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Protecao Internacional dos Dire santo graal vitaminado

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Santo Graal Vitaminado – Atualizado por: Isadora Chaves Carvalho
PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
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SUMÁRIO
Ponto 1.a. Violação de direitos humanos e responsabilidade internacional do Estado. 5
Ponto 1.b. Relação entre violação de direitos humanos e crimes internacionais conexos: apartheid, tortura, desaparecimento forçado, genocídio, trabalho e comércio escravo, crimes de guerra e crimes contra a humanidade. 22
Ponto 1.c. Proteção internacional dos direitos humanos e a reserva de jurisdição interna do Estado: limites e aplicabilidade do art. 2º, para. (7), da Carta da ONU. 30
Ponto 2.a. Princípio da universalidade dos direitos humanos e o relativismo cultural. Gramáticas diferenciadas de direitos. O ius cogens internacional em matéria de direitos humanos. 35
Ponto 2.b. Princípio da indivisibilidade dos direitos humanos. A teoria das “gerações” de direitos. Diferenças entre obrigações decorrentes da garantia de direitos civis e políticos e obrigações decorrentes da garantia de direitos econômicos, sociais e culturais. 45
Ponto 2.c. Direitos humanos e garantias constitucionais fundamentais: convergências e divergências conceituais. Tratamento diferenciado entre direitos fundamentais e direitos sociais na Constituição Federal. 54
Ponto 3.a. Relação entre o regime de proteção internacional de direitos humanos, o direito internacional humanitário, o direito de minorias, o direito de refugiados e o direito internacional penal. 58
Ponto 3.b. Eficácia vertical e horizontal de direitos humanos (“Drittwirkung”). Obrigação de respeitar e de garantir respeito a direitos. 64
Ponto 3.c: As Nações Unidas e a promoção universal dos direitos humanos: inteligência do art. 1º, para. (3), da Carta da ONU. Valor normativo da Declaração Universal dos Direitos Humanos. 69
Ponto 4.a. Procedimentos especiais no âmbito do Conselho de Direitos Humanos da ONU. Os procedimentos das Resoluções ECOSOC 1235 e 1503. As relatorias especiais. O sistema de "peer review". 75
Ponto 4.b. Sistema de monitoramento multilateral de direitos: relatórios periódicos, comunicações interestatais, petições individuais e investigações motu próprio. 81
Ponto 4.c. Direitos humanos e obrigações erga partes e erga omnes. Direito de Estados interferirem em situações de graves violações de direitos 85
Ponto 5.a Sistema interamericano de direitos humanos. A Declaração Americana dos Direitos e Deveres Humanos. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos: origem, composição e competências. A Corte Interamericana de Direitos Humanos: composição e competências. Medidas provisórias. Procedimento de fixação de reparações. Exequibilidade doméstica das decisões da Corte Interamericana de Direitos Humanos. 88
Ponto 5.b. Carta Democrática Interamericana de 2001. Natureza jurídica. Direito à democracia e obrigação de sua promoção. Democracia e direitos humanos. 99
Ponto 5.c. Protocolo de San Salvador. Monitoramento pelo Conselho Interamericano de Educação, Ciência e Cultura, pelo Conselho Interamericano Econômico e Social e pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Competência da Corte Interamericana de Direitos Humanos. 102
Ponto 6.a. Derrogações implícitas e derrogações explícitas de direitos humanos. Estado de emergência. Condições para suspensão de direitos. Direitos inderrogáveis. Conceitos de segurança e ordem pública, direitos de outros, saúde pública, moral pública como critério de delimitação do gozo de direitos. 105
Ponto 6.b. Acesso à Justiça. Princípios de Brasília adotados pela Cúpula Judicial Ibero-americana. 110
Ponto 6.c. "Tortura e penas ou tratos cruéis, desumanas ou degradantes" como conceito integral. Diferenciação entre os elementos do conceito na jurisprudência da Corte Europeia de Direitos Humanos (caso irlandês) e seus reflexos no art. 16 da Convenção da ONU contra a Tortura de 1984. 113
Ponto 7.a. Direitos comunicativos. Conceito, limites e espécies. Formas de violação de direitos comunicativos. 120
Ponto 7.b. Povos indígenas e comunidades tradicionais em face do Direito Internacional. Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho.  Convenção sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais de 2005. Declaração da ONU sobre os Direitos dos Povos Indígenas de 2007. 124
Ponto 7.c. Valor do tratado de direitos humanos na Constituição Federal. Hierarquia supralegal. Tratados "equivalentes a emendas constitucionais". 132
Ponto 08.a. Pena de morte. Restrições no direito internacional e, em especial, na Convenção Americana de Direitos Humanos. 135
Ponto 8.b. História e evolução organizacional do regime internacional de proteção dos direitos humanos. 140
Ponto 8.c. Proteção dos direitos das pessoas portadoras de deficiência no direito internacional. A Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu protocolo facultativo. 146
Ponto 9.a. Instituições e Tratados de Direitos Humanos de que o Brasil é parte. 150
Ponto 9.b. Anistias autoconcedidas no direito internacional. Colisão com o dever de perseguir. Diferenciação no tocante a perdão, graça e indulto. 159
Ponto 9.c. Incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal: competência para processo e julgamento, hipóteses de cabimento atribuição do Procurador-Geral da República. Intervenção federal para garantia dos direitos humanos: condições para decretação e escopo da medida. 163
Ponto 10.a. Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (Convenção Belém do Pará de 1994): definição de violência contra a mulher, obrigações dos Estados-Partes e sistema de monitoramento. A Lei n 11.340, de 07 de agosto de 2006 (“Lei Maria da Penha”): origem e escopo. 166
Ponto 10.b. Política Nacional de Direitos Humanos. O 3º Plano Nacional de Direitos Humanos. O Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana - CDDPH. O Ministério Público e a defesa dos direitos humanos. 172
Ponto 10.c. Direito à autodeterminação dos povos (art. 1º comum aos dois Pactos Internacionais da ONU de 1966): conceito e convergência com o princípio de autodeterminação dos povos (art. 1º, para. (2) da Carta da ONU e Resolução 2625 (1970) da Assembleia Geral da ONU). 177
Ponto 11.a. Adequação do arcabouço legal brasileiro aos compromissos assumidos com o regime de proteção internacional dos direitos humanos. 184
Ponto 11.b. Experimentação humana. Limites bioéticos. Casos de convergência com o conceito de tortura. 190
Ponto 11.c. Os pactos internacionais da ONU de 1966. Direitos protegidos e sistemas de monitoramento. 196
Ponto 1.a. Violação de direitos humanos e responsabilidade internacional do Estado.
Principais obras consultadas: Resumo dos Grupos 25º, 26º e 27º CPR; Flávia Piovesan. Direitos Humanos e Direito Constitucional Internacional, 12ª Edição. Ed. Saraiva; Fábio Conder Comparato. A Afirmação Histórica dos Direitos Humanos, 4º Edição. Ed. Saraiva; ESMPU. Manual Prático de Proteção de Direitos Humanos Internacionais. André de Carvalho Ramos. Responsabilidade Internacional por violação de direitos humanos. 
Legislação Básica: CF, Artigos 1º, 3º, 4º, 5º, 6º, 37; Convenção Americana de Direitos Humanos; Jurisprudência Nacional e Internacional;
Introdução: Os direitos humanos não são um dado, mas um construído, frutos de um espaço simbólico de luta e ação social, sob um viés emancipatório. “Não mais se discute, na atualidade, a força vinculante do Direito Internacional dos Direitos Humanos. Esse ramo do Direito Internacional consiste no conjunto de direitos e faculdades previstas em normas internacionais, que assegura a dignidade da pessoa humana”. “O estudo da proteção internacional aos direitos humanos está intimamente relacionado ao estudo da responsabilidade internacional do Estado, pois tal responsabilização é essencial para reafirmar a juridicidade das normas internacionais de direitos humanos. Com efeito, a negação dessa responsabilidade acarreta a negação do caráter jurídico da norma internacional” (artigo da R.CEJ, Brasília, n. 29, p. 53-63, abr./jun. 2005).
OBS: ACR faz um elo entro o Direito Internacional Geral e o Direito Internacional dos Direitos Humanos: “o tema da responsabilidade do Estado desenvolveu-se no chamado Direito Internacional Geral como um tema relacionado à proteção de interesses próprios do Estado (...) já o Direito Internacional dos Direitos Humanos visa, antes de mais nada, a proteção do indivíduo. O Estado não possui interesse material algum a ser protegido; pelo contrário, possui uma série de deveres de respeito e garantia* aos direitos humanos. (...) Um termo comumente utilizado para denominar as formas de responsabilidade internacional do Estado pela violação das obrigações internacionais é “proteção internacional de direitos humanos” – termo que indica tanto as normas primárias de direitos humanos, quanto as normas relativas à responsabilização do Estado por violação de direitos humanos” (Responsabilidade Internacional por Violação dos DH, p. 12-13)
* OBS: Para ACR o respeito concretiza uma obrigação de não-fazer, que se traduz na limitação do poder público aos direitos do indivíduo (...) dever de caráter eminentemente negativo, um dever de abster-se de condutas que importem em violações de direitos humanos. Já a obrigação de garantia concretiza uma obrigação de fazer, que consiste na organização, pelo Estado, de estruturas e procedimentos capazes de prevenir, investigar e mesmo punir toda violação, pública ou privada, dos direitos fundamentais da pessoa humana, mostrando a faceta objetiva desses direitos. (f. 41 – Responsabilidade Interacional por violação de DH) (essa observação é relevante também para o ponto “3.b”. “Obrigação de respeitar e de garantir respeito a direitos”)
Conceito de responsabilidade internacional: André Carvalho Ramos aduz que a responsabilidade internacional do Estado é “uma reação jurídica, qualificada como sendo instituição, princípio geral de direito, obrigação jurídica ou mesmo situação jurídica pela doutrina e jurisprudência, pela qual o Direito Internacional justamente reage às violações de suas normas, exigindo a preservação da ordem jurídica vigente por meio da reparação aos danos causados.”
