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1 2 EDUCAÇÃO INFANTIL Saberes, valores e desafios. MARCOS L SOUZA 3 SUMÁRIO A IMPORTÂNCIA DOS PROJETOS PEDAGÓGICOS NA EDUAÇÃO INFANTIL _______________ 06 O PLANEJAMENTO NA PRÁTICA EDUCATIVA ______________________________________ 09 LIBÂNEO___________________________________________________________________ 13 PRÁTICAS EDUCATIVAS E PROJETOS NA INFÂNCIA__________________________________14 CICLO DE CURIOSIDADE E APRENDIZAGEM NA PRÁTICA_____________________________ 18 INTENSÃO PEDAGÓGICA? _____________________________________________________ 19 A IMPOTÂNCIA DA MUSICALIZAÇÃO COMO FERRAMENTA PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL_______________________________________________________22 BREVE HISTÓRICO DA MUSICALIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL______________________26 O QUE É MUSICALIZAÇÃO INFANTIL?_____________________________________________29 A MÚSICA E A CRIANÇA_______________________________________________________ 31 A PRÁTICA EDUCATIVA LÚDICA_________________________________________________ 35 CONCEPÇÕES TEÓRICAS SOBRE O LÚDICO________________________________________ 36 O PLANEJAMENTO ESCOLAR PARA TRABALHAR A LUDICIDADE_______________________ 42 O LÚDICO E ÀS PRÁTICAS METODOLÓGICAS DE ENSINO_____________________________45 A IMPORTÂNCIA DAS ATIVIDADES LÚDICAS NAS PRÁTICAS EDUCATIVAS DO ENSINO INFANTIL _____________________________________________47 O LÚDICO NA PERSPECTIVA DOS TEÓRICOS_______________________________________50 DIREITO DE BRINCAR. O LÚDICO NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA _______________________ 52 O JOGO, AS BRINCADEIRAS E SUAS CARACTERÍSTICAS______________________________ 54 O ESPAÇO CORRETO PARA O LÚDICO___________________________________________ 58 O LUGAR DO LÚDICO NA APRENDIZAGEM________________________________________63 O PAPEL DOS BRINQUEDOS NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA____________________ 67 BRINCADEIRA É COISA SÉRIA__________________________________________________ 71 CONSIDERAÇÕES FINAIS______________________________________________________ 74 4 INTRODUÇÃO Esta obra é um conjunto de pesquisa bibliográfica, procurei demonstrar de forma bem específica à importância da prática de projetos na educação infantil, sendo que o intuito maior é compartilhar com os educadores: saberes, valores, e desafios como atitude reflexiva em torno das especificidades da criança junto a este mecanismo de trabalho. A educação infantil é uma das áreas que desafia os profissionais que nela trabalham, pois o contexto trazido pelas crianças precisa ser primeiramente entendido e estudado com seriedade, compromisso, para depois coloca-las em prática de forma adequada. Neste sentido, trabalhar com a metodologia de projetos antecipadamente é algo que pode enriquecer as experiências tanto das crianças, como nossas também, pois os dois terão a oportunidade de socializar, criar e simultaneamente enriquecer seus conhecimentos durante as etapas do trabalho. Aliás, as crianças da educação infantil necessitam de educadores competentes, que queiram trabalhar com elas e principalmente que goste de crianças, ou seja, que tenha sensibilidade, que saiba intervir quando necessário, saiba impor regras e limites com paciência e sabedoria. Em outras palavras que acredite na sua metodologia de trabalho e a partir dela instigue e desafie as crianças com situações enriquecedoras garantindo a elas um processo de maturação alicerçado em diferentes conhecimentos e valores. E principalmente educadores que conheçam muito bem o seu instrumento de trabalho utilizado, fazendo bom uso de todas as ferramentas educacionais e lúdicas durante as atividades oferecidas às crianças no espaço da educação infantil. “Na Educação Infantil as crianças têm direito ao lúdico, à imaginação, à criação, ao acolhimento, à curiosidade, à brincadeira, à democracia, à proteção, à saúde, à liberdade, à confiança, ao respeito, à 5 dignidade, à convivência e à interação com seus pares para a produção de culturas infantis e com os adultos, quando o cuidar e o educar são dimensões presentes e indissociáveis em todos os momentos do cotidiano das unidades educacionais”. Portanto, exige-se a construção de um novo profissional da Educação Infantil que num processo de coautoria, atua como observador participativo que “intervém para oferecer, em cada circunstância, os recursos necessários à atividade infantil, de forma a desafiar, promover interações, despertar a curiosidade, mediar conflitos, garantir realizações, experimentos, tentativas, promover acesso à cultura, possibilitando que as crianças construam culturas infantis” (Nornativa 1/2013 p.15). Neste Currículo Integrador, é Imprescindível observar as crianças em atividade, com pouca ou nenhuma intervenção em determinados momentos, documentar o que se observa (fotografias, vídeos, áudios, registros escritos) construir narrativas coletivas a partir destes registros, repensar os espaços, materiais e planejar as próximas vivências de modo a potencializar e expandir as aprendizagens. “A documentação” pode ser entendida como reflexão coletiva sobre a vivência proposta, processo ligado à programação e à avaliação, à experiência, mas dotado de especificidades: a documentação não é o projeto, nem a experiência; é algo além, um processo de reflexão sobre a prática e de formação contínua. (Marques, 2015) Portanto, a poética de “escutar com os olhos”, além de dar visibilidade ao que acontece na unidade, permite uma flexibilidade no planejamento, reelaboração de vivências, levando em conta os novos saberes dos bebês, crianças e professores. 6 Ou seja, implica que cada professor torne-se um pesquisador, um profissional reflexivo, o fio condutor entre as experiências vividas e uma discussão crítica sobre a prática para a construção desta tão ansiada Pedagogia para a Primeira Infância. A IMPORTÂNCIA DOS PROJETOS PEDAGÓGICOS NA EDUAÇÃO INFANTIL Primeiramente antes de iniciarmos uma discussão acerca dos projetos educacionais na primeira infância, é de grande valia esclarecer o que é projeto, Assim segundo o dicionário Aurélio apud Nogueira (2011, p.30): A palavra projeto origina-se do latim projectu, ‘lançado para diante’, e que se refere a: Ideia que se forma de executar ou realizar algo, no futuro; plano, intento, desígnio. Empreendimento a ser realizado dentro de determinado esquema. Esboço ou risco de obra a se realizar; plano. Revista Educação e Linguagem – Artigos – ISSN 1984 – 3437. Vol. 7, n º 1 (2013). A partir desse conceito, compreende-se que projeto é um caminho em construção, onde inúmeras etapas são seguidas para que futuramente se consiga o resultado daquilo que se almejava. Na educação, o projeto pode ser o alicerce do conhecimento, onde os aprendizes atravessam etapas formando o esqueleto do objeto desejado e a partir deste pesquisar, trocar ideias e experiências conquistando assim o resultado final, neste caso: a aprendizagem. Nesta perspectiva a prática educativa com projetos tem muito a colaborar no processo de ensino/aprendizagem, principalmente na primeira etapa da educação básica (educação infantil), que por sua vez, acolhe os futuros cidadãos de uma sociedade tão exigente. Esta ferramenta é um importantíssimo ingrediente para o amadurecimento das habilidades e potencialidades dos pequenos aprendizes, pois é durante as etapas do projeto que as crianças participarão ativamente do seu próprio conhecimento, tornando-se protagonistas das suas próprias descobertas. 7 Em consonância a este contexto trazemos a contribuição de Barbosa e Horn que asseveram: A pedagogia de projetos vê a criança como um ser capaz, competente, com um imenso potencial e desejo de crescer. Alguém que se interessa, pensa, duvida, procura soluções, tenta outra vez, quer compreender o mundo a sua volta e dele participar, alguém aberto ao novo e ao diferente. Para as crianças, a metodologia de projetos oferece o papel de protagonistas das suas aprendizagens, de aprender em sala de aula, para além dos conteúdos, os diversos procedimentos de pesquisa, organização e expressão dos conhecimentos (2008, p. 87). De acordo com as palavras das autoras, a educação infantil é um período em que a criança vivencia grandes desafios e descobertas, que por sua vez, garante o amadurecimento dos seus aspectos físicos, psíquicos e sociais, ampliando assim cada vez mais sua visão de mundo. Além do mais a pedagogia de projetos faz com que a criança tenha participação ativa em todas as etapas da construção do seu conhecimento. Assim trabalhar com projetos na educação infantil é uma excelente forma de atrair o interesse pelo conhecimento, pois é neste momento que o educador oferece uma gama de estratégias, oportunizando o fazer mútuo, onde não só ele e os alunos como toda a comunidade escolar participe constantemente e ativamente de cada etapa do projeto. Segundo Barbosa e Horn (2008, p. 89), “a comunidade educativa precisa tornar-se uma comunidade de aprendizagem aberta, onde os indivíduos aprendem uns com os outros e onde as investigações sobre o emergente têm nessas trocas papel fundamental”. As autoras deixam claro que a postura de se trabalhar coletivamente traz benefícios promissores para todos e que cada cidadão tem algo novo, diferente e importante para compartilhar. Portanto, faz-se necessário ressaltar que todo e qualquer projeto tem a necessidade de ser trabalhado em conjunto, onde a troca constante de pensamentos tome conta desse processo, criando caminhos, desafios