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CCJ0052-WL-B-AMRP-06-Características da Narrativa Jurídica

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Aula 6 
Características da narrativa jurídica 
Alda Valverde 
Correção do dever da aula 5 
Possibilidade de ementa: 
DANO AO ECOSSISTEMA POR VAZAMENTO EM OLEODUTO DA 
PETROBRAS NA BAÍA DE GUANABARA – Falhas operacionais e de 
manutenção do duto – Aplicação de multa de 50 mil reais à empresa – Adoção 
do plano de proteção ao meio ambiente – Sugestão da participação da 
empresa na recuperação da área atingida – Parecer favorável à reformulação 
da política ambiental. 
 
 
Objetivos: 
- Recuperar as principais características da narrativa jurídica; 
- Compreender que a narrativa jurídica pode ser simples ou valorada; 
- Relacionar o Relatório do Parecer às características da narrativa 
simples. 
 
Estrutura do conteúdo: 
Tipos de narrativa jurídica 
 Narrativa simples 
 Narrativa valorada 
 Características da narrativa 
 Seleção de fatos 
 Organização cronológica das informações 
 Tempo e pessoa verbais 
 Polifonia 
 Modalização 
 
Desenvolvimento da aula: 
1- Parte teórica: 
Vimos até a última aula como produzir a ementa. 
Passaremos, agora, a estudar o relatório. Esse item do Parecer é 
marcado pela isenção como o parecerista apresenta os fatos 
importantes que deverão ser analisados e possibilita uma transição 
lógica e coerente da ementa para a fundamentação. 
Segundo as orientações sobre a Lógica do Razoável, ao 
produzir seu relatório, exige-se do profissional do Direito a 
apresentação de uma série de circunstâncias observadas no caso 
concreto, seja em relação àqueles que participam da lide (partes 
litigantes), seja em relação ao lugar e tempo em que ocorreram os 
fatos. 
Nesse sentido indicamos alguns elementos que possam 
contribuir para uma narrativa mais completa e consistente. Assinale-se 
que essas mesmas informações, no momento em que se vai produzir a 
argumentação, mostram-se com grande valor persuasivo. A elas 
chamamos de elementos da narrativa forense. 
 
 
 ELEMENTOS DA NARRATIVA FORENSE 
O quê? – fato jurídico central ou questão jurídica central 
Quem? – as partes devidamente nomeadas e qualificadas: nacionalidade, 
estado civil, profissão, residência, etc. 
Quando?- localização temporal do momento em que ocorreu o fato jurídico 
central 
Onde? – localização espacial do fato jurídico 
Como? – registro das principais ocorrências da forma como o fato jurídico 
aconteceu 
Por quê? – registro da(s) razão(ões) que deu(deram) origem ao fato jurídico 
Por isso... – registro da(s) consequência(s) advinda(s) do fato jurídico 
 
