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Santo Graal Vitaminado – ADMINISTRATIVO/AMBIENTAL.
Ponto 1. a: Conceito, objeto e fontes do Direito Administrativo. Direito Administrativo Constitucional.
Principais obras consultadas: CABM, MSZDP, JSCF, LVF.
Legislação básica: não indicou.
Conceito: a) Para Celso Antonio Bandeira de Melo: Direito Administrativo é o ramo do Direito Público que disciplina o exercício da função administrativa.
b) Para Di Pietro: DA é o ramo do direito público que tem por objeto os órgãos, os agentes e as pessoas jurídicas administrativas que integram a Administração Pública, a atividade jurídica não contenciosa que exerce e os bens de que se utiliza para a consecução de seus fins, de natureza pública (aspecto subjetivo + aspecto objetivo).
c) Para José dos Santos Carvalho Filho: Ramo do Direito Público (ou taxinomia = natureza jurídica) compreendido como o conjunto de normas e princípios que, visando sempre ao interesse público, regem as relações jurídicas entre as pessoas e órgãos do Estado e entre este e as coletividades a quem deve servir.
d) Para Odete Medauar: Conjunto de normas e princípios que regem a atuação da Administração Pública.
Objeto do Direito Administrativo: Varia no tempo e no espaço (ex. direito anglo-saxão x direito europeu e latino). Atualmente, abarca as atividades, agentes, pessoas e órgãos da Administração Pública e sua relação entre si e com terceiros. Com fundamento no critério funcional, estudo da disciplina normativa da função administrativa e da organização e estrutura da Administração Pública. Objeto Imediato: princípios e normas que regulam a função administrativa. Objeto Mediato: disciplina das atividades, agentes, pessoas e órgãos da Administração Pública.
Fontes do Direito Administrativo: Teve origem na França, com base nas decisões do Conselho de Estado, tem como fontes: a lei (fonte primária), a doutrina, a jurisprudência, costume, princípios (fontes secundárias). Para Lúcia Valle Figueiredo os costumes não são fontes.
Direito Administrativo Constitucional: O Direito Constitucional é o ramo do direito com maior intimidade como Direito Administrativo, sendo certo que o Direito Constitucional fornece as diretrizes mestras, bases e parâmetros do Direito Administrativo, tais como princípios, normas gerais sobre servidores públicos, competências dos poderes, normas sobre desapropriação, concessões e permissões de serviços públicos, dos contratos administrativos e licitações, bem como a responsabilidade extracontratual do Estado. O Direito Administrativo Constitucional é o Ramo do Direito Administrativo com fundamento na Constituição.
Ponto 1.b. Improbidade Administrativa: sujeitos e atos. Lei 8.429/1992.
Principais obras consultadas: Resumo do Grupo do 26º CPR. Manual de Direito Administrativo, 22º edição, 2009. JSCF. Aulas do Alcance 2011. JSCF e “Improbidade Administrativa”, de Flavia Cristina e Lucas Dos Santos (Obra interessante para uma leitura mais apurada do tema).
Legislação básica: CF/88 e Lei 8.429/92.
Atos de Improbidade Administrativa
A expressão “improbidade administrativa” é a terminologia/designativo técnica para definir a corrupção administrativa, que se apresenta como um desvirtuamento da função pública somado à violação da ordem jurídica
Regulamentando o art. 37, §4º da CF, a lei 8.429/92 disciplinou os atos de improbidade administrativa em 03 espécies, utilizando-se, para tanto, da técnica legislativa dos conceitos jurídicos indeterminados, e não das tipificações cerradas do direito penal. O rol é exemplificativo, uma vez que cada um dos dispositivos traz a expressão “e notadamente” ao final do caput. São eles, de acordo com a ordem decrescente de sua gravidade:
a) Atos que importem enriquecimento ilícito (art. 9º), destacando-se as seguintes condutas exemplificativamente listadas nos incisos: inc. I – receber qualquer vantagem patrimonial indevida de quem tenha interesse na ação ou omissão do agente; inc. IV – utilização indevida, em obra ou serviço particular, de veículos, máquinas, equipamentos, materiais ou agentes públicos; inc. VII – aquisição de bens desproporcionais à evolução patrimonial; inc. VIII – exercício de consultoria, no exercício durante a atividade, para quem tenha interesse na ação ou omissão do agente;
Obs: em relação ao inciso VII, é controverso se é necessário provar que a evolução patrimonial decorreu de ato ilícito ou imoral. Juarez Freitas defende que o MP ou a pessoa jurídica interessada tem que demonstrar que o aumento do patrimônio adveio de prática desonesta ou imoral, sob pena de violação ao princípio da presunção de inocência e de responsabilização objetiva do agente. Por outro lado, a corrente doutrinária oposta defende que, como o dispositivo legal tipifica os sinais exteriores do ilícito, a comprovação da evolução desproporcional do patrimônio já geraria uma presunção (fato constitutivo art. 333, I, CPC) de improbidade, que poderia ser elidida pelo Réu (nos termos do art. 333, II, do CPC), por meio da demonstração da origem das rendas. Fábio Medina Osório (2000, p. 388) defende esse entendimento.
b) Atos que causem prejuízo ao erário (art. 10), destacando-se os incisos VII – concessão de benefícios administrativos/fiscais indevidos; VIII – frustrar a licitude do processo licitatório; X – negligenciar na arrecadação de tributo ou conservação de bens da administração;
c) Atos que atentem contra princípios da administração (art. 11), destacando-se que as condutas vedadas aos agentes políticos da 9.504/97 aqui se inserem (art. 73, § 7º). Recentemente o STJ entendeu que a entrega compulsória e o desconto em folha de pagamento de parte dos rendimentos dos assessores formais destinados à manutenção de “caixinha” para gastos de campanha e de despesas dos respectivos gabinetes, bem como para a contratação de assessores particulares violam, expressamente, os princípios administrativos da moralidade, finalidade, legalidade e do interesse público, conduta dos parlamentares que se insere no caput e I do art. 11 da Lei n. 8.429/1992. (REsp. 1.135.767-SP). Ainda na casuística, o STJ, por votação apertada, entendeu que configura improbidade do art. 11, I, ato de prefeito que divulgou na imprensa a doação de valor para recuperar hospital, omitindo o caráter público do mesmo, prevalecendo entendimento que a lei deve incidir sobre o administrador inepto, e não apenas sobre o que age de má-fé (REsp 884.083-PR). Atenção: a Lei 12.813, que tratou do conflito de interesses no âmbito da Administração Pública Federal, traz hipóteses que são consideradas violação a princípios administrativos para fins deste artigo (vide tópico 22.b)
Segundo doutrina majoritária, a União tem competência privativa para legislar sobre atos de improbidade, porque as sanções previstas têm natureza civil e eleitoral (art. 22 da CF/88). Além disso, a Lei 8.429/92 traz disposições de natureza processual. Haveria apenas três dispositivos da lei que tratam de Direito Administrativo e, por isso, somente se aplicariam à União: o art. 13, caput (a posse dos servidores é condicionada à declaração de seus bens); art. 14, § 3º (no caso de servidores federais os fatos serão apurados administrativamente na forma da Lei 8.112); art. 20, parágrafo único (Administrador pode afastar o funcionário público de sua função, para facilitar a instrução processual). 
O art. 37, § 4° da CF/88 prevê as seguintes consequências do ato de improbidade: suspensão dos direitos políticos; perda da função pública; indisponibilidade dos bens e ressarcimento ao erário. Para a doutrina e jurisprudência, esse rol é exemplificativo e poderia ser ampliado pela Lei 8.429/92, que acrescentou as seguintes sanções: multa e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios. Ao fixar a multa, o juiz considerará o proveito obtido e o dano causado pelo agente (art. 12, par. único).
	Enriquecimento Ilícito
	Ressarcimento integral do dano, se houver
	Princípios da Administração
	Perda dos bens ilicitamente acrescidosPerda da função pública
	-
	Ressarcimento integral do dano
	
	Ressarcimento integral do dano, se houver
	Perda da função pública
	
	Perda da função pública
	Suspensão dos direitos políticos de 08 a 10 anos
	Suspensão dos direitos políticos de 05 a 08 anos
	Suspensão dos direitos políticos de 03 a 05 anos
	Proibição de contratar com o Poder Público por até 10 anos
	Proibição de contratar com o Poder Público por até 05 anos
	Proibição de contratar com o Poder Público por até 03 anos
	Pagamento de multa civil de até 03 vezes o valor do acréscimo patrimonial
	Pagamento de multa civil de até 02 vezes o valor do dano
	Pagamento de multa civil de até 100 vezes o valor da remuneração
As sanções/consequências podem ser aplicadas cumulativamente, mas “não são necessariamente cumulativas, cabendo ao magistrado a sua dosimetria; em consonância com os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade” (REsp 980706). Por esse mesmo motivo, a simples ocorrência da improbidade não implica imediata perda da função pública (REsp 924439). Nesse precedente decidiu-se também que “A sanção de perda da função pública visa a extirpar da Administração Pública aquele que exibiu inidoneidade (ou inabilitação) moral e desvio ético para o exercício da função pública, abrangendo qualquer atividade que o agente esteja exercendo ao tempo da condenação irrecorrível”. Esse último ponto em negrito é muito controverso e não há mais precedentes sobre o tema.
Por outro lado, tratando-se de agente aposentado no momento da sentença, deveria ser cassada a aposentadoria, tal como nos casos em que a irregularidade é sancionada no âmbito de PAD. Apesar disso, o STJ tem um único precedente a respeito, no qual garantiu o direito à aposentadoria, afirmando que a condenação tem efeitos ex nunc (REsp 1186123/SP). Os dois precedentes controversos são da 2 turma do STJ e devem ser conhecidos, mas vistos com adotados com cautela.
