segunda guerra mundial, fundou a “Escola Processual de São Paulo” (conhecida hoje também como a Escola paulista de Processo). Lecionou na Usp, apresentando idéias até então revolucionárias para a época. Dois de seus alunos são muito conhecidos até hoje:
Alfredo Buzaid – Autor do CPC/1973 (atual CPC)
Cândido Rangel Dinamarco – Ferrenho defensor de suas idéias, mas já se inserindo na fase a seguir, a fase instrumentalista. Ainda é vivo e ministra aulas. Suas obras são muito apreciadas pelos estudiosos do processo.
Instrumentalista – Esta fase veio que como um movimento para melhorar o exercício da prestação jurisdicional. O processo deixa de ser visto como um mero instrumento do direito material, atribuindo-lhe funções, de maneira a aproximá-lo aos valores do ideal de justiça.
Cândido Rangel Dinamarco possui obra célebre “A instrumentalidade do processo”, que é indicada a todos os acadêmicos de direito. A obra enfoca o que o autor indica serem os três escopos (objetivos) do processo:
-Político
-Jurídico
-Social
São também autores que se destacam nesta fase:
-Jose Carlos Barbosa Moreira
-Mauro Cappelletti (que inclusive possui uma excelente obra – “O acesso à Justiça”, que indica que o mesmo é muito mais do que o acesso ao judiciário).
Atualmente, a fase instrumentalista é a que vigora na grande maioria da doutrina.
OBS: O falecido jurista Calmon de Passos, seguido atualmente pelo autor Fredie Didier nega a instrumentalidade do processo, pois, para ele, o direito apenas se aperfeiçoaria após produzido pelo processo, como em um sincretismo. Desta forma, pela “circularidade dos planos” (plano processual se envolveria no plano material), o direito processual acabaria retrocedendo a fase imanentista. Essa corrente é absolutamente minoritária na atualidade. Existe, mas não é a amplamente aceita.
3. Da existência ou não de uma teoria geral do processo
Já foi dito certamente na disciplina Introdução ao Estudo do Direito que a finalidade da divisão do direito em disciplinas é propedêutica, ou seja, pedagógica e de posicionamento enciclopédico.
Assim, há quem se posicione de que não há uma Teoria Geral do Processo, e que assim não deveria ser ensinado, devendo ser dividido em Teoria Geral do Processo Civil, Teoria Geral do Processo Penal, Teoria Geral do Processo do Trabalho etc.
Na verdade, esta tese cada vez mais vem sendo vencida e derrubada. Isso porque há sim uma introdução geral, com ramos aplicáveis a qualquer parte do direito. Ademais, o Processo Civil, como se pode notar em qualquer volume primeiro das coleções dos autores, é a base de todos os direitos processuais (direito adjetivo), como o Direito Civil é a base para todos os outros ramos de direito material subjetivo.
Exemplo: Todo processo possui uma petição que o inicia, chamada petição inicial (que no latim é chamada de libelo), há citação, há defesa (chamada genericamente de exceção),é regido tecnicamente pelos mesmos princípios básicos, julgados por uma mesma jurisdição etc.
4.Das teses acerca da finalidade do direito processual:
a) Justiça (vertente idealista)
b) Pacificação social (vertente pragmática) - Majoritária
5. A norma jurídica de Direito Processual
5.1- Fontes normativas do Direito Processual
A noção de fontes do direito significa de onde promana, dimana o direito. As fontes formais do direito são basicamente o Estado, a lei, os costumes. São formas de expressão do direito.�
a) Material – art. 22 da CF/88 – Da competência privativa da União.
OBS: Competência privativa pode ser delegada parcialmente para os Estados e até mesmo Municípios. Significa dizer que os mesmos podem legislar sobre matéria processual mas de forma extremamente limitada e residual.
