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Aula 07

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URGÊNCIA E EMERGÊNCIA 
EM SAÚDE MENTAL
7. Transtornos mentais na infância e adolescência – urgência para a saúde mental
 
 Diana Malito
OBJETIVOS DA AULA:
O desenvolvimento de crianças e adolescentes está condicionado a fatores diversos. Na Saúde Mental, são considerados seres singulares passíveis de adoecimento mental, com o direito de serem cuidados.
O cuidado a esse público, entretanto, é herdeiro de limitações históricas. Propomos:
 Analisar as mudanças de paradigma na atenção em saúde mental à crianças e adolescentes;
 Avaliar a especificidade das demandas em saúde mental do público infantil e juvenil.
DIFERENTES CENÁRIOS:
 Até o final do século XX: as ações relacionadas ao cuidado de crianças e adolescentes com “problemas mentais” eram delegadas aos setores educacional e de assistência social, geralmente de caráter filantrópico, com propostas mais reparadoras e disciplinares do que propriamente de saúde. Exs. das APAES e Pestalozzis.
As ações por parte do Estado eram tutelares, disciplinares e amparadas na institucionalização. Com a redemocratização do país, a Constituição de 1988 e as conquistas sociais dos anos 80 e 90, constrói-se uma direção radicalmente diversa, baseada no princípio da proteção, na premissa da criança e do adolescente como sujeitos de direitos e amparada na proposta do cuidado em liberdade. 
 Século XXI: inicia-se o processo de construção de redes de cuidado para a Saúde Mental da Criança e do Adolescente. 
Há a implantação dos Centros de Atenção Psicossocial Infantil e Juvenil (CAPSi), bem como o desenvolvimento de estratégias para articulação intersetorial da saúde mental com setores historicamente envolvidos na assistência à infância e adolescência: educação, assistência social, justiça/direitos. 
Desde 2002 o Ministério da Saúde investe recursos e dispõe orientações para superar a lacuna histórica de assistência às crianças e adolescentes por parte da saúde mental. Em 2005, estabeleceu orientações para efetivação da política pública de saúde mental infantil e juvenil. 
MARCOS LEGAIS:
 1989: Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança na ONU - afirma a criança como sujeito e cidadão de plenos direitos.
 1990: Promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) - estabelece direitos de cidadania para crianças e adolescentes, instituindo a proteção integral como orientadora das políticas e ações dirigidas a esse público. 
 2001: Promulgação da Lei 10.216 - dá institucionalidade a Reforma Psiquiátrica, ampliando o alcance de suas ações e a aplicação de seus princípios. A saúde mental passa a constituir-se como uma política de Estado ancorada na defesa dos direitos de cidadania dos “pacientes mentais”.
 2001: realização da III Conferência Nacional de Saúde Mental - constitui um divisor de águas ao priorizar o tema da SMCA, convocando o Estado à responsabilidade pelo cuidado e tratamento de crianças e adolescentes com problemas mentais, pautado em seu reconhecimento como sujeitos psíquicos e de direitos, através de dispositivos de base comunitária, territorial, operacionalizados em rede, tendo a inclusão social como o norte ético da ação de cuidado.
“Se marcos legais por si não alteram a realidade, podem, em certas circunstâncias, produzir modulações no real, agindo ativamente na inscrição social de novas concepções e práticas eticamente sustentáveis”. (COUTO;DELGADO, 2005, p.)
DIRETRIZES:
As diretrizes atuais da saúde mental estão alinhadas com os princípios do ECA, com as bases éticas da Reforma Psiquiátrica, e também com as deliberações da III e IV Conferências Nacionais de Saúde Mental, realizadas em 2001 e 2010 – que propõem a montagem de um sistema intersetorial e abrangente diante da complexidade de demandas que envolvem a saúde mental dessa população.
EFEITOS CONCRETOS:
Esse novo cenário permitiu que fossem reconhecidos frente as políticas públicas de cuidado, aspectos fundamentais da condição de sujeito psíquico de crianças e adolescentes:
 Crianças não são adultos em miniatura. São pessoas em desenvolvimento, possuem histórias de vida e experiências particulares; sofrem e expressam de diferentes maneiras seu mal-estar ou sofrimento intenso. 
 São sujeitos plenos, que podem se desenvolver, socializar, aprender, mas também serem atravessados por enigmas e problemas subjetivas, inerentes à sua condição humana. 
 Seu cuidado não pode ser reduzido à correção, normalização ou adaptação de comportamentos. 
“PROBLEMAS” x “TRANSTORNOS” NA INFÂNCIA/ADOLESCÊNCIA:
Muitos profissionais da saúde pública utilizam, no caso da saúde mental infantil e juvenil, a noção de ‘problemas de saúde mental’ no lugar da de ‘transtornos mentais’. 
As classificações atuais (CID-X e DSM-V) têm se mostrado insuficientes frente à diversidade de influências - culturais, sociais, familiares e do próprio desenvolvimento infantil - no estabelecimento de hipóteses diagnósticas dessa população. 
CID-X
 Transtornos do desenvolvimento psicológico:
F80 Transtornos específicos do desenvolvimento da fala e da linguagem
F81Transtornos específicos do desenvolvimento das habilidades escolares
F82 Transtorno específico do desenvolvimento motor
F83 Transtornos específicos misto do desenvolvimento
F84 Transtornos globais do desenvolvimento
F88 Outros transtornos do desenvolvimento psicológico
F89Transtorno do desenvolvimento psicológico não especificado
CID-X
 Transtornos do comportamento e transtornos emocionais que aparecem habitualmente durante a infância ou a adolescência:
F90 Transtornos hipercinéticos, F91 Distúrbios de conduta
F92 Transtornos mistos de conduta e das emoções
F93 Transtornos emocionais com início especificamente na infância
F94 Transtornos do funcionamento social com início especificamente durante a infância ou a adolescência
F95 Tiques
F98 Outros transtornos comportamentais e emocionais com início habitualmente durante a infância ou a adolescência
DSM-V
 Transtornos do Neurodesenvolvimento:
Transtorno do Desenvolvimento Intelectual
Transtornos da Comunicação
Transtorno do Espectro Autista 
Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade
Transtorno Específico da Aprendizagem 
Transtornos Motores
Transtornos de Tique
Outros Transtornos do Neurodesenvolvimento
 
