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CCJ0033-WL-A-PP-Unidade I - Renan Marques

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ALUNO:
MATRÍCULA:
PROF: RENAN MARQUES – Penal III
Atenção ! – o presente material foi elaborado com base nos livros de Rogério Sanches Cunha(Direito Penal: Parte especial, 3 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010 e Código Penal Para Concursos, 5ª Ed. Salvador: Editora JusPODIVM), Rogério Greco(Código Penal Comentado, Ed. Impetus, 2011) e Fernando Capez (Curso de Direito Penal: Parte Especial: dos crimes contra os costumes a dos crimes contra a administração pública,Volume 3, São Paulo: Ed. Saraiva, 2011)
UNIDADE I. Crimes contra o Patrimônio.
Aula 1
1. Dos crimes contra ao patrimônio. 
1.1 Conceito de patrimônio para o Direito Penal;
 
- Sob a rubrica “Dos crimes contra o patrimônio” tutela o Código Penal, no Título II, o patrimônio da pessoa física e jurídica. O Direito Penal tem por finalidade reforçar a tutela do patrimônio, que já é realizada pelo Direito Civil por meio de seus institutos. No entanto, por vezes, a sanção civil não é suficiente para prevenir e repreender a prática dos ilícitos civis patrimoniais. 
- Dessa forma, o Direito Penal selecionou as condutas mais reprováveis e passou a considerá-las ilícito penal. Antes de objetivar a proteção individual da propriedade, almeja a lei penal impedir, com a ameaça da sanção penal, os atentados contra a propriedade, de modo a proteger o interesse social. 
- Discute-se na doutrina a real abrangência da expressão “patrimônio”, pois para uns abrange somente as relações aferíveis economicamente; já para outros o valor econômico é prescindível. O patrimônio, em sentido amplo, segundo Carlos Roberto Gonçalves (autor civilista), é constituído pelo conjunto de bens, de qualquer ordem, pertencentes a um titular. Já o patrimônio, em sentido estrito, abrangeria apenas as relações jurídicas ativas e passivas de que a pessoa é titular, aferível economicamente, restringe-se, assim, aos bens avaliáveis em dinheiro. 
- Para Nelson Hungria, as coisas sem valor econômico ou de valor puramente sentimental (ex. furtar um amuleto sem valor de troca, ou um anel de cabelos que se guarda como lembrança da pessoa amada), também integra o patrimônio, de modo que podem ser objeto material dos crimes contra o patrimônio.� 
- Apesar do entendimento o ilustre autor acima, entendo, seguindo parte da doutrina, que o patrimônio, para fins penais, restringe-se àquele que possui algum valor economicamente apreciável, até porque, como será melhor explicado no momento oportuno, é possível aplicar o princípio da insignificância a alguns crimes contra o patrimônio. 
2. Furto.
Furto Simples.
A) Tipo Objetivo. 
- Ele está no Art. 155, caput, do Código Penal, e ocorre na seguinte situação: “Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.” 
- Percebe-se que a conduta do agente é a de:
a) Subtrair. 
- Subtrair significa tirar, retirar de outrem, bem móvel, sem a sua permissão, com o fim de assenhoramento definitivo. 
- A subtração do bem sempre implica a retirada do bem sem o consentimento do possuidor, proprietário ou detentor, podendo acontecer até as vistas destes, como por exemplo um sujeito que entra em uma loja sob vigilância do comerciante e se apodera da mercadoria, saindo em fuga depois. 
- NÃO há o emprego de violência ou grave ameaça na subtração do bem, tendo em vista que o emprego destes meios desconfigurariam a prático do crime de furto. 
b) Coisa alheia móvel. 
- Coisa móvel nada mais é do que um bem móvel, sendo necessário saber então o que é bem móvel para fins penais. Pois bem, bem móvel para fins de direito penal é tudo aquilo que seja passível de remoção, bens capazes de serem transportados de um local para o outro sem perderem a sua real identidade. Ou seja, ao contrário do Direito Civil, o Direito Penal trabalha com um conceito natural de coisa alheia móvel. 
Ex. Navios, aeronaves, animais e cadáveres que estiverem sendo utilizados em pesquisas. 
- Desta forma, é irrelevante o conceito fornecido pela lei civil, que considera imóveis determinados bens, como os navios, por pura ficção legal. Neste caso, pouco importa a definição civil, pois para fins penais são considerados móveis.
OBS: Os bens imóveis, por sua vez, NÃO podem ser objeto do delito de furto. 
- Além disso, o bem móvel deve ser economicamente apreciável. Vale ressaltar que o interesse apenas moral da coisa, segundo alguns autores, também configura o crime, entendimento ao qual discordamos. O autor Nucci, inclusive, traz o seguinte posicionamento que seguimos: “coisa puramente de estimação: entendemos não ser objeto material do crime de furto, pois é objeto sem qualquer valor econômico. Não se pode conceder seja passível de subtração, penalmente punível, por exemplo, uma caixa de fósforo vazia, desgastada, que a vítima possui somente porque lhe foi dada por uma namorada, no passado como símbolo de amor antigo. Caso seja subtraída por alguém, cremos que a dor moral causada ao ofendido deva ser resolvida na esfera civil, mas jamais na esfera penal, que ano presta a esse tipo de reparação.”�
- Coisa móvel alheia é considerada, pela doutrina majoritária, a coisa de quem detém, de forma legítima, a propriedade (ex: pessoa que subtrai o carro de seu dono, sem violência ou grave ameaça, quando o carro estava em um estacionamento) ou a posse (ex: pessoa que subtrai um carro alugado por outrem), ou ainda a detenção da coisa móvel.
OBS: Vale ressaltar que os conceitos de propriedade, posse e detenção são do âmbito do direito civil. Entretanto, de forma resumida, pode-se diferenciá-los da seguinte forma. A propriedade é um direito real em que o sujeito pode usar, gozar e dispor do bem, nos casos dos bens móveis a sua aquisição se dá com a tradição. A posse, por sua vez, é um fato e sua aquisição acontece desde o momento em que se torna possível exercer qualquer dos poderes inerentes à propriedade, ou seja, quando o possuidor exerce o poder de usar, gozar ou dispor do bem. A detenção, por fim, ocorre com a prática de atos materiais sobre o bem em cumprimento de ordens ou instruções alheias, havendo uma dependência hierárquica que recai sobre o detentor, como por exemplo, um motorista, um caseiro, uma empregada doméstica que atuam por ordem de um empregador. 
- A coisa móvel deve ser alheia (elemento normativo), ou seja, pertencente a alguém que não aquele que a subtrai. Desta forma, não poderá ser objeto do crime de furto, por não constituir propriedade, nem estar sob a posse ou detenção de alguém: 
1ª) Coisa de ninguém ou sem dono. (res nullius) – é uma coisa que nunca teve dono. Neste caso a apropriação da coisa por outrem será um fato atípico. Ex. Pessoa que subtrai uma fruta de uma árvore que se encontra em um local que não é propriedade de ninguém.
2º) Coisa abandonada (res derelicta) – é a coisa que já pertenceu a alguém, mas foi dispensada pelo próprio dono. Neste caso a apropriação da coisa por outrem será um fato atípico. Ex. Pessoa possuía um celular, mas resolveu jogá-lo no lixo tendo em vista que comprou outro. Se uma pessoa encontra referido celular no lixo e se apropria do objeto o fato será atípico. 
3º) Coisa perdida (res desperdita) – neste último caso a propriedade perdida não é renunciada espontaneamente pelo dono (ao contrário do que ocorre com a coisa que foi abandonada) e o seu apoderamento por terceiro poderá constituir o crime de apropriação de coisa achada, nos termos do Art. 169, II, do Código Penal. Ex. Pessoa possuía celular, mas acabou perdendo o aparelho em seu local de trabalho, se outra pessoa se apropria do bem poderá haver o crime de apropriação de coisa achada.
 
4º) Coisa públicas de uso comum – são aquelas que a todos pertencem, como por exemplo o ar, a luz do sol, a água do mar e dos rios, em princípio não podem ser objeto material do crime de furto, a não ser que destacadas do local de origem tenham significado econômico para alguém (ex: areia da praia que serve ao artista para criar obras). 
c) Para si ou para outrem.- O crime exige a finalidade específica de o agente, dolosamente, com a vontade livre e consciente, apoderar-se definitivamente da coisa alheia móvel, para si mesmo ou para outrem. Referida finalidade específica, ou também chamado de especial fim de agir será melhor analisada quando se falar do tipo subjetivo, logo a seguir. 
B) Bem jurídico e Objeto Material.
- Quanto ao bem jurídico protegido a maioria da doutrina informa, que a posse e a propriedade da coisa alheia móvel é que são protegidos pelo direito penal, e também a mera detenção sobre a coisa alheia móvel. 
- Por sua vez, o objeto material do delito de furto é a coisa alheia móvel contra a qual é dirigida a conduta praticada pelo agente. Vale lembrar que coisa é toda substância material, corpórea, passível de subtração e que tenha valor econômico, desta forma, uma ideia, enquanto entidade imaterial, NÃO poderá ser furtada, salvo se estiver corporificada em um documento. Esta coisa, para ser objeto material do crime de furto ainda deve ser alheia e móvel, elementos estes que já foram analisados no tipo objetivo do crime. 
C) Tipo Subjetivo. 
- O crime de furto SOMENTE pode ser praticado na forma DOLOSA, devendo o sujeito ter a vontade livre e consciente de apoderar-se definitivamente da coisa alheia, para si ou para outrem. Ou seja, NÃO basta o dolo para que o tipo penal se configure; exige a lei que a subtração se efetue com a finalidade especial de assenhoramento definitivo, consubstanciado na expressão “para si ou para outrem”. 