e soluções. Registra-se ainda que esta visão de compartilhar 8 saberes seja imprescindível para a formação da criança pequena, pois é nesta fase que os valores são adquiridos através daquilo que elas observam no seu dia- a -dia. E o educador sendo companheiro nesta caminhada de descobertas é quem vai preparar está criança para explorar o mundo a sua volta. Dessa forma na pedagogia de projetos o educador não será a peça fundamental para desencadear o saber, pelo contrário, ele se juntará as crianças na busca pelo conhecimento, onde cada um em seu papel busque formas de alcançar o resultado daquilo que deseja. Principalmente porque “para se trabalhar com projetos, é essencial que desapareça o educador infantil proprietário único do saber e da cultura, que olhe seu aluno como ‘lousa não preenchida ou mente vazia’ dos ensinamentos que transfere” (ANTUNES, 2012, p.17). Nesta perspectiva podemos perceber de forma clara e objetiva que o educador não pode e nem deve ser ou se sentir um ser pronto e acabado nas suas atribuições profissionais junto às crianças, pois ele deverá sempre estar buscando adquirir novos conhecimentos tendo a consciência de que quanto mais ele se sentir incompleto buscara aprender cada vez mais. Sendo assim quando falamos em projetos educacionais, falamos em possibilidades de alcançar uma aprendizagem significativa das crianças e nesta questão, devemos estar atentos a quais tipos de projetos trabalharemos para alcançar este objetivo. Acredita-se que para estimular a curiosidade infantil, o melhor caminho são os projetos temáticos, que por sua vez acabam por chamar atenção em temas que já fazem parte do cotidiano das crianças e que elas já têm um conhecimento prévio. Vale salientar que esses projetos também contribuem para a ampliação das competências infantis, no qual permite que a criança experimente um vasto repertório de materiais. Podendo assim, estimular o processo de maturação em todos os aspectos. Pois a criança que aprende por meio da pedagogia de projetos, jamais ficará inerte nas suas inquietudes, pois a partir desta ferramenta, ela aprende a ter autonomia, a argumentar, a socializar, a solucionar, a compreender, a se posicionar durante suas pesquisas educativas e principalmente na sua vida lá fora. Além do mais a aprendizagem infantil baseada nos projetos educativos 9 abrange inúmeras competências e habilidades construtivas e fortalecedoras do desenvolvimento integral da criança pequena e entre muitos desses fatores, está envolvido um indispensável componente: a leitura. Está maravilhosa fonte de sabedoria pode ser apreciada durante as pesquisas do tema envolvido no projeto, formando vínculos imprescindíveis com o pequeno público leitor. Isto é a leitura é uma fonte de sabedoria inesgotável, dela nascem os pensamentos, a imaginação, a fantasia, os sonhos e isso tudo faz parte do mundo infantil, um mundo cheio de expectativas. Assim quando lemos uma história para uma criança estamos ampliando suas dimensões cognitivas, afetivas, sociais e culturais. Para além de tantos atributos, a pedagogia de projetos é uma estratégia que amplia a visão de mundo daqueles que fazem uso dela “é uma possibilidade interessante em termos de organização pedagógica porque, entre outros fatores, contempla uma visão multifacetada dos conhecimentos e informações” (BARBOSA; HORN, 2008 p.53). Sendo assim, esta metodologia é uma entre muitas outras formas de atingir a aprendizagem significativa, ela vem somar com o corpo docente e seus aprendizes, ampliando caminhos e propondo desafios relevantes, contemplando formas inovadoras de buscar e atingir o amadurecimento pessoal, profissional e intelectual. O planejamento na prática educativa com projetos na educação infantil e o papel do educador. O planejamento é um ato constante do ser humano no decorrer das suas tarefas cotidianas, pois mesmo sem perceber ele planeja suas ações mentalmente e automaticamente. Planejar é necessário quando se trata de querer que algo saia da maneira correta, sem que haja surpresas no caminho. Segundo o Dicionário Luft (2000, p.524) planejar significa “fazer o plano, a planta, o esboço de; projetar, estabelecer o desígnio, o fito de; 10 tencionar”. De acordo com o conceito acima, podemos dizer que todos os dias independentes da situação nós fazemos o uso desse instrumento, seja no trabalho, em casa ou em qualquer outro lugar. Quando planejamos nossas ações fica claro que caminho deveu traçar. Dessa forma o ato de planejar na prática com projetos educacionais é fator importantíssimo, pois, não só as etapas do processo ganham uma direção, como também as crianças aprendem a planejar suas próprias ações e a partir delas compreender melhor o que estão aprendendo. Em comentário a essa questão Nogueira aponta sobre o ato de planejar para os alunos em qualquer idade: Para os alunos o ato de planejar é também uma aprendizagem e uma forma de possibilitar sua autonomia em traçar planos e projetos. É preciso fazer os alunos entenderem e aprenderem que o ato de planejar não significa que colocamos uma camisa de força no projeto, que tudo terá de ser exatamente conforme foi pensado e sonhado inicialmente. Nesse processo de aprendizagem em planejamento, eles precisam compreender sua importância e necessidade, porém entendendo o conceito de flexibilidade e maleabilidade. Utilizando essa estratégia, conseguimos que até os alunos da educação infantil realizem seus planejamentos, pelo simples fato de contarem o que querem e como querem fazer (2011, p.79). De acordo com as palavras do autor, fica evidente a relevância desse instrumento no processo de ensino/aprendizagem, ainda mais podendo utilizá-lo desde a educação infantil, deixando que as crianças aprendam por si só, busquem alternativas e se pronunciem sobre o que pode ser mudado ou acrescentado durante o projeto. Além disso, é de suma importância destacar a postura do educador nesse processo, pois é ele quem vai instigar as crianças nessa etapa do projeto, dialogando, questionando, e argumentando fatos necessários para um trabalho bem elaborado. Devido a isso na educação infantil é necessário que o educador planeje as possibilidades com cautela, estudando cada etapa com paciência, podendo acrescentar ou retirar algo que não esteja de acordo com o 11 propósito do projeto. Para tanto, o planejamento é um instrumento que cabe tanto ao educador, como a criança, ambos podem planejar o que querem e o que pretendem fazer no decorrer do projeto, é uma forma de ambos entrarem em sintonia, contribuindo ativamente para uma aprendizagem mútua. Assim em cada idade o educador tem diferentes possibilidades para se trabalhar e é a partir de tantas características que a criança amplia seus horizontes. Nesse sentido para se trabalhar com a pedagogia de projetos na educação infantil é necessário que o educador esteja preparado para tal desafio, pois esta tarefa não é fácil, precisa de muita paciência, companheirismo, responsabilidade, compreensão, estudo, conhecimento e acima de tudo comprometimento com aqueles que estão em constante formação: as crianças. Para além de muitos atributos profissionais (ANTUNES, 2012, p. 75) propõem algumas citações que são imprescindíveis na pedagogia de projetos: O conhecimento de diferentes teorias pedagógicas e sua implicação no desenvolvimento infantil. Que ao optar pela pedagogia de projetos ou uma linha de estímulos cognitivos, sociais e afetivos possa contextualizar essa linha de ação com as características pessoais dos alunos. Que conheça muito bem os saberes que os alunos trazem para a escola e que faça sempre desses saberes a ponte de ligação com os que em sua atividade possa desenvolver. Que jamais confunda a aprendizagem significativa que promove com saberes mecânicos que levam a criança a conquistar informações, sem o devido conhecimento. Que saiba avaliar significativamente seus alunos, explorando suas diferentes linguagens e percebendo seu progresso em face da Zona de Desenvolvimento Proximal. Que sua ação se mostre interrogativa, desafiadora e sempre pronta para estudar e aprender cada vez mais. 12 Que se destaque aos olhos dos seus alunos menos como o que ‘tudo sabe e bem conhece’ e bem mais como o pesquisador ávido por respostas coerentes e que esteja sempre disposto a ajudar os alunos a encontrar as respostas que procuram. Que domine diferentes estratégias de ensino e possibilite a estrutura de projetos, sempre consistentes e com objetivos claramente definidos. Existem inúmeros modelos de projetos e faz-se necessário que os alunos possam aprendê-los não somente pelo que em sua essência ensinam, mas como estratégias de ação para seu uso pessoal, suas descobertas e pesquisas mesmo se não solicitadas pela escola. Que se mostre aberto a construir relacionamento transparente com os pais e com a comunidade, acolhendo-os com os subsídios necessários a processos de interação significativos. Extrai do pensamento do autor que o bom educador infantil deve saber que trabalhar com crianças pequenas é trabalhar com múltiplas culturas, é se reconhecer em cada uma delas, é viver ou reviver partes da sua infância, é estar infiltrado num mundo cheio de dinamismo, que precisa ser entendido das mais diferentes formas. Sobre essa questão, “Filho” compactua com o seguinte pensamento: Assim, entendemos que as crianças precisam ser compreendidas em suas fantasias, em sua imaginação, em suas múltiplas linguagens, em seus constantes movimentos, em suas várias expressões, em suas manifestações espontâneas, em suas criações, suas produções e também recriações e reproduções... e salientamos que tudo isto só é possível pela inserção do professor nesse mundo inusitado e fantástico, pois assim ele poderá entender o que as meninas e os meninos desejam para si, e ainda perceber o que as crianças nos revelam do que conhecem do mundo, e também ser parceiro de suas expectativas, alegrias, emoções, brincadeiras, sentimentos, silêncio, choro, olhares, tudo o que é representado neste período da vida, tão singular e plural ao mesmo tempo... A o qual estamos chamando de infância (2005, p.25). 