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Apostila de Direito Penal

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SUMÁRIO 
 
PARTE I – NOÇÕES INTRODUTÓRIAS 
 
1. NOÇÕES INTRODUTÓRIAS .................................................................................... 06 
2. PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL ............................................................................ 14 
3. FONTES DO DIREITO PENAL .................................................................................. 24 
4. INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL ............................................................................. 28 
4.1. QUEM É O INTÉRPRETE .......................................................................................... 28 
4.2. QUE RECURSOS O INTÉRPRETE UTILIZA ................................................................. 29 
4.3. A QUE CONCLUSÃO CHEGA O INTÉRPRETE............................................................ 31 
4.4. INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA ................................................................................ 33 
5. LEI PENAL NO TEMPO ........................................................................................... 34 
6. LEI PENAL NO ESPAÇO .......................................................................................... 39 
PARTE II – TEORIA GERAL DO CRIME 
 
7. NOÇÕES INTRODUTÓRIAS .................................................................................... 45 
7.1. MODALIDADES DE INFRAÇÃO PENAL ..................................................................... 45 
7.2. PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE CRIME E CONTRAVENÇÃO PENAL....................... 45 
7.3. CONCEITOS DE INFRAÇÃO PENAL .......................................................................... 46 
7.4. CONCEITO ANALÍTICO ............................................................................................ 47 
8. TIPICIDADE .......................................................................................................... 48 
8.1. CONDUTA (1º ELEMENTO DO FATO TÍPICO) .......................................................... 49 
8.1.1. Fases da conduta ............................................................................................ 52 
A) Dolo .................................................................................................................. 53 
B) Culpa ................................................................................................................. 55 
C) Preterdolo (preterintenção) ............................................................................ 59 
D) Sistema da responsabilidade penal subjetiva ................................................ 60 
E) Ação e omissão ................................................................................................. 61 
8.2. RESULTADO (2º ELEMENTO DO FATO TÍPICO) ....................................................... 64 
8.2.1. Consumação e não consumação .................................................................... 66 
8.3. NEXO DE CAUSALIDADE (3º ELEMENTO DO FATO TÍPICO) .................................... 68 
 
 
8.4. TIPICIDADE (4º ELEMENTO DO FATO TÍPICO) ........................................................ 74 
9. ANTIJURIDICIDADE ............................................................................................... 76 
9.1. ESTADO DE NECESSIDADE ...................................................................................... 78 
9.2. LEGÍTIMA DEFESA ................................................................................................... 82 
9.3. EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO E ESTRITO CUMPRIMENTO DE DEVER LEGAL ... 86 
9.4. OFENDÍCULOS ......................................................................................................... 87 
9.5. O ELEMENTO COMUM A TODAS AS JUSTIFICANTES .............................................. 87 
9.6. DESCRIMINANTE REAL X DESCRIMINANTE PUTATIVA ........................................... 88 
10. CULPABILIDADE.................................................................................................. 89 
10.1. CULPABILIDADE COMO JUÍZO DE CENSURA ........................................................ 89 
10.2. IMPUTABILIDADE.................................................................................................. 89 
10.3. EXIGIBILIDADE DE CONDUTA CONFORME O DIREITO ......................................... 93 
10.4. POTENCIAL CONHECIMENTO DO CARÁTER ILÍCITO DO FATO ............................. 96 
10.5. RESUMO DAS EXCULPANTES ................................................................................ 98 
11. ERRO DE TIPO .................................................................................................... 99 
11.1. ERRO DE TIPO COMO GÊNERO ............................................................................. 99 
11.2. ERRO DE TIPO ESSENCIAL NA FORMAÇÃO DA VONTADE .................................... 99 
11.3. ERRO DE TIPO ACIDENTAL NA FORMAÇÃO DA VONTADE ................................... 99 
11.4. ERRO DE TIPO NA EXECUÇÃO ............................................................................. 100 
11.5. DESCRIMINANTES PUTATIVAS FÁTICAS ............................................................. 102 
PARTE III – TEORIA GERAL DA PENA 
 
12. PENAS .............................................................................................................. 106 
12.1. CONCEITO DE PENA ............................................................................................ 106 
12.2. ORIGEM ETIMOLÓGICA ...................................................................................... 106 
12.3. FUNÇÕES DA PENA ............................................................................................. 106 
12.4. PRINCÍPIOS RELATIVOS À PENA .......................................................................... 109 
12.5. MODALIDADES DE PENA (PENAS PRINCIPAIS E PENAS SUBSTITUTIVAS) .......... 111 
12.5.1. Penas privativas de liberdade (P1)............................................................. 112 
12.5.2. Pena de multa (P2) ..................................................................................... 119 
12.5.3. Aplicação da P1 e da P2 .............................................................................. 120 
A) Critérios de aplicação da P1 .......................................................................... 121 
 
 
B) Critérios de aplicação da P2 ........................................................................... 137 
12.5.4. Fixação do regime inicial de cumprimento da P1 ..................................... 138 
12.5.5. Verificação da possibilidade de substituição da P1 .................................. 139 
12.5.6. Verificação da possibilidade de “sursis” .................................................... 145 
12.5.7. Após verificação da possibilidade de “sursis” ........................................... 149 
12.5.8. Efeitos da condenação................................................................................ 150 
13. MEDIDAS DE SEGURANÇA ................................................................................ 155 
13.1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 155 
13.2. FUNÇÕES DA MEDIDA DE SEGURANÇA.............................................................. 157 
13.3. MODALIDADES DE MEDIDA DE SEGURANÇA ..................................................... 157 
13.4. DESTINATÁRIOS DA MEDIDA DE SEGURANÇA ................................................... 157 
13.5. MEDIDA DE SEGURANÇA PROVISÓRIA ............................................................... 159 
14. CONCURSO DE CRIMES ..................................................................................... 160 
14.1. MODALIDADES DE CONCURSO DE CRIMES ........................................................160 
14.2. CONCURSO FORMAL DE CRIMES ....................................................................... 160 
14.3. CONCURSO MATERIAL DE CRIMES ..................................................................... 162 
14.4. CRIME CONTINUADO ......................................................................................... 162 
BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................ 162 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PARTE I 
NOÇÕES INTRODUTÓRIAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
1 - NOÇÕES INTRODUTÓRIAS 
 
 
 A disciplina penal, que já recebeu o nome de Direito Penal, Direito 
Criminal, Direito Protetor dos Criminosos, Direito Sancionador, Direito 
Repressivo, Direito de Defesa Social, etc., é o ramo do Direito que estuda, 
basicamente, o seguinte: 
 
1) as infrações penais (que são os crimes e as contravenções); 
2) as sanções penais (que são as penas e as medidas de segurança). 
 
 As infrações penais e as sanções penais representam, por assim dizer, o 
objeto de estudo (o conteúdo) do Direito Penal. É bem verdade que o Direito 
Penal não estuda somente as infrações penais e as sanções penais, visto que 
também estuda outros temas (por exemplo: a aplicação da lei penal no tempo, a 
aplicação da lei penal no espaço, as fontes jurídico-penais, a interpretação da lei 
penal, os princípios do Direito Penal, o conflito aparente de normas penais, as 
imunidades na esfera penal, etc.), mas, sem dúvida, o binômio infração-sanção é 
o ponto central (o cerne) do Direito Penal. 
 
 O conjunto de normas jurídicas que definem as infrações penais e 
cominam as respectivas sanções penais recebe o nome de Direito Penal 
Objetivo. Falamos em Direito Penal, aqui, no sentido de “norma agendi”, de 
complexo normativo, de conjunto de normas. E essas normas, vale dizer, 
integram o Código Penal e as diversas leis penais especiais. Assim, se 
pudéssemos colocar todas as normas de natureza penal dentro de uma caixa, 
poderíamos dizer que, dentro dessa caixa, estaria o Direito Penal Objetivo. Daí a 
explicação de André Estefam1: “(...) entende-se por direito penal objetivo o 
conjunto de normas (princípios e regras) que se ocupam da definição das 
infrações penais e da imposição de suas consequências (penas ou medidas de 
segurança)”. 
 
 O Direito Penal Objetivo para desempenhar alguma finalidade. É, 
portanto, um Direito Finalista. Mas, afinal, que finalidade seria essa? Segundo a 
maioria dos estudiosos, a finalidade do Direito Penal Objetivo é garantir proteção 
aos bens jurídicos mais importantes para o ser humano. Claudio Langroiva2 
afirma que a característica marcante do Direito Penal “está na função de 
validação ou revalidação de bens jurídicos eleitos pela sociedade frente às 
diretrizes orientadoras de um Estado Social e Democrático de Direito”. Para 
termos uma compreensão mais clara do tema, vejamos o quadro a seguir: 
 
1
 André Estefam, Direito Penal: Parte Geral, V. 1, 2 ed., São Paulo: Saraiva, 2012, p.39. 
2
 Claudio José Langroiva Pereira, Proteção Jurídico-Penal e Direitos Universais – Tipo, Tipicidade e Bem Jurídico 
Universal, São Paulo: Quartier Latin, 2008, p.48. 
7 
 
 
 
 A ideia de que o Direito Penal tem a função de proteger bens jurídicos é 
defendida pela maioria dos doutrinadores, mas não por todos. Günther Jakobs3, 
por exemplo, expoente do chamado Funcionalismo Sistêmico, entende que a 
função do Direito Penal não é proteger bens jurídicos (mesmo porque a sanção 
penal atua depois que o bem jurídico já foi violado), mas apenas reafirmar a 
vigência da norma4. É como se o Direito Penal dissesse para o infrator: “você 
infringiu a norma, e eu lhe darei uma pena para que não pensem que a norma 
violada não está em vigor”. 
 
