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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Vanessa Maria Feletti
Direito Internacional Público e Privado
Sumário
Ponto 1.a. Desenvolvimento histórico do Direito Internacional. Terminologia. A sociedade internacional e suas características. Soberania e a atuação do Direito nas relações internacionais. Princípios que regem as relações internacionais do Brasil. 
Ponto 1.b. Fontes do Direito Internacional Público. Costume Internacional. Princípios Gerais. Jurisprudência e Doutrina. Atos Unilaterais. Decisões de Organizações Internacionais. Jus Cogens. Obrigações erga omnes. Soft Law. 
Ponto 1.c. Graves violações às Convenções de Genebra e crimes de guerra. Imprescritibilidade. Competência para processar e Investigação pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha. 
Ponto 2.a. Direito Internacional Privado. Evolução histórica. Conflito de leis e espécies de normas. 
Ponto 2.b. Organização Internacional. Características. Evolução. Espécies e finalidades. Regime jurídico. Santa Sé. Prerrogativas e imunidades no Brasil 
Ponto 2.c. Desaparecimento forçado como crime internacional. Crime de ius cogens. Normativa internacional. Imprescritibilidade. 
Ponto 3.a. Espaços Globais Comuns. Princípios. Patrimônio Comum da Humanidade. Alto Mar. Fundos Marinhos. Antártica. Ártico. Espaço Sideral. 
Ponto 3.b. Direito tributário internacional. Conceito. O fenômeno da bitributação. Acordos de bitributação. 
Ponto 3.c. Princípio uti possidetis. Descobrimento e ocupação como critérios de aquisição territorial. 
Ponto 4.a. Estados. Autodeterminação dos Povos. Reconhecimento do Estado e Governo. Direitos e Deveres. Território: aquisição e perda. Faixa de Fronteira. Rios Internacionais e Regimes Fluviais. Domínio Aéreo. 
Ponto 4.b. Tratados Internacionais. Reservas. Vícios de Consentimento. Entrada em vigor. Interpretação. Registro e Publicidade. Efeitos sobre Terceiros. Modalidades de Extinção. 
Ponto 4.c: Interpretação e aplicação do direito estrangeiro. Prova do Direito Estrangeiro. Ordem Pública e exceções à aplicação do direito estrangeiro 
Ponto 5.a. Estrangeiros. Entrada, permanência e saída regular. Direitos do Estrangeiro. Saída compulsória: deportação, expulsão 
Ponto 5.b. Imunidades. Imunidade pessoal e real. Imunidade cognitiva e executória. Imunidade diplomática e imunidade consular. Imunidade de Estados. Imunidade de ex-chefes de Estado. Regime de tropas estacionadas por força de tratado. 
Ponto 5.c. Uso da força no direito internacional: proibição (art. 2, para. 4, da Carta da ONU), direito de autodefesa ou de legítima defesa (art. 51 da Carta da ONU). Papel do Conselho de Segurança da ONU na garantia da paz e da segurança internacional. 
Ponto 6.a. Nacionalidade. Originária. Derivada. Apatridia. Polipatria. Perda da nacionalidade. Estatuto da igualdade: portugueses. Nacionais de países do Mercado Comum do Sul (Mercosul). 
Ponto 6.b. Soberania estatal. Conceito. Tipos: soberania interna e soberania externa. Princípio da igualdade soberana dos Estados. 
Ponto 6.c: Sucessão de Estados. Direitos e Deveres. Tratados e patrimônio 
Ponto 7.a. Tratados internacionais. Classificação. Terminologia. Negociação e competência negocial. Formas de expressão do consentimento. Conflito entre trados com as demais fontes. 
Ponto 7.b.Asilo. Refúgio. Regime Jurídico. Princípio do non-refoulement. Papel dos órgãos internos. A proteção ao brasileiro no exterior. 
Ponto 7.c. Responsabilidade internacional do Estado. Obrigações primárias e obrigações secundárias. Atribuição de atos a Estados. Reparação: restituição, indenização e satisfação. Obrigação de interrupção de ato ilícito continuado. Obrigação de não-repetição de ato ilícito. Obrigação de perseguir ilícitos penais internacionais 
Ponto 8.a. Solução pacífica de controvérsias: conceito, natureza e origem. Paradigma da Carta da ONU na solução pacífica de controvérsias: funções do Conselho de Segurança, da Assembleia-Geral, da Corte Internacional de Justiça. Arbitragem internacional e gestão diplomática. 
Ponto 8.b. Crimes contra a humanidade ou de lesa humanidade: definição, natureza consuetudinária, imprescritibilidade. Elementos dos crimes contra a humanidade: ataque à população civil, extensão, sistematicidade, elemento político. 
Ponto 8.c. Processo de formação e incorporação dos tratados internacionais. Hierarquia. Acordo Executivo. 78
Ponto 9.a. Crimes internacionais: conceito e classificação. Dever de perseguir e pretensão punitiva da comunidade internacional. 
Ponto 9.b. Auxílio direto e juízo de mérito. Competência da Justiça Federal e atribuições do Ministério Público Federal. Distinção da cooperação policial. Meios de auxílio: videoconferência, quebra de sigilo, interceptação telefônica. Partilha de ativos ("asset sharing"). 
Ponto 9.c. Organização das Nações Unidas. Desenvolvimento e principais órgãos. Corte Internacional de Justiça. Organizações regionais das Américas. 
Ponto 10.a. Direito Internacional Penal e Direito Penal Internacional: divergências e convergências. Implementação direta e indireta do Direito Internacional Penal. 
Ponto 10.b. Relação do Direito Internacional e o Direito Interno. Correntes doutrinárias. Como o Direito Interno vê o Direito Internacional. Como o Direito Internacional vê o Direito Interno. A Constituição brasileira e o Direito Internacional. 
Ponto 10.c. Conflitos internacionais e conflitos não-internacionais. Art. 3º comum às quatro Convenções de Genebra. Condições para a aplicação do Protocolo II de 1977. Convergências entre as garantias mínimas aplicáveis a conflitos não-internacionais e o regime de derrogações excepcionais do art. 27 da Convenção Americana de Direitos Humanos e do art. 4º do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos. 
Ponto 11.a. Tribunais internacionais ad hoc e tribunais mistos. Princípio da primazia da jurisdição penal internacional e suas mitigações. Dever de cooperar com os tribunais internacionais. 
Ponto 11.b. Desapropriação e seus reflexos no direito internacional. Proteção de nacionais desapropriados por Estado estrangeiro. Indenização devida. 
Ponto 11.c. Responsabilidade não-penal de indivíduos no direito internacional por sua participação em graves violações de direitos humanos. 
Ponto 12.a: Direito internacional humanitário. Ius in bello e ius ad bellum: convergências e divergências. Direito de Genebra e Direito da Haia. Princípio da distinção. Princípio da proteção. Princípio da necessidade militar. Princípio da proporcionalidade. 
Ponto 12.b: Extradição. Entrega. Execução de Sentenças Cíveis e Criminais. Transferência de presos. 
Ponto 12.c: Tortura como crime internacional. Definição do art. 1º da Convenção da ONU contra a Tortura de 1984 e definição do art. 2º da Convenção Interamericana contra a Tortura: convergências e divergências. 
Ponto 13.a. Comitê Internacional da Cruz Vermelha. Natureza jurídica. Acordo de sede e imunidades. Finalidades e funções de acordo com as Convenções de Genebra de 1949 e com os Protocolos I e II de 1977. 
Ponto 13.b. Indivíduo no Direito Internacional. Subjetividade jurídica controvertida. Responsabilidade individual penal derivada do Direito Internacional. 
Ponto 13.c: Redes internacionais de cooperação judiciária e entre ministérios públicos. Cooperação formal e informal. A Iber-Rede. A Associação Ibero-Americana de Ministérios Públicos. A Reunião Especializada de Ministérios Públicos do Mercosul. 
PONTO 14.a: Guerra contra o terror. Conceito de terrorismo. Atos de terror. “Combatentes ilegais”. Repressão internacional ao financiamento de atividades terroristas. 
Ponto 14.b: Assistência Jurídica Mútua. Convenções Bilaterais e Multilaterais. 
Ponto 14.c: Tribunal Penal Internacional: jurisdição ratione personae, ratione loci e ratione temporis. Princípio da complementaridade. Poderes do Conselho de Segurança da ONU sobre a jurisdição do Tribunal Penal Internacional. 
Ponto 15.a: Cooperação Jurídica Internacional. Evolução e fundamentos. Via diplomática. Via Autoridade Central.Via do contato direto e cooperação internacional entre Ministérios Públicos. 
Ponto 15.b: Direito de autotutela: sanções, sanções “inteligentes”, contra-medidas e represálias. 
Ponto 15.c: Responsabilidade internacional objetiva. Responsabilidade penal do Estado: conceito e controvérsias. Relação entre responsabilidade internacional do Estado e responsabilidade internacional penal do indivíduo. Julgar. 
Ponto 16.a. Dívidas estatais e garantia de credores no direito internacional. Doutrina Drago. Cláusula Calvo. Cláusula de estabilização 
Ponto 16.b.  Princípio da especialidade e dupla incriminação como condição de assistência jurídica em matéria penal. Exceção de crime político. 
Ponto 16.c: Prisão preventiva para fins de deportação, expulsão e extradição. Competência e pressupostos. 
Ponto17.a. Limites à aplicação do direito estrangeiro no Brasil. Ordem pública. Moral e bons costumes. Garantias fundamentais. 
Ponto 17.b. Princípios da fixação da Jurisdição internacional. Territorialidade e extraterritorialidade. Jurisdição universal: conceito, limites e controvérsias. 
Ponto 17.c. Repressão internacional ao trabalho e comércio escravo: histórico, base normativa e trabalho escravo contemporâneo. 
Ponto18 a. Direito Internacional do Meio Ambiente. Princípios. Poluição Atmosférica. Poluição Marinha. Recursos marinhos vivos. Biodiversidade, fauna e flora. 
Ponto 18 b. Carta rogatória: juízo delibatório, medidas cautelares com contraditório diferido, atos executórios e atos não-executórios. 
