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Direito processual civil vitaminado defitinitivo

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL
SUMÁRIO
Ponto 1.a. Jurisdição: órgãos, princípios e limites. A Jurisdição no Estado Constitucional. 5
Ponto 1.b. Procedimento comum e procedimentos especiais. 23
Ponto 1.c. Execução de títulos extrajudiciais: conceito, espécies, pressupostos, partes, competência e procedimento. 34
Ponto 2.a. Ação: conceito e natureza jurídica. Condições e elementos da ação. Direito de ação na perspectiva constitucional. Direito à adequada tutela jurisdicional. 90
Ponto 2.b. Audiência de instrução e julgamento. 127
Ponto 2.c. Mandado de Injunção. Habeas data. Aspectos processuais do Estatuto da Criança e do Adolescente. 129
Ponto 3.a. Processo: conceito e natureza jurídica. O processo no Estado Constitucional. 136
Ponto 3.b. Sentença. Liquidação da sentença. Cumprimento da sentença e de outros títulos judiciais 139
Ponto 3.c. Juizados Especiais Cíveis e Federais. 173
Ponto 4.a. Partes. Capacidade. Legitimação. Substituição processual. 200
Ponto 4.b. Prova. Ônus da prova e convicção judicial. Prova ilícita. 206
Ponto 4.c. Meios alternativos de resolução de conflitos: negociação, mediação e arbitragem. 224
Ponto 5.a. Litisconsórcio. Assistência e Intervenção anômala. 230
Ponto 5.b. Ação de Consignação em Pagamento. Ação de Depósito. 248
Ponto 5.c. Embargos de Declaração. Embargos Infringentes. Embargos de Divergência. 255
Ponto 6.a. Petição inicial: função e conteúdo; vícios e inadmissibilidade da demanda; cumulação de pedidos. Julgamento de processos repetitivos. 267
Ponto 6.b. Ação popular. 287
Ponto 6.c. Recurso Extraordinário. Repercussão Geral. 290
Ponto 7.a. Formação, suspensão e extinção do processo. 304
Ponto 7.b. Ação de desapropriação. 310
Ponto 7.c. A instrumentalidade do processo. O processo civil na dimensão dos direitos fundamentais. Princípios constitucionais do processo. 314
Ponto 8.a. Comunicação processual. Prazos. Teoria das invalidades processuais. 336
Ponto 8.b. Recurso Especial. 349
Ponto 8.c. Ação cível originária nos tribunais. Reclamação. Arguição de descumprimento de preceito fundamental. 349
Ponto 9.a. A resposta do réu: contestação, exceções, reconvenção. Revelia. Direitos Indisponíveis. 360
Ponto 9.b. Provas em Espécie. Procedimento Probatório. 382
Ponto 9.c. Ação Civil Pública e Ação de Improbidade Administrativa. 399
Ponto 10.a. Intervenção de terceiros. Embargos de terceiro. Sujeitos auxiliares do processo. 417
Ponto 10.b. Teoria Geral dos recursos. Duplo grau de jurisdição. Efeitos dos recursos. Pressupostos recursais. 446
Ponto 10.c. Execução por quantia certa contra devedor solvente. 467
Ponto 11.a. Ação Declaratória Incidental. 495
Ponto 11.b. Processo cautelar. Medidas cautelares específicas. Tutela inibitória. 500
Ponto 11.c. Embargos do Devedor. Impugnação ao cumprimento de sentença. Responsabilidade patrimonial e fraudes do devedor. 533
Ponto 12.a. Atos Processuais. Despesas Processuais. Honorários. Processo eletrônico. 570
Ponto 12.b. Ações Possessórias. 573
Ponto 12.c. Execução da sentença que impõe entrega de coisa. Execução da sentença que impõe fazer e não fazer. Tutela específica dos direitos. Execução de títulos extrajudiciais que impõe a entrega de coisa, prestação de fazer ou de não fazer. 586
Ponto 13.a. O direito fundamental de defesa. Devido processo legal. Cognição judicial. Convicção judicial e motivação das decisões. 599
Ponto 13.b. Ação de alimentos e convenções internacionais. Execução de alimentos. 601
Ponto 13.c. Tutela antecipatória contra o perigo de dano e contra o abuso do direito de defesa. Regime da antecipação de tutela. 606
Ponto 14.a. Ação discriminatória, de divisão e de demarcação. 614
Ponto 14.b. Mandado de Segurança Individual e Coletivo. 621
Ponto 14.c. Apelação. Recurso ordinário constitucional. 633
Ponto 15.a. Arguição incidental de inconstitucionalidade. Aspectos processuais das súmulas vinculantes e das súmulas impeditivas de recurso. 643
Ponto 15.b. Ação rescisória. Ação declaratória de inexistência de ato processual. Querela nulitatis. 646
Ponto 15.c. Execução por quantia certa contra devedor insolvente. Ação monitória. 671 
Ponto 16.a. Sentenças e tutelas jurisdicionais dos direitos. Espécies. Ações declaratória, constitutiva, condenatória, mandamental e executiva. 696
Ponto 16.b. Julgamento conforme o estado do processo. Tutela da parte incontroversa da demanda. 715
Ponto 16.c. Instrumentos e Técnicas extraprocessuais de atuação em tutela coletiva: inquérito civil, compromisso de ajustamento de conduta, recomendação e audiência pública. 732
Ponto 17.a. Ação de usucapião. Aspectos processuais da Lei do CADE. Aspectos processuais do Estatuto do Idoso. 735
Ponto 17.b. Títulos executivos judiciais e extrajudiciais. 751
Ponto 17.c. Tutela jurisdicional dos direitos e interesses coletivos, difusos e individuais homogêneos. Teoria Geral do processo coletivo. Liquidação e cumprimento de ações coletivas. 762
Ponto 18.a. O Ministério Público no processo civil. 814
Ponto 18.b. Ação direta de inconstitucionalidade. Ação declaratória de constitucionalidade. 822
Ponto 18.c. Competência interna: classificação, divisão e modificação. Competência internacional. Homologação de sentença estrangeira. Carta rogatória. Tratados e convenções para cumprimento de decisões estrangeiras no Brasil. 830
Ponto 19.a. Coisa julgada e preclusão. 858
Ponto 19.b. Procedimento das ações coletivas. Competência para ações coletivas. Coisa julgada e litispendência em ações coletivas. 868
Ponto 19.c. Incidentes de uniformização de jurisprudência e de inconstitucionalidade. Incidente de deslocamento de competência. Julgamento monocrático de recurso pelo relator. 878 
Ponto 20.a. Tutela específica dos direitos difusos e coletivos. Procedimento da ação civil pública e da ação coletiva para direitos individuais homogêneos. 890
Ponto 20.b. Agravo retido e por instrumento. Agravo regimental. Agravo interno. 895
Ponto 20.c. Execução contra a Fazenda Pública. Execução Fiscal. 905
Ponto 1.a. Jurisdição: órgãos, princípios e limites. A Jurisdição no Estado Constitucional.
Principais obras consultadas: Didier Júnior, Fredie. Resumo do 27º concurso. Manual de Direito Processual Civil do Daniel Amorim Assumpção Neves.
A Jurisdição no Estado Constitucional. Disponível em http://bdjur.stj.jus.br/xmlui/bitstream/handle/2011/2174/A_Jurisdi%E7%E3o_no_Estado_Constitucional.pdf.txt?sequence=3
(ou http://pt.scribd.com/doc/95678786/A-JURISDICAO-NO-ESTADO-CONSTITUCIONAL).
Legislação básica: CRFB/1988; e CPC.
1. Conceito de Jurisdição
É um poder atribuído a terceiro imparcial para, mediante um processo, reconhecer (certificar), efetivar ou proteger situações jurídicas concretamente deduzidas, de modo imperativo e criativo, em decisão insuscetível de controle externo e com aptidão para a coisa julgada material (tornar-se indiscutível).
PODER: A Jurisdição é um Poder, ao lado do Poder Legislativo e Executivo, como manifestação de soberania.
TERCEIRO: O ente que julgará será estranho ao problema que será julgado. Conseqüências de a função jurisdicional ser exercida por terceiro:
A jurisdição é técnica de solução de conflitos por heterocomposição;
A jurisdição é uma atividade substitutiva, ou seja, a vontade do juiz substituirá a vontade das partes litigantes. Para Chiovenda, a substitutividade é o que caracteriza a jurisdição.[1: Chiovenda defende que a jurisdição é a aplicação concreta da lei, em atividade meramente declaratória. Não se adota esse entendimento, por se entender que a jurisdição é uma atividade criativa, inclusive diante do fenômeno do neoconstitucionalismo, que consagra cláusulas gerais, deixando o sistema normativo aberto, e transfere expressamente ao órgão jurisdicional a tarefa da completar a criação na norma jurídica perante o caso concreto.	Fredie ressalva que, a contrário do que entende Chiovenda, a substitutividadeNÃO é marca da jurisdição, eis que há atividades substitutivas que não são jurisdicionais. Ex: atividade do CADE (autarquia que cuida da proteção da concorrência, decidindo conflitos por heterocomposição).]
O fato de o juiz ser alheio ao conflito é chamado pela doutrina de impartialidade do juiz.
Há um pouco de mistificação na idéia de que só o Estado pode exercer a jurisdição. É indiscutível que a jurisdição é monopólio do Estado, mas isso não significa que só ele possa exercê-la. O Estado pode autorizar que outros exerçam a jurisdição (reconhecendo a outros entes o poder de julgar).
Embora o terceiro que costuma exercer a jurisdição seja um ente estatal, nada impede que um ente não-estatal exerça a jurisdição, por autorização do Estado. Ex: árbitro (a arbitragem é uma forma de jurisdição privada permitida no direito brasileiro).
Na Espanha se admite o exercício da jurisdição por tribunais consuetudinários (que nasceram da prática da sociedade). Ex: há 1000 anos, os conflitos relacionados às águas de Valencia são resolvidos por um tribunal do povo, o Tribunal de Águas de Valencia.
