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CCJ0033-WL-A-LC-Dos Crimes Contra o Patrimônio - Furto

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Dos crimes contra o patrimônio
Furto – art.155
Sujeito ativo: qualquer pessoa;
Sujeito passivo: qualquer pessoa. Obs. Ladrão que rouba ladrão não tem cem anos de perdão. Se situação ocorrer, o sujeito é o proprietário da coisa e que teve o bem subtraído por ação de outro.
Objeto jurídico: patrimônio do individuo, que pode ser constituído de coisa de sua PROPRIEDADE ou POSSE, desde que LEGÍTIMAS. Obs. A mera detenção (deter, reter; seja no sentido que lhe empresta o direito civil ou o direito comercial, como o direito penal, quer significa a ação pela qual se detém ou se retém coisa ou pessoa, justa ou injustamente, privando o dono da posse da ciosa e a pessoa de sua liberdade), em nosso entender, não é protegida pelo direito penal, pois não integra o patrimônio da vitima.
Objeto material: é a coisa sujeita à subtração, que sofre a conduta criminosa. Obs. Coisas abandonadas ( res derelicte ) ou que não pertençam a ninguém ( res nullius ) NÃO PODEM SER OBJETO DE CRIME DE FURTO, uma vez que não integram o patrimônio de outrem. Coisas perdidas ( res deperdita ) também não podem ser objeto de furto, pois há tipo específico para esse caso,que a APROPRIAÇÃO ( art. 169 cp. ).
Elementos objetivos do tipo: 
Subtrair significa tirar, fazer desaparecer ou retirar. É verdade que o verbo furtar tem sentido mais amplo que o verbo subtrair e justamente por isso o tipo penal preferiu identificar o crime como sendo furto e a conduta que concretiza como subtrair, seguida, é lógico, de outros importantes elementos descritivos e normativos. Assim, o simples fato de alguém tirar coisa pertencente a outra pessoa não quer dizer, automaticamente, ter havido furto, já que se exige, ainda, o animo fundamental, componente da conduta de furtar, que é assenhorear-se do que não lhe pertence. 
Coisa é tudo aquilo que existe, podendo tratar-se de objetos inanimados ou de semoventes. No contexto dos delitos contra o patrimônio ( conjunto de bens suscetíveis de apreciação econômica ), cremos ser imprescindível que a coisa tenha, para seu dono ou possuidor, algum valor econômico.
Alheia é a coisa que pertence outrem, seja a posse ou a propriedade.
Móvel é a coisa que se desloca de um lugar para outro. Trata-se do sentido real, e não jurídico. Assim, ainda que determinados bens possam ser considerados imóveis pelo direito civil, como é o caso dos materiais provisoriamente separados de um prédio, para o direito penal o direito penal são considerados moveis, portanto, suscetíveis de ser objeto do delito de furto. Para não haver qualquer duvida deixou o legislador expressa a intenção de equiparar a energia elétrica ou qualquer outra que possua valor econômico à coisa móvel, de modo que constitui furto a conduta de desvio de energia de sua fonte natural ( §3º ). Energia é a qualidade de um sistema que realiza trabalho de varias ordens, como elétrica, química, radioativa, genética, mecânica, entre outras. Assim, quem faz uma ligação clandestina, evitando o medidor de energia elétrica, por exemplo, está praticando furto. Nessa hipótese, realiza-se o crime na forma permanente, vale dizer, a consumação se prolonga no tempo. Enquanto o desvio estiver sendo feito, está-se consumando a subtração de energia elétrica. A pena é de reclusão de 1 a 4 anos, e multa.
Elemento subjetivo do tipo específico:
É o animo de apossamento definitivo, espalhado pelos termos para si ou para outrem.
Elemento subjetivo do crime:
Exige-se dolo, não existindo a forma culposa.