Narrativa simples e narrativa valorada: 
Leia as duas narrativas do mesmo caso concreto: 
. João da Silva, brasileiro, solteiro, técnico em informática, 
portador do RG de nº X SSP/PE, inscrito no CPF-MF sob o nº X, residente e 
domiciliado na Rua X, nº X, apto. X, bairro do X, nesta cidade de Recife – PE 
ajuizou ação de danos morais c/c rescisão contratual com pedido de 
antecipação de tutela contra X TELECOMUNICAÇÕES S/A. 
 No dia 06 de junho de 2004, o autor tornou-se cliente dos 
serviços de telefonia móvel prestados pela da ré, conforme o contrato de 
prestação de serviço móvel pessoal de nº XXXXXX, relativo aos números (081) 
9987XXXX e (081) 9966XXXX (doc. 02). 
. Na mesma data, houve também entre o autor e a ré a 
celebração de dois contratos de comodato, referentes aos telefones celulares 
supramencionados, que seriam usados nos serviços de telefonia (doc. 03 e 
04). 
. Passado o prazo de carência, no dia 13 de junho de 2005, o 
autor, bastante insatisfeito com os serviços prestados pela ré, resolveu 
denunciar o contrato, referente ao telefone de nº (081) 9987XXXX, nos termos 
da CLÁUSULA SETE, nº 7.1, alínea a, do referido instrumento, recebendo da 
ré o protocolo de cancelamento sob o nº 70811232. 
 Pois bem: tudo se encontrava em conformidade, na medida 
em que havia sido paga a conta do mês de junho de 2005 (doc. 07) e havia 
sido devolvido o celular comodato com todos os seus indumentários (doc. 05). 
Todavia, para a surpresa do autor, no final do mês de julho de 2005, 
chegou a sua residência a fatura emitida pela ré (doc. 08), correspondente ao 
serviço do mês de julho/05. Abismado com a situação, o autor tentou contatar a 
ré, no sentido de saber o que estava acontecendo, pois como poderia ela 
cobrar por um serviço que nem mais estava à disposição do autor, haja vista 
não existir mais vínculo contratual entre as partes? 
• Não bastasse isso, a empresa ré numa tentativa malsinada de se 
locupletar ilicitamente continuou importunando o autor para que ele 
procedesse ao pagamento da fatura de julho/05. Só que desta vez com 
envios de correspondências em tons ameaçadores datadas de 14 de 
novembro, 28 de outubro e 23 de dezembro todas de 2005 (docs. 13, 14 
e 15). 
Diante dessa situação, agora definitivamente tendo a certeza de que a 
empresa ré não merece, nem nunca mereceu, qualquer tipo de credibilidade, 
resolveu o autor cortar o último vínculo que o prendia a esta, o contrato 
referente ao celular de nº (081) 9966XXXX. Assim, no dia 24 de agosto de 
2005, o autor solicitou a rescisão do referido contrato, recebendo da ré o 
protocolo de nº 51765612. Em menos de uma semana, ou seja, no dia 1º de 
setembro de 2005, a empresa ré dirigiu-se à casa do autor para recolher o 
telefone que havia sido entregue em comodato (doc. 06). 
• Como não poderia ser diferente, a ré, da mesma forma, 
desconsiderou a exigência de rescisão do contrato, continuando a 
cobrar por um serviço quem nem mais está à disposição do autor, 
emitindo faturas até a presente data (docs. 09, 10, 11 e 12) e 
importunando o autor com suas correspondências irritantes datadas de 
1º, 22 e 29 de novembro; 23 e 26 de dezembro (docs. 16, 17, 18, 19 e 
20). 
• Por fim, no último dia 10 de janeiro de 2006, chegou à residência do 
autor uma correspondência enviada pelo SERASA (doc. 21), afirmando 
que constava nos seus registros a pedido da instituição credora (no caso 
a ré) a inclusão do nome do autor em seus cadastros de inadimplentes, 
em razão de uma dívida de R$ 62,50, de 15 de agosto de 2005, 
referente à fatura indevidamente emitida (doc. 08). 
• Assim, saturado de tentar resolver administrativamente o presente 
litígio e ultrajado por ter seu direito desrespeitado, não restou outra 
alternativa ao autor senão propor a presente ação no intuito de ser 
ressarcido pelos danos sofridos que vem sofrendo, consoante a base 
legal, doutrinária e jurisprudencial a seguir esposada sopesadamente. 
 