Dentre os Poderes do Estado, não é só o Poder Judiciário que exerce a jurisdição. O Senado pode exercer função jurisdicional no julgamento do Presidente por crime de responsabilidade, v.g..
IMPARCIAL: é necessário que, além de ser terceiro, o juiz não tenha com a causa qualquer interesse direto ou indireto. 
Enquanto a imparcialidade (não ser parte) é condição objetiva para exercício da jurisdição, a imparcialidade é condição subjetiva (não ter interesse).
DICA: Não se deve confundir imparcialidade com neutralidade, pois ninguém é neutro, desprovido da capacidade de valorar o comportamento alheio, sendo este um atributo impossível de ser alcançado pelo ser humano (foi-se Kelsen e sua Teoria Pura do Direito).[2: Neutro é um adjetivo que não se aplica a gente, mas apenas a sabonete.]
PROCESSO: a Jurisdição pressupõe um processo anterior para legitimar o seu exercício. O devido processo legal é um pressuposto do exercício da jurisdição, que não se realiza instantaneamente.
RECONHECER (certificar), EFETIVAR ou PROTEGER: vai-se ao Judiciário buscando (i) verificar se tem direito, (ii) efetivar um direito que já se tem reconhecido ou (iii) protegê-lo. Assim, a tutela dos direitos pode ocorrer pelo seu reconhecimento judicial (tutela de conhecimento), pela sua efetivação (tutela de execução), por sua proteção (tutela cautelar), ou, ainda, pela Integração da vontade (tutela de jurisdição voluntária).
SITUAÇÕES CONCRETAMENTE DEDUZIDAS: o juiz não decide abstratamente, nem resolve problemas em tese, mas topicamente, ou seja, toda a atividade jurisdicional recai em um problema concreto, nos limites em que foi submetido (congruência da sentença).[3: Ao Poder Legislativo cabe solucionar os conflitos abstratamente.][4: Carnelutti diz que “a jurisdição atua sob encomenda”.]
DICA: Uma ADI também deduz uma situação jurídica concretamente deduzida, pois saber se uma lei é constitucional ou inconstitucional é um problema concreto.
Geralmente, as situações concretamente deduzidas são conflituosas, mas a lide não é da essência da jurisdição, podendo ser deduzidas situações sem litígio (caso da jurisdição voluntária). 
Para Carnelluti, a situação concretamente deduzida perante o Judiciário conforma a LIDE, ou seja, é sempre um conflito.
Ocorre que, embora seja correto afirmar que a lide é o principal tipo de situação concretamente deduzida, há situações que, embora não sejam lides, são deduzidas em face do Poder Judiciário. Ex: ação de mudança de nome.
Por um ATO DE IMPÉRIO: a solução dada pelo juiz à situação deduzida é imperativa e não opinativa. Assim, a jurisdição é uma manifestação de Poder.
Por um ATO CRIATIVO: ao exercer a jurisdição, o juiz inova o sistema jurídico. A criatividade jurisdicional é uma marca do pensamento contemporâneo sobre a jurisdição. Não se pode ignorar que o juiz, ao julgar, interpreta o direito e dele extrai/cria uma norma para regular o caso concreto. Pensar que a atuação do juiz é de subsunção lógica está ultrapassado. A criatividade do juiz se funda no princípio da inafastabilidade da jurisdição.
Norma Jurídica Individualizada (Ratio decidens): dispositivo
A decisão judicial é ato que contém, em seu dispositivo, uma norma jurídica individualizada, definida pelo Poder Judiciário. Essa norma jurídica individualizada torna-se imutável com a coisa julgada material.
Norma Jurídica Geral (Ratio decidendi): fundamentação
Por meio de uma interpretação conforme à Constituição, o juiz cria uma fundamentação para justificar sua decisão. A fundamentação, ou ratio decidendi, é resultado da interpretação do texto de lei, do controle de constitucionalidade e do balanceamento dos direitos fundamentais exercido pelos magistrados.
Fredie pontua que a ratio decidendi também é uma norma jurídica, criada diante de um caso concreto, mas não criada para regulação de um caso concreto específico. Assim, a ratio decidendi é uma norma jurídica geral criada diante do caso concreto.
Importante: a norma jurídica geral não faz coisa julgada, mas forma o precedente judicial. Por isso, pode-se dizer que as súmulas são extratos das normas gerais construídas pela jurisprudência.
Exemplos da diferenciação entre norma jurídica individualizada e norma jurídica geral:
Norma Jurídica Geral  quem furta tem que devolver; parlamentar que troca de partido no meio do mandato perde o mandato; aquele que faz propaganda para um concorrente e logo em seguida fizer para outro, quebra a boa-fé objetiva pós–contratual, ensejando a indenização.
Norma Jurídica Individualizada  João deve a José; destituo João do mandato e restituo o mandato ao PMDB; Zeca Pacodinho deve indenizar a Nova Schin.
IMPOSSIBILIDADE DE CONTROLE EXTERNO da atividade jurisdicional: A jurisdição não se submete ao controle de nenhum outro Poder, que não o próprio Poder Judiciário. Assim, lei ou ato administrativo não podem interferir na coisa julgada. Por outro lado, a Jurisdição controla atos dos demais poderes.[5: Por exemplo, a Jurisdição controla o Poder Legislativo por meio do controle de constitucionalidade e pele preenchimento das lacunas da lei; e controle o Poder Executivo por meio do controle de legalidade dos atos administrativos.]
QUESTÃO: A jurisdição só é controlada jurisdicionalmente. Verdade.
QUESTÃO: E o sistema de freios e contra-pesos, não é aplicável? Sim, pois é o Poder Executivo quem libera recursos financeiros ao Judiciário e quem nomeia os ministros dos tribunais; e é o Poder Legislativo que define as competências do Judiciário.
OBS: O indulto e a anistia não são exceções a isso, pois o Estado, titular do ius puniendi reconhece a decisão judicial, mas renuncia a esse direito, sem revisar a decisão de condenação.
APTIDÃO para a COISA JULGADA MATERIAL: Só as decisões judiciais têm aptidão para a coisa julgada, para se tornarem incontroláveis/indiscutíveis, até mesmo para a própria Jurisdição. Não é necessário que a decisão seja definitiva para a caracterização da jurisdição, mas somente que possa vir a ser (tenha aptidão).
QUESTÃO: A coisa julgada material serve de limite à própria jurisdição. Verdade.
Só atos jurisdicionais têm aptidão para a definitividade. A coisa julgada administrativa é uma metáfora doutrinária, criada para se tratar da preclusão administrativa, pois a coisa julgada administrativa restringe-se ao Poder Executivo, podendo a decisão ser revista pelo Judiciário.
2. Equivalentes Jurisdicionais
Equivalentes jurisdicionais são as técnicas de solução de conflito NÃO JURISDICIONAIS, ou seja, resolvem conflitos ou certificam situações jurídicas, mas não importam em atuação da Jurisdição, no conceito acima disposto. Assim, as decisões não formam coisa julgada material.
A sigla em inglês ADR (pode vir ADR’s no concurso), que significa alternative dispute resolution (meio alternativo de solução de conflito) denomina todo meio não-jurisdicional de resolução de conflito.
Os principais ADR’ssão:
AUTOTUTELA  É a solução egoística dos conflitos, onde um dos conflitantes impõe ao outro a solução do conflito, pela força. Ela é, em princípio, uma atividade proibida, ilícita (fazer justiça com as próprias mãos é tipo penal). É uma forma bárbara, primitiva, de solução de conflitos.
Ainda há espécies de autotutela permitidas pelo ordenamento: guerra, greve, desforço incontinenti (reação imediata que o possuidor pode praticar para proteger sua posse), legítima defesa, auto-executoriedade da Administração Pública (possibilidade de executar os próprios atos). A autotutela é passível de controle posterior pelo Poder Judiciário.
	
AUTOCOMPOSIÇÃO  É a solução altruísta/negociada do conflito. Os próprios conflitantes resolvem o conflito negocialmente, e não pela força. Ela pode ser extrajudicial (quando realizada fora do juízo) ou judicial.
Ela é extremamente incentivada no direito brasileiro.[6: Exemplos de institutos que estimulam a autocomposição: separação consensual pode ser feita em cartório; qualquer autocomposição extrajudicial pode ser levada à homologação judicial para virar título judicial (para formar coisa julgada material e se tornar definitiva) art. 475-N, V do CPC; a inclusão de uma audiência preliminar de tentativa de conciliação no procedimento ordinário.]
A ADR (alternative dispute resolution) mais importante é a autocomposição.
Quando a autocomposição é judicial, costuma ser subdividida em: transação (quando ambos os conflitantes fazem concessões recíprocas); renúncia (quando o autor abdica de sua pretensão em favor do réu), e; submissão ou reconhecimento da procedência do pedido (quando o réu abdica sua pretensão em favor do autor). Rigorosamente, renúncia e reconhecimento são a mesma coisa (abdicação).
MEDIAÇÃO  um terceiro facilitador da autocomposição (como uma enzima) se coloca entre os conflitantes para tentar fazer com que eles cheguem a uma autocomposição. Na mediação, o terceiro não decide nada, somente ajudando que as partes se autocomponham. Ele é um interlocutor privilegiado, daí porque a mediação se confunde com a arbitragem (espécie de jurisdição onde o terceiro decide).
A mediação é uma arte com técnica refinada. Em regra, as pessoas só conhecem a mediação judicial (realizada pelos conciliadores dos juizados), mas elas podem ocorrer extrajudicialmente. [7: Existem diversas teorias acerca da linguagem a ser utilizada, do vestuário dos mediadores, da cor do local de mediação, do fato de que o mediador não deve propor acordos, mas ouvir os interesses das partes.]
Os focos das mediações: causas de família, societárias, trabalhistas (já está institucionalizado pelas comissões de conciliações prévias, que são instâncias de mediação), nos conflitos comunitários (entre comunidades. Ex: a instância de mediação do bairro dos japoneses, em São Paulo).
TRIBUNAIS ADMINISTRATIVOS  Realizam a solução de conflito por heterocomposição, ou seja, por meio de um terceiro imparcial que decidirá pelas partes. Falta à decisão dada por esses tribunais: aptidão para a coisa julgada material e insuscetibilidade de controle externo.