13 Como se nota a sociedade contemporânea exige um docente que seja multifacetado, que saiba falar cem linguagens (assim como as crianças), que saiba interagir, encarar e resolver desafios, que saiba se pronunciar, que saiba intervir e principalmente, que saiba lidar com crianças. Este facilitador deve ter sede de conhecimento, buscar o saber nas mais diferentes teorias e procurar contemplar a sua prática por meio destas, saber que a missão de formar cidadãos não é fácil e que por isso precisa estar sempre atualizado, com ideias novas e estratégias interessantes, pois cada vez fica mais difícil acompanhar a criançada que vive no mundo das tecnologias. Libâneo Os professores não podem mais ignorar o tablet, o vídeo, o cinema, o celular, a internet, que são veículos de informação, de comunicação, de aprendizagem, de lazer, porque há tempos o professor e o livro didático, deixaram de ser as únicas fontes do conhecimento. Antigamente a escola era o centro dos saberes de uma comunidade, era ali que se reunia grande parte de conhecimento em literatura e etc. Hoje a escola não é mais o centro de busca de saberes e sim uma mediadora de saberes, onde a mesma procura exercer o papel de filtrar as informações para os alunos e comunidade. Hoje com apenas um clique, temos todos os saberes na ponta dos dedos. Mais é imprescindível o papel da escola e dos professores como mediadores desses saberes. Professores, alunos, pais, todos precisam aprender a ler sons, imagens, movimentos e a lidar com eles (2009, p.40). De acordo com o ponto de vista do autor, o professor tem que se juntar aos meios de comunicação, pois eles se transformaram em recursos didáticos, gerando uma forma inovadora de abordar os conteúdos escolares. E nas temáticas que serão escolhidas para o desenvolvimento do projeto é indispensável esses artifícios na busca de informações e conhecimento. Logo a metodologia dos projetos também é uma forma de interagir com a comunidade interna e externa da instituição infantil, podendo compartilhar 14 ideias e enriquecer o aspecto cognitivo. É uma abertura, para pais, professores, alunos, diretores e outros indivíduos falarem a mesma língua, buscando formas de chegar a um único objetivo. Os pais são companheiros importantíssimos nessa caminhada, pois eles podem instigar os filhos nesse processo de descobertas. Para que o educador infantil consiga transformar a vida das suas crianças, é preciso que ele olhe cada um com muito cuidado, que acredite neste ser humano, na sua capacidade de construir o mundo a sua volta, que veja está criança como protagonista nas suas diversas tarefas e que é regado de conteúdos valiosos que podem e devem ser reconhecidos por seus facilitadores. É nesta visão de criança ativamente participante do seu processo de aprendizagem que o educador tem que traçar os projetos educacionais, buscando a partir destes, inculcar o máximo de valores e atitudes, buscando temáticas que influenciem o contexto de vida dos alunos, fazendo com que eles demonstrem de várias maneiras lá fora o que aprenderam na escola. PRÁTICAS EDUCATIVAS E PROJETOS NA INFÂNCIA Na educação infantil o educador pode trabalhar com projetos desde o berçário, levando em conta que a metodologia aplicada será bastante diferenciada e que ele terá que estudar todas as possibilidades para promover a aprendizagem dos bebês envolvidos. Visto que, trabalhar com este grupo exige um amplo conhecimento em função das suas dimensões cognitivas, afetivas, sociais e culturais. Ainda de acordo com Barbosa e Horn (2008, p. 72): Com essas características, fica evidente que as crianças bem pequenas necessitam de um modo muito específico de organização do trabalho pedagógico e do ambiente físico. Nessa perspectiva, os projetos podem constituir-se em um eficiente instrumento de trabalho para os educadores que atuam com essa faixa etária. Os projetos com bebês têm seus temas derivados basicamente da observação sistemática, da leitura que a educadora realiza do grupo e de cada criança. Ela deve prestar muita 15 atenção ao modo como as crianças agem e procurar dar significado às suas manifestações. É a partir dessas observações que vai encontrar os temas, os problemas, a questão referente aos projetos. Como podemos verificar, o educador infantil tem que se submeter a um estudo detalhado em torno das crianças antes de programar o que será aprendido e assim proporcionar projetos voltados para o que elas precisam adquirir durante o seu desenvolvimento integral. Portanto, para que o educador seja um facilitador competente nas suas atribuições é de extrema importância focar-se na sua atualização permanente, alicerçando sempre o seu fazer pedagógico nos quatro pilares da educação, sendo estes: aprender a conhecer, aprender a ser, aprender a conviver e aprender a fazer soma-se a isto adquirir na carreira profissional múltiplas competências e habilidades é essencial para se destacar no mercado de trabalho e um dos caminhos para adquirir este atributo é ter a atitude de aprender a prender, pois “para ser professor, mais do que ensinar é preciso gostar de aprender, o que implica compreender que formação científica, cultural e política não para, mas continua” (MACHADO, p. 129). Por isso na formação continuada o educador tem que ter em mente que a prática se faz juntamente com a pesquisa, é nela que ele tem que focar o seu conhecimento, buscando sempre inovar seu modo de agir em sala de aula e o ato de questionar o saber-fazer é fator primordial no seu condicionamento. A respeito disso Paulo Freire contribui com as seguintes palavras: Não há ensino sem pesquisa e nem pesquisa sem ensino. Esses que fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade (1996, p. 29). 16 Para tanto é importante salientar que a formação permanente se faz no elo entre teoria e prática, uma complementando a outra, principalmente porque é difícil e praticamente impossível desenvolver um trabalho eficiente e promissor com somente um desses conhecimentos. Neste processo de revigorar a prática docente, o formador tem que utilizar constantemente da ação reflexiva, reestruturar sua metodologia, mostrar para que veio e que é um cidadão ativo e participante do seu próprio crescimento. Como enfatiza Alarcão: A noção de professor reflexivo baseia-se na consciência da capacidade de pensamento e reflexão que caracteriza o ser humano como criativo e não como mero reprodutor de ideias e práticas que lhes são exteriores. É central, nesta conceptualização, a noção do profissional como uma pessoa que, nas situações profissionais, tantas vezes incertas e imprevistas, atua de forma inteligente e flexível, situada e reativa (2003, p.41). A autora destaca bem o lado do professor criativo, envolvido com o seu trabalho, que saiba lidar com as diferentes situações existentes na sala de aula e que reage de acordo com o que está acontecendo ao seu redor. O desenvolvimento profissional do facilitador infantil só é garantido por meio de uma aprendizagem que norteia, ou melhor, que envolve o mundo da criança pequena, ele tem que pensar na criança que irá formar e amadurecer seu pensamento no sentido de que seu crescimento se dará em sintonia com este pequeno ser humano. De acordo com Machado (2008, p. 149): Um mundo onde a profissionalidade é tão complexo exige, com certeza, uma jornada de crescimento e de desenvolvimento ao longo do ciclo de vida. Envolve crescer, ser, sentir, agir permanentemente; é um processo de desenvolvimento e aprendizagem ao longo da vida. Envolve crescimento, como o da criança, requer empenhamento, com a criança, sustenta-se na integração do conhecimento e da paixão. Esta perspectiva de aprendizagem ao longo da vida leva-nos a conceptualizar o desenvolvimento profissional como uma caminhada que decorre ao longo de toda a vida; uma caminhada que tem fases, que tem ciclos, que pode não ser linear, que se articula com os diferentes contextos sistêmicos que a educadora vai vivenciando. 