 De qualquer modo, predomina o entendimento de que o Direito Penal 
Objetivo protege bens jurídicos5. No entanto, o Direito Penal Objetivo não se 
ocupa de todos os bens jurídicos que existem, apenas se ocupa dos bens jurídicos 
mais importantes, ou melhor, dos bens jurídicos que o legislador entende que 
são os mais importantes (ex.: vida, liberdade, integridade física, honra, 
patrimônio, etc.). Por essa razão, a doutrina costuma chamar o Direito Penal 
Objetivo de Direito Fragmentário, já que não todos, mas apenas alguns bens 
jurídicos (alguns fragmentos), são objeto de proteção do Direito Penal Objetivo. 
 
 Vamos entender melhor isso. Imaginemos que Lítio traiu sua esposa e 
matou o mordomo que flagrou o adultério. Podemos perceber que Lítio atentou 
contra dois bens jurídicos. Primeiro, atentou contra o direito de sua esposa à 
fidelidade conjugal. Depois, atentou contra o direito do à vida do mordomo. 
Como são bens jurídicos, recebem proteção do Direito (haverá, afinal, dever de 
indenizar a esposa e a família do mordomo), mas o bem jurídico relacionado à 
vida, por estar no rol dos bens jurídicos considerados mais importantes, recebe 
não só a proteção extrapenal, mas também a proteção penal, pois, além de ter o 
 
3
 Alexandre Rocha Almeida de Moraes, Direito Penal do Inimigo: a terceira velocidade do direito penal, Curitiba: 
Juruá, 2009, p.134. 
4
 Günther Jakobs apud Rogério Greco, Curso de Direito Penal: Parte Geral, V. I, 15 ed., Rio de Janeiro: Impetus, 2013, 
p.3. 
5
 Rogério Greco, Curso de Direito Penal: Parte Geral, V. I, 15 ed., Rio de Janeiro: Impetus, 2013, p.4. 
8 
 
dever de indenizar, Lítio poderá ser compelido a cumprir pena. O bem jurídico 
relacionado ao dever de fidelidade, porém, por não integrar o rol dos bens 
jurídicos considerados mais importantes, goza apenas de proteção extrapenal (no 
caso, goza da proteção do Direito Civil), não contando com a proteção penal. 
 
ATENÇÃO!!! 
 
É o legislador quem escolhe, devendo ter como fonte 
primária de inspiração a Constituição Federal6, quais são 
os bens jurídicos mais importantes, ou seja, quais são os 
bens jurídicos que merecem proteção penal. Essa escolha 
sofre influência de inúmeros fatores e pode, inclusive, 
sofrer mudança ao longo do tempo. Exemplo disso é o 
adultério, que até pouco tempo era considerado crime, 
mas deixou de sê-lo porque o legislador entendeu por 
bem considerá-lo simples ilícito civil. 
 
 A doutrina também afirma que o Direito Penal Objetivo, além de 
fragmentário, é também um Direito Subsidiário. Isso significa que somente se 
aplica o Direito Penal quando os demais ramos do Direito (Civil, Administrativo, 
etc.) são insuficientes. Vejamos um exemplo: se alguém sem habilitação dirige 
um veículo automotor sem apresentar risco no trânsito, infringe uma norma 
administrativa constante do CTB. Se o mesmo infrator, no entanto, dirige de 
forma perigosa, apenas a norma administrativa não será suficiente para coibir a 
conduta, será necessário algo mais forte, mais grave, será necessária uma norma 
penal. É por isso que dirigir perigosamente sem habilitação não é só uma 
infração administrativa, mas é também uma infração penal. O Direito Penal, 
portanto, é chamado a agir quando normas de outra natureza são insuficientes. É 
nesse sentido que se diz que o Direito Penal Objetivo atua como “ultima ratio”, 
ou seja, como última razão, como último recurso. O Direito Penal, por assim 
dizer, é a última arma de que o Estado lança mão. Podemos dizer o seguinte: os 
demais ramos atuam como se fossem medicamentos; o Direito Penal atua como 
se fosse uma cirurgia. A intervenção cirúrgica, como se sabe, só se realiza quando 
a medicação, por si só, é insuficiente. 
 
 O Direito Penal Objetivo, portanto, é finalista, fragmentário e subsidiário. 
Além disso, é um Direito Sancionador.É sancionador porque sua força (e o 
Direito Penal Objetivo é justamente o instrumento mais forte, mais grave, que o 
Estado utiliza) está justamente no fato de estabelecer sanções graves ao infrator. 
As sanções penais são graves, atentam em geral contra a liberdade do indivíduo e 
maculam o nome do infrator (o nome do condenado, afinal, ingressa no rol dos 
culpados). O Direito Penal Objetivo é sancionador, portanto, porque se vale da 
aplicação de sanções penais em face de quem realiza determinado tipo de ilícito. 
 
6
 Rogério Greco, Curso de Direito Penal: Parte Geral, V. I, 15 ed., Rio de Janeiro: Impetus, 2013, p.4. 
 
9 
 
 Além de finalista, fragmentário, subsidiário e sancionador, o Direito Penal 
Objetivo é também um Direito Cultural. Por que cultural? Porque suas normas 
estabelecem um dever-ser, visto que determinam como os seres humanos 
devem agir (ideal). Diferente seria se determinasse como os seres humanos 
efetivamente agem (real), caso em que seria um Direito Natural. 
 
 Agora que sabemos o que é “Direito Penal Objetivo” e quais são as suas 
características, devemos enfrentar a seguinte questão: o que é Direito Penal 
Subjetivo? 
 
 Por Direito Penal Subjetivo se entende o direito que o Estado possui de 
punir aquele que comete uma infração penal. Em outras palavras: Direito Penal 
Subjetivo é o direito que tem o Estado de aplicar sanção penal em face de quem 
viola o Direito Penal Objetivo. Esse direito de punir (em latim: “jus puniendi”) 
cabe sempre, e exclusivamente, ao Estado. Nunca, em hipótese alguma, o direito 
de punir pertence à pessoa física vitimada pela infração, nem mesmo nas 
ocasiões em que a ação penal tem como titular o particular (a chamada ação 
penal privada, que se procede mediante queixa), pois, aqui, apenas o direito de 
mover a ação é que se transmite ao particular, e não o direito de punir o infrator. 
Assim, podemos afirmar sem medo de errar: o Direito Penal Subjetivo pertence 
exclusivamente ao Estado. 
 
 É por essa razão que, em toda infração penal, o Estado é considerado 
vítima, seja direta ou indireta. Assim, por exemplo, o homicídio tem sempre dois 
tipos de vítima: a pessoa morta (vítima direta) e o Estado (vítima indireta). Ora, é 
por isso que a disciplina penal pertence ao ramo do Direito Público, e não ao 
ramo do Direito Privado. Isso porque, diferente do Direito Civil e de outros ramos 
do Direito Privado, que lidam com interesses predominantemente individuais, o 
Direito Penal cuida de interesses predominantemente coletivos. Basta ver o 
seguinte exemplo: se o seu vizinho da esquerda deixa de pagar o seu vizinho da 
direita, você não se importa, pois são interesses que vinculam apenas os dois; 
mas se o seu vizinho da direita se irrita com o inadimplemento e mata o seu 
vizinho da esquerda, certamente você se importa, como também se importam 
todos que moram na mesma rua, pois um homicídio não ofende somente os 
envolvidos de modo direto, mas choca toda a coletividade. A conclusão, 
portanto, não poderia ser outra: o Direito Penal é um ramo do Direito Público. 
 
 Agora que sabemos distinguir “Direito Penal Objetivo” de “Direito Penal 
Subjetivo”, devemos abordar mais uma classificação, qual seja, a que coloca em 
lados opostos o Direito Penal do Cidadão e o Direito Penal do Inimigo. 
 
 O Direito Penal do Inimigo é o Direito Penal despido de garantias, 
destinado aos criminosos que se mostram, a partir de seu comportamento, 
verdadeiros inimigos do Estado. Trata-se de um Direito Penal de Guerra, que visa 
a combater os adversários da sociedade. O Direito Penal do Cidadão, por sua vez, 
10 
 
é o Direito Penal Garantista, destinado às pessoas que, embora venham a 
praticar infrações penais, não são consideradas inimigas, pois a criminalidade, 
para elas, representa conduta pontual, e não sinal de verdadeira renúncia ao 
pacto social. 
 
APROFUNDAMENTO: 
 
A classificação “Direito Penal do Inimigo X Direito Penal do 
Cidadão” foi elaborada pelo jurista alemão Günther 
Jakobs, com inspiração na Teoria dos Sistemas de Niklas 
Lhumman e no suporte filosófico de Rousseau, Fichte, 
Hobbes e Kant. 
Jakobs falou sobre o assunto, pela primeira vez, em 1985, 
numa palestra em Frankfurt. Nessa ocasião, Jakobs 
explicou a classificação, mostrou que tal já vinha se 
comportando como tendência do Direito alemão da 
época, e terminou criticando a referida tendência. 
Em 1999, porém, Jakobs voltou a falar sobre o tema, mas 
agora defendendo o tratamento diferenciado para os 
“inimigos”. 
Mas quem, na visão do professor alemão, poderia ser 
tratado como “inimigo”? Vejamos: “Criminosos econômicos, 
terroristas, delinquentes organizados, autores de delitos 
sexuais e de outras infrações penais perigosas são os indivíduos 
potencialmente tratados como ‘inimigos’, aqueles que se 
afastam de modo permanente do Direito e não oferecem 
garantias cognitivas de que vão continuar fiéis à norma”7. 
E como, afinal, é tratado o “inimigo”? O Direito Penal do 
Inimigo é um Direito Penal desprovido de garantias penais 
e processuais, um Direito Penal descompromissado com o 
Princípio da Proporcionalidade da Pena, um Direito Penal 
capaz de punir atos meramente preparatórios, etc. Trata-
se, portanto, de um Direito Penal radicalmente diferente 
do Direito Penal do Cidadão. 
 