Classificação: 
Crime comum;
Material;
De forma livre;
Comissivo; ( como regra )
Instantâneo; ( consumação no ato )
De dano; 
Unissubjetivo; ( único ato )
Plurissibsistente; ( vários atos )
Tentativa: é admissível.
 
Espécies: 
- simples ( caput. );
- furto noturno ( § 1º );
- privilegiado ( 2º );
- qualificado ( §§ 4º e 5º ).
Momento consumado: 
Trata-se de tema polemico e de difícil visualização na pratica. Em tese, no entanto, o furto está consumado tão logo a coisa subtraída saia de sua esfera de proteção e disponibilidade da vitima, ingressando na do agente. É imprescindível, por tratar-se de crime material, que o bem seja tomado do ofendido, estando, ainda que por breve tempo, na posse mansa e tranquila doa gente. Se houver perseguição e em momento algum, conseguir o autor a livre disposição da coisa, trata-se de tentativa. Não se deve desprezar essa fase ( posse tranquila da coisa em mãos do ladrão ), sob pena de se transformar o furto em crime forma ( onde se pune unicamente a conduta e não se demanda o resultado naturalístico ).
Causa de diminuição de pena:
Difundiu-se o entendimento de ser a figura prevista no § 2º um furto privilegiado. Por vezes, no entanto, pode implicar apenas uma causa de diminuição da pena. Poder-se-ia, então, falar em “privilégio em sentido amplo”. A autêntica figura do privilegio haveria de representar uma nova faixa para a fixação da pena, diminuindo-se o mínimo e o máximo, em abstrato, estabelecidos pelo legislador no preceito sancionador do tipo penal. Entretanto, analisando-se a especial circunstancia prevista, conclui-se significar uma causa obrigatória de diminuição da pena em limites variáveis entre um e dois terços. Por outro lado, a substituição da pena de reclusão pela de detenção e da pena privativa de liberdade pela de multa configuraria um autêntico privilégio, pois a pena em abstrato altera-e completamente para a menor.
Primariedade:
É o primeiro requisito para o reconhecimento do furto privilegiado. A primariedade é um conceito negativo, ou seja, significa não ser reincidente. Portanto, quem não é reincidente, é primário. A reincidência ocorre quando o réu comete novo crime, após já ter sido condenado definitivamente, no Brasil ou no exterior. Lembramos, no entanto, que a condenação anterior somente surte efeito para provocar a reincidência desde que não tenha ocorrido o lapso temporal de cinco anos entre a data do cumprimento ou da extinção da pena e o cometimento da nova infração penal. Conferir os arts. 63 e 64 do cp. É preciso anotar que a lei foi bem clara ao exigir somente a primariedade para a aplicação do beneficio, de modo que descabe, em nosso entendimento, clamar também para existência de bons antecedentes.
Pequeno valor:
Não se trata de conceituação pacifica na doutrina e na jurisprudência, tendo em vista que se leva em conta ora o valor do prejuízo causado a vitima, ora o valor da coisa em si. Preferimos o entendimento que privilegia, nesse caso, a interpretação literal, ou seja, deve-se ponderar unicamente o valor da coisa, pouco interessado se, para a vítima, o prejuízo foi irrelevante. Afinal, quando o legislador quer considerar o montante do prejuízo deixa bem claro, como fez no caso do estelionato ( art.171, §1º cp. ). Por isso concordamos plenamente com a corrente majoritária que sustenta ser de pequeno valor a coisa que não ultrapassa quantia equivalente ao salário mínimo. De fato, seria por demais ousado defender a tese de que um objeto cujo valor seja superior ao salário mínimo – auferido por grande parte da população – possa ser considerado de “pequeno valor”. Por derradeiro, deve-se salientar que o pequeno valor precisa ser constatado à época da consumação do furto, e não quando o juiz for aplicar a pena. E mais, não se deve ponderar a vontade do agente nesse caso, isto é, se ele deseja furtar coisa de pequeno valor, mas leva algo de valor elevado, cuida-se de erro meramente acidental, que não beneficia. O privilegio previsto no §2º do art.155 é objeto, não podendo a vítima perder quantia superior ao salário mínimo.