Os tribunais administrativos parecem muito com os tribunais jurisdicionais, por exercerem a heterocomposição. A diferença é que suas decisões podem ser controlada/revistas pelo Poder Judiciário e não têm definitividade.
Como os tribunais administrativos conformam técnica de heterocomposição de conflitos, têm que observar o devido processo legal, em seus aspectos formal e substancial.
Exemplos: Tribunais de Contas, Tribunais de Contribuintes, Juntas para Apuração de Multas pelo Detran, o Tribunal Marítimo, a Justiça Desportiva, Agências Reguladoras (decidem os conflitos no âmbito econômico. ex: CADE, que decide as questões relacionadas à concorrência).
OBS: Apesar de a lei 2.180/54 e a CF afirmarem, respectivamente, que os Tribunais Marítimos e os Tribunais de Contas “têm jurisdição em todo território nacional”, na verdade eles não fazem parte do Poder Judiciário, possuindo funções administrativas em todo o território nacional. Assim, suas decisões podem ser revistas pelo Judiciário.
A decisão do Tribunal Marítimo valerá como elemento de prova perante o Judiciário com presunção relativa (iuris tantum) de certeza. Quando o Tribunal Maritímo estiver agindo como juízo arbitral, porém, atuará com jurisdição (como veremos depois).
	OBS: As agências reguladoras são entidades autárquicas com poder normativo regulador da atividade econômica (criar regras jurídicas gerais) e função reguladora judicante (compor conflitos de natureza econômica). Suas decisões também se submetem ao controle do Poder Judiciário.
Princípios da Jurisdição
4.1. Princípio da Investidura
	De acordo com esse princípio, a jurisdição somente pode ser exercida por quem tenha sido investido devidamente na função jurisdicional.
	A investidura pode ocorrer por concurso, por indicação do Presidente da República (no caso do STF, TRF’s, etc.), e, no caso da arbitragem, o modo de investidura por escolha dos conflitantes (a partir de um negócio jurídico).
4.2. Princípio da Inevitabilidade da Jurisdição
	Significa que a jurisdição é inescapável. Mesmo que a pessoa não queira, não poderá deixar de se submeter à jurisdição, pois ela é um exercício de Poder, uma manifestação da soberania. A sentença será efetivada mesmo sendo absurda.
4.3. Princípio da Indelegabilidade
	O exercício da função jurisdicional não pode ser delegado a outra pessoa.
O árbitro não recebe delegação da função jurisdicional (a lei autoriza que o árbitro tenha poder e as partes o investem na função jurisdicional).
O juiz que exerce a jurisdição tem vários poderes. Os mais famosos são: poder decisório (poder de julgar); poder diretivo (de dirigir o processo); poder instrutório (de determinar a produção de provas); poder executivo (poder de executar suas decisões).
	O único Poder absolutamente indelegável é o poder decisório. Os demais poderes podem ser delegados em certas circunstâncias:
PODER ORDENATÓRIO ou DIRETIVO – Pode ser delegado a serventuários de justiça para a prática de atos de impulso/condução de processo. Isso tem previsão constitucional: art. 93, XIV da CF/88, e legal: art. 162, §4º do CPC.
Art. 93, XIV da CF - os servidores receberão delegação para a prática de atos de administração e atos de mero expediente sem caráter decisório;
Art. 162, § 4o do CPC - Os atos meramente ordinatórios, como a juntada e a vista obrigatória, independem de despacho, devendo ser praticados de ofício pelo servidor e revistos pelo juiz quando necessários.
PODER INSTRUTÓRIO – Os Tribunais podem delegar Poder Instrutório a juízes de primeira instância a eles vinculados, para que colham provas, por exemplo. Foi o que fez o STF no caso do Mensalão (pois havia 600 testemunhas).
PODER EXECUTIVO – O poder se executar as decisões pode ser delegado. Assim, Os tribunais podem delegar o Poder Executivo para os juízes de primeira instância para executar suas decisões. Isso tem previsão constitucional em relação ao STF, mas o entendimento é de que se aplica a todos os tribunais.
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:
m) a execução de sentença nas causas de sua competência originária, facultada a delegação de atribuições para a prática de atos processuais;
Assim, somente o poder decisório, que é o poder jurisdicional propriamente dito, é indelegável.
DÚVIDA: E no caso da delegação da competência do Tribunal Pleno para o órgão especial (art. 93, XI da CF)? Não haveria, nesse caso, delegação de poder decisório?
Art. 93 XI da CF - Nos tribunais com número superior a vinte e cinco julgadores, poderá ser constituído órgão especial, com o mínimo de onze e o máximo de vinte e cinco membros, para o exercício das atribuições administrativas e jurisdicionais delegadas da competência do tribunal pleno, provendo-se metade das vagas por antigüidade e a outra metade por eleição pelo tribunal pleno;
OBS: Nascartas precatórias e rogatórias não há delegação de competência, pois o juiz pede cooperação de outro justamente porque não tem competência para realizar aquele ato.
4.4. Principio da Territorialidade
A territorialidade implica em limitação ao exercício da jurisdição pelo juiz. Significa que a jurisdição sempre se exerce sobre um dado território. O STF, por exemplo, tem jurisdição restrita ao território brasileiro.
Na justiça estadual, o território da jurisdição é subdividido em comarca ou distrito.
Comarca é uma cidade, ou um conjunto de cidades, escolhendo-se a maior para ser a sede da comarca, e para lhe dar o nome (pois a comarca terá sempre nome de cidade).[8: O ideal era que cada cidade fosse uma comarca, mas existem cidades muito pequenas.]
Distrito é uma subdivisão territorial da comarca. Pode ser um bairro, um conjunto de bairros, ou uma das cidades que formam a comarca. Ex: Antas é distrito de Cícero Dantas.
Na justiça federal, o território da jurisdição é dividido em seção e sub-seção judiciárias.
Seção judiciária é sempre um Estado. Ex: Seção Judiciária da Bahia.
Sub-seção judiciária é sempre uma cidade ou um conjunto de cidades, levando sempre o nome de uma delas. A mesma relação entre distrito e comarca é a mesma entre sub-seção e seção.
A limitação territorial refere-se apenas à prolatação da decisão, mas não à sua execução, que poderá ocorrer em qualquer lugar.
4.4.1. Hipóteses de extraterritorialidade:
- Atuação do oficial de justiça em comarcas contíguas ou que pertençam à mesma região metropolitana. Em comarcas contíguas (comarcas fronteiriças, que fazem fronteira) ou nas comarcas que pertencem a uma mesma região metropolitana, o oficial de justiça de uma dessas comarcas pode ir a outra comarca para fazer atos de comunicação (citações ou intimações), sem necessidade de expedição de carta precatória (somente isso – Penhora, por exemplo, não pode ser feita). O oficial está, assim, atuando em extraterritorialidade, pois a jurisdição de uma comarca se estende a outra, em clara mitigação ao princípio da territorialidade.[9: Não é o mesmo que comarcas vizinhas, que não são necessariamente limítrofes.]
Art. 230. Nas comarcas contíguas, de fácil comunicação, e nas que se situem na mesma região metropolitana, o oficial de justiça poderá efetuar citações ou intimações em qualquer delas.
- Quando um mesmo imóvel se encontra em duas comarcas, a jurisdição do juiz prevento será exercida por toda a extensão do imóvel objeto da disputa. Esse também é um caso de extraterritorialidade. Está previsto no art. 107 do CPC.
Art. 107. Se o imóvel se achar situado em mais de um Estado ou comarca, determinar-se-á o foro pela prevenção, estendendo-se a competência sobre a totalidade do imóvel.
- O lugar onde a decisão deve ser proferida não se confunde com o local onde deva produzir seus efeitos. A decisão pode produzir efeitos muito além do território onde for proferida. Uma decisão de juiz brasileiro tem de produzir efeitos em todo o território nacional, embora tenha que ser proferida em apenas uma comarca. Se não fosse assim, o sujeito que se divorciasse em Porto Alegre continuaria casado no resto do território brasileiro. Ademais, uma decisão brasileira pode produzir efeitos no exterior, desde que homologada pela jurisdição desse outro país.
OBS: A maior excrescência processual do sistema brasileiro está previsto no art. 16 da lei de Ação Civil Pública (7347/85), que diz que a sentença numa ação civil pública só produz efeitos nos limites da competência territorial do órgão prolator.
Art. 16 da lei 7347/85. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da competência territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova.
Assim, a sentença de ação civil pública prolatada em Salvador só produzirá efeitos em Salvador. Se o autor homologar a sentença na França, ela produzirá efeitos em Salvador e na França, mas não no restante do Brasil. Por isso, Fredie diz que esse artigo é profundamente inconstitucional, pois visa a acabar o processo coletivo no Brasil. Todos da doutrina afirmam que ele tolhe o exercício da jurisdição, mas o STJ continua aplicando esse artigo (o STJ, em 2012, passou a adotar a corrente da doutrina). Trata-se de restrição indevida à jurisdição, gerando fragmentação das decisões. Crítica: A quem interessa esse tipo de restrição? Quem é que ganha com a fragmentação das decisões?
4.5. Princípio da Inafastabilidade da Jurisdição
	Esse é o mais famoso princípio da jurisdição. Ele diz que a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça de lesão a direito (garante a tutela preventiva: antes de sofrer lesão). Está previsto no art. 5º, XXXV da CF.
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;
Esse princípio consagra o direito de ação, de acesso ao judiciário levando a apreciação de qualquer problema. O direito de ação é o direito à decisão judicial tout court.
Não há direito que não possa ser tutelado pela Jurisdição. Conseqüências:
Somente a Constituição pode definir matérias cuja apreciação seja excluída do Poder Judiciário: é o caso do processamento e julgamento de algumas autoridades.
Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:
I - processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes de responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles;
II processar e julgar os Ministros do Supremo Tribunal Federal, os membros do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público, o Procurador-Geral da República e o Advogado-Geral da União nos crimes de responsabilidade;
Assim, qualquer ato administrativo pode ser controlado pelo Poder Judiciário quanto a seu mérito. O problema é saber como se controla: aplicando o princípio do devido processo legal substancial (proporcionalidade e razoabilidade, que nasceram especialmente para controlar os atos administrativos).