 
 No Brasil, a esmagadora maioria dos estudiosos se opõe ao Direito Penal 
do Inimigo, entendendo que se trata de um sistema falho, criticável por não 
estabelecer critérios seguros de eleição do inimigo. Apesar disso, há quem 
sustente que, no sistema pátrio, existem alguns pequenos fragmentos de Direito 
Penal do Inimigo, como é o caso, por exemplo, do Regime Disciplinar 
Diferenciado (RDD), que estudaremos no momento oportuno. 
 
 
7
 Alexandre Rocha Almeida de Moraes, Direito Penal do Inimigo: A Terceira Velocidade do Direito Penal, Curitiba: 
Juruá, 2009, p.195. 
11 
 
 Para que possamos finalizar esta parte introdutória, devemos examinar, 
ainda, três classificações importantes, a saber: 
 
 
 
 Com relação à classificação 1, devemos entender por Direito Penal 
Material (ou Substantivo) o conjunto normativo que versa sobre as infrações 
penais e suas respectivas sanções, coincidindo com o conceito de Direito Penal 
Objetivo, já analisado anteriormente. Daí Cleber Masson8 afirmar que o Direito 
Penal Material é “a totalidade de leis penais em vigor”. O Direito Penal Formal 
(ou Adjetivo), por sua vez, é o conjunto de normas que regulam o procedimento 
de aplicação do Direito Penal Material. Na verdade, o Direito Penal Formal é um 
direito procedimental, hoje chamado de Direito Processual Penal. Este regula o 
procedimento pelo qual se dá a efetiva aplicação do Direito Material. Com 
intenção didática, utilizemos um exemplo figurativo: se Amerício compra um livro 
pela internet, o livro é como se fosse o seu direito material. Entretanto, há um 
procedimento para que o livro lhe seja entregue, e esse procedimento (que 
disciplina o transporte efetuado pelo correio) é como se fosse o direito 
processual, ou seja, é o meio procedimental de entrega do direito material a seu 
titular. 
 
O PROBLEMA É QUE: 
 
O problema é que, atualmente, não faz mais sentido chamar o 
Direito Processual Penal de Direito Penal Formal. É que, hoje, a 
esmagadora maioria dos estudiosos entende que o Direito 
Processual Penal é uma disciplina autônoma, que goza até mesmo de 
princípios próprios, não devendo ser tratado como mero capítulo do 
Direito Penal9. Assim, atualmente, não há que se falar em Direito 
Penal Material e Direito Penal Formal, mas em Direito Penal e Direito 
Processual Penal. 
 
 
8
 Cleber Masson, Direito Penal: Parte Geral, V.I, 8 ed., São Paulo: Método, 2014,p.16. 
9
 Magalhães Noronha, Direito Penal, V.I, 9 ed., São Paulo: Saraiva, 1973, p.10. 
Direito Penal Material e 
Direito Penal Formal (1) 
Direito Penal do Fato 
e Direito Penal do 
Autor (3) 
Direito Penal Comum 
e Direito Penal 
Especial (2) 
12 
 
 No tocante à classificação 2, devemos entender por Direito Penal Comum 
o conjunto de normas penais que se destinam às pessoas em geral, e não a um 
grupo específico. Direito Penal Especial, por sua vez, é o conjunto de normas 
penais que se destinam a um grupo específico de pessoas, de maneira que o 
próprio órgão julgador é diferenciado. No Brasil, predomina o entendimento de 
que só há um Direito Penal Especial, qual seja, o Direito Penal Militar, que conta, 
inclusive, com uma codificação específica (CPM) e com uma Justiça Especializada 
(Justiça Militar ou Castrense). O restante da legislação penal, portanto, faz parte 
do Direito Penal Comum. 
 
 Por fim, devemos abordar a classificação 3. O que devemos entender a 
respeito dessa última classificação é que o Direito Penal do Fato é aquele que 
pune o cidadão em razão do que ele faz, e não em razão do que ele é. Assim, 
ainda que o sujeito seja uma pessoa de má índole, só será punido se vier a 
cometer uma infração penal. Já o Direito Penal do Autor é aquele que pune o 
cidadão em razão do que ele é, e não em razão do que ele faz. Assim, o sujeito é 
punido pelo só fato de ter má índole, independentemente da efetiva prática de 
uma infração penal. 
 
 O Código Penal brasileiro segue o Direito Penal do Fato. O cidadão é 
punido em razão do que faz, não do que é. Entretanto, existem alguns 
fragmentos (inevitáveis10) de Direito Penal do Autor no Brasil (exemplos: nas 
circunstâncias judiciais, considera-se a personalidade do agente; nas medidas de 
segurança, considera-se a periculosidade do agente; etc.). Significa dizer que o 
Direito Penal brasileiro pune o indivíduo em razão do que ela faz, mas nem por 
isso despreza as circunstâncias subjetivas envolvidas. Podemos dizer que o Brasil 
coloca num grande caldeirão o Direito Penal do Fato, temperando-o, porém, com 
pitadas de Direito Penal do Autor. 
 
QUESTÃO: 
Quanto aos caracteres do Direito Penal, assinale a alternativa 
correta: 
(A) O Direito Penal é fragmentário, pois estuda o “dever-ser”, 
diferentemente das ciências biológicas; 
(B) O Direito Penal é um ramo do Direito Privado, pois, tal qual o 
Direito Civil, trata de interesses predominantemente privados; 
(C) O Direito Penal é finalista e subsidiário; 
(D) O Direito Penal é cultural, pois trata dos bens jurídicos mais 
importantes para a sociedade. 
 
QUESTÃO: 
Julgue a sentença abaixo como verdadeira (V) ou falsa (F): 
(A) O Direito Penal é um ramo do Direito Público ( ). 
 
 
10
 André Estefam, Direito Penal: Parte Geral, V.I, 2 ed., São Paulo: Saraiva, 2012, p.42. 
13 
 
QUESTÃO: 
O Direito Penal é fragmentário porque: 
(A) Não cuida de todos os bens jurídicos, mas apenas dos mais 
importantes para a sociedade; 
(B) É apenas um dos vários ramos do Direito Privado; 
(C) Estabelece sanção penal individualizada para cada infração 
penal; 
(D) Protege todos os bens jurídicos tutelados pelo ordenamento. 
 
QUESTÃO: 
Diferencie o pensamento de Claus Roxin e de Günther Jakobs no 
tocante à finalidade do Direito Penal, explicitando, em seguida, 
a sua opinião acerca do tema. 
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14 
 
2 - PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL 
 
 
 Para cumprir o seu papel de forma legítima, o Direito Penal deve obedecer 
a uma série de princípios. 
 
 Princípio significa base. Os princípios de uma casa, por exemplo, são os 
seus alicerces. Se um princípio é atingido, o próprio sistema padece. Os 
princípios, portanto, são premissas éticas extraídas da consciência popular que 
orientam todo o sistema normativo. São orientações que, sejam ou não 
reduzidas a normas escritas, estruturam o sistema. Assim, o ordenamento 
jurídico não deve conter normas que contrariem os princípios. Não é o conjunto 
de princípios, portanto, que deve se ajustar às normas; são as normas que devem 
se ajustar aos princípios. 
 
 Diante disso, cabe a seguinte pergunta: quais são os princípios que 
orientam o Direito Penal? Quais são, afinal, as bases que devem estruturar o 
sistema normativo penal? 
 
 É difícil encontrar unanimidade entre os autores no que tange à lista de 
princípios penais. Apresentaremos, a seguir, os que constam da maioria dos 
manuais: 
 
1. Princípio da Reserva Legal 8. Princípio da Culpabilidade 
2. Princípio da Anterioridade 9. Princípio da Alteridade 
3. Princípio da Taxatividade 10. Princípio da Pessoalidade 
4. Princípio da Irretroatividade Maléfica 11. Princípio da Individualização da 
Pena 
5. Princípio da Analogia Benéfica 12. Princípio da Humanidade da 
Pena 
6. Princípio da Intervenção Mínima 13. Princípio do “Ne bis in idem” 
7. Princípio da Lesividade 14. Princípio da Proporcionalidade 
da Pena 
 
 O Princípio da Reserva Legal11 estabelece que, não havendo lei, não há 
que se falar em crime, muito menos em pena (“nullum crimen nulla poena sine 
lege”). Significa que um fato só pode ser considerado infração penal (crime ou 
contravenção) e só pode ensejar a aplicação de uma sanção penal (pena ou 
medida de segurança) se houver uma lei prevendo tanto a infração quanto a 
sanção. 
 
 
11
 O Princípio da Reserva Legal é também chamado de Princípio da Legalidade. Entretanto, precisamos entender que 
não se trata de uma simples legalidade, como a prevista no art.5º, II, da CF, mas de uma legalidade estrita, já que a 
infração penal depende de previsão estabelecida por lei em sentido estrito. 
15 
 
 Imaginemos, então, o seguinte exemplo: Berílio grita gol do Corinthians no 
meio da torcida do Palmeiras. Esse fato seria, porventura, uma infração penal e 
poderia receber uma sanção penal? A resposta é “não”, pois não há nenhuma lei 
estabelecendo que “gritar gol do Corinthians no meio da torcida do Palmeiras” 
constitui infração penal, muito menos cominando sanção penal. Dizemos, nesse 
caso, que o fato é atípico, pois não está tipificado (descrito) na lei como infração 
penal. 
 
 Interessa dizer, ainda, que a “lei” de que estamos falando não é um ato 
normativo qualquer. Um Decreto Legislativo, uma Medida Provisória, uma 
Resolução, por exemplo, não podem criar tipos penais, embora também sejam 
atos normativos. A lei de que estamos tratando, portanto, é a lei em sentido 
estrito (Lei Ordinária ou Lei Complementar)12. 
 
 Atualmente,quase todos os países observam o Princípio da Reserva Legal. 
Na América, o princípio aparece em todos os Códigos Penais. 
 
