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JPL Manual Prático de Controle de Constitucionalidade

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CONTROLE	
  DE	
  CONSTITUCIONALIDADE	
  –	
  JOÃO	
  PAULO	
  LORDELO	
  
1	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
MANUAL	
  PRÁTICO	
  DE	
  
CONTROLE	
  DE	
  
CONSTITUCIONALIDADE	
  	
  
	
  
PARTE	
  1	
  	
  -­‐	
  TEORIA	
  GERAL	
  E	
  CONTROLE	
  DIFUSO	
  
PARTE	
  2	
  –	
  CONTROLE	
  CONCENTRADO	
  DE	
  CONSTITUCIONALIDADE	
  
PARTE	
  3	
  –	
  CONTROLE	
  DE	
  CONSTITUCIONALIDADE	
  NOS	
  ESTADOS-­‐MEMBROS	
  
	
  
JOÃO	
  PAULO	
  LORDELO	
  
	
  
	
  
	
  
2ª	
  EDIÇÃO	
  -­‐	
  REVISADA	
  
2015	
  
	
  
	
  
CONTROLE	
  DE	
  CONSTITUCIONALIDADE	
  –	
  JOÃO	
  PAULO	
  LORDELO	
  
2	
  
	
  
	
  
JOÃO	
  PAULO	
  LORDELO	
  
Graduado	
  em	
  Direito	
  pela	
  Universidade	
  Federal	
  da	
  Bahia	
  (2009),	
  com	
  período	
  sanduíche	
  na	
  Universidade	
  
de	
  Santiago	
  de	
  Compostela	
  (ES).	
  Especialista	
  em	
  Direito	
  do	
  Estado	
  (2009).	
  Mestre	
  em	
  Direito	
  Público	
  pela	
  
Universidade	
  Federal	
  da	
  Bahia	
  (2013).	
  Membro	
  do	
  Instituto	
  Baiano	
  de	
  Direito	
  Processual	
  Penal	
  e	
  da	
  
Academia	
  Brasileira	
  de	
  Direito	
  Processual	
  Civil.	
  Professor	
  em	
  diversas	
  instituições	
  de	
  ensino	
  superior,	
  pós-­‐
graduação	
  e	
  cursos	
  preparatórios	
  para	
  carreiras	
  públicas.	
  Aprovado	
  em	
  concurso	
  para	
  Procurador	
  do	
  
Estado	
  (PE),	
  Defensor	
  Público	
  Federal	
  (DPU),	
  Juiz	
  de	
  Direito	
  (BA)	
  e	
  Procurador	
  da	
  República	
  (Ministério	
  
Público	
  Federal	
  -­‐	
  1ª	
  colocação	
  no	
  concurso).	
  	
  
Ex-­‐Defensor	
  Público	
  Federal	
  (2010-­‐2014),	
  é	
  Procurador	
  da	
  República	
  (MPF)	
  na	
  Bahia.	
  
Editor	
  do	
  site	
  http://www.joaolordelo.com.	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
CONTROLE	
  DE	
  CONSTITUCIONALIDADE	
  –	
  JOÃO	
  PAULO	
  LORDELO	
  
3	
  
	
  
	
  
MANUAL	
  PRÁTICO	
  DE	
  CONTROLE	
  DE	
  CONSTITUCIONALIDADE	
  
ATUALIZADO	
  EM	
  26/05/2015	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
PARTE	
  1	
  	
  -­‐	
  TEORIA	
  GERAL	
  E	
  CONTROLE	
  DIFUSO	
  –	
  P.	
  04	
  
PARTE	
  2	
  –	
  CONTROLE	
  CONCENTRADO	
  DE	
  CONSTITUCIONALIDADE	
  –	
  P.	
  42	
  
PARTE	
  3	
  –	
  CONTROLE	
  DE	
  CONSTITUCIONALIDADE	
  NOS	
  ESTADOS-­‐MEMBROS	
  –	
  P.	
  91	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
CONTROLE	
  DE	
  CONSTITUCIONALIDADE	
  –	
  JOÃO	
  PAULO	
  LORDELO	
  
4	
  
	
  
TEORIA	
  GERAL	
  DO	
  CONTROLE	
  DE	
  CONSTITUCIONALIDADE	
  
Sumário:	
  
1.	
  Hierarquia	
  entre	
  normas	
  do	
  Ordenamento	
  Jurídico	
  
1.1.	
  Hierarquia	
  dos	
  tratados	
  internacionais	
  	
  
1.2.	
  Hierarquia	
  entre	
  lei	
  complementar	
  a	
  lei	
  ordinária	
  
1.3.	
  Hierarquia	
  entre	
  leis	
  federais,	
  estaduais	
  e	
  municipais	
  
2.	
  Supremacia	
  da	
  Constituição	
  	
  
3.	
  Conceito	
  de	
  inconstitucionalidade	
  
4.	
  Parâmetro	
  ou	
  Norma	
  de	
  referência	
  
4.1.	
  Bloco	
  de	
  Constitucionalidade	
  
4.2.	
  Inconstitucionalidade	
  de	
  normas	
  constitucionais	
  
5.	
  Formas	
  de	
  controle	
  de	
  constitucionalidade	
  
6.	
  Formas	
  de	
  declaração	
  de	
  inconstitucionalidade	
  
6.1.	
  Quanto	
  aos	
  aspectos	
  subjetivo	
  e	
  objetivo	
  (erga	
  omnes	
  e	
  vinculante)	
  
6.2.	
  Quanto	
  ao	
  aspecto	
  temporal	
  (ex	
  tunc)	
  
6.2.1.	
  Modulação	
  dos	
  efeitos	
  da	
  decisão	
  
6.2.1.1.	
  Inconstitucionalidade	
  progressiva	
  (“norma	
  ainda	
  constitucional”)	
  
6.2.1.2.	
  Declaração	
  de	
  inconstitucionalidade	
  sem	
  pronúncia	
  da	
  nulidade	
  
6.2.1.3.	
  Inconstitucionalidade	
  circunstancial	
  
6.2.1.4.	
   Princípio	
   da	
   proibição	
   do	
   “atalhamento	
   constitucional”	
   ou	
   do	
  
“desvio	
  do	
  poder	
  constituinte”	
  
7.	
  Controle	
  difuso	
  
7.1.	
  Cláusula	
  de	
  reserva	
  de	
  plenário	
  ou	
  full	
  bench	
  
7.2.	
  Suspensão	
  da	
  execução	
  pelo	
  Senado	
  Federal	
  
7.3.	
  Parâmetro	
  de	
  controle	
  
7.4.	
  Controle	
  de	
  normas	
  no	
  STF	
  
7.5.	
  Peculiaridades	
  
7.6.	
  Controle	
  incidental	
  feito	
  pelo	
  STJ	
  
	
  
1.	
  Hierarquia	
  entre	
  normas	
  do	
  Ordenamento	
  Jurídico	
  
	
   A	
  hierarquia	
  normativa,	
  no	
  ordenamento	
  jurídico,	
  pode	
  ser	
  assim	
  representada:	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
   	
  
	
  
No	
  topo	
  da	
  pirâmide	
  estão	
  as	
  normas	
  constitucionais.	
  Quanto	
  a	
  isso,	
  não	
  existe	
  hierarquia	
  entre	
  normas	
  da	
  
Constituição,	
   sejam	
  originárias	
   ou	
   derivadas,	
   direitos	
   fundamentais	
   ou	
   não,	
   princípios	
   ou	
   regras.	
  O	
  princípio	
   que	
  
afasta	
  a	
  hierarquia	
  entre	
  normas	
  da	
  Constituição	
  é	
  o	
  PRINCÍPIO	
  DA	
  UNIDADE	
  DA	
  CONSTITUIÇÃO.	
  
ATENÇÃO:	
  o	
  fato	
  de	
  não	
  existir	
  hierarquia	
  entre	
  normas	
  constitucionais	
  não	
  impede	
  que	
  uma	
  norma	
  feita	
  por	
  
emenda	
   seja	
   objeto	
   de	
   controle	
   de	
   constitucionalidade,	
   embora	
   não	
   possam	
   ser	
   objeto	
   de	
   controle	
   as	
   normas	
  
originárias.	
  E	
  norma	
  introduzida	
  por	
  emenda	
  pode	
  ser	
  objeto	
  de	
  controle	
  porque	
  a	
  edição	
  de	
  emendas	
  está	
  sujeita	
  a	
  
uma	
  série	
  de	
  limitações	
  jurídicas.	
  Assim,	
  a	
  emenda	
  poderá	
  ser	
  objeto	
  de	
  controle	
  se	
  não	
  obedecer	
  às	
  limitações	
  do	
  
art.	
  60	
  da	
  Constituição	
  Federal,	
  embora	
  não	
  possam	
  sofrer	
  controle	
  de	
  constitucionalidade	
  as	
  normas	
  originárias.	
  
	
   Junto	
   com	
   as	
   normas	
   constitucionais	
   estão	
   as	
   normas	
   previstas	
   em	
   tratados	
   internacionais	
   de	
   direitos	
  
humanos	
  aprovados	
  por	
  3/5,	
  em	
  dois	
  turnos,	
  em	
  ambas	
  as	
  casas	
  do	
  Congresso	
  Nacional	
  (art.	
  5º,	
  §3º	
  da	
  CF).	
  
	
   Abaixo,	
  estão	
  as	
  normas	
  de	
  tratados	
  de	
  direitos	
  humanos	
  não	
  aprovados	
  pelo	
  procedimento	
  do	
  art.	
  5º,	
  §3º	
  
da	
  CF,	
  que	
  possuem	
  status	
  supra	
  legal.	
  Abaixo	
  destes,	
  estão	
  as	
  leis,	
  seguidas	
  dos	
  decretos.	
  
	
  
Normas	
  constitucionais	
  e	
  Tratados	
  do	
  art.	
  5º,	
  §3º	
  da	
  CF	
  
Normas	
  supra	
  legais	
  (Tratados	
  do	
  art.	
  5º,	
  §2º	
  da	
  CF)	
  
Leis	
  (ordinárias,	
  complementares,	
  federais,	
  estaduais,	
  municipais,	
  tratados	
  comuns)	
  
Decretos	
  
CONTROLE	
  DE	
  CONSTITUCIONALIDADE	
  –	
  JOÃO	
  PAULO	
  LORDELO	
  
5	
  
	
  
1.1.	
  Hierarquia	
  dos	
  tratados	
  internacionaisInicialmente,	
   o	
   STF	
   entendia	
   que	
   todos	
   os	
   tratados	
   internacionais	
   seriam	
   equivalentes	
   às	
   leis	
   ordinárias,	
  
fossem	
  eles	
  de	
  direitos	
  humanos	
  ou	
  não.	
  Com	
  o	
  advento	
  da	
  CF/88	
  e	
  seu	
  art.	
  5º,	
  §2º,	
  as	
  divergências	
  foram	
  iniciadas,	
  
especialmente	
  após	
  a	
  EC	
  45,	
  que	
  acrescentou	
  o	
  §3º	
  ao	
  art.	
  5º.	
  
Após	
   um	
   período	
   de	
   divergências	
   doutrinárias	
   acerca	
   da	
   natureza	
   dos	
   tratados	
   internacionais,	
   no	
   final	
   de	
  
2007,	
  no	
  RE	
  466.343,	
  o	
  Ministro	
  Gilmar	
  Mendes	
  passou	
  a	
  considerar	
  que	
  os	
  tratados	
  internacionais	
  teriam	
  uma	
  tripla	
  
hierarquia:	
  
1. Status	
  de	
  emenda	
  constitucional	
  !	
  Se	
  o	
  tratado	
  internacional	
  for	
  de	
  direitos	
  humanos	
  (requisito	
  material)	
  e	
  
for	
  aprovado	
  por	
  3/5	
  e	
  dois	
  turnos	
  (requisito	
  formal).	
  
