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CCJ0033-WL-B-AMMA-08-Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual-03

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DIREITO PENAL III 
Aula 8- Crimes contra a Dignidade Sexual. 
 OS DELITOS CONTRA VULNERÁVEL 
DIREITO PENAL III 
OBJETIVOS 
Ao final da aula o aluno será capaz de: 
● Compreender os reflexos advindos da reforma penal de 2009 
– Lei n.12.015, na tipificação das condutas e conseqüente 
conflito de Direito Intertemporal. 
● Analisar a incidência dos institutos repressores da Lei n. 
8.072/90 nos delitos contra a dignidade sexual. 
●Distinguir os crimes sexuais contra vulnerável, entre si e das 
demais figuras típicas contra a dignidade sexual. 
●Distinguir os crimes sexuais contra vulnerável dos crimes 
previstos na Lei 8.069/90 (E.C.A.); 
●Identificar a revogação da Lei 2.252/54 e a alteração 
promovida pela Lei 12.015/09, no Estatuto da Criança e do 
Adolescente. 
● Reconhecer a forma de promoção da ação penal nos crimes 
sexuais contra vulnerável. 
 DELITOS CONTRA VULNERÁVEL– AULA 8 
DIREITO PENAL III 
Estrutura de Conteúdo. 
A compreensão da expressão Vulnerável. Estupro de 
Vulnerável. Corrupção de menores. Satisfação da lascívia 
mediante a presença de criança ou adolescente; 
favorecimento da prostituição ou outra forma de 
exploração sexual de vulnerável arts. 217 a 218-B, do 
Código Penal. 
DELITOS CONTRA VULNERÁVEL– AULA 8 
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 CONTEÚDO 
A compreensão da expressão Vulnerável 
Grupo de Vulnerável é o conjunto de pessoas que por 
questões ligadas a gênero, idade, condição social, deficiência 
e orientação sexual, tornam-se mais suscetíveis à violação de 
seus direitos. Para efeito didático esse grupo pode ser 
classificado em seis categorias: mulheres, crianças e 
adolescentes, idosos, população de rua, pessoas com 
deficiência física ou sofrimento mental (AGUDO, Luis Carlos. 
Considerações sobre a Lei nº 12.015/09 que altera o Código 
Penal. Disponível em: www.ibccrim.org.br) 
DELITOS CONTRA VULNERÁVEL– AULA 8 
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 Assim, o legislador considerou os menores de 14 anos como 
um grupo mais suscetível à violação de seus direitos, no caso, 
sexuais, bem como as pessoas e condições fáticas elencadas 
no art.217 – A, caput e §1º, CP. 
1. Estupro de Vulnerável art. 217A, do CP. 
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso 
com menor de 14 (catorze) anos: 
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. 
 §1º Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no 
caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, 
não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou 
que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência. 
§2º (VETADO) 
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1.1 Bem jurídico tutelado: Liberdade sexual do vulnerável. 
1.2 Elementos do tipo: a ação nuclear visa à satisfação da 
lascívia do agente como especial fim de agir. 
1.3 Classificação do delito: comum em relação ao sujeito 
ativo; subjetivamente complexo; de forma livre; material. 
Obs. Causas de aumento prevista no art. 226, CP. 
 Art. 226. A pena é aumentada: 
 I - de quarta parte, se o crime é cometido com o concurso 
de 2 (duas) ou mais pessoas; 
 II - de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou 
madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, 
preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro 
título tem autoridade sobre ela; 
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1.4 Consumação e tentativa: configura-se como delito 
material. 
 1.5 Questões relevantes. 
1.5.1 A revogação do art. 224, do Código Penal e a 
irretroatividade da Lei 12.015/09. 
 A anteriormente previsão de presunção de violência, 
descrita no art.224, CP foi expressamente revogada pela Lei 
n.12015/2009, tendo o legislador optado pela compreensão 
acerca da expressão vulnerável. 
 Como assevera Guilherme de Souza Nucci, o que se 
pretende com a expressão vulnerabilidade é abranger a noção 
de “coação psicológica” (NUCCI, Guilherme de Souza. Crimes 
contra a Dignidade Sexual. Comentários à Lei 12015 de 07 
de agosto de 2009, RT, 2009, pp 35). 