Ponto 18 c. Domínio marítimo. Mar Territorial. Zona Contígua. Plataforma Continental. Zona Econômica Exclusiva. Ilhas costeiras e oceânicas. Navios e aeronaves no Direito Internacional. 
Ponto 19.a: Comunicabilidade do estado civil. Homologação de sentença de divórcio. 
Ponto 19.b: Prestação de alimentos no estrangeiro. Convenção de Nova York de 1956. Atribuições do Ministério Público Federal como autoridade central. 
Ponto 19.c: Povos indígenas e comunidades tradicionais em face do Direito Internacional. Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho.  Declaração da ONU sobre os Direitos dos Povos Indígenas de 2007. 
Ponto 20.a. Efeitos civis do sequestro de crianças. Competência da Justiça Federal. Atribuições do Ministério Público Federal e da Advocacia Geral da União. Autoridade Administrativa Central. 
Ponto 20.b. Genocídio como crime internacional: conceito, natureza e incorporação no ordenamento jurídico brasileiro. Competência para seu processo e julgamento. 
Ponto 20.c: Direito da Integração Regional. Tipologia. Organização Internacional Supranacional. Mercado Comum do Sul. Evolução. Características. Estrutura. Principais atos institutivos. Relação com o Direito brasileiro. 
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Ponto 1.a. Desenvolvimento histórico do Direito Internacional. Terminologia. A sociedade internacional e suas características. Soberania e a atuação do Direito nas relações internacionais. Princípios que regem as relações internacionais do Brasil.
Principais obras consultadas: Santo Graal 27º; PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado, incluindo noções de Direitos Humanos e de Direito Comunitário, 4ª ed. Editora Jus Podivm; AMARAL JUNIOR, Alberto do. Curso de Direito Internacional Público. 3ª ed. Editora Atlas; SHAW, Malcolm N. Direito Internacional, 2010. Martins Editora.
Legislação básica: CRFB/88, art. 4º.
1. Desenvolvimento histórico do Direito Internacional: O Direito Internacional nasceu como ramo autônomo do Direito público na Europa do Século XVIII, com o Tratado de Westfalia (1648), que pôs fim à Guerra dos 30 anos. Hugo Grotius contribuiu para a sua autonomização.
O DIP está dividido em basicamente duas fases: na Fase clássica (1648-1918), marcada pelo Direito à Guerra (Jus ad bellum) e à colonização, o DIP se preocupa basicamente com o estudo das relações entre os Estados; na Fase moderna ou contemporânea (a partir do fim da Segunda Guerra Mundial), o seu enfoque passa a ser a proteção internacional da pessoa humana – começam a aparecer limitações ao poder soberano dos Estados; o uso da força no cenário internacional passa a ser regulado; a colonização é vedada; e a exaltação do Direito de Guerra (Jus in bello – Direito de Haia) e do Direito Humanitário (Direito de Genebra). Ocorre a especialização do DIP em ramos (ambiental, trabalho, etc.), proliferam-se as Organizações Internacionais e o indivíduo passa a ser considerado sujeito de Direito Internacional.
2. Terminologia: A terminologia “Direito Internacional” foi criada em 1780, por Jeremy Bentham, para distinguir o direito que cuida das relações entre os Estados do Direito Nacional e do Direito Municipal. A complementação “Direito Internacional Público” surgiu mais tarde na França, para diferenciar o DIP do DIPriv. Outros termos utilizados são “Direito das Gentes” ou “jus gentium” ou jus inter gentes.
3. A Sociedade internacional e suas características: Sociedade internacional é o “conjunto de vínculos entre diversas pessoas e entidades interdependentes entre si, que coexistem por diversos motivos e que estabelecem relações que reclamam a devida disciplina” (PORTELA:2012, p. 44-45). A vontade (racional) é o elemento decisivo para a aproximação dos seus membros. Eis o seu conceito: é um conjunto de vínculos entre pessoas e entidades interdependente entre si, que coexistem por diversos motivos e que estabelecem relações que reclamam a devida disciplina.
As características da sociedade internacional são a universalidade (abrange no mundo inteiro, embora o nível de integração varie bastante), a heterogeneidade (os atores que a compõem apresentam mudanças significativas dos pontos de vista social, econômico, político, educacional, etc.), a descentralização (não há um governo central), a cooperação (corolário da descentralização, importa na ausência de subordinação entre os seus atores), a descentralização (não há um poder central) e caráter paritário (igualdade jurídica entre seus membros. A crítica é que não há igualdade de fato, o que acaba por influenciar as relações internacionais). Parte da doutrina defende ser a sociedade internacional interestatal (ou seja, é composta meramente por Estados), mas há críticas a esse entendimento a partir do reconhecimento das organizações internacionais como sujeitos de Direito Internacional e com a crescente participação direta das ONGs, dos indivíduos e de outros agentes no cenário internacional.
Sociedade Internacional não se confunde com comunidade internacional ( A COMUNIDADE fundamenta-se em vínculos espontâneos, de caráter subjetivo, envolvendo identidade e relações culturais, emocionais, históricos, sociais, religiosos, familiares etc. Caracteriza-se também pela ausência de dominação, pela cumplicidade e pela identificação entre seus membros, cuja convivência é harmônica. Segundo entendimento doutrinário que prevalece, ainda não há uma comunidade internacional, visto que o que une os Estados são os seus interesses, inexistindo laços espontâneos. Há, contudo, quem defenda a existência de uma comunidade internacional, à luz de problemas globais, que se referem a todos os seres humanos, como a segurança alimentar, o meio-ambiente, desastres naturais etc. A SOCIEDADE, por outro lado, apoia-se na vontade dos seus integrantes, que decidiram se associar para atingir determinados objetivos. Aqui, a vontade exerce papel decisivo, promovendo a aproximação.
	Comunidade internacional
	Sociedade internacional
	Aproximação e vínculos espontâneos.
	Aproximação e vínculos intencionais.
	Aproximação por laços culturais, religiosos, linguísticos etc.
	Aproximação pela vontade.
	Identidade comum.
	Objetivos comuns.
	Ausência de dominação.
	Possibilidade de dominação.
	Cumplicidade entre os membros.
	Interesse.
4. Soberania e a atuação do Direito nas relações internacionais: o conceito de soberania foi primeiramente desenvolvido pelo filósofo francês Jean Bodin. Classicamente, designa “o poder de declarar, em última instância, a validadedo direito dentro de um certo território” (AMARAL JÚNIOR:2008 , p.99). Atualmente, entende-se soberania como o alcance de patamares de desenvolvimento econômico e social que garanta a um Estado a plena independência das suas decisões políticas, sem a necessidade de auxílios internacionais. Nesse sentido, soberania é um dos elementos constitutivos do Estado, possuindo um aspecto interno (supremacia dentro de um determinado território) e um aspecto internacional (igualdade formal entre os Estados na sociedade internacional e independência do ente estatal frente a outros Estados).
O Direito, seja o natural ou o positivo, atua nas relações internacionais como instrumento de respeito, cortesia, cooperação, relação que sustentam a horizontalidade e a igualdade jurídica entre os Estados componentes da ordem internacional. Os “Estados precisam do Direito para buscar atingir certos objetivos, que vão desde o bem-estar econômico até a promoção de uma ideologia, passando pela segurança ou pela simples sobrevivência” (SHAW:2010, 38). O Direito Internacional é uma cultura no sentido mais amplo do termo, na medida em que constitui um método de comunicação de pretensões, expectativas e previsões, além de fornecer uma estrutura que permite a avaliação e a priorização dessas demandas (SHAW:2010, 54).
5. Princípios que regem as relações internacionais do Brasil: estão previstos no art. 4º da CRFB/88, sendo eles: I. independência nacional; II. prevalência dos direitos humanos; III. autodeterminação dos povos; IV. não intervenção; V. igualdade entre os Estados; VI. defesa da paz; VII. solução pacífica dos conflitos; VIII. repúdio ao terrorismo e ao racismo; IX. Cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; e X. concessão de asilo político. Além disso, “a República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações” (art. 4º, parágrafo único).
PONTO EXTRA:
1. Conceito de DIP: O DIP é também chamado de Direito das Gentes, Direito Internacional e jus inter gentes. O DIP é o ramo do direito que tem sido tradicionalmente entendido como o conjunto das regras escritas e não-escritas que regula o comportamento dos Estados. Trata-se de concepção que remonta à Paz de Vestfália, com ênfase nos estados. Porém, Celso de Albuquerque Mello, em um conceito mai moderno, entende que o DIP é o conjunto de normas que regula as relações dos atores que compõem a sociedade internacional. Tais pessoas internacionais são os Estados, organizações internacionais, o indivíduo, empresas, organizações não-governamentais (ONGs) etc.
2. Objeto do DIP: Tradicionalmente, o objeto do DIP se restringia a limitar as competências de Estados e organizações internacionais, conferindo-lhes direitos e impondo-lhes obrigações, com vistas a reduzir a anarquia na sociedade internacional. 	Na atualidade, porém, o objeto do DIP vem-se ampliando, passando a incluir também a regulação da cooperação internacional, pautando o modo pelo qual os Estados, as organizações internacionais e outros atores deverão proceder para atingir objetivos comuns, normalmente ligados a problemas globais, como a proteção do meio ambiente, o a interesses regionais, a exemplo da integração regional. Em síntese, eis os objetivos do DIP: Reduzir a anarquia na sociedade internacional e delimitar as competências de seus membros; Regular a cooperação internacional; Conferir tutela adicional a bens jurídicos aos quais a sociedade internacional decidiu atribuir importância; Satisfazer interesses comuns dos Estados.
3. Fundamento do DIP: O estudo do fundamento do DIP visa a determinar o motivo pelo qual as normas internacionais são obrigatórias. Vejamos as correntes que tratam do assunto.
	Voluntarismo (corrente positivista)
	Objetivismo
	Caráter subjetivista, cujo elemento central é a vontade dos sujeitos do DIP. Os Estados e as organizações internacionais devem observar as normas do DIP porque expressaram livremente sua concordância em fazê-lo.