OBS: ACR elucida que: a responsabilidade é característica essencial de um sistema jurídico, tendo seu fundamento de Direito Internacional no princípio da igualdade soberana entre os Estados. Salienta Irineu Strenger que “todas as relações entre Estados nascem do fato inicial do seu reconhecimento mútuo. Reconhecendo-se mutuamente como soberanos, os Estados se reconhecem como juridicamente iguais no exercício de todas as prerrogativas inerentes a esta soberania: as relações futuras que derivarão desse reconhecimento se apoiarão sobre a base de uma perfeita reciprocidade de direitos e deveres. A responsabilidade dos estados é, pois, na ordem internacional o corolário do princípio da igualdade.” A igualdade entre os Estados é pressuposto lógico da responsabilidade internacional, pois um Estado não pode reivindicar para si uma condição jurídica que não reconhece para outro Estado.
A responsabilidade internacional é uma verdadeira obrigação de reparar os danos oriundos de violação de norma do Direito Internacional.
A jurisprudência internacional, por seu turno, considerou a responsabilidade internacional do Estado como sendo um princípio geral do direito internacional (princípio pelo qual qualquer conduta do Estado que caracterize um fato internacionalmente ilícito acarreta a responsabilidade internacional do referido Estado) (obs: A extinta Corte Permanente de Justiça Internacional consagrou esse princípio na análise dos fatos envolvendo a Fábrica de Chorzów, estabelecendo o dever, com base no Direito Internacional, do Estado infrator, de eliminar todos os danos causados). 
PONTO EXTRA: A responsabilidade internacional do Estado como obrigação secundária:
As normas primárias contém obrigações de Direito Internacional cujo descumprimento enseja a responsabilidade internacional do Estado. Representam as regras de conduta, que se violadas, fazem nascer as obrigações secundárias. As normas primárias contêm regras de conduta impostas aos Estados.
Já as normas secundárias são regras abstratas que têm por objeto determinar se houve violação de norma primária e quais as consequências, independentemente do conteúdo da norma violada. Visam determinar quando se dá o descumprimento da obrigação internacional e as consequências desse descumprimento. São consideradas como obrigações secundárias as regras relativas à determinação, implementação e execução da responsabilidade internacional do Estado. O sentido final da obrigação secundária é o de substituir a obrigação primária, o que pode ser feito com o retorno ao status quo ante, com a reparação de todos os danos causados e ainda com a aplicação de pena de desestímulo ao Estado infrator.
PONTO EXTRA: Elementos da responsabilidade internacional
a) existência de um fato internacionalmente ilícito = o fato ilícito é composto por um elemento subjetivo (= imputação. Identificação da conduta atribuível a um determinado Estado) e um elemento objetivo (=ilicitude. A conduta estatal deve constituir infração de norma internacional); 
b) resultado lesivo (Para parte da doutrina, o resultado lesivo implica na constatação de um dano material ou moral ao Estado. Para outra parcela da doutrina, entretanto, o resultado lesivo é tido como ocorrido após a mera constatação da violação da norma primária. O dano seria jurídico, então. Saliente-se que a exigência da existência de dano material como elemento da responsabilidade internacional do Estado enfraquece a proteção de direitos humanos, já que é necessária a prova do dano material ou moral para que se constate a responsabilidade do Estado. Isso porque, diante da proteção internacional dos direitos humanos, a mera violação à norma jurídica acarreta a responsabilidade internacional do infrator. Logo, há sempre dano - e consequentemente responsabilidade internacional do Estado - quando um Estado viola direito internacionalmente protegido, mesmo quando não há dano material a ser reparado); 
c) nexo causal entre o fato e o resultado lesivo 
OBS: Segundo ACR: Não cabe mais se referir à culpa como quarto elemento da responsabilidade internacional do Estado, tendo em conta a teoria da responsabilidade objetiva. A culpa é encontrada nos dias atuais apenas de maneira ocasional na responsabilidade internacional do Estado por violação de direitos humanos. Como p.ex., é possível a utilização do conceito culpa no caso das excludentes de ilicitude, ou seja, analisando-se o ânimo do agente do Estado. O elemento culpa consta da análise de situações como a do estado de necessidade ou extrema détresse. Além dessa utilização, a culpa possibilita valorar e mensurar a reparação do fato ilícito, sendo importante na fixação das consequências da responsabilidade internacional do Estado. Uma conduta tida como dolosa ou maliciosa implicaria em uma sanção necessariamente mais gravosa como forma de desestimular novas violações. Mas a caracterização do fato ilícito e sua imputação ao Estado, mesmo nos casos de omissão, response a critério objetivos de causalidade e constatação da violação da obrigação internacional.
Quanto à espécie de ato que pode vincular o Estado internacionalmente, admite-se a responsabilidade internacional do Estado por atos administrativos, legislativos e mesmo judiciais, uma vez que toda conduta de órgão do Estado é passível de gerar responsabilização estatal, quer seja um órgão de cúpula ou subordinado, quer tenha agido no exercício de suas funções ou abusando delas, quer ainda tenha o órgão o caráter público apenas de fato e não de direito (diante da comunidade internacional o Estado é uno e indivisível).
PONTO EXTRA: Atos do Poder Executivo: 
quando o agente público age ultra vires (fora dos limites de sua competência): mesmo quando o Estado alega conduta ultra vires ou ilegal de seus agentes, isso em nada altera sua responsabilidade,pois tem um dever de diligência em evitar tais atos de seus agentes. O Estado responde pela sua própria conduta em escolher determinado agente, que ultrapassou as competências oficiais do órgão (Ex.: Convenção de Haia, artigo 3º - 4ª Convenção). A Corte Interamericana de DH considerou ser um princípio do Direito Internacional a responsabilização do Estado pelos atos ultra vires de seus agentes (Caso Velasquez Rodriguez – Corte Interamericana de DH).
Ato de particulares: A responsabilização internacional do Estado por ato de particulares é observado tanto no caso de conduta de agentes estatais agindo a título privado (ou seja, como particulares) quanto no caso de conduta de agentes estatais no momento do ato de particulares. Contudo, para que haja a responsabilização estatal nessas hipóteses é necessário que os órgãos do Estado tenham sido omissos na prevenção ou na repressão de atos ilícitos dos particulares. Frise-se: não basta que ocorra a violação para que se possa dizer que o Estado falhou em preveni-la, sendo necessária a demonstração de que este não desempenhou, de modo razoável, o seu dever de prevenir o resultado. Exemplo: caso José Pereira resultou na condenação do Brasil por não evitar o trabalho escravo. A devida diligência deve ser aferida como uma obrigação de meio ou de conduta. Caso o Estado tenha agido de modo razoável no sentido de garantir os direitos humanos, os atos de particulares rompem, de regra, o nexo causal, já que não há omissão que tenha contribuído para a ocorrência do resultado lesivo (Caso Godinez Cruz e Caso Velasquez Rodriguez – Corte Interamericana de DH).
Casuística: Responsabilidade Internacional pela Conduta do Poder Executivo: Caso Velásquez Rodríguez: a CorteIDH decidiu que os atos ultra vires dos órgãos ou agentes são também imputáveis ao Estado, por sua injustificável omissão (v. Doutrina Osman1 ). A Corte consignou também o dever de organizar o aparato do Estado para garantir os direitos previstos na ConvADH. Doutrina Velásquez Rodríguez: determina a obrigação de o Estado reprimir penalmente as violações de direitos humanos. O Estado, portanto, responde pela violação do direito à vida e também pela eventual impunidade dos autores das violações. Caso José Pereira: o Brasil reconheceu perante a Comissão IDH sua responsabilidade por ter-se omitido em prevenir o trabalho escravo e por não ter conseguido punir os responsável pelo assassinato de um trabalhador (e tentativa de homicídio de José Pereira). Caso Godinez Cruz: Com efeito, um fato inicialmente não é imputável diretamente a um Estado, por exemplo, por ser obra de um particular..., pode acarretar a responsabilidade internacional do Estado, não por esse fato em si mesmo, mas por falta da devida diligência para prevenir a violação (...)” “Essa devida diligência constitui um agir razoável para prevenir ou punir situações de violação de direitos humanos”. Caso Damião Ximenes: Damião Ximenes, portador de doença mental foi assassinado dentro de clínica de repouso. A Corte IDH decidiu no mesmo sentido do Caso Niños de la Calle, entendendo que não basta que os Estados se abstenham de violar os direitos, mas é essencial que implementem medidas positivas adotadas em função das necessidades particulares de proteção do indivíduo (no caso de tratamento assumido por entes privados, há o dever de regular e fiscalizar).
PONTO EXTRA: Atos do Poder Legislativo: A violação de direitos humanos por leis internas é feita, em geral, de modo indireto. Com efeito, são atos administrativos ou judiciais que, embasados em leis, violam direitos humanos. 
As leis nacionais (inclusive as normas constitucionais), para o Direito Internacional, são simples fatos, manifestações da vontade e da atividade dos Estados, como os atos administrativos e decisões judiciais.