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 Não obstante a referida opção legislativa remanesce a 
controvérsia acerca do caráter absoluto ou relativo da referida 
vulnerabilidade, da mesma forma que ocorria em relação à 
presunção de violência. Configurava-se como presunção 
absoluta, a que não admitia prova em contrário, 
independentemente da análise do caso concreto; por outro 
lado, relativa, aquela na qual admitia-se a avaliação casuística 
do grau de discernimento/ conscientização da “vítima” acerca 
da prática da atividade sexual. 
 Acerca da discussão sobre a possibilidade de relativização 
da vulnerabilidade, cabe transcrever trecho de decisão 
proferida pelo Superior Tribunal de Justiça, em sede Recurso 
Especial: 
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(...) O referido diploma legal manteve a violência ficta com a 
denominação de “vulnerabilidade”, tendo por finalidade proteger 
o menor que não tem condições para dar seu consentimento na 
relação sexual (...) (Resp. 1107142; Min. Og Fernandes; 
publicado em 18/10/2010). 
 No que tange à impossibilidade da relativização, no caso de 
menores de 14 anos, já proferiu decisão a Sexta Câmara 
Criminal do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, in verbis: 
 Ementa: APELAÇÃO CRIMINAL DEFENSIVA E 
MINISTERIAL. ESTUPRO DE VULNERÁVEL. IRRELEVÂNCIA 
DOCONSENTIMENTO.CONDENAÇÃOMANTIDA. 
IRRELEVÂNCIA DO CONSENTIMENTO 
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Não há de se perquirir acerca do consentimento ou 
relativização da presunção de violência quando o acusado tem 
conhecimento da idade da ofendida. Regra no sentido de que o 
menor de quatorze anos não é capaz de consentir com o ato 
sexual (innocentia consilii). A relativização da presunção de 
violência em crimes sexuais encontra espaço em situações 
excepcionais, quando o acusado desconhece a idade da vítima 
e as suas características, desenvoltura sexual e circunstâncias 
de fato o fazem crer que a mesma é possuidora de maioridade, 
não sendo essa a hipótese dos autos. NÃO INCIDÊNCIA DA 
MAJORANTE. Acerto na decisão de primeiro grau que afastou 
a majorante do art. 226, II, CP, sob o argumento de que o 
acusado era tão somente casado com a tia da vítima, não 
exercendo autoridade sobre a mesma. Entendimento contrário 
iria em sentido oposto à teleologia normativa. 
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(Apelação Crime Nº 70044293108, Sexta Câmara Criminal, 
Tribunal de Justiça do RS, Relator: João Batista Marques Tovo, 
Julgado em 24/11/2011). 
 No mesmo sentido, a Oitava Câmara Criminal do Tribunal 
de Justiça do Rio de Janeiro, já decidiu: 
 Embargos Infringentes e de Nulidade. A Segunda Câmara 
Criminal, ao julgar a apelação interposta pelo ora embargante 
contra a sentença que o condenou, por violação ao artigo 214, 
c/c 224, alínea "a", e 226, inciso II, por diversas vezes, n/f do 
artigo 71, todos do Código Penal, na pena de 9 anos de 
reclusão, regime fechado, decidiu, por maioria, prover 
parcialmente o recurso defensivo, para, mantendo o juízo de 
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reprovação, fixar a pena final em 8 anos e 9 meses de 
reclusão, vencida a Des. Leony Maria Grivet Pinho que 
reconheceu relativa a menoridade da ofendida, e tendo em 
vista o lapso temporal, fatos ocorridos em 1995, declarou a 
atipicidade da conduta, para absolver o embargante. Merece 
transcrição trecho do Acórdão ora impugnado:"Impõe-se 
refutar a tese defensiva quanto a absolvição do Apelante em 
decorrência da insuficiência de provas, vez que o mesmo 
manteve relações sexuais, ainda que mediante consentimento 
da menor, e o contextoprobatório revelou-se consistente nesse 
sentido. Sendo assim, o decisum do primeiro grau merece 
prevalecer, em razão da robustez das provas coligidas, 
inexistindo qualquer excludente em favor do réu que, na 
hipótese, exclua o crime. 