Narrativa 2 
Trata-se de ação de danos morais c/c rescisão contratual com pedido 
de antecipação de tutela proposta por José da Silva, brasileiro, solteiro, técnico 
em informática, portador do RG de nº X SSP/PE, inscrito no CPF-MF sob o nº 
X, residente e domiciliado na Rua X, nº X, apto. X, bairro do X, nesta cidade de 
Recife – PE, contra X TELECOMUNICAÇÕES S/A. 
 Conforme o autor, no dia 06 de junho de 2004, tornou-se 
cliente dos serviços de telefonia móvel prestados pela ré, conforme o contrato 
de prestação de serviço móvel pessoal de nº XXXXXX, relativo aos números 
(081) 9987XXXX e (081) 9966XXXX (doc. 02). 
 Na mesma data, houve também entre o autor e a ré a 
celebração de dois contratos de comodato, referentes aos telefones celulares 
supramencionados, que seriam usados nos serviços de telefonia (doc. 03 e 04) 
Passado o prazo de carência, no dia 13 de junho de 2005, segundo o 
autor, decidiu cancelar o instrumento de contrato, por estar insatisfeito com o 
serviço prestado. Acrescentou que recebeu da ré o protocolo de cancelamento, 
sob o nº 70811232. Afirmou que pagou a conta do mês de junho de 2005 
(doc. 07) e devolveu o celular comodato com todos os seus indumentários 
(doc. 05).De acordo com o autor, no final do mês de julho de 2005, 
chegou a sua residência a fatura emitida pela ré (doc. 08), correspondente ao 
serviço do mês de julho/05. Entrou em contato com a ré, a fim de esclarecer 
que não havia mais vínculo contratual. Afirmou que a ré continuou a enviar-lhe 
correspondências em tons ameaçadores, datadas de 14 de novembro, 28 de 
outubro e 23 de dezembro todas de 2005 (docs. 13, 14 e 15). 
O autor informou que decidiu cortar o último vínculo que o prendia à 
ré: cancelou o contrato referente ao celular de nº (081) 9966XXXX, no dia 24 
de agosto de 2005. Recebeu da ré o protocolo de nº 51765612. No dia 1º de 
setembro de 2005, a empresa ré dirigiu-se à casa do autor para recolher o 
telefone que havia sido entregue em comodato (doc. 06). 
 O autor revelou que a ré continuou a cobrar pelo serviço, 
emitindo faturas até a presente data (docs. 09, 10, 11 e 12) e a enviar 
correspondências datadas de 1º, 22 e 29 de novembro; 23 e 26 de dezembro 
(docs. 16, 17, 18, 19 e 20). 
Por fim, acrescentou que, no dia 10 de janeiro de 2006, chegou à sua 
residência uma correspondência enviada pelo SERASA (doc. 21), afirmando 
que constava nos seus registros, a pedido da ré, a inclusão do seu nome em 
seus cadastros de inadimplentes, em razão de uma dívida de R$ 62,50, de 15 
de agosto de 2005, referente à fatura, que, segundo ele, foi indevidamente 
emitida (doc. 08). 
 
 
Narrativa simples dos fatos Narrativa valorada dos fatos 
É uma narrativa que visa, apenas, 
informar os fatos juridicamente relevantes 
para a compreensão da questão jurídica 
em análise. É imparcial. Dessa forma, 
observa-se o uso constante da polifonia. 
Além disso, é comum a utilização do futuro 
do pretérito. 
 
É uma narrativa marcada 
pelo compromisso de expor os 
fatos de acordo com a versão da 
parte que se representa em juízo. 
Por essa razão, recorre a 
modalizadores. 
 
 
 
SELEÇÃO DOS FATOS 
Na análise de um caso concreto, o reconhecimento dos fatos que 
produzem efeito jurídico é fundamental. Victor Gabriel Rodríguez1 afirma que 
“são eles [os fatos] que vão determinar as normas aplicáveis e, portanto, são 
elementos que, logicamente, devem ser expostos antes de qualquer 
argumentação que pretenda trazer à tona questões jurídicas propriamente 
ditas”. 
 É importante destacar que, tanto na narrativa simples quanto na 
narrativa valorada, deve-se assumir uma postura ética, isto é, apenas registrar 
os fatos que realmente ocorreram, sem oferecer informações falsas. 
 
Seleção dos fatos na narrativa simples Seleção dos fatos na narrativa valorada 
Registram-se todos os fatos relevantes 
para a compreensão do fato central. 
Registram-se os fatos relevantes para a 
compreensão do fato central. 
Acrescentam-se todos os detalhes que 
colaboram para a compreensão dos 
fatos relevantes 
Acrescentam-se detalhes que colaboram 
para a compreensão dos fatos relevantes. 
Importante: A seleção é imparcial; 
assim, registram-se informações 
relevantes para as duas partes. 
Importante: A seleção é parcial; assim, 
registram-se informações relevantes, 
apenas, para a parte que se representa. 
 
 
SEQUÊNCIA CRONOLÓGICA DOS FATOS 
 
A sequência cronológica é a principal característica de um texto narrativo. 
Independentemente de ser linear, isto é, de seguir a linha do tempo de forma regular, 
ou não, nota-se que os fatos seguem um desenrolar sequencial. Dependendo do tipo 
de narrativa, a cronologia pode ou não ser linear. 
 
Narrativa simples Segue a cronologia linear, com o objetivo de informar os 
fatos de maneira clara e objetiva. 
 
Narrativa valorada Adota ou não a cronologia linear, já que o objetivo é 
destacar os fatos que favoreçam à parte que se representa. 
 