- É o chamado animus furandi ou animus rem sibi habendi, tendo em vista que o agente deve ter a intenção de não devolver mais a coisa à vítima, sendo indispensável que o agente tenha a intenção de possuí-la, submetendo-a a seu poder, isto é, de não devolver o bem de forma alguma. Vale ressaltar, inclusive, que não importa para a configuração do furto a motivação do agente (ex. lucro, vingança, etc.), basta a finalidade especial de apoderamento definitivo.
 
- Vale ressaltar, também, que somente há que se falar em furto no caso de a subtração da coisa alheia móvel seja contra a vontade expressa ou tácita da vítima, tendo em vista que o consentimento desta exclui o crime, sendo um fato atípico. Subtrair significa retirar contra a vontade do possuidor. Assim, quam pega um bem com o consentimento do ofendido, não subtrai, e quem não subtrai não comete furto. 
- Esclarece Rogério Sanches que a subtração da coisa, apenas para usá-la momentaneamente, devolvendo-a logo em seguida, caracterizaria o chamado furto de uso, que é considerado um fato atípico, um indiferente penal, tendo em vista a ausência do elemento subjetivo caracterizador do delito (animus furandi ou animus rem sibi habendi). A doutrina elucida que o furto de uso possui as seguintes características:
1ª) Intenção, desde o início, de uso momentâneo da coisa subtraída – tendo em vista que o uso prolongado da coisa subtraída faz com que se entenda pela ocorrência do furto comum, e não da subtração para uso, que deve ser momentânea. 
2º) Coisa não consumível – são os bens móveis cujo uso não importa destruição imediata de sua própria substância.
3º) Coisa infungível – são nos bens móveis insubstituíveis. 
4º) Que a restituição da coisa seja imediata (por um curto espaço de tempo) e com a sua integralidade preservada, devendo ser devolvida da mesma forma como foi subtraída, nas mesmas condições e no mesmo lugar, tendo em vista que há decisões no sentido de se condenar o sujeito do delito de furto quando houver a destruição total ou parcial da coisa, ou ainda, quando for deixada em lugar diferente do qual foi levada. 
OBS 1: O apoderamento momentâneo de veículo configura furto de uso ? Para a maioria da doutrina sim, pois se trata de bem não consumível e infungível, entretanto para outros haveria furto em relação à gasolina e do óleo, pois tais substâncias são total ou parcialmente consumidas. Entretanto, esclarece Rogério Sanches que a doutrina moderna, no entanto, vem ensinando a necessidade, para caracterizar o crime quando, do simples uso, haja um desfalque juridicamente apreciável no patrimônio da vítima, o que não se dá com o mero gasto dos pneus ou desfalque de um tanque de gasolina. 
OBS 2: Furto Famélico (para saciar a fome) - É possível de ocorrer o chamado furto famélico quando houver presentes os requisitos do estado de necessidade, uma vez que, de um lado, podemos visualizar o patrimônio da vítima e, do outro, a vida ou a saúde do agente, havendo risco em virtude da ausência de alimentação necessária à sua subsistência. Ou seja, devem estar presentes os seguintes requisitos para se configurar o furto famélico: 1) Que o fato seja praticado para mitigar a forme; 2) Que seja o único e derradeiro recurso do agente (inevitabilidade do comportamento lesivo); 3) Que haja a subtração de coisa capaz de diretamente contornar a emergência; 4) Que haja insuficiência dos recursos adquiridos ou impossibilidade de trabalhar. 
OBS 3: Erro de tipo – Se o agente, por erro, apodera-se de objeto alheio supondo ser próprio, ocorre erro de tipo, excluindo-se o dolo e o fato típico. Se ele não sabia que se tratava de “coisa alheia”, então não tinha consciência nem vontade de subtraí-la, de modo que não houve furto doloso. Como não é prevista a modalidade culposa, o fato é atípico. 
D) Consumação e tentativa. 
- Atualmente, tem se entendido que o crime de furto se consuma no momento em que a coisa alheia móvel é retirada da esfera da posse e disponibilidade da vítima, ingressando, consequentemente na do agente, ainda que não tenha ele a posse tranquila da coisa. Ou seja, basta haver a inversão da posse, momento em que o bem passa da esfera de disponibilidade da vítima para a do autor. A subtração se opera no exato instante em que o proprietário ou possuidor perde o poder e controle sobre a coisa, tendo de retomá-la porque já não está mais consigo. 
- Ainda quanto à consumação do crime de furto, vale lembrar que na doutrina existem quatro correntes disputando a prevalência da consumação:
1ª) Teoria da contrectatio – a consumação se dá pelo simples contato entre o agente e a coisa alheia, dispensando o seu deslocamento. 
2ª) Teoria da amotio ou apprehensio – dar-se a consumação quando a coisa subtraída passa para o poder do agente, mesmo que por um curso espaço de tempo, independentemente de deslocamento ou de posse mansa e pacífica. 
3ª) Teoria da ablatio – a consumação ocorre quando o agente, depois de apoderar-se da coisa, consegue deslocá-la de um lugar para outro. 
4ª) Teoria da ilatio – para ocorrer a consumação, a coisa deve ser levada ao local desejado pelo ladrão para ser mantida a salvo, sendo exigida a posse mansa e pacífica da coisa alheia móvel. 
- Pois bem, o STF e o STJ adotam a segunda teoria (teoria da amotio ou apprehensio). Isto é, quanto ao momento consumativo do crime de furto ele ocorre com a simples apreensão da coisa, tendo em vista que segundo orientação pacífica do STF e do STJ, foi adotada a teoria da amotio ou apprehensio (apreensão), para o momento consumativo do furto. Ou seja, a mera subtração da coisa é suficiente para consumar o furto, ainda que por um curto espaço de tempo e ainda que o objeto não tenha saído da esfera de vigilância da vítima, NÃO sendo necessária a posse mansa a pacífica do bem. Neste sentido, o próprio STJ se posicionou recentemente:
	Processo
	HC 217700 / SP
HABEAS CORPUS
2011/0211832-5
	Relator(a)
	Ministro OG FERNANDES (1139)
	Órgão Julgador
	T6 - SEXTA TURMA
	Data do Julgamento
	07/02/2012
	Data da Publicação/Fonte
	DJe 27/02/2012
	Ementa
	HABEAS CORPUS. ROUBO CIRCUNSTANCIADO. DESCLASSIFICAÇÃO PARA TENTATIVA. IMPOSSIBILIDADE. DESNECESSIDADE DA POSSE MANSA E PACÍFICA DA COISA SUBTRAÍDA. ARMA DESMUNICIADA. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO. INVIABILIDADE DE EXAME NESTA SEDE. REINCIDÊNCIA. CABIMENTO DE REGIME MAIS GRAVOSO PARA INÍCIO DE CUMPRIMENTO DA EXPIAÇÃO.
1. Considera-se consumado o crime de roubo, assim como ode furto, no momento em que o agente se torna possuidor da coisa alheia móvel, ainda que não obtenha a posse tranquila, sendo prescindível que o objeto subtraído saia da esfera de vigilância da vítima para a caracterização do ilícito.
- Fernando Capez traz hipóteses exemplificativas em que se reputa consumado o crime de furto:
a) Perda do bem subtraído: com a perda do bem subtraído reputa-se o crime consumado, pois não há mais possibilidade de o ofendido exercer seu direito sobre a coisa, por exemplo, o agente, durante a perseguição, jóias na correnteza do rio. 
b) Prisão em flagrante de um dos agentes e fuga dos demais com a “res”: nessa hipótese, em que pese a prisão de um dos agentes no local do crime, o delito se consumou para todos os coparticipantes, uma vez que alguns lograram fugir, detendo a posse tranquila da res. 
c) Subtração de parte dos bens: se o agente se dispõe a subtrair uma pluralidade de bens, mas após se apropriar de alguns e guardá-los em esconderijo próximo ao local do crime, é preso em flagrante ao tentar apoderar-se do restante, o crime reputa-se consumado, pois já houve anteriormente à prisão em flagrante a efetiva espoliação de bens, ainda que somente em parte. 
d) Prisão em flagrante: a prisão em flagrante não é incompatível com a consumação do crime de furto. Assim, se o agente logra apoderar-se da res, mas é encontrado logo depois com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir se ele o autor da infração, a prisão em flagrante não terá o condão de interferir na consumação do crime, pois já houve a subtração do bem.
- Por se tratar de crime plurissubsistente é possível haver a tentativa no crime de furto, já que o inter crimines do crime pode ser fracionado. Ocorrerá quando o agente, por circunstâncias alheias à sua vontade, não chega a subtrair definitivamente o bem, como por exemplo, no caso em que o agente é surpreendido por vizinhos no momento em que está retirando o veículo de dentro da garagem da residência da ofendida. 
OBS 1: Como se pode distinguir a tentativa de furto com a ocorrência de mero ato preparatório em um caso concreto ? Pois bem, somente haverá tentativa quando houver o início de execução, ou seja, quando houver o começo de realização do verbo do tipo. A execução se inicia com o primeiro ato idôneo e inequívoco para a consumação do delito. Enquanto os atos realizados não forem aptos à consumação ou quando ainda não estiverem inequivocamente vinculados a ela, o crime permanece em sua fase de preparação. É necessário que não haja qualquer dúvida de que o ato se destina à consumação do crime. Vejamos alguns exemplos trazidos pela doutrina:
O agente é surpreendido subindo a escada para entrar em uma residência – haverá mero ato preparatório do crime de furto, não se podendo falar em início da execução do crime, pois o agente não começou a tirar nenhum bem da vítima. 
 Após entrar na residência, o sujeito é surpreendido pelos donos da casa antes de se apoderar de qualquer objeto – se o agente é surpreendido quando está começando a pegar algum bem móvel haverá tentativa de furto; entretanto, se ainda estava andando pela casa, à procura da coisa móvel, o fato ainda não se enquadra no furto, pois não houve ainda o início da subtração. Só irá responder pela violação de domicílio. 