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 No Código Penal de 1940 havia o artigo 224, que versava 
sobre a presunção de violência, ou seja, era praticada a 
violência sexual quando a vitima era menor de 14 anos, 
alienada ou débil mental (quando o agente conhecia a 
circunstância), ou, quando a vitima não estava incapacitada de 
oferecer qualquer resistência. O artigo 224 foi revogado, o que 
trouxe um desfecho às discussões doutrinárias quanto â sua 
constitucionalidade, pois afirmavam ser este artigo incondizente 
com nosso Estado Democrático de Direito. Porem, e de suma 
importância ressaltar que não importa se o (a) menor de 14 
anos, pessoa enferma ou deficiente mental (parágrafo primeiro 
do novo artigo) consentiram ao realizar o ato, o crime de 
estupro de vulnerável 
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já está consumado quando se pratica qualquer ato com esses 
sujeitos passivos, pouco importando ter a vitima hímem 
complacente ou a prova produzida insinuar que o ofensor e 
ofendida chegaram a nutrir amor um pelo outro. Essas 
circunstâncias são reservadas tão só a dosimetria da pena." (...) 
(...)Não sendo a menor devassa ou possuidora de maturidade 
sexual e, considerando todos os aspectos e peculiaridades dos 
fatos, não há motivo algum para o afastamento da presunção 
de violência. Embargos improvidos. (TJRJ, Embargos 
Infringentes e de Nulidade nº 0018180-12.1998.8.19.0008; Des. 
Marcus Quaresma Ferraz - julgamento: 23/11/2011 - Oitava 
Câmara Criminal). 
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 CASO CONCRETO 
Palmério casou-se com Gilvânia em maio de 2008 e, 
em razão do matrimônio, passou a morar com sua 
mulher e sua enteada, Valéria, de 10 anos de idade. A 
partir de agosto daquele mesmo ano, Palmério passou 
a praticar, sistematicamente, atos libidinosos com sua 
enteada, inicialmente, sem o conhecimento de Gilvânia 
que, após algum tempo, mesmo tomando ciência da 
situação, nada fez para impedir que seu marido 
continuasse a molestar sexualmente a menina. Em 20 
de agosto de 2009,Valéria deu entrada no pronto 
socorro do hospital apresentando sangramento vaginal 
e algumas lascerações na região genital. O fato foi 
levado ao conhecimento da autoridade policial que, 
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após minuciosa investigação, concluiu pelo indiciamento de 
Palmério e Gilvânia. O Ministério Público denunciou os agentes 
pelo delito de estupro de vulnerável em continuidade delitiva, 
sendo a inicial acusatória recebida pelo juiz competente. A 
defesa dos denunciados resolve impetrar habeas corpus contra 
o recebimento da denúncia, alegando, a uma, que Palmério 
havia iniciado a prática dos crimes antes da Lei 12.015/09 entrar 
em vigor e, portanto, não poderia ser denunciado por estupro de 
vulnerável, a duas, que Gilvânia não poderia constar do pólo 
passivo da ação penal, haja vista que não havia praticado 
nenhum ato libidinoso com a filha. Diante dos fatos narrados, 
com base nos estudos realizados, diga fundamentadamente se 
o remédio constitucional impetrado deve prosperar. 
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1.5.2. A prática do estupro com violência presumida em 
continuidade delitiva, estendendo-se para além da entrada 
em vigor da Lei 12.015/09 e o enunciado n° 711, da Súmula 
do STF. 
1.5.3 O estupro de vulnerável como tipo misto alternativo e 
a prática de várias condutas em um mesmo contexto 
fático. 
 Como já discutido na aula relativa ao crime de estupro, 
cabe salientar que, o atual entendimento predominante na 
jurisprudência, é no sentido de que a figura típica do estupro 
contempla tipo misto cumulativo e não alternativo. 
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1.5.4.A hediondez do estupro de vulnerável. 
A Lei n.12015/2009 expressamente alterou o disposto no 
art.1º, da Lei n.8072/1990 de modo a tipificar o estupro de 
vulnerável como delito hediondo, ainda que na forma simples. 
Art. 1o São considerados hediondos os seguintes crimes, 
todostipificadosnoDecreto-Lei no 
 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados 
VI - estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1o, 2o, 3o e 
4o). 