Exemplo: Legislação estadual (Constituição dos Estados e Leis Ordinárias) para a constituição de seu Poder Judiciário, Leis sobre os horários de funcionamento dos fóruns, alocações dos prédios, etc.
b) Formal: É a lei em geral
b.1) Fontes abstratas - leis em geral, como a CF/88, lei complementar,etc (desde que emanadas pelos entes competentes).
b.2) Fontes concretas- art. 93 da CF/88, CPC, CPP, CLT, Lei 9099/95, etc, súmulas vinculantes, etc.
5.2- Interpretação e integração da norma processual e seus limites de aplicação.
5.2.1 A norma jurídica processual
Um ordenamento jurídico de um país é comporto por normas jurídicas harmônicas entre si. As normas jurídicas se dividem em princípios e regras como dito anteriormente. As normas jurídicas ou são materiais ou processuais (também chamadas de instrumentais). As primeiras, não sendo observadas, dão lugar a error in judicando (erro no julgamento, na justiça, no entendimento), enquanto que as normas processuais constituem o critério de proceder, de maneira que, uma vez desrespeitadas, ensejam a ocorrência do error in procedendo, dado que a função das normas instrumentais é a disciplina da criação e atuação das regras jurídicas gerais ou individuais. Não obstante, hoje já se fala no julgamento da justiça aplicando-se direitos fundamentais em relação aos direitos processuais.
O objeto da norma processual é disciplinar o poder jurisdicional de resolver os conflitos e controvérsias, regulando a atividade das partes litigantes. Dividem-se as normas processuais em:
normas de organização judiciária,
normas processuais em sentido estrito que cuidam do processo (poderes e deveres processuais) e
normas procedimentais(rito ).
5.3 - Natureza jurídica da norma jurídica de direito processual.
Como incide a atividade estatal é de direito público.
5.4 - Interpretação norma de direito processual (hermenêutica processual) - interpretar é buscar o verdadeiro alcance e sentido das normas (Carlos Maximiliano)
Lembrem-se que já foi mencionado que pela doutrina atual do pós-positivismo, como o de Dworkin, sempre haverá interpretação, ainda que em um primeiro momento a norma seja aparentemente clara.
3.1- Classificação quanto aos meios ou elementos que ela se desdobrará: gramatical (também chamada filológica, porque se restringe à análise dos termos do texto normativo, como pontuação, colocação dos vocábulos,...), lógica( visa interpretar a norma, por meio de raciocínios lógicos, estabelecendo combinações) ou sistemática( considera o sistema em que se insere a norma, analisando os vários sistemas de normas existentes).
3.2- Origem: autêntica( é a realizada pelo próprio órgão que criou a lei), doutrinária(é a que deriva da obra dos jurisconsultos) e jurisprudencial(fruto das decisões judiciais).
3.3- Análise do art. 5º- LICC.- fundamento teleológico- é onde o julgador busca os fins a que a lei se dirige.
3.4- Integração - é a atividade de preenchimento de lacunas no ordenamento jurídico, por meio da analogia e princípios gerais do direito.
A analogia é o processo que visa suprir a lacuna da lei, ou seja, a omissão legal, aplicando determinada norma a um caso que se figure como compatível e semelhante.(ubi eadem ratio, ibi eadem legis dispositio). Pode ser: analogia legal- é a que visualiza suprir a lacuna legal, por meio de uma norma que não prevê o caso concreto, mas que se mostra como semelhante, desse modo, é a aplicação de uma norma existente, destinada a reger caso semelhante ao previsto e jurídica- visa suprir a lacuna legal, através não só de uma norma, mas de um conjunto de institutos, direito comparado, ou seja, não de uma origem única, contudo de diversos contextos legais, extraindo-se uma regra para determinado caso. Ex. de analogia legal- a regra do art. 1666 é aplicada por analogia aos casos de doações que são liberalidades.
3.5- A interpretaçãoe integração da lei processual - estão subordinadas às mesmas regras que regem os demais ramos do direito, como arts. 4º e 5º da LICC. Agora, prevalece entre os processualistas o entendimento de que a interpretação sistemática da lei processual é a mais adequada.