Sujeito ativo do ato de improbidade é quem pratica o ato de improbidade, concorre para sua prática ou dele extrai vantagens indevidas. Pode ser agente público ou terceiro. Para a Lei 8.429/92, agente público é “todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades mencionadas no artigo anterior”. Enquadram-se nessa definição os agentes colaboradores e os empregados de entidades beneficiadas por auxílio ou subvenção estatal. Também podem cometer ato de improbidade os notários e registradores, porque os emolumentos têm natureza de taxa. 
Terceiro é aquele que, não sendo agente público, induziu ou concorreu para a prática do ato de improbidade ou dele se beneficiam direta ou indiretamente. As pessoas jurídicas podem responder por atos de improbidade na qualidade de terceiro beneficiado (REsp 1.122.177/MT). Para que o terceiro seja responsabilizado, é indispensável que seja identificado algum agente público como autor da prática do ato de improbidade (art. 3° da LIA). Diante disso, o STJ reputa inviável o manejo da ação civil de improbidade exclusivamente contra o particular, sem a concomitante presença de agente público no polo passivo da demanda (REsp 896044/PA). 
Sujeito passivo do ato de improbidade é a pessoa jurídica que a lei indica como vítima do ato de improbidade administrativa. O art. 1º, da Lei 8.429/92, arrola os sujeitos passivos principais, divididos em três categorias: a) pessoas da administração direta: União, Estados, Distrito Federal e Municípios; b) pessoas da administração indireta: autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economias mista (prestadoras de serviços públicos ou atividade de caráter econômico); c) pessoa cuja criação ou custeio o erário haja contribuído ou contribua com mais de 50% do patrimônio ou receita: empresas públicas e sociedades de economia mista. 
Os sujeitos passivos secundários estão previstos no parágrafo único do art. 1, da Lei de Improbidade. Dividem-se em dois grupos: a) entidades que recebem subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de órgão público: entidades do terceiro setor (organizações sociais, OSCIP etc.), entidades sindicais, partidos políticos; b) entidades para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com menos de 50% do patrimônio ou receita anual: é o caso das PPPs (Lei 11.079/04). O diferencial desse grupo é que a tutela incide apenas sobre o seu patrimônio e a sanção patrimonial se limita exclusivamente à repercussão do ilícito sobre a parcela do erário. As pessoas jurídicas de direito privado que prestam serviço público descentralizado por meio de delegação contratual, como as concessionárias e permissionárias (Lei nº 8.987/95), por não receberem recursos do erário, não são sujeitos passivos. 
A ocorrência de dano é desnecessária nas hipóteses dos arts. 9 e 11, por expressa previsão legal (art. 21, I da 8.429/92), mas é imprescindível nas hipóteses do art. 10 (o dano não pode ser hipotético, deve ser concreto). A ausência de dano apenas impede a aplicação da sanção de ressarcimento e a posterior reparação não tem o condão de excluir a ilegalidade do ato.
Não há responsabilidade objetiva nos atos de improbidade, sendo necessário aferir o elemento subjetivo do agente. Os atos das três espécies aceitam a modalidade dolosa. O dolo é genérico e pode ser eventual (STJ, Aresp 20747). Somente podem se configurar na forma culposa os atos que causem prejuízo ao erário (art. 10), por expressa previsão legal. STJ, RESP 875163/RS, 19/05/2009. Não há previsão legal da punição da tentativa, sendo inviável se utilizar analogicamente do art. 14 do CP. Isso não impede eventual punição por infringência a princípios, quando, por circunstâncias alheias à vontade do agente, o enriquecimento ilícito ou o prejuízo ao erário não se consumarem (GARCIA; ALVES, 2006, p. 301).
Prescrição: O art. 23 da 8.429/92 prevê dois prazos prescricionais para a propositura da ação de improbidade: a) 05 anos, contados do término do exercício do mandato, cargo ou função de confiança; b) dentro do prazo previsto em lei específica para faltas disciplinares puníveis com demissão. Segundo o STJ, se o agente exercer, cumulativamente, cargo efetivo e cargo comissionado ao tempo do ato reputado ímprobo, há de prevalecer o primeiro para fins de contagem prescricional, pelo simples fato de o vínculo entre agente e Administração Pública não cessar com a exoneração do cargo em comissão, por esse ser temporário (REsp 1.060.529). Também decidiu o STJ que, se o agente público for reeleito, o termo a quo para a contagem do prazo prescricional será o término do último mandato (REsp 1.107.833). Por fim, o STJ entende que, em função do art. 37, § 5º da CF, são imprescritíveis as sanções de ressarcimento ao erário (REsp 1.089.492). Obs: “O MPF poderá promover o arquivamento do PA ou do ICP quando constatar a ocorrência de prescrição na forma do art. 23 da Lei nº 8429/92 e a adoção de medidas para o ressarcimento do dano” Enunciado nº 8 da 5° CCR/MPF.
À semelhança do entendimento adotado com relação aos crimes praticados contra a administração pública, o STJ entende que não se admite a aplicabilidade do princípio da insignificância aos atos de improbidade administrativa (RESP 769317/AL, RESP 892818/RS). A Lei 8.429 não pode alcançar fatos anteriores a sua vigência, ainda que ocorridos após a edição da Constituição Federal de 1988 (REsp 1129121/GO). Nesse caso, o controle dos atos lesivos ao erário deve ser feito com fundamento no art. 159 do CC/16 ou nas Leis 4.717/65 e 7.347/85 (REsp 1197330). Os sucessores do ímprobo estão sujeitos às cominações patrimoniais da lei, até o limite do valor da herança, na forma do art. 8º da Lei 8.429/94 e do art. 5º, XLV da CF.
Agentes políticos e prerrogativa de foro: A discussão é controvertida. A posição mais segura no momento é a da Corte Especial do STJ, que afirmou que não há prerrogativa de foro para agentes políticos(com exceção do Presidente da República, que sequer se submete à lei de improbidade - art. 86 da CF) e não há bis in idem entre a condenação por improbidade e a condenação por crime de responsabilidade.
Histórico: Em 2005, o STF julgou inconstitucional a Lei n.° 10.628/02, que previa foro por prerrogativa de função para a ação de improbidade (ADI 2797). Entendeu que a ação deveria ser julgada em 1ª instância, porque, se a CF/88 não estabeleceu foro por prerrogativa de função, a lei ordinária não poderia fazê-lo. Após, na RCL 2.138, entendeu-se por 6x5 que a LIA não se aplica aos agentes políticos quando a conduta praticada já for prevista como crime de responsabilidade pela Lei 1.079/50 (a lei se aplica a Presidente da República, Ministros de Estado; Procurador-Geral da República; Ministros do STF; Governadores; Secretários de Estado) e pelo DL 201/67 (Prefeitos e Vereadores), pois haveria bis in idem, haja vista a semelhança das condutas e sanções estabelecida nessas leis. Após, na PET 3211/DF, o STF entendeu que a competência para julgar ação de improbidade contra seus Ministros seria do próprio Tribunal. Após, ao julgar a Rcl 2.790/SC, a Corte Especial do STJ decidiu que (i) os agentes políticos se submetem à Lei 8.429/92 (com exceção do Presidente da Republica – art. 86 da CF), pois não há norma constitucional que os imunize do art. 37, § 4º da CF; e que (ii) há foro por prerrogativa de função nas ações de improbidade administrativa se a autoridade tiver foro privativo em matéria criminal. 
Finalmente, na Rcl 12.514-MT: o STJ solidifica o entendimento de que “a ação de improbidade administrativa deve ser processada e julgada nas instâncias ordinárias, ainda que proposta contra agente político que tenha foro privilegiado no âmbito penal e nos crimes de responsabilidade”. Analisando os posicionamentos individuais dos Ministros do STF e a evolução da jurisprudência, o Min. Ari Pargendler esclarece que, “o acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento da Reclamação nº 2.138, DF, constituiu um episódio isolado na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, e tudo leva crer que não se repetirá à vista de sua nova composição” (AgRg na Rcl 12.514-MT, Rel. Min. Ari Pargendler, julgado em 16/9/2013).
AÇÃO DE IMPROBIDADE: Possuem legitimidade para propor a ação de Improbidade: o MP (legitimidade extraordinária) e a pessoa jurídica interessada (há controvérsia se a pessoa jurídica de direito privado tem legitimidade). O sujeito ativo dos atos de improbidade é o sujeito passivo da ação de improbidade.
Estando a inicial em ordem, o Réu apresentará manifestação no prazo de 15 dias. Após, o Juiz avaliará o recebimento da ação, observando o princípio in dubio pro societate (AgRg no REsp 1.317.127-ES). Obs: a ação exige justa causa (REsp 1153853/RJ). Recebida a ação, o Réu será citado para apresentar contestação. Da decisão que receber a inicial cabe agravo de instrumento.
O juiz pode decretar a indisponibilidade do bem, como medida cautelar preparatória ou incidental, a requerimento do Ministério Público ou da pessoa jurídica. A autoridade administrativa deve comunicar a improbidade ao MP, que requererá a indisponibilidade, se entender necessário (poderá requerer a indisponibilidade, mesmo sem ter sido provocado pela autoridade administrativa).
Os arts. 7 e 16 da LIA afirmam que a indisponibilidade pode ser decretada quando o ato de improbidade é possível nos casos de lesão ao patrimônio público (art. 9) ou ensejar enriquecimento ilícito (art. 10). Contudo, o STJ e a doutrina (Emerson Garcia e Rogério Pacheco Alves) entendem a medida cautelar de indisponibilidade dos bens também pode ser aplicada no caso de violação dos princípios da administração pública, especialmente para assegurar o pagamento da multa civil (REsp 1311013/RO).