17 Nesse sentido o educador que desenvolve seu trabalho junto com o desenvolvimento de suas as crianças, não articula somente saberes, mais também sentimentos que fazem uma enorme diferença nesta caminhada. As crianças aprendem muito mais quando o educador demonstra interesse por eles, pelo que estão sentindo e passando e é a partir da empatia que ele conquistará o respeito e o carinho eterno das mesmas. Em vista disso a formação dos educadores precisa de um ‘choque térmico’ para que possa suprir as necessidades dos alunos e isso só será possível com muita força de vontade por parte dos educadores, principalmente porque “não há ensino de qualidade, nem reforma educativa, nem renovação pedagógica sem uma adequada formação de professores” (NÓVOA apud MACHADO, p. 195). Sendo que está adequada formação docente também se faz nos espaços tempos da instituição infantil, onde não só educador e criança trocam experiências, mais todos os outros (as) profissionais que fazem parte da instituição infantil, utilizando assim da reciprocidade aprendendo e ensinando ao mesmo tempo, tornando-se praticantes ativos nesse processo continuo. Conforme sustentam Azevedo e Alves: Conversas entre professores/as sobre suas experiências cotidianas nas salas de aula, incluindo, sem grandes formalidades, algumas declarações catárticas, ocorrem nos diferentes espaços tempos da Escola. Essas conversas, que ocorrem entre uma e outra aula, na hora do recreio, da entrada ou da saída, demonstram que o aprender e o ensinar são partes de um mesmo processo, que não exclui o professorado; ao contrário, amplia e ressignifica seus saberes construindo e orientando sua formação, tecida pelas e nas redes de relações/interações vivenciadas no cotidiano. Naquele espaço tempo, há pistas e situações concretas que nos ensinam e desvelam os caminhos da formação (2004, p. 44). Por conseguinte este papel de educador que procura constante aprendizado de novas contribuições precisa basear-se em questões que norteiam sua ação docente, principalmente nesta questão de lidar com crianças em permanente desenvolvimento. É neste sentido, que os profissionais da educação têm que repensar a sua prática, indagando seus saberes para que o seu trabalho seja desenvolvido com grande propriedade e eficácia. 18 Assim, seja qual for à metodologia de ensino aplicada aos alunos, fica claro a necessidade de profissionais altamente capacitados para lidar com qualquer modalidade de ensino e isso só será possível se eles potencializarem seus ensinamentos. CICLO DE CURIOSIDADE E APRENDIZAGEM NA PRÁTICA. Muitos processos complexos estão envolvidos e o resultado é a construção de aprendizagens, novas conexões, conhecimentos, a facilitação para buscar as curiosidades da vida e embarcar em novas pesquisas. É um ciclo que não para nunca e que, a cada volta, desenha caminhos cada vez mais claros. Nós (e as crianças!) aprendemos com o processo de investigar o que desperta nossa curiosidade, nosso interesse e, consequentemente, o que é significativo para nós. Crianças e cientistas são movidos pelo mesma vontade de descobrir e se mobilizam nesse intuito. No caso das crianças, o combustível que alimenta o interesse em pesquisar é o valor que os adultos atribuem às suas perguntas e a forma como encaminham as experiências de exploração. A centralidade da educação está nas crianças, mas o professor é o adulto capacitado para: perceber os caminhos mais interessantes e férteis; provocar com perguntas abertas e instigantes; pesquisar possibilidades para manter as crianças curiosas, interessadas, e aprendizes dos processos construídos em conjunto. No final dessa jornada, as conquistas serão profundas e muito além do conteúdo pesquisado. Para ilustrar esses ganhos, reunimos informações de diversas fontes e construímos o Ciclo da Curiosidade e da Aprendizagem: Curiosidade dispara a exploração e a 19 pesquisa. Pesquisas levam às descobertas que, por sua vez, trazem sensação de prazer. O prazer faz a criança praticar mais e aprofundar. A prática leva ao domínio (do saber ou da ação). O domínio leva a novas habilidades que geram a confiança de que a criança é capaz de aprender. Com isso, melhora-se a autoestima que traz segurança. Segura de que pode explorar, descobrir e dominar, a criança valoriza seu próprio espírito curioso, faz novos questionamentos e pesquisas. Diversos centros de pesquisa em Educação por todo o mundo revelaram o valor dessa abordagem. Agora é uma questão de apurar o olhar e mergulhar nas possibilidades identificadas a partir das centenas de perguntas que as crianças fazem diariamente. Também é preciso se preparar e pesquisar com e sem eles. Nós, adultos, precisamos recuperar o espírito curioso perdido na forma como fomos educados, em que as perguntas só tinham valor se tivesse relação com as propostas programadas pelo professor. Com o tempo fomos desaprendendo a questionar e buscar as respostas para saciar interesses. Ainda está em tempo de reaprender… que tal resgatar essa habilidade encaminhando a curiosidade das crianças? INTENSÃO PEDAGÓGICA? Hora da chegada, hora do café, lavar as mãos, fazer xixi, escovar dentes, guardar a mochila, arrumar-se para o pátio, participar das propostas de atividade, lavar as mãos novamente, beber o suco, almoçar…. ufa! Uma sucessão de incansáveis etapas do dia, marcadas pelo tempo do relógio, pelo tempo de cada criança e pelo tempo dos professores e equipes de apoio da escola. E, no final de tudo, a tal da intenção pedagógica por trás de cada atitude e de cada fala. É possível lidar com tudo isso? É preciso ser um professor herói? 20 O que é ensinar com intensão? Educação com intenção parte de professores comprometidos com as crianças. É falar de um profissional ativo e nunca passivo a respeito daquilo que faz. Na prática, é dizer que se o professor deixa a turma “brincar livremente”, ele o faz com a intensão de trabalhar, por exemplo, as relações de grupo entre as crianças, sem a interferência do adulto. É um momento escolhido para brincar livre, que, ao se repetir, proporciona ao grupo elementos que aprofundam as tais relações. Nesse sentido, o professor munido de intenção aumenta ou diminui a quantidade e a diversidade dos materiais oferecidos; procura organizar os espaços de modo a favorecer a formação de grupos maiores ou menores de crianças; propõe regras para compartilhar brinquedos etc., etc., etc.! Trabalhar com intencionalidade significa tomar decisões deliberadas, com objetivo e propósito. Sejam as decisões tomadas durante os momentos da rotina, sejam as propostas de experiências nas atividades. A intenção está em tudo, e o professor precisa se dar conta disso: quando planeja e organiza materiais e ambientes, nas experiências que propicia às crianças, nas maneiras de planejar a rotina, na escolha das palavras, frases e perguntas, na forma como favorece o agrupamento dos pequenos (grandes grupos, pequenos grupos, em pares, separando as panelinhas, em relação individual com o professor, com ou sem a interferência do educador…), quando direciona as experiências ou quando segue os interesses e propostas dos pequenos. A prática pedagógica parte da interação com as crianças no cotidiano, nos desafios propostos e ao refletir sobre as ações pedagógicas: quando é o momento de intervir? Como formular as perguntas? Quando perseguir os interesses dos pequenos e quando propor experiências e aprendizados independentemente dos interesses do grupo? Crianças aprendem experimentando. 21 Elas precisam viver de corpo e alma as situações para construir seus aprendizados. Mas isso quer dizer que a Educação Infantil se compõe exclusivamente de conteúdos apontados por elas? Obviamente não! O profissional e habilitado, é o detentor das possibilidades, do acesso às pesquisas e o grande planejador dos contextos de aprendizagem. Além disso, existem conteúdos que os pequenos precisam aprender nessa fase da vida: Hábitos de cuidado e higiene Habilidades como segurar o lápis, manusear a tesoura, o talher etc. Conhecer o meio ambiente, perceber e respeitar a diversidade e muitas outras situações, habilidades e valores. Por isso, a Educação Infantil tem sim seus grandes objetivos e aqueles pequenos construídos no percurso da relação com as crianças. Porém, um não exclui ou diminui o outro! Planejar e refletir sobre o que as crianças precisam experimentar, aprender e a proposição de desafios que partem dos interesses, não esquecendo que é preciso lidar com as singularidades. No caso da tesoura, por exemplo, é necessário trabalhar o seu manuseio. Mas todas as crianças possuem as mesmas habilidades? Estão no mesmo estágio de desenvolvimento? Algumas têm mais familiaridade com instrumento do que as outras? Assim, a intenção também reside em perceber aquilo que as crianças estão fazendo e aquilo que não estão fazendo. Quais são as demandas de aprendizagem e quais as curiosidades. Que tal olhar uma prática para aprofundar essa discussão? 22 Quando nos conscientizamos da intencionalidade das nossas ações, permitimos que todas as práticas educativas sejam comandadas por objetivos claros. Da mesma maneira, permitimos que as crianças ajam com intensão ao se expressarem e se envolverem nas rotinas e experiências propostas. É um jogo de mão dupla, mas que começa com o professor. A IMPOTÂNCIA DA MUSICALIZAÇÃO COMO FERRAMENTA PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL. A música é muito importante na aprendizagem, pois o aluno convive com ela desde muito pequeno e a maioria das crianças gosta de ouvir e cantar músicas. Ouvir, aprender uma canção, brincar de roda, são atividades que despertam, estimulam e desenvolvem além do gosto musical, a convivência, socialização e a inclusão, fazendo com que a criança se interaja com o mundo. Em muitas culturas a presença da música vem acompanhando a história da humanidade e se fazendo presente em diferentes continentes. Ela é uma forma de expressão artística, tanto no campo popular, como no erudito. A linguagem musical faz-se presente especificamente no Brasil, em suas diversas classes sociais e também nas diferentes manifestações religiosas que se espalham por todo território nacional. Embora sua linguagem seja diversificada, dependendo de onde venha essa expressão cultural, a música acompanha o desenvolvimento e as relações interpessoais em suas comunidades, bairros e cidades. A música contribui para o desenvolvimento integral da criança nas suas dimensões afetiva, cognitiva, motora e social. Ela provoca sentimentos 23 de bem-estar, organiza os movimentos, promove uma melhor interação, além de desenvolver