Após entrar na residência, o autor é surpreendido pelos donos da casa se apoderando dos objetos - nessa hipótese, já existe início de execução, pois o verbo do tipo já começou a ser realizado. 
OBS 2: Como se poderá distinguir o crime impossível da tentativa de furto em um caso concreto ? O crime impossível é aquele que, pela ineficácia absoluta do meio empregado ou pela impropriedade absoluta do objeto material, é impossível de consumar-se. Por sua vez, se a ineficácia ou a impropriedade forem relativas, haverá tentativa de furto. Eis os seguintes exemplos:
Punguista que enfia a mão em bolso errado das vestes de transeunte: se a vítima tem dinheiro acondicionado em outro bolso, o bem jurídico (patrimônio) corre sério risco, havendo tentativa de furto, pois a ausência do objeto é circunstancia meramente acidental, que não torna impossível o crime. Por outro lado, se o bem não estiver com a vítima, em bolso nenhum, a impropriedade passa a ser absoluta, inviabilizando totalmente a consumação do crime, tornando-o impossível pelo simples fato de que não se pode subtrair coisa alheia de quem nada tem. 
OBS 3: A vigilância constante do bem, através de sistema eletrônico de vigilância em estabelecimento comercial, NÃO torna, por si só, o crime de furto impossível de ser consumado, tendo em vista que não torna o agente completamente incapaz de consumar o crime. Este é o entendimento mais recente do STJ, como se depreende do julgado abaixo: 
“4. A presença de sistema eletrônico de vigilância no estabelecimento comercial não torna o agente completamente incapaz de consumar o furto. Logo, não se pode afastar a punição, pela configuração do crime impossível, pela absoluta ineficácia dos meios empregados. Precedentes. (HC 223710 / SP - HABEAS CORPUS 2011/0262224-8 - Ministra LAURITA VAZ (1120) - T5 - QUINTA TURMA - DJe 08/03/2012)”
E) Sujeito Ativo e Passivo. 
- O sujeito ativo do crime pode ser qualquer pessoa, excetuando-se o próprio dono, ou o possuidor da coisa. O proprietário, entretanto, segundo a doutrina, poderá ser considerado sujeito ativo do crime de furto de coisa comum, em virtude de previsão expressa do Art. 156, do Código Penal (Subtrair condômino, coerdeiro ou sócio, para si ou para outrem, a quem legitimamente detém, a coisa comum). O possuidor, por sua vez, não pode figurar como sujeito ativo pelo fato de que, se não restituir a coisa ao seu legítimo proprietário, deverá ser responsabilizado pelo delito de apropriação indébita, nos termos do Art. 168 do Código Penal. 
OBS: O famulato é o nome dado ao furto realizado pelo empregado que se encontra a serviço de seu patrão, em sua residência ou não, como a empregada doméstica, o operário. O empregado aproveitando-se de tal situação subtrai bens pertencentes ao empregador. Tais pessoas têm apenas uma transitória disposição material dos bens, daí porque o seu apoderamento não constitui crime de apropriação indébita, mas o de furto. 
- O sujeito passivo pode ser qualquer pessoa, física ou jurídica, proprietária ou possuidora da coisa assenhorada. 
Figuras Típicas. 
- As figuras típicas do crime de furto são as seguintes:
Furto simples (Art. 155, caput, do Código Penal – já analisado).
Furto noturno (Art. 155, § 1º, do Código Penal).
Furto privilegiado (Art. 155, § 2º, do Código Penal).
Furto de energia (Art. 155, § 3º, do Código Penal).
Furto qualificado (Art. 155, § 4º e § 5º, do Código Penal)
- Todas as figuras típicas acima mencionadas serão analisadas a seguir: 
Furto noturno (Furto com Causa de Aumento de Pena pelo Repouso Noturno). 
- Ele está no Art. 155, § 1º, do Código Penal e ocorre na seguinte situação: “A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno.”
- Repouso noturno é um elemento normativo do tipo que varia no tempo e no espaço, entende-se que é o período do dia em que as pessoas de certo lugar habitualmente se recolhem, havendo um maior perigo a que é exposto o bem jurídico em virtude da diminuição da vigilância e dos meios de defesa daqueles que se encontram recolhidos à noite para repouso, facilitando a prática delituosa do crime de furto. Desta forma, percebe-se que o repouso noturno, conforme ensina Fernando Capez, NÃO se confunde com noite, tendo em vista que esta se caracteriza pela simples ausência de luz solar, sendo um critério físico-astronômico, enquanto que o repouso noturno é um período de tempo, que se modifica conforme os costumes locais, em que as pessoas dormem, sendo um critério psicossociológico. 
Ex. O repouso noturno de uma cidade que é capital de um Estado não ocorre necessariamente as 18:00h, em muitas capitais do país pode haver repouso noturno depoisdas 22:00h. Ou seja, o repouso noturno vai variar de acordo com cada cidade. 
- Para que a causa de aumento incida é necessário que o fato seja praticado em local destinado ao repouso. Por conta disso NÃO há a incidência da causa de aumento de pena se o crime é cometido em restaurantes, bares ou supermercados. Por outro lado, há a incidência da causa de aumento de pena se o crime é cometido em hotéis, já que é um estabelecimento comercial destinado ao repouso. 
- Esta causa de aumento de pena é aplicada em virtude de uma maior vulnerabilidade para as residências, lojas ou veículos, sendo irrelevante o fato de se tratar de estabelecimento comercial ou de residência, habitada ou desabitada, bem como o fato de a vítima estar, ou não, efetivamente repousando, como já decidiu o STJ (HC 29153/MS, HC 2003/0118253-0, Rel. Min. Gilson Dipp, 5ª T. DJ 3/11/2003) 
- Por fim, cumpre esclarecer que é entendimento doutrinário e jurisprudencial dominante de que a causa de aumento de pena do repouso noturno somente se aplica ao furto simples, NÃO sendo permitida a causa de aumento de pena nas hipóteses de furto qualificado, isto se dá em virtude da posição topográfica dos artigos. 
OBS: Atualmente o STJ tem entendido, em julgados recentes, que o princípio da insignificância NÃO tem aplicação nos casos de crime de furto praticado durante o repouso noturno em virtude do alto grau de reprovabilidade da conduta, não havendo que se falar em mínima ofensividade da conduta perpetrada pelo agente. Neste sentido o seguinte julgado do STJ: 
“PENAL. HABEAS CORPUS. FURTO. INVASÃO DE ESTABELECIMENTO COMERCIAL DURANTE O PERÍODO DE REPOUSO NOTURNO. REITERAÇÃO DA CONDUTA DELITIVA. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. REDUZIDO VALOR DA RES FURTIVA. INAPLICABILIDADE.
1. O denominado princípio da insignificância, como causa supralegal de exclusão da tipicidade, só tem aplicação quando preenchidos os seguintes requisitos: (i) mínima ofensividade da conduta perpetrada pelo agente; (ii) ausência de periculosidade social da ação; (iii) reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento; e (iv) inexpressividade da lesão jurídica provocada.
2. Na hipótese dos autos, a despeito de reduzido ser o valor monetário da res furtiva (R$ 45,65, dois maços de cigarro e 12 isqueiros), não se revela a conduta perpetrada pelo autor do delito como sendo de mínima ofensividade, sendo alto o grau de reprovabilidade da mesma, especialmente por ter sido praticada no período de repouso noturno e através da invasão de propriedade alheia, merecendo destaque ainda o fato de possuir o paciente duas condenações anteriores, com trânsito em julgado, pela prática do mesmo delito.
3. Ordem denegada. 
(HC 217778 / MG - HABEAS CORPUS 2011/0212155-2 - Ministro VASCO DELLA GIUSTINA (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RS) (8155) - T6 - SEXTA TURMA - DJe 14/03/2012)”
Furto Privilegiado.
 - Ele está no Art. 155, § 2º, do Código Penal e ocorre na seguinte situação: “Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.”
- Para que o réu tenha direito a aplicação do furto privilegiado devem ser obedecidos dois requisitos. O primeiro requisito é o de que o bem furtado seja de pequeno valor. Tem-se entendido que bem de pequeno valor é aquele que é inferior a UM salário mínimo vigente à época do fato, ou seja, é um critério objetivo para se constatar o pequeno valor do bem subtraído. Note-se que o valor da coisa não deve ser avaliado em função da situação financeira da vítima, tendo em vista que bem de pequeno valor não é um critério subjetivo. 
- Além disso, o segundo requisito é o de que deve o criminoso ser primário, ou seja, o réu NÃO pode ser reincidente, ainda que tenha passado por várias condenações. Primário é todo aquele que não é reincidente. Assim, se o agente já sofreu diversas condenações, mas não é considerado reincidente porque não praticou nenhum delito após ter sido condenado em definitivo, será considerado tecnicamente primário e fará jus ao benefício, nos termos do Art. 63 do Código Penal. 
- Presentes os dois requisitos acima, o juiz está obrigado a conceder o privilégio legal. Em que pese a lei conter o verbo poder, denotando a faculdade concedida ao juiz, é majoritário o entendimento de que se trata de um direito subjetivo do réu, e, uma vez presentes os dois requisitos do furto privilegiado, o juiz estará obrigado a conceder o benefício. Assim, deverá substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa. Nada impede que o juiz, cumulativamente, substitua a reclusão pela detenção e, em seguida, diminua esta pena. 
