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1 A Educação na Antiguidade Romana Bluma Salomão Na fase latina da Educação romana, percebe-se ter existido alguma resistência à influência Helenística. Os pequenos camponeses do Lácio, por exemplo, protegeram-se contra às inovações estrangeiras pelo respeito à uma tradição ancestral. De acordo com esta tradição, a finalidade da educação seria prática e social. Esperava-se que ela proporcionasse à criança o saber necessário para o exercício da sua profissão de soldado ou de proprietário rural. Mas como bem destaca Manacorda (2002,p.74): (...)os testemunhos históricos refem-se sempre às classes dominantes, ignorando quase que totalmente as classes produtoras e subalternas; e que os desenvolvimentos históricos sofrem, também, na sua continuidade, consideráveis mudanças nos costumes e nas instituições. Nesse período, a educação da criança era de responabilidade da família, do pater familias, “isto significa que, desde os primeiros tempos da cidade, a autonomia da educação paterna era uma lei do Estado: o pai é dono e artífice de seus filhos”(MANACORDA,2002,74). Porém, no século II a.C., o pater familias concedeu à mãe os direitos sobre a educação de seus filhos durante a primeira infância, nesse caso, incluía-se as meninas que também aprendiam os primeiros elementos do alfabeto, portanto, a criança crescia crescia em casa e com os colegas, entre os brinquedos e as primeiras aprendizagens. Sendo assim, a mulher adquiriu uma autoridade desconhecida na Antiguidade grega. Essa tradicão permaneceu por muito tempo, inclusive, no século I d.C. “Quintiliano também atribui à mãe a tarefa de ensinar aos filhos os primeiros elementos do falar e do escrever” (MANACORDA,2002,p.75) Curiosidade Brincadeiras da época: pião – damas – dados – amarrar ratos a um carrinho – construir casinhas – xadrez – par ou ímpar – andar a cavalo em uma cana. 2 Mas, por volta dos 7 anos de idade, a educação da criança seria de responsabilidade do pai, que deveria proporcionar ao filho a educação moral e cívica, baseada na tradição e aprendizagem de noções jurídicas e de conceitos estabelecidos nas Leis das XII Tábuas, desenvolvendo a sua consciência histórica e o patriotismo. Para tanto, compreendia também, os exercícios físicos e militares. Os aristocratas patrícios (proprietários e guerreiros) Quando o adolescente, por volta dos dezesseis anos de idade, finalmente se liberta da infância, tem início a aprendizagem da vida pública, militar ou política. O jovem acompanhava o pai ou, se necessário, um parente e até mesmo um escravo instruído para o iniciar na sociedade. Durante cerca de um ano, e anteriormente ao cumprimento do serviço militar, o jovem adquire conhecimentos de Direito, de prática pública e da arte do dizer, concepção romana da eloquência. Síntese O quadro educativo é, então, composto por letras, leis, preparação para a paz e para a Guerra. É a formação do cidadão, do político. O que importa é que aqui deparamos com um personagem histórico, que representa a educação antiga e, ao mesmo tempo, fomenta a educação nova, ministrada por escravos profissionais. (...) Isto fazia parte da exploração dos escravos que é parte do desenvolvimento histórico da educação familiar para a educação escolar, para a qual abria caminho. MANACORDA(2002,p.77). 3 A influência grega na educação romana O crescimento do comércio e a expansão romana no início da República fez com que ocorressem transformações na organização dessa sociedade, inclusive, aos poucos vai se consolidando um outro modelo de educação mais coerente com o novo momento vivido pelos romanos. A partir daí a presença do escravo na educação romana se faz cada vez mais presente. “Provavelmente a evolução histórica foi do escravo pedagogo e mestre da própria família ao escravo mestre das crianças de várias famílias e, enfim, ao escravo libertus que ensina na sua própria escola” (Manacorda,2002,p.78). Grande parte desses escravos vieram da Grécia conquistada pelos romanos, assim em Roma, esses escravos foram gregos que, falassem ou não o latim, ensinaram a própria lingua e transmitiram a própria cultura aos romanos, além disso, os próprios Etruscos que povoaram parte da Península, foram influenciados pelos gregos a quem foram buscar o alfabeto. Aos poucos, então, a educação se torna um ofício praticado inicialmente por escravos no interior da família e, em seguida por libertos na escola. Com isso, observamos uma influência grega e etrusca sobre a origem de uma forma de educação não-familiar, mas institucionalizada na escola. Vale destacar que, desta forma, a cultura grega tornou-se patrimônio comum dos povos do império romano e depois foi repassada durante