	Sustenta que a obrigatoriedade do DIP decorre da existência de princípios, valores ou regras mais relevantes. Tais normas surgiriam da própria dinâmica da sociedade internacional, independentemente da vontade dos sujeitos, colocando-se acima da vontade dos Estados.
	Vertentes:
AUTOLIMITACAO DA VONTADE (GEORG JELLINEK): o Estado, por sua própria vontade, submete-se às normas do DIP e limita sua soberania;
VONTADE COLETIVA (HEINRICH TRIEPEL): o DIP nasce não da vontade de um ente estatal, mas da conjugação das vontades unânimes de vários Estados, formando uma só vontade coletiva;
CONSENTIMENTO DAS NAÇÕES (HALL E OPPENHEIM): o fundamento do DIP é a vontade da maioria dos Estados de um grupo, exercida de maneira livre, mas sem exigência da unanimidade;
DELEGAÇÃO DO DIREITO INTERNO (OU “DIREITO ESTATAL INTERNO” 0 MAX WENZEL): o fundamento do DIP é encontrado no ordenamento nacional.
	Vertentes:
JUSNATURALISMO: as normas internacionais impõem-se naturalmente, por terem fundamento na própria natureza humana;
TEORIAS SOCIOLÓGICAS: as normas internacionais têm origem em um fato social que se impõe aos indivíduos;
TEORIA DA NORMA-BASE DE KELSEN: o fundamento do DIP é a norma hipotética fundamental, da qual decorrem todas as demais, inclusive as de direito interno.
DIREITOS FUNDAMENTAIS: o DIP fundamenta-se no fato de os Estados possuírem direitos que lhe são inerentes e que são oponíveis em relação a terceiros.
	Crítica: condiciona toda a regulamentação internacional à mera vontade dos Estados, normalmente vinculada a inúmeros condicionamentos.
	Crítica: minimiza o papel da vontade.
Para PORTELA, o fundamento do DIP efetivamente inclui elementos voluntaristas e objetivistas. 
Atenção: o exercício da vontade estatal não pode violar o jus cogens, conjunto de preceitos entendidos como imperativos e que, por sua importância, limitam essa vontade, nos termos da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, de 1969 (art. 53). 
4. Características do DIP: Para parte da doutrina, não existiria hierarquia entre as normas do DIP. Todavia, tal característica não cobre todas as situações que ocorram na sociedade internacional. Outras característica do DIP é a fragmentação e heterogeneidade das normas. Síntese das características do DIP: Dicotomia entre a relativização da soberania nacional e a manutenção da sua importância; Direito de coordenação; Ausência de poder central; Descentralização normativa; Obrigatoriedade; Possibilidade de sanções; Inexistência de hierarquia; Fragmentação; Existência de mecanismos de jurisdição.
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Ponto 1.b. Fontes do Direito Internacional Público. Costume Internacional. Princípios Gerais. Jurisprudência e Doutrina. Atos Unilaterais. Decisões de Organizações Internacionais. Jus Cogens. Obrigações erga omnes. Soft Law.
Principais obras consultadas: Santo Graal 27º; PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado, incluindo noções de Direitos Humanos e de Direito Comunitário, 5ª ed. Editora Jus Podivm; AMARAL JUNIOR, Alberto do. Curso de Direito Internacional Público. 3ª ed. Editora Atlas; SHAW, Malcolm N. Direito Internacional, 2010. Editora Martins Editora; RAMOS, André de Carvalho. Responsabilidade Internacional por Violação de Direitos Humanos, 1ª ed. Editora Renovar, 2004.
Legislação básica: Estatuto da Corte Internacional de Justiça; Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados.
1. Fontes do DIP: Fontes do Direito são os motivos que levam ao aparecimento da norma jurídica, bem como os modos pelos quais ela se manifesta. Vejamos:
	Fontes materiais
	Fontes formais
	São os elementos que provocam o aparecimento das normas jurídicas. Ex.: II Guerra Mundial. São também os fundamentos sociológicos das normas internacionais, a sua base política, moral ou econômica.
	São o modo de revelação e exteriorização da norma jurídica.
O art. 38 (1) do Estatuto da CIJ traz um rol exemplificativo das principais fontesformais do Direito Internacional. O referido diploma elencou: os tratados, os costumes e os princípios gerais do Direito como fontes, e fez referência à jurisprudência internacional e à doutrina como “meios auxiliares na determinação de direito”. 
Há quem classifique as 3 primeiras como fontes primárias, e as duas últimas como fontes secundárias do DIP.
OBS 1: A doutrina majoritária entende que não há hierarquia entre as fontes do DIP.
OBS 2: O Estatuto da CIJ estabelece que, não obstante as fontes elencadas, a solução para o conflito por se dar por ex aequo et Bono, ou seja, por equidade, se as partes assim concordarem. Atenção: a equidade é considerada uma fonte extra-estatutária [pois o Estatuto traz um rol exemplificativo].
OBS 3: As fontes extra-estatutária são: os atos unilaterais dos Estados, as decisões das organizações internacionais, o soft law, a analogia e o jus cogens.
OBS 4: o Contrato internacional e a Lex mercatória são considerados fontes de direito internacional privado.
2. Costume Internacional: resulta de uma prática geral aceita como sendo o direito. A parte que o invoca deve provar sua existência.
Compõe-se de dois elementos: (a) a prática generalizada, uniforme, constate e reiterada de determinados atos na esfera das relações internacionais ou no âmbito interno, com reflexos externos (elemento material ou objetivo), que deve ser justa e estar de acordo com o Direito Internacional; e (b) a “opinio juris”, ou seja, a convicção da justiça e da obrigatoriedade jurídica dos atos praticados (elemento subjetivo).
OBS 1: A mera reiteração de atos sem a convicção da sua obrigatoriedade não caracteriza um costume internacional.
OBS 2: A generalidade não se confunde com a unanimidade, bastando que um grupo amplo e representativo reconheça a sua obrigatoriedade. Também não é sinônimo de universalidade, pois há costumes regionais e até mesmo empregados exclusivamente em relações bilaterais.
OBS 3: conforme já caiu em prova do TRF2 (2011), o costume de determinada nação não pode ser usado na solução de conflitos internacionais. Ou seja, o costume deve ser internacional!
OBS 4: existe a possibilidade de que um sujeito de DIP não reconheça expressamente um costume existente ou em gestação, traduzida pela figura do PERSISTENT OBJECTOR. Muita atenção: esse princípio do OBJETOR PERSISTENTE já caiu em provas do CESPE!
OBS 5: Parte da doutrina entende que o costume internacional é fonte convencional, pois decorre e aceitação tácita ao longo do tempo (voluntaristas). Outra parte entende que é fonte não-convencional, pois se deu com o desenvolvimento da sociedade internacional (objetivistas). 
OBS 6: O costume internacional vincula? Depende da teoria adotada. Partindo da premissa voluntarista de que o fundamento do direito internacional repousa apenas na vontade dos atores internacional, o costume seria fruto de um acordo tácito entre sujeitos de direito internacional, diferenciando-se do tratado no sentido de que este existe a partir de uma manifestação expressa de acordo entre certas partes. Nesse sentido, o costume valeria apenas entre aqueles entes que implicitamente concordassem com certa prática e aceitassem seu caráter jurídico. Por outro lado, o entendimento objetivista vê o costume como uma manifestação sociológica, que obriga erga omnes quanto mais difundido fosse, vinculando inclusive Estados que com ele não concordaram. Em todo caso existe a possibilidade de um sujeito de direito internacional não reconheça expressamente um costume, que é a figura do persistent objector (opositor contínuo).
Formas de extinção do costume: O costume extingue-se pelo desuso (perda de um dos dois elementos acima descritos), pelo aparecimento de um novo costume que substitua outro anterior, ou por sua substituição por tratado internacional que incorpore as normas costumeiras (“Codificação do Direito Internacional”)
OBS 1: O fenômeno da codificação do direito internacional ( O costume vem sendo paulatinamente sendo substituído pelos tratados como fonte principal do direito internacional público, desde a Paz de Vestfália, pois os tratados oferecem maior estabilidade às relações, maior precisão de seu conteúdo (adota forma escrita), não cabe alegação que desconhece o tratado (pois o assinou) e é fácil constituir prova (o que pode ser complexo em relação ao costume). Por estas razões, os costumes vêm sendo integrados a textos de tratados, como é o caso da Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas de 1961, que reúne regras de relações diplomáticas que eram usadas há séculos como costume internacional.
OBS 2: Vantagens dos costumes ( Contribuir para a elucidação e aplicação do conteúdo dos tratados e é mais sensível e flexível À evolução das relações internacionais.
3. Princípios Gerais: originários do direito interno dos Estados, ascenderam para o Direito Internacional. Foram previstos no art. 38 para preencher as lacunas do sistema e evitar o non liquet (função interpretativa). Os princípios gerais do direito são normas de caráter mais genérico e abstrato que incorporam os valores que fundamentam a maioria dos sistemas mundiais. Ex.: proteção da dignidade da pessoa humana, pacta sunt servanda; boa-fé, devido processo legal, res judicata, boa fé, pacta sunt servanda, coisa julgada e direito adquirido. 
OBS: Para SHAW (2010, 86), a equidade é um princípio aplicável para a resolução de conflitos. Para outros, é uma fonte extra-estatutária.
Princípios gerais do DIP: Dentre os princípios gerais do DIP, destacamos: a soberania nacional; a não-intervenção; a igualdade jurídica entre os Estados; a autodeterminação dos povos; a prevalência dos direitos humanos; a cooperação internacional; a solução pacífica de conflitos; a proibição de ameaça ou de uso da força; e o esgotamento dos recursos internos antes do recurso a tribunais internacionais (princípio da subsidiariedade).
4. Jurisprudência e Doutrina: segundo o Estatuto da CIJ, são meios auxiliares na determinação do direito.
A Jurisprudência é formada pelo conjunto de decisões reiteradas das Cortes Internacionais (CIJ, CIDH, TPI) em um mesmo sentido. Segundo SHAW (2010, p. 87), “o grau de respeito conferido à Corte [CIJ] e às suas decisões faz com que suas opiniões sejam vitais para o crescimento e o cada vez mais amplo conhecimento do direito internacional”. A decisão da CIJ só será obrigatória para as partes litigantes e a respeito do caso em questão (art. 59, do estatuto da CIJ).