Art.	
  5º,	
  §	
  3º	
  da	
  CF.	
  Os	
  tratados	
  e	
  convenções	
  internacionais	
  sobre	
  direitos	
  humanos	
  que	
  forem	
  aprovados,	
  em	
  cada	
  
Casa	
  do	
  Congresso	
  Nacional,	
  em	
  dois	
  turnos,	
  por	
  três	
  quintos	
  dos	
  votos	
  dos	
  respectivos	
  membros,	
  serão	
  equivalentes	
  
às	
  emendas	
  constitucionais.	
  (Incluído	
  pela	
  Emenda	
  Constitucional	
  nº	
  45,	
  de	
  2004)	
  	
  	
  
	
  
2. Status	
  supralegal	
  !	
  Se	
  o	
  tratado	
  internacional	
   for	
  de	
  direitos	
  humanos,	
  mas	
  que	
  não	
  tenha	
  sido	
  aprovado	
  
por	
   3/5	
   e	
   dois	
   turnos	
   (a	
   CF/88	
   não	
   obriga	
   que	
   os	
   tratados	
   que	
   versem	
   sobre	
   direitos	
   humanos	
   sejam	
  
aprovados	
  por	
  3/5	
  e	
  dois	
  turnos).	
  Significa	
  que	
  estará	
  acima	
  das	
  leis,	
  mas	
  abaixo	
  da	
  Constituição.	
  
Art.	
  5º,	
  §	
  2º	
  -­‐	
  Os	
  direitos	
  e	
  garantias	
  [fundamentais]	
  expressos	
  nesta	
  Constituição	
  não	
  excluem	
  outros	
  decorrentes	
  
do	
  regime	
  e	
  dos	
  princípios	
  por	
  ela	
  adotados,	
  ou	
  dos	
  tratados	
  internacionais	
  em	
  que	
  a	
  República	
  Federativa	
  do	
  Brasil	
  
seja	
  parte.	
  
O	
  argumento	
  é	
  de	
  que,	
  se	
  os	
  direitos	
  fundamentais	
  expressos	
  na	
  CF/88	
  não	
  excluem	
  outros	
  decorrentes	
  de	
  tratados	
  
internacionais,	
  esses	
  direitos,	
  ao	
  adentrar	
  no	
  ordenamento,	
  são	
  manifestação	
  desses	
  próprios	
  direitos	
  fundamentais.	
  
Esse	
   é	
   o	
   posicionamento	
   do	
   STF	
   (RE	
   466.343,	
   de	
   03/12/2008.	
   Pedro	
   Lenza	
   diz	
   que,	
   inicialmente,	
   a	
   tese	
   da	
  
supralegalidade	
  só	
  era	
  defendida	
  por	
  Gilmar	
  Mendes,	
  ficando	
  o	
  STF	
  com	
  o	
  entendimento	
  de	
  que	
  também	
  os	
  tratados	
  
de	
  direitos	
  humanos,	
  quando	
  não	
  aprovados	
  pelo	
  quorum	
  qualificado	
  do	
  art.	
  5º,	
  §3º	
  possuem	
  status	
  de	
  lei	
  ordinária.	
  
Tudo	
  mudou	
  no	
  final	
  de	
  2008.	
  
3. Status	
  de	
  lei	
  ordinária	
  !	
  Se	
  o	
  tratado	
  internacional	
  for	
  comum.	
  
Pacto	
  de	
  San	
  José	
  da	
  Costa	
  Rica	
  e	
  a	
  prisão	
  do	
  depositário	
  infiel	
  
O	
  Pacto	
  de	
  San	
  José	
  da	
  Costa	
  Rica	
  estabelece	
  que	
  não	
  pode	
  haver	
  prisão	
  civil	
  do	
  depositário	
  infiel;	
  a	
  CF/88,	
  
contudo,	
  permite	
  tal	
  prisão.	
  A	
  CF/88	
  prevalece	
  sobre	
  o	
  Pacto,	
  porque	
  ele	
  tem	
  apenas	
  caráter	
  supralegal.	
  Assim,	
  em	
  
tese,	
  seria	
  possível	
  a	
  prisão	
  do	
  depositário	
  infiel.	
  	
  
No	
  entanto,	
  o	
   STF	
  não	
   tem	
  admitido	
  a	
  prisão	
  por	
  dívida	
  do	
  depositário	
   infiel,	
   sob	
  o	
   fundamento	
  de	
  que	
  a	
  
CF/88	
  não	
  prevê	
  que	
  haverá	
  prisão	
  civil	
  por	
  dívida,	
  mas	
  que	
  poderá	
  haver.	
   Sendo	
  essa	
  norma	
  de	
  eficácia	
   limitada,	
  
depende	
   de	
   regulamentação	
   para	
   ter	
   eficácia,	
   a	
   qual	
   foi	
   dada	
   pelo	
   Decreto	
   911/69.	
   Como	
   o	
   Pacto,	
   de	
   status	
  
supralegal,	
  prevalece	
  sobre	
  o	
  Decreto,	
  impede	
  sua	
  aplicação,	
  razão	
  pela	
  qual	
  não	
  pode	
  haver	
  prisão	
  por	
  depósito	
  infiel	
  
(bem	
  como	
  no	
  caso	
  da	
  alienação	
  fiduciária).	
  
	
  
1.2.	
  Hierarquia	
  entre	
  lei	
  complementar	
  a	
  lei	
  ordinária	
  
O	
  STJ,	
  até	
  pouco	
  tem	
  atrás,	
  entendia	
  que	
  havia	
  hierarquia	
  entre	
  essas	
  duas	
  leis	
  (a	
  lei	
  complementar	
  estaria	
  
acima).	
  	
  
Hoje,	
  tanto	
  o	
  STF	
  quanto	
  o	
  STJ	
  entendem	
  que	
  NÃO	
  HÁ	
  hierarquia	
  entre	
  lei	
  complementar	
  e	
  lei	
  ordinária,	
  pois	
  
elas	
  possuem	
  campos	
  materiais	
  distintos	
  estabelecidos	
  pela	
  Constituição.	
  
O	
  que	
  determina	
  a	
  hierarquia	
  é	
  de	
  onde	
  a	
  norma	
  retira	
  seu	
  fundamento	
  de	
  validade	
  e,	
  nesse	
  caso,	
  ambas	
  as	
  
normas	
   retiram	
  os	
   seus	
  da	
  Constituição	
   Federal	
   (somente	
  haveria	
   hierarquia	
   se	
  o	
   fundamento	
  de	
   validade	
  das	
   leis	
  
ordinárias	
   fossem	
   as	
   leis	
   complementares).	
   A	
   Constituição	
   estabelece	
   as	
   matérias	
   que	
   serão	
   tratadas	
   pela	
   lei	
  
complementar	
  e	
  a	
  lei	
  ordinária	
  trata	
  das	
  matérias	
  residuais.	
  
O	
  que	
  diferencia	
  a	
  lei	
  complementar	
  da	
  lei	
  ordinária?	
  
	
  
	
  
CONTROLE	
  DE	
  CONSTITUCIONALIDADE	
  –	
  JOÃO	
  PAULO	
  LORDELO	
  
6	
  
	
  
	
   LEI	
  ORDINÁRIA	
   LEI	
  COMPLEMENTAR	
  
Aspecto	
  material	
   Competência	
  residual	
   Competência	
  reservada	
  
Aspecto	
  formal	
   Quórum	
  de	
  aprovação:	
  
maioria	
  relativa	
  (50%	
  dos	
  presentes)	
  
Quórum	
  de	
  aprovação:	
  
maioria	
  absoluta	
  
	
  
A	
   diferenciação	
   quanto	
   ao	
   aspecto	
   formal	
   das	
   leis	
   ordinária	
   e	
   complementar	
   está	
   prevista	
   nos	
   seguintes	
  
artigos	
  da	
  Constituição:	
  
Art.	
  69.	
  As	
  leis	
  complementares	
  serão	
  aprovadas	
  por	
  MAIORIA	
  ABSOLUTA.	
  
Art.	
   47.	
   Salvo	
   disposição	
   constitucional	
   em	
   contrário,	
   as	
   deliberações	
   de	
   cada	
   Casa	
   e	
   de	
   suas	
   Comissões	
   serão	
  
tomadas	
  por	
  MAIORIA	
  DOS	
  VOTOS,	
  presente	
  a	
  maioria	
  absoluta	
  de	
  seus	
  membros.	
  
	
  
Quórum	
  de	
  VOTAÇÃO	
   Quórum	
  de	
  APROVAÇÃO	
  
Lei	
  Ordinária	
  e	
  Lei	
  Complementar:	
   Lei	
  Ordinária:	
   Lei	
  Complementar:	
  
Maioria	
  ABSOLUTA	
  (2ª	
  parte	
  do	
  art.	
  47)	
   Maioria	
  RELATIVA	
  (1ª	
  parte	
  do	
  art.	
  47)	
   Maioria	
  ABSOLUTA	
  (art.	
  69)	
  
	
  
ATENÇÃO:	
   A	
   jurisprudênciado	
   STF	
   é	
   no	
   sentido	
   de	
   que,	
   mesmo	
   não	
   existindo	
   hierarquia	
   entre	
   as	
   leis	
  
complementares	
  e	
  ordinárias,	
  uma	
  lei	
  ordinária	
  NÃO	
  pode	
  tratar	
  de	
  matéria	
  de	
  lei	
  complementar	
  porque	
  a	
  matéria	
  
de	
  lei	
  complementar	
  é	
  reservada.	
  
No	
  entanto,	
  a	
  lei	
  complementar	
  PODE	
  tratar	
  de	
  matéria	
  de	
  lei	
  ordinária	
  sem	
  ser	
  invalida	
  por	
  uma	
  questão	
  
de	
   economia	
   legislativa	
   (pois	
   o	
   quórum	
   da	
   lei	
   ordinária	
   teria	
   sido	
   atendido,	
   já	
   que	
   o	
   de	
   aprovação	
   da	
   lei	
  
complementar	
  é	
  mais	
  rígido	
  que	
  o	
  da	
  lei	
  ordinária).	
  
Apesar	
   de	
   a	
   lei	
   não	
   ser	
   invalidada,	
   ela	
   será	
   apenas	
   formalmente	
   complementar.	
  Materialmente,	
   ela	
   será	
  
ordinária.	
  A	
  conseqüência	
  jurídica	
  disso	
  é	
  que	
  essa	
  lei	
  poderá	
  ser	
  revogada	
  posteriormente	
  por	
  uma	
  lei	
  ordinária.	
  
	
  
1.3	
  Competência	
  para	
  solução	
  de	
  conflito	
  entre	
  normas	
  federais,	
  estaduais	
  e	
  municipais	
  
Antes	
   da	
   emenda	
   45,	
   o	
   tribunal	
   competente	
   para	
   julgar	
   conflito	
   entre	
   lei	
   federal	
   e	
   lei	
   local,	
   por	
  meio	
   de	
  
Recurso	
  Especial,	
  era	
  do	
  STJ	
  (que,	
  sendo	
  o	
  guardião	
  da	
  lei	
  federal,	
  terminava	
  privilegiando-­‐a).	
  	
  
Após	
  a	
  emenda	
  45,	
  essa	
  competência	
  foi	
  corrigida	
  para	
  ser	
  do	
  STF,	
  pois	
  será	
  necessário	
  que	
  o	
  conflito	
  seja	
  
resolvido	
  com	
  base	
  na	
  Constituição	
  (já	
  que	
  as	
  competências	
  das	
  leis	
  federais,	
  estaduais	
  e	
  municipais	
  estão	
  previstas	
  
na	
  CF).	
  
O	
  conflito	
  entre	
  normas	
  federais,	
  estaduais	
  e	
  municipais	
  é	
  dirimido	
  pelo	
  STF,	
  com	
  base	
  na	
  CF.	
  	
  
É	
   possível,	
   portanto,	
   controle	
   de	
   constitucionalidade,	
   quando	
   houver	
   conflito	
   entre	
   Lei	
   estadual	
   e	
   Lei	
   federal,	
   por	
  
exemplo,	
  por	
  violação	
  a	
  regra	
  de	
  competência	
  da	
  CF.	
  
	
  
2.	
  Supremacia	
  da	
  Constituição	
  
A	
  supremacia	
  da	
  Constituição	
  pode	
  ser	
  entendida	
  por	
  dois	
  viés,	
  pela	
  supremacia	
  material	
  ou	
  formal.	
  Qual	
  das	
  
duas	
  será	
  relevante	
  para	
  o	
  Controle	
  de	
  Constitucionalidade?	
  
• SUPREMACIA	
  MATERIAL	
  !	
  Está	
  relacionada	
  ao	
  conteúdo	
  da	
  Constituição.	
  Ela	
  possui	
  conteúdo	
  superior	
  às	
  
demais	
  normas	
  porque	
  contém	
  os	
  fundamentos	
  do	
  Estado	
  e	
  do	
  Direito	
  (ex:	
  Direitos	
  Fundamentais,	
  estrutura	
  
do	
  Estado	
  e	
  a	
  organização	
  dos	
  poderes).	
  Toda	
  Constituição	
  tem	
  supremacia	
  material,	
  independentemente	
  de	
  
ser	
  rígida	
  ou	
  flexível.	
  	