Ex: Nova lei do mandado de segurança, que não repetiu uma regra que exista desde 51 na lei anterior, que dizia que não cabia MS para discutir sanção disciplinar. Isso não foi repetido porque não era mais aplicado diante da possibilidade de controle dos atos administrativos discricionários (quanto ao mérito).
Essa idéia de que o ato administrativo não pode ser controlado surgiu da descendência Francesa do Direito Brasileiro (o sistema francês impede o controle dos atos administrativos pelo Poder Judiciário porque possuem uma jurisdição administrativa que atua justamente nisso). Como no Brasil não há uma jurisdição administrativa, não há sentido em seguir essa regra.
Ademais, não pode haver exigência de esgotamento da via administrativa para se ter acesso ao Poder Judiciário.
A única exceção prevista constitucionalmente à exigência de esgotamento prévio da via administrativa refere-se à Justiça Desportiva, por expressa previsão constitucional. A CF define que as questões desportivas devem ser resolvidas primeiro no âmbito administrativo, perante da Justiça Desportiva.
Art. 217, § 1º da CF - O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, regulada em lei.
QUESTÃO: Pode a lei condicionar a ida ao Judiciário ao esgotamento da discussão no âmbito extrajudicial?
Existem várias leis que fazem isso, exigindo que o sujeito esgote a discussão no âmbito administrativo (ex: mandado de segurança, habeas data, lei da súmula vinculante, acidente de trabalho). Isso é constitucional?
A princípio, não há inconstitucionalidade nessas leis.
A questão é que elas devem ser interpretadas conforme à Constituição (não podem ser interpretadas literalmente).
Assim, deve-se entender que, nesses casos, só se deve acessar o PoderJudiciário se ficar demonstrado que havia a necessidade de acionar a Jurisdição antes de esperar a via administrativa. Ou seja, o acionante deve mostrar que não podia esperar o esgotamento da via administrativa.
Assim, a situação de urgência possibilita o não-esgotamento da via extrajudicial.
A arbitragem não é inconstitucional também porque não é a lei que estará excluindo o acesso ao judiciário, mas sim a vontade das partes (por ato voluntário).
A CF passou a prever expressamente a tutela preventiva (é a tutela contra a ameaça), pois previu que o sujeito pode acessar o Judiciário para previnir um dano.
A Constituição, em alguns casos, deu poder jurisdicional ao Senado, ao afirmar que cabe a ele julgar o Presidente da República nos crimes de responsabilidade. Nessa seção, quem preside o Senado é o Presidente do STF. Observe que essa questão não foi excluída da Jurisdição. No caso, o Constituinte deu jurisdição a um órgão que não pertence ao Poder Judiciário.
OBS: o STF decidiu, no julgamento da medida cautelar na ADIN 223-DF, que as leis que proíbem ou limitam a concessão de medidas de urgência (notadamente em face do Poder Público), não são inconstitucionais, em tese. Nada impede que o juiz a considere inconstitucional diante do caso concreto.[10: Leis Federai s 4.348/64, 5021/66, 8437/92 e 0202/97.]
A garantia da inafastabilidade da jurisdição impõe que seja concedida uma tutela jurisdicional qualificada, ou seja, efetiva, rápida e adequada. Por isso, desse princípio decorrem os seguintes: devido processo legal, adequação do procedimento, etc.
OBS: Utilização das expressões a priori e a posteriori:
A priori é um tipo de juízo que se faz em tese, sem experimentar a situação. É um juízo antes da experiência, sem examinar o caso concreto. Ex: a priori, a lei é constitucional. O legislador sempre pensa a priori.
A posteriori é o juízo feito após a experiência, realizado mediante exame do caso concreto. Ex: a posteriori, a lei será inconstitucional em caso de urgência. O Judiciário sempre decide a posteriori.
4.6. Princípio do Juiz Natural
	Esse princípio não tem uma previsão expressa como o princípio da inafastabilidade. O princípio do juiz natural resulta da conjugação de dois incisos do art. 5º da CF: XXXVII e LIII
Art. 5º, XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;
LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente;
A noção do sentido de juiz natural decorre da conjugação de dois requisitos:
Aspecto Objetivo ou Formal – Juiz natural é o juiz COMPETENTE na forma da lei.
É a lei que outorga competência ao juízo. O Poder Judiciário age nos limites da competência que o Poder Legislativo definir. Essa é uma expressão do sistema de freios e contra-pesos.
O juiz não pode deixar de julgar as causas de sua competência, nem pode querer puxar para si o julgamento de causas que não são de sua competência (por isso a definição do juiz é realizada por distribuição).
O princípio do juiz natural impede o poder de comissão (designação de juízos extraordinários para julgamento de determinadas causas).
A garantia do juízo natural é uma conquista moderna (não tem origem medieval, como o devido processo legal), pois antigamente o juiz era escolhido caso a caso, por nomeação do rei.
Esse é um princípio cuja violação é de difícil identificação.
Proibição aos Tribunais de exceção por violação ao princípio do juiz natural
Não basta que a competência seja FIXADA POR LEI, sendo necessário que essa lei seja ANTERIOR ao fato que se vai julgar e GERAL.
Assim, a garantia do juiz natural serve para impedir que se constitua um juiz para julgar determinada causa (o que configuraria juízo de exceção, criado para julgar um problema excepcionalmente), bem como proíbe o juiz ex post factum (constituído após o fato, por tem que ser anterior), o juiz ad personam, e o juiz ad hoc (definido para o caso, pois a competência tem que ser definida em abstrato).
Vez por outra os tribunais editam portarias designando juízes para as causas. Isso não é possível, pois é a lei que determina as regras de competência, não podendo haver derrogação da lei para o tribunal (passar por cima da competência fixada na lei).
Com isso se evita a formação de tribunais de exceção (tribunais constituídos para julgar determinado problema, depois do fato). Ex: Tribunal de Nurembergue.
Mas não basta que a competência seja definida em lei anterior e geral. É necessário as regras que estabeleçam competência não sejam alteradas pelo órgão julgados, uma vez que são indisponíveis. Assim, só o legislador pode alterar as regras de competência. Por isso, o juiz não pode avocar ou derrogar competência.
Aspecto Subjetivo ou Substancial – Juiz natural é o juiz IMPARCIAL. A imparcialidade é um atributo da jurisdição. Há várias maneiras de se controlar a parcialidade do julgador: alegação de incompetência ou suspensão do juiz; distribuição de processos por meio de sorteio; previsão de garantia para a magistratura (independência, vitaliciedade, irredutibilidade do salário, inamovibilidade).[11: Julgado: Reclamação 417/11 de março de 93.]
Ex: O Tribunal de Justiça do Estado de Roraima foi criado e fizeram o primeiro concurso. Foi ajuizada uma ação civil pública contra todos os juízes do tribunal, que foi parar em um dos juízes que havia passado no primeiro concurso. Ocorre que esse juiz (assim como todos os outros daquele TJ) estava em estágio probatório, não sendo considerado pelo STF como imparcial para a resolução da causa (pois seriam os desembargadores do TJ que iriam decidir seu estágio probatório. Portanto, não havendo juiz natural em Roraima, o STF chamou para si a competência para julgar os desembargadores do TJ/RR. Rcl 417 do STF.
O princípio do juiz natural se aplica o Ministério Público (princípio do promotor natural) e, inclusive, no âmbito dos Tribunais Administrativo, na opinião de Fredie.
5. Jurisdição Voluntária
Características Principais:
A jurisdição voluntária é uma função, atribuída a juízes, (portanto, ESTATAL), de FISCALIZAR e INTEGRAR alguns atos jurídicos: É dizer, alguns atos são levados perante o juiz para que ele fiscalize se estão presentes todos os requisitos impostos pela lei para sua prática e, se estiverem presentes, integre o ato, para fazer como que ele produza os efeitos jurídicos desejados.
Tem função integrativa da vontade, tornado-a apta a produzir os efeitos desejados. Serve para permitir que alguns efeitos jurídicos desejados pela parte possam ser produzidos, já que sua vontade não é suficiente para isso, devendo ser integrada pelo Poder Judiciário. Em razão de sua função integrativa, também é chamada de jurisdição integrativa.
Tem função fiscalizatória, pois cabe ao juiz analisar se o ato foi praticado regularmente.
A jurisdição voluntária, em regra, é OBRIGATÓRIA/NECESSÁRIA. Ou seja, em regra, os atos jurídicos somente podem produzir efeitos após a fiscalização judicial (ex: interdição). Há situações excepcionais, nas quais a jurisdição voluntária aparece como uma opção do autor (Ex: separação consensual sem incapaz envolvido – é ato que pode ser feito em cartório ou em juízo).
Tratando da condição de ação do interesse de agir, em sua acepção interesse-necessidade, nas ações de jurisdição voluntária, Leonardo Greco afirma: “o interesse de agir decorreria normalmente da própria lei que subordina a validade ou a eficácia de um ato da vida privada ao conhecimento, à homologação, autorização ou aprovação judicial, impedindo que o requerente alcance o objetivo jurídico almejado sem a concorrência da cognição ou da vontade estatal manifestadas através do órgão jurisdicional”. Ou seja, o interesse-necessidade seria presumido, in re ipsa.
A jurisdição voluntária tem, em regra, natureza CONSTITUTIVA (ela cria situações jurídicas novas, ou extingue ou altera situações jurídicas já existentes).
O processo de jurisdição voluntária se caracteriza pela INQUISITORIEDADE: Significa que, na jurisdição voluntária, há um reforço do papel do juiz no processo.Marcas disso é que o juiz pode decidir de forma contrária à vontade das partes e vários procedimentos de jurisdição voluntária podem começar ex officio (o juiz instaura o procedimento).[12: Lembrar que processo inquisitivo é aquele em que o juiz protagoniza (ele decide, impulsiona, gere as provas etc.). O contrário de processso inquisitivo é o processo dispositivo, acusatório ou adversarial (em que as partes atuam como protagonistas, cabendo ao juiz apenas decidir). Ex. de processo dispositivo é o americano.]