NORTEADORES PARA A ATENÇÃO PSICOSSOCIAL:
 Sintomas emocionais (ansiedades, medos, tristezas, alterações de apetite e sono); 
 Problemas de conduta (agressividade, comportamento antissocial, agitação); 
 Atrasos do desenvolvimento; 
 Dificuldades de relacionamento; 
 Uso de drogas. 
AVALIAÇÃO INICIAL:
Identificar na primeira avaliação a presença de sintomas mais graves:
 Destrutividade persistente e/ou deliberada;
 Autoagressividade importante; Desinibição social excessiva;
 Isolamento e retração importantes e persistentes;
 Alucinações; 
 Tentativas de suicídio;
 Uso prejudicial de drogas;
 Ocorrência de doenças clínicas;
O uso de drogas não deve ser visto sempre como transgressão, mas como busca de alívio para sintomas de angústia ou ansiedade comuns na adolescência; como elemento de pertencimento a um grupo; como fator de vulnerabilidade social. Conectar-se com a experiência e o sentido do uso na vida do adolescente. É fundamental romper com o automatismo dos encaminhamentos desimplicados para a internação. 
A avaliação ampliada da saúde física e do desenvolvimento, incluindo visão, audição, cognição, linguagem e aspectos psicossociais, contribuem para clarear as hipóteses diagnósticas. Alguns medicamentos de uso crônico podem ter como efeitos colaterais sintomas psíquicos.
ESTRATÉGIAS DE CUIDADO:
 Analisar o impacto (angústia, estresse
ou prejuízo funcional) que os sintomas causam na vida da criança ou adolescente, e da família.
 Identificar os fatores que desencadearam e mantiveram o problema. 
 Identificar os pontos fortes da criança que possam auxiliar as intervenções. 
ESTRATÉGIAS DE CUIDADO:
 Conhecer o contexto de vida da criança ou adolescente (família, escola e comunidade).
 Conhecer as crenças e expectativas que a criança/adolescente e a família têm em relação aos problemas, suas causas e possibilidades de tratamento. 
 Articular-se com a rede da criança ou adolescente para potencializar o cuidado.
OS CAPSi:
 Propostos em 2002, são serviços territoriais, de natureza pública, com a função de prover atenção em saúde mental baseados na integralidade do cuidado. 
 Planejados inicialmente para as cidades com 200.000 habitantes ou mais, com a finalidade de atender casos de maior gravidade, e ordenar a demanda em saúde mental infantil e juvenil no seu território de abrangência.
 Compostos por equipes multiprofissionais contendo no mínimo um psiquiatra, neurologista ou pediatra com formação em saúde mental infantil, um enfermeiro, quatro profissionais de nível superior (entre: psicólogo, assistente social, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, pedagogo) e cinco profissionais de nível médio.
 
OS CAPSi:
 Devem se responsabilizar pelo atendimento regular de um número limitado de pacientes e de suas famílias, em regimes diferenciados de tratamento, segundo as necessidades de cada caso (intensivo, semi-intensivo e não intensivo), desenvolvendo a diversificação de atividades terapêuticas.
 São prioritários os atendimentos para autistas, psicóticos e para aqueles cujo sofrimento provoque prejuízos psicossociais severos (socialização, escolarização, etc.).
 Possuem um duplo mandato: terapêutico e gestor. O último realizado por meio do levantamento das necessidades em saúde mental presentes no contexto onde está inserido; bem como da pactuação de fluxos com diferentes serviços, visando à cobertura das demandas que, exigem cuidado e tratamento.
PRÓXIMA AULA:
O suporte aos familiares nas situações de urgência, emergência e crise na saúde mental
REFERÊNCIAS :
BRASIL, Ministério da Saúde. Caminhos para uma Política de Saúde Mental Infanto-Juvenil. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2005. < http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caminhos_politica_saude_mental_infanto_juvenil.pdf>
COUTO, Maria Cristina Ventura; DUARTE, Cristiane; DELGADO, Pedro Gabriel Godinho. A saúde mental infantil na Saúde Pública brasileira: situação atual e desafios. Revista Brasileira de Psiquiatria,  v.30,  nº4, 2008. <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462008000400015>
 
REFERÊNCIAS :
COUTO, Maria Cristina Ventura; DUARTE, Cristiane; DELGADO, Pedro Gabriel Godinho. A saúde mental infantil na Saúde Pública brasileira: situação atual e desafios. Revista Brasileira de Psiquiatria,  v.30,  nº.4, 2008. Disponível em < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462008000400015>
Sites utilizados:
http://c026204.cdn.sapo.io/1/c026204/cld-file/1426522730/6d77c9965e17b15/b37dfc58aad8cd477904b9bb2ba8a75b/obaudoeducador/2015/DSM%20V.pdf 
http://www.datasus.gov.br/cid10/V2008/WebHelp/cap05_3d.htm
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