  
• SUPREMACIA	
   FORMAL	
  ! 	
   Está	
   relacionada	
   ao	
  processo	
   através	
   do	
   qual	
   a	
   Constituição	
   foi	
   criada,	
   ao	
   seu	
  
processo	
  de	
  elaboração	
  e	
  sua	
  forma	
  especial	
  de	
  revisão.	
  Somente	
  possui	
  supremacia	
   formal	
  a	
  Constituição	
  
RÍGIDA	
  (cujo	
  processo	
  de	
  alteração	
  seja	
  mais	
  solene	
  que	
  o	
  processo	
  ordinário).	
  
Para	
  que	
  a	
  Constituição	
  seja	
  rígida,	
  precisa	
  ter	
  normas	
  escritas.	
  
CONTROLE	
  DE	
  CONSTITUCIONALIDADE	
  –	
  JOÃO	
  PAULO	
  LORDELO	
  
7	
  
	
  
A	
  supremacia	
  formal	
  é	
  um	
  atributo	
  específico	
  das	
  constituições	
  rígidas.	
  VERDADE1.	
  	
  
Para	
   fins	
   de	
   controle	
   de	
   constitucionalidade,	
   o	
   que	
   importa	
   é	
   a	
   supremacia	
   formal	
   da	
   Constituição.	
   Só	
  
haverá	
  controle	
  quando	
  a	
  Constituição	
  for	
  rígida.	
  Se	
  a	
  Constituição	
  for	
  flexível	
   (como	
  no	
  caso	
  da	
  Inglaterra),	
  não	
  há	
  
que	
  se	
  falar	
  em	
  controle	
  de	
  constitucionalidade.	
  
No	
   caso	
   das	
   constituições	
   flexíveis,	
   o	
  mesmo	
   parlamento	
   que	
   elabora	
   as	
   leis	
   pode	
   alterar	
   o	
   conteúdo	
   da	
  
Constituição.	
  	
  
Muita	
  gente	
  confunde	
  a	
  supremacia	
  formal	
  e	
  material	
  com	
  a	
  inconstitucionalidade	
  formal	
  e	
  material.	
  Mas,	
  na	
  
verdade,	
  a	
  supremacia	
  só	
   indica	
  se	
  haverá	
  ou	
  não	
  controle	
  de	
  constitucionalidade.	
  Uma	
  vez	
  que	
  haja	
  controle	
  de	
  
constitucionalidade	
   (pela	
   supremacia	
   formal),	
   ele	
   poder	
   ser	
   feito	
   tanto	
   em	
   relação	
   ao	
   conteúdo	
   das	
   leis	
  
(inconstitucionalidade	
  material)	
  quanto	
  em	
  relação	
  à	
  forma	
  de	
  elaboração	
  das	
  leis	
  (inconstitucionalidade	
  formal).	
  
Controle	
  de	
  Constitucionalidade	
  X	
  Processo	
  político-­‐social	
  (Gilmar	
  Mendes):	
  
A	
  Constituição	
  é	
  a	
  ordem	
  jurídica	
  fundamental	
  da	
  coletividade	
  (Konrad	
  Hesse),	
  que	
  contém	
  as	
  linhas	
  básicas	
  
do	
   Estado.	
   Ela	
   possui,	
   a	
   um	
   só	
   tempo,	
   rigidez	
   e	
   flexibilidade.	
   É	
   rígida	
   porque	
   suas	
   regras	
   devem	
   observar	
   um	
  
procedimento	
  especial	
  de	
  promulgação	
  e	
  revisão.	
  Por	
  outro	
  lado,	
  como	
  não	
  tem	
  pretensão	
  de	
  completude,	
  possui	
  a	
  
flexibilidade	
   necessária	
   ao	
   contínuo	
   desenvolvimento,	
   permitindo	
   que	
   seu	
   conteúdo	
   permaneça	
   aberto	
   dentro	
   do	
  
tempo.	
  
Vale	
   dizer,	
   possui	
   uma	
   perspectiva	
   de	
   legitimidade	
   material	
   (é	
   escrita)	
   e	
   de	
   abertura	
   constitucional	
   (é	
  
incompleta).	
  Conciliam-­‐se,	
  assim,	
  estabilidade	
  e	
  desenvolvimento	
  (evitando-­‐se	
  a	
  dissolução	
  da	
  ordem	
  constitucional	
  e	
  
o	
   congelamento	
   da	
   ordem	
   jurídica).	
   É	
   essa	
   conciliação	
   entre	
   legitimidade	
   material	
   e	
   abertura	
   constitucional	
   que	
  
permite	
   a	
   compatibilização	
   do	
   controle	
   de	
   constitucionalidade	
   (que	
   pressupõe	
   uma	
   Constituição	
   rígida)	
   com	
   a	
  
dinâmica	
  do	
  processo	
  político-­‐social.	
  
	
  
3.	
  Conceito	
  de	
  inconstitucionalidade	
  
	
   Segundo	
   Hans	
   Kelsen,	
   uma	
   Constituição	
   que	
   não	
   dispõe	
   de	
   garantia	
   para	
   a	
   anulação	
   dos	
   atos	
  
inconstitucionais	
  não	
  é	
  propriamente	
  obrigatória,	
  razão	
  pela	
  qual	
  a	
  jurisdição	
  constitucional	
  seria	
  decorrência	
  lógica	
  
da	
  Constituição	
  em	
  sentido	
  estrito.	
  
	
   Inconstitucionalidade	
   é	
   conceito	
   que	
   não	
   se	
   restringe	
   à	
   idéia	
   de	
   incompatibilidade	
   com	
   a	
   Constituição,	
  
abrangendo	
  a	
  idéia	
  de	
  sanção:	
  será	
  inconstitucional	
  oato	
  que	
  não	
  incorrer	
  em	
  sanção	
  (nulidade	
  ou	
  anulabilidade)	
  
por	
  desconformidade	
  com	
  o	
  ordenamento	
  jurídico.	
  
	
   ATENÇÃO:	
  o	
  conceito	
  de	
  inconstitucionalidade	
  não	
  abrange	
  toda	
  desconformidade	
  com	
  a	
  Constituição,	
  mas	
  
apenas	
  a	
  que	
  decorrer	
  de	
  atos	
  ou	
  omissões	
  dos	
  Poderes	
  Públicos.	
  
Nas	
  palavras	
  de	
  Gilmar	
  Mendes,	
  a	
  violação	
  da	
  ordem	
  constitucional	
  por	
  entes	
  privados,	
  embora	
  relevantes	
  
do	
   prisma	
   do	
   direito	
   constitucional,	
   não	
   se	
   equipararia	
   à	
   ofensa	
   perpetrada	
   pelos	
   órgãos	
   públicos,	
   destinatários	
  
primários	
  de	
  seus	
  comandos	
  normativos.	
  
Questão:	
  de	
  onde	
  surgiu	
  a	
  idéia	
  de	
  controle	
  de	
  constitucionalidade?	
  Qual	
  o	
  contexto	
  histórico?	
  
O	
   caso	
   “Marbury	
   v.	
   Madison	
   foi	
   a	
   primeira	
   decisão	
   na	
   qual	
   a	
   Suprema	
   Corte	
   (americana)	
   afirmou	
   seu	
   poder	
   de	
  
exercer	
   o	
   controle	
   de	
   constitucionalidade,	
   negando	
   aplicação	
   a	
   leis	
   que,	
   de	
   acordo	
   com	
   sua	
   interpretação,	
   fossem	
  
inconstitucionais.	
  [...]	
  foi	
  a	
  decisão	
  que	
  inaugurou	
  o	
  controle	
  de	
  constitucionalidade	
  no	
  constitucionalismo	
  moderno,	
  
deixando	
  assentado	
  o	
  princípio	
  da	
  supremacia	
  da	
  Constituição,	
  da	
  subordinação	
  a	
  ele	
  de	
  todos	
  os	
  Poderes	
  estatais	
  e	
  
da	
  competência	
  do	
  Judiciário	
  como	
  seu	
  intérprete	
  final,	
  podendo	
  invalidar	
  os	
  atos	
  que	
  lhe	
  contravenham”.	
  
	
  
3.1.	
  Sistemas	
  de	
  inconstitucionalidade	
  (natureza	
  jurídica	
  da	
  norma	
  inconstitucional)	
  
	
   Quanto	
  à	
  natureza	
  jurídica	
  das	
  normas	
  inconstitucionais	
  há	
  3	
  correntes:	
  
1ª Corrente,	
  uma	
  norma	
  inconstitucional	
  é	
  norma	
  inexistente.	
  
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
1	
  Assim,	
  a	
  Constituição	
  inglesa	
  não	
  tem	
  supremacia	
  formal.	
  
CONTROLE	
  DE	
  CONSTITUCIONALIDADE	
  –	
  JOÃO	
  PAULO	
  LORDELO	
  
8	
  
	
  
2ª Corrente,	
  adotada	
  pelo	
  STF	
  e	
  nos	
  EUA,	
  a	
   lei	
   inconstitucional	
  é	
  um	
  ato	
  nulo,	
  padecendo	
  de	
  vício	
  de	
  origem	
  
(insanável).	
  “Se	
  uma	
  lei	
   inconstitucional	
  pudesse	
  reger	
  dada	
  situação	
  e	
  produzir	
  efeitos	
  regulares	
  e	
  válidos,	
  
isso	
   representaria	
   a	
   negativa	
   de	
   vigência	
   da	
   Constituição	
   naquele	
   mesmo	
   período,	
   em	
   relação	
   àquela	
  
matéria”	
  (BARROSO).	
  
3ª Corrente,	
  defendida	
  por	
  Hans	
  Kelsen	
  (adotada	
  no	
  sistema	
  autríaco),	
  entende	
  que	
  uma	
  lei	
  inconstitucional	
  é	
  
um	
   ato	
   apenas	
   anulável.	
   Isso	
   porque	
   a	
   lei	
   deve	
   ter	
   obrigatoriedade,	
   não	
   podendo	
   as	
   pessoas	
   alegar	
   sua	
  
nulidade	
   para	
   não	
   cumpri-­‐la.	
   Para	
   Kelsen,	
   o	
   controle	
   de	
   constitucionalidade	
   consistia	
   em	
   uma	
   atividade	
  
legislativa	
   negativa,	
   devendo	
   a	
   norma	
   permanecer	
   válida	
   até	
   que	
   a	
   corte	
   viesse	
   a	
   pronunciar	
   a	
   sua	
  
inconstitucionalidade.	
   Tal	
   entendimento	
   não	
   prevaleceu	
   na	
   doutrina	
   e	
   nem	
   nos	
   ordenamentos	
   positivos,	
  
exceto	
  na	
  Áustria.	
  
Atente:	
   apesar	
   de	
   o	
   Brasil	
   ter	
   adotado,	
   ao	
   lado	
   do	
   sistema	
   difuso	
   (EUA),	
   o	
   controle	
   concentrado	
   de	
  
constitucionalidade	
   (de	
  origem	
  austríaca),	
   adotou,	
   quanto	
   à	
  natureza	
   jurídica	
  da	
  norma	
   inconstitucional,	
   a	
  
teoria	
  da	
  nulidade,	
  afastando-­‐se	
  a	
  tese	
  austríaca	
  da	
  anulabilidade.	
  
Assim,	
   existem	
   dois	
   sistemas	
   básicos	
   de	
   inconstitucionalidade:	
   a	
   teoria	
   da	
   “nulidade	
   absoluta	
   da	
   norma	
  
declarada	
  inconstitucional”	
  e	
  a	
  teoria	
  da	
  “anulabilidade	
  da	
  norma	
  inconstitucional”.	
  