Exemplos de procedimento de jurisdição voluntária que o juiz pode instaurar de ofício. Arts. 1129, 1142, 1160 e 1171 do CPC.
Permite-se JUÍZO DE EQÜIDADE na Jurisdição Voluntária. O art. 1109 do CPC permite o juízo de eqüidade, uma decisão que não observe a legalidade estrita, que tente dar uma decisão justa de acordo com as características do caso concreto. Ele confere ao juiz um poder criativo muito maior, mitigando o positivismo que vigorava na época da edição do Código. O surpreendente dele é que esse artigo convive com o art. 126, que é com ele incompatível, desde 1973.
Art. 1.109. O juiz decidirá o pedido no prazo de 10 (dez) dias; não é, porém, obrigado a observar critério de legalidade estrita, podendo adotar em cada caso a solução que reputar mais conveniente ou oportuna.
Art. 126. O juiz não se exime de sentenciar ou despachar alegando lacuna ou obscuridade da lei. No julgamento da lide caber-lhe-á aplicar as normas legais; não as havendo, recorrerá à analogia, aos costumes e aos princípios gerais de direito.
Art. 127. O juiz só decidirá por eqüidade nos casos previstos em lei.
O art. 126 consagrava o entendimento de que princípios eram mera forma de suprimento de lacunas, e não norma jurídica. Hoje, diante da nova teoria das normas jurídicas (que abarca regras e princípios), não há mais cabimento para o art. 126. Na atualidade, o princípio pode ser aplicado em qualquer situação, já que têm força normativa. Assim, não se deve pensar que só na jurisdição voluntária se aplica o entendimento consagrado no art. 1109 do CPC.
Exemplos de aplicações do art. 1109:
Guarda compartilhada de filhos: Não existia a previsão de guarda compartilhada em lei (é de 2008), mas esse tipo de guarda já era conferida anteriormente, com base no juízo de eqüidade do art. 1109 do CPC.
Na interdição (jurisdição voluntária), a lei manda que o juiz interrogue o interditando. Imaginando que o interditando esteja em coma, deve o juiz dispensar o interrogatório com base no art. 1109.
Assim, o art. 1109 pode ser compreendido como uma cláusula geral de adequação do processo de jurisdição voluntária. Ver princípio da adequação.
A jurisdição voluntária se encerra por SENTENÇA, que é APELÁVEL.[13: Tem gente que acha que o processo voluntário não gera sentença, mas isso é besteira.]
O juiz possui as mesmas GARANTIAS que possui quando atua na jurisdição contenciosa (poderes e garantias). Isso é importante porque houve em uma época em que o juiz da jurisdição voluntária era equiparado pela doutrina a um tabelião.
Existe CONTRADITÓRIO em jurisdição voluntária, já que é preciso ouvir todas as pessoas interessadas naquele assunto. Assim, todos os possíveis interessados na causa devem ser citados para se manifestar em 10 dias. Ex: ação de retificação do registro imobiliário (pois tem que ouvir os vizinhos). Isso está previsto nos art. 1105 e 1106.
Art. 1.105. Serão citados, sob pena de nulidade, todos os interessados, bem como o Ministério Público.
Art. 1.106. O prazo para responder é de 10 (dez) dias.
Importante: Atuação do Ministério Público
O art. 1105 pode dar a entender que o Ministério Público tem que intervir em todos os casos de jurisdição voluntaria, mas essa não é a melhor interpretação.
O fato de ser jurisdição voluntária não é suficiente para que o Ministério Público intervenha. É preciso que envolva interesse indisponível para ensejar sua citação. Esse é o entendimento majoritário: de que a intervenção do MP só deve ocorrer na conjugação dos art. 1105 e 82 do CPC.
Art. 82 do CPC. Compete ao Ministério Público intervir:
I - nas causas em que há interesses de incapazes;
II - nas causas concernentes ao estado da pessoa, pátrio poder, tutela, curatela, interdição, casamento,
declaração de ausência e disposições de última vontade;
III - nas ações que envolvam litígios coletivos pela posse da terra rural e nas demais causas em que há
interesse público evidenciado pela natureza da lide ou qualidade da parte.
Há procedimentos especiais de jurisdição voluntária. Quando não for o caso, segue-se o procedimento comum previsto nos art. 1103 a 1111 do CPC (estrutura o procedimento comum na jurisdição voluntária).
TÍTULO II
DOS PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA
CAPÍTULO I
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 1.103. Quando este Código não estabelecer procedimento especial, regem a jurisdição voluntária as disposições constantes deste Capítulo.
Art. 1.104. O procedimento terá início por provocação do interessado ou do Ministério Público, cabendo-lhes formular o pedido em requerimento dirigido ao juiz, devidamente instruído com os documentos necessários e com a indicação da providência judicial.
Art. 1.105. Serão citados, sob pena de nulidade, todos os interessados, bem como o Ministério Público.
Art. 1.106. O prazo para responder é de 10 (dez) dias.
Art. 1.107. Os interessados podem produzir as provas destinadas a demonstrar as suas alegações; mas ao juiz é licito investigar livremente os fatos e ordenar de ofício a realização de quaisquer provas.
Art. 1.108. A Fazenda Pública será sempre ouvida nos casos em que tiver interesse.
Art. 1.109. O juiz decidirá o pedido no prazo de 10 (dez) dias; não é, porém, obrigado a observar critério de legalidade estrita, podendo adotar em cada caso a solução que reputar mais conveniente ou oportuna.
Art. 1.110. Da sentença caberá apelação.
Art. 1.111. A sentença poderá ser modificada, sem prejuízo dos efeitos já produzidos, se ocorrerem circunstâncias supervenientes.
Art. 1.112. Processar-se-á na forma estabelecida neste Capítulo o pedido de:
I - emancipação;
II - sub-rogação;
III - alienação, arrendamento ou oneração de bens dotais, de menores, de órfãos e de interditos;
IV - alienação, locação e administração da coisa comum;
V - alienação de quinhão em coisa comum;
Vl - extinção de usufruto e de fideicomisso.
5.2. Natureza Jurídica
	Existem duas correntes que tratam da natureza jurídica da Jurisdição Voluntária:
CORRENTE TRADICIONAL ou ADMINISTRATIVISTA: Essa corrente classifica a jurisdição voluntária como uma administração pública de interesses privados. O fundamento para isso é de que não há lide (eles partem da premissa de que a lide/conflito é da essência de jurisdição). Como conseqüência disso: não haveria ação (porque não haveria lide ou jurisdição), processo, partes ou coisa julgada. Essa é a corrente adotada pela Escola Paulista de Processo e, por isso, prevalecente. Fredie critica dizendo que essa é uma construção tautológica.
CORRENTE MODERNA: Defende a natureza jurisdicional da jurisdição voluntária. Nega a premissa da corrente tradicional, pois alega que (i) não há necessidade de que haja lide para a configuração da jurisdição, bastando que haja uma questão a ser resolvida (se o problema é litigioso ou não, não importa), e (ii) há lide em potencial na jurisdição voluntária, apesar de ela não precisar ser afirmada. Tanto a jurisdição abriga a possibilidade de conflito que se impõe a citação de todos os interessados. Ex: retificação de registro de imóveis – Se um dos vizinhos não aceitar os termos da retificação, estará configurada a lide. Ex: caso da interdição de pródigo.
O processo não precisa de lide. O que tem que ter no processo é um problema a ser resolvido. Se esse problema é litigioso ou não, não é da essência da jurisdição.
A teoria moderna afirma, ainda, que a jurisdição voluntária não pode ser considerada administrativa porque nela o juiz atua como terceiro imparcial, para atender interesseprivado, enquanto a Administração age em seu próprio interesse.
Ademais, ainda que não haja litígio, não se pode dizer que não há partes, pois parte, em sentido processual, é o sujeito parcial da relação jurídica processual.
Fredie termina dizendo que, embora os argumentos da corrente administrativista possam ser defendidos, após a Constituição de 1988, é inadmissível dizer que não há processo em jurisdição voluntária.
Mesmo quem adota a concepção de que a jurisdição voluntária é atividade administrativa não pode negar que haja processo que, nesse caso, será processo administrativo.
A concepção administrativa é de uma época em que não havia sequer processo administrativo (mas procedimento). Hoje, a existência de processo administrativo é indiscutível no Brasil (pois o devido processo legal e o contraditório são garantias legais), de modo que mesmo que se entenda que a jurisdição voluntária tem natureza administrativa, deve-se reconhecer que há processo de jurisdição voluntária.
Curiosidade: Ambas as correntes fundamentam seus entendimentos acerca da coisa julgada no mesmo artigo do CPC:
Art. 1.111. A sentença poderá ser modificada, sem prejuízo dos efeitos já produzidos, se ocorrerem circunstâncias supervenientes.
Os defensores da corrente administrativista alegam que, podendo a sentença ser modificada, não há coisa julgada.
Já os defensores da corrente jurisdicionalista alegam que há coisa julgada sim, que só poderá ser modificada em virtude de fatos novos supervenientes.[14: Os defensores da corrente jurisdicional alegam que toda decisão judicial se submete à cláusula rebus sic stantibus. A modificação superveniente dos fatos não afetaria a coisa julgada (que só se refere a fatos passados), pois, em havendo alteração da situação jurídica, haveria a necessidade de se criar uma nova norma jurídica concreta, uma nova decisão. Se o fato é novo, é porque não foi julgado, não podendo haver coisa julgada sobre fato não julgado.]