6. Lei processual no tempo
O tema de certo gera certa polêmica, ainda que se observe nos manuais comumente uma regra que a um primeiro momento possa parecer muito simples: “a lei processual tem eficácia imediata”. Sempre que uma lei processual entra em vigor, há muitos processos pendentes.
-Teoria dos atos processuais isolados / teoria do isolamento dos atos processuais.
De acordo com Alexandre Câmara, quando uma lei processual entra em vigor, ela se depara com três diferentes situações:
Processos já findos – A lei processual nova não pode em regra atingir processo já concluso.
Processos ainda por instaurar – Logicamente serão atingidos em sua integralidade pela nova lei processual.
Processos pendentes – Eis onde surgem os problemas.
Há quem diga dos direitos processuais adquiridos.
Mas parte da doutrina e jurisprudência indica a seguinte saída em um mesmo processo pendente:
-Atos iniciados deverão ser finalizados com a antiga lei.
-Atos futuros já serão regidos já pela nova lei.
OBS: No processo penal, “lei processual mista”, que mistura aspecto processual com direito material, como a lei de progressão da pena em crimes hediondos – retroage para beneficiar o réu, muito embora tenha seu conteúdo processual.
É um ótimo tema para artigos e monografias.
7. Lei processual no espaço
Pela lógica da soberania do Estado, a legislação federal deverá imperar em todo o território nacional. Assim também ocorre com a lei processual no Espaço. Uma vez vigente a norma, esta vigorará em todo o território nacional.
Assim também o é a lei processual de organização judiciária do Estado – Esta vigorará em todo o Estado.
Há autores como Gaetano Morelli, que sustentam a possibilidade de extraterritorialidade da lei processual. Mas atente-se que isso é apenas no âmbito do Direito internacional – O direito de relação entre países.
O que ocorre é que há sim extraterritorialidade em relação ao direito material. Assim, há a possibilidade de uma sentença (já tendo ocorrido um processo portanto), em outro pais, ser executada no Brasil, mediante o exequatur (mediante a confirmação da mesma pelo STJ, quando da compatibilidade do direito brasileiro).
8. Da teoria da lide de Carnellutti – Uma concepção privatista de processo, conflitante com a visão publicista de Chiovenda, que via a jurisdição como uma emanação estatal.
Para Carnellutti, lide é o “conflito de interesses qualificado pela pretensão de uma parte e a resistência da outra”.
Pretensão seria a autorização pelo ordenamento jurídico, de uma parte poder exigir uma conduta da outra. A pretensão resistida, ou seja, aquela em que a outra parte se recusasse a prestar tal conduta a que obrigado, seria portanto a que se chamaria de lide.
9. Meios de solução de litígios – Da propedêutica processual.
a) Autotutela ou autodefesa – Era o meio de solução de litígios mais utilizado nos períodos mais primitivos, traduzindo-se pela lei de Talião do “olho por olho e dente por dente” (só por curiosidade, já vi em algumas provas anteriores determinados erros que não gostaria de observar novamente, como “lei de Damião” e “lei do tabelião” – vide nota acima).
Hoje a autotutela é remanescente, ainda sobrevive em alguns ordenamentos vigentes, como um ou outro país oriental (cortar mãos de ladrões, ou orelhas, apedrejar pessoas, etc), mas ela não é muito bem aceita na ampla maioria dos ordenamentos jurídicos vigentes modernos, por ir de encontro com os direitos humanos.
A autotutela não é, em regra, aceita no Brasil. Na verdade, poderá até mesmo ser considerada como crime de “exercício arbitrário das próprias razões”, constante no art. 345 do CP.
Desta forma, se Caio empresta a Tício 300 reais e Tício não paga e nem deseja fazê-lo, Caio não tem o direito de ir a casa de Tício e levar-lhe uma televisão a força. Nesse caso, não estaria configurado o crime de furto ou roubo, mas sim de exercício arbitrário das próprias razões, porque Caio possuía pretensão legítima contra Tício. Logicamente não daria o direito a Caio de bater ou tentar matar Tício, pela desproporcionalidade, e não seria considerado autodefesa de interesses.