Aplicação dos §§ 1º e 2º concomitantemente:
Há perfeita possibilidade. Trata-se de um concurso entre causa de aumento e causa de diminuição da pena, devendo o juiz aplicar as regras gerais para a fixação da pena. Assim, poderá aumentar de um terço a pena, por conta do furto praticado durante o repouso noturno, bem como, em seguida, compensar a elevação com a diminuição de um terço, por conta do disposto no § 2º. Poderá, também, aumentar a pena em um terço( § 1º ) e diminuí-la de dois terços ( § 2º ). Se preferir aplicar o privilegio, que é a substituição da pena privativa de liberdade pela multa, logicamente, o aumento do § 1º deixará de ter importância. Enfim, conforme o caso, o § 1º entra em sintonia com o §2º, cabendo a aplicação de ambos, mas pode o §2º suplantar o aumento do § 1º, como já exposto.
Qualificadoras:
§ 4 inc. 1º
Destruição é a conduta que provoca o aniquilamento ou faz DESAPARECER alguma coisa;
Rompimento é a conduta que estraga ou faz em PEDAÇOS alguma coisa ( o rompimento parcial já faz constar a qualificadora )
Obstáculo: é a barreira ou armadilha colocada para dificultar ou impedir o acesso.
Quanto a destruição e o rompimento existem duas correntes:
Não se aplica a qualificadora quando o agente atua contra a própria coisa. Assim quem rompe o vidro de um veículo para em seguida leva-lo comete furto simples.
Aplica-se a qualificadora quando a conduta do agente se volta contra obstáculos inerentes à própria coisa. No exemplo anterior seria aplicada a qualificadora. ( mais aceita )
Obs. aquele que subtrai arvore responde por furto qualificado, pois estar a estragar o seu vínculo natural.
Inc. II: 
Confiança é um sentimento interior de segurança em algo ou alguém; portanto, implica CREDIBILIDADE. O ABUSO é sempre um excesso, um exagero em regra condenável.
Ex. a empregada domestica com muito tempo de serviço em uma família pode sofrer com essa qualificadora já a empregada domestica recém-contratada não pode sofrer com essa qualificadora.
A fraude é uma manobra enganosa destinada a iludir alguém, configurando, também, uma forma de ludibriar a confiança que se estabelece naturalmente nas relações humanas.
Ex. o funcionário da companhia aérea que, no aeroporto, a pretexto de prestar auxilio a um turista desorientado, prometendo tomar conta de sua bagagem, enquanto este é enviado a outro balcão de informações, subtrai bens contidos na mala incide na figura qualificada.
Nota-se, pois, que a fraude implica um modo particularizado de abuso de confiança. Este, por si só, exige uma relação especifica de segurança concretizada entre autor e a vitima, enquanto a fraude requer, apenas, um plano ardiloso que supere a vigilância da vítima, fazendo com que deixe seus bens desprotegidos, facilitando a ação criminosa. A fraude é uma relação de confiança instantânea formada a partir de um ardil.
A escalada é a subida de alguém a algum lugar, valendo-se de escada ou outro meio de apoio. Escalar implica subir ou galgar, como regra. 
Ex. subir em um telhado, para remover as telhas e em seguida invadir a casa. Obs. o agente que faz uso de janela próxima ao solo não implicará a qualificadora por falta de esforço incomum. Se a janela estiver aberta há um furto simples. 
Pode-se falar em escalada, quando o agente invade uma casa fazendo usos, por exemplo, de uma via subterrânea normalmente não transitável, como o túnel de um esgoto, se a passagem for previamente construída fala-se em fraude. E por fim, ressalta-se que os atos preparatórios não são puníveis, como por exemplo, encostar uma escada em um muro, sem, no entanto, salta-lo.