OBS 1: Aplicabilidade do princípio da insignificância aos crimes contra o patrimônio – o princípio da insignificância está relacionado ao conceito de tipicidade conglobante adotado por Zaffaroni. Para este autor a tipicidade penal deriva da tipicidade legal (adequação de uma conduta ao um tipo penal previsto na lei) somada a tipicidade conglobante. Para que se possa falar em tipicidade conglobante:
1º) A conduta deve ser antimormativa – consiste na contrariedade da conduta com o ordenamento normativo, ou seja, deve haver a inexistência de normas que ordenam ou que fomentam as condutas. Fomentar é estimular, é quase obrigar a fazer, há um dever de agir, não se pode confundir com comportamentos meramente permitidos, estes são só aceitados.
Ex. oficial de justiça que pega dinheiro de banco não comete furto, pois o seu fato é fomentado, estimulado pelo direito, este é o fundamento.
2º) Deve haver tipicidade material – a conduta deve ser materialmente lesiva. O direito penal somente se presta a proteger os bens jurídicos mais importantes. Desta forma, excluem-se os tipos penais que não trouxeram ofensa ao bem jurídico, chamados de crimes de bagatela, havendo incidência do princípio da insignificância.
- Pois bem, o direito penal não cuida de bagatelas, nem admite tipos incriminadores que descrevam condutas incapazes de lesar bem jurídico. Se a finalidade do tipo penal é tutelar bem jurídico, se a lesão, de tão insignificante, torna-se imperceptível, não é possível proceder-se ao enquadramento, por absoluta falta de correspondência entre o fato narrado na lei e o comportamento iníquo realizado. Por essa razão, os danos de pequena monta devem ser considerados fatos atípicos, em face da ausência de tipicidade material da conduta. 
- A doutrina majoritária tem entendido que NÃO é aplicável o princípio da insignificância ao crimes contra o patrimônio que sejam praticados COM violência ou grave ameaça a pessoa, tendo em vista que o alto grau de reprovabilidade do comportamento e ofensividade da conduta. 
- Além disso, o Supremo Tribunal Federal vem entendendo que para poder ser aplicado o princípio da insignificância, devem estar presentes, de forma cumulativa alguns vetores, conforme transcrição abaixo: 
 “ O princípio da insignificância - que deve ser analisado em conexão com os postulados da fragmentariedade (BEM JURÍDICO) e da intervenção mínima(SUBSIDIÁRIO) do Estado em matéria penal - tem o sentido de excluir ou de afastar a própria tipicidade penal, examinada esta na perspectiva de seu caráter material. Doutrina. Precedentes. Tal postulado - que considera necessária, na aferição do relevo material da tipicidade penal, a presença de certos vetores, tais como (a) a mínima ofensividade da conduta do agente, (b) a nenhuma periculosidade social da ação, (c) o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e (d) a inexpressividade da lesão jurídica provocada - apoiou-se, em seu processo de formulação teórica, no reconhecimento de que o caráter subsidiário do sistema penal reclama e impõe, em função dos próprios objetivos por ele visados, a intervenção mínima do Poder Público. (STF, HC 98152/MG, Rel. Min. Celso de Mello, 2ª T. DJ 5/6/2009).
OBS 2: Furto de pequeno valor X Furto de valorinsignificante.
Furto de valor insignificante – será aplicado o princípio da insignificância, devendo o sujeito ser absolvido em face da ausência de tipicidade material de sua conduta. Os tribunais superiores tem entendido que o princípio da insignificância é uma causa supralegal de exclusão da tipicidade e só tem aplicação quando preenchidos os seguintes requisitos: (i) mínima ofensividade da conduta perpetrada pelo agente; (ii) ausência de periculosidade social da ação; (iii) reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento; e (iv) inexpressividade da lesão jurídica provocada.
Furto de pequeno valor – é o furto de um bem que tem o valor inferior a UM Salário Mínimo, mas que houve ofensa ao patrimônio da vítima. Nestes casos o réu será condenado, mas é possível a aplicação somente da pena de multa, bem como substituição da pena de reclusão pela de detenção ou diminuição da pena de um a dois terços, previstas no Art. 155, § 2º, do Código Penal.
OBS 3: É possível o furto privilegiado e qualificado ao mesmo tempo ? SIM, os julgados mais recentes do STJ, mais precisamente da 6ª Turma, tem entendido ser possível a existência de furto privilegiado e qualificado ao mesmo tempo, desde que haja compatibilidade entre o privilégio e a qualificadora. Neste sentido:
AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. FURTO QUALIFICADO-PRIVILEGIADO. POSSIBILIDADE. PRIMARIEDADE E PEQUENO VALOR DA RES FURTIVA. CRITÉRIO DE AFERIÇÃO.
1. É possível o reconhecimento da figura do furto qualificado-privilegiado, desde que haja compatibilidade entre as qualificadoras e o privilégio.
2. O valor do salário mínimo pode ser adotado, em princípio, como referência ao que se entende como coisa de pequeno valor, não sendo, portanto, critério de absoluto rigor aritmético, cabendo ao juiz da causa sopesar as circunstâncias próprias ao caso.
3. Agravo regimental improvido.
(AgRg no REsp 1227073 / RS - AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL 2011/0006975-1- Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR (1148) - T6 - SEXTA TURMA - DJe 21/03/2012)
Furto de energia. 
- Ele está no Art. 155, § 3º, do Código Penal que preceitua o seguinte: “Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico.”
- O referido artigo considera que a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico pode ser objeto de furto, como a energia eólica ou energia hidráulica, por exemplo, podem ser objeto de furto. 
- Para que ocorra o furto de energia a ligação deve ser clandestina, é o famoso “macaco”, como a captação da energia antes da passagem desta pelo aparelho medidor. Neste caso, o crime passa a ser permanente, sendo possível haver a prisão em flagrante enquanto houver a ligação clandestina. 
OBS 1: Caso o sujeito empregue manobras para alterar o próprio medidor de energia teremos o crime de estelionato, previsto no Art. 171, do Código Penal, segundo entendimento doutrinário pacífico. Nesta hipótese o agente emprega fraude, alterando o medidor de energia, para acusar um resultado menor do que o consumido. Nesta hipótese o agente é autorizado, via contrato, a gastar a energia elétrica, porém, acaba usando de artifício, induzindo a vítima a erro, provocando resultado fictício, lhe advindo indevidamente vantagem. 
OBS 2: A doutrina majoritária tem entendimento que a captação irregular de sinal de TV a cabo seria um fato atípico, pois o sinal de TV não é reduzido e as punições do sujeito ficariam no âmbito civil. Entretanto, existe divergência na jurisprudência dos tribunais superiores:
STF 2ª Turma – a 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal no Informativo n. 623 (RHC - 97816 HC 97261/RS, rel. Min. Joaquim Barbosa, 12.4.2011. (HC-97261)) concedeu habeas corpus para declarar a atipicidade da conduta de condenado pela prática do crime descrito no art. 155, § 3º, do CP (“Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: ... § 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico.”), por efetuar ligação clandestina de sinal de TV a cabo. Reputou-se que o objeto do aludido crime não seria “energia” e ressaltou-se a inadmissibilidade da analogia in malam partem em Direito Penal, razão pela qual a conduta não poderia ser considerada penalmente típica. Vale ressaltar que o entendimento do STF é o entendimento mais recente sobre o assunto. 
STJ 5ª Turma - o Superior Tribunal de Justiça, mais precisamente a 5ª Turma deste tribunal superior, já se posicionou no sentido de que “a captação irregular de sinal de TV a cabo configura delito previsto no art. 155, § 3º, do CP”(REsp 1076287 / RN - RECURSO ESPECIAL 2008/0161986-4 - Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA (1128) - T5 - QUINTA TURMA - DJe 29/06/2009). 
Furto Qualificado.
- Ele está no Art. 155, § 4º, do Código Penal, que prevê que a pena será de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
- O furto será qualificado se houver destruição (o agente destrói o obstáculo usando de violência contra a coisa, eliminando ou fazendo desaparecer aquilo que impedia a levar a efeito a subtração, Ex. com pé de cabra o sujeito arrebenta cadeado que impedia abrir uma porta para subtrair bens) ou rompimento (partir, despedaçar, separar, rasgar, abrir o obstáculo, ou até mesmo conseguir afastar, eliminar o obstáculo, mesmo que o agente o preserve intacto, Ex. sujeito desparafusa cadeado colocado par impedir a abertura de uma porta e depois o recoloca no lugar após subtrair bens) de obstáculo à subtração da coisa. 
- A doutrina esclarece que o obstáculo NÃO pode ser a coisa em si, ou seja, os obstáculos deve ser exteriores a coisa. Ou seja, obstáculo é tudo aquilo que tenha a finalidade precípua de proteger a coisa e que também não seja a ela naturalmente inerente. 
Ex. Quebrar vidro que protegia um quadro de ser subtraído há destruição de obstáculo. Mas quebrar uma estátua que estava presa ao chão para subtraí-la não há rompimento de obstáculo. 
- Para haver a comprovação desta qualificadora deve haver a realização de laudo pericial, tendo em vista que é um crime que deixa vestígios. 
OBS: Quebrar vidro de veículo para subtrair bens do seu interior configuraria furto qualificado com rompimento de obstáculo ? Depende:
STJ - 6ª Turma – em julgados recentes tem afastado a qualificadora de rompimento de obstáculo, permanecendo o crime com furto simples, no caso de o sujeito quebrar vidro de veículo automotor para subtrair objetos de seu interior, por ofensa aos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, tendo em vista que caso o sujeito subtraísse o próprio veículo responderia por furto simples. Neste sentido: 
“1. Consoante entendimento consolidado no âmbito da Sexta Turma deste Superior Tribunal, não se mostra razoável considerar como qualificado o furto de objeto no interior do veículo, ainda que com rompimento de obstáculo, e como simples a subtração do próprio veículo automotor, sob pena de se ferir os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade.