CURIOSIDADE: 
 
Alguns países ainda não seguem o Princípio da Reserva 
Legal. O Código Penal da Rússia, por exemplo, considera 
crime toda ação socialmente perigosa. O Código Penal da 
Dinamarca, em seu artigo 1º, estabelece que “cai sob a 
sanção da lei penal o ato cujo caráter delituoso é previsto 
pela lei dinamarquesa ou uma ação assimilável a tal ato”. 
E no Brasil, existe alguma exceção ao Princípio da Reserva 
Legal? Parece que sim. Confira-se o disposto na Lei n. 
6001/73 (Estatuto do Índio): “Será tolerada a aplicação, 
pelos grupos tribais, de acordo com as instituições próprias, 
de sanções penais ou disciplinares contra os seus membros, 
desde que não revistam caráter cruel ou infamante, 
proibida em qualquer caso a pena de morte”. 
 
 
 O segundo princípio é o Princípio da Anterioridade, considerado 
decorrência do Princípio da Reserva Legal (“Nullum crimen nulla poena sine lege 
praevia”). De acordo com esse princípio, não basta que exista lei definindo o fato 
como infração penal, sendo necessário que a lei já esteja em vigor quando da 
prática da infração13, id est, seja anterior (prévia) em relação ao fato. 
 
 
 
12
 Parte da doutrina entende que a norma de natureza constitucional também pode criar infrações penais e cominar 
penas. 
13
 Considera-se praticada a infração no momento da ação ou da omissão, ainda que outro seja o momento do 
resultado (Teoria da Atividade). 
16 
 
 O terceiro princípio é o Princípio da Taxatividade (Princípio do Mandato 
Certeza ou Princípio da Determinação), também considerado decorrência do 
Princípio da Reserva Legal (“Nullum crimen nulla poena sine lege certa”). Para 
esse princípio, a lei que define infrações penais e comina sanções penais deve ser 
taxativa, isto é, deve ser clara, objetiva, precisa, extreme de dúvidas. A lei penal 
que gera incerteza não presta, é inconstitucional. Basta lembrarmos, como 
exemplo de lei carente de taxatividade, a lei penal alemã de 1935, que definia 
como infração passível de pena o comportamento que atentasse contra o são 
sentimento do povo. Ora, o que vem a ser “são sentimento do povo”? A 
expressão é vaga, imprecisa, nebulosa. É expressão que não pode constar de uma 
norma penal. 
 
 O quarto princípio é o Princípio da Irretroatividade da Lei Penal Maléfica 
(ou Princípio da Retroatividade Benéfica). Esse princípio, seguindo a mesma 
linha do Princípio da Anterioridade, estabelece que a lei surgida após o 
cometimento do fato só pode ser aplicada ao agente se lhe trouxer benefício, ou 
seja, se de algum modo for favorável ao acusado. Por exemplo: em janeiro de 
2010, Rubídio pratica um crime cuja pena é de 02 (dois) anos de reclusão, mas 
em abril de 2010, a lei é alterada e a pena passa a ser de 01 (um) ano de 
reclusão. Nesse caso, pelo fato de ser a lei posterior mais benéfica para o agente, 
é ela que deverá ser aplicada. 
 
 Cumpre esclarecer que, no ordenamento jurídico brasileiro, existe uma 
importante exceção ao Princípio da Retroação Benéfica. Trata-se da lei que passa 
a vigorar a partir da autorrevogação da lei excepcional ou temporária, conforme 
dispõe o art.3º do Código Penal. Tal exceção, porém, será comentada com mais 
profundidade no momento oportuno. 
 
 O quinto princípio é o Princípio da Analogia Benéfica (ou Princípio da 
Analogia “in bonam partem”). Para que possamos entender esse princípio, 
precisamos compreender, primeiramente, o que é analogia. Então, vejamos: 
 
Caso A Análogo ao caso B Regulado pela lei X 
Caso B Análogo ao caso A Não regulado por lei 
Analogia: aplicação da lei X ao caso B. 
 
 Um exemplo pode nos ajudar a entender o quadro acima. Vamos imaginar 
que o CP estabeleça que é crime vestir a camisa do Atlético Mineiro14, mas não 
faça menção à camisa de qualquer outro clube. De repente, alguém é preso por 
vestir a camisa do Botafogo, que é muito parecida com a do Atlético Mineiro. 
Ora, seria possível, nesse caso, aplicar pena ao agente em razão de serem 
semelhantes os fatos? A resposta é “não”, inadmissível que é a analogia maléfica. 
 
 
14
 Seria inadmissível uma figura criminosa como essa, pela absoluta ausência de lesividade da conduta. O exemplo, no 
entanto, tem a finalidade didática de fazer o leitor compreender o que é “analogia”. 
17 
 
 Em benefício do acusado, por outro lado, a analogia seria possível? Sim, 
em benefício sim. Trata-se da chamada analogia “in bonam partem”, que pode e 
deve ser realizada no âmbito criminal. Assim, podemos sumular: em matéria 
penal, admite-se o emprego de analogia apenas em benefício do acusado, jamais 
em seu prejuízo. 
 
 O sexto princípio é o Princípio da Intervenção Mínima (ou Princípio da 
Subsidiariedade). Esse princípio estabelece que o Direito Penal só pode interferir 
na vida social em último caso, como recurso derradeiro (“ultima ratio”), isto é, 
quando os demais ramos (Direito Civil, Direito Administrativo, etc.), por si sós, 
são insuficientes15. Por exemplo: se alguém deixa de pagar a mensalidade da 
escola, o problema é resolvido por meio de execução cível ou por meio do 
sistema de penas do Direito Criminal? É óbvio que se resolve o problema na 
esfera cível, sendo esta suficiente. Transformar o simples inadimplemento em 
infração penal seria ferir o Princípio da Intervenção Mínima, já que tal princípio 
determina que o Direito Penal deve se reservar aos casos mais graves, às 
situações extremas. 
 
 A ideia é de que o Direito Penal é um mal necessário, e por ser um mal, 
quanto menos Direito Penal melhor. Eis o centro do Princípio da Intervenção 
Mínima, eis o cerne do chamado minimalismo penal. No entanto, há quem 
sustente, colocando-se numa posição mais radical, que o Direito Penal é um mal 
desnecessário, razão pela qual não deveria sequer existir. Essa é a ideia defendida 
pelo Programa Abolicionista. Os abolicionistas, portanto, dentre os quais ocupa 
posição de destaque o holandês Louk Hulsman, não querem apenas um Direito 
Penal Mínimo, querem, na verdade, o fim do Direito Penal. 
 
 O mundo atual, no entanto, caracterizado por uma sociedade de risco, tem 
caminhado na contramão da Intervenção Mínima e, principalmente, na 
contramão do Abolicionismo Penal. O Direito Penal tem sofrido, na verdade, uma 
grande expansão, já que tenta acudir às novas formas de criminalidade que 
surgem diariamente. Assim, em vez de se reduzir, o Direito Penal tem se 
ampliado, abrangendo condutas que sequer deveriam ser abrangidas. Trata-se do 
chamado Expancionismo do Direito Penal. 
 
 O sétimo princípio é o Princípio da Lesividade (ou Princípio da 
Ofensividade). Esse princípio estabelece que só pode ser considerado infração 
penal o fato que possui, no mínimo, potencial de lesar, de ofender um 
determinado bem jurídico. Em outras palavras, o fato que não gera sequer risco 
de lesão constitui um indiferente penal. Por exemplo: Tecnécio tenta derrubar o 
Cristo Redentor com golpes de travesseiro. Por acaso Tecnécio deve ser punido 
penalmente? Não, a “tentativa de dano”, nesse caso, não chegou a causar risco 
ao bem atacado (a integridade do monumento não foi sequer ameaçada), pelo 
 
15
 Rogério Greco, Curso de Direito Penal: Parte Geral, V. I, 15 ed., Rio de Janeiro: Impetus, 2013, p.47. 
 
18 
 
que se deve aplicar a regra do art.17 do CP, reconhecendo-se o chamado crime 
impossível, com a consequente absolvição do agente. 
 
 Alguns autores costumam citar como princípio autônomo o chamado 
Princípio da Insignificância (ou Princípio da Bagatela). A verdade, porém, é que o 
referido princípio nada mais é do que desdobramento do Princípio da Lesividade.É que, pelo Princípio da Insignificância, não se pune o agente se o seu 
comportamento gerou uma lesão tão pequena a ponto de ser absolutamente 
irrelevante (por exemplo: Rutênio furta um clips da faculdade). Ora, a lesão por 
demais pequena equivale à ausência de lesão e, por isso, deve ser penalmente 
desconsiderada. 
 
 O oitavo princípio é o Princípio da Culpabilidade. Esse princípio tem duas 
dimensões. Em primeiro lugar, estabelece que não se pode falar em infração 
penal se o indivíduo atuou sem dolo e sem culpa (“Nullum crimen sine culpa”). 
Por exemplo: Cádmio cobra uma falta em direção ao gol, e o goleiro, ao encaixar 
a bola, sofre uma parada cardíaca, devido à força do chute. Ora, nesse caso, 
Cádmio não pode responder por crime, pois não teve dolo de matar o goleiro, 
nem teve culpa na produção do resultado, já que atuou em conformidade com as 
regras do esporte. Em segundo lugar, o princípio em tela estabelece que não se 
pode aplicar pena se o indivíduo atuou sem culpabilidade, ou seja, sem 
imputabilidade, potencial conhecimento da ilicitude ou exigibilidade de conduta 
diversa, elementos que estudaremos mais à frente. 
 