Sistema	
  norte-­‐americano	
  da	
  NULIDADE	
  (Marshall)	
   Sistema	
  austríaco	
  da	
  ANULABILIDADE	
  (Kelsen)	
  
Lei	
  inconstitucional	
  é	
  ato	
  NULO	
  (invalidação	
  ab	
  initio)	
   Lei	
  inconstitucional	
  é	
  ato	
  ANULÁVEL	
  (a	
  lei	
  produz	
  efeitos	
  
até	
  sua	
  anulação)	
  
A	
  decisão	
  de	
  inconstitucionalidade	
  é	
  declaratória	
   A	
  decisão	
  de	
  inconstitucionalidade	
  é	
  constitutiva	
  
O	
  vício	
  é	
  aferido	
  no	
  campo	
  da	
  validade	
   O	
  vício	
  é	
  aferido	
  no	
  campo	
  da	
  eficácia	
  
A	
   decisão	
  de	
   inconstitucionalidade	
   é	
  ex	
   tunc	
   (não	
  pode	
  
sofrer	
   modulação	
   porque	
   a	
   lei	
   jamais	
   produziu	
   efeitos	
  
que	
  demandem	
  manutenção)	
  
A	
   decisão	
   de	
   inconstitucionalidade	
   é	
   ex	
   nunc	
   ou	
   pro	
  
futuro	
  (em	
  caso	
  de	
  modulação	
  dos	
  efeitos	
  da	
  decisão)	
  
	
   No	
  direito	
  moderno,	
  o	
  rigor	
  das	
  duas	
  teorias	
  foi	
  flexibilizado.	
  
	
   O	
   sistema	
   austríaco	
   passou	
   a	
   admitir	
   a	
   atribuição	
   de	
   efeitos	
   retroativos	
   à	
   decisão	
   anulatória	
   da	
   norma	
  
inconstitucional.	
   O	
   sistema	
   norte-­‐americado,	
   por	
   sua	
   vez,	
   passou	
   a	
   admitir	
   a	
  modulação	
   dos	
   efeitos	
   da	
   decisão	
  
declaratória	
  de	
  inconstitucionalidade.	
  
	
   O	
  direito	
  brasileiro	
  adota	
  o	
  sistema	
  norte-­‐americano	
  de	
  nulidade	
  absoluta	
  da	
  lei	
  inconstitucional,	
  mas	
  mitiga	
  
o	
  princípio	
  da	
  nulidade	
  com	
  outros	
  princípios	
  constitucionais:	
  segurança	
  jurídica	
  e	
  boa-­‐fé.	
  
	
   Assim,	
  a	
  doutrina	
  da	
  ineficácia	
  ab	
  initio	
  da	
  lei	
  inconstitucional	
  não	
  pode	
  ser	
  entendida	
  em	
  termos	
  absolutos,	
  
pois	
  que	
  os	
  efeitos	
  DE	
  FATO	
  que	
  a	
  norma	
  produziu	
  não	
  podem	
  ser	
  suprimidos,	
  sumariamente,	
  por	
  simples	
  obra	
  de	
  um	
  
decreto	
  judiciário.	
  	
  
	
   Mitigações	
  do	
  sistema	
  norte-­‐americano	
  da	
  nulidade	
  no	
  Brasil:	
  
a) No	
   controle	
   concentrado	
   de	
   constitucionalidade	
  !	
   Aplicação	
   da	
   técnica	
   da	
  modulação	
   dos	
   efeitos	
   da	
  
decisão	
  por	
  previsão	
  legal	
  art.	
  27	
  da	
  lei	
  9.868/99.	
  
Art.	
   27	
   da	
   lei	
   9.868/99.	
   Ao	
   declarar	
   a	
   inconstitucionalidade	
   da	
   lei	
   ou	
   ato	
   normativo,	
   e	
   tendo	
   em	
   vista	
   razões	
   de	
  
segurança	
  jurídica	
  ou	
  deexcepcional	
  interesse	
  social,	
  poderá	
  o	
  Supremo	
  Tribunal	
  Federal,	
  por	
  maioria	
  de	
  dois	
  terços	
  
de	
  seus	
  membros,	
  restringir	
  os	
  efeitos	
  daquela	
  declaração	
  ou	
  decidir	
  que	
  ela	
  só	
  tenha	
  eficácia	
  a	
  partir	
  de	
  seu	
  trânsito	
  
em	
  julgado	
  ou	
  de	
  outro	
  momento	
  que	
  venha	
  a	
  ser	
  fixado.	
  
b) No	
   controle	
   difuso	
   de	
   constitucionalidade	
  !	
   Aplicação	
   da	
   modulação	
   dos	
   efeitos	
   nas	
   decisões	
   de	
  
controle	
   difuso	
   por	
   ponderação	
   de	
   valores,	
   sem	
   previsão	
   legal,	
   por	
   questões	
   de	
   segurança	
   jurídica,	
  
interesse	
  social	
  e	
  boa-­‐fé.	
  
Ex:	
   ação	
   civil	
   pública	
   ajuizada	
   pelo	
   MP/SP	
   pedindo	
   a	
   declaração	
   incidental	
   da	
   inconstitucionalidade	
   da	
   lei	
   que	
  
aumentava	
   o	
   número	
   de	
   vereadores	
   e	
   devolução	
   dos	
   subsídios	
   indevidamente	
   pagos.	
   O	
   STF,	
   entendendo	
   que	
   “a	
  
declaração	
   de	
   nulidade	
   com	
  os	
   ordinários	
   efeitos	
  ex	
   tunc	
   da	
   composição	
   da	
   Câmara	
   representaria	
   um	
   verdadeiro	
  
caos	
  quanto	
  à	
  validade,	
  não	
  apenas	
  em	
  parte,	
  das	
  eleições	
  já	
  realizadas,	
  mas	
  dos	
  atos	
  legislativos	
  praticados	
  por	
  esse	
  
órgão	
  sob	
  o	
  manto	
  presuntivo	
  da	
  legitimidade”,	
  entendeu	
  que	
  sua	
  decisão	
  só	
  se	
  aplicada	
  para	
  as	
  eleições	
  futuras.	
  STF	
  
–	
  RE	
  197.917/SP;	
  Pleno;	
  j.	
  06/06/2002.	
  
	
  
4.	
  Parâmetro	
  ou	
  Norma	
  de	
  referência	
  (para	
  o	
  controle	
  de	
  constitucionalidade)	
  
CONTROLE	
  DE	
  CONSTITUCIONALIDADE	
  –	
  JOÃO	
  PAULO	
  LORDELO	
  
9	
  
	
  
	
   Parâmetro	
   é	
   a	
   norma	
   com	
   status	
   constitucional	
   com	
   base	
   na	
   qual	
   deve	
   será	
   realizado	
   o	
   controle	
   de	
  
constitucionalidade.	
  É	
  a	
  NORMA	
  DE	
  REFERÊNCIA.	
  
	
   Toda	
  a	
  Constituição	
  Federal	
  de	
  1988	
  serve	
  como	
  parâmetro,	
  inclusive	
  os	
  princípios	
  implícitos	
  constitucionais	
  
(ex:	
  princípio	
  da	
  proporcionalidade),	
  exceto	
  o	
  preâmbulo.	
  
É	
  possível	
  fazer	
  controle	
  de	
  constitucionalidade	
  com	
  base	
  em	
  princípio	
  constitucional	
  implícito.	
  
A	
  CF/88	
  é	
  dividida	
  em	
  três	
  partes:	
  Preâmbulo,	
  Parte	
  Permanente	
  (art.	
  1º	
  ao	
  art.	
  250)	
  e	
  o	
  ADCT.	
  De	
  todas	
  estas	
  
partes,	
  a	
  única	
  que	
  não	
  serve	
  de	
  parâmetro	
  para	
  o	
  controle	
  é	
  o	
  Preâmbulo,	
  porque	
  não	
  tem	
  caráter	
  normativo;	
  não	
  é	
  
considerado	
  norma	
  jurídica	
  pelo	
  STF2.	
  
A	
  parte	
  permanente	
  diz	
  respeito	
  aos	
  princípios	
  expressos	
  e	
  implícitos,	
  podendo	
  ambos	
  servir	
  de	
  parâmetro.	
  
Os	
  princípios	
  implícitos	
  no	
  texto	
  da	
  Constituição	
  também	
  servem	
  como	
  parâmetro	
  para	
  o	
  controle,	
  sejam	
  da	
  Parte	
  
Permanente,	
  sejam	
  do	
  ADCT.	
  
Os	
   tratados	
   internacionais	
   de	
   direitos	
   humanos	
   aprovados	
   por	
   3/5	
   em	
   dois	
   turnos	
   de	
   votação	
   também	
  
servem	
  como	
  parâmetro,	
  pois	
  possuem	
  status	
  de	
  norma	
  constitucional.	
  Como	
  já	
  dito,	
  o	
  que	
  importa	
  é	
  a	
  rigidez	
  do	
  ato	
  
(forma	
  prevista	
  no	
  art.	
  5º,	
  §3º)	
  e	
  não	
  o	
  conteúdo	
  constitucional	
  (pois	
  é	
  a	
  supremacia	
  formal	
  que	
  possibilita	
  o	
  controle	
  
de	
  constitucionalidade).	
  
	
  
4.1.	
  Bloco	
  de	
  Constitucionalidade	
  
Essa	
   expressão	
   foi	
   criada	
   por	
   Louis	
   Favoreu,	
   para	
   se	
   referir	
   a	
   todas	
   as	
   normas	
   do	
   ordenamento	
   jurídico	
  
francês	
  que	
  têm	
  status	
  constitucionais.	
  
Na	
   França,	
   possuem	
   status	
   constitucional:	
   a	
   Constituição	
  de	
   1958	
   (atual),	
   o	
   preâmbulo	
  da	
  Constituição	
  de	
  
1947	
  (a	
  anterior)	
  e	
  a	
  Declaração	
  Universal	
  dos	
  Direitos	
  do	
  Homem	
  e	
  do	
  Cidadão	
  de	
  1789,	
  bem	
  como	
  outras	
  normas.	
  	
  
O	
  STF	
  tem	
  utilizado	
  a	
  expressão	
  “bloco	
  de	
  constitucionalidade”	
  para	
  se	
  referir	
  à	
  NORMA	
  DE	
  REFERÊNCIA.	
  O	
  
termo	
  pode	
  ser	
  interpretado	
  de	
  forma	
  estrita	
  ou	
  ampla,	
  não	
  havendo	
  consenso	
  na	
  doutrina:	
  
" Sentido	
   estrito:	
   Canotilho	
   se	
   refere	
   a	
   bloco	
   de	
   constitucionalidade	
   em	
   sentido	
   estrito.	
   Segundo	
   ele,	
  
fariam	
   parte	
   do	
   bloco	
   apenas	
   as	
   normas	
   que	
   servem	
   de	
   parâmetro	
   para	
   o	
   controle	
   de	
  
constitucionalidade.	
  
" Sentido	
   amplo:	
   Normas	
   constitucionais	
   +	
   Preâmbulo	
   +	
   Normas	
   infraconstitucionais	
   reconduzíveis	
   à	
  
Constituição.	
  	
  
Normas	
  infraconstitucionais	
  reconduzíveis	
  à	
  Constituição	
  são	
  as	
  fundamentais	
  ao	
  exercício	
  de	
  
direitos	
  constitucionais.	
  
EXEMPLO:	
  A	
   concretização	
  do	
  direito	
   social	
   (aberto),	
   necessária	
   à	
   sua	
  densificação,	
  mesmo	
  
sendo	
   feita	
   por	
   norma	
   infraconstitucional,	
   faria	
   parte	
   do	
   bloco	
   de	
   constitucionalidade	
   em	
  
sentido	
  amplo,	
   submetendo-­‐se	
  à	
  vedação	
  do	
   retrocesso,	
  para	
  aqueles	
  que	
  compreendem	
  o	
  
bloco	
  de	
  constitucionalidade	
  em	
  sentido	
  amplo.	
  
	
  
4.2.	
  Inconstitucionalidade	
  de	
  normas	
  constitucionais	
  
	
   O	
  controle	
  de	
  constitucionalidade	
  contempla	
  o	
  próprio	
  direito	
  de	
  revisão	
  reconhecido	
  ao	
  Poder	
  Constituinte	
  
Derivado.	
  Esse	
  poder	
  de	
  revisão	
  é	
  limitado	
  pelas	
  cláusulas	
  pétreas	
  (forma	
  federativa	
  de	
  Estado;	
  voto	
  direto,	
  periódico,	
  
secreto	
   e	
   universal;	
   separação	
   dos	
   Poderes;	
   direitos	
   e	
   garantias	
   individuais	
   –	
   art.	
   60,	
   §4º	
   da	
   CF)	
   que	
   impedem	
   a	
  
“efetivação	
  de	
  um	
  suicídio	
  do	
  Estado	
  de	
  Direito	
  Democrático	
  sob	
  a	
  forma	
  de	
  legalidade”3.	
  