A decretação da indisponibilidade e do sequestro de bens em improbidade administrativa é possível antes do recebimento da ação (REsp 1317653/SP), sem oitiva do Réu, ou antes mesmo de encerrado o procedimento administrativo de apuração da improbidade. Para a decretação dessas medidas, é suficiente que se prove o fumus boni iuris, pois o periculum in mora presumido (REsp 1319515/ES). A medida, contudo, deve ser adequadamente fundamentada pelo magistrado, sob pena de nulidade (art. 93, IX, da Constituição Federal), sobretudo por se tratar de constrição patrimonial (REsp 1319515/ES). 
A indisponibilidade pode recair sobre bens adquiridos tanto antes como depois da prática do ato de improbidade (REsp 1204794/SP). O caráter de bem de família de imóvel não obsta a determinação de sua indisponibilidade nos autos de ação civil pública, pois tal medida não implica em expropriação do bem (REsp 1204794/SP). A indisponibilidade deve recair sobre bens suficientes para garantir o integral ressarcimento de eventual prejuízo ao erário, levando-se em consideração, ainda, o valor de possível multa civil como sanção autônoma (REsp 1311013/RO). Porém, é facultado ao Réu provar que a indisponibilidade que recaiu sobre o seu patrimônio foi muito drástica e que não está garantindo seu mínimo existencial.
Não é necessária a individualização dos bens sobre os quais se pretende fazer recair a indisponibilidade (AgRg no REsp 1307137/BA). A individualização somente é necessária para a concessão do “sequestro de bens”, previsto no art. 16 da Lei n.° 8.429/92. A indisponibilidade de bens não é considerada sanção, mas medida de garantia destinada a assegurar o ressarcimento ao erário.
O MPF e a União têm competência para a ação de improbidade quando houver desvio de verbas repassadas por ela a Município ou Estado mediante convênio, pois há o dever de prestar contas dos valores, os quais, outrossim, estão sujeitos à fiscalização do TCU (art. 71, IV, da CF), o que evidencia o interesse federal. Em relação às ações penais, entendimento semelhante foi consolidado na súmula 208 do STJ, segundo a qual “compete à justiça federal processar e julgar prefeito municipal por desvio de verba sujeita a prestação de contas perante órgão federal”.
Vale mencionar, ainda, que o STF entendeu que cabe ao MPF a apurar os crimes relacionados ao FUNDEB (fundo vinculado à educação, que será complementado pela União quando o Estado não alcançar um valor mínimo), independentemente de ter havido a mencionada complementação, pois a União tem função supletiva em matéria educacional (HC 100772/GO). Por outro lado, a ação de improbidade só competirá ao MPF se houver a complementação de recursos pela União.
Questões de Concurso
(27º CPR) DE ACORDO COM A JURISPRUDÊNCIA DOMINANTE DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, É CORRETO AFIRMAR QUE:
a) (	) Os responsáveis por atos de improbidade praticados antes da entrada em vigor da Lei 8.429/92 (Lei de Improbidade Administrativa) estão submetidos às sanções previstas nesse diploma legal, tendo em vista o princípio da supremacia do interesse público e a incidência imediata de leis de natureza processual.
b) (	) A prescrição das penalidades previstas na Lei 8.429/92 não obsta ao prosseguimento da ação de improbidade administrativa quanto ao pedido de ressarcimento dos danos causados ao Erário.
c) (	) São inacumuláveis as cominações de multa civil e ressarcimento ao Erário, em razão da natureza pecuniária de ambas, sob pena de configuração de bis in idem.
d) (	) Para a decretação da indisponibilidade patrimonial por imputação de improbidade administrativa, é indispensável a demonstração concreta de que o réu está promovendo ou ameaçando promover atos de dispersão de seus bens.
Item A – Está incorreto, pois o STJ entende que “a Lei de Improbidade Administrativa não pode ser aplicada retroativamente para alcançar fatos anteriores a sua vigência, ainda que ocorridos após a edição da Constituição Federal de 1988” (REsp 1129121/GO).
Item B – Está correto. O STJ entende que a pretensão de ressarcimento ao erário é imprescritível (REsp 1.069.779/SP) 
Item C – Está incorreto. O STJ entende que a multa civil (de caráter punitivo) não se confunde com o ressarcimentointegral do dano, pois têm naturezas jurídicas diversas (REsp 1218202/MG). 
Item D – incorreto. O STJ entende que a decretação de indisponibilidade de bens não se condiciona à comprovação de dilapidação efetiva ou iminente de patrimônio (REsp 1308865). 
GABARITO: Alternativa B
(25º CPR) ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA:
a) ( ) os atos de improbidade administrativa sujeitam o infrator apenas às sanções decorrentes do processo criminal quando houver coincidência entre o tipo penal e o tipo descrito na Lei 8.429/92 (Lei de Improbidade), sob pena de configuração de bis in idem;
b) ( ) ante a natureza e a gravidade das sanções previstas em lei, os atos de improbidade só são puníveis a título de dolo, inexistindo possibilidade de responsabilização com base em culpa em sentido estrito;
c) ( ) a sanção de suspensão de direitos políticos prevista na Lei 8.429/92 é incompatível com a Constituição da República, uma vez que esta não admite a "morte cívica" do cidadão;
d) ( ) a medida de indisponibilidade de bens prevista na Lei de Improbidade possui natureza cautelar, tendo por escopo assegurar a reparação do dano ao erário.
O Item “a” está incorreto, porque a LIA é uma lei de natureza cível em sentido amplo. As condutas e sanções que ela estabelece não têm natureza penal, não ficando sujeitas, portanto, às normas gerais do Direito Penal. 
O item “b” está incorreto, pois é possível a punição por culpa no caso do art. 10 (lesão ao erário).
O item “c” está incorreto, pois a CF/88 veda a cassação dos direitos políticos, não a sua suspensão. 
O item “d” está correto. A indisponibilidade de bens é medida cautelar (REsp 821.720-DF) 
GABARITO: Alternativa D
(26º CPR – Oral) Explique o que é improbidade administrativa. 
A improbidade administrativa é tratada pela CRFB de 88, no seu artigo 37, §4º e na Lei 8.429/92. Assim, coube ao legislador definir quais atos se amoldariam ao ato improbo e para tanto usou-se de conceitos indeterminados previstos nos artigos 9º, 10º e 11º da Lei 8.429/92.
Dessa forma, podemos conceituar improbidade administrativa como toda prática que importe em enriquecimento ilícito, dano ao erário ou atente com os princípios da Administração Pública.
A expressão “improbidade administrativa” é a terminologia/designativo técnica para definir a corrupção administrativa, que se apresenta como um desvirtuamento da função pública somado à violação da ordem jurídica. Quando o administrador pratica improbidade administrativa, ele automaticamente está desvirtuando o que se espera no exercício da função pública, além de haver uma violação à ordem jurídica. Logo, um ato pode até ser moralmente reprovável, mas somente será considerado improbo se, além disso, enquadrar-se em alguma das situações previstas nos artigos acima.
(26º CPR – Oral) A punição dos sinais exteriores de riqueza (art. 9, VII, da LIA) representa inversão do ônus da prova? 
Inicialmente cabe pontuar que não se trata de tema pacífico na doutrina e na jurisprudência.
O súbito enriquecimento de agentes públicos exige acompanhamento por parte dos órgãos de controle, principalmente para se apurar a licitude ou não do acréscimo patrimonial.
Necessário registrar que toda pessoa, antes de ingressar no funcionalismo público, deverá apresentar declaração de bens, atualizando a mesma anualmente, sob pena de demissão; após a saída do funcionalismo, as informações ficarão arquivadas pelo prazo de cinco anos, para acompanhamento.
 A Lei de Improbidade Administrativa afirma categoricamente constituir enriquecimento ilícito adquirir, para si ou para outrem, bens de qualquer natureza, cujo valor seja desproporcional à evolução do patrimônio e à renda do agente público (art. 9º, VII, da Lei 8.429/92). Resta saber se a evolução patrimonial desproporcional caracteriza, por si só, improbidade administrativa.
Em um primeiro momento, seria possível sustentar que os órgãos de controle deveriam demonstrar que o patrimônio do agente aumentou desarrazoadamente em razão de ato ilícito. Presume-se a inocência, conforme mandamento constitucional. Nessa senda, mesmo que o sujeito ostente padrão de vida e patrimônio absolutamente incompatíveis com a renda, não poderá ser responsabilizado pelo enriquecimento ilícito. Se o Ministério Público ou a pessoa jurídica interessada não demonstrarem que o aumento do patrimônio adveio de corrupção ou de qualquer outra prática desonesta ou imoral, prevalece o princípio da presunção de inocência. Trata-se da posição de Juarez Freitas:
“Não há, em nosso sistema, plausibilidade para a tese da responsabilidade do agente público que dispense a investigação subjetiva (dolo ou culpa), por força do art. 37, § 6ºda CF. Incontestavelmente, em suma, aquele que intentar a ação terá que se basear, v.g.,na declaração de bens e, por acréscimo inevitável, no induvidoso nexo causal do enriquecimento ilícito com a atuação pública. Descabe a alegação temerária, sem solidez ou pelo só gosto de testilha, com base em incertos sinais exteriores de riqueza. Sublinhe-se que não se admite a culpa presumida, já que a formação da prova carece de esforço consistente, mais do que de frágeis ilações”
Contudo, a Lei de Improbidade Administrativa assevera que constitui enriquecimento ilícito adquirir, para si ou para outrem, bens de qualquer natureza cujo valor seja desproporcional à evolução do patrimônio e à renda do agente público (art. 9º, VII, da Lei 8.429/92).