 O nono princípio é o Princípio da Alteridade (ou Princípio da 
Transcedentalidade). Esse princípio estabelece que não há infração penal se a 
lesão causada atinge exclusivamente a própria pessoa que pratica o 
comportamento. Assim, por mais imoral que possa ser a conduta, não constituirá 
infração penal se não prejudicar “o outro”. Por exemplo: a prostituição e a 
tentativa de suicídio não são infrações penais, pois não lesam senão o próprio 
autor da conduta (se é que lesam). Da mesma forma, a autolesão só configura 
infração penal quando tem por objetivo enganar alguém com vistas à obtenção 
de vantagem econômica, como na hipótese de se pretender indenização ou 
benefícios previdenciários. 
 
 O décimo princípio é o Princípio da Intransmissibilidade da Pena (ou 
Princípio da Pessoalidade). Segundo esse princípio, a pena não pode passar da 
pessoa do condenado, ou seja, a pena só pode ser aplicada ao sujeito ativo da 
infração penal (autor ou partícipe). Assim, não se pode prender o pai do 
criminoso em razão de crime cometido por seu filho. Interessante que, na 
história do Brasil, nem sempre se observou o referido princípio: os descendentes 
de Tiradentes, por exemplo, foram punidos pelas infrações atribuídas ao mártir. 
 
 O décimo primeiro princípio é o Princípio da Individualização da Pena. O 
processo de individualização da pena se dá em três etapas. A primeira etapa é a 
19 
 
individualização legislativa, momento em que o legislador estabelece uma pena 
específica para cada infração penal (não poderia o legislador, por exemplo, 
cominar a mesma pena para todos os crimes previstos no CP). A segunda etapa é 
a individualização judicial, momento em que o Juiz fixa a pena levando em conta, 
inclusive, aspectos pessoais do condenado (não poderia o juiz, por exemplo, fixar 
a mesma pena para todos que praticam determinado tipo de infração, pois, 
dentre eles, uns são primários e outros reincidentes, uns possuem conduta social 
favorável e outros apresentam histórico social inadequado, e assim por diante). A 
terceira e última etapa diz respeito à individualização executória, momento em 
que o cumprimento da pena tem de ser individualizado (a separação entre 
presos e presas, entre reincidentes e primários, entre condenados por crime 
sexual e apenados pela prática de outros delitos, são apenas alguns exemplos de 
individualização executória). 
 
 O décimo segundo princípio é o Princípio da Humanidade da Pena. De 
acordo com esse princípio, a pena deve ser aplicada com absoluto respeito à 
dignidade da pessoa humana. Isso significa que o apenado, por pior que tenha 
sido o crime por ele cometido, deve ser tratado como ser humano, pelo que são 
vedadas a pena de morte, a pena de caráter perpétuo, a pena cruel, a pena 
desumana, a pena degradante, a pena de trabalho forçado, etc. 
 
INTERESSANTE!!! 
 
A pena de morte, proibida como regra, é permitida na 
hipótese de guerra externa (ex.: soldado brasileiro que, em 
guerra contra outro país, trai sua pátria, fica sujeito à pena 
de morte por fuzilamento). Fora dessa exceção, não há 
pena de morte no Brasil, embora tenha havido, como pena 
comumente aplicada, na história do Direito Penal brasileiro. 
A pena de prisão perpétua também é proibida. Daí por que 
a pena privativa de liberdade não pode ser cumprida além 
do limite de 30 (trinta) anos. Isso não significa que o Juiz é 
impedido de aplicar, na sentença, pena superior a esse 
limite, mesmo porque os benefícios da execução da pena 
(ex.: progressão de regime) são calculados com base na 
pena aplicada pelo Juiz, a qual pode ultrapassar em muito 
esse limite de 30 (trinta) anos. O que não se admite, no 
Brasil, é que o sujeito cumpra, por uma só condenação, 
mais de 30 (trinta) anos de prisão, conforme estabelece o 
art.75 do CP. 
 
 
 
 
 
20 
 
 O décimo terceiro princípio é o Princípio do “Ne bis in idem”. Esse 
princípio estabelece que ninguém pode ser punido mais de uma vez pelo mesmo 
fato ou circunstância. Por exemplo: se alguém pratica um homicídio por motivo 
torpe, não pode responder por homicídio qualificado com a agravante do art.61, 
II, do CP. A mesma circunstância (motivo torpe) não pode ser considerada duas 
vezes na aplicação da pena, ou seja, o motivo torpe (que deverá ser valorado 
como qualificadora) não poderá também ser valorado como agravante. Nas 
infrações penais, porém, que não têm o motivo torpe como qualificadora, aí sim 
o motivo torpe será valorado como agravante. Não se admite, isso sim, que o 
motivo torpe seja valorado, ao mesmo tempo, como qualificadora e agravante. 
 
O décimo quarto e último princípio é o Princípio da Proporcionalidade da 
Pena. Segundo esse princípio, a pena tem de ser proporcional à gravidade do fato 
e à personalidade do agente. Por exemplo: não poderia a pena do crime de 
homicídio ser inferior à pena do crime de lesão corporal leve. Da mesma forma, 
não poderia a pena do reincidente ser inferior à pena do primário. 
 
Alguns autores citam, ainda, o Princípio da Fragmentariedade e o Princípio 
da Adequação Social. Ora, a fragmentariedade, como vimos, não é princípio, mas 
característica do Direito Penal. Já o Princípio da Adequação Social estabelece que 
não há se falar em infração penal se o comportamento se encontra adequado 
socialmente, isto é, se o comportamento é aceito e até visto com bons olhos pela 
sociedade (por exemplo: a mãe não pode responder por crime de lesões 
corporais ao furar a orelha de sua filha para colocação de brincos, pois tal 
comportamento é admitido pela sociedade, que não vislumbra mal algum nessa 
prática)16. 
 
 Agora que conhecemos os princípios penais, podemos dizer que o Estado 
precisa respeitar todos esses princípios, pois orientam o sistema penal, 
conferindo-lhe racionalidade. A ofensa a qualquer um desses princípios – e vários 
deles se encontram previstos expressamente no art.5º da Carta Magna – atinge 
diretamente o sistema penal, causando um indesejável abalo na ordem jurídica. 
Ao aplicar o Direito Penal no caso concreto, portanto, o Juiz deve atentar, 
primeiramente, para os princípios em jogo, tomando o cuidado de preservá-los, a 
fim de que o Direito não se transforme em ferramenta de arbitrariedade. 
 
 A propósito, Luigi Ferrajoli, importante estudioso italiano, afirma que, para 
não ser um Direito Penal arbitrário e abusivo, o Direito Penal precisa se submeter 
a um Sistema de Garantias (SG)17. Para tanto, deve obedecer a 10 axiomas, a 
seguir listados: 
 
 
16
 De acordo com a LINDB, somente a lei pode revogar a lei. Assim, a aceitação social e a eventual prática de um 
costume pode afastar a aplicação da lei penal? A resposta é controvertida.Parte da doutrina admite o costume 
abolicionista, mas a grande maioria da comunidade jurídica não o admite. É por isso que o Princípio da Adequação 
Social, no Brasil, ainda sofre restrição. 
17
 Luigi Ferrajoli, Direito e Razão: Teoria do Garantismo Penal, 3 ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, p.91. 
21 
 
1) “Nulla poena sine crimine” (Não há pena sem crime) 
 
Ex.: Um Estado que aplica sanção penal a indivíduos que não 
cometeram infração penal, não tem um Direito Penal 
Garantista, mas um Direito Penal Arbitrário. 
 
2) “Nullum crimen sine lege” (Não há crime sem lei) 
 
Ex.: Um Estado que considera infração penal uma conduta não 
prevista em lei, não tem um Direito Penal Garantista, mas um 
Direito Penal Arbitrário. 
3) “Nulla lex sine necessitate” (Não há lei sem necessidade) 
 
Ex.: Um Estado cujas leis incriminam condutas que não 
necessitam de proteção penal (ex.: incriminação do uso de 
boné), não tem um Direito Penal Garantista, mas um Direito 
Penal Arbitrário. 
 
4) “Nulla necessitas sine injuria” (Não há necessidade sem lesão) 
 
Ex.: Um Estado cujas leis incriminam condutas não ofensivas a 
terceiros (ex.: prostituição), não tem um Direito Penal 
Garantista, mas um Direito Penal Arbitrário. 
 
5) “Nulla injuria sine actione” (Não há lesão sem ação) 
 
Ex.: Um Estado que considera haver lesão sem que o agente 
tenha praticado uma ação ou uma omissão (ex.: o indivíduo 
tem pensamentos maldosos, mas não chega a pô-los em 
prática), não tem um Direito Penal Garantista, mas um Direito 
Penal Arbitrário. 
 
6) “Nulla actio sine culpa” (Não há ação sem culpa) 
 
Ex.: Um Estado que pune o agente que realizou uma conduta 
sem dolo ou culpa (ex.: o jogador chutou a bola em direção ao 
gol e, sem que ninguém pudesse prever, o goleiro morreu de 
infarto), não tem um Direito Penal Garantista, mas um Direito 
Penal Arbitrário. 
 
7) “Nulla culpa sine juditio” (Não há culpa sem juízo) 
 
Ex.: Um Estado que reconhece alguém culpado e aplica pena 
sem ter havido uma decisão judicial fundamentada e 
transitada em julgado, não tem um Direito Penal Garantista, 
mas um Direito Penal Arbitrário. 
 
22 
 
8) “Nullum judicium sine accusatione” (Não há juízo sem acusação) 
 
Ex.: Um Estado que condena indivíduos sem que tenham sido 
acusados (ex.: o Juiz condena o indivíduo que sequer foi 
denunciado pelo Ministério Público), não tem um Direito 
Penal Garantista, mas um Direito Penal Arbitrário. 
 
9) “Nulla accusatio sine probatione” (Não há acusação sem prova) 
 
Ex.: Um Estado que admite acusações sem o mínimo de prova 
(ex.: o Ministério Público denuncia por auto-aborto uma 
mulher que sequer ficou grávida), não tem um Direito Penal 
Garantista, mas um Direito Penal Arbitrário. 
 