	
   A	
  inconstitucionalidade	
  de	
  normas	
  constitucionais	
  decorre	
  da	
  afronta	
  ao	
  processo	
  de	
  reforma	
  da	
  Constituição	
  
e	
  das	
  cláusulas	
  pétreas.	
  
	
  
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
2	
  O	
  STF	
  decidiu	
  isso	
  quando	
  julgou	
  a	
  ADI	
  proposta	
  contra	
  o	
  preâmbulo	
  da	
  Constituição	
  do	
  Acre,	
  que	
  não	
  reproduzia	
  a	
  menção	
  a	
  Deus,existente	
  na	
  
Constituição	
  Federal.	
  
3	
  Nesse	
  sentido	
  se	
  pronunciou	
  o	
  Tribunal	
  Constitucional	
  alemão,	
  asseverando	
  que	
  o	
  constituinte	
  não	
  dispõe	
  de	
  poderes	
  para	
  suspender	
  ou	
  suprimir	
  
a	
  Constituição.	
  
CONTROLE	
  DE	
  CONSTITUCIONALIDADE	
  –	
  JOÃO	
  PAULO	
  LORDELO	
  
10	
  
	
  
4.2.1	
  Limites	
  imanentes	
  ao	
  poder	
  constituinte	
  originário	
  
	
   O	
   constitucionalismo	
   moderno	
   se	
   caracteriza	
   pelo	
   esforço	
   de	
   positivar	
   o	
   direito	
   natural	
   (direitos	
   inatos,	
  
princípios	
  superiores	
  ou	
  prévios).	
  A	
  consolidação	
  desses	
  postulados	
  em	
  Constituições	
  ocorreu	
  por	
  meio	
  dos	
  direitos	
  
fundamentais.	
  
	
   Assim,	
  as	
  idéias	
  jusnaturalistas	
  eram	
  a	
  base	
  da	
  Constituição	
  americana	
  de	
  1787.	
  Segundo	
  Gilmar	
  Mendes,	
  em	
  
um	
  primeiro	
  momento,	
  o	
  direito	
  constitucional	
  norte-­‐americano	
  pautava-­‐se	
  na	
  idéia	
  de	
  que	
  tanto	
  o	
  Poder	
  Legislativo	
  
quanto	
   o	
   Poder	
   Judiciário	
   estavam,	
   independentemente	
   de	
   restrições	
   constitucionais	
   expressas,	
   limitados	
   a	
  
VALORAR	
   os	
   princípios	
   eternos	
   naturais	
   ligados	
   à	
   noção	
   de	
   JUSTIÇA,	
   competindo-­‐lhes	
   apenas	
   REVELAR	
   essa	
  
concepção.	
  Assim,	
  era	
  constitucional	
  o	
  que	
  fosse	
  justo	
  e	
  inconstitucional	
  o	
  injusto.	
  
	
   Embora	
   a	
   teoria	
   das	
   limitações	
   implícitas	
   tenha	
   se	
   desenvolvido	
   bastante	
   nos	
   EUA	
   e	
   se	
   reconheça	
   a	
   base	
  
naturalista	
   dos	
   direitos	
   fundamentais,	
   a	
   sua	
   aplicação	
   ao	
   poder	
   constituinte	
   não	
   teve	
   grande	
   acolhida	
   na	
  
jurisprudência	
   americana.	
   Segundo	
   Loewenstein,	
   a	
   idéia	
   de	
   uma	
   limitação	
   imposta	
   ao	
   legislador	
   constituinte	
   é	
  
estranha	
  ao	
  pensamento	
  jurídico	
  americano.	
  
	
   Ao	
  revés,	
  a	
  Alemanha	
  pós-­‐guerra	
  admite	
  o	
  controle	
  da	
  reforma	
  constitucional	
  e	
  reconhece	
  a	
  existência	
  de	
  
princípios	
   supra-­‐positivos	
   cuja	
   observância	
   se	
   afigura	
   obrigatória	
   para	
   o	
   próprio	
   constituinte.	
   	
   A	
   Corte	
   alemã	
  
reconheceu,	
   ademais,	
   a	
   sua	
   competência	
   para	
   aferir	
   a	
   compatibilidade	
   do	
   direito	
   positivo	
   com	
   os	
   postulados	
   do	
  
direito	
  suprapositivo4.	
  
	
  
5.	
  Formas	
  de	
  controle	
  de	
  constitucionalidade	
  	
  
a) Quanto	
  ao	
  tipo	
  de	
  conduta	
  do	
  Poder	
  Público,	
  a	
  inconstitucionalidade	
  pode	
  ser	
  por:	
  
Obs.:	
  Quando	
  trata	
  da	
  conduta	
  do	
  Poder	
  Público,	
  está	
  se	
  referindo	
  ao	
  objeto	
  de	
  controle	
  (e	
  
não	
  ao	
  parâmetro).	
  
• AÇÃO	
  #	
   Pressupõe	
  uma	
  conduta	
  positiva	
  do	
   legislador	
  que	
  não	
   se	
   compatibiliza	
   com	
  os	
  princípios	
  e	
  
normas	
  constitucionalmente	
  consagrados.	
  Ex:	
  quando	
  o	
  poder	
  público	
  cria	
  uma	
  lei	
  inconstitucional.	
  
• OMISSÃO	
  #	
   Decorre	
   de	
   uma	
   lacuna	
   inconstitucional,	
   ou	
   seja,	
   do	
   descumprimento	
   da	
   obrigação	
  
constitucional	
   de	
   legislar	
   na	
   regulamentação	
   de	
   normas	
   constitucionais	
   de	
   eficácia	
   limitada.	
   Essa	
  
omissão	
   resulta	
   tanto	
   de	
   comandos	
   explícitos	
   da	
   CF	
   como	
  de	
   decisões	
   fundamentais	
   no	
   processo	
   de	
  
interpretação.	
  Há	
  uma	
  conduta	
  negativa	
  do	
  Poder	
  Público	
  que	
  deixa	
  de	
  agir	
  quando	
  deveria.	
  
Atente:	
   A	
   simples	
   inércia	
   por	
   parte	
   do	
   legislador	
   não	
   significa	
   que	
   esteja	
   diante	
   de	
   uma	
   omissão	
  
inconstitucional.	
  Esta	
  omissão	
  se	
  configura	
  com	
  o	
  descumprimento	
  de	
  um	
  mandamento	
  constitucional	
  
no	
  sentido	
  de	
  que	
  atue	
  positivamente,	
  criando	
  uma	
  norma	
  legal5.	
  
Ex:	
   Exclusão	
   de	
   benefício	
   incompatível	
   com	
   o	
   princípio	
   da	
   isonomia	
   (concedendo	
   benefícios	
   a	
  
determinados	
  segmentos	
  ou	
  grupos	
  sem	
  contemplar	
  outros	
  que	
  se	
  encontram	
  em	
  condições	
  idênticas).	
  
Essa	
   exclusão	
   pode	
   ser	
   concludente	
   (se	
   a	
   lei	
   concede	
   benefícios	
   apenas	
   a	
   determinado	
   grupo)	
   ou	
  
explícita	
  (se	
  a	
  lei	
  geral	
  que	
  outorga	
  determinados	
  benefícios	
  a	
  certo	
  grupo	
  exclui	
  sua	
  aplicação	
  a	
  outros).	
  
Em	
   relação	
   às	
  normas	
   programáticas,	
   em	
   regra	
   não	
   será	
   possível	
   falar	
   em	
   omissão	
   inconstitucional,	
  
salvo,	
   por	
   certo,	
   se	
   a	
   inércia	
   inviabilizar	
   providências	
   ou	
   prestações	
   correspondentes	
   ao	
   mínimo	
  
existencial.	
  
A	
  CF/88	
  concebeu	
  dois	
  remédios	
  jurídicos	
  diversos	
  para	
  enfrentar	
  o	
  problema:	
  	
  
" Mandado	
   de	
   injunção,	
   para	
   a	
   tutela	
   incidental	
   e	
   in	
   concreto	
   de	
   direitos	
   subjetivos	
  
constitucionais	
  devido	
  à	
  ausência	
  de	
  norma	
  reguladora;	
  	
  
" Ação	
  direta	
  de	
  inconstitucionalidade	
  por	
  omissão	
  (AIO	
  -­‐	
  art.	
  103,	
  §2º),	
  para	
  o	
  controle	
  por	
  via	
  
principal	
  e	
  em	
  tese	
  das	
  omissões	
  normativas	
  (controle	
  concentrado-­‐abstrato).	
  	
  
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
4	
  Conforme	
  pontua	
  Gilmar	
  Mendes,	
  essa	
  afirmação	
  não	
  passava,	
  porém,	
  de	
  um	
  obter	
  dictum,	
  que	
  jamais	
  assumiu	
  relevância	
  jurídica.	
  
5	
  Para	
  haver	
  uma	
  omissão	
  inconstitucional,	
  é	
  necessário	
  que	
  a	
  norma	
  da	
  Constituição	
  determine	
  que	
  o	
  Poder	
  Público	
  faça	
  algo	
  e	
  ele	
  não	
  faça.	
  Ex:	
  
direito	
  de	
  greve	
  dos	
  servidores	
  públicos	
  –	
  a	
  CF	
  assegura	
  o	
  direito,	
  mas	
  define	
  que	
  ele	
  deve	
  ser	
  exercido	
  na	
  forma	
  da	
  lei,	
  sendo	
  uma	
  norma	
  dirigida	
  
ao	
  Poder	
  Público.	
  Assim,	
  se	
  o	
  Poder	
  Público	
  não	
  elabora	
  a	
  lei,	
  há	
  uma	
  omissão	
  inconstitucional.	
  
CONTROLE	
  DE	
  CONSTITUCIONALIDADE	
  –	
  JOÃO	
  PAULO	
  LORDELO	
  
11	
  
	
  
A	
  omissão	
  pode	
  ser	
  total	
  ou	
  parcial:	
  
o Omissão	
  Total	
  ! 	
  A	
  omissão	
  total	
  ou	
  absoluta	
  está	
  configurada	
  quando	
  o	
  legislador,	
  tendo	
  o	
  dever	
  jurídico	
  
de	
  atuar,	
  abstenha-­‐se	
  inteiramente	
  de	
  fazê-­‐lo,	
  deixandoum	
  vazio	
  normativo	
  no	
  tema.	
  Neste	
  caso,	
  três	
  são	
  
as	
  possibilidades	
  de	
  atuação	
  judicial:	
  
i. Reconhecer	
   auto-­‐aplicabilidade	
   da	
   norma	
   constitucional	
   e	
   fazê-­‐la	
   incidir	
   diretamente:	
   Existem	
  
precedentes	
  no	
  STF,	
  para	
  casos	
  em	
  que	
  há	
  desnecessidade	
  de	
  criação	
  de	
  ato	
  normativo.	
  Geralmente,	
  
dá-­‐se	
  prazo	
  ao	
  órgão	
  para	
  que	
  supra	
  a	
  lacuna.	
  
ii. Apenas	
   declarar	
   a	
   existência	
   da	
   omissão,	
   constituindo	
   em	
   mora	
   o	
   órgão	
   omisso:	
   É	
   a	
   prática	
  
jurisprudencial	
  mais	
  comum	
  (declaração	
  de	
  inconstitucionalidade	
  sem	
  pronúncia	
  de	
  nulidade).	
  
iii. Criar	
   a	
   norma	
   para	
   o	
   caso	
   concreto:	
   É	
   a	
   opção	
  menos	
   comum,	
   embora	
   mais	
   efetiva	
   (e	
   que	
   tem	
  
tomado	
  força).	
  O	
  tribunal	
  supre	
  a	
  lacuna	
  com	
  base	
  no	
  art.	
  4º	
  da	
  LICC,	
  utilização	
  a	
  analogia,	
  costumes,	
  
princípios	
  gerais	
  do	
  direito.	
  
o Omissão	
   Parcial	
  ! 	
  A	
   omissão	
   parcial	
   possui	
   duas	
   espécies:	
   omissão	
   parcial	
   relativa	
   ou	
   omissão	
   parcial	
  
propriamente	
  dita:	
  
a) Omissão	
  parcial	
  relativa:	
  A	
   lei	
  exclui	
  do	
  seu	
  âmbito	
  de	
  incidência	
  determinada	
  categoria	
  que	
  nele	
  
deveria	
   estar	
   abrigada,	
   privando-­‐a	
   de	
   um	
   benefício.	
   Há,	
   aqui,	
   violação	
   ao	
   princípio	
   da	
   isonomia.	
  