4. Ordem parcialmente concedida para afastar a qualificadora prevista no inciso I do § 4º do art. 155 do Código Penal, tornando a reprimenda do paciente definitiva em 1 ano de reclusão e pagamento de 10 dias-multa, bem como para fixar-lhe o regime inicial semiaberto de cumprimento de pena.”
(HC 174259 / SP - HABEAS CORPUS 2010/0096611-8 - Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR (1148) - T6 - SEXTA TURMA - DJe 21/03/2012)
STJ - 5ª Turma – mantém o entendimento de que caso o sujeito quebre vidro de veículo automotor para subtrair bens de seu interior configura o crime de furto com rompimento de obstáculo. 
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
Abuso de confiança – o agente deve se valer da confiança depositada para executar o crime, pressupondo lealdade, credibilidade, presunção de honestidade entre as pessoas. Abusa o agente da confiança que nele fora depositada quando se aproveita dessa relação de fidelidade existenteanteriormente para praticar a subtração. Ex. NINA.
OBS 1: A simples relação empregatícia ou de hospitalidade, por si só, não permite a qualificadora relativa a abuso de confiança, mas pode haver incidência se restar demonstrada a relação de confiança. 
OBS 2: Furto qualificado por abuso de confiança X Apropriação indébita.
Furto qualificado por abuso de confiança – a posse do bem é vigiada e o dolo de se apropriar da coisa é anterior à posse. 
Apropriação indébita – o agente exerce a posse desvigiada em nome de outrem, e o dolo de se apropriar é superveniente à posse. Ex. proprietário, por confiar no agente, transfere a posse do objeto a este, o qual passa a agir como se dono fosse. 
Mediante fraude – o emprego de fraude visa apenas fazer diminuir a vigilância sobre a coisa, facilitando com isso a subtração. Nestes casos, a fraude é uma encenação para minar a vigilância da vítima, induzindo a pessoa em erro e o próprio agente subtrai o bem da vítima, sem esta querer. 
Ex. Sujeito se veste de torneiro mecânico para entrar em residência, sem ser um profissional regularmente habilitado, e conversa coma vítima, pedindo para que esta pegue um copo de água, neste momento subtrai um aparelho celular que estava na residência.
OBS 1: O crime de furto qualificado pela fraude NÃO se confunde com o crime de estelionato (Art. 171, do Código Penal), tendo em vista que neste crime a vítima é induzida em erro e é a própria vítima que, espontaneamente, entrega a coisa. 
Ex. Saulo, utilizando-se da fraude conhecida como conto do bilhete premiado, ofereceu o falso bilhete a Salete para que esta resgatasse o prêmio. Encantada com a oferta e desconhecendo a falsidade do bilhete, Salete entregou a Saulo vultosa quantia, sob a crença de que o bilhete representasse maior valor. 
OBS 2: Saque via internet configuram o crime de furto qualificado pelo emprego de fraude. A consumação do delito se dá quando o bem subtraído sai de esfera de disponibilidade da vítima, mediante o débito lançado na conta em poder da instituição financeira depositária dos valores transferidos. 
Mediante escalada – escalada é todo e qualquer meio anormal de o agente ingressar em determinado local (por túnel ou pela chaminé).Há aqui o uso de instrumentos para adentrar no local, como por exemplo, escada, corda, ou então o agente é obrigado a empregar um esforço incomum, como saltar um muro de dois metros de altura; entrar pelo telhado, com a consequente remoção das telhas. Não caracteriza a qualificadora a mera transposição de obstáculo facilmente vencível (Ex. Saltar muro baixo). Na definição de Nelson Hungria “é o ingresso em edifício ou recinto fechado, ou saída dele, por vias não destinadas normalmente ao trânsito das pessoas, servindo-se o agente de meios artificiais (não violentos) ou de sua própria agilidade. Tanto é escalada o galgar uma altura, quanto saltar um desvão (ex. um fosso), ou passar por via subterrânea não transitável ordinariamente.” Para a caracterização desta qualificadora é prescindível o exame pericial, pois nem sempre a escalada deixa vestígios. Geralmente a escalada é reconhecida pela só descrição do fato criminoso. 
Mediante destreza – a destreza caracteriza a peculiar habilidade física ou manual utilizada na pratica do crime, fazendo com que a vítima não perceba que está sendo despojada de seus bens (ex. batedores de carteira). Entende-se que a destreza deve ser analisada sob a ótica da vítima e não de terceiro. Assim, se a vítima, no caso concreto, pressente a ação do agente, conseguindo impedir a fuga com o bem subtraído, haverá tentativa de furto simples (ex: a vítima sente a mão do agente em seu bolso). Sendo o agente impedido por terceiro, a tentativa será de furto qualificado mediante destreza, pois neste caso a própria vítima não percebeu que estava sendo furtada. 
OBS: Subtração por arrebatamento (crime do trombadinha).
- A subtração por arrebatamento, também conhecida por “crime de trombadinha”, ocorre naquelas situações em que o agente, depois de escolher a sua vítima, parte em direção a ela e, rapidamente, mediante um golpe ligeiro ou “trombada”, arrebata-lhe, como regra, das mãos(bolsa, telefone celular, etc.), do pescoço (colares, cordões), do pulso (pulseiras, relógios, etc.), os bens que pretendia subtrair. 
- A doutrina e a jurisprudência majoritárias posicionam-se no seguinte sentido, haverá o crime de roubo ou o de furto nas seguintes situações: 
Furto – se a trombada só atinge a coisa. 
Roubo – se a trombada atinge a pessoa, havendo contato corporal e gere algum tipo de lesão. 
III - com emprego de chave falsa;
- Considera-se chave falsa qualquer instrumento – tenha ou não aparência ou formato de chave – destinado a abrir fechaduras, a exemplo de grampos, gazuas, mixa, arames. 
OBS: Cópia de chave original NÃO é considerada chave falsa, segundo entendimento doutrinário e jurisprudencial dominante. 
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.
- Para que haja a configuração desta qualificadora basta, tão somente, que um dos agentes seja imputável, não importando se os demais participantes possuam ou não esse qualidade, ou seja, é reconhecido o furto mediante concurso de pessoas se o crime é cometido por um imputável e por um inimputável. 
- Além disso, basta que um dos coautores ou partícipes tenha sido descoberto para que haja a incidência da qualificadora. 
- Haverá a incidência desta qualificadora ainda que não estejam todos os sujeitos na cena do crime.
OBS 1: Os tribunais superiores (STF e STJ) tem entendido que é possível haver a punição pelo crime de furto qualificado pelo concurso de pessoas (Art. 155, § 4º, IV, CP) e o crime de quadrilha ou bando (Art. 288, CP), tendo em vista que nestes crimes existe afronta a bens jurídicos distintos, no crime de furto protege-se o patrimônio da vítima, enquanto que no crime de quadrilha ou bando protege-se a paz pública. 
OBS 2: Súmula 442 do STJ – É inadmissível aplicar, no furto qualificado, pelo concurso de agentes, a majorante do roubo.
- Por fim, o Art. 155, § 5º, do Código Penal, ainda traz outra forma de furto qualificado, tendo em vista que a pena é de reclusão de três a oito anos: 
V- se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior.
- Essa qualificadora diz respeito, especificamente, à subtração de veículo automotor. Consideram-se como tal os automóveis, ônibus, caminhões, motocicletas, aeronaves, lanchas, jet-skies, etc., porém o transporte de partes do veículo não é abrangido por essa figura típica. Sanciona-se mais gravemente a conduta daquele que, após furtar o veículo automotor, transporta-o para outro Estado ou para o exterior, havendo a configuração da qualificadora no momento da transposição dos limites territoriais. 
- A peculiaridade em relação a esta forma qualificada é que ela NÃO admite tentativa, desta forma, se o agente conseguir a subtração, mas for detido antes de chegar em outro Estado ou país, responderá por furto (simples ou qualificado por algumas das hipóteses do § 4º do CP), mas NÃO por tentativa de furto qualificado pelo § 5º, do CP, pois não se pode cogitar de tentativa em uma hipótese em que a subtração já se consumou. 
Distinção entre o delito de furto e os seguintes crimes. 
Apropriação indébita (Art. 168,caput, CP)
- No crime de apropriação indébita a coisa é licitamente entregue pelo dono ao agente, para determinada finalidade, passando este, depois de algum tempo, a dela dispor como se fosse sua. Ou seja, neste crime a posse do agente sobre o bem é desvigiada. 
- Por sua vez, no furto, o gente NÃO tem a posse do bem, apoderando-se deste contra a vontade da vítima, que desconhece a subtração. Ou seja, no furto a posse do agente sobre o bem é vigiada. Na hipótese em que o agente tem a mera detenção provisória do bem (ex. vendedor de loja, caixa de supermercado), esta é exercida sob vigilância do proprietário, de modo que o apoderamento do objeto implicaa configuração de furto e não apropriação indébita. 
Estelionato (Art. 171, CP)
- Difere o estelionato do furto mediante o emprego de fraude. No estelionato, a vítima, iludida com o ardil empregado pelo agente, entrega-lhe o bem voluntariamente. A fraude não é empregada para reduzir a vigilância da vítima, mas, sim, para obter a entrega voluntária do próprio bem pelo proprietário.
- No furto mediante fraude, há a retirada do bem contra a vontade da vítima, que tem a sua vigilância sobre o bem desviada em face do ardil empregado pelo agente. Este, então, utiliza-se da fraude para reduzir a vigilância do dono do bem e, com isso, facilitar a subtração. 
Exercício arbitrário das próprias razões (Art. 345, CP)
- Quando a intenção do agente é fazer justiça pelas próprias mãos para satisfazer pretensão legítima, o crime será o de exercício arbitrário das próprias razões, como, por exemplo, no caso de credor que se apodera de objeto móvel de seu devedor para satisfazer dívida que este se recusa a pagar. 