A Doutrina, como fonte auxiliar, tem como principal função “contribuir para a interpretação e aplicação da norma internacional, bem como para a formulação de novos princípios e regras jurídicas” (PORTELA:2012, 82). Tem que ser de produzida por juristas internacionalistas, que publicam textos internacionalmente e que sejam mundialmente reconhecidos. Ex. Hugo Grotius.
5. Atos Unilaterais: podem produzir importantes consequências jurídicas na seara internacional, independente da aceitação ou do envolvimento de outros entes estatais. Os atos unilaterais podem ser expressos (manifestam-se por declaração que adote a forma escrita ou oral) ou tácitos (configuram-se quando os Estados implicitamente aceitam determinada situação, normalmente pelo silêncio ou pela prática de ações compatíveis com o seu objeto). Vejamos alguns exemplos: a) PROTESTO:Manifestação expressa de discordância quanto a uma determinada situação, destinada ao transgressor de norma internacional e voltada a evitar que a conduta objeto do protesto se transforme em outra; b) NOTIFICAÇÃO: Ato pelo qual um Estado leva oficialmente ao conhecimento de outro ente estatal fato ou situação que pode produzir efeitos jurídicos, dando-lhe “a necessária certeza da informação”; c) RENÚNCIA: É a desistência de um direito. A bem da segurança jurídica, deve ser sempre expressa, nunca tácita ou presumida; d) DENÚNCIA: Ato pelo qual o Estado se desvincula de um tratado; e) RECONHECIMENTO: Ato expresso ou tácito de constatação e admissão da existência de certa situação que acarrete consequênciasjurídicas. Ex.: reconhecimento de Estado e de governo; f) PROMESSA: Compromisso jurídico de adoção de certa conduta; g) RUPTURA DAS RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS: Ato que suspende o diálogo oficial com um Estado nas relações internacionais.
6. Decisões de Organizações Internacionais: Podem ser internas (aplicáveis apenas ao funcionamento da organização) ou externas (voltados a tutelar direitos e obrigações de outros sujeitos de Direito Internacional). Os organismos internacionais podem praticar os mesmos atos unilaterais que os Estados. Contudo, há decisões típicas de organizações internacionais, como os atos preparatórios da negociação de tratados, a convocação de reuniões internacionais, as recomendações e resoluções. As Resoluções podem ser cogentes (impositivas, pois vinculam os sujeitos de Direito Internacional. Ex.: resoluções do CSONU) ou facultativas (não possuem força jurídica, são cumpridas voluntariamente pelos Estados por força moral ou política – “Power of shame” - Ex.: Resoluções da ONU, OMS, OMC, OIT, etc.). OBS: As resoluções deverão ser executadas no Brasil por meio de Decreto presidencial.
7. Jus Cogens: A norma de jus cogens é um preceito ao qual a sociedade internacional atribui importância maior e que, por isso, adquire primazia dentro da ordem jurídica internacional. Sua principal característica é a imperatividade de seus preceitos, ou seja, a impossibilidade de suas normas serem confrontadas ou derrogadas por qualquer outra norma internacional. Têm caráter de princípio geral. São normas aceites e reconhecidas pela comunidade internacional dos Estados no seu todo como norma cuja derrogação não é permitida e que só pode ser modificada por uma nova norma de direito internacional geral com a mesma natureza (art. 53 da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados – CVDT). Noutros termos, é um conjunto de preceitos que resguarda os mais importantes e valiosos interesses da sociedade internacional, como expressão de uma convicção, aceita em todas as partes do globo e que alcança profunda consciência de todas as nações, satisfazendo o superior interesse da comunidade internacional como um todo, como os fundamentos de uma sociedade internacional, sem os quais a inteira estrutura se romperia. Ex. vedação de tortura, de genocídio, de escravidão e de discriminação racial. Em virtude disso, caracteriza-se pela sua imperatividade e constitui restrição direta da soberania estatal.
A norma de jus cogens tem efeito erga omnes e o poder de derrogar tratado anterior ao seu surgimento (leva à nulidade o preceito anterior apenas a partir de seu surgimento, não gerando efeitos retroativos nem afetando a validade do acordo quando a norma cogente ainda não existia, ou seja, efeitos ex nunc, não havendo retroatividade) (art. 64 da CVDT). Ou seja: caso ocorra conflito entre norma de tratado e preceito de jus cogens superveniente é nulo todo o tratado que, no momento da sua conclusão, seja incompatível com o jus cogens (art. 53 da CVDT). Crítica de Portella: não deve ser todo o tratado nulo, e sim apenas a norma que viole o jus cogens, pois seria desproporcional.
OBS 1: O rol das normas de jus cogens não é expressamente definido. A definição de seu conteúdo é fruto de um processo histórico, político e social. Dentre as normas de jus cogens, destacam aquelas voltadas a tratar de temas como direitos humanos, proteção ao meio ambiente e promoção do desenvolvimento sustentável, paz e segurança, Direito de Guerra e Direito Humanitário, proscrição de armas de destruição em massa e direitos e deveres fundamentais dos Estados.
OBS 2: Tais normas não se confundem com o Direito Natural, embora tenham clara inspiração jusnaturalista. Não se tratam de preceitos imutáveis, mas sim de princípios e regras que podem mudar no tempo e no espaço, impedindo-se o seu “engessamento”.
OBS 3: As normas de jus cogens exigem consentimento dos Estados? Essa questão é polêmica. Para SEITEFUS, a norma cogente dispensa o consentimento dos Estados, o que lhe confere força erga omnes. PORTELA concorda. Para ele, condicionar a existência da norma à anuência de entes estatais tão díspares é pôr em risco valores essenciais para a convivência humana.
8. Obrigações Erga Omnes: são aquelas que criam deveres a serem observados por toda a comunidade de Estados. Essas obrigações foram conceituadas, em obiter dictum na sentença do caso Barcelona Traction (CIJ, 1972), como aquelas em que “tendo em vista a importância dos direitos em causa, todos os Estados podem ser considerados como tendo um interesse jurídico em que esses direitos sejam protegidos”. A CIJ já entendeu, em parecer consultivo, que o dever de respeitar o direito à autodeterminação dos povos é uma obrigação erga omnes.
Há uma nítida relação entre o jus cogens e as obrigações erga omnes, de modo que toda norma daquela categoria gera uma obrigação erga omnes. Segundo RAMOS, a obrigação erga omnes nasce da valoração da obrigação primária, gerando como consequência o dever de respeito por todos os Estados (2004, 340). Sua inobservância gera uma obrigação secundária, que é a legitimidade de todos os Estados da sociedade internacional de buscar a reparação pela violação perpetrada (RAMOS, 2004: 342).
9. Soft Law: Trata-se de nova modalidade normativa, de caráter mais flexível e de contornos ainda imprecisos, são regras cujo valor normativo seria limitado, seja porque os instrumentos que as contêm não seriam juridicamente obrigatórios, seja porque as disposições em causa, ainda que contidas num instrumento constringente, não criariam obrigações de direito positivo ou criariam obrigações pouco constringentes. São normas não-imperativas, não-vinculantes, que não têm sanção correspondente. 
A sanção pelo seu descumprimento é o embaraço internacional (Power of shame ou Power of embarrassment) e para serem cumpridas dependem da vontade dos Estados. Ex.: acordos de cavalheiros (gentlemen’s agreements), atas de reuniões internacionais, códigos de condutas, resoluções não-vinculantes de organismos internacionais (como a Declaração Universal dos Direitos Humanos).
São modalidades de soft law: Normas, jurídica ou não, de linguagem vaga e conteúdo aberto, ou ainda de caráter principiológico ou genérico, impossibilitando a identificação de regras claras e específicas; Normas que prevejam mecanismos de solução de controvérsias, como a conciliação e a mediação; Atos concertados entre os Estados que não adquiram forma de tratados e que não sejam obrigatórios; Atos das organizações internacionais que não sejam obrigatórios;
Dentre outras modalidades de diplomas normativos que podem ser considerados soft law, encontram-se: os acordos de cavalheiros (gentlemen’s agreementes); os acordos não vinculantes (non-binding agréments); os comunicados e declarações conjuntos; as atas de reuniões internacionais; os códigos de conduta; as declarações e resoluções não vinculantes de organismos internacionais etc.
Exemplos relevantes de soft law são: a Declaração Universal dos Direitos Humanos, as declarações de organismos internacionais relativos à saúde pública, as recomendações da OIT, a Lei Modelo de Arbitragem Internacional, a Carta Democrática Interamericana e a Declaração Sociolaboral do Mercosul.
PONTO EXTRA:
1. Analogia: Trata-se da aplicação a determinada situação de fato de uma norma jurídica feita para ser aplicada a caso parecido ou semelhante. Para parte da doutrina, a analogia é fonte do Direito Internacional. Entretanto, para outra parte da doutrina de Direito em geral, a analogia é apena meio de integração do ordenamento.
2. Equidade: A equidade consiste na aplicação de considerações de justiça a uma relação jurídica, quando não exista norma que a regule, ou quando o preceito cabível não é eficaz para solucionar, coerentemente e de maneira equânime, um conflito. O art. 38, parágrafo 2º, do Estatuto da CIJ consagra a equidade como ferramenta que pode levar à solução de conflitos internacionais. Mas atente: a equidade somente pode ser utilizada a partir da anuência expressa daspartes envolvidas no litígio.
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Ponto 1.c. Graves violações às Convenções de Genebra e crimes de guerra. Imprescritibilidade. Competência para processar e Investigação pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha.
Principais obras consultadas: Santo Graal 27º; PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado, incluindo noções de Direitos Humanos e de Direito Comunitário, 4ª ed. Editora Jus Podivm; AMARAL JUNIOR, Alberto do. Curso de Direito Internacional Público. 3ª ed. Editora Atlas; SHAW, Malcolm N. Direito Internacional, 2010. Editora Martins Editora; RAMOS, André de Carvalho. Responsabilidade Internacional por Violação de Direitos Humanos, 1ª ed. Editora Renovar, 2004.