Também	
  são	
  3	
  as	
  possibilidades	
  de	
  atuação	
  judicial:	
  
i. Declaração	
   de	
   inconstitucionalidade	
   por	
   ação	
   da	
   lei	
   que	
   fere	
   a	
   isonomia	
  # 	
   Embora	
   haja	
  
alguns	
  precedentes,	
  gera	
  o	
  inconveniente	
  de	
  universalizar	
  situação	
  desvantajosa.	
  
ii. Declaração	
   de	
   inconstitucionalidade	
   por	
   omissão	
   parcial	
   da	
   lei,	
   dando-­‐se	
   ciência	
   ao	
   órgão	
  
legislador	
   para	
   tomar	
   as	
   providências	
   necessárias	
  # 	
   Já	
   foi	
   acolhida	
   no	
   Brasil,	
   em	
   sede	
   de	
  
ADI,	
  mas	
  sem	
  fixação	
  de	
  prazo	
  para	
  o	
  legislador.	
  
iii. Extensão	
  do	
  benefício	
  à	
  categoria	
  excluída	
  # 	
  Enfrenta	
  dificuldades,	
  em	
  razão	
  do	
  princípio	
  da	
  
separação	
  de	
  poderes.	
  	
  
A	
  posição	
  comum	
  da	
  jurisprudência	
  é	
  a	
  rejeição	
  de	
  pedidos	
  dessa	
  natureza,	
  com	
  base	
  na	
  Súmula	
  339	
  
do	
   STF:	
   “não	
   cabe	
   ao	
   Poder	
   Judiciário,	
   que	
   não	
   tem	
   função	
   legislativa,	
   aumentar	
   vencimentos	
   de	
  
servidores	
  públicos	
  sob	
  fundamento	
  de	
  isonomia”.	
  
O	
  STF,	
  contudo,	
  já	
  abriu	
  controvertida	
  exceção	
  à	
  sua	
  própria	
  jurisprudência,	
  no	
  AgRg	
  em	
  AI	
  211.422-­‐
PI,	
  estendendo	
  aos	
  servidores	
  públicos	
  civis	
  reajuste	
  que	
  havia	
  dado	
  apenas	
  aos	
  militares.	
  
b) Omissão	
   parcial	
   propriamente	
   dita:	
   O	
   legislador	
   atua	
   sem	
   afetar	
   o	
   princípio	
   da	
   isonomia,	
  mas	
  de	
  
modo	
   insuficiente	
  ou	
  deficiente	
   relativamente	
  à	
  obrigação	
  que	
   lhe	
  era	
   imposta.	
  No	
   julgamento	
  da	
  
ADI	
  1.458,	
  entendeu	
  o	
  STF:	
  
“[...]	
  A	
  procedência	
  da	
  ação	
  direta	
  de	
  inconstitucionalidade	
  por	
  omissão,	
  importando	
  em	
  reconhecimento	
  judicial	
  do	
  
estado	
   de	
   inércia	
   do	
   Poder	
   Público,	
   confere	
   ao	
   Supremo	
   Tribunal	
   Federal,	
   unicamente,	
   o	
   poder	
   de	
   cientificar	
   o	
  
legislador	
   inadimplente,	
  para	
  que	
  este	
  adote	
  as	
  medidas	
  necessárias	
   à	
   concretização	
  do	
   texto	
   constitucional.	
   -­‐	
  
Não	
  assiste	
  ao	
  Supremo	
  Tribunal	
  Federal,	
  contudo,	
  em	
  face	
  dos	
  próprios	
  limites	
  fixados	
  pela	
  Carta	
  Política	
  em	
  tema	
  
de	
  inconstitucionalidade	
  por	
  omissão	
  (CF,	
  art.	
  103,	
  §	
  2º),	
  a	
  prerrogativa	
  de	
  expedir	
  provimentos	
  normativos	
  com	
  o	
  
objetivo	
  de	
  suprir	
  a	
  inatividade	
  do	
  órgão	
  legislativo	
  inadimplente”.	
  
	
  
b) Quanto	
   à	
   norma	
   constitucional	
   ofendida	
   ou	
   à	
   origem	
   do	
   defeito	
   que	
   macula	
   o	
   ato	
   questionado,	
   a	
  
inconstitucionalidade	
  pode	
  ser:	
  
• FORMAL	
  ou	
  NOMODINÂMICA	
  #	
  Ocorre	
  quando	
  a	
  lei	
  possui	
  algum	
  vício	
  de	
  forma,	
  independentemente	
  
de	
   seu	
   conteúdo.	
   Assim,	
   funda-­‐se	
   na	
   violação	
   de	
   procedimento	
   previsto	
   para	
   a	
   criação	
   de	
   uma	
   lei.	
   A	
  
inconstitucionalidade	
  formal	
  pode	
  ser:	
  
o Subjetiva	
  ou	
  Orgânica	
  !	
  A	
  inconstitucionalidade	
  decorre	
  do	
  desatendido	
  de	
  norma	
  que	
  estabelece	
  
formalidade	
  quanto	
  à	
  COMPETÊNCIA,	
  ou	
  seja,	
  quanto	
  ao	
  sujeito	
  competente	
  para	
  praticar	
  o	
  ato.	
  Ex:	
  
lei	
  municipal	
  que	
  discipline	
  o	
  uso	
  do	
  cinto	
  de	
  segurança,	
   já	
  que	
  se	
   trata	
  de	
  competência	
  da	
  União	
  
CONTROLE	
  DE	
  CONSTITUCIONALIDADE	
  –	
  JOÃO	
  PAULO	
  LORDELO	
  
12	
  
	
  
(orgânica);	
  deputado	
  que	
  inicia	
  projeto	
  de	
  lei	
  tencionando	
  modificar	
  o	
  efetivo	
  das	
  Forças	
  Armadas,	
  
de	
  iniciativa	
  privativa	
  do	
  Presidente	
  da	
  República	
  (subjetiva)6.	
  
OBS:	
  Sanção	
  de	
  projeto	
  eivado	
  com	
  inconstitucionalidade	
  formal	
  subjetiva	
  
O	
  STF	
  entende	
  que	
  a	
  sanção	
  aposta	
  pelo	
  Chefe	
  do	
  Poder	
  Executivo	
  a	
  projetos	
  eivados	
  pela	
  
usurpação	
  de	
  iniciativa	
  reservada	
  (sua)	
  não	
  possui	
  eficácia	
  convalidatória.	
  A	
  falta	
  de	
  iniciativa	
  é	
  vício	
  
de	
  origem	
  e,	
  portanto,	
  insanável	
  pela	
  sanção	
  daquele	
  que	
  possuía	
  a	
  competência	
  reservada.	
  O	
  STF,	
  
inclusive,	
  cancelou	
  a	
  súmula	
  5,	
  que	
  dizia	
  o	
  contrário.	
  
José	
  Afonso	
  da	
  Silva	
  defende	
  o	
  contrário	
  por	
  entender	
  que	
  a	
  regra	
  da	
  reserva	
  de	
  iniciativa	
  é	
  
imperativa	
  no	
  que	
  tange	
  a	
  subordinar	
  a	
  formação	
  da	
  lei	
  à	
  vontade	
  exclusiva	
  do	
  titular	
  da	
  iniciativa,	
  
mas	
  que	
  essa	
  vontade	
  pode	
  atuar	
  em	
  dois	
  momentos,	
  ou	
  no	
  da	
  iniciativa	
  ou	
  no	
  da	
  sanção.	
  	
  
	
  
o Objetiva	
  !	
  A	
  inconstitucionalidade	
  decorre	
  de	
  violação	
  de	
  norma	
  constitucional	
  que	
  estabelece	
  um	
  
PROCEDIMENTO,	
   uma	
   formalidade	
   com	
   relação	
   ao	
   processo	
   de	
   elaboração.	
   Ex:	
   lei	
   complementar	
  
aprovada	
  com	
  quórum	
  menor	
  que	
  a	
  maioria	
  dos	
  membros	
  é	
  inconstitucional	
  formal	
  objetivamente(art.	
  69	
  da	
  CF).	
  
Ex:	
   a	
   emenda	
   de	
   redação	
   pode	
   existir	
   na	
   Casa	
   revisora,	
   mas	
   desde	
   que	
   não	
   signifique	
  
substancial	
  modificação	
  do	
  texto	
  aprovado	
  na	
  Casa	
  iniciadora.	
  Se	
  isso	
  ocorrer,	
  terá	
  de	
  voltar	
  
para	
  análise	
  de	
  outra	
  Casa.	
  	
  
o Por	
   violação	
   a	
   pressupostos	
   objetivos	
   do	
   ato	
   normativo	
  !	
   A	
   violação/falta	
   dos	
   pressupostos,	
  
requisitos	
   externos	
   e	
   anteriores	
   ao	
   procedimento	
   legislativo,	
   também	
   gera	
   inconstitucionalidade.	
  
Ex.:	
   verificação	
   dos	
   requisitos	
   de	
   relevância	
   e	
   urgência	
   quando	
   da	
   edição	
   de	
   medida	
   provisória;	
  
observância	
  dos	
  requisitos	
  do	
  art.	
  18,	
  §4º	
  para	
  a	
  criação	
  de	
  Município.	
  
Art.	
  18,	
  §	
  4º	
  da	
  CF.	
  A	
  criação,	
  a	
  incorporação,	
  a	
  fusão	
  e	
  o	
  desmembramento	
  de	
  Municípios,	
  far-­‐se-­‐ão	
  por	
  lei	
  estadual,	
  
dentro	
   do	
   período	
   determinado	
   por	
   Lei	
   Complementar	
   Federal,	
   e	
   dependerão	
   de	
   consulta	
   prévia,	
   mediante	
  
plebiscito,	
   às	
   populações	
   dos	
   Municípios	
   envolvidos,	
   após	
   divulgação	
   dos	
   Estudos	
   de	
   Viabilidade	
   Municipal,	
  
apresentados	
  e	
  publicados	
  na	
  forma	
  da	
  lei.	
  
Pode	
   o	
   Poder	
   Judiciário	
   analisar	
   esses	
   pressupostos	
   constitucionais?	
  O	
   Poder	
   Judiciário	
   só	
   pode	
  
analisar	
   os	
   pressupostos	
   constitucionais	
   da	
  Medida	
   Provisória	
   quando	
   a	
   inconstitucionalidade	
   for	
  
flagrante	
  e	
  objetiva	
  (termos	
  utilizados	
  pelo	
  STF).	
  Isso	
  é	
  raro.	
  
	
  
• MATERIAL	
   ou	
   NOMOESTÁTICA	
   (de	
   conteúdo,	
   substancial	
   ou	
   doutrinária)	
   #	
   Quando	
   a	
   norma	
  
inconstitucionalidade	
   vicia	
   o	
   próprio	
   conteúdo	
   ou	
   o	
   aspecto	
   substantivo	
   do	
   ato,	
   originando-­‐se	
   de	
   um	
  
conflito	
  com	
  regras	
  ou	
  princípios	
  estabelecidos	
  na	
  CF	
  ou	
  do	
  desvio	
  ou	
  excesso	
  de	
  Poder	
  Legislativo	
  (deve-­‐
se	
   analisar	
   a	
   adequação,	
   necessidade	
   e	
   proporcionalidade	
   do	
   ato).	
   Ex:	
   lei	
   que	
   viole	
   o	
   princípio	
   da	
  
igualdade;	
  lei	
  discriminatória.	
  
Obs.1:	
   o	
   controle	
   material	
   de	
   constitucionalidade	
   pode	
   ter	
   como	
   parâmetro	
   todas	
   as	
   categorias	
   de	
  
norma	
  constitucionais:	
  de	
  organização,	
  definidores	
  de	
  direitos	
  e	
  programáticas.	
  
Obs.2:	
  uma	
  lei	
  pode	
  ser,	
  ao	
  mesmo	
  tempo,	
  inconstitucional	
  formal	
  e	
  materialmente.	
  Nestes	
  casos,	
  se	
  a	
  
inconstitucionalidade	
   for	
   evidente	
   ou	
   manifesta,	
   temos	
   o	
   que	
   o	
   STF	
   chama	
   de	
   inconstitucionalidade	
  
chapada,	
  enlouquecida,	
  desvairada.	
  
