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CCJ0033-WL-A-PP-Unidade I -07-Estelionato - Renan Marques

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ALUNO:
MATRÍCULA:
PROF: RENAN MARQUES – Penal III
Atenção ! – o presente material foi elaborado com base nos livros de Rogério Sanches Cunha(Direito Penal: Parte especial, 3 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010 e Código Penal Para Concursos, 5ª Ed. Salvador: Editora JusPODIVM), Rogério Greco(Código Penal Comentado, Ed. Impetus, 2011) e Fernando Capez (Curso de Direito Penal: Parte Especial: dos crimes contra os costumes a dos crimes contra a administração pública,Volume 3, São Paulo: Ed. Saraiva, 2011)
UNIDADE I. Crimes contra o Patrimônio.
7. Estelionato
Estelionato Simples.
A) Tipo Objetivo. 
- Ele está no Art. 171 do Código Penal e ocorre na seguinte situação: “Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.”
- As condutas do crime de estelionato são as seguintes:
a) Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita em prejuízo alheio. 
- Vantagem ilícita é a vantagem que não encontra amparo no ordenamento jurídico, sendo contrária a ele. Parte da doutrina entende que a vantagem ilícita tem que ser de ordem patrimonial tendo em vista que o estelionato é um crime contra o patrimônio, ou seja, qualquer vantagem economicamente apreciável poderá ser considerada uma vantagem ilícita se estiverem presentes os demais requisitos. 
OBS 1: Se a vantagem for lícita poderá haver o crime de exercício arbitrário das próprias razoes, Art. 345 do Código Penal. 
- Deve haver também um prejuízo alheio, ou seja, a vítima deve ter um prejuízo patrimonial com a conduta do agente. Desta forma, concomitantemente à obtenção da vantagem ilícita pelo agente, deve ocorrer o prejuízo para a vítima, tendo esta uma perda patrimonial. 
- Por fim a obtenção da vantagem ilícita deve ser para si ou para outrem, ou seja, a vantagem ilícita pode ser destinada para o próprio agente que executa o crime de estelionato ou para um terceiro. 
b) induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento.
 Fraude. 
- O agente utiliza de uma fraude para induzir (o agente cria a falsa percepção da realidade) ou manter (o agente aproveita-se do engano espontâneo da vítima) alguém em erro. 
- Além disso, na execução do crime pode o agente valer-se de:
 
Artifício - é a encenação material mediante o uso de objetos ou aparatos aptos a enganar, como o “bilhete premiado”, a utilização de disfarce, etc. Também é chamada de fraude no sentido material. 
Ardil - é a astúcia, conversa enganosa. É também chamada de fraude no sentido imaterial, intelectualizada, dirigindo-se a inteligência da vítima e objetivando excitar nela uma paixão, emoção ou convicção pela criação de uma motivação ilusória.
 
Ex. Ligar para a vítima e tentar convencê-la de que ela ganhou um carro, só que para adquirir o veículo ela deve depositar a quantia de R$ 1.000,00 reais na conta do agente, a título de despesas de envio do veículo. 
Ou qualquer outro meio fraudulento - é expressão genérica que alcança qualquer outro comportamento equiparado a artifício ou ardil.
 Ex. O silêncio pode servir para manter em erro alguém, que deveria pagar um valor de R$ 1.000,00 reais, mas acaba entregando um valor de R$1.500,00. 
OBS 1: É possível que o crime de estelionato, por sua natureza, venha acompanhado pelo ato de falsificação de documentos, e neste caso, discute-se se poderá haver o concurso de crimes. O STJ editou a seguinte súmula: 
Súmula nº 17 STJ - Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido.
- Neste caso a falsidade documental deve ser um meio para a consumação do estelionato e NÃO deve ter mais potencialidade lesiva, isto é, o documento falsificado deve ser empregado somente naquele crime e um mesmo contexto fático. Caso ainda tenha potencialidade lesiva haverá o concurso material ou formal entre o crime de estelionato (crime contra o patrimônio) e o crime de falsidade documental, neste caso poderia haver a produção de vários resultados.