Legislação básica: Estatuto da Corte Internacional de Justiça; Estatuto de Roma (Tribunal Penal Internacional); Convenções sobre a Resolução Pacífica de Controvérsias Internacionais de 1899 e 1907 (Conferências de Haia); Convenção relativa ao Tratamento de Prisioneiros de Guerra (III Convenção de Genebra de 1949); Convenção relativa à Proteção dos Civis em Tempo de Guerra (IV Convenção de Genebra de 1949); Protocolos Adicionais às Convenções de Genebra relativo à Proteção das Vítimas de Conflitos Armados Internacionais e Não-Internacionais (Protocolos I e II, de 1977); Convenção sobre a Imprescritibilidade dos Crimes de Guerra e dos Crimes Contra a Humanidade (Convenção de Nova York de 1968); Estatutos do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (http://www.icrc.org/por/resources/documents/misc/icrc-statutes-080503.htm).
Leituras complementares: Convenção para a Melhoria da Sorte dos Feridos e Enfermos dos Exércitos em Campanha (I Convenção de Genebra de 1949); Convenção para a Melhoria da Sorte dos Feridos, Enfermos e Náufragos das Forças Armadas no Mar (II Convenção de Genebra de 1949); Projeto de Lei nº 4.038/2008; Relatório do XV Encontro Nacional de Procuradoras e Procuradores dos Direitos do Cidadão (2009).
Graves violações às Convenções de Genebra: Crimes de guerra são atos ilícitos cometidos contra as normas do Direito de Guerra (Jus in bello - Direito de Haia) e do Direito Humanitário (Direito de Genebra) – que, juntos, formam um único sistema complexo: o Direito Humanitário Internacional – CIJ (SHAW, 2010).
As leis de guerra foram sistematizadas nas Convenções sobre a Resolução Pacífica de Controvérsias Internacionais (Conferências de Haia) de 1899 e 1907, nas quais foram adotadas várias convenções que tratavam da guerra terrestre e marítima. Após, vieram as quatro Convenções de Genebra de 1949 (“Convenções da Cruz Vermelha”), todas promulgadas pelo Brasil pelo Decreto nº 42.121/1957:
Convenção para a Melhoria da Sorte dos Feridos e Enfermos dos Exércitos em Campanha (I Convenção);
Convenção para a Melhoria da Sorte dos Feridos, Enfermos e Náufragos das Forças Armadas no Mar (II Convenção);
Convenção relativa ao Tratamento de Prisioneiros de Guerra (III Convenção); e
Convenção relativa à Proteção dos Civis em Tempo de Guerra (IV Convenção).
Em virtude do aumento do número de guerras revolucionárias de libertação nacional e civis após a Segunda Guerra mundial, as Convenções de Genebra foram atualizadas pelo Protocolo Adicional às Convenções de Genebra relativo à Proteção das Vítimas de Conflitos Armados Internacionais (Protocolo I) e Não-Internacionais (Protocolo II), ambos de 1977 e promulgados no Brasil pelo Decreto nº 849/1993.
A III Convenção (prisioneiros de guerra) considera violações: mutilação física, experiência médica ou científica de qualquer natureza que não seja justificada pelo tratamento médico do prisioneiro referido e no seu interesse, atos de violência ou intimidação, insultos, exposição à curiosidade pública e medidas de represália (arts. 13 e 14). Prisioneiros de guerra, após capturados, devem ser levados a locais nos quais não estejam expostos a perigos das zonas de combate, nem devem ser usados para tornar áreas imunes a operações militares (art. 23).
O conceito de civil, para fins de proteção pela IV Convenção, é dado por exclusão (basicamente, é qualquer indivíduo não-combatente – art. 50 do Protocolo I/1977). Em caso de dúvida, qualquer pessoa deve ser considerada civil. População e bens civis não podem ser alvo de ataque, sendo proibidos atos ou ameaças com objetivo de disseminar terror, ataques indiscriminados (atingem tanto objetivos militares quanto civis - arts. 51 e 57 do Protocolo I).
O direito das partes de escolher os meios de guerra não é ilimitado (art. 22, Conferência de Haia/1907), sendo proibido o uso de armas, projéteis ou materiais destinados a causar sofrimento desnecessário (art. 23). As violações e os crimes de guerra podem ocorrer em conflitos armados internos (o art. 3º, comum a todas as quatro Convenções de Genebra, fornece, para os conflitos armados não-internacionais no território de uma das partes, garantias mínimas para proteção dos que não tomaram parte nas hostilidades, bem como enfermos e feridos). Com o Protocolo II/1977, o citado artigo passou a ser aplicado a todos os conflitos armados não-internacionais no território de Estado-parte entre suas forças armadas e forças armadas dissidentes/grupos armados organizados (SHAW: 2010).
Crimes de guerra: o art. 6º do Acordo de Londres/1945 (que criou o Tribunal de Nuremberg) tipificou crimes de guerra, assim como o art. 3º do Estatuto do Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia (Resolução CSONU nº 827).
Segundo Bassiouni, os crimes de guerra consistem em categoria que envolve 71 instrumentos relevantes datados de 1854-1998, muitos dos quais corporificam, codificam ou evidenciam o direito internacional costumeiro – cuja regulação de conflitos armados também se aplica. A maioria de tais instrumentos foi delineada com clareza e especificidade suficientes, o que evidenciam suas características penais. Bassiouni menciona que as quatro Convenções de Genebra de 1949 e seus dois Protocolos adicionais são as codificações mais abrangentes e com as características penais mais específicas e aponta que se trata de jus cogens.
Atualmente, os crimes de guerra se encontram definidos no art. 8º do Estatuto de Roma (Tribunal Penal Internacional). Integra a definição de tais crimes a circunstância especial de serem parte integrante de um plano ou de uma política ou de uma prática em larga escala (art. 8.1).
Imprescritibilidade: Nem o Estatuto de Nuremberg/Tóquio, nem a Convenção sobre o Genocídio de 1948, nem as quatro Convenções de Genebra/1949 a preveem expressamente. Apesar disso, o Tribunal da Ex-Iugoslávia (Caso Furundzija) afirmou que “a natureza imperativa da proibição da tortura produz a imprescritibilidade desta infração, acrescentando que os crimes de competência da Corte não são prescritíveis” (estende o campo de aplicação da imprescritibilidade às violações graves das Convenções de Genebra de 1949, à infração das leis e costumes da guerra, ao genocídio e aos crimes contra a humanidade).
Apesar de a Assembleia Geral da ONU ter elaborado a Convenção sobre a Imprescritibilidade dos Crimes de Guerra e dos Crimes Contra a Humanidade (Convenção de Nova York, 1968), esta não obteve muitas ratificações, sendo criticada pela aplicação aos crimes cometidos antes de sua entrada em vigor (art. 1º); por outro lado, a Convenção Europeia sobre a Imprescritibilidade (Estrasburgo, 1974), que não previa a sua retroatividade, também só foi ratificada pelos Países Baixos/Romênia – o que evidencia a então falta de consenso sobre o tema.
OBS: por razões técnico-jurídicas brasileiras, o Brasil não ratificou a Convenção de Nova York! Entretanto, tramita na Câmara dos Deputados (janeiro/2012) o Projeto de Lei nº 4.038/2008, que estabelece, entre outras coisas, a imprescritibilidade dos crimes de guerra.
O Estatuto de Roma (TPI) adotou a imprescritibilidade expressa, geral e definitiva (ação penal e penas – art. 29/duas vertentes: obrigação de fazer com que tais crimes sejam imprescritíveis no âmbito interno dos Estados ou que os crimes são imprescritíveis perante oTPI apenas). Parte da doutrina considera que tal Estatuto tem efeito apenas declaratório de regra costumeira prévia; outros acreditam que a baixa adesão à Convenção demonstra a falta de consistência costumeira (ausência de opinio juris); parte da doutrina entende, ainda, que o art. 29 reflete o estado do direito internacional costumeiro ou configura norma costumeira em formação. OBS: não cabe a crítica da aplicação retroativa da imprescritibilidade no TPI!
A favor da imprescritibilidade: Relatório do XV Encontro Nacional de Procuradoras e Procuradores dos Direitos do Cidadão, 2009: “Como se tratam de crimes jus cogens, a prescritibilidade desses crimes pela inação do Estado não é admitida pelo direito costumeiro internacional. O Brasil não firmou a Convenção da ONU sobre crimes imprescritíveis, mas esta tem efeito declaratório e não constitutivo, expressa um consenso”. No mesmo sentido, Debate sobre a imprescritibilidade da tortura/ desaparecimento forçado, que se aplicam ao tema: “Marcelo Miller – PRDC/ RJ –(...) O primeiro ponto diz respeito à existência de um costume de imprescritibilidade com base na Convenção das Nações Unidas, que até a década de 30 tinha poucos Estados partes, não se podendo falar assim de prática reiterada. Falar de um conteúdo declaratório da Convenção é também uma dificuldade, porque a convenção estabelece apenas um dever de se criar imprescritibilidades e não as declara. E esse costume de imprescritibilidade seria oponível perante a ordem internacional e não interna. Também quando o TPI fala nos crimes mais graves de violação aos direitos humanos exigem uma tipificação além da prevista no Estatuto de Roma. Eugênio Aragão – Compreendo suas ponderações. O assunto não é fechado. Entendo que o Tratado de Roma para obrigar os Estados a legislarem antes declaram a imprescritibilidade desses crimes”.
Competência para processar: A jurisdição do TPI limita-se a crimes cometidos após 1º/07/2002, atuando de forma complementar aos sistemas nacionais. Também é possível a jurisdição universal por parte dos Estados. Lembrar que o exercício da jurisdição penal internacional pelos Estados é, em regra, livre, cabendo ao Estado que se opõe comprovar o impedimento: CIJ, Caso Lótus (Império Turco x França); e Caso Bélgica x Congo. A competência do TPI está restrita aos crimes de guerra previstos no tratado que o criou (nullum crimen sine lege). Não basta subsunção formal ao art. 8º do Estatuto de Roma, mas também lesão efetiva à comunidade internacional (art. 17.1.d). Restringe-se aos crimes ocorridos no território de Estado-parte ou réu nacional de Estado-parte (iniciativa do Procurador/Estado-parte)
Para os crimes anteriores houve a criação de Tribunais “ad hoc” (Iugoslávia, Ruanda, Tóquio) – que, por definição, julgam crimes anteriores à sua constituição. Não há limitações territoriais quando a iniciativa é do Conselho de Segurança da ONU (Sudão x Líbia).
