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“ACTIO CIVILIS EX DELICTO” Reparação Civil

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3. “ACTIO CIVILIS EX DELICTO” 
O art. 935 do CC diz que a responsabilidade civil é independente da criminal. Assim, o sujeito pode ser absolvido no juízo criminal em face da prática de um fato inicialmente considerado delituoso e, entretanto, ser obrigado à reparação do dano no juízo cível. O agente pode ser civilmente obrigado à reparação do dano, embora o fato causador do prejuízo não seja típico. Assim, em regra, a responsabilidade do agente numa esfera não implica a responsabilidade em outra.
 Em consonância com essa orientação, segundo a qual nossa legislação não adotou o sistema da absoluta separação entre a ação penal e a ação civil, o CPP, em seu art. 64, reza o seguinte: “Sem prejuízo do disposto no artigo anterior” (que trata da execução da sentença penal condenatória), “a ação para ressarcimento do dano poderá ser proposta no juízo cível, contra o autor do crime e, se for caso, contra o responsável civil”. 
Assim, em face da prática de um crime, o ofendido (representante legal ou herdeiro) pode agir de duas formas:
 a) aguardar o desfecho da ação penal; transitando em julgado a sentença condenatória, pode ingressar no juízo cível com o pedido de execução para efeito de reparação do dano; 
b) ingressar desde logo no juízo cível com a ação civil de reparação do dano (actio civilis ex delicto). 
E se as duas ações (a penal e a civil) se encontram em andamento? Neste caso, aplica-se o disposto no art. 64, parágrafo único, do CPP: “Intentada a ação penal, o juiz da ação civil poderá suspender o curso desta, até o julgamento definitivo daquela”. A disposição visa a impedir decisões contraditórias. O despacho de arquivamento do inquérito policial ou de peças de informação impede a propositura da actio civilis ex delicto? Não, nos termos do que dispõe o art. 67, I, do CPP. Suponha-se que o Promotor Público, embora reconhecendo que o indiciado causou prejuízo à vítima, considere que o fato não é típico, constituindo mero ilícito civil, pelo que requer o arquivamento do inquérito policial, sendo deferido o pedido pelo juiz. É claro que não fica o ofendido impedido de exercer a actio civilis ex delicto. A decisão que decreta a extinção da punibilidade impede a propositura da ação civil de reparação do dano? Não, em face do que dispõe o art. 67, II, do CPP.
 4. ABSOLVIÇÃO PENAL E REPARAÇÃO CIVIL 
Em face da independência da responsabilidade penal e civil, em princípio a sentença penal absolutória não impede a actio civilis ex delicto. É o que diz o art. 66 do CPP: “Não obstante a sentença absolutória no juízo criminal, a ação civil poderá ser proposta quando não tiver sido, categoricamente, reconhecida a inexistência material do fato”. 
Os casos de absolvição criminal estão previstos no art. 386, I a VII, do CPP (com redação dada pela Lei n. 11.690, de 9-6-2008): 
a) estar provada a inexistência do fato;
 b) não haver prova da existência do fato; 
c) não constituir o fato infração penal;
d) estar provado que o réu não concorreu para a infração penal; 
e) não existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal;
 f) não existir prova suficiente para a condenação; e 
g) existir causa de exclusão da antijuridicidade ou da culpabilidade, ou houver fundada dúvida a esse respeito. 
 Vamos examinar as várias hipóteses: 
a) Absolvição em face de estar provada a inexistência do fato
É o caso de o juiz reconhecer categoricamente que não ocorreu o fato narrado na peça inicial da ação penal. Reconhecido que não houve o fato material, que nada tem que ver com os elementos subjetivos e normativos do tipo, fica impedida a via civil de reparação do dano. É o que diz o art. 935 do CC: “A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a existência do fato” quando esta questão se achar decidida no juízo criminal. É a hipótese do art. 66, in fine, do CPP: “Não obstante a sentença absolutória no juízo criminal, a ação civil poderá ser proposta quando não tiver sido, categoricamente, reconhecida a inexistência material do fato”.