A destreza é a agilidade ímpar dos movimentos de alguém, configurando uma especial habilidade. O batedor de carteira ( figura praticamente extinta diante da ousadia dos criminosos atuais ). Por conta da agilidade de suas mãos, conseguia retirar a carteira de alguém, sem que a vítima percebesse.
Praticar o furto com emprego de chave falsa: 
A chave falsa é o instrumento destinado a abrir fechaduras ou fazer funcionar aparelhos. A chave original, subtraída sub-repticiamente, não provoca a configuração da qualificadora. Pode haver nessa hipótese, conforme o caso concreto, abuso de confiança ou fraude. A mixa – ferro curvo destinado a abrir fechaduras -, segundo nos parece, pode configurar a qualificadora. Afinal, deve-se notar que se a chave é falsa não há de possuir o mesmo aspecto ou a mesma forma da chave original.
Praticar o furto em concurso de duas ou mais pessoas: 
Quando mais de um agente se reúne para a prática do crime de furto é natural que se torne mais acessível a concretização do delito. Por isso, configura-se a qualificadora. O apoio prestado, seja como coautor, seja como partícipe, segundo entendimentos, pode servir para configurar a figurado inciso IV. O agente que furta uma casa, enquanto o comparsa, na rua, vigia o local, está cometendo furto qualificado. Inexiste na lei qualquer obrigatoriedade para que o concurso se dê exclusivamente na forma de coautoria ( quem pratica o núcleo do tipo , executando o crime ), podendo configurar-se ma forma de participação ( auxílio a quem pratica a ação de subtrair ). Esta circunstância foi considerada pela lei uma qualificadora, portanto, se houver mais de uma, no contexto do furto, as demais podem ser usadas como agravantes ou mesmo como circunstanciais judiciais. Não se pode aplicar, por analogia in malam partem a causa de aumento do roubo ( 1/3 a metade ), pelo concurso de duas ou mais pessoas no furto. Preceitua a súmula 422 do STJ “é admissível aplicar, no furto qualificado, pelo concurso de agentes, a majorante do roubo”.
Se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro estado ou para o exterior ( §5º ): 
Essa qualificadora proporciona o aumento da faixa de fixação da pena para reclusão de 3 a 8 anos, quando o veículo automotor for transportado para outro estado da federação ou para o exterior, e foi o resultado de intensa pressão exercida pelas companhias de seguro, fartas de indenizar subtrações de veículos automotores, cujo destino, na maioria das vezes, era outro estado da federação ou mesmo outro país. O ladrão, ao subtrair o veículo automotor, pode ou não ter o fim de conduzi-lo a outro estado brasileiro ou a outro país, embora a qualificadora só se configure quando, realmente, essa finalidade se delinear na mente do agente, além de ser, de fato, atingida. O veículo que efetivamente vai para outro estado ou país torna o delito mais grave, pois dificulta sobremaneira a recuperação do bem pela vítima. Logo, o ladrão que é pego ainda a caminho da saída do estado ou do país ainda não se configura na qualificadora já que a mesma ainda não foi consumada e somente o furto.