Investigação pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha: O Comitê é competente para cuidar da assistência à pessoa nos conflitos armados/catástrofes/tragédias, naturais ou não. É competente também para velar pela aplicação do Direito Humanitário por parte dos Estados, para o que tem poderes inclusive para investigá-los ou para servir de intermediário entre entes estatais em tratativas que envolvam matéria humanitária (PORTELA, 2009).
A competência investigativa pode ser extraída do artigo 4º do Estatuto do CICV: "1. O papel do CICV será: c) empreender as tarefas determinadas pela Convenção de Genebra, trabalhar pelo cumprimento correto do Direito Internacional Humanitário em casos de conflitos armados e tomar conhecimento de quaisquer queixas baseadas em supostos casos de desrespeito deste direito; 2. Na qualidade de instituição neutra, independente e de intermediação, o CICV pode promover qualquer iniciativa humanitária que tenha relação com o seu papel, e pode examinar qualquer problema que necessite de análise por uma instituição deste tipo".
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Ponto 2.a. Direito Internacional Privado. Evolução histórica. Conflito de leis e espécies de normas.
Principais obras consultadas: Santo Graal 27º; PORTELA, P. H. G. Direito internacional público e privado. 5ª Edição. Ed. Jus Podivm, 2011. DOLINGER, J. Direito internacional privado. 4ª Edição. Ed. Renovar, 1997. STRENGER, Irineu. Direito internacional privado, 5ª ed. S. Paulo: Ltr, 2003.
Legislação básica: Código Bustamante (Decreto 18.871/1929) e LINDB (DL 4.657/1942)..
Conceito: O Direito Internacional Privado regula os conflitos de leis no espaço, cuidando, essencialmente, de estabelecer critérios para determinar qual a norma, nacional ou estrangeira, aplicável a relações privadas com conexão internacional, ou seja, que transcendem os limites nacionais e sobre as quais incidiria mais de uma ordem jurídica (PORTELA, 2011, p. 58).
Regra geral: a norma a ser aplicada deve ser oriunda da ordem jurídica do Estado com a qual a relação com conexão internacional esteja mais estreitamente ligada. Obs.1: as normas em questão são meramente indicativas (apenas indicam qual norma, nacional ou estrangeira, deve ser aplicada ao caso). Obs.2: também é objetivo do DIPrivado: cooperação jurídica internacional, direitos adquiridos no exterior, questões pessoais de interesse internacional.
Embora consagrada, a expressão “direito internacional privado” costuma ser criticada, pois o ramo jurídico a que se refere integraria o direito interno e abrangeria, p. ex., questões processuais, alheias ao direito privado.
De fato, o objeto do direito internacional privado inclui: (1) conflito de leis interespacial ou interpessoal (possibilidade de aplicação simultânea de mais de um sistema jurídico para regular determinada situação — para DOLINGER (1997, p. 23), podem colidir até mesmo sistemas pessoais diversos, como os baseados em etnias); (2) conflito de jurisdições; (3) cooperação jurídica internacional, incluindo o reconhecimento de sentenças estrangeiras.
Na França, diversamente do que ocorre nos EUA, parte da doutrina inclui no DIPRI: (1) nacionalidade, aqui entendida como a caracterização dos nacionais do Estado; (2) condição jurídica do estrangeiro no País; por outro lado, exclui-se o que “não corresponde ao direito privado”, como, p. ex., extradição. Atualmente, a exemplo de VALLADÃO, a doutrina brasileira tende a congregar a opção americana e a francesa, com algumas variações.
Tomando a antiguidade como ponto de partida, DOLINGER cita FUSTEL DE COULANGES, em seu clássico “A Cidade Antiga”, no qual este autor realça as limitações e distinções impostas aos estrangeiros, aos quais eram vedados de participar do direito da cidade. Na Grécia e Roma o estrangeiro não tinha direitos, pois estes derivavam exclusivamente da religião, da qual o alienígena era excluído. Daí porque não podia ser proprietário, não podia casar, os filhos nascidos de um cidadão e uma estrangeira eram considerados bastardos, não podia contratar, nem herdar, e dele nada podia ser herdado. Enfim, aos estrangeiros as leis da cidade não existiam.
Sécs. XII e ss.: o comércio entre cidades do norte da Itália (Módena, Florença, Gênova, Veneza, dentre outras) e províncias francesas cria situações de conflito de leis no espaço. Começam daí a reduzir a escritos o seu próprio direito consuetudinário, ocupando-se principalmente das relações jurídicas de direito privado, de modo a regular os novos conflitos exsurgentes com o fluxo crescente de pessoas de diferentes partes, atraídas pela perspectiva de ganho.
1849: a consolidação científica do DIPRI dá-se em 1849, em obra de SAVIGNY, que propõe encontrar a sede da relação jurídica para determinar se aplicável a lei nacional ou estrangeira: “Abandonando o unilateralismo, a ideia que o legislador só poderia criar normas que se aplicassem em seu território e a seus nacionais, Savigny pregava a igualdade entre direitos e uma comunidade de direito entre as nações, a permitir o bilateralismo, isto é, a aplicação em pé de igualdade da lei nacional ou da lei estrangeira”(MARQUES, 2008, p. 335).
1928: Na América Latina, busca-se de modo pioneiro a codificação do DIPRI, a exemplo do Código Bustamante. Posteriormente, as cortes norte-americanas criticam a indiferença com o resultado material na solução do conflito de leis no método europeu e, nos anos 60, passam a considerar o resultado material na escolha da norma a ser aplicada especialmente em matéria contratual e de responsabilidade civil (busca da justiça substancial no caso concreto – Caso Babcock/1963: troca da regra de conexão clássica “lex loci delicti�” pela flexível “proper law of the tort�”). Na Europa, atualmente, a evolução do DIPRI, propulsionada pelas normas comunitárias, levou ao pluralismo de métodos (recurso a regras materiais de DIPRI e regras alternativas) e flexibilização das normas de conflito (cláusulas de exceção e adoção de princípios como o da proximidade). A evolução recente do DIPRI na América Latina, foi provocada pela OEA (CIDIPs), iniciativas do Mercosul e reformas legislativas em alguns países. No Brasil, o DIPRI tradicional está incorporado à Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (1942), e a evolução faz-se sentir especialmente nos tratados.
Fontes: São as seguintes: leis, tratados (ex.: Convenção de Direito Internacional Privado, de 1928 – Código Bustamante – Decreto 18.871/1929), costume, jurisprudência, doutrina, princípios gerais do Direito, princípios gerais do Direito Internacional Privado, atos de organizações internacionais e o soft law. Em síntese: todas as fontes do DIP + lei interna (no Brasil, ganha destaque a LINDB). Obs.: os CONTRATOS INTERNACIONAIS NÃO SÃO FONTES!
Notas da Conferência de Haia de Direito Internacional Privado: Essa Conferência de Haia foi criada em 1951 (Decreto 3.832/2001), alterada pelo Estatuto Emendado da Conferência de Haia de Direito Internacional Privado, de 2005 (Decreto 7.156/10). Tem como objetivo trabalhar para a unificação progressiva das regras de DIPrivado no mundo. Podem ser membros da Conferência ESTADOS ou QUALQUER “ORGANIZAÇÃO REGIONAL DE INTEGRAÇÃO ECONÔMICA” que aceite o Estatuto da Conferência, desde que manifeste interesse a respeito, que seja composta unicamente por Estados soberanos e que estes “tenham transferido à organização a competência sobre uma gama de assuntos dentro do campo de ação da Conferência, inclusive a autoridade para tomar decisões vinculantes para seus Estados-Membros”. Suas reuniões ordinárias são a cada 4 anos. O órgão encarregado do funcionamento é o Conselho de Assuntos Gerais e Política. O Conselho garantirá o funcionamento da Conferência por meio de uma Secretaria Permanente, sediada em Haia/HOL, formada por um Secretário-Geral e quatro Secretários, nomeados pelo Governo holandês.
Aplicação da lei no espaço: O DIPrivado começa a se desenvolver, na doutrina, a partir do norte-americano JOSEPH STORY, o alemão FRIEDRICH KARL VON SAVIGNY e o italiano PASQUALE MANCINI. A principal contribuição de STORY foi a consagração da noção de territorialidade do DIPrivado e a definição de seu caráter de “Direito nacional”. SAVIGNY, por seu turno, conferiu um caráter internacional ao DIPrivado. Por fim, MANCINI enfatizou a nacionalidade como um elemento de conexão mais importante. Tais idéias influenciaram o Brasil, que adotou o critério do domicílio como principal elemento de conexão.
Conflito de leis: Acerca do conflito de leis, pode-se afirmar que a principal tarefa do direito internacional privado é a de procurar qual a solução adequada para resolver um conflito de leis no espaço. Este pode ser considerado o objeto básico do direito internacional privado. Nesse ponto, vale referir que duas escolas divergem acerca do objeto do direito internacional privado. São elas a (a) Escola Francesa: diz que o Direito Internacional Privado possui cinco objetos: conflito de leis, conflito de jurisdição, direitos adquiridos, nacionalidade e condição jurídica do estrangeiro; e a (b) Escola Anglo-americana: diz que o Direito Internacional Privado só possui um objeto, que é o conflito de leis. Essa é a corrente adotada no Brasil.
O conflito surge do contato entre ordens jurídicas diferentes. O Direito Internacional Privado soluciona o conflito de forma indireta, pois ele apenas indica a norma a ser aplicada de acordo com cada caso concreto em que se envolva um estrangeiro. Ex: o juiz brasileiro em determinados casos pode aplicar lei estrangeira aqui no Brasil (vide LINDB, art. 7º, § 4º).