Da mesma forma, se Tício empresta dinheiro a Mévio, e deve entregar um objeto ao mesmo e não o faz, não dá o direito a Mévio reter o dinheiro consigo, ao invés de pagar o empréstimo. Mas ao contrário do que se poderia pensar, o crime não será o de apropriação indébita, mas sim o de exercício arbitrário das próprias razões. 
Não obstante, se permitida pelo ordenamento jurídico, excepcionalmente poderá ser aceita e utilizada como modo de solução de litígios.
Exemplos:
-Legítima defesa da propriedade (além do uso de ofendículos) – art. 1210 CC
-Legítima defesa art. 14 CP
-O direito de retenção por benfeitorias necessárias ou úteis do possuidor de boa-fé – art. 1219 CC.
-O direito de cortar ramos, galhos e raízes de árvores limítrofes que ultrapassem os limites do terreno – art. 1283 CC
-Penhor legal – art. 1434 CC
-Prisão em flagrante – art. 301 CPP. 
b) Autocomposição – É a modalidade de solução de conflitos em que as próprias partes solucionam o conflito sem interferências externas. Somente podem ser objeto de autocomposição bens e direitos disponíveis. Significa dizer que quem possua pretensão de bem indisponível (como a vida, liberdade, dignidade, alimentos, filiação etc) deverá ir para a Jurisdição.
Exemplo: Não é cabível a autocomposição da pretensão do Ministério Público em ação de crimes contra a vida. O Ministério Público (parquet institucional) é detentor do jus accusationis (direito de acusar), capaz de provocar o jus puniendi (Direito de Punir) do Estado. Mas em causas leves, como lesão corporal leve, poderá ser levado aos juizados criminais, em que cabe acordo (exemplo: pagamento de cesta básica ou prestação de serviço a comunidade) para não prosseguir com o processo penal.
Três são as modalidades de autocomposição:
-Desistência – Quando o detentor da pretensão abre mão da mesma, desistindo de seu direito.
-Submissão – É quando simplesmente a parte que apresenta a resistência se submete e pratica a conduta a que estava vinculado. Por exemplo, quando alguém que deve paga sua dívida. Pode ocorrer dentro do processo, quando se diz que ocorreu o “reconhecimento jurídico do pedido”. Não é confessar, alguém pode confessar e continuar resistindo. Reconhecer o pedido é se submeter a toda a conseqüência da pretensão do autor.
-Transação – É quando ambas as partes chegam a um acordo em que ambos ganham e ambos perdem. Pode ocorrer até mesmo antes de um processo ocorrer.
( A autocomposição, em caso de direitos patrimoniais disponíveis, é muito importante para a advocacia preventiva e a mediação, meios que poderiam desafogar muito o Judiciário. É agindo com autocomposição que se tem a mediação. A mediação não se confunde com a arbitragem, pois um mediador é alguém que procura fazer um “meio termo”, fazendo com que as partes cheguem a uma autocomposição. A arbitragem é um tribunal privado, é um terceiro, fazendo as vezes de um juiz, dando uma solução ao conflito e as partes aceitam sua solução.
c) Heterocomposição – É a modalidade de solução de litígios derivada da atuação de um terceiro, que fixa a regra a ser cumprida pelo vencido, sob pena de execução forçada.
Duas são as espécies de heterocomposição:
-Arbitragem – Regulada pela Lei 9.307/1996, institui o procedimento dos Tribunais de Arbitragem, para a solução privada de litígios versando sobre bens patrimoniais disponíveis. É outro meio para desafogar o judiciário que deve ser mais conhecido e desenvolvido. Pela arbitragem pactuada pelas partes, as mesmas se submetem a um terceiro imparcial (árbitro, também chamado de juiz arbitral – um particulardesignado para solucionar o conflito) que dá solução ao conflito das partes.