 
TEMPO E PESSOA VERBAl 
 
Narrativa simples Narrativa valorada 
Tempo verbal Pessoa do 
discurso 
Tempo verbal Pessoa do 
discurso 
 Pretérito Terceira pessoa Predomínio do 
pretérito, mas 
também se utiliza 
o presente. 
Terceira pessoa 
 
 
 
 
 
1 RODRÍGUEZ, Victor Gabriel. Manual de redação forense. 2. ed. São Paulo: Minuzo, 2005. 
POLIFONIA 
 
O discurso jurídico se produz no seio social2, assim várias 
vozes o compõem. Essas vozes são responsáveis por expressar os 
fatos que caracterizam o caso concreto e o distingue dos demais. 
Registre-se que, dependendo daquele que informa os fatos, um 
mesmo caso concreto pode assumir diferentes versões. 
Conforme o tipo de narrativa, o narrador assume a autoria 
das informações ou atribui a responsabilidade do conteúdo informado 
a outrem. 
Assim, na narrativa simples, a polifonia é constante; já na 
narrativa valorada, é menos utilizada. 
 
 
 RECURSOS POLIFÔNICOS 
 
TRANSCRIÇÃO LITERAL DISCURSO DIRETO 
 - DISCURSO INDIRETO- Uso dos verbos de 
 elocução: afirmar, acrescentar, alegar, 
 dizer, revelar, etc. 
PARÁFRASE - REPRODUÇÃO LIVRE – Uso de expressões 
 referentes ao dizer: segundo...; conforme..., 
 de acordo com... etc. 
 
 
 
MODALIZAÇÃO 
Modalizar um texto é imprimir em seu conteúdo marcas que 
induzem o intérprete a compreendê-lo da forma como o seu 
enunciador deseja. Para tal, podem ser utilizadas marcas linguísticas 
e extralinguísticas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 CF. BITTAR,Linguagem jurídica.São Paulo: Saraiva, 2001, p.169. 
 
 
 
MARCAS LINGUÍSTICAS seleção lexical, uso de adjetivos, 
advérbios, palavras denotativas, posição dos termos na oração, 
combinação entre os termos, etc. 
 
 
 
 
 
 
MARCAS EXTRALINGUÍSTICAS 
 
FALA 
 
 
ESCRITA 
 
 
entonação 
 
altura 
 
ritmo 
 
negrito 
 
caixa-alta 
 
itálico 
 
 
 
NARRATIVA CONFORME O TIPO DE PEÇA PROCESSUAL 
 
 
NARRATIVA SIMPLES: Sentença, Parecer, Acórdão, etc. 
NARRATIVA VALORADA: Petição Inicial, Contestação, Reconvenção, etc. 
 
NARRATIVA DA PETIÇÃO INICIAL: 
 
Exmo Sr. Dr. Juiz de Direito da Vara Cível da Comarca de São Gonçalo 
 
Fulano, brasileiro, solteiro, Juiz de Direito, titular da 6ª Vara Cível desta 
Comarca vem, diante de VExª, propor Ação para cumprimento de obrigação de 
fazer (com requerimento de tutela antecipada) e de indenização por danos 
morais contra condomínio do Edifício WWWW e Maria BBBB, com domicílio na 
rua XXXX Ingá, Niterói, pelos seguintes motivos: 
 
Dos fatos. Omissão dos réus. 
 
I – o autor reside no edifício do réu cuja síndica é a ré; 
 
II – em 26-08-03, a cerca de 20h, numa noite chuvosa, o autor notou 
infiltrações no teto do segundo andar de seu apartamento. O autor solicitou, 
pelo interfone, a presença do zelador. Pelo empregado que trabalhava na 
portaria foi dito ao autor que o zelador não estava porque não mora no 
Condomínio. O autor solicitou qualquer outra providência e pelo empregado foi 
dito que nada podia fazer até a chegada da síndica ou do porteiro. Sem outra 
opção, o autor foi obrigado a pedir auxílio de um profissional de seu 
conhecimento que, por sorte e mediante remuneração, prestou auxílio ao autor. 
Após pegarem a chave (com o empregado que estava trabalhando na portaria) 
e abrirem o cadeado da porta que dá para a laje sobre o segundo andar do 
apartamento do autor, o profissional e o autor verificaram que o local 
(pertencente ao réu) estava alagado pela chuva e que o ralo estava entupido 
por uma cueca velha. Retirada esta, a água escoou. Em razão disso, os móveisdo autor ficaram molhados, e o teto de seu apartamento danificado. Naquela 
noite o autor, por culpa dos réus (que não mantiveram limpo o local que ficou 
alagado e não prestaram nenhum auxílio ao autor), passou por maus 
momentos pois, por cerca de 5 horas, ficou enxugando a água que jorrava em 
sua sala, fazendo ligações para pedir ajuda e ouvindo do empregado, que 
estava na portaria, que ele nada podia fazer para resolver o problema. Feita a 
reclamação, no livro próprio (cópia anexa), o autor foi formalmente ignorado 
pelos réus, embora o zelador tivesse comparecido no apartamento do autor e 
visto os danos; 
 