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1.5.5. As qualificadoras relativas ao resultado mais grave 
(lesão grave e morte) 
 § 3o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza 
grave: 
 Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos. 
 § 4o Se da conduta resulta morte: 
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. 
 Nestes casos, as qualificadoras resultam de condutas 
preterdolosas, ou seja, nas quais há a ausência de dolo na 
configuração do resultado. Em outras palavras, cabe salientar 
que as lesões corporais de natureza leve ou as vias de fato 
resultantes da violência empregada pelo agente serão 
absorvidas pela figura típica simples, prevista no caput, do art. 
217-A. 
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 1.5.6 Reflexos da revogação do art. 224, do CP sobre a Lei 
8.072/90. 
 O reconhecimento da revogação tácita da causa de 
aumento prevista no art.9º, da Lei n.8072/1990 – novatio legis in 
mellius. 
 Art. 9º As penas fixadas no art. 6º para os crimes capitulados 
nos arts. 157, § 3º, 158, § 2º, 159, caput e seus §§ 1º, 2º e 3º, 
213, caput e sua combinação com o art. 223, caput e parágrafo 
único, 214 e sua combinação com o art. 223, caput e parágrafo 
único, todos do Código Penal, são acrescidas de metade, 
respeitado o limite superior de trinta anos de reclusão, estando a 
vítima em qualquer das hipóteses referidas no art. 224 também 
do Código Penal. 
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 Acerca do tema, já decidiu o Superior Tribunal de 
Justiça pela caracterização de novatio legis in mellius, in 
verbis: 
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM HABEAS CORPUS. 
PROCESSUALPENAL.CONTRADIÇÃO.EQUÍVOCO 
CONFIGURADO.ATRIBUIÇÃODEEFEITOS 
INFRINGENTES. ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR. 
VIOLÊNCIA REAL. CAUSA DE AUMENTO PREVISTA NO 
ART. 9.º DA LEI N.º 8.072/90. APLICABILIDADE. 
SUPERVENIÊNCIA DA LEI N.º 12.015/2009. INCIDÊNCIA. LEI 
POSTERIOR MAIS BENÉFICA. COMPETÊNCIA DO JUÍZO 
DA EXECUÇÃO PENAL. EMBARGOS ACOLHIDOS COM 
EFEITOS INFRINGENTES. HABEAS CORPUS CONCEDIDO 
DE OFÍCIO. 
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1. Conforme dispõe o art. 619 do Código de Processo Penal, 
os embargos de declaração destinam-se a suprir omissão, 
afastar obscuridade, eliminar contradição ou ambiguidade 
existentes no julgado. 
2. A atribuição de efeitos infringentes somente é possível, 
excepcionalmente, nos casos em que, reconhecida a 
existência de um dos defeitos elencados nos incisos do art. 
619, a alteração do julgado seja consequência inarredável da 
correção do referido vício, bem como nas hipóteses de erro 
material ou equívoco manifesto, que, por si sós, sejam 
suficientes para a inversão do julgado. Precedentes. 
3. Se restou comprovada a existência de violência real ou 
grave ameaça no crime de estupro ou atentado violento ao 
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pudor cometido contra menor de 14 (quatorze) anos, deve ser 
aplicada a referida causa de aumento de pena, o que ocorreu 
no presente caso. Precedentes. 
4. Entretanto, com o advento da Lei n.º 12.015, de 7 de agosto 
de 2009, os delitos de estupro e atentado violento ao pudor 
praticados contra menor de 14 (quatorze) anos passaram a 
ser reguladospor um novo tipo penal, sob a denominação de 
estupro de vulnerável, previsto no art. 217-A do Código Penal, 
não sendo mais admissível a aplicação do art. 9.º da Lei n.º 
8.072/90 aos fatos posteriores a sua vigência. 
5. A lei posterior mais benéfica ao condenado deve ser 
aplicada aos fatos anteriores a sua vigência, nos termos do 
art. 2.º, parágrafo único, do Código Penal. Portanto, devem 
incidir, na espécie, os preceitos da Lei n.º 12.015/2009, por ser 
mais favorável aoPaciente. Precedentes. 