Jurisdição no Estado Constitucional:
Passadas décadas e décadas, ainda são sustentadas teorias que indicam ter a jurisdição a função de meramente fazer atuar a vontade concreta da lei – noção atribuída a Chiovenda (Giuseppe Chiovenda, Instituições de direito processual civil. São Paulo: Saraiva, 1969, v. 2, p. 55. ) − e de que o trabalho do juiz poderia ser resumido como a criação da norma individual para o caso concreto, conforme a tese da “justa composição da lide”, de Carnelutti (Francesco Carnelutti, Sistema di diritto processuale civile, Padova: Cedam, 1936, v. 1, p. 40). Ocorre que a própria concepção de direito foi, nesse ínterim, completamente transformada. Diz Marinoni: “A lei, que na época do Estado legislativo valia em razão da autoridade que a proclamava, independentemente da sua correlação com os princípios de justiça, não existe mais. A lei, como é sabido, perdeu o seu posto de supremacia, e hoje é subordinada à Constituição. (...) Isso significa que as teorias de Chiovenda e Carnelutti, se não podem ser contestadas em sua lógica, certamente não têm – nem poderiam ter – mais relação alguma com a realidade do Estado contemporâneo.(...) A transformação da concepção de direito fez surgir um positivismo crítico, que passou a desenvolver teorias destinadas a dar ao juiz a real possibilidade de afirmar o conteúdo da lei comprometido com a Constituição”.
Portanto, antigas teorias da jurisdição, calcadas meramente no princípio da supremacia da lei e no positivismo acrítico (juiz com a mera função de declarar o direito ou de criar a norma individual), são hoje insustentáveis. Vige, no Estado constitucional, um novo modelo de juiz, “sendo apenas necessário, agora, que o direito processual civil se dê conta disso e proponha um conceito de jurisdição que seja capaz de abarcar a nova realidade que se criou”, conforme Marinoni. A legislação deve ser compreendida a partir dos princípios constitucionais e dos direitos fundamentais, e é o juiz quem tem o dever de interpretá-la de acordo com a Constituição.
Hoje, pode-se tranquilamente apontar uma série de situações em que o juiz está longe de se limitar às ideias de declaração da lei e de criação da norma individual: i) no controle da constitucionalidade da lei (atribuindo-lhe, o juiz, novo sentido para evitar a declaração de inconstitucionalidade); ii) no suprimento de omissões legais que impeçam a proteção de um direito fundamental; e iii) na definição da tutela adequada ante o choque de direitos fundamentais no caso concreto.
Embora isso não signifique que o juiz passou a ter o poder de criar o direito, uma análise mais detida da norma jurídica pode ser muito reveladora. De fato, a mera norma, compreendida simplesmente como o texto em que condensada, não é criada pelo juiz. Contudo, a norma jurídica, entendida como a interpretação dela decorrente, é, sim, produto da atuação do juiz, resultando do cumprimento de suas atribuições − no que, como visto, deve estar ele pautado pelas normas constitucionais.
Nesse contexto, é necessário colocar a questão sob a perspectiva de direito material. Isso porque, antes de tudo, cabe ao juiz dar tutela ao direito material (à própria função de editar a norma jurídica só se impõe, na verdade, com vistas ao desempenho desta outra). Trata-se de desdobramento do direito fundamental à tutela jurisdicional.
É aí que se situa o problema da maior subjetividade outorgada ao juiz para a realização e a proteção dos direitos, natural a uma lógica que faz as normas constitucionais preponderarem sobre a legislação. Como daí decorre a impossibilidade de se falar na existência de uma decisão correta para o caso concreto, o que se tem é a definição de uma característica marcante na Jurisdição do Estado Constitucional: a importância destacada da argumentação e fundamentação pelo juiz. Cresce-lhe o peso do dever de demonstrar que a sua decisão é a melhor possível mediante uma argumentação fundada em critérios racionais.
 
Ponto 1.b. Procedimento comum e procedimentos especiais.
Principais obras consultadas: Resumo do 27º CPR. Didier Júnior, Fredie. Anotações de aula (Curso LFG – 2010); Neves, Daniel Amorim Assumpção. Anotações de aula (Curso LFG – 2010); e Marinoni, Luiz Guilherme. A Jurisdição no Estado Constitucional. Disponível em http://bdjur.stj.jus.br/xmlui/bitstream/handle/2011/2174/A_Jurisdi%E7%E3o_no_Estado_Constitucional.pdf.txt?sequence=3
(ou http://pt.scribd.com/doc/95678786/A-JURISDICAO-NO-ESTADO-CONSTITUCIONAL).
Legislação básica: CPC.
1. Disciplina legislativa no sistema do CPC:
No sistema do CPC, de 1973, tanto o procedimento comum, quanto os procedimentos especiais são considerados como procedimentos do “processo de conhecimento”.
2. Procedimento comum:
2.1) Procedimento comum ordinário: É o procedimento-padrão, do que decorrem duas consequências: i) é o procedimento a ser aplicado como regra, sendo afastado apenas quando houver disposição em sentido contrário (CPC, art. 271); ii) é aplicado subsidiariamente a todos os demais procedimentos (CPC, art. 272, parágrafo único).
2.2) Procedimento comum sumário:
1. Generalidades
	Segundo Guillen, a tutela, no processo civil, pode ser acelerada de duas maneiras distintas:
Sumarização cognitiva  Limitam-se, vertical ou horizontalmente, as matérias apreciáveis. É o que ocorre na tutela cautelar e nas tutelas satisfativas autônomas.
Sumarização procedimental  Neste caso, promove-se a aceleração da tutela, sem afastar a cognição plena. É o caso do procedimento sumário.
	A doutrina costuma dizer que o procedimento sumário é um procedimento plenário rápido: acelera-se o procedimento, embora a cognição permaneça plena.
	Obs.: o procedimento sumaríssimo dos juizados especiais cíveis usa a mesma técnica de sumarização procedimental.
	Não se pode esquecer que o CPC, nos artigos 270 ao 272, estabelece divisões procedimentais dentro do processo de conhecimento. Existe o procedimento comum (com rito ordinário ou sumário) e os procedimentos especiais (Livro IV do CPC). Paraa maioria da doutrina, o procedimento sumariíssimo seria uma espécie de procedimento especial.
Art. 270. Este Código regula o processo de conhecimento (Livro I), de execução (Livro II), cautelar (Livro III) e os procedimentos especiais (Livro IV).
Art. 271. Aplica-se a todas as causas o procedimento comum, salvo disposição em contrário deste Código ou de lei especial.
Art. 272. O procedimento comum é ordinário ou sumário. (Redação dada pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994)
	O art. 272, parágrafo único, do CPC merece destaque: o procedimento ordinário é aplicado subsidiariamente ao procedimento sumário e aos especiais.
Parágrafo único. O procedimento especial e o procedimento sumário regem-se pelas disposições que Ihes são próprias, aplicando-se-lhes, subsidiariamente, as disposições gerais do procedimento ordinário. (Incluído pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994)
2. Cabimento do procedimento sumário (275, CPC)
	O CPC, para definir as hipóteses de procedimento sumário, estabelece dois critérios:
Critério valorativo (art. 275, I)  Se o valor da causa não exceder a 60 salários-mínimos, segue-se o procedimento sumário. Obs.: o que vale é o salário mínimo da data do ajuizamento.
Critério material (art. 275, II)  Nestes casos, não interessa o valor da causa, mas sim a causa de pedir.
2.1. Matérias sujeitas ao procedimento sumário:
Arrendamento rural e parceria agrícola  Tais contratos estão previstos nos arts. 3º e 4º do Decreto 59566/66 (Estatuto da terra).
	Cobrança ao condômino de quaisquer quantias devidas ao condomínio  Neste caso, o condômino é cobrado pelo condomínio. É preciso tomar muito cuidado para não confundir essa previsão com o art. 585, V do CPC, que trata do título executivo extrajudicial:
Art. 585. São títulos executivos extrajudiciais:
V - o crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de imóvel, bem como de encargos acessórios, tais como taxas e despesas de condomínio;
Pergunta-se: essa quantia deve ser executada diretamente ou cobrada em procedimento sumário? Veja:
Se a causa for proposta pelo condomínio contra o condômino (proprietário ou locatário), nesse caso, há processo de conhecimento pelo rito sumário. [Condomínio x Condômino  procedimento sumário]
Se a ação for ajuizada pelo condômino locador contra o condômino locatário, havendo contrato escrito, utiliza-se a via do processo de execução. [Locador x Locatário  execução]
Ressarcimento por danos em prédio urbano ou rústico
Ressarcimento por danos causados em acidente de veículo de via terrestre  É o caso mais comum. Via terrestre, obviamente, não envolve barcos e aviões.
Cobrança de seguro, relativamente aos danos causados em acidente de veículo  Neste caso, em virtude da falha legal, a cobrança de seguro não precisa envolver acidente de veículo terrestre (o veículo pode ser um barco, v.g.).
Cobrança de honorários dos profissionais liberais  É preciso atentar, pois o profissional liberal não possui vínculo empregatício. Muito já se discutiu acerca da competência da Justiça do Trabalho para julgar a causa, sobretudo em razão da reforma trazida com a EC n. 45. No CC 46562-SC, o STJ entendeu que, em se tratando de profissional liberal, a competência é da justiça comum.
Causas que versem sobre revogação de doação; (Redação dada pela Lei nº 12.122, de 2009). Novidade!
Demais casos previstos em lei  Exemplos:
Acidente de trabalho (art. 129, II da Lei 8.213/91);
Adjudicação compulsória (art. 16 do Decreto-Lei 58/37);
Retificação de registro civil (art. 110, IV da LRP).
2.2. Hipóteses de não cabimento (art. 275, parágrafo único)
	Não se aplica o procedimento sumário nas ações relacionadas com o:
Estado
Capacidade das pessoas
Parágrafo único. Este procedimento não será observado nas ações relativas ao estado e à capacidade das pessoas. (Redação dada pela Lei nº 9.245, de 26.12.1995)
	Ex: separação, divórcio, interdição, tutela, curatela, guarda, ação de mudança de nome.
3. Obrigatoriedade do procedimento sumário
	Durante muitos anos, doutrina e jurisprudência entendiam que as regras procedimentais não eram estabelecidas em benefício das partes, mas sim em benefício do sistema.
	A partir dessa premissa, autores de grande renome, a exemplo de Barbosa Moreira, Calmon de Passos e outros sustentavam peremptoriamente: o procedimento sumário é obrigatório. Ainda há, inclusive, julgados nesse sentido. Adotada essa tese (o que é possível em concursos) o juiz deverá converter o rito inadequado ao rito adequado (já que decorreria de imperativo legal).