Mesmo se as leis tenham sido adotadas de acordo com a Constituição, isso não as exime do confronto com os dispositivos internacionais de proteção aos direitos humanos. A doutrina admite o crivo direto e abstrato de leis internas em face da normatividade internacional de direitos humanos, na medida em que sua aplicação possa constituir violação de um dos direitos assegurados pelos tratados de direitos humanos. Essa análise constitui-se em verdadeira fórmula de controle de convencionalidade, desvinculada da existência de um litígio concreto entre o Estado e uma pretensa vítima. 
Casuística: Responsabilidade Internacional pela Conduta do Poder Legislativo: Caso Suárez Roseros vs. Equador: a CorteIDH estabeleceu que o art. 114 do CP do Equador, ao privar os acusados de tráfico de drogas da garantia judicial da duração razoável do processo, violou o art. 2º da ConvADH. De modo inovador a Corte decidiu que a violação ocorre mesmo sem a aplicação concreta do art. 144, ou seja, a Corte fez um juízo de convencionalidade da lei doméstica, estabelecendo que o Estado é responsável pelo ato do legislador (concretiza-se o dever de prevenção, previsto nos arts. 1º e 2º da ConvADH). Caso La Ultima Tentacion de Cristo: a CorteIDH condenou o Chile pela censura prévia ao filme, por violar a liberdade de pensamento e expressão, bem como de consciência e religião. Foi determinada a adequação da legislação doméstica do Chile (que acarretou a reforma da Constituição). Caso Loayza Tamayo, Caso Barrios Altos, Caso Bámaca Velázquez, Caso Gomes Lund: a CorteIDH condenou a edição de leis de anistia aos autores de violações de direitos humanos. Para a Corte, os Estados não podem justificar o inadimplemento de suas obrigações internacionais invocando dispositivos internos (reconheceu, assim, que para o direito internacional o direito interno é um mero fato). As leis de anistia violam, entre outros, o direito à verdade, o direito de acesso à justiça, o direito ao devido processo legal. Estabeleceu-se, portanto, o dever de os Estados investigarem e punirem os responsáveis por violações de direitos humanos. No Caso Loayza Tamayo, em que ela foi ilegalmente detida, a Corte decidiu, ainda, pela sua libertação e pela reinserção no meio social, através do seu retorno às atividades de docente, com a anulação de qualquer antecedente penal da vítima.
O Chile foi condenado a alterar o art. 19 de sua Constituição, relativo à liberdade de expressão. Nesse sentido, para evitar a responsabilidade do Estado por ato do Legislativo é necessário implementar o controle de convencionalidade das leis e da Constituição. Conforme leciona o Prof. Cançado Trindade (ASIL Proceedings, 1998, p. 200-201) a Convenção Americana de Direitos Humanos estabelece o dever de prevenção a fim de impedir a repetição de violações dos direitos humanos, incluindo o dever de harmonizar a legislação nacional com as normas de proteção internacional. O caso Suárez Rosero é paradigmático no sistema de proteção interamericano por ter sido a primeira vez que uma decisão de um tribunal internacional de direitos humanos determinou a modificação de uma lei nacional. A obrigação convencional de proteção dos direitos humanos é o princípio fundamental da responsabilidade internacional do Estado, de modo que o argumento da separação de poderes não isenta o Estado da obrigação de reparar o dano, ainda que não possa desconstituir uma decisão judicial com trânsito em julgado. 
PONTO EXTRA: Ato do Poder Judiciário: Para o Direito Internacional, o ato judicial é um fato a ser analisado como qualquer outro fato. “A responsabilização internacional por violação de direitos humanos pela conduta do Poder Judiciário pode ocorrer em duas hipóteses: quando a decisão judicial é tardia ou inexistente (no caso da ausência de remédio judicial) ou quando a decisão judicial é tida, no seu mérito, como violadora de direito protegido.”
Na hipótese de decisão tardia, argumenta-se que a delonga impede que a prestação jurisdicional seja útil e eficaz. A doutrina consagrou o termo denegação de justiça (“deni de justice”) que engloba tanto a inexistência do remédio judicial (recusa de acesso ao Judiciário), ou deficiências do mesmo, o que ocorre, por exemplo,na delonga na prolação do provimento judicial devido ou mesmo na inexistência de tribunais.
Já a segunda hipótese de violação de obrigação internacional por ato judicial ocorre quando a decisão judicial, em seu mérito, é injusta, diante dos fatos apresentados no processo, levando à violação de alguma obrigação internacional primária. No caso de apreciação de decisões judiciais definitivas, não se pretende a revisão da sentença transitada em julgado, mas sim a condenação do Estado por violação de direitos humanos protegidos. Nesses casos é comum a alegação de respeito à coisa julgado como escusa à responsabilização do Estado por violação de direitos humanos. Todavia, uma análise mais acurada do instituto da coisa julgada, demonstra a impossibilidade de utilizarmos tal instituto em sede internacional, já que seria necessária a identidade de partes, pedido e causa de pedir entre a causa local e a causa internacional, o que não ocorre. 
Casuística: Responsabilidade Internacional pela Conduta do Poder Judiciário: Caso Genie Lacayo: a CorteIDH reconheceu a responsabilidade internacional da Nicarágua pela conduta do Poder Judiciário, em razão da delonga injustificada na prolação de sentenças contra os responsáveis pelo desaparecimento e morte de Genie Lacayo. Caso Niños de la Calle (Villagrán Morales): a CorteIDH decidiu que o direito à proteção da vida abarca inclusive as condições materiais mínimas de existência de uma pessoa, cabendo ao Estado, na promoção da vida, garantir o acesso às condições que garantam uma existência digna. Assentou-se, assim, que o direito à vida não possui apenas uma faceta dita de defesa, mas é, também, além de um direito civil e político, um direito econômico e social (indivisibilidade dos direitos humanos). Assim, a Corte exigiu da Guatemala a adoção de ações sociais e da garantia do mínimo existencial. Além disso, o direito à vida alcança ainda o dever de o Estado restaurar o “projeto de vida” (algo semelhante com a perda de uma chance). Por fim, decidiu a Corte que não se poderia invocar a tese defensiva de que a violação teria sido ocasionada pelo Poder Judiciário, que seria independente, uma vez que a responsabilidade é do Estado como um todo.
OBS: Caso Loyaza Tamayo: a CorteIDH, ao analisar o caso dos “juízes sem rosto” do Peru, considerou que esse Estado violava o direito a um devido processo legal ao utilizar procedimento judicial excepcional (para os acusados dos delitos de terrorismo e traição à pátria), no qual não era assegurado o direito ao contraditório e ao controle das provas, o direito à livre-comunicação entre o advogado e o réu e o direito do advogado ao livre-acesso aos autos. Caso Cesti Hurtado: a CorteIDH, refutou a exceção preliminar de coisa julgada apresentada pelo Estado peruano. A Corte entendeu que, para o Direito Internacional dos Direitos Humanos, não há identidade de demandas, sendo impossível a alegação da res judicata. Para a Corte, as instâncias internacionais não reformam a decisão interna, mas sim condenam o Estado infrator a reparar o dano causado.
PONTO EXTRA: Ato do Ministério Público: O Estado tem a obrigação de combater a impunidade, já que esta propicia a repetição crônica das violações de direitos humanos e a total falta de defesa das vítimas e de seus familiares. O dever de investigação, persecução e punição deverá ser cumprido internamente, de acordo com os mecanismos constitucionais e processuais existentes, sendo que, no caso brasileiro, a titularidade da ação penal pública e a supervisão externa da polícia cabe ao Ministério Público. 
A obrigação de investigar e punir é uma obrigação de meio e não de resultado, conforme já reconhecido pela CorteIDH. Logo, a ação penal é considerada um dever fundamental do Estado, o qual pode ser responsabilizado pela omissão em punir. Por óbvio, provado que o Estado brasileiro, por meio do Ministério Público, desempenhou a contento seu mister, mesmo com o fracasso das investigações, o Estado não será responsabilizado por isso (fs. 186-192 – Responsabilidade Internacional por violação de DH).
PONTO EXTRA: Ato do ente federado: O Estado Federal é, de acordo com o Direito Internacional, uno e passível de responsabilização internacional, mesmo quando o fato internacionalmente ilícito é da atribuição de um Estado- membro da Federação, pois responde pela conduta de seus entes internos. Por essa razão é rechaçada a imposição de “cláusula federal” em tratados internacionais, que vem a ser a possibilidade de um dos contratantes não cumprir uma obrigação internacional bastando alegar “ausência de competência federal”. Em suma, alegar obediência ao Direito interno não é aceito como excludente da responsabilidade internacional do Estado. Há disposição expressa nesse sentido no Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (artigo 50) (fs. 192-195 – Responsabilidade Internacional por violação de DH).
PONTO EXTRA: Esgotamento dos recursos internos na responsabilidade internacional do Estado por violação de direitos humanos (fs. 209-216 – Responsabilidade Internacional por violação de DH): No Direito Internacional, a regra do esgotamento dos recursos internos desenvolveu-se no âmbito da proteção diplomática. Essa regra obteve grande aceitação no Direito Internacional graças ao seu papel de redutor de tensões entre os Estados. Com efeito, é respeitada a soberania estatal ao se enfatizar o caráter subsidiário da jurisdição internacional, que só é acionada após o esgotamento dos recursos internos. 