Preponderância da qualificadora: 
Caso o agente furte um veículo, incidindo inicialmente na figura do caput. ( furto simples ) e depois leve o objeto subtraído para fora do país, a figura é qualificada ( §5º ). Se o autor do furto rompeu obstáculos para a subtração da coisa ( figura do §4º, I, do art. 155) e, em seguida, levou o veículo automotor para fora do estado ou país incide somente a qualificadora mais grave, que é a do §5º. O mesmo se dá se o furto for praticado durante o repouso noturno: se o veículo sair do estado ou país, configura-se somente a qualificadora do §5º, que é mais grave. ( OBS )
Causas de aumento de pena:
Trata-se do furto cometido durante o repouso noturno – ou simplesmente furto noturno -, especial circunstancia que torna mais grave o delito, tendo em vista a menor vigilância que, durante a noite, as pessoas efetivamente exercem sobre os seus bens, seja porque estão repousando, seja porque há menor movimentação na comunidade, facilitando a perpetração do crime. O legislador, reconhecendo o maior gravame, impõe um aumento de um terço para a pena, em quantidade fixa e predeterminada. Esta causa de aumento deve ser aplicada SOMENTEA ao furto simples, isto é, a figura prevista no caput, tendo em vista a sua posição sistemática na construção do tipo penal. A pena do furto qualificado, já aumentada nas suas balizas mínima e máxima, não seria por este aumento afetado. Ademais, as circunstancias que envolvem o furto previsto no §4º. Já são graves o suficiente para determinar uma justa punição ao autor da infração penal. Não se pode afirmar seja uma regra, embora haja, na prática, incidência bastante razoável a demonstrar que o ladrão que age à noite costuma valer-se de destruição ou rompimento deobstáculo, escalada, emprego de chave falsa ou concurso de duas ou mais pessoas, o que já é suficiente para qualificar o delito. Assim não ocorrendo, incidindo na figura do caput, a circunstância de ter agido durante o repouso noturno implica um aumento de pena. Somos adeptos, pois, da corrente que sustenta a aplicação do §1º unicamente ao caput. Entende-se por repouso noturno o período que medeia entre o inicio da noite, com o pôr do sol, até o surgimento do dia, com o alvorecer, a fim de dar segurança à interpretação do tipo penal, uma vez que as pessoas podem dar inicio ao repouso noturno em vários horários, normalmente em grandes cidades. A vigilância tende a ser naturalmente dificultada quando a luz do dia é substituída pelas luzes artificiais da urbe, de modo que o objetivo do legislador foi justamente agravar a pena daquele que se utiliza desse período para praticar o delito contra o patrimônio, se a vítima dorme durante o dia – por ser vigilante noturno, por exemplo -, não incide a agravação da pena.
solange.maria@tjpe.jus.br
A questão da casa habitada no furto noturno:
Há duas posições a respeito, a que entende, por ora, a jurisprudência majoritária ser indispensável que o furto ocorra em casa habitada, com os moradores nela repousando. Justamente porque prevalece esse entendimento, não se tem admitido a incidência do aumento quando o furto ocorre em casa comercial.
Furto de coisa de estimação:
Entendemos não ser objeto material do crime de furto, pois é coisa sem qualquer valor econômico, não se pode conceber seja passível de subtração, plenamente punível, por exemplo, uma caixa de fósforos vazia, desgastada, que a vitima possui somente porque lhe foi dada por uma namorada, no passado, símbolo de um amor antigo. Caso seja subtraída por alguém, cremos que a dor moral causada no ofendido deve ser resolvida na esfera civil, mas jamais na penal, que não se presta a esse tipo de reparação.
O furto de cadáver:
Pode ser objeto material do crime de furto caso tenha valor econômico e esteja na posse legitima de alguém ( ex. subtrair o corpo pertencente a um museu, que o exibe por motivos científicos ou didáticos ). Não sendo este o caso, a subtração do cadáver pode constituir crime contra o respeito aos mortos ( art.211, cp. ).