Logo, os sinais exteriores de riqueza configurariam, para a corrente doutrinária oposta, fortes indícios da existência do enriquecimento ilícito, mormente por estar amparada por documentação comprobatória dos ganhos do agente, que revelam, inicialmente, a inexistência de justa causa para tanto, gerando a presunção da prática de ato de improbidade administrativa.
Fábio Medina Osório (2000, p. 388) afirma que “[...] basta a prova da ausência de origem do patrimônio adquirido, tornando-se ilícita a renda assim obtida, sobretudo levando-se em conta a transparência advinda do regime publicista do trabalho daqueles que lidam com a coisa pública, o que não traduziria, tecnicamente, inversão do ônus da prova”.
Nesse diapasão, será do demandado o ônus de provar em juízo a eventual origem lícita da sua evolução patrimonial, afastando, assim, os indícios da prática de ato ilícito.
À luz do Código de Processo Civil, impõe-se ao Ministério Público ou à pessoa jurídica interessada unicamente o ônus de provar o fato constitutivo do direito – enriquecimento em desacordo com a evolução patrimonial (art.333, I, CPC) - e ao réu comprovar a existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito – ex.recebimento de herança, núpcias com pessoa de posses etc (art. 333, II,CPC).
Evidentemente todos os meios para que o agente público explique a origem do aumento patrimonial devem ser permitidos, em respeito aos princípios da ampla defesa e do contraditório, postulados estes que deverão estar presentes, inclusive, no âmbito das investigações realizadas na fase do inquérito civil.
 Quem manteve ou mantém relação com o Poder Público deve observância não apenas à lei, mas, sobretudo, aos preceitos éticos e de boa fé. No momento em que a Constituição Federal de 1988 incluiu o princípio da moralidade administrativa no seu texto, a intenção foi a de trazer elementos de valor à conduta dos agentes públicos. A evolução patrimonial meteórica de pessoas que ostentam laços com o Poder Público exige investigação do Ministério Público e dos demais órgãos de fiscalização.
(26º CPR – Oral) O Particular pode responder sozinho a ação de improbidade administrativa? 
Não. A Lei n° 8.429/92, em seu artigo 3°, prevê sua aplicação, “no que couber, àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para a prática do ato de improbidade administrativa ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta”. Portanto, a responsabilidade do particular, sujeito ativo impróprio, condiciona-se à prática de um ato de improbidade porum agente público. Entretanto, o particular não ficará impune, já que se sujeita a incidência de sanções previstas em outras disposições normativas, que não seja a Lei n° 8.429/92. A propósito, a jurisprudência:
PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. RÉU PARTICULAR. AUSÊNCIA DE PARTICIPAÇÃO CONJUNTA DE AGENTE PÚBLICO NO PÓLO PASSIVO DA AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. IMPOSSIBILIDADE.
1. Os arts. 1º e 3º da Lei 8.429/92 são expressos ao prever a responsabilização de todos, agentes públicos ou não, que induzam ou concorram para a prática do ato de improbidade ou dele se beneficiem sob qualquer forma, direta ou indireta.
2. Não figurando no pólo passivo qualquer agente público, não há como o particular figurar sozinho como réu em Ação de Improbidade Administrativa.
3. Nesse quadro legal, não se abre ao Parquet a via da Lei da Improbidade Administrativa. Resta-lhe, diante dos fortes indícios de fraude nos negócios jurídicos da empresa com a Administração Federal, ingressar com Ação Civil Pública comum, visando ao ressarcimento dos eventuais prejuízos causados ao patrimônio público, tanto mais porque o STJ tem jurisprudência pacífica sobre a imprescritibilidade desse tipo de dano.
4. Recurso Especial não provido.
(REsp 1155992/PA, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 23/03/2010, DJe 01/07/2010)
(26º CPR – Oral) A União repassa verbas a um Município por convênio e o Município repassa os valores para uma entidade privada executar os serviços: quem tem legitimidade para ajuizar a ação de improbidade em face de desvios pela entidade? 
O Ministério Público Federal e a União são os legitimados a ajuizar a ação de improbidade em face de desvios cometidos por entidade que recebeu valores repassados a Município pela União por meio de convênio. Esse entendimento decorre da interpretação conjunta dos artigos 71, IV e 109, I da Constituição Federal cumulado com o art. 17 da Lei de Improbidade Administrativa (LIA, Lei nº 8.429/92), além da incidência do entendimento cristalizado pela Súmula nº 208 do STJ.
Conforme determina o art. 71, inciso IV, da Constituição Federal, a fiscalização quanto à aplicação dos recursos repassados ao Município pela União por meio de convênio será exercido pelo Tribunal de Contas da União:
Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual compete:
(...)
VI - fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos repassados pela União mediante convênio, acordo, ajuste ou outros instrumentos congêneres, a Estado, ao Distrito Federal ou a Município;
Ao atribuir ao TCU o exercício da fiscalização dos recursos repassados pela União aos demais entes federativos, o legislador constitucional demonstrou que, em caso de desvios na aplicação dos mencionados recursos, estar-se-á lesando precipuamente interesse da União. E, uma vez lesionado interesse da União, eventual ação de improbidade administrativa deverá ser ajuizada perante a Justiça Federal, conforme disposição do art. 109, inciso I, da Constituição Federal:
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;
O raciocínio acima encontra fundamento na linha que segue o Superior Tribunal de Justiça, que o materializou na súmula STJ nº 208, segundo a qual compete à justiça federal processar e julgar prefeito municipal por desvio de verba sujeita a prestação de contas perante órgão federal (STJ, Súmula n. 208, julgado em 27.5.1998).
Definida a competência da Justiça Federal, a legitimação do Ministério Público Federal e da União para a propositura da ação de improbidade administrativa infere-se da redação do art. 17 da Lei de Improbidade Administrativa (Lei nº 8.924/92):
Art. 17. A ação principal, que terá o rito ordinário, será proposta pelo Ministério Público ou pela pessoa jurídica interessada, dentro de trinta dias da efetivação da medida cautelar.
No caso, perante a Justiça Federal, o Ministério Público a que se refere o art. 17 da LIA deve ser entendido como Ministério Público Federal, e a pessoa jurídica interessada é, como explicitado anteriormente, a União.
(fontes: Cem perguntas e respostas sobre improbidade administrativa: incidência e aplicação da lei n. 8429/1992 / Coordenadora: Márcia Noll Barboza; colaboradores: Antonio do Passo Cabral ... [et al.] Brasília: ESMPU, 2008 pag. 76-77;
Súmula nº 208 STJ
Assunto não encontrado nos livros de José dos Santos Carvalho Filho e Maria Sylvia Zanella Di Pietro)
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Ponto 1.c. Meio ambiente e direitos fundamentais. Bens ambientais. Características.
Principais obras consultadas: AMADO, Frederico. Direito Ambiental Esquematizado. 3º Edição. Ed. Método. 2012
Legislação básica: CRFB/88, arts. 182, 215, 216 e 225; Lei 12.343/2010 (Plano Nacional de Cultura); Lei 12.651/2012 (Código Florestal)
A constitucionalização do direito ambiental é uma tendência mundial, em especial nas constituições sociais, cada vez mais analíticas. A previsão constitucional eleva a importância das regras e princípios ambientais e conferem a estes uma maior proteção jurídico-institucional. ANTÔNIO HERMAN BENJAMIN aponta os seguintes benefícios da constitucionalização do direito ambiental: subjetivamente – 6 ganhos: i. estabelecimento de um dever constitucional genérico de não degradar; ii. base do regime de explorabilidade limitada e condicionada; iii. ecologização da propriedade e da sua função social; iv. a proteção ambiental como direito fundamental; v. a legitimação constitucional da função estatal reguladora; vi. a redução da discricionariedade administrativa e a ampliação da participação pública. formalmente – 5 ganhos: i. máxima preeminência (superioridade) e proeminência (perceptibilidade) dos direitos ambientais; ii. deveres e princípios ambientais; iii. a segurança normativa; iv. a substituição do paradigma da legalidade ambiental para a constitucionalidade ambiental; v. controle de constitucionalidade da lei e o reforço exegético pró-ambiente das normas infraconstitucionais. No artigo “Jurisdição Constitucional Ambiental no Brasil” (p. 829 e seguintes), Walter Claudius Rothenburg afirma que o tema do ambiente deve ser considerado materialmente constitucional por se tratar de direito humano, seja por sua vinculação à saúde, à cultura, à democracia (participação e informação), seja como bem jurídico autônomo. A ligação do meio ambiente com a dignidade do ser humano é evidente. O direito a um ambiente ecologicamente equilibrado é considerado um direito social, de marcante feição prestacional, dito de terceira dimensão. Sua positivação nas constituições e em equivalentes internacionais, bem como sua afirmação por tribunais que realizam jurisdição constitucional, tudo isso mostra seu fortalecimento, sua possível passagem de direito humano frágil para direito humano forte. 
A CRFB reconheceu expressamente o direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado (art. 225, caput) sendo direito de terceira geração, com aplicabilidade imediata. O meio ambiente ecologicamente equilibrado é formalmente direito fundamental (previsão normativa) e materialmente direito fundamental (condição indispensável para a realização da dignidade da pessoa humana). Dessa forma, possui todas as características dos direitos fundamentais: a) historicidade; b) universalidade; c) irrenunciabilidade; d) inalienabilidade; e) limitabilidade e f) imprescritibilidade.
