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Resumo - Direito Muçulmano

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RESUMO – O DIREITO MUÇULMANO
Quais são as perspectivas sobre o direito, que os orientais tem? 
Apóiam-se em concepções totalmente diferentes daquelas que prevalecem nos países do Ocidente, mostrando que os modos de pensamento ocidentais não dominam de maneira exclusiva e incontestada o mundo.
Nem todos pensam no direito positivado como o nosso, eles partem do princípio que o direito e a religião não são coisas separadas... há uma ligação íntima do direito com a religião.
O primeiro conceito que deve-se entender é a CHARIA, que é o verdadeiro direito dos muçulmanos, pois eles tem por obrigação à Deus, em qualquer parte do mundo em que estiverem, de seguir o direito muçulmano que é aplicado para a comunidade dos crentes muçulmanos. Não é um direito que seja aplicado a todos, apenas nas relações entre muçulmanos, pois entre eles o direito tem caráter revelado. Esse princípio religioso revelado torna-se inaplicável quando não se está entre muçulmanos, porém deve ser respeitado pelos estrangeiros.
Outra característica do Direito Muçulmano (CHARIA) é que, desde o momento em que foi escrito é considerado imutável, não podendo ser mudado de jeito nenhum. Já vimos que o direito se transforma à medida que a sociedade se transforma, porém os muçulmanos enxergam o direito numa perspectiva oposta. A partir do momento em que o direito foi escrito, ele tornou-se imutável e nenhuma autoridade na terra poderá mudá-lo. 
A CHARIA, na realidade, é um dos aspectos da religião muçulmana islâmica, onde o direito e a religião não se separam. O direito é uma das partes integrantes da religião, então os muçulmanos não fazem distinção entre o que é regra jurídica, regra religiosa e regra moral humana. Tudo para eles está dentro de um mesmo documento, a CHARIA... é o mesmo preceito, o mesmo princípio.
Então, seguir as regras religiosas é seguir as regras do direito e vice-versa, já que eles não separam uma coisa da outra... para eles a moralidade e a religião são formas de chegar `a Deus, assim como seguir as regras jurídicas também é uma outra forma. Inclusive o conceito de CHARIA, se tomado ao “pé da letra”, segundo os Muçulmanos é “o caminho que leva o crente à Deus”. Esse é conceito de CHARIA para o crente que segue a doutrina muçulmana, que crê na religião muçulmana. Lembrando que não é assim para todos... Enfim, percebemos que o direito muçulmano é um direito religioso, de uma sociedade teocrática, na qual o Estado não tem valor senão como servidor da religião revelada.
FUNDAMENTAÇÕES:
A CHARIA foi formulada a partir de quatro fases diferentes:
1- O CORÃO ou ALCORÃO, que é o livro sagrado dos muçulmanos, um livro religioso. Foi ditado por Deus a Maomé e escrito pelos discípulos de Maomé. É o fundamento do direito muçulmano, sendo a primeira fonte desse direito.
2- A SUNA, que é o livro dos atos e pensamentos do profeta, sendo uma biografia de Maomé. A maneira de ser e de agir do profeta, e sua memória é um guia para os crentes muçulmanos.
O CORÃO e a SUNA são as bases históricas do direito muçulmano.
3- O IDJMA, que é o acordo unânime estabelecido pelo Conselho de Doutores muçulmano, pois nem o CORÃO nem a SUNA podiam dar resposta a tudo. É a terceira parte do direito muçulmano e fundamenta as decisões dos juízes contemporâneos. É a solução jurídica admitida unanimemente pelos Doutores da lei, com força de verdade jurídica.
4- O QYAS, que é o raciocínio por analogia, é raciocinar comparativamente, sendo elevado à categoria de fonte de direito pela comunidade muçulmana. Só pode ser considerado como um modo de interpretação e de aplicação do direito.
O IDJMA e o QYAS são as bases práticas atuais.