Ex. Pessoa que falsifica um cheque para conseguir comprar determinado bem, haverá a falsidade documental, mas o crime de estelionato irá absorver referida falsidade, porque o documento falso somente será utilizado para um crime e não tem mais potencialidade lesiva. Por sua vez, se o sujeito falsificasse vários cheques e um deles fosse para a prática do crime de estelionato, haveria o concurso de crimes, tendo em vista que houve a pratica do crime de estelionato e de falsidade documental, pois os cheques podem ser utilizados para a pratica de outros estelionatos, tendo potencialidade lesiva. 
OBS 2: A fraude em certames de interesse público (concurso público, avaliação ou exames públicos, processo seletivo para ingresso em ensino superior ou exame ou processos seletivos previstos na lei) pode configurar o crime do Art. 311-A do Código Penal. 
Erro. 
- A utilização de fraude pelo agente visa induzir ou manter a vítima em erro. O erro consiste na falsa percepção da realidade, provocando uma manifestação de vontade viciada. Assim, aquele que atua movido pelo erro acredita numa coisa enquanto que a realidade é outra. Houvesse o conhecimento verdadeiro dos fatos, jamais teria ocorrido a vantagem patrimonial ao agente, que, para obtê-la, provoca ou mantém a vítima no erro (nesta última hipótese, o autor aproveita uma situação preexistente, um erro espontâneo anterior por ele não provocado, e emprega manobras fraudulentas para manter esse estado e assim obter a vantagem ilícita).
- Por fim, conclui-se então, que o crime de estelionato possui quatro momentos: 1º) O do emprego da fraude pelo agente; 2º) O do erro em que incidiu a vítima; 3º) O da vantagem ilícita obtida pelo agente; 4º) O do prejuízo sofrido pela vítima. 
B) Bem Jurídico e Objeto Material. 
- O bem jurídico protegido comum a todas as modalidades de estelionato é o patrimônio alheio. Tutela-se a inviolabilidade do domicílio, visando reprimir a fraude causadora do dano ao patrimônio do indivíduo. 
- Por sua vez, o objeto material da estelionato qualquer bem integrante do patrimônio alheio, ex. bens móveis, imóveis, direitos, etc. que corresponderá a uma vantagem ilícita auferida pelo sujeito ativo do crime. Vale lembrar que a expressão “vantagem ilícita”, corresponde a uma vantagem patrimonial, já que trata-se de crime material, bem como a uma vantagem ilícita, ou seja, não correspondente a qualquer direito do sujeito ativo do crime. 
C) Tipo Subjetivo.
- Este crime SOMENTE pode ser praticado na forma DOLOSA, consubstanciada na vontade livre e consciente de realizar a conduta fraudulenta em prejuízo alheio. Além disso, existe a finalidade especial de obter vantagem ilícita para si ou para outrem. Entretanto, o dolo é anterior à posse ou detenção da coisa.
OBS: A fraude bilateral ou torpeza bilateral, NÃO exclui a possibilidade de existência do crime de estelionato, pois o tipo penal não faz qualquer referencia à boa-fé da vítima. Se o ofendido se deixou enganar, ainda que por motivo de ganância, nem por isso se apaga a conduta criminosa do estelionatário. Desta forma, nas hipóteses em que a vítima também age de má-fé, é plenamente possível ocorrer o crime de estelionato. A má-fé aqui se refere ao intuito de a vítima obter proveito mediante um negócio ilícito ou imoral. 
Ex. Sujeito se apresenta para a vítima e informa para esta que sabe fazer dinheiro falso, mas cobra R$ 1.000,00 reais para fazer o serviço. A vítima também agiu com má-fé, mas ocorrerá, mesmo assim, o crime de estelionato. 
D) Consumação e Tentativa. 
- A consumação do crime de estelionato, por se tratar de crime material, ocorre quando o agente consegue obter vantagem ilícita em prejuízo da vítima, devendo haver este binômio: vantagem ilícita/prejuízo alheio. Via de regra, esses resultados ocorremsimultaneamente. Há, assim, ao mesmo tempo, a obtenção de proveito pelo estelionatário e o prejuízo da vítima.