10) “Nulla probatio sine defensione” (Não há prova sem defesa) 
 
Ex.: Um Estado que admite como provada uma acusação e 
condena indivíduos sem que este tenha tido oportunidade de 
defesa, não tem um Direito Penal Garantista, mas um Direito 
Penal Arbitrário. 
 
 Como podemos observar, alguns dos princípios vistos também constituem 
axiomas do Garantismo Penal. É o caso do Princípio da Reserva Legal (axiomas 1 
e 2), dos Princípios da Intervenção Mínima (axioma 3) e da Lesividade (axioma 4), 
bem como do Princípio da Culpabilidade (axioma 5). 
 
 É importante entender que todos esses princípios e axiomas existem para 
que o Direito Penal não seja uma ferramenta de opressão, um instrumento de 
poder usado pelos mais fortes contra os mais fracos. O Direito Penal, que é um 
mal necessário, deve ser aplicado com muita cautela, com extremo cuidado. 
 
QUESTÃO: 
Quanto aos princípios do Direito Penal, assinale a alternativa 
correta: 
(A) O Princípio da Individualização da pena significa que não 
pode haver mais de um réu no mesmo processo; 
(B) O Princípio do “Ne bis in Idem” informa que o reincidente 
deve ter sua pena dobrada; 
(C) O Princípio da Ofensividade estabelece que não há crime sem 
resultado jurídico; 
(D) O Princípio da Humanidade das Penas proíbe a aplicação de 
pena de morte, mas não veda a aplicação de pena de caráter 
perpétuo. 
 
 
 
23 
 
QUESTÃO: 
Cite e explique um dos dez axiomas do Garantismo Penal: 
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
24 
 
3 - FONTES DO DIREITO PENAL 
 
 
 
 Fonte é o lugar de onde nascem as águas, é a nascente d’água. Fonte 
jurídica, por semelhança, é a nascente do Direito. 
 
 De onde nasce o Direito Penal? Nasce da União, que elabora as leis penais. 
A União, portanto, e somente ela, é a fonte material (substancial ou de produção) 
do Direito Penal. Os Estados-Membros, porém, excepcionalmente, podem 
legislar sobre Direito Penal, desde que autorizados por Lei Complementar da 
União e desde que seja para legislar sobre assunto de interesse local (Direito 
Penal Local). É o que dispõe o art.22, p.ú., da CF. 
 
 Uma vez nascido o Direito Penal, onde podemos encontrá-lo? Podemos 
encontrá-lo na lei, nos costumes e nos princípios gerais do direito. Estas são, 
portanto, as fontes formais do Direito Penal (fontes de conhecimento ou de 
cognição). É a partir dessas fontes que podemos conhecer o Direito Penal18. 
 
 A lei é a fonte formal direta (ou imediata). Para conhecermos o Direito 
Penal, precisamos consultar a lei. É a lei penal que descreve as infrações penais e 
comina as respectivas sanções (leis penais incriminadoras), que permite condutas 
(leis penais permissivas), que fornece definições (leis penais explicativas, 
supletivas ou complementares). 
 
 Os costumes e os princípios gerais do direito são fontes formais indiretas 
(ou mediatas). Temos que consultar os costumes para bem conhecermos certas 
expressões utilizadas pela lei (os costumes, portanto, servem como material de 
interpretação penal). É a partir dos costumes, por exemplo, que podemos saber 
o que significam as expressões “ato obsceno”, “repouso noturno”, etc. Segundo 
entendimento amplamente majoritário, os costumes não têm força de invalidar a 
aplicação da lei penal, ou seja, não revogam a lei, já que somente a lei tem o 
poder de revogação (art.2º, “caput”, da LINDB). Imaginemos que se torne um 
costume em São Paulo surrar o jovem que completa 12 (doze) anos para que se 
torne um varão valente. Ora, esse costume (“contra legem”) não terá força para 
afastar a incidência da lei penal, a qual poderá, a qualquer momento, ser 
devidamente aplicada. Em outras palavras: não é porque muitas pessoas 
praticam determinado comportamento, que esse comportamento se coloca fora 
do alcance do Direito Penal. O costume abolicionista, portanto, não tem sido 
aceito no Brasil. 
 
 
 
 
 
18
 Rogério Greco, Curso de Direito Penal: Parte Geral, V. I, 15 ed., Rio de Janeiro: Impetus, 2013, p.14. 
25 
 
CUIDADO!!!: 
 
Os costumes não revogam a lei, mas podem incentivar 
alterações legislativas. Em outras palavras, só a lei pode 
revogar a lei, mas os costumes podem propiciar a criação 
de uma lei que revogue a lei que já se encontra defasada.Quanto aos princípios gerais do Direito, temos que consultá-los para bem 
entendermos a direção que a lei deve tomar (os princípios gerais do Direito, 
portanto, servem como material regulador do sistema penal). É a partir dos 
princípios gerais do Direito, por exemplo, mais especificamente do Princípio da 
Adequação Social, que não se pune a mãe que fura a orelha da filha para lhe 
colocar brincos. Ora, o princípio, nesse caso, está servindo para regular o sistema 
penal. Aliás, a aplicação de um princípio geral do direito pode até mesmo afastar 
a aplicação de certos dispositivos legais que contrariem o sistema. Note-se, por 
exemplo, que o art.155, §4º, I, do CP qualifica a conduta de quem, para furtar um 
toca CD, quebra o vidro do veículo, mas o Princípio da Proporcionalidade da Pena 
pode ser invocado para afastar a referida qualificadora, já que a conduta de 
quem quebra o vidro do veículo para subtrair o próprio veículo (fato mais grave) 
não contém qualificadora. 
 
 Tudo que acabamos de ver sobre fontes do Direito Penal se encaixa no que 
podemos chamar de classificação tradicional (ou clássica) das fontes jurídico-
penais. Tradicionalmente, portanto, as fontes do Direito Penal são apenas essas 
que já vimos. Alguns poucos doutrinadores, na verdade, acrescentam, ainda, a 
doutrina e a jurisprudência. 
 
 Atualmente, no entanto, a classificação das fontes jurídico-penais é 
sensivelmente diversa. Na classificação moderna, as fontes do Direito Penal são 
as seguintes: 
 
Fonte Material Fontes Formais Diretas Fontes Formais Indiretas Fontes Informais 
1)União; 
2)Estado-membro 
(Direito Penal Local). 
1)Lei; 
2)Constituição Federal; 
3)Tratado internacional sobre 
direitos humanos; 
4)Ato que completa a norma 
penal em branco; 
5)Jurisprudência; 
6)Princípio geral do direito. 
1)Doutrina. 
 
1)Costume. 
 
 Como podemos observar, a fonte material do Direito Penal continua sendo 
a União (e excepcionalmente o Estado-Membro, no que tange ao Direito Penal 
Local). Nesse ponto, não há divergência entre as classificações tradicional e 
moderna. 
 
 
26 
 
 No tocante às fontes formais diretas, por outro lado, a mudança é 
considerável. A lei, obviamente, continua sendo considerada fonte formal direta 
(e, aliás, continua sendo a única fonte capaz de criar infrações penais e cominar 
sanções penais). A classificação moderna, porém, acrescenta mais cinco fontes, 
que, apesar de não poderem criar infrações penais nem cominar sanções penais, 
atingem de forma direta a cognição do Direito Penal. A primeira dessas fontes 
acrescidas é a Constituição Federal, que exerce o importante papel de 
estabelecer mandados mínimos de criminalização. 
 
 Mandados mínimos de criminalização: 
 
O que são mandados mínimos de criminalização? São 
limites impostos pela Constituição Federal ao legislador 
penal. Um exemplo de mandado mínimo se encontra na 
imprescritibilidade do crime de racismo. É a lei penal que 
pode tipificar a conduta racista e estabelecer a respectiva 
sanção penal, mas o legislador não pode estabelecer, visto 
que impedido pelo CF, prazo de prescrição para o racismo. 
Outro exemplo de mandado mínimo de criminalização diz 
respeito à inafiançabilidade dos crimes hediondos e 
equiparados. Tais crimes são previstos pela lei, mas o 
legislador penal não pode permitir a liberdade provisória 
mediante fiança quando o crime imputado é hediondo ou 
assemelhado, pois a CF vedou essa concessão. 
 
 
 Os tratados internacionais sobre direitos humanos, na classificação 
moderna, também são considerados fontes formais diretas do Direito Penal. Não 
podem criar infrações penais nem cominar penas, mas servem, principalmente, 
como cartilha de garantias penais e processuais, cabendo frisar que, quando 
aprovados no Brasil por meio do qualificado processo de aprovação das emendas 
à Constituição, adquirem status constitucional. 
 
 Na classificação moderna, também são fontes formais diretas os atos 
administrativos que complementam as chamadas normas penais em branco 
heterogêneas19. A Portaria da ANVISA, por exemplo, que arrola as drogas 
consideradas ilícitas, é um ato administrativo que também contribui para o 
conhecimento do Direito Penal. 
 
 
19
 Norma penal em branco é a norma que depende de complementação. Por exemplo: o art.236 do CP prevê o crime 
de contrair casamento induzindo alguém em erro essencial, mas não arrola as hipóteses de erro essencial, as quais 
são listadas pelo art. 1.557 do CC. O referido dispositivo do Código Civil, nesse caso, complementa a norma penal em 
branco do art.236 do CP. Quando o complemento é feito por um ato normativo de mesma hierarquia do CP, a norma 
penal em branco é chamada de homogênea (é o caso do art.236 do CP, complementado pelo art. 1.557 do CC). 
Quando, porém, o complemento é feito por um ato normativo de hierarquia inferior, a norma penal em branco se 
chama heterogênea (é o caso do art.33 da Lei de Drogas, complementado por uma Portaria da ANVISA). 
 