O furto de coisa de ínfimo valor:
Podem ser objeto do crime de furto, embora se deva agir com cautela nesse contexto, em face do principio da insignificância ( crimes de bagatela ). O direito penal não se ocupa de insignificâncias ( aquilo que a própria sociedade concebe ser de menos importância ), deixando de se considerar fato típico a subtração de pequenas coisas de valor nitidamente irrelevante. Ex. o sujeito que leva, sem autorização, do banco, onde vai sacar uma determinada quantia em dinheiro, o clipe que está sobre o guichê do caixa, embora não lhe pertença. Não se deve exagerar, no entanto, na aplicação do princípio da bagatela, pois o que é irrelevante pra uns pode ser extremamente importante para outros. Ex. subtrair uma galinha de quem só possui um galinheiro com quatro é um valor significativo, que necessitará ser recomposto. Por outro lado, subtrair um pitinho de uma granja imensa, com milhares de aves, pode ser insignificante, sem qualquer afetação ao patrimônio. Lembramos que a utilização do princípio da insignificância, por se tratar de causa supra legal de exclusão da tipicidade, submete-se, naturalmente, à política criminal do estado, na hipótese, sob a ótica do judiciário. Logo, inexistem regras fixas para essa avaliação. Deve-se analisar cada caso individualmente. Nas palavras do Ministro Cezar Peluso: a indagação sobre a conveniência ou não de proteção penal ao bem jurídico de que cuida a hipótese seria matéria de política criminal.
O furto de uso como crime:
Não há fato típico, pois inexiste o animo de apossamento definitivo, que seria indispensável par a configuração do furto. Se o agente retirar a coisa da pose da vitima apenas para usar por pouco tempo, devolvendo-a intacta, é de se considerar não ter havido crime. Cremos ser indispensável, entretanto, para a caracterização do furto de uso, a devolução da coisa no estado original, sem perda ou destruição do todo ou em parte. Se houver a retirada de um veiculo para dar uma volta, por exemplo, devolvendo-o com o para-lama batido, entendemos haver furto, pois houve perda patrimonial para a vítima. De um modo indireto, o sujeito apropriou-se do bem de terceiro, causando-lhe prejuízo. Lembramos que a intenção de apoderar-se implica, também, a possibilidade de dispor do que é do outro, justamente o que ocorre quando o agente trata coisa como se fosse sua. Utilizar um automóvel para um volta, provocando uma colisão e devolvendo-o danificado, é o modo que o autor possuía de demonstrar a sua franca intenção de dispor da coisa como se não pertencesse a outrem. Além disso, é preciso haver imediata restituição, não se podendo aceitar lapsos temporais exagerados. E, por fim, torna-se indispensável que a vítima não descubra a subtração antes da devolução do bem. Se constou que o bem de sua propriedade foi levado, registrando a ocorrência, dá-se o furto por consumo. É que, nesse cenário, novamente o agente desprezou por completo a livre disposição da coisa pelo seu dono, estando a demonstrar o seu ânimo de apossamento ilegítimo. Em síntese: admitimos o furto de uso desde que presentes os seguintes requisitos, demonstrativos da total ausência do ânimo de apossamento: 1º rápida devolução da coisa; 2º restituição integral e sem qualquer dano do objeto subtraído; 3º devolução antes que a vítima perceba a subtração, dando falta do bem.
A trombada como furto ou roubo:
Cremos tratar-se de roubo. A violência utilizada na trombada, por menor que seja, é voltada contra a pessoa para arrancar-lhe a bolsa, a corrente, o relógio ou qualquer outro bem que possua, de forma que configurada está a figura do art. 157. Dizer que o ato violento tem por objetivo apenas a coisa é desconhecer o significado da “trombada”, que inexoravelmente provoca o toque físico ao corpo da vítima, com uso da forma bruta. O furto deve prescindir de todo e qualquer tipo de violência contra a pessoa, não havendo lesão à integridade física do ofendido. Pode-se falar em furto – mas, nesse caso, não acreditamos tratar-se de “trombada” – quando o agente ludibria a vítima, retirando-lhe o bem que possui. Ex. fingindo limpar o liquido que propositadamente derrubou na roupa do ofendido, o autor toma-lhe a carteira. Há toque físico no corpo da vítima, embora esta conduta seja típica do furto, porque não houve violência contra a pessoa.