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6. Embargos de declaração acolhidos, com efeitos 
modificativos, para, sanando a contradição apontada, denegar 
o writ. Habeas corpus concedido, de ofício, para determinar ao 
Juízo das Execuções Criminais que proceda à aplicação da Lei 
n.º 12.015/2009 à hipótese dos autos. (EDcl no HC 188432 / 
RJ 2010/0195303-4; Quinta Turma; Min. Laurita Vaz; julgado 
em 15/12/2011). 
2.Corrupção de menores art. 218, do CP. 
Art. 218. Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a 
satisfazer a lascívia de outrem: 
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos. 
2.1 Bem jurídico tutelado: liberdade sexual do vulnerável. 
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2.2 Elementos do tipo: a ação nuclear prevê a conduta de 
induzimento, aliciamento do menor a satisfazer a lascívia de 
outrem. 
2.3 Consumação e tentativa: consuma-se com o induzimento 
do vulnerável a satisfazer a lascívia de outrem (pessoa 
determinada). 
2.4 Questões relevantes: A revogação da Lei 2.252/54 e a 
alteração promovida na Lei 8.069/90. 
 A Lei nº 12.015/09, revogou a Lei nº 2.252/54, que tratava 
também da corrupção de menores, bem como acrescentou ao 
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o artigo 244-B, in 
verbis: 
Art. 244-B: Corromper ou facilitar a corrupção de menor de 18 
anos, com ele praticando infração penal ou induzindo a praticá- 
la: Pena: reclusão, de 01 a 04 anos. 
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3. Satisfação da lascívia mediante presença de criança ou 
adolescente art. 218 - A, do CP. 
Art. 218-A. Praticar, na presença de alguém menor de 14 
(catorze) anos, ou induzi-lo a presenciar, conjunção carnal ou 
outro ato libidinoso, a fim de satisfazer lascívia própria ou de 
outrem: 
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos. 
3.1 Bem jurídico tutelado: liberdade sexual do vulnerável. 
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3.2 Elementos do tipo. 
 O tipo penal descreve a satisfação de lascívia com a 
presença de criança ou adolescente. A referida conduta típica 
comporta duas possibilidades, a saber: 
A prática, na presença de menor de 14 anos, de conjunção 
carnal ou ato libidinoso ou 
O induzimento de menor de 14 anos a presenciar conjunção 
carnal ou ato libidinoso. 
OBS. A vítima não pode participar dos atos libidinosos (ato 
sexual), pois, neste caso restará caracterizado o estupro de 
vulnerável (art.217-A, CP). 
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3.3 Classificação do delito: o delito é subjetivamente 
complexo, pois apresenta em todas as suas modalidades o 
especial fim de agir de satisfazer a lascívia própria ou de 
outrem. 
 3.4 Consumação e tentativa: delito formal na modalidade de 
induzimento do menor a presenciar o ato sexual. 
3.5 Questões relevantes: 
 Com o advento da Lei n.12015/2009, pode-se afirmar que 
houve abolitio criminis em relação à corrupção de menores 
de 18 e, maiores de 14 anos, incidindo, portanto, o disposto 
no art.2º, caput, do CP (Antiga redação do art.218, CP: 
“Corromper ou facilitar a corrupção de pessoa maior de 14 
(catorze) e menor de 18 (dezoito) anos, com ela praticando 
ato de libidinagem ou induzindo-a a praticá-lo ou presenciá- 
lo”.). 
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4. Favorecimento da prostituição ou outra forma de 
exploração sexual de vulnerável art. 218-B, do CP. 
Interessante ressaltar a compreensão acerca do conceito de 
exploração sexual apresentada por Rogério Sanches Cunha, 
segundo a qual: 
 (...) a exploração sexual pode ser definida como uma 
dominação e abuso do corpo de crianças, adolescentes e 
adultos (oferta), por exploradores sexuais (mercadores), 
organizados, muitas vezes, em rede de comercialização local e 
global (mercado),ou por pais ou responsáveis, e por 
consumidores de serviços sexuais pagos (demanda), 
admitindo quatro modalidades: 
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prostituição; turismo sexual; pornografia e tráfico para fins 
sexuais (...)( FALEIROS, Eva apud CUNHA, Rogério Sanches. 