III - meses antes, aquele mesmo empregado, que trabalhava na portaria do 
réu, interfonou para o apartamento do autor para cobrar-lhe o pagamento de 
sua cota condominial que sequer estava vencida; 
 
IV – após os episódios acima narrados, o autor notou que o referido 
empregado tratava-o (o autor) com intimidade, chamando-o de “você” e 
“Fulano”. O autor, então, pediu-lhe para ser tratado como “senhor”. Por duas 
vezes, essa solicitação foi feita pelo interfone e esse empregado, após 
perguntar agressivamente “á só isso?”, desligou o aparelho repentinamente e 
sem dar atenção ao autor. No dia 14-08-04, num sábado à tarde, o autor foi na 
portaria do prédio e pediu o livro de reclamações ao referido empregado, bem 
como a presença do síndico ou do subsíndico. Por ele foi dito que o livro não 
estava na portaria, pois a “Dona Maria BBBBB” (ré) havia saído e levado o livro 
consigo. Pelo empregado também foi dito que o subsíndico também não 
estava, mas que o zelador estava presente. O autor, diante do zelador, 
perguntou ao empregado porque a síndica era chamada de “Dona BBBB” e o 
autor era por ele tratado como “você” e “Fulano”, embora, por mais de uma vez, 
tenha lhe solicitado o tratamento formal (“senhor”). O empregado então disse, 
de maneira agressiva, que não iria chamar o autor de senhor, muito embora o 
autor insistisse e deixasse claro que não consentia com aquela intimidade. 
Após uma discussão sobre se o empregado devia, ou não, tratar o autor como 
senhor, o empregado virou as costas para o autor e foi embora para o interior 
do prédio. Durante a discussão, o empregado, apesar dos protestos do autor, 
continuou a tratar o autor como “você” e “cara”. Ao dar as costas ao autor e se 
retirar para o interior do prédio, o empregado ficou dizendo de modo 
debochado: “Fala sério, fala sério...”; 
 
V – no dia seguinte, o autor escreveu, no livro de reclamações, uma solicitação 
para que a síndica (ré) orientasse os empregados, que trabalhavam no 
Condomínio, para darem ao autor (e demais moradores que assim queiram) o 
tratamento formal (“senhor”), pois essa deferência não é devida somente a ela. 
Sobre essa solicitação, a síndica (a ré) desconversou e escreveu, no livro, 
ordem para que os empregados do Condomínio tomassem ciência da 
solicitação e se manifestassem sobre o assunto. Diante da evasiva da ré, o 
autor reiterou sua solicitação e até o presente não foi atendido por ela (ver 
cópia do livro de reclamações, anexa). Os réus estão omitindo, dolosamente, o 
cumprimento de seu dever de orientar os empregados do Condomínio a 
respeitar os condôminos, cuja manifestação mínima é o tratamento formal. 
Como consequência, os réus (o réu por intermédio da ré) estão incentivando os 
empregados do Condomínio a desrespeitar o autor, o que, como visto, vem 
ocorrendo; 
 