 b) Absolvição criminal em face de não haver prova da existência do fato 
Neste caso, embora o juiz não tenha reconhecido categoricamente a inexistência do fato material, não reconheceu também que o fato existiu, por força da dubiedade da prova. Funciona o in dubio pro reo, devendo o sujeito ser absolvido. Na esfera cível, poder-se-á provar a existência do fato, pelo que não está impedido o exercício da ação de reparação do dano emergente da conduta. 
c) Absolvição criminal em face de não constituir o fato infração penal 
É o caso de ser atípico o fato narrado na peça inicial da ação penal. Absolvido o réu, nada obsta ao exercício da ação civil, pois o fato, embora não constitua ilícito penal, pode constituir ilícito civil. É o que determina o art. 67, III, do CPP. O erro de tipo, excluindo apenas a tipicidade e, assim, subsistindo a antijuridicidade, não impede a ação civil de reparação do dano (CP, art. 20, caput). É necessário, contudo, que seja essencial e escusável. 
d) Absolvição criminal em face de estar provado que o réu não concorreu para a prática da infração penal 
Cuida-se da negativa de autoria, cabalmente demonstrada em juízo. Considerando o disposto nos arts. 66 do CPP e 935 do CC, a absolvição penal lastreada em prova segura de que o agente não concorreu, direta ou indiretamente, para a prática da infração penal (CPP, art. 386, IV), faz coisa julgada no cível. 
e) Absolvição criminal em face de não existir prova de ter o réu concorrido para a prática da infração penal 
Suponha-se que o sujeito seja processado por crime de peculato-furto (CP, art. 312, § 1.º), apresentando defesa no sentido de que não se encontrava no local no momento de sua ocorrência. Suponha-se que o réu não consiga prova suficiente do conteúdo da defesa, nem a acusação consiga provar que se encontrava no local no instante da prática do crime. O réu deve ser absolvido, nos termos do art. 386, V, do CPP. Em face de o juiz não haver negado, categoricamente, a existência do fato material e a autoria (CC, art. 935; CPP, art. 66), fica livre a esfera civil para o exercício da ação de reparação do dano. Caso, entretanto, reconhecer o juiz criminal, de forma categórica, a negativa da autoria (CPP, art. 386, IV), não caberá a ação civil (CC, art. 935). 
f) Absolvição criminal em face de não existir prova suficiente para a condenação 
É o caso de o réu não conseguir provar ter agido à sombra de causa de exclusão da ilicitude ou da culpabilidade, subsistindo dúvida no espírito do juiz a respeito da ocorrência de uma dessas causas. O réu deve ser absolvido, aplicando-se o disposto no art. 386, VII, do CPP. Isso, porém, não impede o exercício da ação civil. 
g) Absolvição criminal em face de existir causa de exclusão da antijuridicidade ou da culpabilidade ou haver fundada dúvida sobre sua existência (CPP, art. 386, VI)
 São causas de exclusão da antijuridicidade: o estado de necessidade, a legítima defesa, o estrito cumprimento de dever legal e o exercício regular de direito (CP, art. 23). 
São causas de exclusão da culpabilidade: o erro de proibição (art. 21), a coação moral irresistível (art. 22, 1.ª parte), a obediência hierárquica (art. 22, 2.ª parte), a inimputabilidade por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto (incluindo a menoridade penal) ou retardado (arts. 26, caput, e 27) e a inimputabilidade por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior (CP, art. 28, § 1.º). 
Em regra, quando a absolvição criminal se fundamenta na comprovada existência de causa excludente da antijuridicidade, fica impedido o exercício da ação civil de reparação do dano. Com efeito, o art. 188 do CC diz que não constituem atos ilícitos os praticados em legítima defesa, estado de necessidade ou no exercício regular de direito, em que se inclui o 690 estrito cumprimento do dever legal. E, nos termos do art. 65 do CPP, “faz coisa julgada no cível a sentença penal que reconhecer ter sido o ato praticado em estado de necessidade,em legítima defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito”. Isso significa que, se o juiz criminal absolver o réu com fundamento nas causas do art. 23 do CP, no juízo cível não poderá mais ser discutida a matéria. Assim, se no juízo criminal o réu for absolvido com fundamento na legítima defesa, no juízo cível não poderá mais ser discutido se o sujeito praticou o fato em legítima defesa ou não. A decisão criminal faz coisa julgada no cível. E se o art. 188 do CC diz que não constituem atos ilícitos os fatos cometidos nos termos do art. 23 do CP, em regra não cabe a actio civilis ex delicto. Por que “em regra”? Porque, se a lei civil, reconhecendo que o fato é lícito, não mencionar qualquer efeito sobre o direito à reparação do dano, o prejudicado não poderá intentar a ação civil de reparação dos prejuízos eventualmente sofridos. Ao contrário, se a lei civil, embora reconhecendo a licitude do fato, mencionar o efeito da reparação do dano, o prejudicado poderá intentar a actio civilis ex delicto. Assim, a absolvição criminal com base nas causas de exclusão da antijuridicidade em regra exclui o exercício da ação civil de reparação do dano. Só não o exclui quando a lei civil, embora reconhecendo a licitude do fato, determina a obrigação do ressarcimento do dano. 