a atenção e concentração das crianças. Trabalhar música na Educação infantil é despertar na criança essa capacidade de um modo interessante e ativo, fazendo da música também, um elemento em que desde cedo no contexto escolar das crianças ajuda de maneira lúdica e prazerosa o aprendizado. É nessa perspectiva que abordarei a música nesse artigo. Ao longo da história humana, inúmeros os filósofos, psicólogos, pedagogos, enfim, pensadores de todas as vertentes do conhecimento e até pessoas comuns teorizaram, escreveram ou falaram da importância da música para a humanidade. Na Grécia Antiga, por exemplo, praticamente todos os filósofos postularam sobre o papel da música no Universo e na formação do homem. Pitágoras de Samos, um dos filósofos dessa época, ensinava como determinados acordes musicais e certas melodias criavam reações definidas no organismo humano. Segundo Bréscia (2003, p. 31), “Pitágoras demonstrou que a sequência correta de sons, se tocada musicalmente num instrumento, pode mudar os padrões de comportamento e acelerar o processo de cura”. Os filósofos pré-socráticos davam tanta importância à música que muitos a viam como o elemento que dava ordem ao Universo, que harmonizava o caos inicial do qual o mundo foi originado. É a nessa época histórica que a música é relacionada com a matemática pela primeira vez. A música, no entanto, antecede à Antiguidade Clássica. Conforme dados antropológicos, as primeiras músicas seriam usadas em rituais, como nascimento, casamento, morte, recuperação de doenças e fertilidade. Com o desenvolvimento das sociedades, a música passou a ser utilizada também 24 em louvor a líderes, como as executadas nas procissões reais no Egito antigo e na Suméria. Atualmente, a música pertence ao universo das belas-artes, pois se manifesta pela escolha dos arranjos e combinações de sons. É considerada ainda ciência na medida em que as relações entre os elementos musicais são relações matemáticas e físicas. No que tange à sua definição, Houaiss (apud BRÉSCIA, 2003, p. 25) diz que a música é uma “combinação harmoniosa de e expressiva de sons e a arte de se exprimir por meio de sons, seguindo regras variáveis conforme a época, a civilização etc.” Através dessa combinação harmoniosa de sons, a música funciona como elemento de comunicação e identificação dos povos. Decorre daí a sua função de transmissão cultural entre as diversas gerações desses povos. Nesse sentido, a música tem um papel fundamental na educação, pois serve como um elo na transmissão de conhecimentos acumulados pelas gerações passadas. Por sua vez, a importância da música no processo educacional infantil está no fato de que esta consegue, de certa forma, trabalhar a personalidade da criança, uma vez que consegue promover na criança o desenvolvimento de hábitos, atitudes e comportamentos que expressam sentimentos e emoções, como atesta Gainza (1988, p. 95): Em todo processo educativo confunde-se dois aspectos necessários e complementares: por um lado à noção de desenvolvimento e crescimento (o conceito atual de educação está intimamente ligado à ideia de desenvolvimento); por outro, a noção de alegria, de prazer, num sentido amplo. […] Educar-se na música é crescer plenamente e com alegria. Desenvolver sem dar alegria não é suficiente. Dar alegria sem desenvolver, tampouco é educar. 25 Da constatação acima, podemos afirmar que o acesso à música é necessário ao processo de educação da criança. Quando esse processo é conduzido por pessoas conscientes e competentes, deixa de ser apenas recreação, favorecendo uma rica vivência e estimulando o desenvolvimento dos meios mais espontâneos de expressão. Isso recupera a música a sua condição de linguagem natural, viva, de pensamentos e emoções. Nessa mesma linha, Bréscia (2003, p. 15) afirma: O trabalho de musicalização deve ser encarado sob dois aspectos: os aspectos intrínsecos à atividade musical, isto é, inerentes à vivência musical: alfabetização musical e estética e domínio cognitivo das estruturas musicais; e os aspectos extrínsecos à atividade musical, isto é, decorrentes de uma vivencia musical orientada por profissionais conscientes, de maneira a favorecer a sensibilidade, a criatividade, o senso rítmico, o ouvido musical, o prazer de ouvir música, a imaginação, a memória, a concentração, a atenção, a autodisciplina, o respeito ao próximo, o desenvolvimento psicológico, a socialização e a afetividade, além de originar a uma efetiva consciência corporal e de movimentação. De fato, a associação da música, enquanto atividade lúdica, com os outros recursos dos quais dispõem o educador, facilita o processo de ensino-aprendizagem, pois incentiva a criatividade do educando através do amplo leque de possibilidades que a música disponibiliza. Aliar a música à educação também obriga o professor a assumir uma postura mais dinâmica e interativa junto ao aluno. Assim, o processo de aprendizagem se torna mais fácil quando a tarefa escolar atender aos impulsos deste último para a exploração e descoberta, quando o tédio e a monotonia se tornarem ausentes das escolas, quando o professor, além das aulas expositivas e centralizadoras, possa propiciar experiências diversas com seus alunos, facilitando assim a aprendizagem. 26 Portanto, a integração entre os aspectos sensíveis, afetivos, estéticos e cognitivos, assim como a promoção de integração e comunicação social, conferem um caráter significativo à linguagem musical. Além disso, a música uma das mais importantes formas de expressão humana, o que por si só justifica sua presença no contexto da educação de um modo geral e, principalmente, na educação infantil particularmente. BREVE HISTÓRICO DA MUSICALIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL Para entender como a música se manifesta na educação infantil é necessário compreender o seu contexto histórico e analisar seus antecedentes no Brasil. Na história da Educação no Brasil, cuidar das crianças surge como ideia pouco relevante na sociedade, e ainda permaneceria assim por muitos anos, com algumas mudanças acontecendo gradualmente, mas a ênfase era manter a ordem em sala de aula como diz Loureiro (2003) que para a escola, o que importava era utilizar o canto como forma de controle e integração dos alunos, desse modo, pouca ênfase era dada aos aspectos musicais na perspectiva pedagógica. Leis e normas que regulariam a educação infantil apresentam de forma clara como a criança foi tratada em nossa educação. Apenas com a nova LDBEN (Brasil, 1996) instituída como lei nº 9.394, se contemplaria o ensino de artes no seu Art. 26, da seguinte forma: “componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma que promova desenvolvimento cultural dos alunos”. A partir daí a música passa a ser uma linguagem possível na educação infantil já que faz parte da educação básica. A construção de uma metodologia para trabalhar a música na educação infantil está legalmente aberta. 27 Em 1998, foi publicado, pelo Ministério da Educação (MEC) o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil – RCNEI (Brasil, 1998). Esse documento torna-se orientação metodológica para a educação infantil, nele, o ensino de música está centrado em visões novas como a experimentação, que tem como fins musicais a interpretação, improvisação e a composição, ainda abrange a percepção tanto do silêncio quanto dos sons, e estruturas da organização musical. Loureiro (2008) explica que o aprendizado de música deve ser um ato de desprendimento prazeroso, que comungue com as experiências da criança sem ser uma imposição ou que busque a qualquer custo que a criança domine um instrumento, o qual pode minar sua sensibilidade e criatividade. Diante do exposto, entende-se que o grande desafio é que a música na educação infantil venha a colaborar com o desenvolvimento da criança, almejando que essa não seja apenas uma prática descontextualizada, mas um complemento, um meio para o melhor entendimento e trabalho das muitas atividades realizadas na educação infantil, que além de desenvolver a sensibilidade musical pode ainda ajudar no desenvolvimento de outras potencialidades da criança. As dificuldades percebidas em relação ao ensino de música instigaram à proposição de um problema norteador deste estudo: como a educação musical poderá ajudar no desenvolvimento da criança da Educação Infantil? A busca por respostas a estas questões suscitam a necessidade do delineamento de objetivos que possam orientar essa pesquisa. Assim, o objetivo principal deste trabalho é analisar as contribuições que o ensino de música pode proporcionar no desenvolvimento das crianças na educação infantil e a forma como é usada pelos educadores que atuam nesta faixa etária. 