O STF já reconheceu, na ADPF n° 101, a existência dos “Princípios constitucionais (art. 225) a) do desenvolvimento sustentável e b) da equidade e responsabilidade intergeracional”, bem como que “a busca de desenvolvimento econômico sustentável” é um preceito fundamental. No julgamento, ratificou-se o entendimento manifestado na ADI 3.540-MC, nosentido de que a preservação do meio ambiente goza de regime de proteção especial, decorrente de sua própria expressão constitucional, enquanto direito fundamental que assiste à generalidade das pessoas. Ao final, o STF entendeu que “a importação de pneus usados ou remoldados afronta os preceitos constitucionais de saúde e do meio ambiente ecologicamente equilibrado (arts. 170, inc. I e VI e seu parágrafo único, 196 e 225 da Constituição do Brasil).
Efeitos importantes do reconhecimento como direito fundamental: i) imprescritibilidade da pretensão de reparação do dano ambiental – decorrência da imprescritibilidade dos Direitos Fundamentais. ii) vedação ao retrocesso ecológico e previsão de um mínimo existencial ecológico. iii) criação de deveres ambientais por simples ato regulamentar: efeito da eficácia imediata dos direitos fundamentais. 
Bens ambientais: Os bens ambientais são de uso comum do povo e têm como características ser autônomo, imaterial e de natureza difusa. A doutrina os classifica em: a) Meio Ambiente Natural (ou físico): são os elementos que existem mesmo sem a influência do homem. Art. 225, CRFB/88, Ex. solo, água, ar, fauna, flora.; b) Meio Ambiente Artificial: são os elementos criados pelo homem, na interação com a natureza. Ex.: casa, prédio, art. 182, CRFB/88; c) Meio Ambiente Cultural: são os elementos criados ou utilizados pelo homem, mas que detém valor especial para a sociedade. Ex.: valor científico, turístico, cultural, arqueológico, ligado à cultura, à memória arts. 215 e 216, da CRFB/88 e d) Meio Ambiente do Trabalho: consiste no ambiente de trabalho onde o homem exerce suas atividades laborais, podendo ser um espaço fechado ou aberto. Esse meio ambiente está previsto na CF no artigo 220, inciso VIII, tendo sido expressamente reconhecido pelo STF no julgamento da ADI 3540. e) Meio ambiente genético – controverso – o meio ambiente genético é composto pelos organismos vivos do planeta Terra, que formam a sua diversidade ecológica. A maioria da doutrina o entende abarcado no meio ambiente natural, contra Celso Antônio Pacheco Fiorillo e Terence Trennepohl.
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Ponto 2.a. Proteção jurídica da fauna.
Principais obras consultadas: Resumos dos Grupos do 25º e 26º CPR; AYALA, Patryck de Araújo. O princípio da precaução na constituição brasileira: aspectos da proteção jurídica da fauna. http://www.esmarn.tjrn.jus.br/revistas/index.php/revista_direito_e_liberdade/article/view/97
Legislação básica: CF, arts. 23, VII; 24, VI; 30; 225, caput, §1o, VII, §4o; Lei 5.197/1967 (proteção à fauna – Código de Caça); Decreto-lei 221/67 (Código de Pesca); Lei 10.519/02 (rodeios); Resolução CONAMA 303/02 (APP); Resolução CONAMA 302/02 (Reservatórios d’água artificiais); Lei 11.794/2008 (uso científico de animais); Lei 12.651/12 (Código Florestal).
Competência. No tocante à fauna, as competências material e legislativa são comuns entre todos os entes federativos.
Tutela jurídica. Da legislação infraconstitucional vale destacar, no tocante à fauna, o Código de Pesca, em que trata da captura da fauna aquática, com vistas meramente à sua atividade econômica, e o Código de Caça, em que se norteia um viés mais protecionista, direcionando-se ao direito ecológico, e no qual se dispôs efetivamente sobre a proteção à fauna, mais se aproximando dos ditames constitucionais. Insta observar que embora o Código de Caça tenha tratado somente da fauna silvestre, a Constituição Federal ampliou o leque de proteção da fauna tutelada. Cumpre registrar, ainda, o artigo 36 que institui o Conselho Nacional de Proteção à Fauna, órgão consultivo e normativo de proteção à fauna no país. A Declaração Universal dos Direitos dos Animais, da UNESCO, celebrada na Bélgica em 1978, e subscrita pelo Brasil, elenca entre os direitos dos animais o de “não ser humilhado para simples diversão ou ganhos comerciais”, bem como “não ser submetido a sofrimentos físicos ou comportamentais antinaturais”. A Carta da Terra, criada na RIO+5, em seu artigo 14 dispõe que devemos tratar todas as criaturas decentemente e protegê-las da crueldade, sofrimento e matança desnecessária. 
A CF, em seu artigo 225, § 1º, VII, não definiu o que vem a ser fauna. A Lei de Proteção à Fauna (Lei 5197/67), estabeleceu que “os animais de quaisquer espécies, em qualquer fase do seu desenvolvimento em que vivem naturalmente fora do cativeiro, constituem a fauna silvestre, sendo eles e seus ninhos, abrigos e criadouros naturais, de propriedades do Estado, sendo proibidas sua utilização, perseguição, destruição, caça ou apanha”. Delimitou, portanto, a fauna ambiental restringindo sua tutela à fauna silvestre e não à fauna doméstica, não sendo, portanto, toda a fauna objeto de tutela, já que protege apenas aqueles que vivem naturalmente fora do cativeiro. Tal limitação encontra guarida na própria Constituição Federal já que o artigo 225, § 1º, VII, agasalha a proteção da fauna, na forma da lei, sendo esta integrada por meio da Lei 5197/67. A Constituição, assim, emitiu o comando de que será a lei ordinária quem definirá o conceito de fauna, sendo possível ampliar-se o conceito atual de fauna. Para os fins legais, animais silvestres são os não domesticados, que vivem naturalmente fora do cativeiro e independentes do convívio humano. Ou seja, ainda que em determinada espécie haja indivíduos domesticados, os outros da mesma espécie não perderão o atributo de silvestre. A diferença entre animais domésticos e não domesticados reside na vida em liberdade, fora do cativeiro. O aprisionamento ou a reprodução em cativeiro de determinada espécie animal, sejam um zoológico, ou para abate, ou para convívio humano, não lhes retira o atributo de animais silvestre (Edis Milaré, Direito do Ambiente, RT, 2011). Como exemplo: a arara azul, apesar de ser originalmente classificada como animal silvestre, quando em cativeiro, é reclassificada. Desse modo, a arara azul que se encontra no zoológico de Brasília passa a ser considerada animal domesticado. 
Por outro lado, independentemente da definição da lei infraconstitucional, o fato é que a fauna é protegida constitucionalmente, justificando-se sua tutela quando: 1) as espécies estiverem ameaçadas de extinção; 2) imprescindível a sua proteção ecológica e 3) quando a lesão for praticada por meio de tratamento cruel. Como alerta Celso Fiorillo, em sua obra Manual do Direito Ambiental e Legislação aplicável, “ainda que os animais domésticos não possuam uma função ecológica e que, justamente por serem domesticados, não corram o risco de extinção, há que restar claro que como integrantes da coletiva fauna, devem ao menos, serem protegidos contra as práticas que sob os olhos humanos, lhes sejam cruéis”¹. Sob o ponto de vista constitucional, portanto, legítima a proteção ao animal doméstico, não havendo nenhum óbice à sua configuração como bem ambiental, dependendo apenas da constatação da crueldade ao animal doméstico, afetando o psique humano, não sendo obstáculo a mera definição da lei ordinária, até porque não restou impedida no âmbito constitucional.
Dever de preservar a fauna: Sobre o assunto, vale transcrever as seguintes passagens extraídas do voto do Min. Celso de Mello proferido no julgamento da ADI 1856 (lei do RJ que autoriza a realização de exposições e competições entre aves das raças combatentes). “O respeito pela fauna em geral atua como condição inafastável de subsistência e preservação do meio ambiente em que vivemos, nós, os próprios seres humanos. Evidente, desse modo, a íntima conexão que há entre o dever ético-jurídico de preservar a fauna (e de não incidir em práticas de crueldade contra animais), de um lado, e a própria subsistência do gênero humano em um meio ambiente ecologicamente equilibrado, de outro. Cabe reconhecer o impacto altamente negativo que representa para incolumidade do patrimônio ambiental dos seres humanos a prática de comportamentos predatórios e lesivos à fauna, seja colocando em risco a sua função ecológica, seja provocando a extinção de espécies, seja ainda submetendoos animais a atos de crueldade”. “O ordenamento constitucional brasileiro, para conferir efetividade e proteger a integridade do direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, visando, com tais objetivos, neutralizar o surgimento de conflitos intergeneracionais, impôs, ao Poder Público, dentre outras medidas essenciais, a obrigação de proteger a fauna, vedadas, para tanto, práticas que coloquem em risco sua função ecológica ou que provoquem a extinção de espécies ou, ainda, que submetam os animais a atos de crueldade.”
Preservação dos processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies: Para a conservação da variabilidade genética das espécies é de fundamental importância a dos espaços naturais pelo Poder Público, através da instituição de espaços territoriais especialmente protegidos. “A instituição de áreas protegidas deve privilegiar como objetivo não apenas a proteção dos próprios espaços naturais considerados em si mesmos, mas de todos os seus valores associados, na medida em que a proteção dos espaços também cumpre finalidades relacionadas, especialmente, à preservação ou conservação das condições, funções e processos ecológicos que neles se desenvolvem, independente de suas qualidades particulares. Desse modo, a atribuição de proteção especial a determinado espaço não restringe a atribuição de valor jurídico apenas à área enquanto espaço natural, integrando-se-lhe outras dimensões que a ela se encontram associadas de forma funcional. O espaço natural constitui elemento a partir do qual, diversas finalidades são atingidas, como v.g: a reprodução de usos tradicionais responsáveis pela conservação da própria biodiversidade, e, mais especificamente, a proteção de habitats de espécies.” (AYALA, op. cit.)