	Contudo, de uns anos para cá, a jurisprudência do STJ tem admitido o manejo do procedimento ordinário no lugar do sumário. O fundamento é simples: inexistência de prejuízo. Cf. RESp 737260:
PROCESSO CIVIL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. ACIDENTE DE TRÂNSITO. PROCEDIMENTO. ADOÇÃO DO RITO ORDINÁRIO AO INVÉS DO SUMÁRIO. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES. PREJUÍZO. AUSÊNCIA. INÉPCIA POR ESCOLHA INADEQUADA DE PROCEDIMENTO. INOCORRÊNCIA. INSTRUMENTALIDADE DO PROCESSO.
- A jurisprudência do STJ acolhe entendimento no sentido de que, inexistindo prejuízo para a parte adversa, admissível é a conversão do rito sumário para o ordinário.
- Não há nulidade na adoção do rito ordinário ao invés do sumário, salvo se demonstrado prejuízo, notadamente porque o ordinário é mais amplo do que o sumário e propicia maior dilação probatória.
- Não há inépcia da inicial pela adoção do rito ordinário para as ações previstas no art. 275 do Código de Processo Civil.
	Grave o que entende a jurisprudência do STJ:
A adoção do rito ordinário, no lugar do sumário, é possível e não gera nulidade, desde que não cause prejuízo.
Não há inépcia da inicial pela adoção do rito ordinário, quando era cabível o sumário.
4. Procedimento
4.1. Petição inicial
	A petição inicial do procedimento sumário segue o padrão do art. 282 do CPC. A única mudança está no art. 276: logo na petição inicial, o autor deve:
Arrolar testemunhas
Formular quesitos
Indicar assistente técnico
	Atente: A jurisprudência dominante é no sentido de que a inobservância da indicação dessas provas gera preclusão.
Art. 276. Na petição inicial, o autor apresentará o rol de testemunhas e, se requerer perícia, formulará quesitos, podendo indicar assistente técnico. (Redação dada pela Lei nº 9.245, de 26.12.1995)
4.2. Citação
A citação, no processo de procedimento sumário, não tem regra específica: aplicam-se as regras de procedimento ordinário. Destaca-se apenas uma coisa: diferentemente do procedimento ordinário, em que o réu é citado para contestar, o réu, aqui, é citado para comparecer a uma audiência, em 30 dias.
	O CPC dispõe ainda que o réu deve ser citado com, pelo menos, 10 dias de antecedência, já que trará sua defesa na audiência. Segundo Alexandre Câmara, como a lei não fala em “juntada a citação”, a doutrina entende que conta-se da efetiva citação, e não da juntada do mandado cumprido aos autos.
	Sendo Fazenda Pública ré, dispõe o art. 277 que o prazo da audiência DUPLICA: é de 60 dias, com 20 DIAS de antecedência. No livro “A Fazenda Pública em Juízo”, Guilherme Freire, Leonardo Cunha, Luiz Guilherme Marinoni e Daniel Mitidiero entendem, em posição majoritária, que o marco inicial de contagem desse prazo de 20 dias é a juntada do mandado de citação dos autos, na forma do art. 241, II do CPC. Nery entende contrariamente.
	Alexandre Câmara entende que se aplica o art. 191 do CPC (prazo dobrado para litisconsortes com advogados diferentes) ao procedimento sumário.
4.3. Audiência de conciliação e contestação (art. 277 e 278 do CPC)
Art. 277. O juiz designará a audiência de conciliação a ser realizada no prazo de trinta dias, citando-se o réu com a antecedência mínima de dez dias e sob advertência prevista no § 2º deste artigo, determinando o comparecimento das partes. Sendo ré a Fazenda Pública, os prazos contar-se-ão em dobro. (Redação dada pela Lei nº 9.245, de 26.12.1995)
	A finalidade dessa audiência, primeiramente, é a de que as partes cheguem a um acordo. Feito acordo, dispõe o §1º:
§ 1ºA conciliação será reduzida a termo e homologada por sentença, podendo o juiz ser auxiliado por conciliador.
	As partes devem comparecer a essa audiência pessoalmente ou com procurador com poder de transação (§3º). Atente: é incompatível a condição de preposto com a de advogado (Estatuto da OAB).
§ 3º As partes comparecerão pessoalmente à audiência, podendo fazer-se representar por preposto com poderes para transigir. (Incluído pela Lei nº 9.245, de 26.12.1995)
	Deixando o réu de comparecer à audiência de conciliação, presumem-se verdadeiros os fatos alegados na inicial. Assim dispõe o §2º do art. 277 do CPC:
§ 2º Deixando injustificadamente o réu de comparecer à audiência, reputar-se-ão verdadeiros os fatos alegados na petição inicial (art. 319), salvo se o contrário resultar da prova dos autos, proferindo o juiz, desde logo, a sentença. 	
	Hipóteses relacionados à ausência do réu na audiência de conciliação:
O réu não comparece, nem preposto com poderes para transigir, nem seu advogado  Revelia do réu, com imputação a pena de confissão.
O réu não comparece nem preposto com poderes para transigir, mas o advogado comparece  Não haverá conciliação, mas o advogado pode apresentar contestação e evitar a decretação da revelia.
O réu comparece, mas o advogado falta  Pode haver conciliação. Se não ocorrer conciliação, haverá decretação da revelia do réu (pois só o advogado tem capacidade postulatória para contestar).
CUIDADO: no Resp 1.166.340/RJ, de 1º/3/2012, a Quarta Turma do STJ decidiu que o conciliador não pode presidir a instrução ou decretar a revelia e, obter dictum, afirmou não haver previsão legal de que a falta do réu na audiência de conciliação, no rito sumário, fará presumir que foram aceitos como verdadeiros os fatos alegados pelo autor. Confira-se:
RITO SUMÁRIO. AUSÊNCIA DE CONTESTAÇÃO. AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO. REVELIA.
A Turma, por maioria, deu provimento ao recurso especial para afastar a revelia reconhecida em desfavor do réu ora recorrente, que não apresentou a contestação na audiência de conciliação presidida por conciliador auxiliar, no rito sumário. No caso em exame, após frustrada a tentativa de acordo, diante da falta de defesa do réu, o conciliador auxiliar decretou sua revelia. A Min. Relatora sustentou que o sistema legal de concentração de atos processuais não foi obedecido pelo órgão judicial, na medida em que não compareceu à audiência, a qual foi presidida integralmente por conciliador auxiliar. Asseverou que não foi facultado ao réu o oferecimento de defesa perante juiz de direito, o qual seria o competente para a análise prévia das circunstâncias previstas nos §§ 4º e 5º do art. 277 do CPC. Segundo destacou, no sistema legal concebido para o rito sumário, o conciliador tem atribuição apenas auxiliar, não lhe cabendo presidir a audiência concentrada prevista no CPC. Conclui, assim, que presente o réu e ausente o juiz de direito, não obtido o acordo, seria vedado o prosseguimento da audiência perante o conciliador. Acrescentou, ademais, inexistir previsão legal de que a falta de contestação do réu na audiência de conciliação, no rito sumário, fará presumir que foram aceitos como verdadeiros os fatos alegados pelo autor. REsp 1.166.340-RJ, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 1º/3/2012.
Pergunta-se: e se quem não aparecer for o autor? Há duas correntes (nenhuma dominante):
Corrente: Se o autor não for, não acontece nada. A ausência do autor significa simplesmente que ele não quis o acordo.
Corrente: Nelson Nery sustenta que deve ser aplicado, por analogia, o art. 51, I, da Lei 9.099/95 (Juizados Especiais) que dispõe que o juiz, na ausência do autor, deverá extinguir o processo sem apreciação do mérito.
	Nos termos do art. 277, §§ 4º e 5º, as decisões sobre o cabimento do procedimento sumário ocorrem em audiência. Atente: o §5º admite a conversão do procedimento sumário em ordinário quando a prova for muito complexa. E não erre: cabe perícia no procedimento sumário.
§ 4º O juiz, na audiência, decidirá de plano a impugnação ao valor da causa ou a controvérsia sobre a natureza da demanda, determinando, se for o caso, a conversão do procedimento sumário em ordinário.
§ 5º A conversão também ocorrerá quando houver necessidade de prova técnica de maior complexidade.
4.4. Requisitos da contestação (art. 278)
	Na contestação, o réu deverá arrolar testemunhas, apresentar quesito e nomear assistente técnico, sob pena de preclusão. Em poucas palavras: as mesmas exigências ao autor na inicial são feitas ao réu, na contestação.
	Não preenchidos esses requisitos o réu perde o direito de produzir prova.
	O art. 278 prevê, ainda, que, não obtida conciliação, o réu oferecerá, na própria audiência, contestação escrita ou oral.
Art. 278. Não obtida a conciliação, oferecerá o réu, na própria audiência, resposta escrita ou oral, acompanhada de documentos e rol de testemunhas e, se requerer perícia, formulará seus quesitos desde logo, podendo indicar assistente técnico.
	O art. 278, §1º estabelece que é plenamente possível ao réu formular PEDIDO CONTRAPOSTO, desde que fundado nos mesmos fatos referidos na inicial. O pedido contraposto é muito próximo a uma reconvenção. As diferenças são duas: a) o pedido contraposto não é autônomo (é feito na própria contestação), não havendo custas; b) o âmbito de cabimento do pedido contraposto é menor que o da reconvenção, já que deve ser fundado nos mesmos fatos.
§ 1º É lícito ao réu, na contestação, formular pedido em seu favor, desde que fundado nos mesmos fatos referidos na inicial. (Redação dada pela Lei nº 9.245, de 26.12.1995)
	Pergunta-se: cabe reconvenção no procedimento sumário? Para parte da doutrina, sim, deste que a reconvenção não seja relacionada aos mesmos fatos (pois, neste caso, cabe pedido contraposto). Se o réu quiser pedir fora dos mesmos fatos, será cabível a reconvenção.