-Jurisdição – É levada a cabo por um terceiro (magistrado), investido de poder e função para tal, por meio do instrumento do processo. O Poder Judiciário, o Estado-Juiz na figura do magistrado, é o terceiro imparcial que solucionará os conflitos. Nada poderá ser afastado da apreciação do Poder Judiciário. A Jurisdição será estudada em capítulo próprio posteriormente. ( O processo, dentro da Jurisdição, nas palavras de Gisele Goes, é O processo é MÉTODO DE ATUAÇÃO DO DIREITO OBJETIVO, dado que o Juiz dirige o processo, de acordo com a lei (comando abstrato), direito objetivo e a solução do conflito está na lei. Além de ser método de atuação, é método de complementação do direito objetivo, pois o produto do processo, a sentença, integra-se na lei, ou seja, em razão de um fato concreto, dá-se vida à lei, ao comando abstrato. Daí que se chama “direito adjetivo”. Resumidamente, nas palavras de Dinamarco (p. 37), é técnica de solução de conflitos.
10. Evolução histórica do Direito Processual no Brasil
Brasil Império – Coincidente com a fase imanentista do processo, não havia Código de Processo Civil, e o direito processual era inerente ao direito material, advindo das legislações filipinas, manuelinas e afonsinas.
Segundo Roberto Moreira de Almeida, apenas em 1832 adveio o Código de Processo Criminal do Império, e, em 1850, juntamente com o Código Comercial, o Regulamento 737, que disciplinava “a ordem do processo juízo no processo comercial”, que serviu como diploma processual civil por décadas.
Brasil República – A partir de 1934, a União passou a exercer com exclusividade a competência legislativa sobre o processo.
Apenas em 1939, com base nos Códigos de Portugal, Alemanha e Austria, promulgou-se o primeiro CPC do Brasil.
Este CPC-39 foi revogado expressamente pela Lei 5.869/73, atual CPC que perdura até hoje.
Em outubro de 2009, José Sarney assinou o ato que inaugura a Comissão para a confecção de um anteprojeto para ser o novo CPC. O anteprojeto foi aprovado e hoje se encontra em fase de discussão das casas do Congresso Nacional.
Já está em discussão acerca da comissão para a elaboração de um novo Código de Processo Penal.
->>Códigos processuais no Brasil:
Apenas existem o CPC e o CPP.
As demais são leis processuais presentes na Consolidação das Leis do Trabalho (não é código), e leis esparsas de conteúdo processual como a Lei do Mandado de Segurança (12.016/2009), Leis dos processos constitucionais (ADIN, ADPF, ADCON, etc), etc.
Bibliografia Básica:
ALMEIDA, Roberto Moreira de. Teoria Geral do Processo. São Paulo: Método.
CÂMARA, Alexandre Freitas. Curso de Direito Processual Civil. Rio de Janeiro: Lumen Juris.
DIDIER JUNIOR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil. V. I. Salvador: Juspodivum.
DIDIER JUNIOR, Fredie (coord.). Leituras Complementares de Direito Processual Civil. Salvador: Juspodivm.
DINAMARCO, Cândido Rangel. Da instrumentalidade do processo. São Paulo: Malheiros.
GRINOVER, Ada Pellegrini, DINAMARCO, Cândido Rangel, CINTRA, Antonio Carlos. Teoria Geral do Processo. São Paulo: Malheiros.
MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de Direito Processual Civil. V. I – Da Teoria Geral do Processo. São Paulo: Revista dos Tribunais.
PAIXÃO JUNIOR, Manoel Galdino da. Teoria Geral do Processo. Belo Horizonte: Del Rey.
� CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. São Paulo: Lumen Juris, 2007. p. 08.
� GRIMM, Irmãos. Contos de Grimm: A bela adormecida e outras histórias. Porto Alegre: L&MP, 2002. Vol I e II. p. 7-13.
� DINAMARCO, Candido Rangel.Instituições de Direito Processual Civil. V. I. 6 ed. rev et atl. São Paulo: Malheiros, 2009. p.72.

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