Logo, a norma de DIPrivado não é norma de direito, mas sim de sobredireito: é INDIRETA, INDICATIVA OU SUPERORDENAMENTO. Mas se ligue: além dessas normas, o DIPrivado contém normas de CARÁTER CONCEITUAL/QUALIFICADORA, bem como NORMAS DIRETAS (ex.: normas sobre nacionalidade e condição jurídica de estrangeiro).
Objetos de conexão e elementos de conexão: veja o quadro abaixo.
	Objetos de conexão
	Elementos de conexão
	Refere-se à MATÉRIA TRATADA PELA NORMA. Ex.: casamento, divórcio, domicílio, capacidade civil etc.
	INDICA A LEI A SER APLICADA. É o critério.
Podem ser PESSOAIS (nacionalidade, domicílio e residência), REAIS (localização do bem) e CONDUCISTAS (local de celebração/execução do contrato).
Vejamos os tipos de elementos de conexão:
	2.3.1 DOMICÍLIO
	É o principal. Em regra, aplica-se aos conflitos de leis no espaço a norma do domicílio de uma das partes. 
Obs.: o Brasil ainda não ratificou a Convenção Interamericana sobre o Domicílio das Pessoas Físicas, firmada em Montevidéu, 1979.
Pelo DIPrivado, CADA PESSOA SÓ PODE TER UM DOMICÍLIO.
LINDB: “Art. 7o A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família.”
Também a CAPACIDADE PARA CASAR é regulada pelo domicílio (“§ 1o Realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei brasileira quanto aos impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração”).
O REGIME DE BENS DO CASAMENTO também, desde o domicílio dos cônjuges seja o mesmo. Se forem diversos, aplica-se a LEI DO PRIMEIRO DOMICÍLIO CONJUGAL.
SUCESSÃO POR MORTE obedece à lei do domicílio do defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a situação dos bens. O mesmo para a CAPACIDADE DO HERDEIRO OU DO LEGATÁRIO.
Aplicar-se-á a lei do domicílio do proprietário QUANTO AOS BENS MÓVEIS que ele trouxer ou que se destinarem a transporte para outros lugares (art. 8º, §2º).
Por fim, o PENHOR também é regulado pela lei do domicílio da pessoa em cuja posse se encontre a coisa empenhada.
Nos casos de INVALIDADE DE CASAMENTO, se os domicílios forem diversos, prevalece o do primeiro domicílio conjugal.
	2.3.2 NACIONALIDADE
	Não é mais o elemento principal, mais é ainda empregado pelo art. 18 da LINDB: “Art. 18. Tratando-se de brasileiros, são competentes as autoridades consulares brasileiras para lhes celebrar o casamento e os mais atos de Registro Civil e de tabelionato, inclusive o registro de nascimento e de óbito dos filhos de brasileiro ou brasileira nascido no país da sede do Consulado.”.
Quando uma pessoa é apátrida ou refugiado no Brasil, aplica-se a lei de seu domicílio ou, em sua falta, a de sua residência (Convenção sobre o Estatuto dos Apátridas, de 1954).
	2.3.3 LEX FORI
	Incide quando o Direito estrangeiro não for aplicável ou verificável.
	2.3.4 LEX REI SITAE
	PARA QUALIFICAR BENS E REGULAR AS RELAÇÕES A ELES CONCERNENTES ( Local onde situados.
Aplica-se aos BENS IMÓVEIS E MÓVEIS DE SITUAÇÃO PERMANENTE: “Art. 8o Para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se-á a lei do país em que estiverem situados”.
Para RECHSTEINER, esse critério só se aplica aos bens corpóreos, e não aos bens imateriais.
	2.3.5 LEX LOCI DELICTI COMISSI
	É a norma do local onde o ilícito foi praticado. Esse critério é utilizado para OBRIGAÇÕES EXTRACONTRATUAIS que induzem à responsabilidade civil pela prática de atos ilícitos.
	2.3.6 LEX LOCI EXECUTIONIS/LEX LOCI SOLUTIONIS
	O critério da norma do local de execução de um contrato ou de umaobrigação é aplicável:
nos CONTRATOS DE TRABALHO (Súmula 207/TST);
quando A OBRIGAÇÃO TIVER DE SER CUMPRIDA NO BRASIL (art. 12, LINDB).
	2.3.7 LOCUS REGIT ACTUM/LEX LOCI CONTRATUS/LUGAR DA OBRIGAÇÃO
	A lei do local de constituição da obrigação é aplicável para QUALIFICAR E REGER AS OBRIGAÇÕES: “Art. 9o Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituirem.”.
Convém ressaltar que a obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar onde teria sido FEITA A PROPOSTA (art. 9º, §2º).
E mais: “§ 1o Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e dependendo de forma essencial, será esta observada, admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto aos requisitos extrínsecos do ato”.
Se ligue: de acordo com o art. 585, §2º, do CPC, “o título executivo extrajudicial, para ter eficácia executiva no Brasil, deve satisfazer aos requisitos de formação exigidos pela lei do LUGAR DE SUA CELEBRAÇÃO e INDICAR O BRASIL COMO LOCAL DE CUMPRIMENTO DA OBRIGAÇÃO”.
	2.3.8 AUTONOMIA DA VONTADE
	É possível que as partes escolham o Direito aplicável, se o Estado permitir e dentro das condições que o ordenamento estabelecer.
A escolha poderá ser EXPRESSA ou TÁCITA.
No Brasil, ela ainda não é expressamente reconhecida. Contudo, dispõe o art. 9o da LINDB: para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem.
Demais disso, a própria Lei de Arbitragem prevê a possibilidade de as partes escolherem livremente as normas aplicáveis ao processo arbitral.
Nesse sentido, o STJ entende que A ELEIÇÃO DE FORO ESTRANGEIRO É VÁLIDA, SALVO QUANDO A LIDE ENVOLVER INTERESSES PÚBLICOS (RESP 242.383/SP, DJ 2005).
	2.3.9 OUTROS
	A doutrina indica ainda outros elementos de conexão, como o lex loci actus, pelo que se aplica a norma do local da realização do negócio jurídico.
Espécies de normas: Atualmente, as espécies de normas de direito internacional privado não se limitam a princípios (tal qual a ordem pública) e regras de conexão clássicas (ou rígidas). Para alcançar resultados materialmente equitativos, hoje o direito internacional privado conta também com: (1) normas materiais: regulam a conduta, solucionando diretamente o caso; (2) normas narrativas: sem regular conduta, ditam diretrizes e fins, para a interpretação de outras normas (soft law); (3) normas alternativas, como, p. ex., a aplicação da lei favorável ao consumidor; (4) normas flexíveis: permitem ao juiz ou partes valorar elementos do caso concreto, para determinar a lei aplicável, p. ex. aplicando o princípio da proximidade.
PONTO EXTRA:
1. Institutos básicos do DIPrivado:
	QUALIFICAÇÃO
	É o ato pelo qual é delimitado o objeto de conexão, ou seja, o instituto ao qual se referirá um elemento de conexão. A qualificação é matéria controvertida na doutrina, havendo duas teorias:
TEORIA DAS QUALIFICAÇÕES PELA LEX FORI ( Determina que o juiz deve qualificar o instituto nos termos de seu próprio ordenamento. É adotada no Brasil como regra.
TEORIA LEX CAUSAE ( Defende que o instituto deve ser qualificado à luz da lei estrangeira, que deve ser aplicada tão integralmente como é concebida no ordenamento de origem. É adotada excepcionalmente no Brasil, para qualificar bens e regular as relações a eles concernentes, aplicando-se a lei em que estiverem situados; e para qualificar e reger as obrigações, aplicando-se a lei do país em que se constituírem.
TEORIA DA QUALIFICAÇÃO “POR REFERÊNCIA A CONCEITOS AUTÔNOMOS E UNIVERSAIS
Obs.: o Brasil não aceita a chamada QUALIFICAÇÃO DE SEGUNDO GRAU, que ocorre quando as normas indiretas de Direito Internacional Privado de um Estado aludem a preceitos indicativos de outro Estado.
	ORDEM PÚBLICA
	De acordo com o art. 15 da LINDB, as leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações de vontade, não terão eficácia no Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes.
	REENVIO
RENVOI
REMISSION
	É instituto pelo qual o DIPrivado de um Estado remete às normas jurídicas de outro Estado, e as regras de DIPrivado deste indicam que uma situação deve ser regulada pelas normas de um terceiro Estado ou pelo próprio ordenamento do primeiro Estado (LOOP).
Reenvio de primeiro grau ( O ordenamento jurídico de um Estado A indica a ordem jurídica de um Estado B como aplicável a um caso, e o Direito deste Estado B determina como incidente a ordem do Estado A (LOOP).
Reenvio de segundo grau ( No caso acima, o Estado B manda aplicar as normas do Estado C.
ATENÇÃO: O BRASIL NÃO ADMITE O REENVIO! É O QUE DISPÕE O ART. 16 DA LINDB. Por ele, QUALQUER REMISSÃO DEVE SER DESCONSIDERADA.
Art. 16. Quando, nos termos dos artigos precedentes, se houver de aplicar a lei estrangeira, ter-se-á em vista a disposição desta, sem considerar-se qualquer remissão por ela feita a outra lei.
Obs.: para AMORIM, o Brasil admite o reenvio na hipótese do art. 10, §1º, da LINDB:
Art. 10. A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que domiciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação dos bens.
§ 1º A sucessão de bens de estrangeiros, situados no País, será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus. (Redação dada pela Lei nº 9.047, de 1995)
	DIREITO ADQUIRIDO
	O direito adquirido sob a égide de um ordenamento estatal acompanha a pessoa em outro Estado e é neste reconhecido.
Não será acolhido se ofender a ordem pública.
2. Aplicação do direito estrangeiro e direito processual civil internacional:
	Regras gerais
	Verificação e prova do direito estrangeiro
	Interpretação do direito estrangeiro e sua incidência no caso concreto
	Exceções à aplicação
	Em regra, a aplicação da norma estrangeira em outro Estado é possível.
A aplicação da norma estrangeira é regulada pela lex fori ( É o ordenamento interno que determina qual a norma, nacional ou estrangeira, apta a dirimir um conflito de leis no espaço.