A proteção em face de estados de risco: “A proteção em face de estados e eventos com a aptidão potencial de produzir efeitos negativos irreversíveis sobre a sobrevivência das espécies e a integridade da fauna brasileira constitui a razão central que permite justificar comportamentos de previdência a partir do conhecimento parcial ou incompleto sobre os riscos.” A partir da noção da proteção em face da irreversibilidade, a CF no § 1º do art. 225 traz deveres específicos, de: a) garantir a preservação dos processos ecológicos essenciais; b) de prover o manejo sustentável das espécies, e especialmente; c) de conter quaisquer espécies de atividades ou comportamentos que possam expor as espécies e suas funções ecológicas a riscos em qualquer grau, abrangendo também o risco de grau máximo, que é representado pela ameaça de sua própria extinção. (AYALA, op. cit.)
Fauna e atividades perigosas: “Constatando-se a sensibilidade dos ecossistemas e de seus elementos naturais aos efeitos de substâncias químicas e atividades perigosas, a justificação de medidas tendentes a conter a exposição a esses eventos constitui problema fundamental para regulação pelo princípio da precaução.” Nesse sentido, a ratificação da Convenção de Estocolmo sobre os Poluentes Orgânicos Persistentes - Convenção POPs, promulgada pelo Decreto n° 5.472/2005, representa iniciativa importante para a consolidação de uma abordagem precaucional sobre as substâncias químicas, especialmente aquelas classificadas com poluentes orgânicos, que “têm propriedades tóxicas, são resistentes à degradação, bioacumulam-se, são transportados pelo ar, pela água e pelas espécies migratórias através das fronteiras internacionais e depositados distantes do local de sua liberação, onde se acumulam em ecossistemas terrestres e aquáticos. (Convenção POP)”
Fauna e a proibição de práticas cruéis: o elemento cultural na definição do sentido constitucional de crueldade. Rodeios e outros eventos em que se utilizam animais. A definição legal de rodeio está prevista no art. 1o, parágrafo único da Lei 10.519/02, e consiste nas “atividades de montaria ou de cronometragem e as provas de laço, nas quais são avaliados a habilidade do atleta em dominar o animal com perícia e o desempenho do próprio animal.”
Os rodeios, “farra do boi”, “briga de galo” são alguns dos eventos com características sociais altamente enraizados em várias regiões do Brasil, com reflexos altamente culturais e econômicos. Há evidente conflito de interesses tutelados constitucionalmente entre o bem cultural (arts. 215 e 216 da CF) e o bem ambiental (art. 225 da CF). Fato é que na história do mundo o ser humano sempre utilizou os animais, dependendo deles para sua sobrevivência e para o seu entretenimento, mas somente nos últimos tempos surgiram organizações não governamentais que tutelam a vida desses seres. Depois de vários movimentos sociais, reafirmou-se a concepção de que os animais devem ser realmente protegidos contra maus-tratos e crueldade, surgindo movimentos, campanhas e até mesmo demandas judiciais neste sentido. A propósito, o STF já declarou inconstitucionais as permissões para a “farra do boi” (RE 153531/SC) e as brigas de galo (ADI 1856), por afronta ao artigo 225, caput, e parágrafo 1º, inciso VII, da CF, nos quais sobressaem o dever jurídico de o Poder Público e a coletividade defender e preservar o meio ambiente, e a vedação, na forma da lei, das práticas que submetem os animais a crueldades”.
Utilização de animais em ensino e pesquisa: deve obedecer aos critérios estabelecidos na Lei 11.794/2008, que restringe a utilização de animais em atividades educacionais em estabelecimentos de ensino superior e em estabelecimentos de educação profissional técnica de nível médio da área biomédica.
Proteção perante ações que coloquem em risco a variabilidade genética: “Proteger o patrimônio genético, importa, especialmente, conservar condições que permitam a variabilidade genética das espécies, condição que é relevante principalmente para a fixação das condições de proteção das espécies ameaçadas. A condição de vulnerabilidade em que se encontram tais espécies coloca como principal objetivo o reestabelecimento das populações, que depende essencialmente da proteção da diversidade genética.” (AYALA, op. cit.)
Caça de animais silvestres. O Professor Paulo Nogueira Neto (citado por Paulo Affonso Leme Machado, pág. 829, Direito Ambiental Brasileiro, 18ª ed.) divide a caça em predatória e não predatória. A predatória compreende a caça profissional e a caça sanguinária. A caça não predatória abrange a caça de controle, a caça de subsistência e a caça esportiva. Vejamos : a) a caça profissional e a sanguinária são proibidas pela Lei nº 5.197/67. b) Na caça de controle, em que há “a destruição de animais silvestres considerados nocivos à agricultura ou à saúde pública”, a permissão deverá ser expressamente motivada pela autoridade pública, indicando quais os perigos concretos ou iminentes, qual a área de abrangência, as espécies nocivas e a duração da atividade destruidora. c) A caça esportiva é inclusive “estimulada” pela Lei de Proteção à Fauna de 1967, sendo segundo Paulo Affonso (p. 831): “somente aceito o esporte de caça apenas em áreas adrede preparadas para essa forma de lazer. Os parques de caça formados e manejados artificialmente, mantidos por associações de caçadores, possibilitariam ao verdadeiro desportista o mais fácil encontro com a caça, a ampliação dos períodos para o desporto, além de propiciar a organização de outros encontros de interesse dos caçadores, como exposições de material esportivo, cães de caça, armas, etc., sem contarmos com outros entretenimentos”. d) A caça de subsistência ou de sobrevivência não está prevista explicitamente pela lei. Praticam-na as populações indígenas nas reservas que lhes são reconhecidas, como também as populações interioranas que não têm acesso fácil aos produtos oriundos da fauna domesticada, sendo também situação em que a caça é permitida. e) A caça científica está permitida na Lei de Proteção à Fauna, em seu art. 14. Por fim, também foi autorizada a caça de animais silvestres no art. 6º da Lei nº 12.725/12.
Portanto, em síntese, podemos afirmar que são permitidas a caça de controle,a caça amadorística, a caça de subsistência ou sobrevivência, a científica e, por fim, a caça nas imediações de aeródromos.
Questões da prova oral:
O que são animais silvestres? 
Arara azul no zoológico de Brasília continua sendo animal silvestre? 
A fauna silvestre e a fauna doméstica possuem a mesma proteção ambiental?
A fauna pode ser conceituada como o conjunto de espécies animais de um determinado país ou região (MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. São Paulo: Malheiros, 1998, p. 644).
 No que tange à classificação da fauna, a mais utilizada é a divisão em fauna silvestre e doméstica, não obstante alguns indiquem a existência da fauna domesticada. Os animais silvestres seriam aqueles que vivem em liberdade. Os domésticos seriam os que vivem em cativeiro e, notadamente, na presença humana. Os chamados animais domesticados seriam os silvestres que passam a conviver em cativeiro.
Competência. No tocante à fauna, as competências material e legislativa são comuns entre todos os entes federativos.
Tutela jurídica. Da legislação infraconstitucional vale destacar, no tocante à fauna, o Código de Pesca, em que trata da captura da fauna aquática, com vistas meramente à sua atividade econômica, e o Código de Caça, em que se norteia um viés mais protecionista, direcionando-se ao direito ecológico, e no qual se dispôs efetivamente sobre a proteção à fauna, mais se aproximando dos ditames constitucionais. Insta observar que embora o Código de Caça tenha tratado somente da fauna silvestre, a Constituição Federal ampliou o leque de proteção da fauna tutelada. Cumpre registrar, ainda, o artigo 36 que institui o Conselho Nacional de Proteção à Fauna, órgão consultivo e normativo de proteção à fauna no país.
 A Declaração Universal dos Direitos dos Animais, da UNESCO, celebrada na Bélgica em 1978, e subscrita pelo Brasil, elenca entre os direitos dos animais o de “não ser humilhado para simples diversão ou ganhos comerciais”, bem como “não ser submetido a sofrimentos físicos ou comportamentais antinaturais”.
 A Carta da Terra, criada na RIO+5, em seu artigo 14 dispõe que devemos tratar todas as criaturas decentemente e protegê-las da crueldade, sofrimento e matança desnecessária.
 Sabido que a Constituição, em seu artigo 225, § 1º, VII, não definiu o que vem a ser fauna, conclusiva é a ascensão no sentido de que caberá ao legislador infraconstitucional conceituá-la e defini-la.
Investigando cientificamente a Lei de Proteção à Fauna (Lei 5197/67), verificamos que o legislador infraconstitucional estabeleceu que "os animais de quaisquer espécies, em qualquer fase do seu desenvolvimento em que vivem naturalmente fora do cativeiro, constituem a fauna silvestre, sendo eles e seus ninhos, abrigos e criadouros naturais, de propriedades do Estado, sendo proibidas sua utilização, perseguição, destruição, caça ou apanha".
Delimitou, portanto, a fauna ambiental restringindo sua tutela à fauna silvestre e não à fauna doméstica, não sendo, portanto, toda a fauna objeto de tutela, já que protege apenas aqueles que vivem naturalmente fora do cativeiro.
Tal limitação encontra guarida na própria Constituição Federal já que o artigo 225, § 1º, VII, agasalha a proteção da fauna, na forma da lei, sendo esta integrada por meio da Lei 5197/67.
A Constituição, assim, emitiu o comando de que será a lei ordinária quem definirá o conceito de fauna, sendo possível ampliar-se o conceito atual de fauna - até então restrito - bastando para tanto uma normatização em "lege ferenda", concluindo-se, entretanto, que por ora, a lei infraconstitucional atual não protege qualquer tipo de fauna, mas tão-somente a fauna silvestre.