Há divergência doutrinária acerca da natureza dessa regra, havendo duas correntes: a) O esgotamento prévio dos recursos internos é regra de natureza substantiva: A responsabilidade internacional do Estado só surge após o esgotamento dos recursos internos. O esgotamento dos recursos internos seria elemento da própria responsabilidade internacional do Estado (posição de Accioly e Jiménes de Aréchaga); b) O esgotamento prévio dos recursos internos é regra de natureza processual: A responsabilidade internacional do Estado nasce com a violação do Direito Internacional, sendo a regra do esgotamento requisito meramente processual para que o Estado infrator seja acionado perante o Direito Internacional (André de C. Ramos e Cançado Trindade).
PONTO EXTRA: Excludentes de ilicitude aplicadas às violações de direitos humanos:
Aceita-se no Direito Internacional excludentes de ilicitude no âmbito da responsabilidade internacional do Estado. Apesar da aparente existência dos dois elementos do fato internacionalmente ilícito (violação de obrigação internacional anterior e imputação dessa violação ao Estado), não se responsabiliza o Estado, graças às circunstâncias que impedem a concretização deste aparente fato ilícito. Assim, o ato do Estado em questão não pode ser caracterizado como sendo um fato internacionalmente ilícito, já que, na presença de determinado evento, o Estado não estava sob a obrigação internacional de se conduzir de outro modo. Falta para a concretização do fato internacionalmente o elemento tido como objetivo, que é a violação de obrigação internacional previamente existente. Sem obrigação internacional violada, não há responsabilidade internacional do Estado por fato ilícito.
 Essa aceitação, costumeira, foi introduzida no projeto da Comissão de Direito Internacional, que elencou seis eventos, os quais, se confirmados, retiram o caráter ilícito do descumprimento de determinada obrigação.
As seis causas de exclusão de ilicitude previstas no Capítulo V da Parte I do projeto de convenção sobre a responsabilidade internacional do Estado da Comissão de Direito Internacional podem ser divididas em dois grupos: a) o primeiro inclui as circunstâncias excludentes nas quais a conduta do “Estado alvo” do ato considerado sob o abrigo da excludente é irrelevante (força maior e caso fortuito, estado de necessidade e estado de perigo – détresse). No segundo grupo estão as circunstâncias geradas pelo próprio comportamento do “Estado alvo” da conduta tida como violadora de obrigaçãointernacional, a saber, o consentimento, contramedidas e legítima defesa.
- consentimento: (artigo 20 da primeira parte do projeto) O consentimento validamente concedido por um Estado à conduta violadora de obrigação internacional prévia, exclui a ilicitude da conduta nos limites estipulados pelo consentimento concedido. A obrigação internacional continua existindo, só que, em virtude do consentimento havido, não é aplicável naquele instante ao caso, demonstrando a diferença entre o consentimento e uma eventual revogação do tratado que continha a citada obrigação internacional. O consentimento, para ser válido, exige duas etapas. Na primeira, há o pedido para que o Estado possa agir em desconformidade com a obrigação internacional existente; a segunda etapa consiste na expressão do consentimento pelo Estado beneficiado pela obrigação internacional. Em relação à violação de normas de direitos humanos, é importante assinalar que o artigo 26 do projeto da CDI de 2001, expressamente estabelece não ser válido o consentimento, no caso de violação de normas cogentes de Direito Internacional, isto é, de normas que contenham valores considerados essenciais para a comunidade internacional e que, por isso, não admitem derrogação por acordo entre as partes. Com isso, para tais normas, não se aplica o princípio da volenti non fit injuria (não se faz injúria àquele que consente). Há, assim, a possibilidade do consentimento não ser aceito por ser a ofensa a norma internacional pertencente ao jus cogens. A proteção internacional de direitos humanos é hoje considerada como integrante do rol de normas imperativas de direito Internacional, sendo inadmissível o consentimento do Estado como forma de exclusão da ilicitude de determinada conduta. Isso faz-se mister, já que é o indivíduo o destinatário das normas protetivas internacionais e não o Estado do qual o mesmo indivíduo é nacional. Com isso, a segunda etapa da formação do consentimento enquanto forma de excludente de ilicitude (concessão do mesmo pelo Estado beneficiado da obrigação internacional) não se realiza, já que não existe “Estado beneficiado” e sim um indivíduo. Por isso, além da expressa proibição de se utilizar o consentimento diante de normas imperativas (artigo 26 do projeto de convenção sobre responsabilidade internacional do Estado da Comissão de Direito Internacional) tal excludente, pela própria definição, não pode ser utilizada nos casos de violação de direitos humanos.
- contramedidas: (artigo 22 do projeto) São reações que perdem a sua ilicitude por só terem sido tomadas após a prévia violação de obrigação internacional.
- força maior e caso fortuito: A força maior é uma excludente da ilicitude que consiste em uma situação na qual um evento externo torna materialmente impossível para o Estado, na pessoa de seu agente, cumprir a obrigação internacional. O caso fortuito consiste, por seu turno, em uma situação imprevista que resultou na impossibilidade material de se ter o conhecimento de que o comportamento do Estado violara obrigação internacional. O que caracteriza essas duas excludentes é o aspecto involuntário ou não-intencional da conduta do estado que caracteriza essas excludentes.
- a doutrina da necessidade: o estado de perigo e o estado de necessidade: Quanto ao distress (estado de perigo), o agente não possui meios para cumprir a conduta que constitui a obrigação internacional do Estado, pois se encontra, ou as pessoas sob sua guarda, em situação de extremo perigo para suas vidas. No caso de violação de direitos humanos, tal excludente só pode ser admitida em face de uma ponderação de valores. Já o estado de necessidade vem a ser a situação pela qual o Estado, diante de perigo iminente e grave à interesse essencial não ocasionado por sua conduta, descumpre a obrigação internacional, desde que tal descumprimento não ameace por seu turno, interesse essencial do estado beneficiário da citada obrigação internacional e que não seja descumprida norma internacional imperativa. A Comissão de Direito Internacional, em seu projeto, estabeleceu a proibição do uso desta excludente de ilicitude, caso a obrigação internacional violada seja uma norma imperativa de Direito Internacional, ou caso o tratado, explícita ou implicitamente, tenha proibido a invocação desta excludente ou finalmente, caso o Estado tenha contribuído de alguma forma para a ocorrência do estado de necessidade. No tocante a violações de direitos humanos, os tratados estabelecem, em geral, a possibilidade do Estado, em situações de emergência que ameacem interesses vitais da sociedade, derrogue temporariamente direitos humanos protegidos. A possibilidade de derrogação em situações de emergência reproduz o conceito de estado de necessidade, pois somente admite-se tal alternativa em casos de graves perturbações à ordem pública e social. Caso o Estado não seja parte desses tratados, resta, então, a cláusula genérica da proibição de invocação desta excludente diante de normas imperativas do Direito Internacional.
- legítima defesa: O Estado alvo do ataque armado é legitimado a utilizar-se da força, como reconhece a carta da ONU, em seu artigo 51. Coube à Corte Internacional de Justiça delimitar o conceito de legítima defesa diante da ilegalidade do uso da força no Direito Internacional, o que foi feito no caso das atividades dos militares e paramilitares da Nicarágua. Com efeito, a Corte considerou ilegal para o Direito Internacional o uso da força em resposta a atos que não constituam uma agressão armada. A legítima defesa tem um ponto em comum com a contramedida, pois, em ambas, o estado reage a um ato ilícito anterior de outro Estado, de modo que sua ação, normalmente ilícita, perde tal caráter e ganha foro de legitimidade perante o Direito Internacional. Entretanto, enquanto as contramedidas podem ser usadas como reação a vários tipos de ilícitos internacionais, a legítima defesa delas se diferencia, justamente por ser um ato de uso unilateral da força, que só pode ser utilizado como reação a um tipo específico de ilícito, a saber a agressão armada.
OBS: As excludentes de ilicitude não eliminam o dever do Estado que as utilizou de pagar a reparação por danos porventura gerados. Para a Comissão de Direito Internacional, as excludentes eliminam a ilicitude da conduta, mas o Estado lesado tem o direito de exigir reparação aos danos causados, como uma espécie de responsabilidade internacional do Estado por ato ilícito. No caso de violação de direitos humanos, este princípio estabelecido pela Comissão é deveras importante, pois impõe o dever de reparação mesmo em face de causas de exclusão como o estado de necessidade e de força maior. Assim, a vítima (o indivíduo) não corre o risco de sofrer danos não-reparáveis pela alegação de que o ato não fora ilícito, pois fora realizado sob o abrigo das citadas excludentes.
Formas de responsabilização e reparação: A imputação da responsabilidade é antes de tudo uma operação jurídica. Assim, mesmo uma decisão com trânsito em julgado ou uma norma constitucional podem acarretar a responsabilização do Estado.