Favorecimento real (Art. 349, CP). 
- Se o agente presta auxílio após consumação do crime, sem que tenha existido qualquer acordo anterior ao furto, responderá pelo crime de favorecimento real (ex., o amigo do agente que guarda o objeto da subtração em sua residência, sem ter o conhecimento prévio do cometimento do crime de furto, para tornar seguro o proveito do crime). 
- Na hipótese de haver prévio acordo ao crime de furto, ambos responderão pelo crime de furto qualificado pelo concurso de agentes. 
Receptação (Art. 181, CP).
- Se o agente adquirir objeto que sabe ser produto do crime de furto, ou, se não o sabe, adquire-o culposamente, responderá pelo crime de receptação dolosa ou culposa. Se, no entanto, o recebimento do bem for ajustado previamente à prática do furto, responderão ambos os agentes pelo crime de furto qualificado pelo concurso de pessoas. Por sua vez, se o furto for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior, responderão os agentes pelo furto na forma qualificada prevista no Art. 155, § 5º, do Código Penal. 
Peculato-furto (Art. 312, § 1º, do CP)
- O crime de peculato furto está previsto no Art. 312, § 1º, do Código Penal. Trata-se de crime praticado por aquele que detém a qualidade de funcionário público e não tem a posse do bem móvel em razão do cargo, mas que se vale da facilidade proporcionada por essa condição para subtrair ou concorrer para que terceiro subtraia dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel. 
Roubo (Art. 157 do CP).
- No crime de roubo existe o emprego de violência, grave ameaça ou qualquer outro meio que diminua a resistência da vítima, para que o agente consiga subtrair o bem móvel alheio. Por sua vez, no crime de furto não há o emprego de violência ou grave ameaça a pessoa. 
3. Roubo.
Roubo Simples. 
A) Tipo Objetivo.
- Ele está no Art. 157, caput, do Código Penal, e ocorre na seguinte situação: “Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência. Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
- As condutas do crime de roubo simples são as seguintes:
a) Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem.
- Estas condutas já foram analisadas no crime de furto, tendo em vista que subtrair significa tirar, retirar de outrem, bem móvel, sem a sua permissão, com o fim de assenhoramento definitivo. 
- Coisa móvel nada mais é do que um bem móvel, e bem móvel para fins de direito penal é tudo aquilo que seja passível de remoção, bens capazes de serem transportados de um local para o outro sem perderem a sua real identidade. 
- Coisa móvel alheia é considerada, pela doutrina majoritária, a coisa de quem detém, de forma legítima, a propriedade (ex: pessoa que subtrai o carro de seu dono, sem violência ou grave ameaça, quando o carro estava em um estacionamento) ou a posse (ex: pessoa que subtrai um carro alugado por outrem), ou ainda a detenção da coisa móvel. Ou seja, coisa móvel alheia é aquela pertencente a alguém que não aquele que a subtrai.
- Por fim o crime de roubo também exige a finalidade específica de o agente, dolosamente, com a vontade livre e consciente, apoderar-se definitivamente da coisa alheia móvel, para si mesmo ou para outrem. Referida finalidade específica, ou também chamado de especial fim de agir será melhor analisada quando se falar do tipo subjetivo, logo a seguir. 
b) Mediante grave ameaça ou violência a pessoa.
( Grave Ameaça. 
- É uma coação psicológica, a promessa de causar um mal grave e iminente. Ou seja, a grave ameaça é aquela capaz de infundir temor à vítima, permitindo que seja subjugada pelo agente que, assim, subtrai-lhe os bens. Percebe-se que a promessa do mal dirigido a vítima é injusto, grave e deve ser iminente, sendo capaz de permitir a subtração naquele exato instante pelo agente, em virtude do temor que infunde na pessoa da vítima. 
- A sua análise foge da esfera física para atuar no plano da atividade mental. Por isso mesmo sua conceituação é complexa, porque atuam fatores diversos, como a fragilidade da vítima, o momento (dia ou noite), o local (ermo, escuro, etc.) e a própria aparência do agente. 
- A ameaça pode ser praticada mediante o emprego de palavras, gestos, ou ainda no caso de simulação de porte de arma de fogo, tendo em vista que neste caso esta simulação constitui meio idôneo intimidatório capaz de diminuir a resistência da vítima, em face do temor nela incutido (ex. agente que coloca a mão no bolso da calça ou do casaco fingindo estar armado.
( Violência contra a pessoa. 
- Engloba qualquer tipo de violência física contra o corpo da vítima, basta simples a ocorrência de lesão corporal ou vias de fato. Ou seja, o agente emprega força física capaz de dificultar ou paralisar os movimentos do ofendido, de modo a impedir sua defesa. 
- Constitui a chamada violência própria. 
Ex. amarrar as mãos da vítima, jogá-la ao chão, dar-lhe tapas, pontapés, segurar-lhe fortemente os braços.
c) Ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência.
- Fazer com que a vítima, por qualquer meio, tenha reduzido à impossibilidade a sua resistência é uma violência imprópria consistente em outro meio que não constitua violência física ou grave ameaça, porém a ela equiparada, retirando da vítima a sua capacidade de oposição. Tais meios devem ser usados ardilosamente, às escondidas, desacompanhados, evidentemente, de violência ou grave ameaça. 
- Constitui a chamada violência imprópria. 
Ex. Emprego de soníferos, drogas, hipnose.
OBS 1: No caso do Art. 157, caput, do Código Penal temos o chamado roubo próprio, tendo em vista que o agente ANTES de se apoderar do patrimônio alheio, emprega violência contra a pessoa, ou grave ameaça, ou, por qualquer meio, reduz a vítima à impossibilidade de resistência. 
 
OBS 2: Se a própria vítima se coloca em condição que a incapacite de oferecer resistência, a eventual subtração não será o crime de roubo e sim o crime de furto. 
- O roubo simples também está no Art.157, § 1º, do Código Penal, e ocorre na seguinte situação: “Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro.”
- Neste caso temos o chamado roubo impróprio, tendo em vista que:
 1º) Ocorre a subtração do bem móvel para si ou para outrem 
– Neste caso, se o sujeito tivesse parado sua conduta neste momento ocorreria simplesmente o crime de furto. 
2º) Logo depois de subtraída a coisa, há o emprego de violência contra a pessoa ou grave ameaça 
– Neste caso, após a subtração do bem, o agente constrange a vítima mediante violência ou grave ameaça para assegurar a impunidade do crime ou a detenção do bem (trata-se deum crime de furto que se transforma em roubo em face das circunstâncias do caso concreto). 
- Pela expressão “logo depois”, deve-se entender a imediatidade entre a retirada do bem e o emprego de violência ou grave ameaça. Percebe-se que a violência ou a grave ameaça ocorrem após a subtração, visando o agente assegurar a posse da coisa subtraída ou a impunidade do crime. 
3º) Existe finalidade de assegurar impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro. 
- O tipo penal exige uma finalidade especial de agir, pois o agente visa assegurar a posse da coisa subtraída ou a impunidade do crime. 
 
Ex. Violência exercida contra guarda-noturno quando o agente, já carregando produto do crime, desperta a atenção do policial. Neste caso o sujeito visa assegurar a posse da coisa subtraída.
Ex. Sujeito subtrai determinado bem móvel, já tendo escondido o bem em local seguro, e volta ao local da subtração para apanhar documento que deixou cair e pode servir de identificação, praticando violência contra o vigia que tinha encontrado este documento. Neste caso o sujeito visa assegurar a impunidade do crime com a sua não identificação. 
OBS 1: Para configurar o roubo impróprio é imprescindível o prévio apoderamento da coisa. Assim, se o agente, SEM apoderar-se do bem visado, é surpreendido pela vítima, empregando contra ela violência para conseguir fugir, não caracteriza roubo impróprio, mas furto tentado em concurso com crime contra a pessoa. 
OBS: O roubo impróprio SÓ pode ser cometido com o emprego de violência ou grave ameaça a pessoa. NÃO haverá roubo impróprio se o agente usa de qualquer outro meio para reduzir ou afastar a possibilidade de resistência, já que não cabe analogia para prejudicar o réu, neste caso o sujeito responderia por outro crime. 
B) Bem jurídico e Objeto Material.
- Quanto ao bem jurídico protegido a doutrina informa que o delito de roubo protege, precipuamente, o patrimônio, a posse, e por conta de sua natureza complexa, também a detenção, não deixando, contudo, mesmo que mediatamente, de proteger a integridade corporal ou a saúde, a liberdade individual, bem como a vida, tratando-se de crime pluriofensivo. 
- Por sua vez, o objeto material do delito de roubo é a coisa alheia móvel contra a qual é dirigida a conduta praticada pelo agente, bem como, a pessoa sobre a qual recai a conduta criminosa, em face da sua pluralidade ofensiva. 
C) Tipo Subjetivo. 
- O crime de roubo SOMENTE pode ser praticado na forma DOLOSA, devendo o sujeito ter a vontade de apoderar-se da coisa alheia móvel, para si ou para outrem, mediante violência ou grave ameaça, existindo este especial fim de agir. 
- Além disso, no roubo impróprio existe a finalidade especial de atuar no sentido de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa. 
OBS: Roubo de uso é crime, NÃO sendo é admitido pela doutrina e pela jurisprudência dos tribunais superiores. Desta forma, não importa se a real intenção do agente era subtrair para ficar com o bem subtraído ou simplesmente para apenas usá-lo momentaneamente. Não há aqui similitude com o crime de furto, pois há, além do ataque ao patrimônio, há ofensa à pessoa. 
D) Consumação e Tentativa. 
( Consumação no roubo próprio. 