Destarte, alterada ou não a lei infraconstitucional, o fato é que a fauna é protegida constitucionalmente, justificando-se sua tutela quando: 1) as espécies estiverem ameaçadas de extinção; 2) imprescindível a sua proteção ecológica e 3) quando a lesão for praticada por meio de tratamento cruel.
Esses três requisitos são assim, essenciais para legitimar constitucionalmente a proteção à fauna, cabendo a lei ordinária integrar-se em uma visão constitucional.
A lei ordinária e a Constituição trabalham portanto, pari passu, não havendo possibilidade de proteger-se a fauna sem que ambos os fundamentos estejam presentes de forma harmônica. Prova disso, constitui a questão da fauna doméstica.
Como alerta Celso Fiorillo, em sua obra Manual do Direito Ambiental e Legislação aplicável, "ainda que os animais domésticos não possuam uma função ecológica e que, justamente por serem domesticados, não corram o risco de extinção, há que restar claro que como integrantes da coletiva fauna, devem ao menos, serem protegidos contra as práticas que sob os olhos humanos, lhes sejam cruéis"¹.
Sob o ponto de vista constitucional, portanto, legítima a proteção ao animal doméstico, não havendo nenhum óbice à sua configuração como bem ambiental, dependendo apenas da constatação da crueldade ao animal doméstico, afetando o psique humano, não sendo obstáculo a mera definição da lei ordinária, até porque não restou impedida no âmbito constitucional.
Quando a caça de animais silvestres é permitida? 
A caça é permitida ou proibida? 
Preleciona-se que a permissão ou a proibição da caça dependerá de sua modalidade e das circunstâncias em que está inserida. Trata-se de questão que não encontra resposta pacífica na doutrina e na jurisprudência, contendo diversas nuances.
Paulo Affonso Leme Machado (Direto Ambiental Brasileiro, 13ª Edição, p. 757) aduz que a caça incontrolada tem causado a extinção de espécies e ameaça à fauna silvestre. Contudo, é de se ressaltar que o consumo de determinados animais está inserido na cadeia alimentar, de que o homem faz parte.
Nesse passo, faz-se necessário delimitar a modalidade de caça para responder se ela é permitida ou proibida.
Paulo Nogueira Neto divide a caça em predatória (subdividida em profissional e sanitária) e não predatória (subdividida em de controle, de subsistência e esportiva ou amadorística).
Segundo Nicolao Dino (Crimes e Infrações Administrativas Ambientais): a caça profissional (aquela destinada ao auferimento de lucros com o produto da atividade) está terminantemente proibida, constituindo, inclusive, crime (art. 29, § 5º Lei 9.605); a caça de controle é permitida (desde que haja permissão da autoridade pública); a caça esportiva ou amadorística também é permitida (atendidos os requisitos do art. 8º da Lei 5.197/67 e desde que obtida a devida autorização de caça); por fim, a caça de subsistência está permitida. O autor faz a ressalva no sentido de que estas modalidades de caça não predatória podem assim se tornar caso se constate o risco de extinção de alguma espécie. (Considerações do colega Alexandre Figueiredo).
Interessante observar, que como a caça em período proibido é uma majorante (§ 4º, inciso II) do delito do artigo 29 da Lei 9.605/98, ela, em tese, é permitida pela legislação infraconstitucional.
Frederico Amado (Direito Ambiental Esquematizado, 3ª Edição, p. 546) pondera que será atípica a conduta se houver licenciamento ambiental legítimo e adequadamente executado, a exemplo da caça esportiva, que em tese é possível, nos moldes do § 1º do artigo 1º da Lei 5.197/1967, de duvidosa recepção constitucional, pois a Constituição Federal veda condutas que sejam cruéis aos animais, máxime por mera diversão do homem.
Interesse anotar, nesse diapasão, que o Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade da lei fluminense que regulamentava as rinhas de galo. Embora o caso não trate de caça, os bens jurídicos em conflito possuem natureza equiparável. Na circunstância, por meio de um juízo de ponderação e de razoabilidade, prevaleceu o direito de proteção aos animais:
Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 1856, proposta pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e julgada procedente pela unanimidade dos ministros da Corte: O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) considerou inconstitucionala Lei estadual nº 2.895/98, do Rio de Janeiro, que autoriza e disciplina a realização de competições entre “galos combatentes”. A questão foi discutida na análise da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 1856, proposta pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e julgada procedente pela unanimidade dos ministros da Corte.
Para a PGR, a lei estadual afrontou o artigo 225, caput, parágrafo 1º, inciso VII, da Constituição Federal, “nos quais sobressaem o dever jurídico de o Poder Público e a coletividade defender e preservar o meio ambiente, e a vedação, na forma da lei, das práticas que submetem os animais a crueldades”. Conforme a ação, a lei questionada possibilita a prática de competição que submete os animais à crueldade (rinhas de brigas de galos) em flagrante violação ao mandamento constitucional proibitivo de práticas cruéis envolvendo animais.
Julgamento
Para o ministro Celso de Mello, a norma questionada está em “situação de conflito ostensivo com a Constituição Federal”, que veda a prática de crueldade contra animais. “O constituinte objetivou – com a proteção da fauna e com a vedação, dentre outras, de práticas que submetam os animais à crueldade – assegurar a efetividade do direito fundamental à preservação da integridade do meio ambiente, que traduz conceito amplo e abrangente das noções de meio ambiente natural, cultural, artificial (espaço urbano) e laboral”, salientou.
Ele recordou que este é o quarto caso similar apreciado pela Corte. Observou que a lei fluminense é idêntica a uma lei catarinense declarada inconstitucional pelo Plenário do Supremo no exame da ADI 2514. “A jurisprudência do Supremo mostra-se altamente positiva ao repudiar leis emanadas de estados-membros que, na verdade, culminam por viabilizar práticas cruéis contra animais em claro desafio ao que estabelece e proíbe a Constituição da República”, disse.
De acordo com o relator, as brigas de galo são inerentemente cruéis “e só podem ser apreciadas por indivíduos de personalidade pervertida e sádicos”. Ele afirmou que tais atos são incompatíveis com a CF, tendo em vista que as aves das raças combatentes são submetidas a maus tratos, “em competições promovidas por infratores do ordenamento constitucional e da legislação ambiental que transgridem com seu comportamento delinquencial a regra constante”.
Dever de preservar a fauna
“O respeito pela fauna em geral atua como condição inafastável de subsistência e preservação do meio ambiente em que vivemos, nós, os próprios seres humanos”, destacou o relator. “Cabe reconhecer o impacto altamente negativo que representa para incolumidade do patrimônio ambiental dos seres humanos a prática de comportamentos predatórios e lesivos à fauna, seja colocando em risco a sua função ecológica, seja provocando a extinção de espécies, seja ainda submetendo os animais a atos de crueldade”, completou Celso de Mello.
O ministro assinalou que o Supremo, em tema de crueldade contra animais, tem advertido em sucessivos julgamentos que a realização da referida prática mostra-se frontalmente incompatível com o disposto no artigo 225, parágrafo 1º, inciso VII, da Constituição da República. Ele citou como precedentes o Recurso Extraordinário (RE) 153531 e as ADIs 2514 e 3776, que dispõem não só sobre rinhas e brigas de galo mas sobre a “farra do boi”.
Esporte e manifestação cultural
O relator afirma que, em período anterior à vigência da Constituição Federal de 1988, o Supremo – em decisões proferidas há quase 60 anos – já enfatizava que as brigas de galos, por configurarem atos de crueldade contra as referidas aves, “deveriam expor-se à repressão penal do Estado”.
Assim, naquela época, a Corte já teria reconhecido que a briga de galo não é um simples esporte, pois maltrata os animais em treinamentos e lutas que culminam na morte das aves. O Supremo, conforme o ministro Celso de Mello, também rejeitou a alegação de que a prática de brigas de galo e da "farra do boi" pudessem caracterizar manifestação de índole cultural, fundados nos costumes e em práticas populares ocorridas no território nacional.
Celso de Mello ressaltou ainda que algumas pessoas dizem que a briga de galo “é prática desportiva ou como manifestação cultural ou folclórica”. No entanto, avaliou ser essa uma “patética tentativa de fraudar a aplicação da regra constitucional de proteção da fauna, vocacionada, entre outros nobres objetivos, a impedir a prática criminosa de atos de crueldade contra animais”.
Além da jurisprudência, o entendimento de que essas brigas constituem ato de crueldade contra os animais também seria compartilhado com a doutrina, segundo afirmou o ministro Celso de Mello. Conforme os autores lembrados pelo relator, a crueldade está relacionada à ideia de submeter o animal a um mal desnecessário.
Repúdio à prática
Os ministros, à unanimidade, acompanharam o voto do relator pela procedência da ADI. O ministro Ayres Britto afirmou que a Constituição repele a execução de animais, sob o prazer mórbido. “Esse tipo de crueldade caracteriza verdadeira tortura. Essa crueldade caracterizadora de tortura se manifesta no uso do derramamento de sangue e da mutilação física como um meio, porque o fim é a morte”, disse o ministro, ao comentar que o jogo só é valido se for praticado até morte de um dos galos.
“Os galos são seres vivos. Da tortura de um galo para a tortura de um ser humano é um passo, então não podemos deixar de coibir, com toda a energia, esse tipo de prática”, salientou. Ele também destacou que a Constituição Federal protege todos os animais sem discriminação de espécie ou de categoria. Já o ministro Marco Aurélio analisou que a lei local apresenta um vício formal, uma vez que “o trato da matéria teria que se dar em âmbito federal”.
Por sua vez, o ministro Cezar Peluso afirmou que a questão não está apenas proibida pelo artigo 225. “Ela ofende também a dignidade da pessoa humana porque, na verdade, ela implica de certo modo um estímulo às pulsões mais primitivas e irracionais do ser humano”, disse. Segundo o ministro, “a proibição também deita raiz nas proibições de todas as práticas que promovem, estimulam e incentivam essas coisas que diminuem o ser humano como tal e ofende, portanto, a proteção constitucional, a dignidade do ser humano”.