A aplicação do privilégio ( § 2º ) à figura qualificada ( § 4º )
Há polêmica quanto à possibilidade de aplicação do privilegio às figuras qualificadas previstas no §4º. Prevalecendo o entendimento da impossibilidade. Assim, segundo a orientação por ora predominante, o privilégio seria útil somente às figuras do caput. do § 1º, mas não ao tipo qualificado. Discordamos desse posicionamento. No caso do homicídio, o §1º, que é considerado homicídio privilegiado, aplica-se, conforma doutrina e jurisprudência majoritárias, não somente ao caput, mas também ao §2º, que cuida das qualificadoras. Por que não fazer o mesmo com o furto? Inexistindo razão para dar tratamento desigual a situação semelhantes, em matéria de construção do tipo penal, cremos ser possível a aplicação da causa de diminuição da pena às hipóteses do §4º.
Furto de coisa comum – art.156
Sujeito ativo:
É exclusivamente o condômino, o coerdeiro ou o sócio, conforma a situação.
Sujeito passivo:
Só pode ser o condômino, o coerdeiro ou o sócio acrescentando-se que deve estar na posse legítima da coisa. Nem todo condômino tem a posse do bem que lhe pertence. Por isso, quem detiver, licitamente, a coisa pode se sujeito passivo deste crime. Se o bem furtado pertence à sociedade com personalidade jurídica, entendemos tratar-se da figura do art. 155, e não se confunde com os bens individuais do sócio.
Objeto jurídico:
O patrimônio,que pode ser a propriedade ou a posse, desde que legítimas.
Objeto material:
A coisa comum.
Elementos objetivo do tipo:
Além dos elementos comuns ao furto art. 155m podemos acrescentar a detenção legitima, que é a conservação em seu poder, conforma a lei, de alguma coisa. Assim, quando se inaugura um inventario, cabe ao inventariante administrar os bens do espólio até que a partilha seja feita. Se um dos coerdeiros resolver levar, indevidamente, para a sua casa bem que pertence igualmente aos demais e está sob detenção legitima do inventariante, comete o crime previsto no art.156. Coisa comum é tudo aquilo que existe, podendo tratar-se de objetos inanimados ou de semoventes. O elemento normativo do crime de furto simples, associado à coisa, é alheia, implicando pertencer a outra pessoa que não o agente. No caso desta figura típica, encontra-se o elemento normativo comum, significando algo que pertence a mais de uma pessoa, isto e, o agente subtrai alguma coisa que lhe pertence, mas também e igualmente a terceiro. Ainda que o tipo penal não tenha feito referencia, é preciso interpretar que a coisa comum seja móvel. Não há, no Brasil, furto de coisa imóvel. A pena é de detenção, de 6 a 2 anos, ou multa.
Elemento subjetivo do tipi específico:
Exige-se a finalidade específica de agir ( para si ou para outrem ), que é o ânimo de apossamento.
Elemento subjetivo do crime:
É o dolo, não existindo a forma culposa.
Classificação:
Próprio;
Material;
De forma livre;
Comissivo ( como o geral );
Instantâneo;
De dano;
Unissubjetivo;
Plurissubjetivo.
Tentativa:
É admissível.
Particularidade:
Somente está legitimo a agir o Ministério Público caso haja representação de alguma vítima.
Causa especifica de exclusão da ilicitude:
Se a coisa comum for fungível, isto é, substituível por outra da mesma espécie, quantia e qualidade ( como dinheiro ), e o agente subtrai uma parcela que não excede a cota que tem direito, não há fato ilícito. Realmente, não teria cabimento punir, por exemplo, o coerdeiro que tomasse para si uma quantia em dinheiro encontrado no cofre do falecido, desde que tal valor seja exatamente aquilo a que teria direito caso aguardasse o termino do inventário. Não cometeu crime algum, pois levou o que é somente seu. Entretanto, se o agente subtrair coisa infungível ( como uma obra de arte, por exemplo ) não está acobertado pela excludente, tendo em vista que o objeto do furto não pode ser subtraído por outro de igual espécie e qualidade. Se é único, pertence a todos, até que decida quem vai ficar, legitimamente, com o bem.

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