- Quanto ao momento consumativo do crime de roubo próprio ele ocorre com a subtração (apoderamento) da coisa alheia móvel mediante violência ou grave ameaça, tendo em vista que, segundo orientação pacífica do STF e do STJ, foi adotada a teoria da amotio ou apprehensio (apreensão), para o momento consumativo do roubo. 
- Ou seja, a mera subtração da coisa mediante violência ou grave ameaça é suficiente para consumar o roubo, ainda que por um curto espaço de tempo e ainda que tenha havido perseguição imediata, NÃO sendo necessária a posse mansa a pacífica do bem.
( Consumação no roubo impróprio. 
- Por sua vez, o momento consumativo do crime de roubo impróprio ocorre, segundo entendimento doutrinário majoritário, com o emprego da violência ou grave ameaça efetuada após a subtração do bem.
( Tentativa no roubo próprio. 
- No roubo próprio admite-se a tentativa, já que o inter crimes do crime pode ser fracionado e o agente pode não conseguir subtrair o bem por circunstâncias alheias a vontade do agente. 
Ex. Sujeito aponta uma arma para a cabeça de um homem que dirigia um carro, com a intenção de subtrair o veículo, a vítima sai do carro mas leva a chave do carro consigo, neste caso haverá roubo tentado. 
( Tentativa no roubo impróprio. 
- No roubo impróprio NÃO se admite a tentativa, conforme entendimento doutrinário majoritário, tendo em vista que ou há o emprego de violência/grave ameaça contra a vítima e a consumação do crime, ou não há o emprego destes meios, havendo que se falar apenas no crime de furto. 
E) Sujeito Ativo e Sujeito Passivo. 
- O sujeito ativo do crime pode ser qualquer pessoa, excetuando-se o proprietário ou possuidor da coisa alheia móvel, podendo estes, caso empreguem violência ou grave ameaça visando recuperar coisa sua, responderem pelo crime de exercício arbitrário das próprias razoes (Art. 345 do Código Penal). 
- O sujeito passivo pode ser qualquer pessoa, física ou jurídica, proprietária, possuidora ou mera detentora da coisa assenhorada, bem como a pessoa contra quem se dirige a violência ou grave ameaça, ainda que desligada da lesão patrimonial (ex. segurança pessoal do possuidor do bem móvel), tendo em vista se tratar de crime pluriofensivo.
3.2 Figuras típicas.
- As figuras típicas do crime de furto são as seguintes:
Roubo Simples (Art. 157, caput e § 1º, CP).
Roubo Majorado (com causa de aumento de pena – Art.157, § 2º, CP).
Roubo Qualificado (Art.157, § 3º, CP).
3.2.1. Roubo Majorado (com causa de aumento de pena).
- Ele está no Art.157, § 2º, do Código Penal, que prevê que a pena aumenta-se de um terço até metade:
I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma;
- De acordo com a maioria da doutrina a expressão “arma” deve ser entendida em sentido amplo, abrangendo todo e qualquer instrumento, com ou sem finalidade bélica, desde que sirva para o ataque, desta forma engloba as armas próprias (Ex. revolver, pistola, metralhadora e armas de fogo em geral, punhais, explosivos) e também as armas impróprias (Ex. faca de cozinha, barra de ferro, garrafa de vidro, animais). Assim, as armas devem ter potencialidade lesiva. 
OBS 1: É entendimento doutrinário e jurisprudencial pacífico de que o uso de arma de brinquedo NÃO é suficiente para configurar a majorante de emprego de arma no crime de roubo, sendo apenas suficiente para configurar a violência ou grave ameaça do crime de roubo simples. Além disso, foi cancelada a Sumula 174 do STJ. 
OBS 2: O atual entendimento da Terceira Seção do STJ bem como do Pleno do STF é no sentido de que é prescindível a apreensão e perícia da arma de fogo para a aplicação da causa de aumento prevista no art. 157, § 2.º, I, do Código Penal, desde que comprovada a sua utilização por outros meios de prova. (Ver HC 199570 / SP - Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA (1131) - T6 - SEXTA TURMA - DJe 01/07/2011). Ou seja, pode não ser necessária a perícia da arma de fogo para comprovar a sua potencialidade lesiva se ela tiver sido atestada por outras provas trazidas aos autos, Ex. testemunhas viram o réu atirando com a arma de fogo. 
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
- Para que haja a configuração desta qualificadora basta, tão somente, que um dos agentes seja imputável, não importando se os demais participantes possuam ou não esse qualidade, ou seja, é reconhecido o roubo majorado pelo concurso de pessoas se o crime é cometido por um imputável e por um inimputável. 
- Além disso, basta que um dos coautores ou partícipes tenha sido descoberto para que haja a incidência da majorante. 
- Haverá a incidência desta qualificadora ainda que não estejam todos os sujeitos na cena do crime.OBS: Os tribunais superiores (STF e STJ) tem entendido que é possível haver a punição pelo crime de roubo majorado pelo concurso de pessoas (Art. 155, § 4º, IV, CP) e o crime de quadrilha ou bando (Art. 288, CP), tendo em vista que nestes crimes existe afronta a bens jurídicos distintos, no crime de roubo protege-se, precipuamente, o patrimônio da vítima, enquanto que no crime de quadrilha ou bando protege-se a paz pública. 
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância.
- Para que haja a configuração desta majorante é necessária a conjugação de dois fatores:
1º) Que a vítima esteja em serviço de transporte de valores – incide a majorante se o serviço da vítima era o transporte de valores (dinheiro ou qualquer outro bem economicamente apreciável, como pedras preciosas, selos). Além disso, a expressão transporte de valores abrange além de serviços específicos de transporte de valores (ex. carro-forte), qualquer outro serviço de transporte de valores (ex. Office-boy que entrega bens valiosos de moto)
2º) O agente conhecer a circunstância acima – o agente tem que saber, efetivamente, que a vítima, naquele momento, estava a serviço de transporte de valores. Ou seja, este conhecimento deve, obrigatoriamente, fazer parte de seu dolo, sob pena de restar afastada esta majorante. 
IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior; 
- Mesmas considerações feitas no crime de furto, com a ressalva de que neste caso a circunstância configura uma majorante (causa de aumento de pena). 
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade.
- Para a configuração deste crime a privação da liberdade da vítima é meio para a execução do roubo ou como uma garantia, em beneficio do agente contra a ação policial.
- Além disso, a subtração do bem independe de colaboração da vítima.
- Por fim, a restrição da liberdade ocorre por um curto espaço de tempo, ou seja, deve ser o tempo suficiente para conseguir subtrair o bem da vítima com violência ou grave ameaça. 
Ex. Dois assaltantes apontam uma arma para a cabeça da vítima e pedem para ela entrar no porta-malas do carro e ali permanece por tempo não prolongado, até que os agentes tenham completo sucesso na empreitada criminosa, vindo a liberar a vítima em local ermo e sem vigilância policial. 
OBS 1: Súmula 443 do STJ - O aumento na terceira fase de aplicação da pena no crime de roubo circunstanciado exige fundamentação concreta, não sendo suficiente para a sua exasperação a mera indicação do número de majorantes.
3.2.2. Roubo Qualificado.
- Ele está no Art.157, § 3º, do Código Penal que traz a seguinte previsão: “Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de sete a quinze anos, além da multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo da multa.”
- Primeiro detalhe é que esta modalidade qualificada somente ocorrerá se houver violência física contra a vítima, não havendo que se falar em emprego de grave ameaça ou recurso que impossibilite a resistência da vítima. 
- Além disso, o roubo pode ser qualificado se da violência resulta:
1º) Lesão corporal grave. 
2º) Morte (Latrocínio)
- A doutrina majoritária entende que os resultados podem ser atribuídos ao agente a título de dolo ou culpa, sendo este inclusive o entendimento do STJ. 
- Vale ressaltar que somente latrocínio é considerado crime hediondo, não estando incluso o roubo qualificado pelo resultada lesão corporal grave. 
- Para que haja o latrocínio é necessário, também, que a morte decorra da violência empregada durante (fator tempo) e em razão (fator nexo causal) do assalto. Ausentes qualquer destes pressupostos, o agente responderá por crime de homicídio doloso em concurso com o roubo. 
- O latrocínio é considerado crime contra o patrimônio (de forma preponderante), razão pela qual NÃO é um crime doloso contra a vida, NÃO sendo julgado pelo Tribunal do Júri, nos termos da Sumula 603 do STF. 
- Fique ligado na Súmula 610 do STF – “Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não se realize o agente a subtração de bens da vítima.”
- O latrocínio tentado ocorreria então quando o roubo e a morte foram tentadas, ou então quando o roubo foi consumado, mas a morte foi tentada. 
3.3. Destaque.
1º) Princípio da insignificância – NÃO é admitido pela doutrina e pela jurisprudência dos tribunais superiores, pois trata-se de crime com pluralidade ofensiva. O crime de roubo representa um dos mais graves atentados à segurança social, de modo que, ainda que ínfimo o calor subtraído, ou seja, ainda que a ofensa ao patrimônio seja ínfima, tal não afasta o desvalor da ação representado pelo emprego de violência ou ameaça à pessoa. 
2º) Não é extensível o privilégio previsto no Art. 155, § 2º, do Código Penal ao crime de roubo em sendo o bem subtraído de pequeno valor e o réu primário – é inadmissível a extensão desse preceito benéfico ao crime de roubo, uma vez que este crime revela uma ação de maior gravidade, ou seja, há maior desvalor da ação, em virtude do emprego de violência ou grave ameaça à pessoa, de modo que o pequeno valor do objeto roubado não pode por si só ser capaz de atrair o benefício legal, segundo entendimento dos tribunas superiores. 
4. Extorsão.
Extorsão Simples. 