Em que caso a absolvição criminal em face de incidência de causas de exclusão da antijuridicidade não exclui a actio civilis ex delicto? 
Caso dos arts. 929 e 930 do CC.
 Diz o art. 929, em outros termos:
 Se o dono da coisa, no caso do art. 188, II (estado de necessidade), não for culpado do perigo, assistir-lhe-á direito à indenização do prejuízo que sofreu.
Determina o art. 930, em outros termos: 
Se o perigo ocorrer por culpa de terceiro, contra este ficará com ação regressiva, no caso do art. 188, II, o autor do dano, para haver a importância que tiver ressarcido ao dono da coisa. Suponha-se que o sujeito, em estado de necessidade, tenha praticado um fato típico, causando dano ao patrimônio de terceiro. É processado e absolvido com fundamento nos arts. 23, I, e 24, do CP (CPP, art. 386, VI). O terceiro pode intentar a ação civil de reparação do dano? Pode, nos termos dos arts. 929 e 930 do CC.
 E se o perigo foi causado por terceiro? 
Neste caso, a ação civil deve ser proposta contra o causador do dano, i. e., contra o sujeito que foi absolvido no juízo criminal por força do estado de necessidade, ficando este com direito regressivo contra o autor do 691 perigo (CC, art. 930). O certo seria o prejudicado desde logo intentar a ação civil contra o autor do perigo, mas o CC determina em sentido diferente. Não pode haver ação civil de reparação do dano quando o fato é praticado em legítima defesa contra o autor da agressão. Assim, se A agride injustamente B, e este, em legítima defesa, pratica homicídio contra aquele, aos herdeiros da vítima não cabe a actio civilis ex delicto. Se, porém, é atingida pessoa inocente, não fica impedida a via civil para o ressarcimento dos prejuízos. 
A absolvição penal lastreada em fundada dúvida sobre a presença de causa de exclusão da ilicitude não produz coisa julgada no cível, vale dizer, não impede a propositura da ação civil ex delicto. 
A absolvição criminal com fundamento em causa excludente da culpabilidade (CP, arts. 21, 22, 26, caput, e 28, § 1.º) não impede a ação civil de reparação do dano. Assim, cabe a ação civil embora o agente tenha sido absolvido irrecorrivelmente no juízo penal por incidência de erro de proibição, coação moral irresistível, obediência hierárquica, inimputabilidade por doença mental ou por desenvolvimento mental incompleto (incluindo-se a menoridade penal) ou retardado, ou por inimputabilidade em face de embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior. Note-se que o art. 65 do CPP só trata das causas de exclusão da ilicitude, enquanto o art. 66 do mesmo Código impede a ação civil somente quando ficar reconhecida a inexistência do fato material de forma categórica. 
E se o réu é absolvido por legítima defesa putativa?
 É cabível a ação civil de reparação do dano? É. A legítima defesa putativa exclui a tipicidade do fato por exclusão do dolo (CP, art. 20, § 1.º, 1.ª parte) ou a culpabilidade (art. 21), conforme o caso, subsistindo a ilicitude. Não se aplica, pois, o disposto no art. 65 do CPP. 
E se o réu é absolvido no juízo criminal por ausência de culpa? 
Não fica impedida a ação civil, desde que no juízo penal não tenha sido reconhecida categoricamente a inexistência material do fato (CPP, art. 66).

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