OBS: A competência para o processo e julgamento do crime de estelionato é o do local em que o agente obteve a vantagem ilícita. 
- A tentativa é possível, pois se trata, como regra, de crime plurissubsistente. Desta forma, se iniciados os atos de execução consistentes no emprego de fraude, o agente não consegue obter a vantagem ilícita em virtude de circunstâncias alheias a sua vontade, restará o crime tentado. 
- É também necessário verificar se o meio empregado era realmente apto a ludibriar a vítima, caso em que haverá tentativa. É a hipótese em que alguém tenta iludir a balconista de uma loja, com um cheque adulterado, mas esta, por cautela, vem a certificar-se da fraude, mediante consulta ao terminal de computador. Haverá tentativa, pois o meio era eficaz, tendo sido frustrado por circunstâncias alheias à vontade do autor. Tal não ocorre se o meio empregado for totalmente ineficaz, como, por exemplo, na adulteração grosseira de documento, que pode de pronto ser constatada. Nesse caso, haverá crime impossível pela ineficácia absoluta do meio empregado, nos termos do Art. 17 co Código Penal. 
E) Sujeito Ativo e Passivo.
- O sujeito ativo do crime pode ser qualquer pessoa. 
- Por sua vez, o sujeito passivo será qualquer pessoa que sofra lesão patrimonial ou que foi enganada pela ação fraudulenta empreendida pelo agente. 
OBS: Vale ressaltar que a vítima precisa ter capacidade de discernimento, pois do contrário poderá haver a configuração de outro crime, como o de abuso de incapazes, Art. 173 do Código Penal, bem como deve ser certa e determinada, pois caso for incerta poderá configurar crime contra a Economia Popular prevista no Art. 2º, XI, da Lei 1.521/51(obter ou tentar obter ganhos ilícitos em detrimento do povo ou de número indeterminado de pessoas mediante especulações ou processos fraudulentos, Ex. alteração de taxímetros, de balanças ou de bombas de combustível).
Figuras Típicas.
Estelionato Simples – Art. 171, caput, CP;
Estelionato Privilegiado - Art. 171, § 1º, do Código Penal;
Estelionato Equiparado - Art. 171, § 2º, do Código Penal;
Estelionato Majorado - Art. 171, § 3º, do Código Penal.
7.2.1 Estelionato Privilegiado.
 - Ele está no Art. 171, § 1º, do Código Penal e ocorre na seguinte situação: “Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o prejuízo, o juiz pode aplicar a pena conforme o disposto no art. 155, § 2º.”
- Desta forma, os requisitos do referido estelionato são: 
a) que o criminoso seja primário; 
b) que seja de pequeno valor o prejuízo alheio (abrangência maior do que coisa alheia móvel que é previsto no crime de furto). 
- Presentes as circunstâncias judiciais legais, o juiz está obrigado a reduzir a pena de reclusão de um terço a dois terços ou substituí-la por detenção, ou aplicar apenas a multa.
- No mais, devem ser observados os comentários que foram feitos no art. 155, § 2º, do CP. 
Estelionato Equiparado. 
- As figuras equiparadas do crime de estelionato estão no Art. 171, § 2º, do Código Penal que prevê que nas mesmas penas incorre quem: 
I - vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou em garantia coisa alheia como própria; 
– O Código Penal atribui a esta figura o nome de disposição de coisa alheia como própria, e se configura com as seguintes condutas:
- Vender (é a transferência do domínio de certa coisa mediante pagamento, o agente, desta forma, vende como própria coisa que não lhe pertence, induzindo o comprador em erro), permutar (é a troca, as partes se obrigam a trocar uma coisa por outra. No caso, uma das partes troca coisa que não lhe pertence como sendo própria), dar em pagamento (havendo o consentimento do credor, este pode receber coisa que não seja dinheiro, em substituição da prestação que lhe era devida. O devedor, na hipótese, entrega bem que não lhe pertence como sendo próprio.), em locação (o agente cede à outra parte, por tempo determinado, ou não, o uso e gozo de coisa fungível, mediante certa retribuição. No caso a coisa dada em locação é alheia), em garantia (refere-se aos direitos reais de garantia, como o penhor, a anticrese e a hipoteca. Somente o proprietário do bem pode gravá-lo com ônus real. Dessa forma, devedor que dá em garantia bem alheio como se fosse próprio comete o crime em tela) coisa alheia como própria (em todas estas condutas, a coisa é pertencente a uma pessoa diversa do sujeito ativo do crime, e este atua como sendo dono do bem e comete as condutas já analisadas). 