OBS: A reparação é consequência maior da violação de obrigação internacional primária. O Estado cumpre sua obrigação internacional secundária nascida da violação de norma primária de Direito Internacional ao reparar o dano causado. A teoria geral da responsabilidade internacional do Estado estabelece que são os Estados os titulares do direito de exigir reparação em face de violação de norma internacional. Como consequência do desenvolvimento da proteção diplomática, assume-se que o lesado, para fins de Direito Internacional, é sempre o Estado, em geral o Estado de nacionalidade da vítima. Contudo, no campo da proteção de direitos humanos, busca-se, através da responsabilidade internacional do Estado, reparar o dano sofrido pelo indivíduo. Certo é que, sob a fundamentação fornecida pelo Direito Internacional dos Direitos Humanos, a responsabilidade internacional do Estado deve também ser pautada pela aceitação da titularidadeda vítima do direito a obter a reparação. Em suma, com a teoria geral da responsabilidade internacional, o Estado infrator deve indenização financeira ao Estado vítima, caso ainda o dano não tenha sido reparado pela restituição na íntegra. Já na responsabilidade internacional do Estado por violação de direitos humanos, a indenização é devida não a um Estado vítima, mas sim ao indivíduo titular do direito protegido, que foi violado por conduta imputável ao Estado autor. O indivíduo deve ser o titular de todas as quantias porventura fixadas. O objetivo da elaboração das normas internacionais no campo dos direitos humanos é a da máxima proteção ao indivíduo. Logo, no campo da responsabilidade internacional do Estado, tal lógica deve também prevalecer, sob pena de violarmos, através das normas secundárias, o espírito das normas primárias. A doutrina já se manifestou nesse sentido, entendendo que seria caso de enriquecimento sem causa, eventual reparação de valores por parte de Estados-terceiros.
OBS: A Corte Interamericana de Direitos Humanos estabeleceu que a reparação é o termo genérico, contando com várias espécies em que o Estado pode reparar o dano causado ao indivíduo: restitutio in integram (restituição na íntegra); indenização, satisfação; garantias de não-repetição, sem excluir outras formas possíveis (p. 251-252 – Responsabilidade Internacional por violação dos DH):
restitutio in integram: (artigo 35 do projeto de convenção sobre a responsabilidade internacional do Estado da Comissão de Direito Internacional) (forma mais recomendada por levar a vítima ao estado anterior à violção) A vítima tem direito de exigir do autor do fato internacionalmente ilícito o retorno ao status quo ante. A Corte Permanente de Justiça Internacional, no caso Fábrica de Chorzów, consignou a prioridade por tal forma de reparação, aceita como a melhor fórmula na defesa das normas primárias (= normas que estabelecem o conteúdo das obrigações internacionais), pois permite a completa eliminação da conduta violadora e seus efeitos. Somente na impossibilidade da restituição na íntegra é que outras formas de reparação devem ser prestadas pelo Estado violador. A primazia por essa forma de reparação justifica-se no fato de que, dado o conteúdo dos direitos fundamentais, é difícil a preservação desses valores pelo uso de fórmulas de equivalência pecuniária.
Há duas definições de restituição na íntegra: (i) retorno à situação que deveria existir, caso o fato internacionalmente ilícito não houvesse ocorrido; (ii) mais restrita, limita a restituição na íntegra ao retorno à situação existente antes da violação da norma internacional. A prática internacional é variável quanto à adoção dessas duas modalidades.
Cessação do ilícito: (artigo 30 do projeto) O Estado violador de obrigação internacional deve interromper imediatamente sua conduta ilícita, sem prejuízo de outras formas de reparação. A cessação do ilícito pode servir como preservação do comando da norma primária através da utilização das normas secundárias da responsabilidade internacional do Estado. Na sentença arbitral do caso Rainbow Warrior, segunda fase, foram estabelecidos os dois elementos para que seja possível a cessação da conduta ilícita. Primeiramente, deve a violação da norma primária ser de caráter contínuo e em segundo lugar deve a norma violada continuar em vigor. Com isso, caso a violação não mais exista, não cabe falar em cessação da conduta e, ao mesmo tempo, caso a norma primária violada não mais esteja em vigor, também descabe o uso da cessação de conduta ilícita. A cessação da conduta ilícita, por outro lado, é forma de reparação e retorno à legalidade internacional que influencia nos limites e graus das outras formas de reparação existentes.
Satisfação: inicialmente concebida como forma de reparação para os danos imateriais a um Estado (danos morais e dano meramente jurídico que advém de toda violação a norma internacional). Contudo, a doutrina contemporânea ampliou esse conceito, sendo que hoje a satisfação atua como forma válida para todo e qualquer tipo de violação de obrigação, não sendo mais definida unicamente pela forma de dano que visa reparar. A satisfação foi mencionada no artigo 37 do projeto de convenção sobre a responsabilidade internacional do Estado da Comissão de Direito Internacional de 2001 como sendo uma forma de reparação consistente no reconhecimento da violação, ou ainda na expressão de pesar, no pedido de desculpas formais ou ainda outra modalidade semelhante, não abrangida pela restituição na íntegra nem pela indenização. Há, pois, quatro modalidades de satisfação: (i) declaração da infração cometida e possível demonstração de pesar pelo fato; (ii) pagamento de valores monetários simbólicos ou nominais (nominal damage) – não se trata de indenização, pois aqui o objetivo é demonstrar o pesar do Estado infrator e o seu comprometimento em não realizar mais a conduta ilegal - e indenização punitiva (punitive damages*: pagamento de quantias de caráter punitivo. O Estado infrator paga uma quantia que reflita a gravidade de sua conduta ilícita. Possui natureza essencialmente preventiva e visa evitar novas violações – teoria do desestímulo), no caso de sérias violações de obrigação internacional; (iii) atos que visem a persecução dos agentes responsáveis pelos atos imputados ao Estado violador; (iv) obrigações de fazer, não inclusas nas categorias acima mencionadas, que permitem um amplo leque de escolhas ao juiz internacional (ex. reabilitação; estabelecimento de datas comemorativas; obrigação de incluir em manuais escolares textos relatando as violações de direitos humanos); e obrigações de não fazer (a respeito, cita-se o Caso Hilaire, no qual a Corte Interamericana de Direitos Humanos condenou Trinidad e Tobago a não aplicar determinada lei, bem como suspender execuções baseadas na aplicação daquele diploma normativo nacional).
* OBS: O projeto definitivo da Comissão de Direito Internacional de 2001 eliminou a menção aos punitives damages como modalidade de satisfação.
Indenização: (artigo 36 do projeto) para as hipóteses em que a violação não puder ser completamente eliminada pelo retorno ao status quo ante, deve o Estado violador indenizar pecuniariamente a vítima pelos danos causados. Frise-se: a indenização somente deve ser aplicada, enquanto forma de reparação, caso seja constatada a impossibilidade material para o retorno ao status quo ante.
Garantias de não-repetição: obtenção de salvaguardas contra a reiteração da conduta violadora de obrigação internacional. Não são aplicáveis a todo fato internacionalmente ilícito, somente quando existe a possibilidade da repetição da conduta. Como forma de garantia de não-repetição, é possível o estabelecimento, diante da gravidade das condutas de violações de direitos humanos, do dever do Estado em investigar e punir os responsáveis pelas violações, de modo a evitar a impunidade e prevenir a ocorrência de novas violações (dever de investigar, processar e punir). Contudo, há aqueles que inserem tal dever de persecução e punição como forma de “satisfação”.
PONTO EXTRA: A coerção contra o Estado infrator: as sanções coletivas e unilaterais por violação de direitos humanos
As sanções consistem em instrumentos de Direito Internacional para, no contexto da responsabilidade internacional do Estado, obrigar o Estado a reparar os danos oriundos de uma violação prévia de norma internacional.
O termo sanção tem duplo significado: a) sanção coercitiva: é considerado sanção o ato internacional que visa compelir determinado Estado a cumprir o comando de uma norma internacional; b) sanção punitiva: cunho substitutivo ou repressivo. É considerada sanção a medida de punição ao Estado que tenha violado uma obrigação internacional.
A diferença entre a natureza punitiva e coercitiva das sanções é que a punição é voltada ao passado e busca a imposição de revanche; já a coerção é voltada para o futuro e visa a obtenção de um comportamento adequado.
A prática internacionaltem consagrado a exclusiva finalidade coercitiva das sanções, abandonando-se seu caráter punitivo.
Sanções Unilaterais: É uma conduta de um Estado, que, se não fosse justificada como reação à prévia violação de obrigação internacional por parte de outro Estado, seria, por seu turno, ilícita em face do Direito Internacional. Visa forçar o Estado violador de norma primária internacional a adimplir suas obrigações secundárias originárias da violação. 
As medidas unilaterais de proteção aos direitos do homem são designadas contramedidas na acepção ampla do termo, que designa toda medida em reação a um fato ilícito. As contramedidas devem ser entendidas como sanções horizontais, constituindo reações unilaterais de Estados diante de fatos ilícitos atentatórios aos seus interesses, servindo para restabelecer o império do Direito Internacional. São duas as espécies de contramedida em sentido amplo: a) retorsão (ações que produzem efeitos desfavoráveis sobre o Estado visado, mas são lícitas e oriundas da competência discricionária de cada Estado. O Estado não poderá utilizar medidas de conteúdo idêntico às do Estado violador, sob pena de ferir o próprio Direito Internacional. Ex. de medidas de retorsão: ruptura ou suspensão de negociações; interrupção de ajuda voluntária; embargos sobre importações; interdição de exportação de determinados produtos); b) represália (medidas de coerção, derrogatórias das regras comuns internacionais, realizadas por um Estado após a realização de fato ilícito cometido em seu detrimento por outro Estado e que tem o objetivo de impor ao Estado infrator um prejuízo para obrigá-lo a respeitar o Direito Internacional. É conduta que deveria ser considerada ilícita, mas que é tida como lícita somente por ter sido praticada como reação ao descumprimento anterior de uma obrigação internacional. Em um sentido geral, o princípio base por detrás das represálias é o direito à autotutela). No ponto, cumpre realçar que a Comissão de Direito Internacional não adota a divisão dual das contramedidas entre represálias e retorsão, considerando como contramedida apenas as chamadas represálias.