27 
 
 Modernamente, a jurisprudência também é considerada fonte formal 
direta do Direito Penal. Basta ver, por exemplo, a determinante influência 
jurisprudencial na compreensão do crime continuado (art.71 do CP). É, afinal, a 
jurisprudência que, analisando a identidade temporal (“mesma circunstância de 
tempo”), fixa o limite máximo de 30 (trinta) dias entre uma ação e outra. 
 
 O mesmo se pode afirmar em relação aos princípios gerais do Direito. Ora, 
colocar a lei como fonte direta e os princípios como fontes indiretas é como 
rebaixar os princípios a patamar inferior ao da lei, o que é inadmissível. Os 
princípios são, na classificação moderna, fontes formais diretas do Direito Penal. 
Não raramente, as decisões judiciais passam por cima do frio texto da lei, e 
acertam nesse ponto, para darem aplicação concreta a um princípio geral. Como 
exemplo, podemos trazer à lembrança o Princípio da Proporcionalidade da Pena, 
que já foi invocado, em decisão proferida pelo STJ, para afastar a qualificadora do 
furto de Toca CD mediante quebra do vidro do veículo. 
 
 A doutrina, por sua vez, é considerada fonte formal indireta. A “communis 
opinio doctorum” contribui, de modo indireto, para o conhecimento do Direito 
Penal. Na doutrina clássica, alguns poucos autores já a incluíam na lista de fontes 
formais. Nesse ponto, portanto, não houve mudança. 
 
 Com relação aos costumes, por fim, a classificação moderna os reconhece 
como fontes, porém como fontes informais do Direito Penal. 
 
QUESTÃO: 
Quanto às fontes do Direito Penal, é correto afirmar que: 
(A) A lei é a única fonte material do Direito Penal; 
(B) A União é fonte material do Direito Penal e pode, por lei 
complementar, autorizar os Estados-membros a legislarem sobre 
Direito Penal Local; 
(C) Os costumes não são fontes do Direito Penal, pois só a lei 
pode revogar a lei, sendo inadmissível o costume abolicionista; 
(D) Os princípios gerais do Direito são fontes materiais do Direito 
Penal. 
 
QUESTÃO: 
Julgue as sentenças abaixo como verdadeiras (V) ou falsas (F): 
A) Os Municípios podem legislar sobre Direito Penal ( ); 
B) A lei é fonte formal direta do Direito Penal ( ); 
C) Na classificação moderna, a CF é fonte do Direito Penal ( ); 
D) Os princípios gerais do Direito não são fontes jurídicas ( ); 
E) Não se admite, no Brasil, o chamado Direito Penal Local ( ); 
F) As fonte materiais são chamadas de fontes de cognição ( ); 
G) A lei é fonte de produção do Direito Penal ( ); 
H) Direito Penal Local é o Direito Penal Municipal ( ); 
I) A única fonte do Direito Penal é a lei ( ). 
28 
 
4 - INTERPRETAÇÃO DAS LEIS PENAIS 
 
 
 
 Interpretar significa extrair o significado do texto. Sempre que existe um 
texto, é necessário interpretar. Não existe texto que dispenseinterpretação (não 
há clareza suficiente que dispense interpretação, sendo equivocada a expressão 
“in claris cessat interpretatio”)20, pois a interpretação é necessária até mesmo 
para que a clareza do texto seja identificada. 
 
 Para que se possa falar em interpretação, portanto, deve haver um texto 
para ser interpretado. Por isso, o emprego de analogia (ou integração analógica) 
não é interpretação, mas integração de lacuna. A analogia funciona assim: 
 
Caso A Análogo ao caso B Regulado pela lei X 
Caso B Análogo ao caso A Não regulado por lei 
Analogia: aplicação da lei X ao caso B. 
Obs.: em matéria penal, só é possível analogia “in bonam partem”. 
Exemplo: o art.128, II, do CP, diz que não se pune o aborto praticado em caso 
de gravidez resultante de estupro. O que fazer quando a gravidez resulta de 
violação sexual mediante fraude? É simples: são condutas semelhantes e, por 
isso, não se deve punir aquele que pratica aborto no caso de violação sexual 
mediante fraude, pois se trata de analogia benéfica para o réu. 
 
 Empregar analogia significa suprir uma lacuna da lei, solucionar o 
problema da falta de regulamentação legal. Interpretar, ao contrário, é extrair o 
significado de um texto que existe. 
 
 O ato de interpretar precisa seguir, evidentemente, alguns critérios, deve 
seguir uma lógica, uma direção. É a hermenêutica jurídica que estuda esses 
critérios, essa lógica, essa direção. Hermenêutica, portanto, é o nome que se dá 
à Ciência da Interpretação21. 
 
 No estudo da interpretação das leis penais, interessa tratar de três 
questões: 1) quem é o intérprete?; 2) que recursos o intérprete utiliza?; e 3) a 
que conclusão chega o intérprete? 
 
4.1. QUEM É O INTÉRPRETE? 
 
 O significado de um texto da lei penal pode ser exposto pela própria lei. Os 
intérpretes, aqui, são os próprios elaboradores do texto legal (legisladores). 
Trata-se da chamada interpretação autêntica (ou legislativa). 
 
 
20
 Rogério Greco, Curso de Direito Penal: Parte Geral, V. I, 15 ed., Rio de Janeiro: Impetus, 2013, p.33. 
21
 André Estefam, Direito Penal: Parte Geral, V.I, 2 ed., São Paulo: Saraiva, 2012, p.81. 
29 
 
Exemplos: arts. 327 e 150, §4º, ambos do CP. 
No art.327 do CP, o próprio legislador interpreta o que 
significa “funcionário público”. 
No art.150, §4º, do CP, o próprio legislador interpreta o que 
significa “casa”. 
 
 O significado do texto legal, porém, pode ser exposto pelos julgadores, os 
quais, todos os dias, são chamados a interpretar a lei no caso concreto. Aqui, 
portanto, os intérpretes são os magistrados. Trata-se da chamada interpretação 
jurisprudencial (ou judicial). 
 
Exemplos: art.155, §2º, e art.208, ambos do CP. 
No art.155, §2º, do CP, a jurisprudência interpreta “coisa de 
pequeno valor” como sendo a coisa que não excede o 
salário mínimo vigente no país. 
No art.208 do CP, a jurisprudência interpreta “objeto de 
culto” como a coisa com significado religioso, conceito que 
não abrange, por exemplo, os bancos da igreja. 
 
 O significado do texto legal pode ser, ainda, exposto pelos doutrinadores. 
Os intérpretes, aqui, são os formulados de doutrina. Trata-se da chamada 
interpretação doutrinária (ou “communis opinio doctorum”). 
 
Exemplos: art.18, II, art.22 e art.28, I, todos do CP. 
No art.18, II, do CP, a doutrina interpreta “imprudência” e 
“negligência” assim: imprudência é uma ação descuidada, e 
a negligência é uma omissão descuidada. 
No art.22 do CP, a doutrina interpreta “coação irresistível” 
como sendo a coação moral (a pressão psicológica), e não a 
coação física (a pressão corporal). 
No art.28, I, do CP, a doutrina interpreta “emoção” e 
“paixão” da seguinte forma: emoção é um sentimento 
momentâneo, e a paixão é um sentimento permanente. 
 
 Em resumo, podemos afirmar que, no tocante ao sujeito que interpreta a 
lei, a interpretação se classifica do seguinte modo: a) interpretação legislativa; b) 
interpretação jurisprudencial; e c) interpretação doutrinária. 
 
4.2. QUE RECURSOS O INTÉRPRETE UTILIZA? 
 
 O intérprete deve buscar o significado da lei penal, primeiramente, a partir 
de seu conhecimento gramatical, que compreende regras de pontuação, de 
concordância verbal e nominal, de regência verbal, de ortografia, etc. Trata-se da 
chamada interpretação gramatical (ou literal). 
 
30 
 
Exemplo: art.138 do CP. 
No art.138 do CP, basta uma interpretação literal para se 
excluir do âmbito da calúnia a hipótese em que o sujeito 
imputa a uma pessoa a prática de um crime que esta 
realmente cometeu. Basta, afinal, atentar para o significado 
gramatical do advérbio “falsamente”. 
 
 O intérprete, porém, pode não encontrar o significado da lei penal apenas 
com o recurso gramatical. Por vezes, apenas o recurso gramatical é insuficiente 
para fazer o exegeta compreender a mensagem do texto. Deverá, nesse caso, 
lançar mão de outros recursos, passando da interpretação gramatical para a 
interpretação lógica (ou teleológica). Nessa segunda etapa, realiza-se a análise 
de alguns fatores que ajudarão o intérprete a descobrir o real significado do 
texto. Esses fatores são os seguintes: a) contexto histórico; b) organização 
textual; c) sistemática legal; d) Direito Comparado; e) Direito extrapenal; f) 
conceitos extrajurídicos; etc. 
 
Exemplo 1: art.28 da Lei 11.343/2006 
No art.28, só se pode entender que se trata de “crime” 
porque a rubrica do capítulo se refere a crimes. 
 
Exemplo 2: art.141, III, do CP. 
No art.141, III, do CP, a expressão “várias pessoas” é 
interpretada sistematicamente como sendo “três ou mais”, 
pois, se fossem “duas ou mais” o legislador teria usado a 
fórmula utilizada no art.155, §4º, IV, do CP, e se fossem 
“quatro ou mais”, teria usado a fórmula utilizada no art.288 
do CP. 
 
Exemplo 3: art.236 do CP 
No art.236 do CP, a única forma de entender o que significa 
“erro essencial” é recorrer ao Código Civil. 
 
Exemplo 4: art.26 do CP 
No art.26 do CP, a única forma de entender o que significa 
“doença mental” é recorrer à Psicologia. 
 