	O juiz não é obrigado a conhecer o Direito de outro Estado.
O juiz pode plicar a norma estrangeira de ofício.
O juiz pode também exigir da parte prova da vigência e do teor da norma estrangeira.
O processo de verificação e de prova do Direito estrangeiro rege-se pela lex fori.
Não sendo possível verificar o Direito estrangeiro, a principal alternativa é a aplicação da lex fori.
Convenção de Haia sobre Direito Processual Civil (1950) e Convenção de Haia sobre a Colheita de Provas (1970) ( Não foram ratificadas pelo Brasil ainda.
Convenção Interamericana sobre Prova e Informação acerca do Direito Estrangeiro (1979 – Convenção de Montevidéu): o Brasil é parte.
	O juiz pode aplicar a norma estrangeira de ofício, ainda que as partes não a invoquem.
Proibição de reenvio.
A interpretação deve orientar-se pelo sentido que a norma tem no ordenamento de origem.
se ligue: o sentido de origem é mais importante que a doutrina ou jurisprudência nacional.
Na aplicação do direito estrangeiro convencional, deve ser levada em consideração a real intenção das partes contratantes.
Possibilidade de emprego do instituto da adaptação.
A norma estrangeira equipara-se à lei ordinária e pode ser objeto de controle de constitucionalidade
	Soberania nacional.
Ordem pública.
Bons costumes.
Fraude à lei.
Instituição desconhecida ( Cuida-se de instituto que não é objeto de previsão do Estado onde se pretende aplicar a norma de outro ente.
Lei imperfeita ( É aquela que prevê ou a aplicação do Direito interno ou a do Direito estrangeiro (ex.: art. 10, §1º, da LINDB, que trata da sucessão de bens).
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Ponto 2.b. Organização Internacional. Características. Evolução. Espécies e finalidades. Regime jurídico. Santa Sé. Prerrogativas e imunidades no Brasil
Principais obras consultadas: Santo Graal 27º; PORTELA, P. H. G. Direito internacional públicoe privado. 3ª Edição. Ed. Jus Podivm, 2011. REZEK, J. F. Direito internacional público. 10ª Edição. Ed. Saraiva, 2007. MAZZUOLI, VALÉRIO. Curso de Direito Internacional Público. 5ª Edição, 2011.
Legislação básica: não indicou.
A sociedade internacional não é composta apenas por Estados. Com efeito, outros entes atuam no âmbito das relações internacionais, dentre os quais entidades criadas e formadas por Estados, com estrutura e personalidade jurídica próprias e com o objetivo de administrar a cooperação internacional em temas de interesse comum. Tais sujeitos de Direito Internacional são as organizações internacionais, também conhecidos como organismos internacionais ou organizações intergovernamentais.
1. Organização Internacional: entidades compostas por Estados por tratado multilateral (“Carta”) de caráter especial (natureza convencional e institucional), com aparelho institucional permanente (órgãos/agentes; em geral: órgão plenário, órgão executivo e secretariado) e personalidade jurídica própria de direito internacional (derivada= porque se origina dos Estados) para cooperação internacional em temas de interesse comum. A personalidade jurídica ou está no ato constitutivo ou é inferida dos poderes/objetivos da organização e sua prática (vide “caso Reparação por ferimentos recebidos a serviço das N. Unidas”- CIJ: ONU tem direito à reparação pela morte de seu mediador (Folke Bernadotte) em Jerusalém/1948, tem personalidade jurídica internacional objetiva (vale também perante Estados não membros) porque era indispensável para atingir seus objetivos/princípios e possuem personalidade jurídica internacional derivada. 
OBS 1: Não se confundem com ONG´s, que são entes privados c/ personalidade jurídica de direito interno que eventualmente atuam no âmbito internacional (PORTELA).
OBS 2: Decisões das OI: As decisões das OI podem adotar vários formatos, dentre os quais o mais conhecido é a RESOLUÇÃO, que pode ou não ter caráter vinculante, dependendo das regras que governam o organismo internacional. Há outras possibilidades, como as recomendações e os instrumentos de soft law, como os códigos de conduta, declarações, leis-modelo etc.
OBS 3: Personalidade jurídica: As organizações internacionais ADQUIREM PERSONALIDADE JURÍDICA NO M OMENTO EM QUE EFETIVAMENTE COMEÇAM A FUNCIONAR, SENDO IRRELEVANTE O MOMENTO DE QUALQUER REGISTRO!
OBS 5: Direito de Convenção: Os organismos internacionais possuem o direito de convenção, podendo concluir tratados. Podem ainda praticar todos os atos necessários ao cumprimento de seus fins, como celebrar tratados com fornecedores, contrair empréstimos e recrutar funcionários. Têm responsabilidade própria e capacidade de auto-organização.
2. Características: multilateralidade (mín. 3 membros); permanência (prazo indeterminado); institucionalização (órgãos/agentes próprios); voluntariedade da associação; poder normativo (interno: suas atividades; externo: para demais sujeitos de DIP); princípio majoritário (Mercosul é por consenso); controle (competência para supervisionar cumprimento de tratados/normas de seu âmbito); competência impositiva (impor suas decisões/ aplicar sanções).
OBS: As características também são chamadas de elementos essenciais.
OBS 2: Os OI não contam com uma base territorial como os Estados.
Competências: (N – O – C - I) As organizações internacionais reúnem QUATRO tipos de competências: COMPETÊNCIA NORMATIVA: A competência normativa é INTERNA e EXTERNA. Interna: capacidade de regular suas próprias atividade. Externa: estabelecem normas dirigidas aos demais sujeitos de DIP. COMPETÊNCIA OPERACIONAL: Capacidade de a organização formular e executar operações, políticas e projetos para atingir seus objetivos, a exemplo da concessão de empréstimos e ações de cooperação jurídica. COMPETÊNCIA DE CONTROLE: Consiste em supervisionar a aplicação dos tratados negociados no âmbito da entidade ou das normas de sua competência. COMPETÊNCIA IMPOSITIVA: Capacidade de o organismo impor suas decisões, o que dependerá do que for estabelecido a respeito pelo ato constitutivo da organização. Obs.: a sanção de SUSPENSÃO abrange apenas os direitos e privilégios do Estado na organização, não afetando suas obrigações.
3. Evolução: surgimento com evolução do Estado moderno e de uma ordem internacional que demandava cooperação internacional que a diplomacia não satisfazia. Surgiram as conferências internacionais: reuniões para tratar de problemas entre Estados. Após Congresso de Viena/1815: conferências internacionais regulares que ensejaram surgimento de “instituições internacionais” (SHAW). Séc. XIX: desenvolvimento de instituições internacionais não governamentais privadas (Comitê Internacional da Cruz Vermelha/Associação de Direito Internacional) e também organizações internacionais públicas. Conceitos introduzidos por elas (encontros regulares/ secretariados permanentes/ decisão maioria/ voto ponderado/ contribuição financeira proporcional) formam as bases das organizações internacionais do séc. XX: grande inovação é a abrangência global (ONU).
4. Espécies e finalidades: (Portela): 
	a) Quanto à abrangência 
	Regionais ( Abarcam um espaço delimitado e normalmente são compostas por Estados contíguos geograficamente ou unidos por afinidades históricas, culturais etc.
Universais ( Abarcam membros de qualquer lugar do mundo.
	B) QUANTO AOS FINS
	GERAIS ( Reúnem uma ampla gama de competência. Ex.: ONU.
ESPECIAIS ( Finalidade específica. Obs.: as disposições de um órgão especial não podem contrariar as de um órgão geral.
	C) QUANTO À NATUREZA DOS PODERES EXERCIDOS
	INTERGOVERNAMENTAIS ( A atuação baseia-se na coordenação entre seus membros. Seus órgãos são formados por representantes dos Estados e suas decisões são tomadas pela unanimidade ou maioria qualificada dos próprios entes estatais.
SUPRANACIONAIS ( Têm poderes de subordinar os Estados que fazem parte. Suas decisões são imediatamente executáveis no interior dos Estados. Em todo o mundo, apenas a União Europeia é assim.
	D) QUANTO AOS PODERES RECEBIDOS
	DE INTEGRAÇÃO ( Têm capacidade de impor suas decisões, havendo subordinação.
DE COOPERAÇÃO ( Coordenam as atividades dos membros, com o objetivo de atingir interesses comuns.
5. Regime jurídico: como são criadas por tratados e estes devem ser interpretados/aplicados por meio do DIP, este é, em regra, o direito aplicável às organizações internacionais. A regulamentação interna da organização rege relações de trabalho/criação de órgãos/serviços administrativos. Se não há previsão, o DIP aplica-se subsidiariamente. O direito interno dos Estados rege: aquisição/arrendamento de terras, contratos de equipamentos/serviços, responsabilidade civil danos causados pela organização ou contra ela (SHAW).
6. Santa Sé: Cúpula governativa da Igreja Católica, não é Estado (embora tenha território/pop./governo; não preenche o critério teleológico= fins do Estado e não possui dimensão pessoal= nacionais); não é organização internacional e sim caso único de personalidade internacional anômala (REZEK, 2007, p. 242). Atual configuração: Acordos de Latrão (1929): concordata+tratado político+convenção financeira (+ reconhecimento de propriedade de imóveis dispersos/plena soberania nos 44 hectares da colina vaticana = Estado da Cidade do Vaticano). Celebra concordatas: compromissos sobre as relações da Igreja com o Estado. No entendimento de Valério Muzzuoli (MAZUOLI, 2011, páginas 408-414), “Desde muito tempo se discute a que categoria jurídica pertencem a chamada Santa Sé (cúpula do governo da Igreja Católica) e o Estado da Cidade do Vaticano. Embora a Santa Sé esteja intimamente ligada ao Estado do Vaticano (este último resultante dos Tratados de Latrão de 1929) e o Papa seja tanto o chefe de uma como do outro, a personalidade jurídica internacional da Igreja não é precisamente a mesma do Estado da Cidade do Vaticano.
Dessa forma, cabe aqui estudar em separado a Santa Sé e o Estado da Cidade do Vaticano, analisando suas principais diferenças

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