A diferença entre a represália e a retorsão é que essa traduz um comportamento lícito por natureza, mas que indica um tratamento menos cortês de um Estado em face de comportamento idêntico ou similar de outro Estado. O termo contramedida, como utilizado pela Comissão, deve ser entendido como equivalente somente para o conceito de represálias, com a exclusão da retorsão. Para alguns, represália é ainda restrito a medidas tomadas em conflitos armados, sendo então utilizado pela prática internacional o termo contramedida como seu sucedâneo. O sentido do termo contramedida no projeto de 2001 de convenção sobre a responsabilidade internacional do Estado da Comissão de Direito Internacional designa toda medida que perde seu caráter ilícito, já que é realizada como reação a fato ilícito anterior. Por outro lado, é válido salientar que, no mesmo projeto, o termo contramedida refere-se a uma exclusão da ilicitude do fato cometido, o que demonstra, na opinião de ACR, que não é possível utilizar tal termo para abarcar todos os casos de retorsão. Por fim, resta consignar que o projeto da comissão de Direito Internacional de convenção sobre a responsabilidade internacional do Estado estabeleceu os requisitos do recurso às contramedidas, quais sejam: (i) constatação de violação de obrigação internacional; (ii) tentativa prévia de solução pacífica da controvérsia; (iii) Proporcionalidade; (iv) proibição do uso da força armada; (v) respeito aos direitos humanos; (vi) existência de regimes especializados de responsabilização internacional do Estado por violação de direitos humanos
A Comissão de Direito Internacional entende o termo “sanção” no seu sentido estrito, como a decisão de organizações internacionais em reação a violações de norma internacional.
A sanção em seu sentido amplo engloba o conceito de sanções em sentido estrito, que são as sanções coletivas, e as contramedidas, que são as sanções unilaterais.
As sanções coletivas: são aquelas oriundas de organizações internacionais e que visam coagir os Estados infratores a cumprir obrigações internacionais violadas. A medida pode ter caráter de mera retorsão ou de represálias. No caso dos procedimentos coletivos de aferição da responsabilidade internacional do Estado por violação de direitos humanos não há clara explicitação da competência para determinar as ações coletivas, seu conteúdo e limites para as mesmas. No sistema europeu o Comitê de Ministros do Conselho da Europa pode aplicar a sanção de expulsão do Estado que se recusar a cumprir determinação da Corte Européia de Direitos Humanos (única sanção prevista). No caso interamericano, que interessa ao Brasil, não está claro nem a possibilidade de expulsão de um Estado como sanção pelo descumprimento de decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos ou mesmo da Comissão Interamericana de Direitos Humanos. No âmbito do sistema interamericano, o caso do Haiti* deve ser destacado como grande marco rumo à consolidação das sanções coletivas.
* caso do Haiti: Em 1991, houve o golpe militar contra o Presidente eleito Jean Bertrand Artistid. Nesse contexto, a OEA, através do Conselho Permanente, editou a Resolução 1/91 pela qual se condenou a ruptura do regime democrático no Haiti. Nessa resolução foi adotada a suspensão de todas as relações econômicas, financeiras e comerciais dos países membros da Organização com o Haiti, bem como a suspensão de toda ajuda ou fornecimento de material militar. A resolução ainda requisitava a outros organismos regionais e internacionais (tal qual o Banco Interamericano de Desenvolvimento) que suspendessem também seus programa em relação ao HAITI. Após, seguiu-se a Resolução 2/91, que solicitava o congelamento de haveres do Governo do Haiti nos países membros da OEA e o monitoramento do embargo comercial. Posteriormente foi redigido o Protocolo de Washington de Dezembro de 1992, que reformou a carta da OEA permitindo-se suspender qualquer Estado membro cujo governo tenha sido destituído pela força, por maioria de 2/3. O caso do Haiti demonstra ser possível, mesmo diante da omissão de disposições claras na Carta da OEA, o posicionamento firma da Organização contrário a violações de direitos humanos. É construído um elo, então, entre os órgãos de proteção de direitos humanos no sistema interamericano (Comissão e Corte) com o Conselho Permanente da OEA.	Não há, entretanto, especificação do procedimento para a edição das sanções coletivas, bem como a natureza e conteúdo das mesmas.
Leitura complementar: Artigo de autoria de André Carvalho Ramos intitulado “Responsabilidade Internacional do Estado por Violação aos Direitos Humanos”, artigo da R. CEJ, Brasília, n. 29, p. 53-63, abr./jun. 2005;
QUESTÕES DE CONCURSOS ANTERIORES:
(25ºCPR) O princípio do esgotamento prévio dos recursos domésticos, no Direito Internacional dos DH,
É pressuposto indispensável para peticionar a órgãos de monitoramento de tratados de direitos humanos;
É pressuposto dispensável, no sistema interamericano, para as comunidades estatais;
É pressuposto indispensável, mesmo que a violação apontada seja parte de ampla prática administrativa;
É pressuposto dispensável, se demonstrado que os recursos domésticos são indisponíveis ou insuficientes;
(19ºCPR) A Constituição Brasileira, quanto à proteção dos direitos humanos:
Estabelece como princípio regente das relações internacionais do País a prevalência dos direitos humanos e preconiza ainda a criação de um tribunal internacional dos direitos humanos.
Além de constituir a República Federativa do Brasil em Estado democrático de direito, tendo como um dos fundamentos a dignidade da pessoa humana, assegura a todos direitos e garantias fundamentais, direitos individuais e sociais, expressos no seu texto, além de outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em queo Brasil seja parte.
Inova quanto aos princípios sensíveis da federação, incluindo entre eles os direitos da pessoa humana, cuja inobservância pode resultar em intervenção federal nos Estados, decretada pelo Presidente da República no caso de provimento, pelo STF, de representação formulada pelo PGR.
Analisando-se as assertivas acima, pode-se afirmar que:
Somente a de número II está correta.
Estão corretas as de números II e III.
Apenas as de números I e II estão corretas.
Todas estão corretas.
(27ºCPR) NO TOCANTE À APLICABILIDADE, À PROTEÇÃO INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS, DOS DRAFT ARTICLES ON RESPONSIBILITY OF STATES FOR INTERNATIONALLY WRONGFUL ACTS (ESBOÇO DE ARTIGOS SOBRE A RESPONSABILIDADE DE ESTADOS POR ATOS ILÍCITOS INTERNACIONAIS) DE 2001, DA COMISSÃO DE DIREITO INTERNACIONAL DA ONU, É CORRETO DIZER QUE
o documento é completamente inaplicável, pois trata de responsabilidade decorrente de ilícitos praticados na relação entre Estados e não na relação entre um Estado e seus jurisdicionados;
o documento é parcialmente aplicável, pois pelo menos parte das obrigações decorrentes do direito internacional dos direitos humanos são erga partes ou erga omnes e, por isso, são oponíveis por Estados vis à vis a outros;
o documento é aplicável em todos os seus termos, pois não existem obrigações de Estados vis à vis seus jurisdicionados no direito internacional;
o documento é completamente inaplicável, pois o regime de proteção internacional dos direitos humanos não tem qualquer relação com a responsabilidade internacional dos Estados.
(26ºCPR – discursiva) O regime geral de responsabilidade internacional do Estado tem plena aplicação à proteção internacional dos direitos humanos?
 (26ºCPR - oral) O que são contramedidas (“countermeasures”) no regime de responsabilidade internacional do Estado? São comparáveis com represálias? Em que aspectos?
(27ºCPR – oral) Responsabilidade internacional dos Estados por violações de direitos humanos. Fale sobre os pressupostos da responsabilidade.
(27ºCPR – oral) Diferencie as espécies de responsabilidade internacional. Elemento que desencadeia a responsabilidade do Estado por ato de particular. De que maneira os tribunais internacionais (penais e de DH) atuam nestes casos.
(27ºCPR – oral) Como compatibilizar a soberania interna com a atuação dos tribunais internacionais. Quais as sanções?
Gabarito: 1.d; 2.d; 3.b
Ponto 1.b. Relação entre violação de direitos humanos e crimes internacionais conexos: apartheid, tortura, desaparecimento forçado, genocídio, trabalho e comércio escravo, crimes de guerra e crimes contra a humanidade.
Principais obras consultadas: Resumo dos Grupos 25º, 26º e 27º CPR; Flávia Piovesan. Direitos Humanos e Direito Constitucional Internacional, 12ª Edição. Ed. Saraiva; Fábio Conder Comparato. A Afirmação Histórica dos Direitos Humanos, 4º Edição. Ed. Saraiva; ESMPU. Manual Prático de Proteção de Direitos Humanos Internacionais. Material didático de Luiz Régis Prado, disponível em http://professorregisprado.com/Material%20didatico/Power%20Point%20CRIMES%20INTERNACIONAIS.pdf. PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito internacional público e privado. 6. ed. Salvador: Jus Podivm, 2014.