 A interpretação gramatical, portanto, é o primeiro passo que o intérprete 
precisa dar no transcorrer do trabalho exegético. A interpretação teleológica é o 
segundo passo, que deve ser dado sempre que a interpretação literal se mostra 
insuficiente. Não são poucos os dispositivos legais carentes de interpretação 
teleológica. Quase sempre, aliás, é necessário que o exegeta ultrapasse os limites 
da literalidade do texto. 
 
 
31 
 
4.3. A QUE CONCLUSÃO CHEGA O INTÉRPRETE? 
 
 Depois de empregar os mais variados recursos de interpretação, o exegeta 
pode chegar a três possíveis conclusões. Vejamos: 
 
 1ª Conclusão: a lei penal está dizendo exatamente o que queria ter dito. 
Fala-se, neste caso, em interpretação declarativa (ou declaratória). 
 
 2ª Conclusão: a lei penal está dizendo menos do que queria ter dito (“lex 
minus dixit quam voluit”). Fala-se, neste caso, em interpretação extensiva. 
 
 3ª Conclusão: a lei penal está dizendo mais do que queria ter dito (“lex 
plus dixit quam voluit”). Fala-se, neste caso, em interpretação restritiva. 
 
 Com relação à primeira conclusão, devemos entender que o intérprete, ao 
final de seu trabalho interpretativo, apenas declara o significado da lei, sem 
ampliar nem restringir o alcance do texto, já que o significado da lei, nesse caso, 
corresponde precisamente ao sentido pretendido pelo legislador. É como se o 
intérprete dissesse: “esta lei diz exatamente o que quer dizer, razão pela qual não 
preciso estender nem restringir seu alcance”. 
 
 No tocante à segunda conclusão, devemos entender que o intérprete, 
após finalizar seu trabalho de interpretação, amplia o significado do texto legal, 
por perceber que a lei disse menos do que gostaria de ter dito. O intérpreteestica o âmbito de abrangência da lei por entender que a intenção da lei não foi 
correspondida pela literalidade do texto. É como se o intérprete dissesse: “esta 
lei disse menos do que queria ter dito, razão pela qual amplio o seu alcance, para 
que abranja também as situações que pretendeu abranger”. 
 
 Relativamente à terceira conclusão, por fim, devemos compreender que o 
exegeta, após interpretar a lei, restringe o significado do texto legal, por entender 
que a lei disse mais do que gostaria de ter dito. O intérprete reduz o âmbito de 
abrangência da lei por perceber que a intenção da lei não foi correspondida pela 
literalidade do texto. É como se o intérprete dissesse: “esta lei disse mais do que 
queria ter dito, razão pela qual restrinjo o seu alcance, para que somente as 
situações que pretendeu abranger”. 
 
Exemplo de interpretação declarativa: 
Ao interpretar o art.155 do CP, o exegeta declara 
exatamente o que o legislador pretendeu dizer: “quem 
subtrai coisa própria não pratica furto”. 
Exemplo de interpretação restritiva: 
Ao interpretar o art.213 do CP, o exegeta restringe o 
significado da palavra “alguém”, que não engloba qualquer 
pessoa, mas apenas pessoa não vulnerável, já que, em se 
32 
 
tratando de vítima vulnerável, o crime é outro (art.217-A, 
CP). Pode-se perceber que a intenção do legislador sempre 
foi tratar apenas da vítima não vulnerável, mas acabou 
dizendo mais do que queria. 
Exemplo de interpretação extensiva: 
Ao interpretar o art.123 do CP, o exegeta estende o 
significado do termo “filho” para abranger também a filha. 
Pode-se perceber que a intenção do legislador sempre foi 
englobar o produto da concepção, pouco importando o 
sexo, mas acabou dizendo menos do que queria. 
 
 Com relação à interpretação extensiva, alguém poderia fazer o seguinte 
questionamento: intepretação extensiva não é a mesma coisa que analogia? 
 
 Não, interpretação extensiva não se confunde com analogia. A analogia é 
feita quando um determinado caso não é regulado por lei (nem explícita nem 
implicitamente), seja porque houve um cochilo do legislador (a hipótese não 
regulada acabou esquecida), seja porque houve intenção do legislador (a 
hipótese não regulada foi lembrada, porém deixada sem regulamentação de 
propósito). Como só de pode falar em infração penal e sanção penal quando 
existente prévia previsão legal (Princípio da Reserva Legal), não se pode fazer 
analogia em prejuízo do acusado. Se o fato não encontra regulamentação legal, o 
autor desse fato não pode ser responsabilizado criminalmente. Daí o Direito 
Penal admitir tão-somente o emprego da analogia em benefício do acusado 
(analogia “in bonam partem”). 
 
 A interpretação extensiva, por sua vez, é feita quando um determinado 
caso, por imprecisão redacional, apenas não está regulado pela lei de forma 
explícita, sendo certo que, implicitamente, a regulação existe. Imaginemos, por 
exemplo, que um pai diga para o filho: “você está de castigo, e não poderá sair 
por esta porta até que eu permita!”. Ora, acaso o filho poderia sair pela janela? 
Não, é óbvio que não. O pai apenas não foi preciso na sua ordem, mas o seu 
comando logicamente era para que o filho não saísse de casa. Em outras 
palavras, a interpretação extensiva tem o condão de trazer à luz o que está 
subentendido na lei, serve para superar a falta de precisão do legislador. Assim 
sendo, diferentemente do que ocorre com a analogia, não se pode falar em 
violação ao Princípio da Reserva Legal quando a interpretação extensiva 
prejudica o acusado, pois a interpretação serve apenas para revelar o significado 
da lei, significado que, muitas vezes, se encontra escondido por detrás de um 
texto que não condiz com o seu real alcance. Em outras palavras: a analogia só é 
admissível no Direito Penal quando beneficia o réu; a interpretação extensiva é 
admissível no Direito Penal quer beneficie quer prejudique o acusado22. 
 
22
 Rogério Greco esclarece, no entanto, que existe uma corrente, defendida por Nélson Hungria, que pondera que a 
dúvida, em matéria de interpretação, também deve ser resolvida em benefício do réu (Rogério Greco, Curso de 
Direito Penal: Parte Geral, V. I, 15 ed., Rio de Janeiro: Impetus, 2013, p.4). 
33 
 
4.4. INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA (ou “intra legem”) 
 
 Existem leis penais que descrevem, apenas com o intuito de exemplificar, 
casos específicos (fórmula casuística) e, por meio de uma determinada expressão 
(fórmula genérica), se permitem aplicar a qualquer situação semelhante aos 
exemplos casuísticos por ela fornecidos. 
 
 A interpretação analógica, então, é a interpretação feita para descobrir se 
uma determinada situação se encaixa ou não na fórmula genérica. 
 
Exemplo: art.121, §2º, I, do CP. 
O art.121, §2º, I, do CP, traz uma fórmula casuística 
(“mediante paga ou promessa de recompensa”) e uma 
fórmula genérica (“ou outro motivo torpe”). Deve-se 
interpretar que todas as situações torpes como a paga ou 
promessa de recompensa estão abrangidas pelo 
dispositivo. É por isso que matar o pai para ficar a herança, 
por exemplo, é considerado homicídio qualificado pelo 
motivo torpe. 
 
 A interpretação analógica não se confunde com a analogia (ou integração 
analógica). A grande diferença está no fato de que, na interpretação analógica, a 
situação se encontra regulada pela lei à medida que a lei a alcança através de 
uma fórmula genérica, ao passo que, na analogia, a situação não se encontra 
regulada pela lei (há uma lacuna, portanto). 
 
QUESTÃO: 
Sobre a analogia em matéria penal, assinale a alternativa 
correta: 
(A) Não se admite em hipótese alguma, visto que o Princípio da 
Reserva Legal não comporta exceção; 
(B) Não se confunde com integração analógica; 
(C) Diferentemente da interpretação analógica, só se admite 
quando prejudica o acusado; 
(D) Distingue-se da interpretação extensiva e da interpretação 
analógica, sendo chamada de integração analógica. 
 
QUESTÃO: 
Julgue a sentença abaixo como verdadeira (V) ou falsa (F): 
Em matéria de interpretação da lei penal, vigora o Princípio do 
“In dubio pro reo” ( ). 
 
 
 
 
34 
 
 5 - LEI PENAL NO TEMPO 
 
 
 O CP estabelece, em seu art.4º, que se considera praticada a infração 
penal no momento da ação ou da omissão (Teoria da Atividade). A data da 
infração, portanto, não é a data do resultado, mas a data da conduta. Por 
exemplo: um homicídio com veneno (venefício) considera-se praticado não no 
dia em que a vítima morre (data da consumação delitiva), mas no dia em que o 
veneno lhe é ministrado (data da ação). 
 
 Com relação à lei que deve ser aplicada ao autor de uma infração penal, o 
Brasil adotou a regra do “tempus regit actum”. Isso significa que se aplica a lei 
penal vigente ao tempo do cometimento da infração penal, ou seja, aplica-se a 
lei vigente ao tempo da ação ou da omissão. 
 
Vigência da lei: 
Lei vigente é a lei que já entrou em vigor. 
A lei entra em vigor: 1) na data de sua publicação ou 2) em 
data posterior à sua publicação. É a própria lei que 
estabelece quando será o início de sua vigência. 
Quando a lei entra em vigor em data posterior à sua 
publicação (2), há um período que medeia entre a 
publicação e a entrada em vigor da lei. Esse período é 
chamado de “vacatio legis”. 
Se a lei nada diz sobre o início de sua vigência, haverá uma 
“vacatio legis” de 45 (quarenta e cinco) dias. 
O processo legislativo compreende as seguintes fases: 1) 
fase da iniciativa (o projeto de lei é apresentado às Casas 
Legislativas); 2) fase da deliberação (o projeto é discutido e 
votado); 3) fase da sanção (o projeto de lei é aprovado); 4) 
fase da promulgação

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