- Neste crime é sujeito passivo tanto o adquirente de boa-fé quanto o real proprietário da coisa (crime de dupla subjetividade passiva). 
- Além disso, dispensa-se a tradição (no caso de coisa móvel) ou o registro (no caso de coisa imóvel).
OBS: Se uma pessoa furta um bem alheio e depois a vende como própria responderá por qual crime ? Prevalece o entendimento de que responderá apenas pelo crime de furto, Art. 155, CP, constituindo o estelionato um post factum impunível. 
II - vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia coisa própria inalienável, gravada de ônus ou litigiosa, ou imóvel que prometeu vender a terceiro, mediante pagamento em prestações, silenciando sobre qualquer dessas circunstâncias;
- O Código Penal atribui a esta figura o nome de alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria.
- Neste crime o agente vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia coisa (móvel ou imóvel) sua (própria), porém, onerada, silenciando sobre a existência do gravame, ou seja, o sujeito pratica referidas condutas ocultando que nele recai um direito real de garantia. 
- O silencio do agente a respeito do ônus ou encargo que pesam sobre a coisa é que constitui a fraude configuradora do crime de estelionato em tela. 
- Vale ressaltar que o objeto material desta forma equiparada de estelionato é a: a) coisa própria inalienável – é a coisa que não pode ser vendida por disposição legal ou por convenção; b) coisa própria gravada de ônus – refere-se a lei não somente à hipoteca, aticrese e penhor (direitos reais de garantia), mas também a outros direitos reais, como servidão, usufruto, o uso e a habitação; c) coisa própria litigiosa – é a coisa objeto de dissolução judicial, por exemplo, vender imóvel sobre o qual pese ação de reivindicação. Vale ressaltar que se o adquirente sabia que o bem era objeto de litígio, o crime de estelionato não se configura e ele não poderá demandar pela evicção; d) imóvel que pretendeu vender a terceiro, mediante pagamento em prestações – o agente aqui vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia, imóvel que já havia prometido vender a terceira pessoa(compromissário comprador), mediante pagamento em prestações.Neste caso, a lei somente se refere ao bem imóvel. 
- Por fim, destaque-se que se trata de crime próprio quanto ao sujeito ativo. 
III - defrauda, mediante alienação não consentida pelo credor ou por outro modo, a garantia pignoratícia, quando tem a posse do objeto empenhado;
- O Código Penal atribui a esta figura o nome de defraudação de penhor.
- Neste crime é pressuposto a existência de um contrato pignoratício em que o bem que foi objeto de penhor continua na posse do devedor. Neste crime o sujeito defrauda mediante alienação (venda, doação, etc.) ou por outro modo (destruição, abandono, ocultação, etc.) a garantia pignoratícia, sem o consentimento do credor. 
- O sujeito ativo será o devedor que conserva a posse da coisa empenhada, e, o sujeito passivo, o credor titular do penhor, ou seja, é o sujeito que, tendo sua dívida assegurada pelo objeto emprenhado, sofre dano patrimonial com a alienação, destruição ou abandono, etc, pelo devedor. 
IV - defrauda substância, qualidade ou quantidade de coisa que deve entregar a alguém;
- O Código Penal atribui a esta figura o nome de fraude na entrega de coisa.
- Em tal crime NÃO existe relação de consumo, trata-se de crime que envolvepessoas certas e determinadas. Neste crime, o agente defrauda (espoliar, desfalcar, adulterar, privar fraudentamente) substância (é a essência da coisa, ex. substitui o ouro de uma joia por latão), qualidade (quando se substitui uma coisa determinada por outra aparentemente idêntica, mas intrinsecamente inferior, ex. substituir um anel de ouro maciço por outro apenas folheado a ouro), ou quantidade (diz respeito ao número, peso e dimensões, ex. entregar 500 sacas de laranja em vez de 600) de coisa que deve entregar a alguém. 
V - destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio corpo ou a saúde, ou agrava as consequências da lesão ou doença, com o intuito de haver indenização ou valor de seguro;
- O Código Penal atribui a esta figura o nome de fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro.
- Este crime NÃO é considerado autolesão, tendo em vista que lesionar-se para obter seguro é considerada uma fraude, existindo a intenção de obter vantagem patrimonial. Sabemos que no Direito Penal a autolesão e a danificação ou destruição da própria coisa não constituem atos ilícitos, exceto quando acarretam prejuízo a terceiro. É o que se dá no crime em apreço, que objetiva proteger o patrimônio das empresas de seguro. 
- A lei penal pune a conduta do segurado que propositadamente produz risco previsto no contrato (ex. incêndio da residência ou estabelecimento comercial, perda de navio em decorrência de acidente marítimo, etc.), com o fim de obter indevidamente o prêmio do seguro (importância pega pelo segurado ao segurador em razão da responsabilidade por este assumida), prejudicando, dessa forma, as empresas privadas que explorem as operações de seguro contra acidentes pessoais, incêndio, marítimos, etc. Desta forma, o pressuposto básico do crime é a existência do contrato de seguro válido e vigente ao tempo da ação. 
- As condutas do sujeito ativo do crime são as de: a) destruir ou ocultar coisa própria – destruir é a ação de causar dano à coisa (ex. colocar fogo no veículo segurado). Por sua vez, ocultar significa esconder, fazer com que a coisa não seja encontrada, ou dissimulá-la de modo a torná-la irreconhecível ou parecer outra. Ex. afirmar que o veículo fora furtado quando na realidade o agente o escondeu em local ignorado); b) lesar o corpo ou saúde – cuida-se aqui da autolesão, abrange a ofensa à integridade anatômica (ex. causar ferimentos em si próprio), assim como qualquer perturbação da saúde (ex. contrair propositadamente alguma doença); c) agravar lesão ou doença – aqui a lesão ou doença não foram provocadas pelo agente, mas este com propósito de obter maior indenização, agrava-lhe as consequências. Trata-se, como se vê, de crime de ação múltipla; ainda que o agente pratique todas as condutas descritas no tipo, responderá por um só crime, em face do princípio da alternatividade. 
 - O sujeito ativo do crime em análise é o proprietário da coisa que a destrói, total ou parcialmente, ou oculta, ou lesa o próprio corpo ou a saúde, ou agrava as consequências da lesão ou doença. Nada impede que terceiro pratique estas condutas, existindo concurso de pessoas. 
- O sujeito passivo é o segurador, ou seja, o responsável pelo pagamento do valor do seguro. 
- Este crime SOMENTE pode ser praticado DOLOSAMENTE, consubstanciado na vontade livre e consciente de praticar uma das ações típicas, acrescido da finalidade específica de obter indenização ou valor de seguro. 
- Em relação à consumação ressalta-se que é a única modalidade de estelionato que é um crime formal, vindo a se consumar com a prática das condutas do tipo penal (destruir, ocultar), independentemente do efetivo recebimento da indenização ou valor de seguro. Se a vantagem for conseguida, haverá mero exaurimento do crime.
- Parte da doutrina entende que não seria possível haver a tentativa, por se tratar de crime formal. Entretanto, apesar se ser um crime formal, outra parte da doutrina entende que seria possível haver a tentativa, por se tratar de crime plurissubsistente. Desse modo, se o agente está prestes a atear fogo em seu veículo segurado e é surpreendido por terceiros, há tentativa do crime em tela. 
VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe frustra o pagamento.
- O Código Penal atribui a esta figura o nome de fraude no pagamento por meio de cheque.
- O sujeito ativo do crime é o próprio emitente do cheque, ou seja, é o titular da conta corrente. 