28 O RCNEI da ênfase à presença da música na educação infantil, o documento traz orientações, objetivos e conteúdos a serem trabalhados pelos professores. A concepção adotada pelo documento compreende a música como linguagem e área de conhecimento, considerando que está tem estruturas e características próprias, devendo ser considerada como: produção, apreciação e reflexão (RCNEI, 1998). O documento apresenta ainda orientações referentes aos conteúdos musicais, estes se encontram organizados em dois blocos: “O fazer musical”- compreendido como improvisação (RCNEI, 1998, p.57), composição e interpretação e o de “Apreciação musical”, ambos referentes às questões da reflexão musical. A proposta do RCNEI é uma discussão sobre as práticas pedagógicas, aqui em específico a de música, e não engessá-las em modelos pré-definidos. Os avanços conseguidos foram importantíssimos, e o trabalho trata da importância da música enquanto área de conhecimento, possuindo conteúdos e metodologias próprias, o que deixa claro o RCNEI. Ainda que ela faça parte da educação infantil, e que não seja mais usada como se diz no jargão “como tapa buracos”, e sim com a propriedade que fica explicita nos documentos que embasam sua utilização e orientam suas metodologias. Para Chiarelli (2005), a música é importante para o desenvolvimento da inteligência e a interação social da criança e a harmonia pessoal, facilitando a integração e a inclusão Para ele a música é essencial na educação, tanto como atividade e como instrumento de uso na interdisciplinaridade na educação infantil, dando inclusive sugestões de atividades para isso. Assim, pensar as funções do ensino de música na educação infantil, nos leva ao cotidiano escolar e as práticas dos professores e seus alunos, de como a música aparece e suas particularidades, suas possibilidades e linguagens. Mas ainda é necessário refletir a respeito de novas possibilidades da música na educação infantil. 29 O QUE É MUSICALIZAÇÃO INFANTIL? A Musicalização Infantil é um poderoso instrumento de educação. Desenvolve na criança a sensibilidade musical, a concentração, a coordenação motora, a sociabilização, a acuidade auditiva, o respeito a si próprio e ao grupo, a destreza do raciocínio, a disciplina pessoal, o equilíbrio emocional dentre outras qualidades que colaboram na formação do indivíduo. Até mesmo antes de nascer, no útero materno, uma criança já toma contato com elementos fundamentais da música como o ritmo, através das vibrações e pulsações do coração da mãe. Ao nascer, a relação de uma criança com a música é imediata, através do acalanto da mãe e também através de objetos sonoros da casa e do mundo que a cerca. Antes de começar a falar, um bebê canta, experimenta sons produzidos com a boca. Quando dá os seus primeiros passos até o ponto de poder ficar em pé, o ritmo de uma música o leva acompanhar com o corpo os movimentos cadenciados. E é a partir dessa relação entre o gesto e o som que uma criança, ouvindo, cantando, imitando, dançando, constrói o seu conhecimento musical. Musicalizar uma criança é despertar nela à sua expressão espontânea. É sensibilizar e desenvolver aquilo que ela já é capaz de fazer, e aos poucos ir organizando as informações. Musicalizar, é uma diversão, e através desta vivência sonora, rítmica realizadas através de jogos e brincadeiras, que o aprendizado musical chega as crianças. Foi-se o tempo em que uma aula de música era cansativa para as crianças, onde os símbolos musicais apareciam como estranhos desenhos e nada representavam para elas. Através da Musicalização Infantil atual, estes mesmos símbolos vão fazendo parte da vida da criança, de uma maneira muito simples, alegre e agradável. O objetivo principal da Musicalização Infantil é fazer com que a criança tenha um contato bem elaborado e estruturado com a música. A partir deste contato qualificado, a criança inicia um processo de percepção, tornando-se sensível à música, e 30 ampliando o seu universo sonoro. O resultado de todo este processo é o desenvolvimento da musicalidade. A musicalização tem um papel fundamental na educação Infantil, onde as crianças tem a oportunidade de conceber um alicerce para que futuramente possam aprendam a tocar algum instrumento musical. Uma aula bem conduzida desenvolve nos alunos noções de ritmo, altura, timbre, intensidade, duração, dentre outros conceitos da música. Além dos conceitos musicais, a aula tem a condição de desenvolver a coordenação motora, a inteligência musical, a socialização, a colaboração mútua, a liderança, a criatividade, a imaginação e o trabalho em equipe. É importante ressaltar que uma aula de musicalização deve ir de encontro com a realidade da escola e das turmas. Pois existem várias metodologias diferentes, onde os seus criadores as construíram baseado em suas experiências locais. A musicalização deve ser trabalhada de maneira lúdica, não pode ser nada imposto e nem exigente. A criança deve sentir prazer em participar das aulas, mas é preciso que o professor tenha bastante cautela ao aplicar brincadeiras e jogos em excesso, pois as crianças vão começar a pensar que a aula serve apenas para um divertimento. 31 A MÚSICA E A CRIANÇA Vários estudos confirmam a importância que a música tem para o bem estar do bebê, desde quando ele ainda é um feto e está no ventre da mãe. A música traz tranquilidade para a mãe e para o bebê, introduzindo-o na sensibilização aos sons, desde muito cedo. Não dá pra imaginar um mundo sem som e se pararmos para analisar, quase todos os sons que ouvimos durante o nosso dia, são como instrumentos musicais tocando alguma melodia: os pingos de uma torneira, os trovões, a chuva, as cigarras cantando lá fora, o arrastar de um chinelo ao andar, as ondas do mar explodindo na praia e tantos outros. A educação musical está fazendo parte da educação das crianças, desde a pré-escola pela importância que a música traz não só como entretenimento, mas no auxílio do aprendizado da fala, como o de aprender a ouvir e na coordenação motora. A música tem ainda, o dom de aproximar as pessoas. A criança que vive em contato com a música, aprende a conviver melhor com as outras crianças e estabelece um meio de se comunicar muito mais harmonioso do que aquela que é privada da música, em contra partida, quando aprende a tocar algum instrumento, também aprende a ficar sozinha, sem se sentir solitária ou carente de atenção. A música ainda beneficia na fala, através das músicas infantis como "roda-roda", "o sapo não lava o pé" e outras, onde as sílabas são rimadas e repetitivas, fazendo com que a criança entenda o significado das palavras através dos gestos que se fazem ao cantar. Portanto, a criança se alfabetiza mais rápido. O poder de concentração que a música traz para a criança é um dos grandes benefícios em introduzi-la desde cedo em algum instrumento. Outro fator importante é que a música é pura matemática e certamente aqueles que a estudam desenvolvem maior capacidade de aprendizado nessa matéria. A utilização da música na educação obriga o professor a assumir uma postura mais dinâmica e interativa junto ao aluno. Assim, o processo de aprendizagem se torna mais fácil quando a tarefa escolar atender aos impulsos deste último para a exploração e descoberta, quando o tédio e a monotonia se tornarem ausentes das escolas, quando o professor, além das 32 aulas expositivas e centralizadoras, possa propiciar experiências diversas com seus alunos, facilitando assim a aprendizagem. É importante destacar que devido à forte influência da sociedade na vida das crianças, em relação ao repertório musical oferecido pela mídia, o professor da educação infantil e dos anos iniciais depara-se com o grande desafio em delimitar, fazer com que a criança descubra, reconheça uma boa música. Sendo assim um dos papéis do professor dentro da sala de aula é se organizar, planejar e criar projetos que possibilite, estimule essa escolha sabendo que por mais que o aluno sofra influência tanto socioeconômicas como familiar ele (professor) será influenciador. Referente às diferenças entre as músicas que possuem ou não valores educativos serão relevantes a formação das crianças dos anos iniciais por desenvolver o gosto, a apreciação musical, autonomia e estimular o senso crítico. Ao trabalhar a música na escola, não podemos deixar de considerar os conhecimentos prévios da criança sobre a música e o professor deve tomar isso como ponto de partida, incentivando a criança a mostrar o que ela já entende ou conhece sobre esse assunto, deve ter uma postura de aceitação em relação à cultura que a criança traz. Ensinar música tem relação com a percepção e sensibilidade do professor em perceber como esta pode ajudar em sua aula, considerando o que as crianças querem trabalhar relacionado ao que o professor planejou. Ele pode propor atividades e coordená-las, mas é preciso que as crianças participem também, escolham músicas ou atividades musicais. A música tem como propósito favorecer e colaborar no desenvolvimento dos alunos, sem privilegiar apenas alguns alunos, entendendo esta, não como uma atividade mecânica e pouco produtiva que se satisfaz com o recitar de algumas cantigas e em momentos específicos da rotina escolar, mas 33 envolve uma atividade planejada e contextualizada, como prevê o RCNEI, além de explorar as múltiplas possibilidades que a música tem em seu ensino, como explica Loureiro (2003, p.141): Atenção especial deveria ser dispensada ao ensino de música no nível da educação básica, principalmente na educação infantil e no ensino fundamental, pois é nessa etapa que o individuo estabelece e pode ser assegurada sua relação com o conhecimento, operando-o no nível cognitivo, de sensibilidade e de formação da personalidade. O uso ou o trabalho com a música tem como enfoque o desenvolvimento global da criança na educação infantil, respeitando sua individualidade, seu contexto social, econômico, cultural, étnico e religioso, entendendo a criança como um ser único com características próprias, que interage nesse meio com outras crianças e também explora diversas peculiaridades em todos os aspectos. O ensino e o aprendizado da música envolve a construção do sujeito musical, a partir da constituição da linguagem da música. O uso dessa linguagem irá transformar esse sujeito, tanto no que se refere a seus modos de perceber, suas formas de ação e pensamento, quanto seus aspectos subjetivos. Em consequência, transformará também o mundo deste sujeito, que adquirirá novos sentidos e significados, modificando também a sua própria linguagem musical. 