muito tempo à Europa medieval e moderna e, assim, chegou à nossa época. O que é humanitas Como já vimos anteriormente, a organização de Roma em forma de Império favoreceu a formação da cultura universalizada que pode ser expressa na palavra humanitas – no sentido literal de humanidade, mais propriamente, de educação, cultura do espírito -, equivale à paideia grega. Distingue-se desta, no entanto, por se tratar de uma cultura predominantemente humanística e, sobretudo, cosmopolita e universal, buscando aquilo que caracterizava o homem, em todos os tempos e lugares. Essa concepção, muito valorizada por Cícero, não se restringe ao ideal do sábio, muitas vezes 4 inalcançável, mas se estende à formação do homem virtuoso, como ser moral, político e literário. Com o tempo, a humanitas degenera, restringindo-se, como vimos, ao estudo das letras e descuidando-se das ciências. (ARANHA,2000,p.63) A educação cosmopolita e a instituição da educação imperial Como já abordamos no item três, a partir do século IV a.C., de forma ainda precária, observamos a formação das escolas de mestres, ou seja, de escravos libertos que vão ensinar fora do lar das crianças a ler, escrever e contar. Os mestres, segundo Manacorda (2002, p.90) são nesta época mais desprezados que estimados e muitas vezes lembrados por seus castigos, inclusive corporais,assim como, por sua pobreza. Mas apesar da severidade dos mestres é comum encontrarmos relatos de revoltas por parte dos alunos, inclusive, agredindo fisicamente os seus mestres. A memorização e a repetição marcaram fortemente essa escola inicial. “O enfado desta didática, o medo das varas e dos chicotes e os conteúdos muito distantes da vida diária e dos interesses reais dos jovens e da sociedade certamente não encorajaram a frequência aos estudos” (MANACORDA, 2002,p.93). Pintura mural-cena escolar no Forum em Pompeia. Mesmo que destacando essas questões é impotante salientar que a crítica a esse modelo de educação se fez presente e partiu de dentro da própria sociedade que através de seus importantes pensadores ou filósofos não só condenaram como também externanaram proposições à respeito da escola e da educação. 5 Manacorda afirma que “em Roma nos encontramos, pela primeira vez, perante uma crítica fundamental da escola pelo que ela é e não pelos acidentes de sua vida diária: assistimos , enfim ao nascimento de uma consciência crítica sobre a escola e a educação” (2002,p.94). Por volta dos séculos III e II a.C., sob a influência grega que possibilitou a alfabetização bilíngue dos romanos, surgiram as escolas dos gramáticos, em que os alunos considerados, pelos professores dos estudos iniciais, preparados para continuar os seus estudos, segundo Aranha, entram em contato com os clássicos gregos, além das disciplinas, como geografia, aritmética, geometriae astronomia. Assim como, desenvolvem a arte de bem falar e de bem escrever, privilegiando uma aprendizagem sobretudo literária, em detrimento da Ciência, da Educação Musical e do Atletismo (2000,p.65) As disputas políticas e o desenvolvimento da vida pública proporcionaram a necessidade de um aprimoramento dos estudos de retórica, dessa maneira, surgiram as escolas superiores a partir do século I a.C., frequentadas pelas elites para se preparar melhor para as assembleias e tribunas. Percebe-se também uma mudança de comportamento em relação aos mestres de ensino médio e superior no final da República e início do Império, inclusive, passaram a ser mais valorizados ao receberem isenção de impostos e pagamentos em alguns cursos. Os Mestres Gregos foram protegidos por Augusto, à semelhança do que César já havia feito. Também a criação de bibliotecas, como a do Templo de Apolo, no Palatino, e a do Pórtico de Octávio, é ilustrativa de uma política imperial de cultura. Nesse sentido, uma primeira iniciativa que afetou os professores foi de autoria de Vespasiano, no século I d.C., ao reconhecer-lhes uma utilidade social. Com ele se iniciavam uma série de retribuições e de imunidades fiscais, atribuídas a gramáticos e retores. Segue-se a criação de cátedras de Retórica nas grandes cidades, bem como o favorecimento e promoção da instituição de escolas municipais de gramática e de retórica nas províncias. 6 Portanto, podemos identificar nos romanos, pela primeira vez, a criação de um sistema de ensino, ou seja, um organismo centralizado que coordena uma série de instituições escolares espalhadas por todas as províncias do Império e constituídas em carácter oficial através da intervenção do Estado. Esse processo ocorreu de forma lenta, mas aos poucos, com o passar dos anos e até mesmo séculos, os avanços foram verificados.
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