Por fim, cumpre registrar as seguintes ementas a respeito do tema:
ADMINISTRATIVO. CONSTITUCIONAL E AMBIENTAL. TEMPORADA DE CAÇA. ESTUDO DE MEIO AMBIENTE. INSUFICIÊNCIA. VIOLAÇÃO AO ART. 225 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. 1. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (art. 225 da CF). 2. O meio ambiente ecologicamente equilibrado consiste na preservação do ecossistema, que é o conjunto formado de elementos bióticos e abióticos, que atuam sobre determinada região. Esses elementos se relacionam de forma encadeada e qualquer alteração em um desses componentes compromete todo o ecossistema.3. A caça amadorística necessita de estudo ambiental, realizado pelo órgão público competente, para verificar quais os impactos que tal atividade causaria ao meio ambiente. No entanto, essas pesquisas somente levam em conta os dados estatísticos da população dos animais alvo de caça, o número de espécimes, o seu aumento ou a sua diminuição. Não considera o ecossistema no qual esses animais estão inseridos.4. Os estudos mostram-se insuficientes para autorizar a abertura da temporada de caça amadorística, uma vez que não faz o levantamento adequado dos possíveis impactos que o ambiente sofrerá com a atividade.5. Apelação improvidas. (22779 RS 2005.71.00.022779-3, Relator: ROGER RAUPP RIOS, Data de Julgamento: 04/08/2009, TRF4, TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: D.E. 19/08/2009).
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. TEMPORADA DE CAÇA AMADORÍSTICA. PROIBIÇÃO. ESTUDOS PARA SUBSIDIAR ATO NORMATIVO AUTORIZADOR DE FUTURAS TEMPORADAS DE CAÇA.1. Com a proibição da caçano Estado do Rio Grande do Sul, por força de decisão em outra ação civil pública, perde objeto a ação que pretende a condenação do IBAMA a rever os estudos ambientais concernentes à liberação da caça amadorística.2. Ademais, o fato de o IBAMA já ter adotado medidas administrativas relativas aos estudos para embasar futuras portarias autorizadoras da atividade da caça amadorística, de acordo com a determinação sentencial, revela conduta incompatível com a pretensão recursal, na qual defende a atual legislação regulamentadora da atividade. (33201 RS 2003.71.00.033201-4, Relator: JAIRO GILBERTO SCHAFER, Data de Julgamento: 01/09/2009, TRF4, TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: D.E. 16/09/2009).
Questões de prova objetiva
(25º CPR) ASSINALE A ALTERNATIVA INCORRETA:
a) ( ) a proteção dos recursos naturais necessários à subsistência física e cultural de populações tradicionais é um dos objetivos do Sistema Nacional de Unidades de Conservação, constituindo traço característico do socioambientalismo brasileiro;
b) ( ) a fauna silvestre constitui bem de domínio público, impondo-se ao poder público adotar medidas de controle de atividades de caça, sendo admissíveis, desde que mediante prévia outorga administrativa, a caça de controle, a caça científica e a caça profissional;
c) ( ) antes da realização de concessões florestais, as florestas públicas ocupadas ou utilizadas por comunidades tradicionais serão identificadas para destinação por meio de reservas extrativistas e reservas de desenvolvimento sustentável;
d) ( ) Independentemente das medidas de tutela estatal sobre a fauna silvestre e do consentimento do poder público em relação a atividades de caça previstas em lei, a utilização, perseguição, caça ou apanha de espécies da fauna silvestre podem ser proibidas em terras de domínio privado, por ato de seus respectivos titulares, cabendo a estes a adoção de medidas de fiscalização de seus domínios.
Comentários:
O item “a” é correto, conforme art. 4º, inciso XII, da Lei 9.985/2000: “O SNUC tem os seguintes objetivos: XIII - proteger os recursos naturais necessários à subsistência de populações tradicionais, respeitando e valorizando seu conhecimento e sua cultura e promovendo-as social e economicamente.”
O item “b” é incorreto, porque a caça profissional é expressamente proibida, conforme art. 2º da Lei n. 5.197/67: “Art. 2º É proibido o exercício da caça profissional.”
O item “c” é correto, conforme art. 6º, "caput" e inciso I, da Lei 11.284/2006:
“Art. 6º. Antes da realização das concessões florestais, as florestas públicas ocupadas ou utilizadas por comunidades locais serão identificadas para a destinação, pelos órgãos competentes, por meio de:
I - criação de reservas extrativistas e reservas de desenvolvimento sustentável, observados os requisitos previstos da Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000”.
O item “d” é correto, porque reproduz o conteúdo do §2º, do art. 1º, da Lei 5.197/67: § 2º A utilização, perseguição, caça ou apanha de espécies da fauna silvestre em terras de domínio privado, mesmo quando permitidas na forma do parágrafo anterior, poderão ser igualmente proibidas pelos respectivos proprietários, assumindo estes a responsabilidade de fiscalização de seus domínios. Nestas áreas, para a prática do ato de caça é necessário o consentimento expresso ou tácito dos proprietários, nos termos dos arts. 594, 595, 596, 597 e 598 do Código Civil.”
Gabarito oficial: B
	
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Ponto 2.b. Classificação dos atos administrativos. Atos administrativos simples, complexos e compostos. Atos administrativos unilaterais, bilaterais e multilaterais. Atos administrativos gerais e individuais.
Principais obras consultadas: Resumos dos Grupos do 25º e 26º CPR.
Quanto à composição da vontade produtora do ato, os atos administrativos são classificados em simples, compostos e complexos. a) Os atos administrativos simples são aqueles que resultam da manifestação de um único órgão, pouco importando a sua natureza, que pode ser singular ou colegiado, por exemplo, a concessão de férias, a autorização de uso de bem público e a decisão do Conselho de Contribuintes. Atos simples singulares decorrem da decisão de um único agente público, enquanto que os atos simples colegiais, da manifestação de várias vontades [1]; b) Os atos administrativos compostos identificam-se pela vontade única de um órgão, ficando, porém, na dependência de confirmação por outro superior a fim de adquirir perfeição, existência, validade e eficácia. Necessitam de ratificação por outro órgão, contudo podem ser anulados ou revogados antes disso[2]. Temos como exemplo a assinatura do ministro no decreto executivo – a referenda (art. 87, I, CF). Assim, apesar de haver múltiplas manifestações de vontade, há apenas uma vontade autônoma, sendo as demais manifestações meramente instrumentais (ex.: ato sujeito a visto); c) Os atos administrativos complexos caracterizam-se pela manifestação de vontade de mais de um órgão, sendo a vontade de um indispensável para que a vontade do outro igualmente se concretize – por exemplo, a aposentadoria de servidor público, sempre dependendo da homologação pelo Tribunal de Contas. Assim: “(...) acolhido pela jurisprudência do (...) Supremo Tribunal Federal, o ato de aposentadoria classifica-se como complexo e se perfaz pela manifestação do órgão concedente somada da aprovação do Tribunal de Contas local (...).”[3] Atos administrativos complexos “são aqueles cuja vontade final da Administração exige a intervenção de agentes ou órgãos diversos, havendo certa autonomia, ou conteúdo próprio, em cada uma das manifestações. Exemplo: a investidura do Ministro do STF se inicia pela escolha do Presidente da República; passa, após, pela aferição do Senado Federal; e culmina com a nomeação (art. 101, parágrafo único, CF).”[4]
Obs: Súmula Vinculante 03: “Nos processos perante o Tribunal de Contas da União asseguram-se o contraditório e a ampla defesa quando da decisão puder resultar anulação ou revogação de ato administrativo que beneficie o interessado, excetuada a apreciação da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma e pensão”. Explicação: sendo o ato de aposentadoria um ato complexo, ele apenas se perfectibiliza com a manifestação do Tribunal de Contas. Por isso, o prazo decadencial referido na Lei 9.487/99, o qual apenas começa a fluir com a publicação dessa manifestação (STF, MS 25.552, Tribunal Pleno, 2008). Registre-se que, em homenagem ao princípio da segurança jurídica, o STF fixou o entendimento de que o TCU deverá assegurar a ampla defesa e o contraditório nos casos de controle externo de legalidade para o registro de aposentadorias e pensões, quando for ultrapassado o período de cinco anos da chegada do processo administrativo no TCU sem que haja a sua manifestação (STF, MS 24.781, Tribunal Pleno, 2011). Cabe pontuar também que, “tratando-se, na impetração, de ato complexo, já aperfeiçoado, tem-se, como autoridade coatora, aquela que atuou na última etapa, formalizando-o” (STF, MS 24.872/DF).
Quanto à sua formação, os atos administrativos podem ser classificados em unilaterais, bilaterais e multilaterais. a) Ato administrativo unilateral é aquele que se forma com a manifestação de vontade de uma única parte (ex.: demissão de um funcionário, multas, autorizações, o ato do CSMPF que homologa a vitaliciedade do Procurador da República). Não afeta a unilateralidade a circunstância de o ato depender, para a sua produção ou para os seus efeitos, do concurso da vontade do particular, seja solicitando-lhe a prática, seja aceitando os seus efeitos (p.ex.: um pedido de alvará de licença para edificar ou de autorização para o porte de arma ou de aceitação da outorga de um prêmio, de uma comenda etc.); b) Ato administrativo bilateral é aquele formado por um acordo de vontade entre as partes. São os atos convencionais (ex.: contrato administrativo, concessão de serviço público); c) Ato administrativo multilateral é aquele formado pela manifestação de vontade de várias partes

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