	
  
Ensina	
  BARROSO:	
  
“O	
  reconhecimento	
  da	
  inconstitucionalidade	
  de	
  um	
  ato	
  normativo,	
  seja	
  em	
  decorrência	
  de	
  desvio	
  formal	
  ou	
  material,	
  
produz	
  a	
  mesma	
  consequência	
  jurídica:	
  a	
  invalidade	
  da	
  norma	
  [...].	
  Há	
  uma	
  única	
  situação	
  em	
  que	
  o	
  caráter	
  formal	
  
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
6	
   Ou,	
   como	
   denomina	
   Pedro	
   Lenza,	
   inconstitucionalidade	
   formal	
   propriamente	
   dita	
   subjetiva	
   –	
   ele	
   a	
   coloca	
   como	
   um	
   espécie	
   de	
  
inconstitucionalidade	
  formal	
  propriamente	
  dita	
   junto	
  com	
  a	
  objetiva.	
  Para	
  o	
  autor	
  as	
   inconstitucionalidades	
  formais	
  se	
  distinguiriam	
  da	
  seguinte	
  
forma:	
   a)	
   inconstitucionalidade	
   formal	
   orgânica;	
   b)	
   inconstitucionalidade	
   formal	
   propriamente	
   dita	
   –	
   que	
   se	
   subdividiria	
   em	
   fundada	
   em	
   vício	
  
subjetivo	
  (na	
  fase	
  de	
   iniciativa)	
  e	
  vício	
  objetivo	
  (nas	
  fases	
  posteriores	
  à	
   iniciativa)	
  –	
   ;	
  c)	
   inconstitucionalidade	
  formal	
  por	
  violação	
  a	
  pressupostos	
  
objetivos	
  do	
  ato	
  normativo.	
  
CONTROLE	
  DE	
  CONSTITUCIONALIDADE	
  –	
  JOÃO	
  PAULO	
  LORDELO	
  
13	
  
	
  
ou	
  material	
  da	
  inconstitucionalidade	
  acarretará	
  efeitos	
  diversos:	
  quando	
  a	
  incompatibilidade	
  se	
  der	
  entre	
  uma	
  nova	
  
Constituição	
  –	
  ou	
  emenda	
  –	
  e	
  norma	
  constitucional	
  preexistente.	
  
Neste	
  caso,	
  sendo	
  a	
  inconstitucionalidade	
  de	
  natureza	
  material,	
  a	
  norma	
  não	
  poderá	
  subsistir.	
  As	
  normas	
  anteriores,	
  
incompatíveis	
  com	
  o	
  novo	
   tratamento	
  constitucional	
  da	
  matéria,	
   ficam	
  automaticamente	
   revogadas	
   (é	
  minoritária,	
  
no	
  direito	
  brasileiro,	
  a	
  corrente	
  que	
  sustenta	
  que	
  a	
  hipótese	
  seria	
  de	
  inconstitucionalidade,	
  passível	
  de	
  declaração	
  em	
  
ADI).	
  Não	
  é	
  o	
  que	
  ocorre,	
  porém,	
  quando	
  a	
  incompatibilidade	
  entre	
  a	
  lei	
  anterior	
  e	
  a	
  norma	
  constitucional	
  nova	
  é	
  de	
  
natureza	
   formal,	
   vale	
   dizer:	
   quando	
   a	
   inovação	
   introduzida	
   apenas	
   mudou	
   regra	
   de	
   competência	
   ou	
   a	
   espécie	
  
normativa	
   apta	
   a	
   tratar	
   da	
  matéria.	
   Nesse	
   caso,	
   a	
   norma	
   preexistente,	
   se	
  materialmente	
   compatível	
   com	
   a	
   CF,	
   é	
  
recepcionada,	
  passando	
  apenas	
  a	
  se	
  submeter	
  ad	
  futurum	
  à	
  nova	
  disciplina”.	
  
Ex.:	
  na	
  maior	
  parte	
  dos	
  Estados	
  da	
  Federação,	
  o	
  código	
  da	
  organização	
  judiciária	
  era	
  editado	
  por	
  via	
  de	
  Resolução	
  do	
  
TJ.	
  Com	
  a	
  CF/88,	
  passou	
  a	
  ser	
  exigida	
   lei	
  para	
  tratar	
  da	
  matéria.	
  Os	
  códigos	
  existentes	
  continuaram	
  todos	
  em	
  vigor,	
  
válidos	
  e	
  eficazes,	
  mas	
  qualquer	
  modificação	
  passou	
  a	
  depender	
  igualmente	
  de	
  lei.	
  
	
  
• POR	
   VÍCIO	
   DE	
   DECORO	
   PARLAMENTAR	
   # 	
   Pedro	
   Lenza	
   aponta	
   essa	
   última	
   forma	
   de	
  
inconstitucionalidade,	
  embora	
  ainda	
  não	
  haja	
  qualquer	
  decisão	
  nesse	
  sentido,	
  entendendo	
  que	
  se	
  aplica	
  
à	
   discussão	
   da	
   constitucionalidade	
   das	
   emendas	
   constitucionais	
   editadas	
   por	
   meio	
   do	
   sistema	
   do	
  
mensalão,	
  diante	
  da	
  mácula	
  ao	
  voto	
  e	
  à	
  representatividade	
  popular.	
  Essa	
  tese	
  não	
  deve	
  ser	
  cobrada	
  em	
  
concursos.	
  
Inconstitucionalidade	
  por	
  excesso	
  de	
  poder	
  
Em	
   síntese,o	
   excesso	
   de	
   poder	
   legislativo	
   ocorre	
   quando	
   a	
   norma	
   criada	
   se	
   afasta	
   abusivamente	
   dos	
   fins	
  
constitucionais	
   e/ou	
   declarados,	
   o	
   que	
   pode	
   ser	
   corrigido	
   por	
   aplicação	
   judicial	
   do	
   princípio	
   da	
   proporcionalidade	
  
(censura	
  à	
  adequação	
  e	
  necessidade	
  do	
  ato	
  legislativo)7.	
  
O	
   excesso	
   de	
   poder	
   como	
  manifestação	
   de	
   inconstitucionalidade	
   configura	
   censura	
   judicial	
   no	
   âmbito	
   da	
  
discricionariedade	
   legislativa.	
   Não	
   se	
   analisa	
   o	
   mérito	
   (conveniência)	
   do	
   ato	
   legislativo,	
   mas	
   apenas	
   sua	
  
legitimidade8.	
  	
  
	
  “As	
   questões	
  mais	
   difíceis	
   relacionadas	
   com	
  o	
   controlo	
   da	
   constitucionalidade	
   [...]	
   dizem	
   respeito	
   a	
   estes	
  
vícios	
   de	
  mérito	
   [refere-­‐se	
   ao	
   excesso	
   de	
   poder	
   legislativo	
   como	
   vício	
   substancial	
   da	
   lei]	
   e	
   não	
   aos	
   vícios	
   clássicos	
  
materiais	
  e	
  formais”	
  (CANOTILHO).	
  	
  
	
  
c) Quanto	
  à	
  extensão,	
  a	
  inconstitucionalidade	
  pode	
  ser:	
  
• TOTAL	
   #	
   Pode	
   ser	
   total	
   a	
   inconstitucionalidade	
   da	
   lei,	
   de	
   artigo,	
   de	
   alínea.	
   Normalmente,	
   a	
  
inconstitucionalidade	
   total	
   de	
   lei	
   decorre	
   de	
   inconstitucionalidade	
   formal	
   (dificilmente	
   haverá	
   uma	
   lei	
  
cujo	
   conteúdo	
   conseguirá	
   ser	
   completamente	
   incompatível	
   com	
   a	
   Constitucional,	
   pois	
   sua	
   aprovação	
  
depende	
  de	
  controle	
  prévio).	
  	
  
• PARCIAL	
  # 	
  É	
  a	
  inconstitucionalidade	
  que	
  incide	
  apenas	
  sobre	
  uma	
  palavra	
  ou	
  expressão,	
  desde	
  que	
  não	
  
altere	
  o	
  restante	
  do	
  sentido	
  (senão	
  estar-­‐se-­‐ia	
  criando	
  uma	
  nova	
  lei,	
  dando	
  um	
  sentido	
  completamente	
  
diferente	
  à	
  lei	
  criada	
  pelo	
  legislador),	
  em	
  expressão	
  do	
  princípio	
  da	
  parcelaridade.	
  
Não	
  confundir	
  a	
  inconstitucionalidade	
  parcial	
  com	
  o	
  veto	
  parcial	
  
O	
  veto	
  parcial	
  somente	
  abrange	
  “texto	
  integral	
  de	
  artigo,	
  parágrafo,	
  inciso	
  ou	
  alínea”	
  (art.	
  66	
  §2º	
  da	
  CF).	
  Já	
  a	
  
declaração	
  parcial	
  de	
  inconstitucional	
  pode	
  incidir	
  sobre	
  apenas	
  uma	
  palavra	
  isolada	
  ou	
  uma	
  expressão.	
  
Art.	
  66,	
  §	
  2º	
  -­‐	
  O	
  veto	
  parcial	
  somente	
  abrangerá	
  texto	
  integral	
  de	
  artigo,	
  de	
  parágrafo,	
  de	
  inciso	
  ou	
  de	
  alínea.	
  
	
  
d) Quanto	
  ao	
  momento,	
  a	
  inconstitucionalidade	
  pode	
  ser:	
  
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
7	
  Exemplos	
  apontados	
  pela	
  doutrina	
  de	
  excesso	
  de	
  poder:	
  violação	
  ao	
  princípio	
  da	
  proporcionalidade	
  ou	
  da	
  proibição	
  de	
  excesso.	
  
8	
   Reconhece-­‐se	
   ao	
   legislador	
   o	
   poder	
   de	
   conformação	
   dentro	
   dos	
   limites	
   estabelecidos	
   pela	
   CF.	
   Dentro	
   desses	
   limites,	
   o	
   legislador	
   tem	
   ampla	
  
discricionariedade.	
  
CONTROLE	
  DE	
  CONSTITUCIONALIDADE	
  –	
  JOÃO	
  PAULO	
  LORDELO	
  
14	
  
	
  
• ORIGINÁRIA	
  #	
   A	
   inconstitucionalidade	
   existe	
   desde	
   quando	
   a	
   lei	
   foi	
   criada	
   (o	
   objeto	
   surge	
   após	
   o	
  
parâmetro).	
  Ex:	
  A	
  lei	
  criada	
  em	
  1990,	
  com	
  base	
  na	
  Constituição	
  de	
  1988.	
  
• SUPERVENIENTE	
  #	
  O	
  objeto	
  que	
  originariamente	
  era	
  constitucional	
  torna-­‐se	
  inconstitucional	
  em	
  razão	
  
da	
  superveniente	
  mudança	
  de	
  parâmetro	
  (porque	
  mudou	
  a	
  Constituição	
  ou	
  porque	
  houve	
  emenda).	
  	
  
É	
  pacífico	
  que	
  a	
  inconstitucionalidade	
  superveniente	
  é	
  sempre	
  material:	
  refere-­‐se	
  à	
  contradição	
  da	
  lei	
  
aos	
  princípios	
  e	
  normas	
  materiais	
  da	
  Constituição	
  e	
  não	
  às	
  regras	
  formais	
  ou	
  processuais	
  do	
  tempo	
  de	
  
sua	
  elaboração.	
  	
  
EXCEÇÃO:	
  haverá	
  inconstitucionalidade	
  formal	
  superveniente	
  no	
  caso	
  de	
  competência	
  superveniente	
  do	
  
órgão	
   legiferante	
   (competência	
   que	
   era	
   dos	
   Estados/municípios	
   e	
   passa	
   para	
   a	
   União	
   –	
   pois	
   não	
   é	
  
possível	
  a	
  “federalização”	
  da	
  legislação	
  local).	
  