CUIDADO: a FCC (prova do TJ/GO), Alexandre Câmara e (aparentemente) Fredie Didier entendem que NÃO CABE RECONVENÇÃO NO PROCEDIMENTO SUMÁRIO, mas cabe pedido contraposto.
4.5. Audiência de instrução e julgamento (art. 278, §2º)
§ 2º Havendo necessidade de produção de prova oral e não ocorrendo qualquer das hipóteses previstas nos arts. 329 e 330, I e II, será designada audiência de instrução e julgamento para data próxima, não excedente de trinta dias, salvo se houver determinação de perícia.
	Nessa audiência serão colhidas as provas, podendo os probatórios ser colhidos de maneira mais simples, desburocratizada, nos termos do art. 279 do CPC:
Art. 279. Os atos probatórios realizados em audiência poderão ser documentados mediante taquigrafia, estenotipia ou outro método hábil de documentação, fazendo-se a respectiva transcrição se a determinar o juiz. 
Parágrafo único. Nas comarcas ou varas em que não for possível a taquigrafia, a estenotipia ou outro método de documentação, os depoimentos serão reduzidos a termo, do qual constará apenas o essencial.
Segundo Alexandre Câmara, nessa audiência de instrução e julgamento, a ausência do advogado do autor ou do réu não torna impossível a sua oitiva ou de suas testemunhas, ficando, contudo, a critério do juiz ouvi-los ou não (não há mais o direito de ser ouvido ou de ter as testemunhas ouvidas).
 
5. Últimas questões processuais
1ª – Nos termos do art. 280 do CPC, no procedimento sumário não cabe:
Ação declaratória incidental;
Intervenção de terceiros  Exceções:
Assistência;
Recurso de terceiro prejudicado;
Intervenção de terceiros fundada em contrato de seguro (chamamento ao processo e denunciação da lide).
Art. 280. No procedimento sumário não são admissíveis a ação declaratória incidental e a intervenção de terceiros, salvo a assistência, o recurso de terceiro prejudicado e a intervenção fundada em contrato de seguro.
2ª – Nos recursos interpostos nas causas submetidas ao procedimento sumário, não há revisor: há relator, 1º, 2º e 3º juiz, sendo que o 2º não tem acesso ao processo antes da sessão.
§ 3º Nos recursos interpostos nas causas de procedimentos sumários,de despejo e nos casos de indeferimento liminar da petição inicial, não haverá revisor.
3. Procedimentos especiais:
3.1 Processo e procedimento
		De acordo com a teoria dominante no Brasil, o processo é o instrumento pelo qual o Estado exerce a jurisdição; o autor, o direito de ação; e o réu, o direito de defesa. Esse é o conceito trazido por Cândido Rangel Dinamarco. No sistema brasileiro, na esteira de quase todos os países do mundo, só existem 3 processos:
Processo de conhecimento  Essência eminentemente declarativa;
Processo de execução  Índole/finalidade eminentemente satisfativa;
Processo cautelar  Serve para garantir a efetividade/eficácia do processo de conhecimento ou execução.
		Obs.: conforme ensina a doutrina majoritária, a ação monitória não é um quarto tipo de processo (trata-se de processo de conhecimento).
		De acordo com o art. 22, I da CF, a competência para legislar sobre estes temas é privativa da União. Essa idéia vem desde a Constituição de 1934 (a de 1891 permitia a criação de Códigos de Processo estaduais).
		Veja: só a União pode legislar sobre competência, condições da ação, pressupostos processuais, deveres/poderes das partes e procuradores, criação de recursos, enfim, sobre tudo que envolva a relação jurídica processual.
		O procedimento, por sua vez, é a forma como os atos processuais se combinam no tempo e no espaço. No processo de conhecimento, os procedimentos podem ser:
Comum  Ordinário ou sumário
Especiais  Livro IV do CPC.
		O processo de execução também pode ser assim dividido nos seguintes procedimentos:
Comuns  Por quantia; se fazer e não fazer; de entrega.
Especiais  Execução contra a Fazenda Pública; alimentos; execução contra devedor insolvente.
		As cautelares também seguem a mesma linha:
Comum  Cautelares inominadas (art. 798) e art. 888, CPC;
Especiais  arts. 813 e SS.
		A competência para legislar sobre procedimentos em matéria processual, segundo dispõe o art. 24, XI da CF, é concorrente da União e Estados. Neste ponto, a União legisla sobre normas gerais, enquanto os Estados legislam sobre normas específicas. Isso ocorre em razão das proporções continentais do Brasil, o que faz com que cada região possua realidade distinta, justificando a criação de regras procedimentais.
		Atente: é possível, p. ex., que um Estado-membro, em razão de suas particularidades, altere o prazo para contestar para 30 dias. Para tanto, repise-se, deve haver uma particularidade local. Para o bem ou para o mal, nenhum Estado se atreve a legislar sobre procedimento.
 Aplicação das regras do procedimento comum
		Aplicam-se subsidiariamente aos procedimentos especiais e sumários as regras do procedimento comum ordinário. Isso está no art. 272, parágrafo único do CPC:
Art. 272. O procedimento comum é ordinário ou sumário.
Parágrafo único. O procedimento especial e o procedimento sumário regem-se pelas disposições que Ihes são próprias, aplicando-se-lhes, subsidiariamente, as disposições gerais do procedimento ordinário.
		E mais: na inexistência de regras do processo cautelar e da execução, aplicam-se as regras do processo de conhecimento.
 Princípio da adequação procedimental
		Esse princípio compõe a teoria geral do processo, informando que o legislador é obrigado a, fugindo da ordinariedade, criar procedimentos próprios e específicos para tutelar adequadamente a diversidade das pretensões, adequando os ritos (o instrumental) às particularidades subjetivas e objetivas da causa. Os procedimentos especiais, ao menos em tese, são construídos à luz do princípio da adequação.
Em vista da importância do bem tutelado o legislador criou, p. ex., o procedimento de alimentos e o procedimento especial para a defesa da posse;
Para tutelar o interesse público foi criado, v.g., o procedimento da desapropriação;
Em razão do valor da causa, foi criado o procedimento dos juizados especiais;
Em razão da absoluta incompatibilidade lógica com o procedimento ordinário, foi criado o procedimento especial do inventário, bem como a ação de demarcação e divisão de terras.
O legislador também criou procedimentos especiais sem sentido algum. Nestes casos, o procedimento ordinário seria suficiente. Ex.: a prestação de contas, usucapião, ação de nunciação de obra nova etc.
 Procedimentos especiais fungíveis e infungíveis do processo de conhecimento
		Pergunta-se: é possível renunciar o procedimento especial, para que a ação seja processada de acordo com o procedimento ordinário? Regra geral, SIM.
		De acordo com o regime doutrinário vigente, entende-se que a grande maioria dos procedimentos do CPC é fungível. Consequentemente, não há mais espaço, no neoprocessualismo, para antiga afirmação de que o procedimento foi criado a bem do interesse público e que, por isso, a parte não poderia escolher o procedimento.
		Excepcionalmente, não será possível renunciar ao procedimento especial, caso em que será obrigatório. Isso ocorre quando o procedimento especial é infungível, mais especificamente nas hipóteses em que há incompatibilidade lógica com o procedimento ordinário. Exemplos: inventário, demarcação e divisão.
Tipicidade dos procedimentos, déficit procedimental e flexibilização procedimental
		Apesar do esforço do legislador, inevitavelmente as relações jurídicas são tão complexas que, eventualmente, surge situação jurídica nova, para a qual o legislador não criou procedimento especial. A questão é saber se o juiz poderia flexibilizar o procedimento para tutelar a situação diferenciada.
		A regra do sistema judicial brasileiro é a da rigidez procedimental, isto é, por questões de segurança e previsibilidade, o procedimento processual só pode ser criado ou alterado por lei (federal ou estadual), de modo que não seria lícito ao juiz surpreender as partes com inovações no rito.
		Todavia, mais modernamente, tem sido sustentado que, não havendo procedimento legal adequado para a tutela do direito ou da parte, compete ao juiz providenciar esta operação para compatibilizar o procedimento às garantias constitucionais do processo, promovendo flexibilização procedimental.
	A doutrina estrangeira chama essa flexibilização de princípio da adaptabilidade ou da elasticidade.
	Exemplo: o art. 452 do CPC estabelece qual é a ordem da produção de provas no processo civil. A primeira prova a ser produzida é a pericial, seguida do depoimento do perito, depoimento das partes e testemunhas. É possível, em determinadas situações, mudar essa ordem.
Art. 452. As provas serão produzidas na audiência nesta ordem:
I - o perito e os assistentes técnicos responderão aos quesitos de esclarecimentos, requeridos no prazo e na forma do art. 435;
II - o juiz tomará os depoimentos pessoais, primeiro do autor e depois do réu;
III - finalmente, serão inquiridas as testemunhas arroladas pelo autor e pelo réu.
		Existem 3 condições principais para o uso do princípio da adaptabilidade:
1ª – Regime de exceção  O seu uso só é possível se houver particularidade justificadora;
2ª – Observância do princípio do contraditório  As partes têm de ser previamente avisadas;[15: Isso é necessário para justificar a mudança, permitindo, inclusive o recurso de uma das partes.]
3ª – Observância e não-afastamento das regras do processo constitucional  Não se pode, sob o fundamento de flexibilizar, prejudicar garantias constitucionais. Somente é permitida a potencialização das garantias.
Ponto 1.c. Execução de títulos extrajudiciais: conceito, espécies, pressupostos, partes, competência e procedimento.
Principais obras consultadas: Didier Júnior, Fredie. Anotações de aula (Curso LFG – 2010); Neves, Daniel Amorim Assumpção. Anotações de aula (Curso LFG – 2010); e Marinoni, Luiz Guilherme. A Jurisdição no Estado Constitucional. Disponível em http://bdjur.stj.jus.br/xmlui/bitstream/handle/2011/2174/A_Jurisdi%E7%E3o_no_Estado_Constitucional.pdf.txt?sequence=3
(ou http://pt.scribd.com/doc/95678786/A-JURISDICAO-NO-ESTADO-CONSTITUCIONAL).
Legislação básica: CPC.
1. Introdução

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