VI – não é a primeira vez que a ré usa sua condição de síndica do Condomínio 
réu como pretexto para agredir o autor. De outra vez, porque o autor propôs 
uma ação de consignação em pagamento contra o Condomínio (onde o autor 
foi vencedor), a ré disse, e fez constar numa ata de assembleia de 
condomínios, que o autor não cumpriu sua palavra e teria decidido fazer, por 
conta própria, um desconto no valor do Condomínio; posteriormente, em 
contestação judicial, a ré, a Administradora do Condomínio e sua advogada, 
puseram-se a chamar o autor de juiz que age de má-fé e sem bom senso. Por 
esses motivos, o autor propôs uma ação de indenização por danos morais 
contra a ré. Infelizmente (como demonstram essas novas investidas da ré 
contra o autor) e apesar daquele evidente comportamento ilícito da ré causador 
de dano do autor, este não obteve êxito e foi vencido no processo de 
indenização (segue, em anexo, cópia da inicial do autor e da sentença que 
julgou improcedente o seu pedido de indenização, onde o então juiz, Dr. 
Edmundo RRRR, fundamentou sua decisão afirmando, em evidente excesso 
de linguagem, que o autor é um “cidadão comum”, alguém que se recusa a 
pagar suas contas condominiais, criador do impasse, envolvido em 
questiúnculas e atritos condominiais, proponente de uma “famigerada 
consignatória” etc.) E o óbvio vem ocorrendo e continuará acontecendo 
enquanto não houver uma decisão judicial que declare o desacerto do 
comportamento dos réus (especialmente da ré) com uma punição didática; 
 
VII – em 07-09-04, no período da tarde, no estacionamento do réu, o pneu 
dianteiro esquerdo do carro do autor foi furado na lateral (doc. Anexo). O autor 
registrou o fato no livro do condomínio, ressaltando que menos de dois meses 
antes, no estacionamento do condomínio, outro pneu de seu veículo foi furado 
na lateral. 
 
Dos danos sofridos pelo autor 
 
O autor é condômino do réu e reside naquele local onde espera encontrar 
refúgio para todos os problemas enfrentados em seu cotidiano. Por outro lado, 
diante das constantes agressões que os réus insistem em dirigir à pessoa e ao 
patrimônio do autor, impõe-se o registro de que o autor sempre esteve quite 
com todas as suas obrigações condominiais, tanto as de ordem econômica 
quanto as de cunho pessoal, pois jamais tratou a ré, outro condômino ou 
qualquer empregado do Condomínio com desrespeito, pois vive de maneira 
discreta, transitando bem pouco pelas partes comuns do edifício, sequer 
participando de reuniões de condôminos com os quais não mantém nenhum 
contato, não havendo nenhuma reclamação de quem quer que seja contra o 
autor ou sua conduta. Não há nenhuma explicação lógica para que as 
agressões dirigidas contra o autor (como também não havia ao tempo em que 
a ré ofendeu o autor, por escrito e oralmente, numa assembleia de condôminos 
e numa contestação judicial). E o que causa espécie e é até aterrorizante é que 
os réus usam, como pretexto para agredir o autor, o fato de este exercer o seu 
direito, como a propositura de uma ação judicial, a reclamação e solicitação de 
providências, quanto a danos causados pelo Condomínio ao seu patrimônio (do 
autor) ou (o que é extremamente espantoso) o direito de ser chamado de 
senhor (e pelos empregados que trabalham no prédio onde o autor reside e 
cujos salários são pagos com a sua colaboração. Ou seja, o autor está 
pagando para ser insultado!). Assim, o autor está sendo ofendido em sua 
dignidade e tranquilidade espiritual. 
 
Ressalte-se que o autor é um Juiz de Direito e, como tal (assim como Dr. 
Edmundo RRRR afirmou, sobre si mesmo, num processo de indenização 
contra a Credidoor S.A. e no mesmo ano em que disse que o autor é um 
“cidadão comum”) é “um homem público cuja respeitoridade é notória” (cópia 
anexa). E assim como foi dito sobre o Dr. Edmundo RRRR, na sentença que 
julgou procedente o seu pedido de indenização contra o Credidoor S.A., deve-
se levar em consideração, para liquidar o dano, “as condições pessoais do 
autor, que como homem público, tem sua honra valorada especialmente em 
relação aos particulares” (cópia anexa). Vê-se que, para o Dr. Edmundo RRRR, 
“cidadão comum” é expressão que a ele não se aplica (talvez porque era um 
magistrado). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 
COMARCA DE NITERÓI - XXXX VARA CÍVEL 
Processo n° XXXXXXXXXXX 
 