A) Tipo Objetivo 
- Ele está no Art. 158, caput, do Código Penal, e ocorre na seguinte situação: “Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar fazer alguma coisa: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.”
- Percebe-se que as condutas são as seguintes: 
a) Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça; 
- Constranger tem o sentido de obrigar, coagir, compelir, forçar alguém, utilizando-se de violência(agressão física, ex. emprega força sobre seu corpo) ou grave ameaça (é uma coação psicológica, a promessa de causar um mal injusto, grave e possível), esta grave ameaça pode atingir tanto o titular do patrimônio quanto pessoa ligada a ele (ex. pai, filhos, mãe, esposa, etc.) 
- A ameaça é o meio mais comum utilizado pelo agente para constranger a vítima a agir ou abster de determinado comportamento. Há diversos bens que podem ser visados na ameaça, como a vida, a integridade física, a honra, a reputação, o renome profissional ou artístico, o crédito comercial, o equilíbrio financeiro, a tranquilidade pessoal ou familiar, a paz domiciliar, a propriedade de uma empresa, em resumo, todo bem ou interesse cujo sacrifício represente, para o respectivo titular, uma mal maior que o prejuízo patrimonial correspondente à vantagem exigida pelo extorsionário. Assim, a vítima cede à vantagem ante o temor que um bem seu de maior valor seja sacrificado. 
- Adverte o autor Fernando Capez que NÃO é requisito do crime que o dano da ameaça seja injusto. Ou seja, o dano da ameaça pode não ser, em si, injusto, porém assim se torna, pela injustiça do objetivo do agente. 
Ex. Caio possui provas de que Tício cometeu um crime e ameaça denunciá-lo, se Tício não lhe pagar determinada quantia de dinheiro. 
b) Com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar fazer alguma coisa;
- Existe a finalidade especial de obter para si ou para outrem (em benefício do próprio sujeito ativo do crime ou de um terceiro) indevida vantagem (é uma vantagem que o agente não tinha direito, sendo contrária ao direito – este é um elemento normativo do tipo penal) econômica (a vantagem pretendida obrigatoriamente deve ter valor econômico, tendo um sentido mais amplo que no crime de furto ou roubo que se limitam a bem móvel). Ou seja, no crime de extorsão não é apenas o bem móvel que está amparada, mas também, por exemplo, o bem imóvel, Ex. o agente que obrigaa vítima a assinar uma escritura pública, por meio do qual ela lhe transfere uma propriedade imóvel. 
- Além disso o agente irá constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer (ex. traficantes que obrigam o pagamento de propina a moradores, obrigar a quitar uma dívida não paga), tolerar que se faça (permitir que o agente rasgue um contrato) ou deixar fazer alguma coisa (obrigar a vítima a não cobrar a dívida de um amigo do sujeito ativo do crime). Percebe-se que primeiramente existe a ação de constranger realizada pelo coator, a qual é seguida pela realização ou abstenção de um ato por parte do coagido. 
OBS: Distinções !
1ª) Extorsão (Art. 158 CP) x Constrangimento Ilegal (Art. 146 CP). 
- A ausência da finalidade de obter indevida vantagem econômica poderá configurar o crime de constrangimento ilegal (Art. 146 do CP), valendo ressaltar que a principal diferença do crime de extorsão para o crime de constrangimento ilegal é que a finalidade do agente no crime de constrangimento ilegal é a restrição da liberdade (Constrange-se alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda), enquanto que no crime de extorsão a finalidade é o enriquecimento do agente(obtenção de indevida vantagem econômica). 
2º) Extorsão (Art. 158 CP) x Roubo (Art.157 CP) 
– A diferenciação dos dois crimes pode ser resumida da seguinte forma:
	Roubo (Art.157 CP)
	Extorsão (Art. 158 CP)
	1. A ameaça, normalmente, é prometida para aquele instante, pois a vantagem patrimonial é imediata. 
	1. A ameaça, normalmente, é futura, pois a vantagem patrimonial é mediata. 
	2. É um crime material. 
	2. É um crime formal.
	3. O proveito patrimonial não depende de qualquer atuação da vítima, ou seja, a colaboração da vítima é dispensável, pois o próprio ladrão é que subtrai o bem. 
	3. O proveito patrimonial depende de atuação da vítima, ou seja, a colaboração da vítima é indispensável, pois é a própria vítima que entrega o bem. 
B) Bem jurídico protegido e Objeto material. 
- O bem jurídico protegido, além do patrimônio (aqui entendido num sentido mais amplo do que a posse e a propriedade, pois a lei fala em indevida vantagem econômica), também pode-se incluir a liberdade individual, a integridade física ou psíquica. 
- O objeto material, por sua vez, é a pessoa contra qual recai o constrangimento. 
C) Tipo Subjetivo.
- Este crime SOMENTE pode ser praticado na forma DOLOSA, devendo o agente constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, com finalidade especial de obter indevida vantagem econômica.
OBS: A doutrina esclarece que:
Se a vantagem for de natureza sexual: pode haver crime de estupro. (Art. 213, CP)
Se a vantagem for devida: pode haver crime de exercício arbitrário das próprias razões (Art. 345, CP)
D) Consumação e Tentativa.
- A consumação do crime de extorsão, por se tratar de um crime formal, ocorre quando o sujeito constrange a vítima, mediante violência ou grave ameaça, a fazer, a tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa, desta forma, o crime se consuma independentemente do efetivo recebimento da vantagem indevida. Caso o agente venha a receber a indevida vantagem econômica, haverá mero exaurimento do crime. 
OBS: Súmula nº 96 STJ - O crime de extorsão consuma-se independentemente da obtenção da vantagem indevida.
- A tentativa para a maioria da doutrina não é possível, já que se trata de crime formal. Entretanto parte da doutrina entende que seria possível a tentativa se o crime fosse praticado de forma escrita, como por meio de uma carta, e esta fosse interceptada. 
E) Sujeito Ativo e Passivo. 
- O sujeito ativo do crime pode ser qualquer pessoa, bem como o sujeito passivo.
Figuras típicas. 
Extorsão Simples - Art. 158, caput, CP.
Extorsão Majorada (com causa de aumento de pena) - Art. 158, § 1º, CP.
Extorsão Qualificada - Art. 158, § 2º do CP.
Sequestro relâmpago – Extorsão Qualificada – Art. 158, § 3º do CP.
Extorsão Majorada (com causa de aumento de pena). 
- Ela está no Art. 158, § 1º do Código Penal e aumenta-se a pena de um terço até metade se o crime é:
a) Cometido por duas ou mais pessoas .
- Pela redação do artigo, conclui-se que esta majorante, diferentemente do que ocorre com o roubo ou o furto, só ocorrerá, se existir, no mínimo duas pessoas executando o crime de extorsão, NÃO computando eventuais partícipes. Ou seja, exige-se coautoria e NÃO mera participação. 
b) Cometido com emprego de arma 
- Esta majorante possui as mesmas considerações do crime de roubo.
OBS: Se ligue que o crime de extorsão possui apenas duas majorantes (causas de aumento de pena) diferentemente do crime de roubo que possui cinco majorantes.
 
Extorsão Qualificada. 
- Ela está no Art. 158, § 2º do Código Penal e prevê o seguinte: “Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º do artigo anterior”. 
- Ou seja, se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de sete a quinze anos, além da multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo da multa. 
- A doutrina majoritária entende que os resultados podem ser atribuídos ao agente a título de dolo ou culpa.
- Além disso, nos termos do Art. 1º, III, da Lei 8072/90, a extorsão qualificada pelo resultado morte é considerada um crime hediondo. 
- Vale lembrar, também, que a extorsão com morte da vítima, assim como o latrocínio, é de competência do juiz singular, e não do Tribunal do Júri. 
Sequestro Relâmpago. 
- Ele está previsto no Art. 158, § 3º do Código Penal e ocorre na seguinte situação: “Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa condição é necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2o e 3o, respectivamente. (Incluído pela Lei nº 11.923, de 2009)”
- O sequestro relâmpago nada mais é do que uma forma de extorsão qualificada, com a peculiaridade que neste crime, além de o papel da vítima ser imprescindível para que o agente aufira a indevida vantagem econômica, exige-se a restrição da liberdade da vítima sendo esta uma condição necessária para a obtenção da vantagem econômica. 
- Se ligue que no crime de sequestro relâmpago é a própria vítima que deve disponibilizar a vantagem indevida depois de ter restringida a liberdade, tendo uma participação ativa, pois se a vantagem indevida for disponibilizada por terceiro teremos o crime de extorsão mediante sequestro. 
Ex. Sujeitos pegam pessoa e a colocam em um carro restringindo sua liberdade para poderem levá-la a um caixa eletrônico e a própria vítima vem a sacar uma quantia em dinheiro para os criminosos. 
- Ou seja, o crime de sequestro relâmpago apenas detalhou uma forma de execução da extorsão que é quando existe restrição da liberdade da vítima, sendo uma condição necessária para obter a vantagem econômica indevida. 
OBS: Dentições:
1ª) Sequestro Relâmpago x Roubo Majorado do Art. 157, § 2º, V, CP. 
- No crime de extorsão conhecido como sequestro relâmpago, Art. 158, § 3º, do Código Penal do CP, possui as seguintes peculiaridades, NÃO se confundindo com o roubo majorado do Art. 157, § 2º, V, CP, tendo em vista que: 
1º) Na extorsão o proveito patrimonial do crime depende de colaboração da vítima. Logo o crime de roubo NÃO se confunde com a figura do sequestro relâmpago previsto no Art. 158, parágrafo 3º do CP. 
2º) A privação da liberdade da vítima é um meio necessário para que o agente obtenha a vantagem econômica que SÓ a vítima pode oferecer. 
3º) Exige-se a participação ativa da vítima para que o agente aufira a vantagem econômica,

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