Comentários à reforma criminal de 2009 à Convenção de 
Viena sobre o Direito dos Tratados.RT. pp 58/59) 
Obs. A pornografia envolvendo criança e adolescente encontra- 
se tipificada nos art. 240, 241, 241-A a 241-D, da Lei 
n.8069/1990) 
 ATENÇÃO: Nesta figura típica, o legislador considerou 
vulnerável o menor de 18 anos. 
Art. 218-B. Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra 
forma de exploração sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos 
ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o 
necessário discernimento para a prática do ato, facilitá-la, 
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impedir ou dificultar que a abandone: 
 Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos. 
§ 1o Se o crime é praticado com o fim de obter vantagem 
econômica, aplica-se também multa. 
4.1 Bem jurídico tutelado: liberdade sexual do vulnerável, 
neste caso, considerado o menor de 18 anos. 
4.2 Elementos do tipo. 
 A expressão prostituição compreende o “comércio 
habitual do próprio corpo exercido pelo homem ou mulher, em 
que estes se prestam à satisfação sexual de indeterminado 
número de pessoas” (...) “cabe salientar que, não visa, 
necessariamente, ao lucro” (HUNGRIA, Nelson apud CAPEZ, 
Fernando. Curso de Direito Penal. V.3. 8.ed. pp 102) 
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 O tipo penal comporta as seguintes modalidades de 
realização, a saber: 
a) Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de 
exploração sexual, menor de 18 anos ou quem não tenha 
discernimento para a prática do ato. 
b) Facilitar prostituição ou outra forma de exploração sexual de 
menor de 18 anos ou quem não tenha discernimento para a 
prática do ato. 
c) Impedir ou dificultar o abandono da prostituição ou outra 
forma de exploração sexual de menor de 18 anos ou quem não 
tenha discernimento para a prática do ato. 
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 Distinção entre as figuras previstas nos art. 218; 218-A 
e 218-B, do CP. 
 A figura típica prevista no art.218 contempla as práticas 
sexuais meramente contemplativas; a figura do art.218- A, 
compreende o induzimento ao menor de 14 anos para que este 
assista/ presencie a prática de atos libidinosos; por fim, a 
conduta descrita no art.218-B recai sobre um número 
indeterminado de pessoas, diferentemente do que ocorre no 
art.218, no qual a conduta recai sobre uma pessoa 
determinada. 
 4.3. Consumação e tentativa: consuma-se no momento em 
que a vítima passa a dedicar-se habitualmente à atividade da 
prostituição, tendo sido aliciada pelo agente ou, ainda que já 
inserida na atividade da prostituição, ao tentar abandoná-la, vê- 
se impedida pelo agente. 
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Obs. A habitualidade não é afeta à realização do núcleo do 
tipo penal, mas, sim, mas o seu resultado, qual seja: a 
prostituição da vítima.(CAPEZ, Fernando. Op.cit. pp 107). 
 4.4 Figuras típicas: simples, qualificada pela multa e 
equiparadas: 
§2o Incorre nas mesmas penas: 
I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com 
alguém menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze)anos na 
situação descrita no caput deste artigo; 
II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em 
que se verifiquem as práticas referidas no caput deste artigo. 
 § 3o Na hipótese do inciso II do § 2o, constitui efeito 
obrigatório da condenação a cassação da licença de 
localização e de funcionamento do estabelecimento. 
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Ação Penal nos Crimes Sexuais contra Vulnerável. 
Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, 
procede-se mediante ação penal pública condicionada à 
representação. 
Parágrafo único. Procede-se, entretanto, mediante ação penal 
pública incondicionada se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos 
ou pessoa vulnerável. 
DELITOS CONTRA VULNERÁVEL– AULA 8 
 
DIREITO PENAL III 
Ação Penal Pública 
 Incondicionada 
Art. 213, § 1º 
Art. 216-A, § 2º; 
Art. 217-A e seus parágrafos; 
Art. 218; 
Art. 218-A; 
Art.218-B 
Art. 213, caput 
Art. 215; 
Art 216-A, caput. 
Ação Penal Pública 
 Condicionada 
 à representação. 
DELITOS CONTRA VULNERÁVEL– AULA 8

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