S E N T E N Ç A 
Cuidam-se os autos de açãode obrigação de fazer manejada por 
FULANO contra o CONDOMÍNIO WWWWW e Maria BBBBB, alegando o autor 
fatos precedentes ocorridos no interior do prédio que o levaram a pedir que 
fosse tratado formalmente de “senhor”. 
Disse o requerente que sofreu danos, e que esperava a procedência 
do pedido inicial para dar a ele autor e suas visitas o tratamento de “Doutor”, 
“senhor”, “Doutora”, “senhora”, sob pena de multa diária a ser fixada 
judicialmente, bem como requereu a condenação dos réus em dano moral não 
inferior a 100 salários mínimos. 
Instruem a inicial os documentos de fls. 8/28. 
O pedido de tutela antecipada foi indeferido às fls. 33. Interposto 
Agravo de Instrumento, foram prestadas as informações de fls.52. 
Às fls. 57 requereu o autor que emanasse ordem judicial para que os 
réus se abstenham de fazer referência acerca do processo, sobrevindo a 
decisão de fls. 63 que acolheu tal pretensão. 
O condomínio se manifestou às fls. 69/98, e ofertou cópia do recurso 
de agravo de instrumento às fls. 100, cujo acórdão encontra-se às fls.125. 
Contestação do condomínio às fls. 146 e da segunda ré às fls. 247, 
ambos requerendo a improcedência do pedido inicial. Seguiu-se a réplica às 
fls. 275. 
Por força de decisão proferida no incidente de exceção de 
incompetência, verificou-se a declinação de competência, com remessa dos 
autos da Comarca de São Gonçalo para esta Comarca de Niterói. 
Em decorrência do despacho de fls. 303v, as partes ofertaram seus 
respectivos memoriais, no aguardo desta sentença. 
 
É O RELATÓRIO. 
 
Questão 
Partindo do raciocínio anteriormente exposto, pede-se a leitura de 
cinco versões sobre um fato e, em seguida, a produção de uma narrativa 
imparcial. Esse procedimento auxiliará, posteriormente, na produção dos 
relatórios jurídicos. 
Quem é Jorge?[1] 
Relato das pessoas sobre o ocorrido no dia X. 
 
Relato do garçom: Eu conheço Jorge. Todas as noites está aqui 
caladão, olhos de conquistador, cigarro e uísque... Não é de hoje que ele vem 
seguindo uma lourinha que vem algumas vezes aqui. Ele olha a moça como 
quem quer devorá-la viva, mas não diz nada... Parece ter medo! Ontem, no 
entanto, saiu atrás dela, bateu a porta e não pagou a despesa. Esse Jorge é 
um “BOA VIDA”, um sabidão. Deve tomar dinheiro das garotas com aquela 
cara de anjo... 
 
Relato da vizinha: Ai! Meu Deus, não sei se telefono à polícia ou se 
chamo D. Sofia no plantão. Aconteceu um crime no apartamento do Jorge. Eu 
nunca me enganei com esse cara! 
Jorge é tarado, um criminoso. Eu vi, ninguém me contou. A moça 
deitada, toda nua num sofá, com a cabeça caída, e sob ela uma poça de 
sangue. Jorge com uma faca na mão ao me ver correu atrás de mim e eu 
apavorada tranquei-me no apartamento da madame e ele ainda esmurrou a 
porta. Ele queria me matar! Deus me livre! Cruzes! 
 
Relato da mãe de Lúcia: Lúcia nunca fez isso... São cinco e quinze 
da madrugada e ela não chegou! O que terá acontecido com minha filha? Lúcia 
não tem namorado. Sai do escritório, faz um lanche no barzinho e volta cedo 
para pintar seus quadros. Às vezes vai à casa de um coleguinha, mas nunca o 
faz sem me avisar. Dormir fora de casa? Não! Nunca dormiu! 
E se o pai dela acorda e sabe que ela não voltou... Lúcia é uma menina 
ingênua, gosta de um rapaz, mas não deixa que ele saiba. Tem medo de 
demonstrar que simpatiza com o moço e que ele possa considerá-la frívola. 
Acha-o simpático, triste, tão sozinho... Lúcia poderia conseguir um namorado, 
pois lhe serviria de companhia, ao menos. Que terá acontecido com minha 
filha! Se ela não chegar até as seis horas, terei de tomar uma providência... 
 