34 Os cursos de formação de professores, em geral não contemplam a música em nenhuma das suas disciplinas. O que acontece na prática é o exercício realizado por alguns professores que trabalham músicas ou atividades do gênero, mais por conta própria, por entenderem a contribuição da música no desenvolvimento da criança do que mediados por um embasamento teórico. A música pode ser usada de forma constante nas salas de aula, como por exemplo, para cantar canções e quem as crianças digam seus nomes e os nomes de seus colegas, possibilitando uma interação muito interessante entre os alunos. Assim, além de promover a socialização, a música oferece grande apoio em todo processo de aprendizagem por favorecer a ludicidade, a memória e a criatividade. Quando falamos no processo de usar a música na educação infantil, temos de lembrar que as crianças usam sons de forma espontânea, cantam e criam músicas. É importante ressaltar que o trabalho não se limita a cantar em sala de aula, é necessário discutir o tema da canção a ser cantada, ouvir o que as crianças querem dizer, o que entendem e se têm alguma canção para sugerir sobre o assunto pertinente aquele momento da aula. As crianças possuem uma bagagem musical, mesmo que pouca e podem contribuir com suas opiniões e sugestões vão se aproximando da música de forma alegre, podendo potencializar suas visões de mundo pela música, tendo o professor a sensibilidades de tratar a música com exercícios alegres e interessantes e pedagógicos que ajudem as crianças a se desenvolverem e a aprenderem mais. Na educação infantil existem inúmeras possibilidades de se trabalhar a música e os benefícios que ela pode oferecer. Os materiais podem ser diversos, não necessariamente é preciso dispor de materiais caros. Isso evidencia que um trabalho criativo e competente colaborará com a criança para desenvolver sua criatividade, socialização, expressão e também serve como estímulo para o aluno da educação infantil aprender mais e de forma contextualizada. A música é por natureza interdisciplinar. Podemos classifica-la como uma linguagem ao mesmo tempo matemática e afetiva, que possibilita transpor limites geográficos e temporais, sempre inserida em um contexto social. A música na escola deve ser integrada como um conteúdo 35 específico, mas sem perder de vista as possibilidades inter e transdisciplinares que ela oferece. A PRÁTICA EDUCATIVA LÚDICA A criança a experiência do brincar estão relacionadas há diferentes tempos e espaços, sendo marcada pela continuidade dessa cultura nas gerações que surgem, pois a criança, pelo fato de se situar em um contexto histórico-social, ou seja, um ambiente estruturado a partir de valores, significados e atividades construídas e partilhadas pelos sujeitos que ali vivem, incorpora a experiência social e cultural do brincar por meios das relações que estabelece com outros sujeitos que ao longo dos tempos mudam seu modo de ser e pensar. O brincar constitui-se em um conjunto de práticas, conhecimentos e fatos construídos e acumulados pelos sujeitos no contexto em que estão inseridos e que facilitam a aprendizagem, ensinando e repassando valores essenciais para a vida do ser humano, dando a ele uma nova concepção de mundo. Diante desse contexto, nota-se que ao longo dos tempos a educação tem apresentado a necessidade de implantar uma nova pedagogia, já que são muitas as dificuldades que as escolas tem em realizar um trabalho de qualidade e são inúmeros os desafios que os educadores enfrentam para desempenharem suas atividades escolares e tornarem-se formadores de opiniões. A problemática que norteou o estudo foi: de que maneira a prática educativa lúdica pode atuar como ferramenta facilitadora à aprendizagem? O presente estudo pretende mostrar a prática educativa lúdica como ferramenta facilitadora na aprendizagem da educação infantil e a importância em adquirir outras estratégias de ensino, insistindo nas mudanças metodológicas da educação infantil como uma das ações primordiais no ensino educacional. 36 CONCEPÇÕES TEÓRICAS SOBRE O LÚDICO O exame de textos básicos da educação escritos por filósofos revela que, desde a Antiguidade, havia quem defendesse a ideia da atividade do próprio aluno 77 como propulsora de seu crescimento intelectual (como Sócrates, Santo Agostinho, Montaigne) e o valor da brincadeira na aprendizagem (já destacado por Platão em A República). O que aparece de novo, a partir do século XVIII, é o fortalecimento dessas ideias, que se contrapunham ao que então era pensado ser o processo escolar básico (OLIVEIRA, 2011). Trata-se de um tema complexo, logo, é necessária a elaboração de diversas áreas do conhecimento, a fim de se estruturar estudos de cada um dos componentes desse processo que faça a união entre a teoria prática. Neste sentido, apresentam-se as contribuições teóricas que influenciaram o processo e ensino e aprendizagem por meio da ludicidade. Educar crianças menores de 6 anos de diferentes condições sociais já era uma questão tratada por Comênio (1592-1670), educador e bispo protestante checo. Em seu livro A escola da infância, publicado em 1628, afirmava que o nível inicial de ensino era o "colo da mãe" e deveria ocorrer dentro dos lares. Em 1637 elaborou um plano de escola maternal em que recomendava o uso de materiais audiovisuais, como livros de imagens, para educar crianças pequenas. Segundo Oliveira (2011, p. 37), Comênio afiançava que: o cultivo dos sentidos e da imaginação precedia o desenvolvimento do lado racional da criança. Impressões sensoriais advindas da experiência com manuseio de objetos seriam internalizadas e futuramente interpretadas pela razão. Também a exploração do mundo no brincar era vista como uma forma de educação pelos sentidos. Daí sua defesa de uma programação bem elaborada, com bons recursos materiais e boa racionalização do tempo e do espaço escolar, como garantia da boa "arte de ensinar", e da ideia de que fosse dada à criança a oportunidade de aprender coisas dentro de um campo 37 abrangente de conhecimentos. Por meio de materiais pedagógicos como quadros, modelos e atividades diferentes, como passeios, deveriam ser realizadas com as crianças de acordo com suas idades, auxiliando-as a desenvolver aprendizagens abstratas, estimular sua comunicação oral. O filósofo genebrino Jean Jacques Rousseau (1712-1778) criou uma proposta educacional em que combatia preconceitos, autoritarismos e todas as instituições sociais que violentassem a liberdade característica da natureza. Ele se opunha à prática familiar vigente de delegar a educação dos filhos aos preceptores, para que estes os tratassem com severidade, e destacava o papel da mãe como educadora natural da criança (ROUSSEAU, 1995) Revolucionou a educação de seu tempo ao afirmar que a infância não era apenas uma via de acesso, um período de preparação para a vida adulta, mas tinha valor em si próprio. Caberia ao professor afastar tudo o que pudesse impedir a criança de viver plenamente sua condição. Em vez do disciplinamento exterior, propunha que a educação seguisse a liberdade e o ritmo da natureza, contrariando os dogmas religiosos da época, que preconizavam o controle dos infantes pelos adultos (NISBET, 1992). Para Oliveira (2011), Rousseau defendia uma educação não orientada pelos adultos, mas que fosse resultado do livre exercício das capacidades infantis e enfatizasse não o que a criança tem permissão para saber, mas o que é capaz de saber. Pestalozzi (1746-1827), também reagiu contra o intelectualismo excessivo da educação tradicional. Considerava que a força vital da educação estaria na bondade e no amor, tal como na família, e sustentava que a educação deveria cuidar do desenvolvimento afetivo das crianças desde o nascimento. Educar deveria ocorrer em um ambiente o mais natural possível, em um clima de disciplina estrita, mas amorosa, e pôr em ação o que a criança já possui dentro de si, contribuindo para o desenvolvimento do caráter infantil. Destacou ainda o valor educativo do trabalho manual e a importância de a criança desenvolver destreza prática (TEIXEIRA, 1995). Segundo Incontri (1997), a adaptação de métodos de ensino ao nível de desenvolvimento dos alunos pode ser por intermédio de atividades de 38 música, arte, soletração, geografia e aritmética, além de muitas outras de linguagem oral e de contato com a natureza. Levou adiante a ideia de prontidão, já presente em Rousseau, e de organização graduada do conhecimento, do mais simples ao mais complexo, que já aparecia em Comênio. Sua pedagogia enfatizava ainda a necessidade de a escola treinar a vontade e desenvolver as atitudes morais dos alunos. Froebel (1782- 1852), criou em 1837 um kindergarten denominado de "jardim de infância", onde crianças e adolescentes, nos quais são pequenas sementes que, adubadas e expostas a condições favoráveis em seu meio ambiente, desabrochariam sua divindade interior em um clima de amor, simpatia e encorajamento, estariam livres para aprender sobre si mesmos e sobre o mundo. Este era concebido como um todo em que cada pessoa seria ao mesmo tempo uma unidade e uma parte dele (TEIXEIRA,1995). Os jardins de infância divergiam tanto das casas assistenciais existentes na época, por incluírem uma dimensão pedagógica, quanto da escola, que demonstrava ter, segundo o autor, constante preocupação com a moldagem das