A doutrina (ou religião) muçulmana começou quando, na Península Arábica, Maomé estava a refletir e dormiu. Reza a lenda que ele foi acordado pelo anjo Gabriel e enquanto acordava, o anjo ia ditando para ele as palavras de Deus, a nova revelação, que é justamente a doutrina muçulmana ou islâmica. E a partir do que ele ouviu, começou a propagar, no meio do seu povo, a doutrina que prega que só existe um Deus, chamado de Alah (...), enfim, Maomé morreu dez anos depois dessa revelação, em 632, e a partir do momento em que ele morre, começa a expansão muçulmana pelo mundo. Seus discípulos, convertidos e seguidores, começam então a expandir a religião muçulmana pelo mundo e foi a partir daí que houve a NECESSIDADE DO DIREITO. 
Na verdade o direito (CHARIA) não foi criado por Maomé, que apenas criou a religião muçulmana. O direito muçulmano só foi criado pelo IDJMA (Conselho de doutores) no séc. X e Maomé morreu no séc VII, até porque o que se conta sobre ele é que era analfabeto, portanto nada pode ter escrito. Quem escreveu o direito foram os Doutores da Lei, que sabiam ler e escrever, formulando sua escrita. Maomé foi considerado pelos muçulmanos como o último dos profetas e não um Doutor da Lei.
Quando Maomé morre, tem início a expansão islâmica, que hoje em dia fala-se em JIRAH, que é a guerra santa muçulmana. Os discípulos saem da Península Arábica, vão em direção às terras orientais, tomam a região que era da Síria, da Mesopotâmia, conquistando todo o oriente, pela força das armas e pela força da conversão religiosa. Descem para o norte da África, Marrocos (...) e em seguida vão para a Europa, conquistam Portugal, Espanha e tentam ir para a França. Nessa tentativa a ocupação foi interrompida e no séc.VIII eles foram vencidos numa grande batalha no território francês. Encerrou-se a conquista da Europa!
Assim a influência do direito muçulmano sobre os direitos europeus parece ter sido quase nula.
Devido à expansão muçulmana no mundo, vai haver povos os mais diferentes, seja culturalmente, seja religiosamente, seja juridicamente, sempre diversificados. O povo Sírio não era igual ao Espanhol, que era diferente do povo Português, que era diferente do povo do Marrocos... e assim sucessivamente. A questão é que a cada lugar que os muçulmanos conquistaram, a religião era interpretada de forma diferente. E como fazer para que tantos povos com culturas diferentes se submetessem a um mesmo padrão de conduta? Qual a forma que encontraram para unificar os povos? É aí que entra a LEI e através dela os muçulmanos encontraram uma maneira de unificar todos os povos convertidos. Então, a partir do séc X, a CHARIA foi instituída. Os doutores da Lei se reuniram para formular um único padrão de conduta que fosse exigido para todo o povo muçulmano espalhado no mundo inteiro. A partir do séc X, não foi mais dada oportunidade nem espaço de interpretação da perspectiva cultural, muito pelo contrário, no séc X, toda conduta do homem muçulmano foi limitada a uma única lei, a chamada CHARIA. E aí todos os preceitos que o mundo muçulmano segue até os dias de hoje, foram formulados pela CHARIA.
Quando se coloca, p ex., que o muçulmano tem que orar cinco vezes ao dia, que ele tem que viajar pelo menos uma vez por ano para Meca, que o pai tem que sustentar seus filhos e sua esposa, que a mulher não pode ser agredida na rua, que as mulheres devem seguir as regras (...) , onde tudo isso está escrito de modo que unifique tudo o que seja diferente? Numa mesma Lei, na CHARIA.
Assim, não há distinção entre regra moral e jurídica, do mesmo jeito que a CHARIA diz que não se pode roubar, ela também preceitua que deve-se orar cinco vezes ao dia. Na nossa ótica ocidental, são coisas separadas, mas na visão deles, são a mesma coisa. Não roubar e orar cinco vezes ao dia são caminhos e passos que se está dando ao paraíso. A perspectiva é que para eles as regras não se separam. Então, no séc. X a lei divina está formulada pelo IDJMA (Conselho de doutores).
Existem três características do direito muçulmano:
- É REVELADO, INFALÍVEL E IMUTÁVEL.
REVELADO, porque foi revelado por Deus ao IDJMA, no séc. X. Segundo a ótica muçulmana não foi o Conselho de Doutores que o criou e sim, Deus (Alah), que determinou ao Conselho de Doutores.