Relato do pai de Jorge: A situação de Jorge me preocupa. Largou os 
estudos; vive trancado naquele quarto, não trabalha... Se eu morrer de uma 
hora para outra, que será de Jorge? Dou-lhe tudo, mas não consigo a sua 
amizade, nem ao menos a sua companhia... Nunca o vi com namorada e ele 
encontrasse uma moça de boa família, poderia normalizar sua vida... 
Depois da morte de sua mãe, Jorge sumiu de casa, apareceu um dia 
pedindo-me uma mesada e solicitando-me que deixasse viver a sua vida... 
Paulo, seu irmão, é mais novo, mas está formado, trabalha numa 
companhia de mineração onde é o Engenheiro Chefe. Paulo sempre foi mais 
estudioso, inteligente; aliás, o melhor aluno do colégio. Jorge nunca deu para 
os estudos... Anda, agora, às voltas com mulheres, bebendo... Vi-o, ontem, 
com uma loura... Esse rapaz vai liquidar a sua mocidade e a sua saúde. 
Preciso falar com meu filho! 
 
Relato do Jorge: Eis, a seguir, como Jorge relata o que ocorreu no 
dia X. 
Quando mamãe morreu eu tinha 16 anos; Paulo, meu irmão, 14. Fiquei 
só porque papai sempre gostou mais de Paulo. Paulo é que sabia tudo, Paulo é 
que seria o orgulho da família... 
A morte de mamãe foi um golpe para mim. Só para mim, pois papai 
não necessitava de mamãe: tinha outra companhia. Paulo foi levado para o 
Rio, onde estudou Engenharia. Foi entregue ao tio Celino, homem de recursos 
e posição. Sempre gostei de arte. Nunca fui bom aluno, bem sei, mas tinha 
desde menino, uma inclinação acentuada para o desenho no colégio. Mamãe 
ficou muito satisfeita, mas papai disse-me apenas que aquilo não significava 
muita coisa, que eu deveria imitar Paulo estudando mais... 
Minha vocação era aquela. Resolvi estudar pintura e hoje tenho um 
atelier no pequeno apartamento onde moro, que aluguei com os recursos que 
meu pai me dá. Dou aulas em casas de família e ganho para as minhas telas, 
os meus pincéis, as minhas tintas e o meu uísque, que não chega a ser um 
vício, mas um meio de abafar a solidão. 
Conheci há alguns meses uma moça, sei agora que se chama Lúcia. 
Apaixonei-me por ela sem nunca haver dito. Queria consagrar a minha melhor 
obra a essa moça e martirizei-me com a ideia de pintar o seu retrato... Pintá-la 
toda na perfeição de seu corpo e na beleza de seu rosto... 
Ontem à noite não resisti. Ao vê-la sair do bar, onde habitualmente nos 
encontramos, corri atrás dela e quase em desespero, disse-lhe quem era e o 
que queria. Disse-lhe mais: que a amava. 
Recebi um sorriso fraterno. Só minha mãe sorria assim para mim... 
Parecia que já nos conhecíamos há muito. Lúcia não se opôs a ideia de 
acompanhar-me ao apartamento. Disse-me apenas que era uma moça pobre, 
que gostava de seus pais e não queria voltar levando tristezas para eles, nem 
amargura para sua vida. 
Lúcia mostrou-se confiante. Assim, caminhamos os dois, a pé, até o 
meu apartamento. 
Lúcia ficou encantada com os meus quadros. E eu, com o seu talento. 
Dei-lhe tinta e pincel e ela passou a noite a fabricar uma tela que eu chamei de 
“infância”, porque era pura e ingênua... 
Depois Lúcia pousou para mim e eu trabalhei até as cinco horas da 
madrugada, diante do melhor modelo, do mais perfeito modelo que já tive. 
Pintei-a com amor e ela com amor deixou-se pintar... 
Lúcia dormiu depois de três horas em que esteve imóvel diante de 
mim, deitou-se no sofá, cabelos caídos e dormiu. Tinha, no entanto, derramado 
no chão um vidro de guache vermelho e eu, mesmo cansado, fui remover com 
uma faca de limpar telas, a tinta derramada no chão. 
Quando Raimundinha, a moça que mora no apartamento ao lado, 
passou no corredor, quis falar-lhe para que trouxesse alguma fruta, leite e 
ovos. Raimundinha parecia estar apavorada e correu. Fui atrás dela para 
explicar-lhe o meu desejo. Ela trancou-se por dentro, assustada!... 
Lúcia acordou às sete horas. Fui levá-la em casa e, pessoalmente, 
expliquei a sua mãe o que ocorreu. Lúcia e eu ficamos noivos e casaremos 
brevemente. Iremos, juntos, participar de uma Exposição Nacional de Pintura. 
Sei que o retrato de Lúcia vai levantar o primeiro prêmio. 
Eu serei feliz com Lúcia...

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