crianças, praticada de uma perspectiva exterior (INCONTRI, 1997). Elaborou canções e jogos para educar sensações e emoções, enfatizou o valor educativo da atividade manual, confeccionou brinquedos para a aprendizagem da aritmética e da geometria, além de propor que as atividades educativas incluíssem conversas e poesias e o cultivo da horta pelas crianças. O manuseio de objetos e a participação em atividades diversas de livre expressão por meio da música, de gestos, de construções com papel, argila e blocos ou da linguagem possibilitariam que o mundo interno da criança se exteriorizasse, a fim de que ela pudesse, então, ver-se objetivamente e modificar-se, observar-se, descobrir-se e encontrar soluções (INCONTRI, 1997). Já as ocupações consistiam em materiais que se modificavam com o uso, tais como: argila, areia e papel, usados em atividades de modelagem, recorte, dobradura, alinhavo em cartões com diferentes figuras desenhadas, enfiar contas em colar e outras que 39 buscariam estimular a iniciativa da criança no desenvolvimento de atividades formativas pessoais. Canções completariam essa lista de materiais e atividades. As prendas e as ocupações se articulariam pela mediação da educadora na formação da livre expressão infantil, ou seja, daquilo que o autor, dentro de seu quadro ideológico, chamou de atividades maternas (TEIXEIRA, 1995). Maria Montessori (1879-1952) inclui-se também na lista dos principais construtores de propostas sistematizadas para a Educação Infantil no século XX. Tendo sido encarregada da seção de crianças com deficiência mental, produziu uma metodologia de ensino com base no uso de materiais apropriados como recursos educacionais. Em 1907, foi convidada a organizar uma sala para educação de crianças sem deficiências dentro de uma habitação coletiva destinada a famílias dos setores populares, experiência que denominou "Casa das Crianças" (MONTESSORI, S/D). Sua proposta desviava a atenção do comportamento de brincar para o material estruturador da atividade própria da criança: o brinquedo. Criou instrumentos especialmente elaborados para a educação motora ligados, sobretudo, à tarefa de cuidado pessoal e para a educação dos sentidos e da inteligência, como por exemplo, letras móveis, letras recortadas em cartões-lixa para aprendizado de leitura, contadores, como o ábaco, para aprendizado de operações com números. Foi ainda quem valorizou a diminuição do tamanho do mobiliário usado pelas crianças nas pré-escolas e a exigência de diminuir os objetos domésticos cotidianos a serem utilizados para brincar na casinha de boneca (MONTESSORI, S/D). Celestin Freinet foi um dos educadores que renovaram as práticas pedagógicas de seu tempo. Para ele, a educação que a escola dava às crianças deveria extrapolar os limites da sala de aula e integrar-se às experiências por elas vividas em seu meio social. Deveria favorecer ao máximo a auto expressão e sua participação em atividades cooperativas, a qual lhes proporcionaria a oportunidade de envolver-se no trabalho partilhado e em atividades de decisão coletiva, básicos para o desenvolvimento (FREINET, 1975). A seu ver, as atividades manuais e intelectuais permitem a formação de uma disciplina pessoal e a criação do 40 trabalho-jogo, que associa atividade e prazer e é por ele encarado como eixo central de uma escola popular. Para Nicolau (1998), a pedagogia de Freinet organiza-se ao redor de uma série de técnicas ou atividades, entre elas as aulas-passeio, o desenho livre, o texto livre, o jornal escolar, a correspondência interescolar, o livro da vida. Incluem ainda oficinas de trabalhos manuais e intelectuais, o ensino por contratos de trabalho, a organização de cooperativas na escola. Diante do contexto, esses estudiosos contribuíram com suas teorias em relação à infância e a ludicidade, abriram caminhos para maior flexibilização e inovação dos modelos de educação infantil nas escolas, constituíram assim, um campo mercadológico por meio de: brinquedos, roupas, discos, espetáculos, espaços públicos, isto é, uma nova pedagogia, que fizesse com que educadores questionassem suas práticas, para buscarem formação escolar básica e/ou especializada (INCONTRI, 1997). Dessa forma, a criança brinca porque é “indispensável ao seu equilíbrio afetivo e intelectual que possa dispor de um setor de atividade cuja motivação não seja a adaptação ao real senão, pelo contrário, a assimilação do real ao eu, sem coações nem sanções”. 81 A brincadeira é, então uma atividade que transforma o real, por assimilação quase pura às necessidades da criança, em razão dos seus interesses afetivos e cognitivos. O jogo, devido a abrangência de significados, é uma forma de expressão da linguagem afetiva e refere-se àquele cuja estrutura é o símbolo. Piaget (1998) caracteriza o brincar como uma atividade que reflete os estados internos do sujeito diante de uma realidade vivida ou imaginada (NICOLAU, 1998). Piaget (1998) considera o brincar a linguagem típica da criança por ser mais expressiva que a linguagem verbal. Esta razão levou-o a atribuir ao jogo um papel de complemento imprescindível à análise da criança. O jogo representa, ainda, o equivalente ao lúdico da fantasia, além do que, atualiza suas imaginações inconscientes, sexuais e agressivas, seus desejos e suas experiências vividas. Os estudos de Piaget (1998) oferecem contribuições principalmente ao analisar o simbolismo secundário do jogo, compreendido como “o simbolismo menos consciente que o das ficções comuns” (p.217). O jogo de ficção corresponde à manifestação mais importante na criança, que é o pensamento simbólico consciente. Em 41 relação à aprendizagem, a ludicidade oferece indícios relevantes a respeito dos aspectos emocionais envolvidos no processo de conhecer e de aprender. No que Macedo, Petty e Passos (2005, p. 121), enfatizam que: Do ponto de vista teórico, possibilita-nos compreender os processos e estruturas psicológicas graças às quais o ser humano produz conhecimento; do ponto de vista prático, possibilita-nos analisar criticamente as situações que são mais favoráveis para isso. Jogos regras e de construção são essencialmente férteis o sentido de criarem um contexto de observação e diálogo, dentro dos limites da criança, sobre processos de pensar e construir conhecimentos. Muitos trabalhos com jogos de regras foram inspirados no construtivismo de Piaget, para compreender a estrutura cognitiva das crianças, bem como favorecer os processos construtivos do pensamento e a aprendizagem de forma geral. Dessa forma, por meio da ludicidade, segundo Piaget (1998), a criança organiza e pratica regras, elabora estratégias e cria procedimentos a fim de vencer as situações-problemas referentes aos aspectos afetivo-sociais e morais, pelo fato de exigir relações de reciprocidade, cooperação e respeito mútuo. Para Vygotsky (2001), é na brincadeira que a criança se comporta além do comportamento habitual de sua idade, seu comportamento diário; afirma que apesar do brinquedo não ser aspecto dominante da infância, ele exerce uma enorme influência no desenvolvimento infantil. Neste sentido, é importante que se saiba o quanto é relevante a utilização das brincadeiras infantis, pois a criança sente-se motivada e o educador inova sua prática, consegue êxito no processo ensino aprendizagem e posteriormente, leva a criança a penar e interagir de forma mais dinâmica com seu meio. Deve-se compreender o brincar como ação fundamental para o desenvolvimento da pessoa e dos grupos sociais, em diferentes épocas e espaços. Pois, o brincar é natural, quando se brinca, fica-se altamente concentrado. Para Vigotsky (2001), há a necessidade de se usar a ludicidade com mais intensidade, pois a brincadeira é universal e 42 é própria da saúde. O brincar facilita o crescimento, conduz aos relacionamentos grupais. Contudo, aos planejar atividades lúdicas é importante que o educador tenha em mente que quando brinca a criança experimenta, descobre, inventa, aprende e confere habilidades, além de desenvolver competências, estimular a autoconfiança e a autonomia, proporcionar o desenvolvimento da linguagem, do pensamento, da concentração e atenção que são essenciais ao bom desempenho da criança na escola e na vida. O PLANEJAMENTO ESCOLAR PARA TRABALHAR A LUDICIDADE O brincar é sem dúvida um meio pelo qual os seres humanos e os animais exploram uma variedade de experiências em diferentes situações, para diversos propósitos. Segundo Moyles (2002, p.11), “quando uma pessoa adquire um novo equipamento, tal como uma máquina de lavar, a maioria dos adultos vai dispensar a formalidade de ler o manual de ponta a ponta e preferir "brincar" com os controles e funções”. Para Holtz (1998, p.12), a aprendizagem para as crianças pequenas é inevitável, pois o brincar deve ser valorizado por aqueles envolvidos na educação e na criação das crianças pequenas, fazendo a escolha dos materiais lúdicos que são reservados no brincar, cujo objetivo deve ter seu efeito sobre o desenvolvimento da criança. Porque muitas crianças chegam à escola maternal incapazes de envolver-se no brincar, em virtude de uma educação passiva que via o brincar como uma atividade barulhenta, desorganizada e desnecessária. Ocorre muitas vezes que os adultos não reconhecem a importância do brincar na infância como forma de externar a imaginação, desempenhar papéis e 83 colocar no lugar do outro. Com isso, lidam com personagens e uma variedade de contextos, levando-os a entender o eu real (HOLTZ, 1998)
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