Legislação Básica: CF, Artigos 1º, 3º, 4º, 5º, 6º, 37; Convenção Americana de Direitos Humanos; a Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação Racial (ONU, 1965); a Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra a Mulher (ONU, 1979); a Convenção sobre os Direitos da Criança (ONU, 1989); a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (ONU, 2006); a Convenção Internacional sobre a Proteção dos Direitos de todos os Trabalhadores Migrantes e dos Membros de suas Famílias (Resolução nº 45/158, AG da ONU, 1990); a Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas cruéis, desumanos e degradantes (ONU, 1984), a Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio (1948); Jurisprudência Nacional e Internacional;
Conceito e aspecto histórico: A Comissão de Direito Internacional da ONU define crime internacional como o descumprimento, pelo Estado, de uma obrigação essencial para a salvaguarda de interesses fundamentais da sociedade internacional e cuja transgressão é, por esse motivo, reconhecida como grave pelos membros dessa coletividade. Embora esse conceito seja incompleto, por não levar em conta a personalidade internacional dos indivíduos, os deveres que estes devem cumprir na vida social – inclusive no âmbito internacional – e o princípio da responsabilidade individual, que é uma das marcas do Direito Penal com um todo, deixa entrever a íntima correlação que a ideia de crimes internacionais tem com a violação aos direitos humanos (valores e interesses fundamentais tutelados em favor da dignidade humana).
A relação entre crimes internacionais e violação de direitos humanos é perceptível a partir dessa necessidade que a sociedade internacional possui de resguardar determinados direitos essenciais dos seres humanos. Assim, partindo-se do pressuposto de que os direitos humanos nascem a partir de lutas sociais de resistência, ou seja, os direitos humanos são construídos em contextos que envolvem sua violação, a noção de crimes internacionais está necessariamente ligada a um mecanismo de tutela desses direitos humanos.
O desenvolvimento da noção de crimes internacionais é fenômeno que remonta à segunda metade do século XIX, quando teve início um esforço internacional de humanização da guerra. Entretanto, a consolidação do conceito é fenômeno posterior ao final da II Guerra Mundial e decorre diretamente da formação de um sistema internacional de proteção dos direitos humanos e de um mecanismo internacional de segurança coletiva administrado pela ONU.
Com efeito, a construção da ideia de crimes internacionais é também fenômeno típico de um mundo em que há certa convergência em relação a uma pauta mínima de valores e no qual há muitas questões que dizem respeito a mais de um Estado específico ou a toda a sociedade internacional. É a consciência comum em relação à necessidade de se deferir especial tutela a certos valores (v.g., igualdade de gênero, de raça, etnia; inviolabilidade de crenças e convicções religiosas; liberdade do ser humano e autodeterminação dos povos, etc) que conduziu o DIP à preocupação de tipificar como “criminosas” as condutas transgressoras dos valores/bens/direitos relacionados com a dignidade humana.
Neste sentido, Flávia Piovesan anota que o Tribunal de Nuremberg (1945-1946), com a competência de julgar os crimes cometidos ao longo do nazismo, seja pelos líderes do partido, seja pelos oficiais militares, significou um poderoso impulso ao movimento de internacionalização dos direitos humanos. Ao final da II Guerra e após intensos debates sobre o modo pelo qual poderiam os alemães ser responsabilizados pela guerra e pelos bárbaros abusos do período, os aliados chegaram a um consenso, com o Acordo de Londres de 1945, pelo qual ficava convocado um Tribunal Militar Internacional para julgar os criminosos de guerra. 
OBS: Eram crimes sob a jurisdição do Tribunal de Nuremberg que demandavam responsabilidade individual (nos termos do artigo 6º do Acordo de Londres): a) crimes contra a paz; b) crimes de guerra; e c) crimes contra a humanidade. O julgamento do Tribunal de Nuremberg consolidou o entendimento de que, tal como Estados, indivíduos poderiam ser sujeitos de Direito Internacional. Entendeu-se que, na medida em que os crimes contra a ordem internacional são cometidos por indivíduos e não por entes abstratos, apenas punindo indivíduos perpetradores de tais crimes é que as previsões do Direito Internacional poderiam ser aplicadas. Consagrou-se, pois, o entendimento de que indivíduos eram passíveis de punição por violação ao Direito Internacional. A condenação criminal dos indivíduos que colaboram para a ocorrência do nazismo fundamentou-se, assim, na violação de costumes internacionais,ainda que muita polêmica tenha surgido em torno da alegação de afronta ao princípio da anterioridade da lei penal, sob o argumento de que os aos punidos pelo Tribunal de Nuremberg não eram considerados crimes no momento em que foram cometidos. A essa crítica outras se acresceram, como as relativas ao alto grau de politicidade do Tribunal de Nuremberg (em que “vencedores”estariam julgando “vencidos”); ao fato de ser um Tribunal precário e de exceção (criado post facto para julgar crimes específicos); e às sanções por ele impostas (como a pena de morte). Não obstante essas críticas, o significado do Tribunal de Nuremberg para o processo de justicialização dos direitos humanos é duplo: não apenas consolida a ideia da necessária limitação da soberania nacional, como reconhece que os indivíduos têm personalidade jurídica na esfera internacional, contraindo direitos e obrigações. Testemunha-se, desse modo, uma mudança significativa nas relações interestatais, o que vem a sinalizar transformações na compreensão dos direitos humanos, que, a partir daí, não mais poderiam ficar confinados à exclusiva jurisdição doméstica.
Ainda como contribuições históricas para reprimir os crimes internacionais, vale citar o Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia e o Tribunal Penal Internacional para Ruanda, criados na década de 90 do século passado para processar e julgar indivíduos por atos cometidos nos conflitos ocorridos nesses dois países.
Critérios de Incriminação: Existem alguns fatores que levam a sociedade internacional a se preocupar com certas condutas puníveis, considerando-o um crime internacional: 1) a conduta afeta um interesse internacional significativo, em especial uma ameaça à paz e à segurança internacionais; 2) a conduta ofende valores compartilhados pelo conjunto da comunidade internacional (mas o interesse não é de altíssima significância); 3) a conduta tem implicações transnacionais, por envolver ou afetar mais de um Estado, seja pela diversidade de nacionalidade dos sujeitos. Isto é, considera-se a transnacionalidade. Para tanto, saímos do plano do objeto jurídico para a morfologia da conduta (mais de uma nacionalidade envolvida ou a conduta se estende para mais de um território); 4) a conduta é ofensiva a pessoa ou interesse sujeito a proteção internacional (mas o interesse não é de altíssima significação). 5) a conduta é de tal natureza que sua prevenção e repressão podem ser vantajosamente levadas a efeito pela conjugação de esforços nacionais.
Previsão dos crimes internacionais. Codificação dos direitos humanos: A partir do que foi aduzido no item concernente ao conceito e o aspecto histórico, a adoção da Convenção para a Prevenção e Repressão ao Crime de Genocídio, em 8 de dezembro de 1948, que afirmou ser o genocídio um crime contra a ordem internacional, deu início, então, aos esforços para a criação de um Tribunal Penal Internacional permanente (Piovesan, pag. 282-283).
Segundo o artigo 6º da Convenção, “as pessoas acusadas de genocídio serão julgadas pelos tribunais competentes do Estado em cujo território foi o ato cometido ou pela corte penal internacional competente com relação às Partes Contratantes que lhe tiverem reconhecido a jurisdição”. Todos esses eventos convergiram esforços internacionais para a criação de um organismo intergovernamental permanente, o Tribunal Penal Internacional (TPI), competente para examinar quatro tipos de ilícitos, desde que sejam de maior gravidade e que afetem a comunidade internacional em seu conjunto: crimes de guerra, crimes contra a humanidade, crimes de agressão e genocídio.
No Sistema Global de proteção de Direitos Humanos, cumpre enumerar diversos tratados destinados a conferir especial proteção aos valores caros à Sociedade Internacional, tais como: a Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação Racial (ONU, 1965); a Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra a Mulher (ONU, 1979); a Convenção sobre os Direitos da Criança (ONU, 1989); a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (ONU, 2006); a Convenção Internacional sobre a Proteção dos Direitos de todos os Trabalhadores Migrantes e dos Membros de suas Famílias (Resolução nº 45/158, AG da ONU, 1990); a Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas cruéis, desumanos e degradantes (ONU, 1984), a Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio (1948).
PONTO EXTRA: Segundo Luiz Régis Prado:
Os crimes contra a humanidade, também denominados de delitos de lesa-humanidade – surgem como extensão aos crimes de guerra e, com o passar do tempo, acabam ganhando autonomia em relação àqueles, bem como aos crimes de agressão e de genocídio. A sua origem legislativa radica no Estatuto do Tribunal Militar Internacional de Nuremberg (art. 6,c), de 1945, e no Estatuto do Tribunal de Tokyo, e 1946 (art.5). Esses dois diplomas legais ensejavam a punição de três modalidades de crime internacional: os crimes contra a paz, os crimes de guerra e os crimes contra a humanidade (arts. 6 e 5, respectivamente).
A noção de delito contra a humanidade, atualmente consagrada no Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional (ETPI – promulgado no Brasil pelo Decreto nº 4.388/2002), engloba todo atentado ou agressão contra bens jurídicos essenciais, de natureza individual, praticado no contexto de um ataque sistemático ou generalizado – dirigido contra determinada população civil -, e realizado com a intervenção (participação/tolerância) do poder público – legal ou fático. Isso quer dizer: atentado (em massa) contra as populações civis, sendo fundamentalmente uma infração que criminaliza ataques massivos aos direitos do homem: proteção da vida, proibição da tortura, segurança e liberdade da pessoa, entre outros. Pode-se, finalmente, concluir que: os crimes contra a humanidade são os atentados ou ataques contra bens jurídicos individuais fundamentais (vida, integridade física, saúde, liberdade etc.) praticados, tanto em tempo de guerra como de paz, como parte de um ataque generalizado ou sistemático realizado com a participação ou tolerância do poder político de iure ou de facto.