INFALÍVEL, porque segundo eles, se Deus revelou a lei aos homens, Deus nunca falha e tudo o que na lei estiver, criadopor Deus, é infalível.
IMUTÁVEL, porque a palavra de Deus nunca irá mudar, é correta e não tem porque mudar.
A CHARIA é entendida pelos muçulmanos como um conjunto de regras infalíveis e imutáveis reveladas por Deus aos doutores da lei, portanto, até os dias de hoje, o direito continua do jeito que foi formulado no séc.X
E diante desse quadro, como conseguiram conviver, em pleno séc.XX, com um direito que foi formulado no séc. X, e que não se transformou, nem evoluiu? Como conviver com a internet e os crimes cibernéticos? Como lidar com as fraudes econômico-financeiras? Como resolver os problemas atuais se no passado nada disso existia e o que está no passado não pode ser modificado, é imutável?
Nenhuma sociedade é perfeita e a dos muçulmanos também não é. Então há crimes no mundo muçulmano que ocorrem em qualquer lugar do mundo também. E como resolver os problemas na esfera da lei?
É aí que entra o raciocínio por analogia, o QYAS. É a forma que eles encontraram para resolver os problemas da atualidade.
O papel do juiz, ou melhor, do doutor da lei como aplicador da mesma, é o de na hora de resolver o caso, e antes de qualquer atitude, ir ao texto da lei e verificar se a lei (CHARIA), de alguma forma, oferece uma solução para aquele problema, mesmo que por aproximação.
Caso ele não encontre nenhuma solução na lei, então pode usar um artifício chamado RACIOCÍNIO POR ANALOGIA, ou seja, um algo novo que a lei não previa. Ele vai buscar na aldeia ou cidade vizinha, junto com os que já resolveram um caso semelhante ao caso em questão e resolve-se o caso através da equiparação com o caso precedente. Isso é o raciocínio por analogia.
Porém, mais uma vez, eles vão dar a seguinte interpretação: Tudo será inspirado por Deus, inclusive a inspiração dos doutores da lei. Então não há obrigação de resolver um caso do mesmo jeito que outro caso foi resolvido, porque se é Deus que tudo inspira, num caso, Deus pode ter desejado uma solução “A”, e no outro caso, uma solução “B”, então o padrão de resolução pode não ser o mesmo, precisa apenas ser semelhante, sem ser igual. É claro que ocorrem arbitrariedades às vezes... 
Não é no CORÃO e nas compilações de tradições que o juiz contemporâneo vai procurar os seus motivos de decisão, mas nos livros em que são expostas as soluções consagradas pelo IDJMA.
Deve-se lembrar que não deve haver necessariamente igualdade de casos e a lei nunca será alterada baseada nessas soluções. Logo, o direito muçulmano NÃO TEM CARÁTER JURISPRUDENCIAL, apesar de poder usar o precedente, ele não vincula os casos posteriores, não havendo obrigatoriedade de seguimento de qualquer padrão analógico, não vincula as decisões.
Para os XIITAS, povo radical que interpreta a lei ao “pé da letra”, a lei é a CHARIA. Mas para a maioria SUNITA, há leis nacionais, as constituições, e a CHARIA é a base dessas leis e constituições. A CHARIA baseia e a compreensão da penalidade será interpretada, de país para país.
Na elaboração das leis nacionais, os países SUNITAS tem procurado se modernizar e acompanhar as mudanças ocorridas no mundo ocidental, principalmente com a expansão da globalização. Por causa desse fato, muitos conflitos têm existido entre as práticas tradicionais e as leis nacionais.
O TAQLID
O dever que se impõe ao muçulmano é observar o TAQLID: deve reconhecer a autoridade dos doutores das gerações anteriores e a interpretação autônoma das fontes não lhe é permitida. Desse modo, há séculos as mesmas obras servem para o ensino do direito muçulmano.
O FIQH
É um sistema doutrinal, fundado sobre a autoridade de fontes reveladas ou cuja infalibilidade foi admitida e o Islã não reconhece a nenhuma autoridade o poder de o modificar. Os governos, nos Estados muçulmanos, não tem o poder de criar o direito e de legislar; só podem elaborar regulamentos administrativos dentro dos limites consentidos pelo direito muçulmano, sem entrar em conflito com ele.
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