- Vale ressaltar que o cheque é ordem de pagamento à vista, e por isto NÃO há crime se o cheque é pré-datado ou pós-datado. 
- Neste crime existem duas condutas, que somente podem ser praticadas na forma dolosa:
1ª) Emissão de cheque sem provisão de fundos – o agente tem a certeza de que não possui dinheiro em sua conta para saldar uma dívida, mas mesmo assim emite cheque sem provisão de fundos. Ou seja, o agente deve agir com má-fé. Desta forma comprovado não ter havido fraude, não se configura a emissão de cheque sem provisão de fundos, nos termos da Súmula nº 246 do STF, Ex. Pessoa por descuido, esquece que tem dinheiro na sua conta e emite cheque. 
OBS: Súmulas relacionadas ao crime de estelionato mediante a emissão de cheque sem provisão de fundos: 
Súmula nº 521 STF - O foro competente para o processo e julgamento dos crimes de estelionato, sob a modalidade da emissão dolosa de cheque sem provisão de fundos, é o do local onde se deu a recusa do pagamento pelo sacado. 
- Resumidamente, a competência será do local onde o sujeito tem conta corrente. 
Súmula nº 554 STF - O pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos, após o recebimento da denúncia, não obsta ao prosseguimento da ação penal. 
- A interpretação dada a esta súmula é a de que caso o sujeito faça o pagamento do cheque emitido sem provisão de fundos ANTES do recebimento da denúncia haverá a extinção da punibilidade. 
2ª) Frustração do pagamento do cheque - nesta modalidade o agente inicialmente possuía fundos suficientes na instituição bancária quando da emissão do cheque, contudo, antes de o beneficiário apresentar o título ao bando, o agente retira todo o numerário depositado ou apresenta contraordem ao pagamento, ou seja, de alguma forma frustra o pagamento do cheque. 
OBS: Se o agente falsifica cheque de terceiro para obter vantagem ilícita haverá o crime de estelionato do Art. 171, caput, do Código Penal. Neste caso haverá a incidência das seguintes súmulas:
Súmula nº 48 STJ - Compete ao juízo do local da obtenção da vantagem ilícita processar e julgar crime de estelionato cometido mediante falsificação de cheque.
Súmula nº 73 STJ - A utilização de papel moeda grosseiramente falsificado configura, em tese, o crime de estelionato, da competência da Justiça Estadual.
Estelionato Majorado (com causa de aumento de pena). 
- Ele está no Art. 171, § 3º, do Código Penal que prevê que “a pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em detrimento de entidade de direito público ou de instituto de economia popular, assistência social ou beneficência”. 
- A majorante leva em consideração o sujeito passivo da infração penal e a razão do aumento de pena é que nesses casos há lesão do patrimônio de diversas vítimas, afetando o próprio interesse social ou o interesse particular de numerosas vítimas. 
OBS: A jurisprudência do STF se inclina no sentido de que o estelionato previdenciário, quando praticado pelo próprio beneficiário das prestações é delito permanente. Já no STJ existe divergência entre as turmas, na 5ª Turma é pacífico o entendimento de que se trata de infração permanente, ao passo que a 6ª Turma considera o crime instantâneo de efeitos permanentes. Percebe-se que estes entendimentos interferem diretamente no momento do flagrante (Art. 302 CPP) e no prazo prescricional (Art. 111 CP). 
OBS: Súmula do STJ
Súmula nº 107 STJ - compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime de estelionato praticado mediante falsificação das guias de recolhimentodas contribuições previdenciárias, quando não ocorrente lesão à autarquia federal.
Súmula nº 24 STJ - Aplica-se ao crime de estelionato, em que figure como vítima entidade autárquica da Previdência Social, a qualificadora do § 3º do Art. 171 do Código Penal.
Destaque. 
1º) Cola eletrônica – o Plenário do Supremo Tribunal Federal no julgamento do Inquérito 1145, reconheceu que a conduta designada “cola eletrônica” é penalmente atípica (STF, HC 88967, Rel. Min. Carlos Britto, 1ª T., DJ 13/04/2007, p. 102).

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