Exemplos: o massacre dos armênios pelos turcos (1915); a repressão nazista aos judeus e outras minorias, e aos opositores políticos (1933); o massacre e as deportações feitas pelas potências do Eixo, especialmente pelos nazistas alemães e japoneses, e pelos nazistas alemães e japoneses, e pelos russos comunistas de judeus, poloneses, nacionalistas ucranianos, chineses, etc (a partir de 1942); os delitos realizados pelo regime comunista de Pol Pot e Yeng Suary, no Camboja (1975-1979); os delitos praticados no Darfour (2002).
Espécies de crimes contra a humanidade (artigo 7º do ETPI):
a) Homicídio;
b) Extermínio (= compreende a sujeição intencional a condições de vida, tais como a privação do acesso a alimentos ou medicamentos, com vista a causar a destruição de uma parte da população);
c) Escravidão (= entende-se o exercício, relativamente a uma pessoa, de um poder ou de um conjunto de poderes que traduzam um direito de propriedade sobre uma pessoa, incluindo o exercício desse poder no âmbito do tráfico de pessoas, em particular mulheres e crianças);
d) Deportação ou transferência forçada de uma população (=entende-se o deslocamento forçado de pessoas, através da expulsão ou outro ato coercivo, da zona em que se encontram legalmente, sem qualquer motivo reconhecido no direito internacional);
e) Prisão ou outra forma de privação da liberdade física grave, em violação das normas fundamentais de direito internacional;
f) Tortura (= entende-se o ato por meio do qual uma dor ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são intencionalmente causados a uma pessoa que esteja sob a custódia ou o controle do acusado; este termo não compreende a dor ou os sofrimentos resultantes unicamente de sanções legais, inerentes a essas sanções ou por elas ocasionadas);
g) Agressão sexual, escravatura sexual, prostituiçãoforçada, gravidez forçada, esterilização forçada ou qualquer outra forma de violência no campo sexual de gravidade comparável (Por "gravidez à força" entende-se a privação ilegal de liberdade de uma mulher que foi engravidada à força, com o propósito de alterar a composição étnica de uma população ou de cometer outras violações graves do direito internacional. Esta definição não pode, de modo algum, ser interpretada como afetando as disposições de direito interno relativas à gravidez);
h) Perseguição de um grupo ou coletividade que possa ser identificado, por motivos políticos, raciais, nacionais, étnicos, culturais, religiosos ou de gênero, tal como definido no parágrafo 3o, ou em função de outros critérios universalmente reconhecidos como inaceitáveis no direito internacional, relacionados com qualquer ato referido neste parágrafo ou com qualquer crime da competência do Tribunal (= entende-se a privação intencional e grave de direitos fundamentais em violação do direito internacional, por motivos relacionados com a identidade do grupo ou da coletividade em causa);
i) Desaparecimento forçado de pessoas ( = entende-se a detenção, a prisão ou o seqüestro de pessoas por um Estado ou uma organização política ou com a autorização, o apoio ou a concordância destes, seguidos de recusa a reconhecer tal estado de privação de liberdade ou a prestar qualquer informação sobre a situação ou localização dessas pessoas, com o propósito de lhes negar a proteção da lei por um prolongado período de tempo);
j) Crime de apartheid ( = entende-se qualquer ato desumano análogo aos ora elencados, praticado no contexto de um regime institucionalizado de opressão e domínio sistemático de um grupo racial sobre um ou outros grupos nacionais e com a intenção de manter esse regime);
k) Outros atos desumanos de caráter semelhante, que causem intencionalmente grande sofrimento, ou afetem gravemente a integridade física ou a saúde física ou mental.
Sobre os crimes de guerra:
As primeiras normas internacionais, cabe destacar, foram as Convenções de Haia de 1899 e 1907 e as Convenções de Genebra de 1906 e 1929, relativas estas últimas ao tratamento de prisioneiros de guerra, proteção aos feridos e doentes. Ao depois, o Estatuto do Tribunal de Nuremberg acabou definindo os crimes de guerra. Somente após a II Guerra Mundial se produz uma internacionalização da matéria com aparecimento da ideia de interesse geral, que supõe o abandono da concepção continental segundo a qual o crime de guerra é um crime de direito comum não justificado pelas leis da guerra, pela visão anglo saxônica, para qual o crime de guerra é uma violação das leis e usos da guerra, quer dizer de um direito especial que é um direito internacional.
A doutrina distingue na atualidade dois ramos diferentes de direitos da guerra: o primeiro, o direito humanitário bélico (Direito de Genebra), é dedicado à proteção das vítimas da guerra – prisioneiros, feridos, doentes, náufragos e população civil; o segundo (Direito de Haia) é integrado por convênios que buscam regulamentar a condução da guerra – métodos de combate e de defesa, armas permitidas e não permitidas, etc.
Modernamente, os crimes de guerra podem ser conceituados como conjunto de ações que despreza deliberadamente as leis e os costumes da guerra. O ETPI no art. 8º reitera a sua competência para o julgamento de tais crimes, distinguindo na tipificação dos crimes de guerra entre os praticados num conflito armado internacional (alíneas “a” e “b” do art. 82) e aqueles praticados em um conflito armado interno (alíneas “c” e “e” do mesmo artigo).
PONTO EXTRA: Genocídio: consiste na prática de atos cometidos contra membros de um grupo étnico, nacional, racial ou religioso com a intenção de destruí-lo, no todo ou em parte. Tais atos incluem: homicídio; ofensas graves à integridade física ou mental; sujeição intencional do grupo a condições de vida que possam provocar sua eliminação, total ou parcial; medidas destinadas a impedir nascimentos; e transferência forçada e de pessoas do grupo para outro grupo social.
A ocorrência de genocídio pode ser apurada à luz do Estatuto de Roma (art. 6) e da Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio, de 1952.
OBS: A iniciativa R2P (Responsability to Protect – Responsabilidade de Proteger), segundo Portela (p. 279-280):
Em 2005, por ocasião da Cúpula Mundial da ONU, as Nações Unidas lançaram a Iniciativa R2P, que visa a atribuir aos Estados a responsabilidade de proteger as pessoas que estão sob sua jurisdição contra grandes atrocidades. Mais precisamente, a iniciativa R2P confere aos estados a responsabilidade de proteger as respectivas populações contra o genocídio, os crimes de guerra, os crimes contra a humanidade e a limpeza étnica. A iniciativa R2P contempla, inicialmente, a necessidade de prevenir essas graves violações, evitando inclusive o incitamento a tais práticas, por todos os meios possíveis. A comunidade internacional, por meio da ONU, terá a responsabilidade de empregar os meios pacíficos necessários para prevenir tais fatos, agindo sempre de acordo com os capítulos VI e VII da Carta das Nações Unidas. 
Caso as autoridades nacionais falhem em proteger as populações dos respectivos Estados, e não tendo os meios pacíficos para solucionar os conflitos funcionado, os Estados poderão agir coletivamente, por meio do Conselho de Segurança e em cooperação com organizações regionais, quando apropriado.
Dentro da iniciativa R2P é possível o emprego da força, mas apenas em última instância e dentro do mecanismo de segurança coletiva da ONU, administrado pelo Conselho de Segurança da entidade.
Leitura complementar: PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito internacional Público e Privado. Salvador: JusPodivm, 2009. PIOVESAN, Flávia. “O direito de asilo e a proteção internacional dos refugiados”.In: PIOVESAN, Flávia. Temas de Direitos Humanos. São Paulo: Max Limonad, 2003. PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e justiça internacional. São Paulo: Saraiva, 2006.
QUESTÕES DE CONCURSOS ANTERIORES:
(25ºCPR) Os crimes contra a humanidade, na concepção consuetudinária,
só podem ser praticados no contexto do conflito armado;
prescindem o contexto do conflito armado;
são praticados no contexto de conflito armado;
compreendem o crime de genocídio;
(27ºCPR) A RESPONSIBILITY TO PROTECT (R2P), COMO CONJUNTO DE PRINCÍPIOS ORIENTADORES DE AÇÃO DA COMUNIDADE INTERNACIONAL:
diz respeito, apenas, à proteção da população civil em conflitos internacionais;
diz respeito, apenas, à proteção da população civil em conflitos não internacionais; 
exclui a possibilidade de intervenção militar para proteção da população civil;
inclui a possibilidade de intervenção militar para proteção da população civil como ultima ratio.
 
(26ºCPR - discursiva) A categoria de crimes contra a humanidade tem aplicabilidade no direito brasileiro? É juridicamente sustentável, neste, a imprescritibilidade desses crimes? O Estado brasileiro é obrigado a prossegui-los incondicionalmente? Considere, na resposta, a hipótese de crimes alcançados pela lei de anistia – Lei n.º 6.683, de 28 de agosto de 1979.
 (26ºCPR – oral) Qual o bem jurídico tutelado na tipificação do genocídio como crime internacional?
(27ºCPR – oral) O que é R2P ?
(24ºCPR – Dissertação) Disserte sobre a dimensão política do direito à verdade, abordando, obrigatoriamente, seu conceito, natureza, fundamento constitucional e interamericano, limites, papel do Ministério Público para sua efetivação e articulação com os crimes contra a humanidade praticados pelos regimes de exceção, especialmente na América Latina e Brasil (máximo 40 linhas).
(25ºCPR – oral) Aponte os efeitos do apartheid sobre os direitos humanos.
(27ºCPR – oral) Fale sobre o crime de desaparecimento forçado. Tipificação interna? Diferença em relação ao crime de sequestro? É crime permanente ou instantâneo com efeitos permanentes?
(27ºCPR – oral) Conceito de crimes internacionais

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