Para	
   Gilmar	
   Mendes	
   (acompanhado	
   pela	
   doutrina	
   e	
   jurisprudência),	
   há	
   de	
   se	
   reconhecer	
   eficácia	
  
derrogatória	
   à	
   norma	
   constitucional	
   que	
   tornou	
   de	
   competência	
   legislativa	
   federal	
   matéria	
  
anteriormente	
  afeta	
  ao	
  âmbito	
  estadual	
  ou	
  municipal.	
  Por	
  outro	
   lado,	
   se	
  havia	
   legislação	
   federal	
   e	
  a	
  
matéria	
  passou	
  à	
  esfera	
  de	
  competência	
  estadual	
  ou	
  municipal,	
  o	
  complexo	
  normativo	
  promulgado	
  pela	
  
União	
  subsiste	
  estadualizado	
  ou	
  municipalizado,	
  até	
  que	
  se	
  proceda	
  à	
  sua	
  derrogação	
  por	
  lei	
  estadual	
  ou	
  
municipal.	
  É	
  o	
  que	
  parece	
  autorizar	
  o	
  princípio	
  da	
  continuidade	
  do	
  ordenamento	
  jurídico.	
  Em	
  síntese:	
  
" A	
  competência	
  antes	
  era	
  da	
  União	
  e	
  passou	
  a	
   ser	
  dos	
  Estados/DF	
  ou	
  Municípios	
  # 	
  A	
  antiga	
  
norma	
   federal	
   permanece	
   vigente,	
   estadualizada	
   ou	
  municipalizada,	
   até	
   que	
   se	
   proceda	
   à	
   sua	
  
prorrogação	
  por	
  lei	
  estadual	
  ou	
  municipal	
  
" A	
  competência	
  antes	
  era	
  dos	
  Estados/DF	
  ou	
  Municípios	
  e	
  passou	
  a	
  ser	
  da	
  União	
  # 	
  Neste	
  caso,	
  
as	
  normas	
  estaduais/municipais	
  são	
  revogadas.	
  
	
  
Em	
  suma:	
  
" Inconstitucionalidade	
   formal	
   superveniente	
   !	
   Não	
   existe,	
   no	
   direito	
   brasileiro,	
  
inconstitucionalidade	
  formal	
  superveniente:	
  a	
  lei	
  anterior	
  subsistirá	
  validamente	
  e	
  passará	
  a	
  ter	
  
status	
  da	
  espécie	
  normativa	
  reservada	
  pela	
  nova	
  norma	
  constitucional	
  para	
  aquela	
  matéria.	
  
" Inconstitucionalidade	
  material	
   superveniente	
  !	
   Resolve-­‐se	
   em	
   revogação	
   da	
   norma	
   anterior,	
  
consoante	
  orientação	
  consolidada	
  no	
  STF.	
  
	
   ATENÇÃO:	
   No	
   Brasil,	
   não	
   usamos	
   a	
   expressão	
   “inconstitucionalidade	
   superveniente”.	
   Esse	
   fenômeno	
   é	
  
chamado	
  de	
  NÃO-­‐RECEPÇÃO	
  ou	
  REVOGAÇÃO	
  (expressão	
  utilizada	
  pelo	
  STF	
  e	
  em	
  concursos).	
  Isso	
  vale	
  tanto	
  para	
  o	
  
caso	
  deuma	
  nova	
  Constituição	
  como	
  para	
  o	
  caso	
  de	
  norma	
  incompatível	
  com	
  a	
  posterior	
  emenda	
  constitucional.	
  
	
   Há	
   autores	
   que	
   entendem	
   que	
   a	
   incompatibilidade	
   de	
   uma	
   norma	
   legal	
   com	
   um	
   preceito	
   constitucional	
  
superveniente	
   traduz	
   valoração	
   negativa	
   da	
   ordem	
   jurídica,	
   devendo,	
   por	
   isso,	
   ser	
   caracterizada	
   como	
  
inconstitucionalidade,	
   e	
   não	
   simples	
   revogação.	
   As	
   normas	
   de	
   recepção	
   vigentes	
   no	
   ordenamento	
   brasileiro,	
  
contudo,	
  ensejam	
  o	
  entendimento	
  de	
  que	
  a	
  colisão	
  de	
  normas	
  não	
  deve	
  ser	
  considerada	
  em	
  face	
  do	
  princípio	
  da	
  
supremacia	
  da	
  Constituição,	
  mas	
  sim	
  tendo	
  em	
  vista	
  a	
  força	
  derrogatória	
  da	
  lex	
  posterior.	
  
	
   Destarte,	
  os	
  juízes	
  e	
  tribunais	
  ordinários	
  não	
  estão	
  compelidos	
  a	
  submeter	
  ao	
  STF	
  as	
  questões	
  atinentes	
  à	
  
compatibilidade	
  entre	
  o	
  direito	
  anterior	
  e	
  a	
  Constituição,	
  uma	
  vez	
  que	
  não	
  haverá	
  qualquer	
  risco	
  à	
  autoridade	
  do	
  
legislador	
   constitucional.	
   Qualquer	
   juiz	
   pode,	
   ao	
   analisar	
   o	
   caso	
   concreto,	
   deixar	
   de	
   aplicar	
   uma	
   norma	
   não-­‐
recepcionada.	
  
	
   Segundo	
  Gilmar	
  Mendes,	
   a	
   não-­‐aplicação	
  de	
  norma	
  em	
   razão	
  de	
   sua	
  não-­‐recepção	
  é	
  matéria	
   alheia	
   ao	
  
juízo	
  de	
  constitucionalidade,	
  de	
  simples	
  aplicação	
  do	
  direito.	
  
	
   O	
  STF	
  entende	
  que	
  a	
  questão	
  da	
  constitucionalidade	
  somente	
  se	
  põe	
  quando	
  se	
  cuida	
  de	
   lei	
  posterior	
  à	
  
Constituição.	
  O	
  Min.	
  Sepúlveda	
  Pertence	
  é	
  contrário	
  a	
  esse	
  entendimento,	
  mas	
  é	
  o	
  que	
  prevalece.	
  
OBS:	
   Segundo	
   o	
   entendimento	
   do	
   STF,	
   definido	
   incidentalmente	
   (na	
   análise	
   de	
   uma	
  
preliminar	
   de	
   não-­‐conhecimento),	
   uma	
   norma	
   pré-­‐constitucional,	
   ao	
   se	
   incorporar	
   a	
   um	
  
CONTROLE	
  DE	
  CONSTITUCIONALIDADE	
  –	
  JOÃO	
  PAULO	
  LORDELO	
  
15	
  
	
  
diploma	
   pós-­‐constitucional,	
   que	
   a	
   poderia	
   alterar,	
   transforma-­‐se	
   em	
   norma	
   pós-­‐
constitucional,	
  de	
  modo	
  a	
  admitir	
  o	
  controle	
  abstrato	
  de	
  constitucionalidade9.	
  	
  
	
   O	
  STF	
  também	
  já	
  decidiu	
  que	
  a	
  Corte	
  pode	
  reexaminar	
  incidentalmente,	
  em	
  controle	
  abstrato,	
  a	
  revogação	
  
ou	
   não-­‐recepção	
   do	
   direito	
   anterior.	
   Esse	
   tema,	
   porém,	
   perdeu	
   relevância	
   diante	
   da	
   lei	
   9.982/99	
   que,	
   ao	
  
regulamentar	
   a	
   ADPF,	
   admitiu	
   o	
   exame	
   direto	
   de	
   legitimidade	
   do	
   direito	
   pré-­‐constitucional	
   em	
   face	
   da	
   norma	
  
constitucional	
  superveniente..	
  
Afigura-­‐se	
   possível,	
   ainda,	
   a	
   caracterização	
   da	
   inconstitucionalidade	
   superveniente	
   como	
   decorrência	
   da	
  
mudança	
  de	
  significado	
  do	
  parâmetro	
  normativo	
  constitucional	
  ou	
  do	
  próprio	
  ato	
  legislativo	
  submetido	
  a	
  controle.	
  
Nesses	
   casos,	
   além	
   de	
   um	
   eventual	
   processo	
   de	
   inconstitucionalização,	
   pode-­‐se	
   ter	
   a	
   própria	
   declaração	
   de	
  
inconstitucionalidade	
   de	
   lei	
   anteriormente	
   considerada	
   constitucional.	
   No	
   caso	
   da	
   inconstitucionalidade	
  
superveniente	
  decorrente	
  de	
  alteração	
  da	
   interpretação,	
  haverá	
  a	
  necessidade	
  de	
  se	
  discutir	
  os	
  efeitos	
  da	
  decisão,	
  
sendo	
  insuficiente,	
  na	
  opinião	
  de	
  Gilmar	
  Mendes,	
  a	
  técnica	
  da	
  simples	
  declaração	
  de	
  nulidade.	
  
	
   	
  
e) Quanto	
  ao	
  prisma	
  de	
  apuração,	
  a	
  inconstitucionalidade	
  pode	
  ser:	
  
• ANTECEDENTE	
   ou	
   DIRETA	
  #	
   Ocorre	
   uma	
   violação	
   direta	
   da	
   Constituição	
   quando	
   o	
   ato	
   objeto	
   de	
  
controle	
  encontra	
  fundamento	
  de	
  validade	
  primário	
  nela.	
  	
  
A	
  ADI	
  só	
  será	
  admitida	
  quanto	
  a	
  inconstitucionalidade	
  for	
  direta.	
  
• INDIRETA	
  #	
  Se	
  entre	
  o	
  objeto	
  e	
  a	
  CF	
  houver	
  um	
  ato	
   interposto,	
  a	
   inconstitucionalidade	
  será	
   indireta.	
  
Neste	
  caso,	
  o	
  objeto	
  é	
  ato	
  normativo	
  secundário.	
  Convém	
  lembrar	
  que	
  a	
  Constituição	
  é	
  fundamento	
  de	
  
validade	
  indireto	
  dos	
  atos	
  normativos	
  secundários.	
  
Ensina	
   BARROSO:	
   “será	
   indireta	
   quando	
   o	
  ato,	
   antes	
   de	
   contrastar	
   com	
   a	
   Constituição,	
   conflita	
   com	
  
uma	
  lei.	
  O	
  regulamento	
  de	
  execução	
  que	
  desborda	
  dos	
  limites	
  da	
  lei,	
  por	
  exemplo,	
  conquanto	
  importe	
  
em	
   violação	
   do	
   princípio	
   constitucional	
   da	
   legalidade,	
   terá	
   antes	
   violado	
   a	
   lei	
   que	
   pretendeu	
  
regulamentar,	
  configurando	
  uma	
  ilegalidade	
  previamente	
  à	
  sua	
  inconstitucionalidade.	
  
Por	
   tal	
   razão,	
   a	
   jurisprudência	
   não	
   admite	
   controle	
   de	
   constitucionalidade	
   de	
   atos	
   normativos	
  
secundários	
   (inaptos	
  a	
  criar	
  direito	
  novo),	
  de	
  que	
  são	
  espécies,	
  além	
  do	
  regulamento,	
  as	
   resoluções,	
  
instruções	
  normativas	
  e	
  portarias,	
  dentre	
  outros”	
  10.	
  
o Conseqüente/Inconstitucionalidade	
   por	
   arrastamento,	
   atração	
   ou	
   conseqüente	
   de	
   preceitos	
   não	
  
impugnados	
   !	
   Neste	
   caso,	
   a	
   inconstitucionalidade	
   do	
   objeto	
   é	
   uma	
   conseqüência	
   da	
  
inconstitucionalidade	
  do	
  ato	
  que	
  ele	
   regulamenta.	
  Quando	
  normas	
   legais	
  guardarem	
   interconexão	
  
entre	
  si,	
  guardando	
  vínculo	
  de	
  dependência	
   jurídica,	
  a	
  declaração	
  de	
   inconstitucionalidade	
  de	
  uma	
  
delas	
  gera	
  a	
  inconstitucionalidade	
  das	
  demais.	
  Na	
  própria	
  decisão	
  da	
  ADI	
  o	
  STF	
  define	
  quais	
  normas	
  
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
9	
  Exemplo:	
  ADI	
  3619	
  proposta	
  contra	
  artigos	
  do	
  ato	
  1/2005	
  do	
  Regimento	
  Interno	
  da	
  Assembléia	
  Legislativa	
  de	
  São	
  Paulo	
  que	
  reproduziam	
  normas	
  
originariamente	
  veiculadas	
  em	
  na	
  Resolução	
  n.	
  576/70.	
  	
  
10	
  ADI-­‐AgR	
  2398	
  /	
  DF	
  -­‐	
  DISTRITO	
  FEDERAL.	
  Julgamento:	
  	
  25/06/2007,	
  Órgão	
  Julgador:	
  	
  Tribunal	
  Pleno.	
  
EMENTA:	
  INCONSTITUCIONALIDADE.	
  Ação	
  direta.	
  Portaria	
  nº

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